Prólogo
Londres, Inglaterra, 1812
suspirou em um misto de alívio e solidão quando largou a escova na penteadeira e se encarou no espelho. Alívio por finalmente estar sozinha depois do dia de hoje, solidão porque essa seria sua vida por um bom tempo. A luz bruxuleante das velas que estavam no candelabro ao seu lado lhe dava uma visão não muito boa do seu rosto, mas era notável o quanto ela parecia cansada; seus olhos estavam caídos, seu olhar meio perdido, tudo cortesia dos últimos dias que haviam sido uma loucura.
Em menos de três dias, tudo havia virado um caos. Seu marido havia morrido inesperadamente em uma queda de cavalo, e o seu grande amor havia retornado em consequência disso, a deixado completamente mais perdida. Se sentia em luto pelo marido, mas seu coração estava feliz por rever , apesar das circunstâncias e sabendo o quão errado era.
Ela podia não ter amado o marido na forma romântica, porém conhecia Theodore desde criança; eram grandes amigos e os dois se davam extremamente bem, portanto era impossível não sentir a perda. O amava do seu jeito. Estavam casados há quase três anos, tão felizes quanto um casal de amigos podia ser e Theodore a tratava tão bem quanto um homem apaixonado, o que suspeitava ser o caso, mesmo que ele nunca tivesse revelado amá-la.
O casamento dos dois havia sido arranjado quando ambos chegaram na idade certa. Seus pais eram grandes amigos e tinham, há anos, o sonho de unir as famílias. Por Theodore ser o mais velho e o herdeiro do título de Duque, é claro que era o preferido dos pais de , embora os sentimentos dela fossem pelo filho mais novo dos , . Ninguém sabia, é claro, pois manteve seu amor escondido de todos. E é óbvio que, como uma boa garota, não reclamou quando o noivado foi arranjado, mesmo que seu coração protestasse fortemente.
Agora estava viúva, sem filhos e com um casarão para administrar. O título de Duque, assim como todo o dinheiro e as propriedades — inclusive a casa em que morava — haviam passado para por causa da morte do irmão, por ela não ter filhos nem estar grávida, mas ele estava sempre viajando e, por isso, não tinha nem feito questão de pedi-la para sair da casa, coisa que ela agradecia imensamente, porque a última coisa que queria era voltar a morar com os pais.
— Já chega, . — Suspirou pesadamente, decidindo que era hora de ir dormir.
Estava prestes a apagar as velas e ir para a sua cama, contudo, uma batida na porta a fez parar no meio do caminho. Era tarde, poucas eram as pessoas que estavam hospedadas lá, e a garota não fazia ideia de quem poderia ser. Porém, ainda sim, apertou o laço do roupão e foi até a porta. Seu coração acelerou quando viu, mesmo com pouca luz, o corpo forte e os cabelos loiros de . Sua roupa estava amarrotada, a gravata frouxa, o paletó amassado; sua barba, que normalmente era rala, estava um pouco maior, provavelmente pela correria dos últimos dias, entretanto, continuava incrivelmente lindo.
— ? — murmurou, ainda muito surpresa.
O olhar dele não estava nela, sim no piso de madeira abaixo dos dois. Parecia estar reunindo coragem para falar alguma coisa, enquanto a mulher o fitava com expectativa. Quando finalmente a olhou, notou que os seus belos olhos azuis estavam avermelhados.
— Posso entrar? — perguntou, umedecendo os lábios. — Sei que não é adequado, mas eu preciso falar com você, .
— Entra — respondeu, dando passagem, sequer hesitando.
parecia péssimo e, apesar das circunstâncias, ele já fora seu melhor amigo um dia, então, por menos adequado que fosse, ela o deixaria entrar. Feito isso, fechou a porta e respirou fundo. estava de costas para ela, alguns passos à frente, parecendo meio perdido.
— Vou voltar para a Irlanda amanhã cedo — falou baixinho, virando-se para ela. — Queria me despedir.
— Já? Pensei que você ficaria por aqui, para resolver todas as coisas e por sua mãe. — Engoliu em seco, tentando não deixar mostrar o quanto estava desapontada, mesmo que não devesse.
— Eu não consigo ficar aqui, . — Umedeceu os lábios, encarando a menina a poucos metros de distância. — Isso é tudo que nunca quis, mas ao mesmo tempo tudo que eu quero.
A mulher franziu o cenho, tentando decifrar o que havia acabado de escutar.
— Não sei se entendi, .
— Eu nunca quis nada que o Theodore tinha, . — Passou as mãos pelo cabelo, ansioso. — Nunca quis o título de Duque, nem toda a herança e a fortuna que vinha junto com o condado. Nunca quis essa casa ou qualquer outra droga de propriedade. Nunca quis ser melhor que ele, até porque era impossível, pois ele era perfeito. O homem perfeito, honrado. O filho e o irmão perfeito, devotado a família. O esposo perfeito, fiel e dedicado. Mas eu nunca quis nada que ele tinha, exceto por uma coisa.
O coração de se partia ao ouvir ele falando assim. Sem dúvida, Theodore havia sido um grande homem, porém ouvir falando isso doía ainda mais.
— Que coisa, ? — indagou, aproximando-se mais do amigo.
Ele ergueu seus olhos atormentados para , sentindo o coração martelar em seu peito. Culpa misturada com desejo, raiva, saudade e pesar pela morte do seu irmão. Sabia que não devia nem ter ido ali, para começo de história, e muito menos estar falando, contudo, precisava fazer isso antes de retornar a Irlanda ou seria para sempre um covarde; portanto, aproveitando o álcool em suas veias, decidiu que esse seria o momento certo.
sabia e tinha presenciado o quanto os dois irmãos se amavam, afinal, mesmo Theodore sendo dois anos mais velhos que eles, os três haviam crescido juntos. Suas famílias sempre foram amigas e as casas eram vizinhas, o que fez com que fossem o trio de melhores amigos mais inseparáveis do mundo, até que os meninos tiveram que ir para Eton.
Theodore foi primeiro, o que fez com que e se aproximassem mais, só que quando chegou seu tempo também, foi embora e restou apenas . Com os amigos fora, ela se tornou amiga de outras garotas, foi ensinada a se tornar uma dama perfeita. Sabia pintar, bordar, tocava piano e ainda era ótima no tiro, ensinamentos que recebia de quando ele estava ali para as férias. Theodore gostava de viajar com os amigos, entretanto, sempre voltava, e ele e acabavam tão juntos que a mãe da garota ficava escandalizada várias vezes. Provavelmente foi quando apaixonou-se por ele, mas nunca disse.
Porém, Theodore foi o primeiro a retornar de Eton. Anos mais velho, mais maduro e extremamente charmoso. A garota já havia debutado há dois anos, quando seus pais e os dele concordaram que uma união entre eles seria perfeita. Theodore, totalmente encantado pela mulher que havia se tornado, não se opôs a ideia. , com a pressão de ser a filha perfeita, também não fez objeção. No fim daquele verão, casaram-se, e não pôde fazer nada.
— ? — voltou a chamar a atenção dele. — Que coisa?
Parecendo sair do estupor no qual esteve preso, a encarou com um olhar tão vulnerável que achava difícil acreditar que fosse realmente ele ali na sua frente. O seu melhor amigo inabalável e cheio de graça.
— A única coisa que ele teve e eu sempre quis, ... — aproximou-se lentamente dela, parando em uma distância muito pouco adequada. — Você.
A mulher piscou seus olhos pequenos, incrédula sobre o que havia escutado. Embora sua mente não processasse, o resto do seu corpo parecia não precisar de qualquer comando sequer, pois seu coração acelerou e sua respiração ficou presa por tanto tempo quanto ela conseguiu. Não conseguia acreditar, simplesmente não conseguia. a queria?
— Eu tenho te amado em segredo há tanto tempo. — Sua mão tocou com delicadeza as bochechas coradas dela, que o encarava ainda em choque. — Foi uma pena ter percebido tarde demais. Quando eu retornei de Eton naquele verão e descobri que você e o Theo estavam noivos... Não sabia o que fazer, não tinha nada a fazer senão ficar feliz por ele, que era tão apaixonado por você.
Ela abriu a boca para falar alguma coisa, mas o homem pousou o indicador sobre seus lábios, pedindo silêncio.
— Por favor, me deixa terminar — pediu. — Eu sei que eu não deveria estar te contando isso, muito menos agora, mas a morte do meu irmão me mostrou o quão imprevisível a vida é, e eu não morreria em paz sem te falar isso. Eu te amo, . Provavelmente te amei desde a primeira vez que te vi e não consigo nem explicar esse sentimento, é maior que qualquer razão dentro de mim.
— ... — sussurrou, ainda atônita sobre tudo que havia escutado. — Eu não faço ideia do que falar.
Mas sabia, claro que ela sabia. Tinha mantido seus sentimentos quanto ao rapaz há tanto tempo em segredo quanto ele, e queria dizer isso, queria desabafar, mas não conseguia. Não conseguia formar as palavras, simplesmente não dava. Seu marido, um dos melhores amigos que já teve e irmão de havia morrido dois dias atrás. Era uma traição enorme a memória dele.
— E você não precisa — respondeu. — Mas eu precisava. Me desculpe por ter jogado isso em cima de você, partirei para bem longe amanhã, não terá que me ver por um bom tempo.
Ela não queria que ele fosse. Não queria perder seu melhor amigo novamente, mas depois do que ele havia confessado e depois de todos os acontecimentos recentes, era, sim, necessário.
— Você estará perto, . — Sorriu minimamente, fechando a mão e levando até o peito como se segurasse algo. — O nosso medalhão, não lembra?
Um sorriso pequeno se ergueu no canto dos lábios dele. Quando crianças, havia inventado toda uma história sobre um medalhão encantado da sua família que era invisível a todos que não o usassem. Ela dizia que nele tinha um desenho de e Theodore, assim os dois estariam sempre com ela.
— Adeus, . — Fechou os olhos e segurou o rosto dela entre as mãos, beijando sua testa com delicadeza, porém por um longo tempo.
Os olhos de também fecharam e ela o abraçou pela cintura, não conseguindo conter o aperto no peito. O homem que ela amava havia dito que também a amava, porém ele estava indo embora, e ela sabia que era o certo. a apertou de volta em seus braços uma última vez e, assim que a soltou, deu as costas e saiu do quarto sem olhar para trás, com medo de voltar e beijá-la ou de não ter coragem para seguir viagem amanhã.
Aquela foi a última vez que os dois se viram por muito tempo.
Capítulo 1
Kent, Inglaterra, 1815.
A porta da carruagem foi aberta e sorriu para o cocheiro, que havia levantado para ajudá-la a sair. Segurou sua saia e pisou no primeiro degrau, depois no segundo, até que seus pés pousaram na grama. Semicerrou os olhos por causa de sol e ergueu o rosto para observar a imponente fachada da casa de campo da sua família e onde passara sua infância inteira.
— !
Seu olhar encontrou o da mãe, que ia afobada em sua direção. Como não a via há dois meses, correu a seu encontro. Annabelle , mãe de , havia se mudado com o marido para o campo algum tempo atrás por Henry estar cansado da vida agitada de Londres, porém, os dois estavam completando trinta anos de casamento e Annabelle, como a anfitriã que costumava ser, decidiu celebrar com uma festa imensa na propriedade.
— Oi, mãe. — A garota sorriu, abraçando com força a sua mãe. — Que saudade!
— Ai, querida, você está tão linda — comentou, emocionada, afastando o abraço para encarar a mulher. — Azul é sua cor, deve usar na festa amanhã. Mas venha, vamos entrando.
— E o papai? — perguntou, acompanhando a mãe para dentro da casa.
— Foi cavalgar com os amigos. Alguns convidados já chegaram. Os Miller, os Tyree, Besnoit e a esposa, Viúva Cowell e as filhas, Os Mason e os quatro filhos... — contou, tentando lembrar de mais gente. — E os , mas como a casa é vizinha, eles preferiram ficar por lá e vir somente para a comemoração e o jantar desta noite.
— Não sabia que a Sra. estava aqui. Última vez que trocamos cartas, ela estava visitando a Escócia — falou, realmente surpresa.
— Ela retornou semana passada, está muito bem até. A convidei para um chá essa tarde, deseja juntar-se a nós?
— Não, obrigada. Preciso encontrar . — Sorriu para a mãe, sabendo que ela entenderia.
— Como quiser, querida. — Tocou em sua mão, apertando de leve. — E você, como tem passado?
As duas entraram na sala das mulheres, uma sala clara, cercada de janelas, estantes de livros e sofás extremamente confortáveis que o pai de havia criado especialmente para a esposa, logo que casaram.
— Eu estou muito bem — replicou, sentando na poltrona mais perto da janela. — Estive em Bibury semana passada. Fui com a Sylvia visitar a Tia Anne, a senhora a convidou?
A mais nova perguntou como quem não quer nada, contudo, esperando muito que o convite tivesse passado. A tia era uma pessoa... Difícil de lidar, em uma descrição educada.
— Tenho certeza que ela se alegrou, não? — A mãe sorriu, porém tão falsamente que foi obrigada a rir. A mãe disfarçava muito menos que ela. — E sim, convidei. Seu pai fez questão de ter a irmã aqui.
— Ela me odeia, mãe! — Choramingou, perdendo a pose toda. — Encheu minha cabeça sobre arrumar um novo marido.
— Ela não te odeia, querida. — A mais velha correu até ela, se espremendo na poltrona também. — Mas Sylvia está certa. Theodore morreu já vai fazer três anos, seu período de luto acabou ano passado. Você deve casar de novo, amor. Merece ter filhos e ser feliz. Você é muito linda, tem apenas vinte cinco anos, com certeza arrumará um marido num piscar de olhos.
mordeu o lábio, demorando para responder. Ela sabia que a mãe e a tia estavam certas e queria também. Queria amar, ser feliz e ter filhos, mas não com qualquer um; fugira de pretendentes desde o ano passado, durante sua estadia em Paris com os tios, alguns muito bons até, pois ainda se agarrava na chance de rever uma certa pessoa que não tinha notícias há três anos.
— Até porque está de volta, e Felicity está muito esperançosa que ele comece a procurar por esposas, afinal, já tem vinte e cinco anos também. A idade que Theodore, que descanse em paz, tinha quando vocês casaram — Annabelle comentou. — E, bom, se ele casar, com certeza irá se mudar para a Casa . Nenhuma duquesa iria se contentar com o apartamento de solteiro que ele está vivendo, e nem deveria. A Casa é uma das mais nobres e belas da cidade.
A filha piscou atônita, ainda assimilando a informação de que havia retornado. Não devia, mas seu coração disparou. Não o via desde que partira no dia do enterro de Theodore e desde a sua declaração. Ela havia tentado enviar cartas, entretanto, ele tinha passado os últimos anos viajando para todos os lugares possíveis e a comunicação ficou terrível.
— retornou? — conseguiu falar, olhando para sua mãe. — Quando?
— Ontem mesmo. Veio direto para a Ramsay Residence, seus pais estavam aí, e a casa em Londres não estava preparada para recebê-lo — explicou, observando minunciosamente a expressão da filha. — Você sente muita falta dele, não sente?
— Ele ainda é meu melhor amigo, mãe. — Suspirou, apoiando a cabeça no ombro dela. — Claro que eu senti sua falta. Já faz três anos.
— Mas você irá vê-lo essa noite no jantar, não se preocupe.
— Você está ansiosa. — notou.
negou com a cabeça, alisando pelo que parecia ser a milésima vez a saia de cetim do seu vestido verde claro.
— Eu estou ótima — respondeu, olhando na direção da porta também pela milésima vez.
— É sobre o ? Encontrei ele e John Mason no jardim hoje. Estavam voltando da cavalgada — comentou, sorrindo ao ver o interesse da amiga aumentar. — Ele está de barba agora, muito bonito. Pararam para cumprimentar Charlotte e eu.
— E então? — Deu a deixa para a amiga continuar.
— Perguntei se ele estaria aqui para a temporada londrina que começa na semana que vem, e ele disse que sim, pretende ficar até o fim dela — relatou, dessa vez mais baixo. — Os boatos devem ser verdadeiros, então. Ele deve estar procurando uma esposa.
— Ai, . — Segurou o braço da melhor amiga, aflita. — Ele vai encontrar uma esposa! Eu não sei lidar com isso.
— E você tá procurando por um marido. Que coincidência, não é? — Ela sorriu, arqueando uma sobrancelha.
— Não é assim tão simples! — Suspirou, desviando o olhar para a entrada novamente.
— E por que não? Vocês se amam! — A amiga colocou as mãos na cintura, obstinada.
— Porque não seria adequado! Ninguém aprovaria, eu fui casada com o irmão dele!
— Sim, você foi, mas ele morreu, . Você não é mais uma garotinha pura, você é uma mulher, viúva e que merece casar com o amor da sua vida — falou com determinação. — Você merece ser feliz com quem quiser.
— Eu não posso pensar nisso agora — murmurou, abraçando a amiga. — Eu estou confusa demais.
— Sua tia está vindo para cá e parece muito determinada. — Fez uma careta ao olhar a cara amarrada da mulher, que vinha praticamente marchando na direção das duas.
— Ai, meu Deus! — Arregalou os olhos.
soltou o abraço e, com rapidez, puxou pela mão, querendo fugir das garras da tia, porém, com a pressa e a pouca atenção que prestava no caminho, acabou tombando com alguém que apareceu do nada em sua frente, fazendo-a se desequilibrar. Provavelmente teria caído para trás, se a mesma pessoa que tombou com ela não tivesse a segurado com firmeza.
— Me perdoa, eu... — começou a se desculpar, erguendo seu olhar para o rosto da pessoa que era consideravelmente mais alta.
Seu coração parou por um momento, assim como a frase acabou esquecida quando viu de quem era os braços que a seguraram. Tão em choque quanto ela, ele a fitou em silêncio, surpreso demais para conseguir ser o primeiro a falar.
— — se pronunciou.
— Oi, — saudou, parecendo encontrar a voz novamente.
Um sorriso se expandiu nos lábios dela, e retribuiu com um igualmente feliz. Ela não conseguiu resistir e o abraçou, deixando todos ao redor escandalizados com tamanha afetividade. O não ligou, apenas a abraçou de volta.
— ! — A tia chegou, horrorizada, parando ao lado dos dois, contudo, não foi notada por eles, só pelos melhores amigos de ambos.
Com relutância, os dois se afastaram, todavia, o sorriso não conseguia sair dos seus lábios. Ele estava ali mesmo, era ele! E como havia dito, estava tão lindo que não conseguia parar de olhar.
— É bom te ver — disse, recuando uns passos para trás e deixando uma distância respeitável entre eles.
— Digo o mesmo — replicou honestamente. — Senti sua falta. Temos muito o que atualizar.
— E eu a sua — admitiu, sem receio algum. — Temos mesmo. É só marcar.
A mulher sabia que estavam sendo observados por metade da sociedade londrina que estava presente na sala no momento, esperando pelo jantar ser servido, só que não dava a mínima para os olhares avaliadores em cima deles e o burburinho de conversas. Sabia que esse era um comportamento extremamente íntimo, mas era ali, na sua frente. Nada mais importava.
— ! — A tia voltou a chamar atenção.
— Tia Anne, como está? — Deu atenção para a outra.
— Escandalizada com tal comportamento inapropriado — ralhou com severidade. — Onde já se viu uma viúva cair nos braços do irmão do falecido marido desse modo?
— Tia Anne, é meu melhor amigo, não o via há anos! — retrucou, não se deixando intimidar. — Se um abraço entre melhores amigos lhe escandalizou, então sugiro que procure coisas mais interessantes para fazer com sua vida do que cuidar da minha.
O queixo da mulher provavelmente chegou no chão, e até ficou surpresa com a resposta da melhor amiga. notou e encolheu mais os ombros, sabendo que havia pegado pesado.
— Desculpa, Tia Anne! — Tratou de acrescentar. — Eu não quis ser grossa, nem faltar com respeito, me perdoa.
— Seu pai deve morrer de desgosto com uma filha como você — disse apenas isso antes de virar e sair andando cheia de raiva para longe dali.
— Pelo menos você se livrou dela. — deu um riso nervoso, querendo descontrair.
— Ninguém mais ouviu, se serve de consolo. — Uma terceira voz de juntou a conversa.
— Olá, Sr. Mason. — A sorriu com educação para o amigo do seu amado, que estava ao lado dele. — E serve, na verdade.
— Lady Durham — a cumprimentou.
— Sua mãe está vindo agora, — avisou.
bufou, pensando se teria paz hoje.
— Como com certeza não teremos um momento mais calmo para conversar hoje, gostaria de me encontrar amanhã para um passeio pelo jardim, ? — propôs, olhando diretamente para ele.
— Claro — concordou sem nem hesitar. — A hora que você marcar.
— Ótimo. — Sorriu abertamente. — Mandarei um criado lhe enviar um bilhete com a hora amanhã bem cedo.
— Parece ótimo. — Ele voltou a sorrir.
— Cavalheiros! — Annabelle se aproximou do grupo, sorrindo para os rapazes, depois para a filha e a melhor amiga. — e , podem vir comigo?
— Claro, Sra. — assentiu, virando-se para os dois homens depois. — Milorde, foi um prazer revê-lo. E até breve, Sr. Mason.
— Até breve, Srta. Permberley. — John Mason sorriu, despedindo-se com um meneio de cabeça. — Lady Durham.
— Foi ótimo revê-la também, Srta. Pemberley — despediu-se e olhou para . — E você também, .
— Até mais, Sr. Mason — despediu dele primeiro, voltando-se para depois. — E estou ansiosa para conversarmos melhor, . Até mais.
— Aproveitem o jantar, será servido em breve, rapazes — Annabelle sorriu educadamente antes de sair com as meninas.
— A Tia Anne já foi reclamar com você? — deduziu, olhando para a mãe.
— Foi. — Suspirou, puxando a filha e a amiga para a biblioteca, fechando a porta quando as duas passaram. — E ela estava certa.
— Mãe, é meu melhor amigo! — A garota suspirou, cruzando os braços enluvados.
— Eu sei, entretanto, também é um homem solteiro, irmão do seu falecido marido — continuou, séria. — Não é apropriado que vocês tenham essa intimidade toda, querida.
— Foi só o momento, mãe. Não irá se repetir — garantiu com firmeza.
— Obrigada, meu amor. Não queremos as pessoas falando, não é? — Sorriu e beijou a bochecha rosada de . — Vamos, o jantar já será servido. Vão procurar seus lugares.
As três voltaram para a imensa sala de jantar dos e com a agitação lá, demoraram um pouco até encontrarem seus lugares que, infelizmente, não eram do lado da outra. Como já era considerada, vulgarmente falando, uma solteirona, sua mãe sempre pedia para que as anfitriãs arrumassem bons lugares para a filha e, dessa vez, Annabelle resolveu deixá-la ao lado de John Mason, que sentava na última cadeira da mesa, ou seja, teria apenas ela para conversar.
, no entanto, acabou ficando ao lado de Felicity, mãe de Theodore e , sua ex-sogra. Felicity era encantadora e tinha um verdadeiro afeto por ela, então as duas conversaram durante o jantar, como velhas amigas ficando a par das novidades, porém, apesar da garota estar interessada na conversa, seu olhar não deixava de se desviar na direção de , sentado ao lado de Amèlie Miller, uma das solteiras mais belas que estava fazendo sua segunda aparição na sociedade durante essa temporada.
O que confortava era encontrar o olhar de no meio do caminho em algumas olhadas.
havia acordado extremamente cedo aquele dia. Não era uma pessoa preguiçosa e sempre acordava cedo, mas aquela manhã tinha acordado mais cedo até que seu criado. Saiu para correr, voltou, depois do café saiu para dar uma ronda na propriedade e saber como estava tudo por lá. O caseiro lhe ajudou e muito nessa parte. Quando retornou novamente para a casa da família, Philip, o mordomo, o esperava na porta.
— E a mensagem? — perguntou, tirando o casaco e o entregando para o criado, que já aguardava ao lado da porta.
— Acabou de chegar, Senhor. — O mordomo entregou o envelope pequeno.
— Muito obrigado, Philip. — Sorriu para ele. — Pode avisar que não precisam tirar a sela do meu cavalo, irei sair com ele essa tarde.
— Como quiser, Senhor — concordou, desviando o olhar para a janela. — Mas se me permite preveni-lo, creio que irá chover.
acompanhou seu olhar até a janela, mas só sorriu.
— Então que chova, Philip. Hoje é um belo dia, meu amigo. — Bateu amigavelmente nas costas dele antes de subir.
Ele abriu o envelope na metade do caminho até seu quarto e encontrou um pequeno cartão com as letras cursivas e delicadas que ele reconhecia de . O bilhete não dizia nada muito especial, mesmo assim, sorriu.
“Querido ,
Falei sério quanto ao nosso passeio essa tarde. Temos muito o que conversar e eu tenho muito o que reclamar sobre a falta que você fez. Senti saudades. Por favor, encontre-me perto do lago para um passeio pelos jardins da propriedade dos meus pais às duas horas. Eles estão lindíssimos nessa época do ano.
Com carinho, ”
— !
O Duque virou para trás ao ouvir a voz da mãe e sorriu carinhosamente quando ela se aproximou, beijando sua bochecha.
— Soube que você deu uma volta pela propriedade hoje. — Ela entrelaçou o braço no dele, caminhando junto.
— As notícias voam, né? Mas sim, eu acabei de voltar — confirmou, olhando para baixo e encarando os olhos azuis idênticos aos seus.
— É bom ver você se envolvendo com isso, querido. — Sorriu. — tem cuidado das propriedades com muita excelência desde a morte de Theodore, você devia falar com ela.
— Eu acho que já estava na hora. — Umedeceu os lábios, baixando o olhar para o chão. — E para ser sincero, marquei de dar um passeio com essa tarde, vou lembrar de ver algo sobre isso com ela.
— Fico feliz que pense assim, . Sei que foi difícil perder seu irmão e ganhar toda essa responsabilidade de uma hora para outra, mas a vida não é justa — comentou com nostalgia no peito ao lembrar do primogênito. — E vai encontrar com ? Fico feliz que estejam retomando a amizade. Talvez possam até se ajudar.
apenas assentiu, pois não sabia o que falar. Perder Theodore havia sido a coisa mais difícil que lhe aconteceu a vida inteira, amava tanto o irmão que a morte dele o destruiu. Por isso precisou viajar, pois não queria enlouquecer a mãe com seu comportamento autodestrutível; tendia a gostar da dor física para esconder a emocional.
— E o que a senhora quer dizer com “Possam até se ajudar”? — questionou.
— Bom, o período de luto dela já acabou há um ano e ela deseja casar-se novamente e ter filhos, Annabelle comentou comigo. é nova, linda e encantadora. Merece ser muito feliz. — Felicity foi totalmente sincera. Adorava a antiga nora como se fosse a própria filha. — E você também está à procura de uma esposa.
conseguiu conter muito bem o espasmo que sua bochecha ameaçava fazer por ele estar segurando uma careta com a ideia de casar com outra pessoa. Claro que essa hora iria chegar, mas não tornava mais fácil saber disso, pois ainda desejava que se ela fosse casar, que fosse com ele!
Mas é claro que era imoral, e não havia ninguém no mundo que pudesse aceitar aquilo, não quando se tratava dele, de e Theodore.
— Claro — disse apenas isso. — E o papai?
— Foi ao vilarejo com o Sr. — respondeu. — E eu preciso me arrumar também, hoje o chá da tarde é na casa da Louise, do outro lado do lago. Annabelle acha que ela está tentando roubar a atenção antes da festa, porém todas que estão nos irão. Vai ser um chá interessante.
— Boa sorte, então. — riu, imaginando o quão interessante um chá com várias mulheres, algumas brigando silenciosamente, poderia ser.
— Até mais — Felicity despediu-se do filho com um beijo, depois acelerou o passo até o fim do corredor, onde ficava seu quarto.
entrou no próprio quarto e largou-se na cama, chutando as botas para qualquer lado. Encarou no teto, pensando em como conseguiria casar com outra mulher enquanto ainda amava e pensando também em como ele também teria coragem para deixar a mulher que ama escapar mais uma vez.
havia optado por um vestido no tom pêssego para o passeio hoje. Ele era leve e confortável, por isso o adorava. Tinha sentido muita falta dos seus vestidos coloridos durante o período de dois anos de luto. Mas agora seu guarda-roupa era cheio de diversas cores. Também havia escolhido esse para ver se ajudava o céu a abrir, já que pesadas nuvens de chuva estavam escurecendo tudo e não era nem três da tarde.
— Você está linda, Lady Durham.
Ela sorriu ao olhar para trás e encontrar se aproximando.
— Duque de Durham. — Ela fez uma mesura, mas só para fazer graça mesmo. — Não sabia que após vinte anos de amizade nós começaríamos a usar títulos.
— A sociedade nos obriga, você sabe. — Sorriu, parando alguns passos de distância. — Olá, .
— É realmente bom te ver, — confessou, encarando os olhos familiares do seu melhor amigo. — Vamos? Acho seguro nossa caminhada ser perto da casa, provavelmente vai chover.
olhou para o céu, lembrando do que Philip havia lhe avisado hoje de manhã. Ele ofereceu o braço para ela, que aceitou de bom grado, e então, de braços dados, começaram a andar juntos.
— Como está? — iniciou a conversa.
— Muito bem, na verdade — confessou, sentindo-se leve. — É bom estar por aqui novamente. E você?
— Muito bem também — compartilhou, baixando o olhar para o dela. — Eu senti falta do ar da Inglaterra.
— Ouvi dizer que você pretende ficar por aqui e se aquietar — comentou, encarando seus sapatos raspando na grama úmida. — É verídico?
O homem umedeceu os lábios, demorando um pouco mais que o necessário antes de responder.
— É sim. Chegou a hora de encarar meus deveres como Duque — falou, desviando seu olhar para o lago agitado por conta do vento forte e frio. — Ouvi que você também vai voltar a procurar um marido
comprimiu os lábios, se sentindo levemente desconfortável ao tratar sobre esse assunto com o amigo. Não queria pensar nele casando com outra pessoa, também não queria falar com ele sobre casar com outra pessoa, pois ela o amava, mas nunca seriam um do outro.
— Sim, eu irei — respondeu baixinho. — Meu período de luto acabou há um ano e, bem, eu sou muito jovem. Ainda quero construir uma família, .
Ele anuiu. Não estava em seu lugar, mas a compreendia. era uma mulher linda e inteligente, com certeza arrumaria algum bom partido para casar. O pensamento não o agradava e fazia algo primitivo rugir em seu peito, que ele arriscaria chamar de ciúme, contudo, continuou a se lembrar que a garota nunca fora e nunca poderia ser dele.
— E eu espero que você encontre uma pessoa incrível — desejou sinceramente, pois a mulher não merecia menos que aquilo.
— E eu desejo o mesmo para você. — Sorriu abertamente, porém o sorriso não lhe chegou aos olhos.
— Minha mãe está contente por você — disse, voltando a olhar para ela. — Diz que o Theodore também está, porque você merece ser feliz.
— Sua mãe conversou comigo umas semanas atrás, disse isso mesmo. — Seu olhar encontrou o de . — Fico grata por seu apoio, ela me ajudou muito.
— E você a ajudou também.
— Você também sente muita falta dele? — indagou, parando por um momento para encará-lo.
parou de frente para ela, mas olhando para um ponto atrás da ruiva. Ela não havia nem mencionado o nome de Theodore, entretanto, só a sua pergunta fez o coração do homem encolher.
— O tempo todo — confessou. — Não tem um minuto que não sinta.
A expressão de dor tomou conta do rosto de , e não conseguiu se conter, segurou a mão dele e apertou com força, entrelaçando seus dedos.
— Eu sinto também. Ele era um amigo maravilhoso e foi um marido muito bom também — compartilhou, sentindo retribuir seu aperto. — Sinto falta de nós três brincando aqui nesse jardim mesmo. Os irmãos e a garota dos . Minha mãe ficava escandalizada com o quanto eu chegava suja em casa.
O homem soltou um riso, com certeza lembrando os bons e velhos tempos, e logo retomaram a caminhada.
— Sinto falta disso também. Éramos um belo trio. — Voltou a encarar com um sorriso nos lábios. — Lembra quando fomos ensiná-la a andar a cavalo?
— E como esquecer? — Riu junto. — Você subiu no meu cavalo enquanto ele corria, ! Theo foi para um lado, nós para o outro.
— Você não estava conseguindo controlar ele, não ia te deixar se esborrachar no chão — lembrou, repassando a memória em sua mente. — E ainda caímos no lago depois.
— Eu estava conseguindo sim! — retrucou, recebendo um olhar de pura descrença.
— Ah, tá — falou com ironia. — Se por “controlando” ele, você se refere a estar agarrada no pescoço dele, branca feito neve enquanto grita por socorro, sim, você controlou muito bem.
— Idiota — resmungou, se esforçando para não sorrir com a lembrança.
Eram bem novos, ela e tinham só doze anos, mas teve certeza, naquele dia, sobre os seus sentimentos pelo garoto. Era apaixonada por seu melhor amigo há treze anos e manteve isso em segredo esse tempo todo, até mesmo quando ele se declarou.
— O idiota que salvou sua vida. — Apontou para ela com o dedo em riste, sorrindo convencido.
— Mais idiota ainda por jogar isso na minha cara! — Gargalhou, o empurrando com seu ombro.
— Eu senti falta disso — confessou, rindo um pouco pela tentativa dela de o empurrar, já que nem saiu do lugar.
— Eu também. — Sorriu genuinamente. — Mas e então, como estavam as coisas pela Irlanda e o resto do mundo? Ouvi que você viajou muito.
— Viajei. Você sabe que eu gosto de conhecer as coisas — respondeu, mantendo o olhar na mulher ao seu lado. — E a Irlanda estava ótima, como sempre. O resto do mundo que eu visitei também estava. Quando fui a Paris, no ano passado, encontrei seus parentes e eles me falaram que fazia só uma semana que você tinha voltado. Foi uma pena não termos nos encontrado.
— Eu não acredito que você esteve lá só uma semana depois de mim, ! — Arregalou os olhos, indignada. — E nem para me escrever avisando que esteve por Paris! Tia Madlyn também não me avisou.
encolheu os ombros, pois não tinha desculpa boa para se livrar da reclamação dela.
— Não achei que importasse e não achei que você fosse querer receber notícias minhas — confessou, olhando-a pelo canto do olho.
ficou bem surpresa com a sinceridade e o encarou em silêncio por alguns segundos, tentando pensar em algo para falar, contudo, ainda sim, acabou sendo levada pelo impulso.
— E por que achou que eu não fosse querer receber notícias sua? — perguntou, parando no meio do caminho para poder encará-lo melhor. — Por você ter sumido daquele jeito depois de ter me dito tudo aquilo e depois do Theodore ter morrido? Por que, quando eu precisei de você, quando nós dois precisávamos um do outro, você resolveu fugir e me fez perder, além do Theodore, você também? É por isso que você acha que não iria querer receber notícias suas? Não, . Eu te amo o bastante para que, se você tivesse me escrito, eu ignorar a raiva que senti de você.
Sua voz soou extremamente calma ao jogar verde com ele, porém prendeu a respiração quando notou tudo que havia despejado, pois realmente não era sua intenção falar assim, havia saído sem que ela se quer percebesse. Seus olhos encontraram os do homem e ele parecia atônito com tudo que ela havia falado, tanto que seus passos pararam um pouco mais adiante dos dela e seu corpo girou para ficar de frente para .
— Como é? — Ele piscou, se recuperando do choque das palavras dela.
— Esquece! — pediu, ainda chocada com a própria sinceridade. — Eu falei sem pensar.
— Mas é o que você queria falar — replicou.
— Não, não era. — Olhou para cima ao sentir um pingo grosso de chuva bater em sua testa. — Quer saber? Era sim.
— Você acha que eu queria ter sumido? — questionou, ignorando o que ela tinha falado. — Eu não queria, .
— Mas sumiu! — Cruzou os braços, se protegendo do frio ao sentir mais alguns pingos caírem e ficarem mais frequente. — Você deixou sua mãe, que precisava tanto de você, e o seu pai e eu! Você deixou todo mundo, .
— Eu precisei! — Abriu os braços, seu tom de voz aumentando alguns graus.
— Você quis! — rebateu, deixando seu tom se elevar também e se recriminando em seguida por falar alto. Não que o volume de sua voz fosse importar alguma coisa.
A chuva tinha começado a cair com força e, a essa altura, os dois eram os únicos ali fora.
— Eu não queria, ! — rosnou, sentindo o queixo tremer por conta do frio.
— Será que não podemos ter essa discussão em outro lugar? — Ela encolheu os ombros. — A escada que leva até a varanda do meu quarto ainda existe e é aqui perto, a gente entra por lá.
Não dando tempo para ele responder, segurou a saia do vestido e saiu correndo em direção ao lado norte da residência, que era onde eles estavam mais perto e onde ficava a escada do quarto que a menina havia falado. a seguiu de bom grado, pois estava congelando. Ela subiu primeiro, torcendo para que suas camareiras não tivessem trancado a porta da varanda e suspirando de alivio quando viu que não. Ambos quase suspiraram de alivio quando fechou a porta ao passar.
O quarto de estava quente com a lenha da lareira queimando suavemente e todas as janelas fechadas. A garota tentou lembrar onde as camareiras guardavam as toalhas e se apressou até o guarda-roupa, que foi onde achou algumas. Entregou duas para e usou as outras duas. Os dois ficaram mais perto da lareira enquanto se enxugavam e permaneceram calados durante esse tempo, mas bastou seus olhares se encontrarem para que decidisse que estava na hora de falar algo.
— Eu realmente não queria, — retomou a conversa, encontrando os olhos claros da viúva. — Mas eu não conseguia ficar lá depois de tudo. A culpa estava me matando! Eu herdei tudo que deveria ser do Theodore e, ainda assim, cobiçava algo que não veio com o pacote de Duque, algo que meu irmão amava e que, por mais que eu tenha lutado contra, eu amo também. Eu o traí, , pois eu te desejei mesmo quando você era dele. Não tinha um dia que não pensasse como seria se tudo fosse ao contrário, como seria se eu tivesse nascido primeiro, se fosse comigo que você se casou. Eu fui um covarde por ter deixado todos, admito, mas não conseguia encarar meus pais, nem você, ninguém. Eu não conseguia lidar com os estúpidos comentários sobre como me dei bem, não conseguia olhar para todos os lados e só ver o meu irmão.
, mais uma vez, se viu sem palavras com o discurso que acabara de ouvir. Não imaginava que a culpa que ele sentia fosse assim tão grande, pois conseguiu ouvir na voz dele e ver em seu olhar o quanto isso o atormentava. Com alguns passos hesitantes, se aproximou do homem que ainda a encarava e tocou seu rosto com uma de suas mãos frias por conta do frio que ainda sentia.
— Você não deveria ter culpa, — murmurou, usando o polegar para acariciar a bochecha dele. — O Theo ter morrido não foi culpa sua, você ter herdado o condado também não foi. Todos sabem o que quanto você amava, o quanto ainda ama o seu irmão, ninguém que os conheça acreditaria que você ficou feliz com isso. E sobre os seus sentimentos, isso é algo que nós não conseguimos mudar, não importa o quanto queremos, pois também tentei, e tentei muito, porque sempre fui apaixonada pelo irmão errado e esse segredo vem me matando todos esses anos, especialmente depois que eu casei com o Theo, pois, apesar de ele ser incrível e um marido maravilhoso, tudo que sempre consegui pensar foi apenas em como eu nunca te teria. Estive mantendo esse amor congelado no meu peito desde os doze anos, . Agora, tenho vinte e cinco e muito pouco a perder por querer dar uma chance ao meu coração.
Ele a fitou em choque com a confissão, já que, mesmo antes, quando se declarou, ela não tinha dito nada, e ele deduziu que o sentimento era unilateral, mas agora ela estava em sua frente, dizendo tudo que ele sempre desejou ouvir.
— O quê? — sussurrou, colocando a mão por cima da dela, enquanto seus olhos se enchiam de uma luz que havia se apagado no dia que soube da morte do irmão.
— Eu te amo, . Sempre amei e sempre irei — confessou, sorrindo dessa vez.
Isso foi o suficiente para que ele não conseguisse mais segurar nada, e então largou a toalha no chão, usando as mãos para puxar pela cintura e finalmente beijá-la. Ela arfou de surpresa, soltando sua toalha junto com a dele e agarrando seus ombros, sentindo os lábios dele nos seus. O beijo era urgente, era cheio de saudade, desespero, amor e tudo que esconderam por muitos anos. As mãos de a apertavam contra o próprio corpo, e sentia o seu esquentar, tendo certeza que não era por causa da lareira.
Interrompendo o beijo, o rapaz desceu seus lábios pelo queixo dela até o pescoço, onde se deliciou com a pele branca alheia; depois, foi em direção ao corpete do vestido e beijou o topo dos seios dela, fazendo com que a mulher arfasse e apertasse ainda mais as mãos nos ombros do amado. Não era tocada assim desde a morte do marido, então estava extremamente sensível e desejosa por mais.
O homem voltou a beijá-la, enquanto suas mãos se ocupavam em desabotoar os inúmeros botões nas costas do vestido da garota, que caminhava de costas até a cama, parando só quando sentiu os joelhos baterem lá. O olhar de encontrou o dela antes que ele a virasse de costas e afastasse seu cabelo para terminar de abrir os botões do vestido, aproveitando para beijar sua nuca.
Cada toque fazia a mulher fechar os olhos e seu corpo arrepiar por puro prazer. Logo que o vestido afrouxou, ajudou-a a tirar um braço de cada vez das mangas, lentamente; depois, terminou de descer o tecido molhado, deixando apenas com a roupa de baixo, mas logo ocupando-se em desfazer os laços para tirar seu espartilho, que se juntou as outras peças. O garoto voltou a virá-la de frente para ele, beijando-a com a mesma intensidade e desejo de antes.
o ajudou a tirar o paletó molhado, depois a abrir os botões da camisa até que ele estivesse apenas com a calça. Sentiu quando ele voltou a beijar o topo dos seus seios, dessa vez podendo explorar mais. Ela teve que morder o lábio para reprimir um gemido quando um dos seus peitos foram tomados pela boca alheia, deixando-a totalmente entorpecida.
— Eu quero tanto você, — murmurou, sua voz rouca de desejo.
Ela umedeceu os lábios, prendendo os cabelos dele entre seus dedos quando o homem se ocupou com seu outro seio.
— Eu já sou sua — conseguiu responder.
ergueu o rosto para o dela, a beijando suavemente agora, encostando a testa na dela.
— Não tem nada no mundo que poderá nos parar aqui.
Foi o que ele disse antes de segurá-la pelas coxas e a deitar na cama, subindo em cima dela. Apesar do mau pressentimento sobre o que ele disse, ela esqueceu quando ele voltou a beijá-la. a beijou como nunca beijou mulher nenhuma antes e como nunca beijaria nenhuma outra, pois agora só queria seus lábios nos dela e no de mais ninguém. Estavam nos braços de quem verdadeiramente amavam e só queriam se perder ali, no oásis que criaram na cama dela.
— Você está com um olhar diferente hoje — falou após analisar por alguns minutos. A amiga mordeu o lábio, tomando mais um gole de vinho e fingindo observar a festa.
Depois da tarde, precisou correr para se arrumar a tempo para a festa da mãe e conseguiu com maestria e ainda há tempo. Agora estava ao lado da melhor amiga, usando o seu mais belo vestido azul novíssimo, que foi entregue pela modista da cidade poucas horas atrás.
— Eu estou animada pela festa — tentou despistar, mas a outra lhe conhecia melhor que ninguém.
— Não é isso — retrucou. — O passeio com o Duque de Durham foi bom assim?
As bochechas de adquiriram um tom muito vermelho com a menção de , pois sua mente vagou para a tarde de hoje e a sensação dos lábios dele nos dela ou em outras partes do seu corpo foi tão vívida que ela estremeceu.
— Sua mãe disse para a minha que o Sr. Mason veio te visitar hoje de manhã — mudou de assunto, olhando para a amiga.
Essa foi a vez de enrubescer.
— Ele só estava sendo cortês, ontem conversamos um bocado durante o jantar. Ele ficou de me emprestar A Divina Comédia de Dante, veio me entregar, só isso — explicou, embora um sorrisinho ainda estivesse em seus lábios.
— Jura que foi só o livro? Porque eu juro que uma das criadas passou com um jarro cheio de água para alojar o buquê de peônias lindíssimas que você ganhou — continuou a provocar.
— Ah, , dá um tempo — resmungou. — Não é nada, mal nos conhecemos.
A garota riu, esbarrando o ombro no de por pura implicância.
— Senhoritas.
Uma terceira voz bastante familiar fez as duas olharem para frente e darem de cara com , acompanhado de John Mason, que sorriu abertamente quando seu olhar encontrou o de .
— Senhores — os cumprimentou primeiro.
— Olá — respondeu, sorrindo.
— Meu amigo e eu estávamos nos perguntando se alguma das damas estaria interessada em nos conceder a próxima dança — sorriu, seu olhar se demorando mais no de .
— Eu acho que consigo fazer esse esforço, e claramente também — olhou para a amiga. — Ela estava reclamando de a garganta estar seca, por que o Senhor não a acompanha até a mesa de ponche, Sr. Mason?
— Seria um prazer — John respondeu prontamente, já oferecendo o braço para a menina. — Vamos?
olhou para a melhor amiga sem saber se deveria batê-la ou abraça-la, mas, com um sorriso, aceitou o braço que John ofereceu e juntos atravessaram o salão.
— Ele gostou dela — comentou.
— E ela gostou dele — completou, ainda observando os dois se afastarem.
— Você está linda, se já não for óbvio — ele elogiou, sorrindo de lado.
— Muito obrigada, Duque Durham. — Fez uma mesura por pura graça.
— Posso falar com você por um momento lá fora? — Apontou para as portas da varanda.
— Claro. — Assentiu, pegando no braço dele para seguirem até o outro lado.
Olhares curiosos e avaliadores se voltaram para os dois enquanto atravessavam o salão e vários cochichos começaram, mas nem , nem estava notando ou sequer ligando. Quando chegaram na varanda, que estava um tanto vazia, o homem os guiou até mais perto do parapeito e parou de frente para a garota.
abriu a boca para perguntar o que ele queria conversar, mas foi mais rápido.
— Eu quero que você case comigo — foi direto, apertando discretamente a mão dela que ainda segurava.
piscou, bastante surpresa.
— Eu sei que muita gente vai falar e pouquíssima vai aprovar, mas eu não ligo. Eu sei que nossos pais podem não gostar muito da ideia no começo, mas tenho certeza que eles só nos querem feliz. Quero ser feliz e sei que é com você que eu vou conseguir. Sei que eu sou uma bagunça, mas também sei que sou a bagunça que você quer — ele continuou a falar. — Eu te amo, . Você quer se casar comigo?
— Eu sou sua, — falou, o coração muito acelerado no peito. — Então, sim, eu me caso com você.
Não precisava parar para pensar, não iria. Estava ouvindo seu coração, o desejo que ela já tinha há muito tempo. Não tinha nada a perder ao casar com ele, mas, se não aceitasse, perderia de vez sua oportunidade de viver o amor que sempre quis. Então, apesar do mau pressentimento, apesar do que as pessoas falariam, ela aceitaria.
— Eu adoraria te beijar agora mesmo. — Ele abriu um sorriso enorme, mas se contentou em beijar apenas a mão dela.
— Nós podemos fazer isso mais tarde. — Soltou um riso muito feliz.
pegou um anel solitário no bolso do paletó, onde um diamante reluzente e muito bonito adornado por safiras era o centro. Ele pegou a mão dela e deslizou o anel no seu dedo anelar vazio, mas que antes costumava ficar o que seu irmão havia colocado anos atrás e, por instinto, olhou para o céu escuro e estrelado, quase como se acreditasse que Theodore os observava.
, quase como se pudesse ler os pensamentos dele, apertou sua mão e ergueu o olhar para o céu também. Uma brisa mais forte soprou, fazendo os cabelos da garota voarem e várias folhas secas se agitarem ao redor dos dois. O vento quente em uma noite fria como aquela os cercou quase como em um abraço, e ambos sorriram, voltando a se encarar. Sabiam que se o céu existisse e se Theodore pudesse vê-los, de onde quer que estivesse, ele tinha acabado de lhes dar a benção para serem felizes juntos.
— Quer voltar e dançar para escandalizar a todos com o seu novo anel de noivado? — sorriu, voltando a encarar .
— Adoraria. — Sorriu, embora ainda estivesse tensa por pensar no que falariam.
E, ignorando todos os olhares escandalizados, os murmúrios inconformados, os olhares confusos dos seus pais e todo o resto, dançaram de mãos e corações atados. olhando para , o amor da sua vida, teve que concordar com o que ele havia dito mais cedo.
Não havia nada no mundo que pudesse pará-los.
A porta da carruagem foi aberta e sorriu para o cocheiro, que havia levantado para ajudá-la a sair. Segurou sua saia e pisou no primeiro degrau, depois no segundo, até que seus pés pousaram na grama. Semicerrou os olhos por causa de sol e ergueu o rosto para observar a imponente fachada da casa de campo da sua família e onde passara sua infância inteira.
— !
Seu olhar encontrou o da mãe, que ia afobada em sua direção. Como não a via há dois meses, correu a seu encontro. Annabelle , mãe de , havia se mudado com o marido para o campo algum tempo atrás por Henry estar cansado da vida agitada de Londres, porém, os dois estavam completando trinta anos de casamento e Annabelle, como a anfitriã que costumava ser, decidiu celebrar com uma festa imensa na propriedade.
— Oi, mãe. — A garota sorriu, abraçando com força a sua mãe. — Que saudade!
— Ai, querida, você está tão linda — comentou, emocionada, afastando o abraço para encarar a mulher. — Azul é sua cor, deve usar na festa amanhã. Mas venha, vamos entrando.
— E o papai? — perguntou, acompanhando a mãe para dentro da casa.
— Foi cavalgar com os amigos. Alguns convidados já chegaram. Os Miller, os Tyree, Besnoit e a esposa, Viúva Cowell e as filhas, Os Mason e os quatro filhos... — contou, tentando lembrar de mais gente. — E os , mas como a casa é vizinha, eles preferiram ficar por lá e vir somente para a comemoração e o jantar desta noite.
— Não sabia que a Sra. estava aqui. Última vez que trocamos cartas, ela estava visitando a Escócia — falou, realmente surpresa.
— Ela retornou semana passada, está muito bem até. A convidei para um chá essa tarde, deseja juntar-se a nós?
— Não, obrigada. Preciso encontrar . — Sorriu para a mãe, sabendo que ela entenderia.
— Como quiser, querida. — Tocou em sua mão, apertando de leve. — E você, como tem passado?
As duas entraram na sala das mulheres, uma sala clara, cercada de janelas, estantes de livros e sofás extremamente confortáveis que o pai de havia criado especialmente para a esposa, logo que casaram.
— Eu estou muito bem — replicou, sentando na poltrona mais perto da janela. — Estive em Bibury semana passada. Fui com a Sylvia visitar a Tia Anne, a senhora a convidou?
A mais nova perguntou como quem não quer nada, contudo, esperando muito que o convite tivesse passado. A tia era uma pessoa... Difícil de lidar, em uma descrição educada.
— Tenho certeza que ela se alegrou, não? — A mãe sorriu, porém tão falsamente que foi obrigada a rir. A mãe disfarçava muito menos que ela. — E sim, convidei. Seu pai fez questão de ter a irmã aqui.
— Ela me odeia, mãe! — Choramingou, perdendo a pose toda. — Encheu minha cabeça sobre arrumar um novo marido.
— Ela não te odeia, querida. — A mais velha correu até ela, se espremendo na poltrona também. — Mas Sylvia está certa. Theodore morreu já vai fazer três anos, seu período de luto acabou ano passado. Você deve casar de novo, amor. Merece ter filhos e ser feliz. Você é muito linda, tem apenas vinte cinco anos, com certeza arrumará um marido num piscar de olhos.
mordeu o lábio, demorando para responder. Ela sabia que a mãe e a tia estavam certas e queria também. Queria amar, ser feliz e ter filhos, mas não com qualquer um; fugira de pretendentes desde o ano passado, durante sua estadia em Paris com os tios, alguns muito bons até, pois ainda se agarrava na chance de rever uma certa pessoa que não tinha notícias há três anos.
— Até porque está de volta, e Felicity está muito esperançosa que ele comece a procurar por esposas, afinal, já tem vinte e cinco anos também. A idade que Theodore, que descanse em paz, tinha quando vocês casaram — Annabelle comentou. — E, bom, se ele casar, com certeza irá se mudar para a Casa . Nenhuma duquesa iria se contentar com o apartamento de solteiro que ele está vivendo, e nem deveria. A Casa é uma das mais nobres e belas da cidade.
A filha piscou atônita, ainda assimilando a informação de que havia retornado. Não devia, mas seu coração disparou. Não o via desde que partira no dia do enterro de Theodore e desde a sua declaração. Ela havia tentado enviar cartas, entretanto, ele tinha passado os últimos anos viajando para todos os lugares possíveis e a comunicação ficou terrível.
— retornou? — conseguiu falar, olhando para sua mãe. — Quando?
— Ontem mesmo. Veio direto para a Ramsay Residence, seus pais estavam aí, e a casa em Londres não estava preparada para recebê-lo — explicou, observando minunciosamente a expressão da filha. — Você sente muita falta dele, não sente?
— Ele ainda é meu melhor amigo, mãe. — Suspirou, apoiando a cabeça no ombro dela. — Claro que eu senti sua falta. Já faz três anos.
— Mas você irá vê-lo essa noite no jantar, não se preocupe.
— Você está ansiosa. — notou.
negou com a cabeça, alisando pelo que parecia ser a milésima vez a saia de cetim do seu vestido verde claro.
— Eu estou ótima — respondeu, olhando na direção da porta também pela milésima vez.
— É sobre o ? Encontrei ele e John Mason no jardim hoje. Estavam voltando da cavalgada — comentou, sorrindo ao ver o interesse da amiga aumentar. — Ele está de barba agora, muito bonito. Pararam para cumprimentar Charlotte e eu.
— E então? — Deu a deixa para a amiga continuar.
— Perguntei se ele estaria aqui para a temporada londrina que começa na semana que vem, e ele disse que sim, pretende ficar até o fim dela — relatou, dessa vez mais baixo. — Os boatos devem ser verdadeiros, então. Ele deve estar procurando uma esposa.
— Ai, . — Segurou o braço da melhor amiga, aflita. — Ele vai encontrar uma esposa! Eu não sei lidar com isso.
— E você tá procurando por um marido. Que coincidência, não é? — Ela sorriu, arqueando uma sobrancelha.
— Não é assim tão simples! — Suspirou, desviando o olhar para a entrada novamente.
— E por que não? Vocês se amam! — A amiga colocou as mãos na cintura, obstinada.
— Porque não seria adequado! Ninguém aprovaria, eu fui casada com o irmão dele!
— Sim, você foi, mas ele morreu, . Você não é mais uma garotinha pura, você é uma mulher, viúva e que merece casar com o amor da sua vida — falou com determinação. — Você merece ser feliz com quem quiser.
— Eu não posso pensar nisso agora — murmurou, abraçando a amiga. — Eu estou confusa demais.
— Sua tia está vindo para cá e parece muito determinada. — Fez uma careta ao olhar a cara amarrada da mulher, que vinha praticamente marchando na direção das duas.
— Ai, meu Deus! — Arregalou os olhos.
soltou o abraço e, com rapidez, puxou pela mão, querendo fugir das garras da tia, porém, com a pressa e a pouca atenção que prestava no caminho, acabou tombando com alguém que apareceu do nada em sua frente, fazendo-a se desequilibrar. Provavelmente teria caído para trás, se a mesma pessoa que tombou com ela não tivesse a segurado com firmeza.
— Me perdoa, eu... — começou a se desculpar, erguendo seu olhar para o rosto da pessoa que era consideravelmente mais alta.
Seu coração parou por um momento, assim como a frase acabou esquecida quando viu de quem era os braços que a seguraram. Tão em choque quanto ela, ele a fitou em silêncio, surpreso demais para conseguir ser o primeiro a falar.
— — se pronunciou.
— Oi, — saudou, parecendo encontrar a voz novamente.
Um sorriso se expandiu nos lábios dela, e retribuiu com um igualmente feliz. Ela não conseguiu resistir e o abraçou, deixando todos ao redor escandalizados com tamanha afetividade. O não ligou, apenas a abraçou de volta.
— ! — A tia chegou, horrorizada, parando ao lado dos dois, contudo, não foi notada por eles, só pelos melhores amigos de ambos.
Com relutância, os dois se afastaram, todavia, o sorriso não conseguia sair dos seus lábios. Ele estava ali mesmo, era ele! E como havia dito, estava tão lindo que não conseguia parar de olhar.
— É bom te ver — disse, recuando uns passos para trás e deixando uma distância respeitável entre eles.
— Digo o mesmo — replicou honestamente. — Senti sua falta. Temos muito o que atualizar.
— E eu a sua — admitiu, sem receio algum. — Temos mesmo. É só marcar.
A mulher sabia que estavam sendo observados por metade da sociedade londrina que estava presente na sala no momento, esperando pelo jantar ser servido, só que não dava a mínima para os olhares avaliadores em cima deles e o burburinho de conversas. Sabia que esse era um comportamento extremamente íntimo, mas era ali, na sua frente. Nada mais importava.
— ! — A tia voltou a chamar atenção.
— Tia Anne, como está? — Deu atenção para a outra.
— Escandalizada com tal comportamento inapropriado — ralhou com severidade. — Onde já se viu uma viúva cair nos braços do irmão do falecido marido desse modo?
— Tia Anne, é meu melhor amigo, não o via há anos! — retrucou, não se deixando intimidar. — Se um abraço entre melhores amigos lhe escandalizou, então sugiro que procure coisas mais interessantes para fazer com sua vida do que cuidar da minha.
O queixo da mulher provavelmente chegou no chão, e até ficou surpresa com a resposta da melhor amiga. notou e encolheu mais os ombros, sabendo que havia pegado pesado.
— Desculpa, Tia Anne! — Tratou de acrescentar. — Eu não quis ser grossa, nem faltar com respeito, me perdoa.
— Seu pai deve morrer de desgosto com uma filha como você — disse apenas isso antes de virar e sair andando cheia de raiva para longe dali.
— Pelo menos você se livrou dela. — deu um riso nervoso, querendo descontrair.
— Ninguém mais ouviu, se serve de consolo. — Uma terceira voz de juntou a conversa.
— Olá, Sr. Mason. — A sorriu com educação para o amigo do seu amado, que estava ao lado dele. — E serve, na verdade.
— Lady Durham — a cumprimentou.
— Sua mãe está vindo agora, — avisou.
bufou, pensando se teria paz hoje.
— Como com certeza não teremos um momento mais calmo para conversar hoje, gostaria de me encontrar amanhã para um passeio pelo jardim, ? — propôs, olhando diretamente para ele.
— Claro — concordou sem nem hesitar. — A hora que você marcar.
— Ótimo. — Sorriu abertamente. — Mandarei um criado lhe enviar um bilhete com a hora amanhã bem cedo.
— Parece ótimo. — Ele voltou a sorrir.
— Cavalheiros! — Annabelle se aproximou do grupo, sorrindo para os rapazes, depois para a filha e a melhor amiga. — e , podem vir comigo?
— Claro, Sra. — assentiu, virando-se para os dois homens depois. — Milorde, foi um prazer revê-lo. E até breve, Sr. Mason.
— Até breve, Srta. Permberley. — John Mason sorriu, despedindo-se com um meneio de cabeça. — Lady Durham.
— Foi ótimo revê-la também, Srta. Pemberley — despediu-se e olhou para . — E você também, .
— Até mais, Sr. Mason — despediu dele primeiro, voltando-se para depois. — E estou ansiosa para conversarmos melhor, . Até mais.
— Aproveitem o jantar, será servido em breve, rapazes — Annabelle sorriu educadamente antes de sair com as meninas.
— A Tia Anne já foi reclamar com você? — deduziu, olhando para a mãe.
— Foi. — Suspirou, puxando a filha e a amiga para a biblioteca, fechando a porta quando as duas passaram. — E ela estava certa.
— Mãe, é meu melhor amigo! — A garota suspirou, cruzando os braços enluvados.
— Eu sei, entretanto, também é um homem solteiro, irmão do seu falecido marido — continuou, séria. — Não é apropriado que vocês tenham essa intimidade toda, querida.
— Foi só o momento, mãe. Não irá se repetir — garantiu com firmeza.
— Obrigada, meu amor. Não queremos as pessoas falando, não é? — Sorriu e beijou a bochecha rosada de . — Vamos, o jantar já será servido. Vão procurar seus lugares.
As três voltaram para a imensa sala de jantar dos e com a agitação lá, demoraram um pouco até encontrarem seus lugares que, infelizmente, não eram do lado da outra. Como já era considerada, vulgarmente falando, uma solteirona, sua mãe sempre pedia para que as anfitriãs arrumassem bons lugares para a filha e, dessa vez, Annabelle resolveu deixá-la ao lado de John Mason, que sentava na última cadeira da mesa, ou seja, teria apenas ela para conversar.
, no entanto, acabou ficando ao lado de Felicity, mãe de Theodore e , sua ex-sogra. Felicity era encantadora e tinha um verdadeiro afeto por ela, então as duas conversaram durante o jantar, como velhas amigas ficando a par das novidades, porém, apesar da garota estar interessada na conversa, seu olhar não deixava de se desviar na direção de , sentado ao lado de Amèlie Miller, uma das solteiras mais belas que estava fazendo sua segunda aparição na sociedade durante essa temporada.
O que confortava era encontrar o olhar de no meio do caminho em algumas olhadas.
havia acordado extremamente cedo aquele dia. Não era uma pessoa preguiçosa e sempre acordava cedo, mas aquela manhã tinha acordado mais cedo até que seu criado. Saiu para correr, voltou, depois do café saiu para dar uma ronda na propriedade e saber como estava tudo por lá. O caseiro lhe ajudou e muito nessa parte. Quando retornou novamente para a casa da família, Philip, o mordomo, o esperava na porta.
— E a mensagem? — perguntou, tirando o casaco e o entregando para o criado, que já aguardava ao lado da porta.
— Acabou de chegar, Senhor. — O mordomo entregou o envelope pequeno.
— Muito obrigado, Philip. — Sorriu para ele. — Pode avisar que não precisam tirar a sela do meu cavalo, irei sair com ele essa tarde.
— Como quiser, Senhor — concordou, desviando o olhar para a janela. — Mas se me permite preveni-lo, creio que irá chover.
acompanhou seu olhar até a janela, mas só sorriu.
— Então que chova, Philip. Hoje é um belo dia, meu amigo. — Bateu amigavelmente nas costas dele antes de subir.
Ele abriu o envelope na metade do caminho até seu quarto e encontrou um pequeno cartão com as letras cursivas e delicadas que ele reconhecia de . O bilhete não dizia nada muito especial, mesmo assim, sorriu.
Falei sério quanto ao nosso passeio essa tarde. Temos muito o que conversar e eu tenho muito o que reclamar sobre a falta que você fez. Senti saudades. Por favor, encontre-me perto do lago para um passeio pelos jardins da propriedade dos meus pais às duas horas. Eles estão lindíssimos nessa época do ano.
Com carinho, ”
— !
O Duque virou para trás ao ouvir a voz da mãe e sorriu carinhosamente quando ela se aproximou, beijando sua bochecha.
— Soube que você deu uma volta pela propriedade hoje. — Ela entrelaçou o braço no dele, caminhando junto.
— As notícias voam, né? Mas sim, eu acabei de voltar — confirmou, olhando para baixo e encarando os olhos azuis idênticos aos seus.
— É bom ver você se envolvendo com isso, querido. — Sorriu. — tem cuidado das propriedades com muita excelência desde a morte de Theodore, você devia falar com ela.
— Eu acho que já estava na hora. — Umedeceu os lábios, baixando o olhar para o chão. — E para ser sincero, marquei de dar um passeio com essa tarde, vou lembrar de ver algo sobre isso com ela.
— Fico feliz que pense assim, . Sei que foi difícil perder seu irmão e ganhar toda essa responsabilidade de uma hora para outra, mas a vida não é justa — comentou com nostalgia no peito ao lembrar do primogênito. — E vai encontrar com ? Fico feliz que estejam retomando a amizade. Talvez possam até se ajudar.
apenas assentiu, pois não sabia o que falar. Perder Theodore havia sido a coisa mais difícil que lhe aconteceu a vida inteira, amava tanto o irmão que a morte dele o destruiu. Por isso precisou viajar, pois não queria enlouquecer a mãe com seu comportamento autodestrutível; tendia a gostar da dor física para esconder a emocional.
— E o que a senhora quer dizer com “Possam até se ajudar”? — questionou.
— Bom, o período de luto dela já acabou há um ano e ela deseja casar-se novamente e ter filhos, Annabelle comentou comigo. é nova, linda e encantadora. Merece ser muito feliz. — Felicity foi totalmente sincera. Adorava a antiga nora como se fosse a própria filha. — E você também está à procura de uma esposa.
conseguiu conter muito bem o espasmo que sua bochecha ameaçava fazer por ele estar segurando uma careta com a ideia de casar com outra pessoa. Claro que essa hora iria chegar, mas não tornava mais fácil saber disso, pois ainda desejava que se ela fosse casar, que fosse com ele!
Mas é claro que era imoral, e não havia ninguém no mundo que pudesse aceitar aquilo, não quando se tratava dele, de e Theodore.
— Claro — disse apenas isso. — E o papai?
— Foi ao vilarejo com o Sr. — respondeu. — E eu preciso me arrumar também, hoje o chá da tarde é na casa da Louise, do outro lado do lago. Annabelle acha que ela está tentando roubar a atenção antes da festa, porém todas que estão nos irão. Vai ser um chá interessante.
— Boa sorte, então. — riu, imaginando o quão interessante um chá com várias mulheres, algumas brigando silenciosamente, poderia ser.
— Até mais — Felicity despediu-se do filho com um beijo, depois acelerou o passo até o fim do corredor, onde ficava seu quarto.
entrou no próprio quarto e largou-se na cama, chutando as botas para qualquer lado. Encarou no teto, pensando em como conseguiria casar com outra mulher enquanto ainda amava e pensando também em como ele também teria coragem para deixar a mulher que ama escapar mais uma vez.
havia optado por um vestido no tom pêssego para o passeio hoje. Ele era leve e confortável, por isso o adorava. Tinha sentido muita falta dos seus vestidos coloridos durante o período de dois anos de luto. Mas agora seu guarda-roupa era cheio de diversas cores. Também havia escolhido esse para ver se ajudava o céu a abrir, já que pesadas nuvens de chuva estavam escurecendo tudo e não era nem três da tarde.
— Você está linda, Lady Durham.
Ela sorriu ao olhar para trás e encontrar se aproximando.
— Duque de Durham. — Ela fez uma mesura, mas só para fazer graça mesmo. — Não sabia que após vinte anos de amizade nós começaríamos a usar títulos.
— A sociedade nos obriga, você sabe. — Sorriu, parando alguns passos de distância. — Olá, .
— É realmente bom te ver, — confessou, encarando os olhos familiares do seu melhor amigo. — Vamos? Acho seguro nossa caminhada ser perto da casa, provavelmente vai chover.
olhou para o céu, lembrando do que Philip havia lhe avisado hoje de manhã. Ele ofereceu o braço para ela, que aceitou de bom grado, e então, de braços dados, começaram a andar juntos.
— Como está? — iniciou a conversa.
— Muito bem, na verdade — confessou, sentindo-se leve. — É bom estar por aqui novamente. E você?
— Muito bem também — compartilhou, baixando o olhar para o dela. — Eu senti falta do ar da Inglaterra.
— Ouvi dizer que você pretende ficar por aqui e se aquietar — comentou, encarando seus sapatos raspando na grama úmida. — É verídico?
O homem umedeceu os lábios, demorando um pouco mais que o necessário antes de responder.
— É sim. Chegou a hora de encarar meus deveres como Duque — falou, desviando seu olhar para o lago agitado por conta do vento forte e frio. — Ouvi que você também vai voltar a procurar um marido
comprimiu os lábios, se sentindo levemente desconfortável ao tratar sobre esse assunto com o amigo. Não queria pensar nele casando com outra pessoa, também não queria falar com ele sobre casar com outra pessoa, pois ela o amava, mas nunca seriam um do outro.
— Sim, eu irei — respondeu baixinho. — Meu período de luto acabou há um ano e, bem, eu sou muito jovem. Ainda quero construir uma família, .
Ele anuiu. Não estava em seu lugar, mas a compreendia. era uma mulher linda e inteligente, com certeza arrumaria algum bom partido para casar. O pensamento não o agradava e fazia algo primitivo rugir em seu peito, que ele arriscaria chamar de ciúme, contudo, continuou a se lembrar que a garota nunca fora e nunca poderia ser dele.
— E eu espero que você encontre uma pessoa incrível — desejou sinceramente, pois a mulher não merecia menos que aquilo.
— E eu desejo o mesmo para você. — Sorriu abertamente, porém o sorriso não lhe chegou aos olhos.
— Minha mãe está contente por você — disse, voltando a olhar para ela. — Diz que o Theodore também está, porque você merece ser feliz.
— Sua mãe conversou comigo umas semanas atrás, disse isso mesmo. — Seu olhar encontrou o de . — Fico grata por seu apoio, ela me ajudou muito.
— E você a ajudou também.
— Você também sente muita falta dele? — indagou, parando por um momento para encará-lo.
parou de frente para ela, mas olhando para um ponto atrás da ruiva. Ela não havia nem mencionado o nome de Theodore, entretanto, só a sua pergunta fez o coração do homem encolher.
— O tempo todo — confessou. — Não tem um minuto que não sinta.
A expressão de dor tomou conta do rosto de , e não conseguiu se conter, segurou a mão dele e apertou com força, entrelaçando seus dedos.
— Eu sinto também. Ele era um amigo maravilhoso e foi um marido muito bom também — compartilhou, sentindo retribuir seu aperto. — Sinto falta de nós três brincando aqui nesse jardim mesmo. Os irmãos e a garota dos . Minha mãe ficava escandalizada com o quanto eu chegava suja em casa.
O homem soltou um riso, com certeza lembrando os bons e velhos tempos, e logo retomaram a caminhada.
— Sinto falta disso também. Éramos um belo trio. — Voltou a encarar com um sorriso nos lábios. — Lembra quando fomos ensiná-la a andar a cavalo?
— E como esquecer? — Riu junto. — Você subiu no meu cavalo enquanto ele corria, ! Theo foi para um lado, nós para o outro.
— Você não estava conseguindo controlar ele, não ia te deixar se esborrachar no chão — lembrou, repassando a memória em sua mente. — E ainda caímos no lago depois.
— Eu estava conseguindo sim! — retrucou, recebendo um olhar de pura descrença.
— Ah, tá — falou com ironia. — Se por “controlando” ele, você se refere a estar agarrada no pescoço dele, branca feito neve enquanto grita por socorro, sim, você controlou muito bem.
— Idiota — resmungou, se esforçando para não sorrir com a lembrança.
Eram bem novos, ela e tinham só doze anos, mas teve certeza, naquele dia, sobre os seus sentimentos pelo garoto. Era apaixonada por seu melhor amigo há treze anos e manteve isso em segredo esse tempo todo, até mesmo quando ele se declarou.
— O idiota que salvou sua vida. — Apontou para ela com o dedo em riste, sorrindo convencido.
— Mais idiota ainda por jogar isso na minha cara! — Gargalhou, o empurrando com seu ombro.
— Eu senti falta disso — confessou, rindo um pouco pela tentativa dela de o empurrar, já que nem saiu do lugar.
— Eu também. — Sorriu genuinamente. — Mas e então, como estavam as coisas pela Irlanda e o resto do mundo? Ouvi que você viajou muito.
— Viajei. Você sabe que eu gosto de conhecer as coisas — respondeu, mantendo o olhar na mulher ao seu lado. — E a Irlanda estava ótima, como sempre. O resto do mundo que eu visitei também estava. Quando fui a Paris, no ano passado, encontrei seus parentes e eles me falaram que fazia só uma semana que você tinha voltado. Foi uma pena não termos nos encontrado.
— Eu não acredito que você esteve lá só uma semana depois de mim, ! — Arregalou os olhos, indignada. — E nem para me escrever avisando que esteve por Paris! Tia Madlyn também não me avisou.
encolheu os ombros, pois não tinha desculpa boa para se livrar da reclamação dela.
— Não achei que importasse e não achei que você fosse querer receber notícias minhas — confessou, olhando-a pelo canto do olho.
ficou bem surpresa com a sinceridade e o encarou em silêncio por alguns segundos, tentando pensar em algo para falar, contudo, ainda sim, acabou sendo levada pelo impulso.
— E por que achou que eu não fosse querer receber notícias sua? — perguntou, parando no meio do caminho para poder encará-lo melhor. — Por você ter sumido daquele jeito depois de ter me dito tudo aquilo e depois do Theodore ter morrido? Por que, quando eu precisei de você, quando nós dois precisávamos um do outro, você resolveu fugir e me fez perder, além do Theodore, você também? É por isso que você acha que não iria querer receber notícias suas? Não, . Eu te amo o bastante para que, se você tivesse me escrito, eu ignorar a raiva que senti de você.
Sua voz soou extremamente calma ao jogar verde com ele, porém prendeu a respiração quando notou tudo que havia despejado, pois realmente não era sua intenção falar assim, havia saído sem que ela se quer percebesse. Seus olhos encontraram os do homem e ele parecia atônito com tudo que ela havia falado, tanto que seus passos pararam um pouco mais adiante dos dela e seu corpo girou para ficar de frente para .
— Como é? — Ele piscou, se recuperando do choque das palavras dela.
— Esquece! — pediu, ainda chocada com a própria sinceridade. — Eu falei sem pensar.
— Mas é o que você queria falar — replicou.
— Não, não era. — Olhou para cima ao sentir um pingo grosso de chuva bater em sua testa. — Quer saber? Era sim.
— Você acha que eu queria ter sumido? — questionou, ignorando o que ela tinha falado. — Eu não queria, .
— Mas sumiu! — Cruzou os braços, se protegendo do frio ao sentir mais alguns pingos caírem e ficarem mais frequente. — Você deixou sua mãe, que precisava tanto de você, e o seu pai e eu! Você deixou todo mundo, .
— Eu precisei! — Abriu os braços, seu tom de voz aumentando alguns graus.
— Você quis! — rebateu, deixando seu tom se elevar também e se recriminando em seguida por falar alto. Não que o volume de sua voz fosse importar alguma coisa.
A chuva tinha começado a cair com força e, a essa altura, os dois eram os únicos ali fora.
— Eu não queria, ! — rosnou, sentindo o queixo tremer por conta do frio.
— Será que não podemos ter essa discussão em outro lugar? — Ela encolheu os ombros. — A escada que leva até a varanda do meu quarto ainda existe e é aqui perto, a gente entra por lá.
Não dando tempo para ele responder, segurou a saia do vestido e saiu correndo em direção ao lado norte da residência, que era onde eles estavam mais perto e onde ficava a escada do quarto que a menina havia falado. a seguiu de bom grado, pois estava congelando. Ela subiu primeiro, torcendo para que suas camareiras não tivessem trancado a porta da varanda e suspirando de alivio quando viu que não. Ambos quase suspiraram de alivio quando fechou a porta ao passar.
O quarto de estava quente com a lenha da lareira queimando suavemente e todas as janelas fechadas. A garota tentou lembrar onde as camareiras guardavam as toalhas e se apressou até o guarda-roupa, que foi onde achou algumas. Entregou duas para e usou as outras duas. Os dois ficaram mais perto da lareira enquanto se enxugavam e permaneceram calados durante esse tempo, mas bastou seus olhares se encontrarem para que decidisse que estava na hora de falar algo.
— Eu realmente não queria, — retomou a conversa, encontrando os olhos claros da viúva. — Mas eu não conseguia ficar lá depois de tudo. A culpa estava me matando! Eu herdei tudo que deveria ser do Theodore e, ainda assim, cobiçava algo que não veio com o pacote de Duque, algo que meu irmão amava e que, por mais que eu tenha lutado contra, eu amo também. Eu o traí, , pois eu te desejei mesmo quando você era dele. Não tinha um dia que não pensasse como seria se tudo fosse ao contrário, como seria se eu tivesse nascido primeiro, se fosse comigo que você se casou. Eu fui um covarde por ter deixado todos, admito, mas não conseguia encarar meus pais, nem você, ninguém. Eu não conseguia lidar com os estúpidos comentários sobre como me dei bem, não conseguia olhar para todos os lados e só ver o meu irmão.
, mais uma vez, se viu sem palavras com o discurso que acabara de ouvir. Não imaginava que a culpa que ele sentia fosse assim tão grande, pois conseguiu ouvir na voz dele e ver em seu olhar o quanto isso o atormentava. Com alguns passos hesitantes, se aproximou do homem que ainda a encarava e tocou seu rosto com uma de suas mãos frias por conta do frio que ainda sentia.
— Você não deveria ter culpa, — murmurou, usando o polegar para acariciar a bochecha dele. — O Theo ter morrido não foi culpa sua, você ter herdado o condado também não foi. Todos sabem o que quanto você amava, o quanto ainda ama o seu irmão, ninguém que os conheça acreditaria que você ficou feliz com isso. E sobre os seus sentimentos, isso é algo que nós não conseguimos mudar, não importa o quanto queremos, pois também tentei, e tentei muito, porque sempre fui apaixonada pelo irmão errado e esse segredo vem me matando todos esses anos, especialmente depois que eu casei com o Theo, pois, apesar de ele ser incrível e um marido maravilhoso, tudo que sempre consegui pensar foi apenas em como eu nunca te teria. Estive mantendo esse amor congelado no meu peito desde os doze anos, . Agora, tenho vinte e cinco e muito pouco a perder por querer dar uma chance ao meu coração.
Ele a fitou em choque com a confissão, já que, mesmo antes, quando se declarou, ela não tinha dito nada, e ele deduziu que o sentimento era unilateral, mas agora ela estava em sua frente, dizendo tudo que ele sempre desejou ouvir.
— O quê? — sussurrou, colocando a mão por cima da dela, enquanto seus olhos se enchiam de uma luz que havia se apagado no dia que soube da morte do irmão.
— Eu te amo, . Sempre amei e sempre irei — confessou, sorrindo dessa vez.
Isso foi o suficiente para que ele não conseguisse mais segurar nada, e então largou a toalha no chão, usando as mãos para puxar pela cintura e finalmente beijá-la. Ela arfou de surpresa, soltando sua toalha junto com a dele e agarrando seus ombros, sentindo os lábios dele nos seus. O beijo era urgente, era cheio de saudade, desespero, amor e tudo que esconderam por muitos anos. As mãos de a apertavam contra o próprio corpo, e sentia o seu esquentar, tendo certeza que não era por causa da lareira.
Interrompendo o beijo, o rapaz desceu seus lábios pelo queixo dela até o pescoço, onde se deliciou com a pele branca alheia; depois, foi em direção ao corpete do vestido e beijou o topo dos seios dela, fazendo com que a mulher arfasse e apertasse ainda mais as mãos nos ombros do amado. Não era tocada assim desde a morte do marido, então estava extremamente sensível e desejosa por mais.
O homem voltou a beijá-la, enquanto suas mãos se ocupavam em desabotoar os inúmeros botões nas costas do vestido da garota, que caminhava de costas até a cama, parando só quando sentiu os joelhos baterem lá. O olhar de encontrou o dela antes que ele a virasse de costas e afastasse seu cabelo para terminar de abrir os botões do vestido, aproveitando para beijar sua nuca.
Cada toque fazia a mulher fechar os olhos e seu corpo arrepiar por puro prazer. Logo que o vestido afrouxou, ajudou-a a tirar um braço de cada vez das mangas, lentamente; depois, terminou de descer o tecido molhado, deixando apenas com a roupa de baixo, mas logo ocupando-se em desfazer os laços para tirar seu espartilho, que se juntou as outras peças. O garoto voltou a virá-la de frente para ele, beijando-a com a mesma intensidade e desejo de antes.
o ajudou a tirar o paletó molhado, depois a abrir os botões da camisa até que ele estivesse apenas com a calça. Sentiu quando ele voltou a beijar o topo dos seus seios, dessa vez podendo explorar mais. Ela teve que morder o lábio para reprimir um gemido quando um dos seus peitos foram tomados pela boca alheia, deixando-a totalmente entorpecida.
— Eu quero tanto você, — murmurou, sua voz rouca de desejo.
Ela umedeceu os lábios, prendendo os cabelos dele entre seus dedos quando o homem se ocupou com seu outro seio.
— Eu já sou sua — conseguiu responder.
ergueu o rosto para o dela, a beijando suavemente agora, encostando a testa na dela.
— Não tem nada no mundo que poderá nos parar aqui.
Foi o que ele disse antes de segurá-la pelas coxas e a deitar na cama, subindo em cima dela. Apesar do mau pressentimento sobre o que ele disse, ela esqueceu quando ele voltou a beijá-la. a beijou como nunca beijou mulher nenhuma antes e como nunca beijaria nenhuma outra, pois agora só queria seus lábios nos dela e no de mais ninguém. Estavam nos braços de quem verdadeiramente amavam e só queriam se perder ali, no oásis que criaram na cama dela.
— Você está com um olhar diferente hoje — falou após analisar por alguns minutos. A amiga mordeu o lábio, tomando mais um gole de vinho e fingindo observar a festa.
Depois da tarde, precisou correr para se arrumar a tempo para a festa da mãe e conseguiu com maestria e ainda há tempo. Agora estava ao lado da melhor amiga, usando o seu mais belo vestido azul novíssimo, que foi entregue pela modista da cidade poucas horas atrás.
— Eu estou animada pela festa — tentou despistar, mas a outra lhe conhecia melhor que ninguém.
— Não é isso — retrucou. — O passeio com o Duque de Durham foi bom assim?
As bochechas de adquiriram um tom muito vermelho com a menção de , pois sua mente vagou para a tarde de hoje e a sensação dos lábios dele nos dela ou em outras partes do seu corpo foi tão vívida que ela estremeceu.
— Sua mãe disse para a minha que o Sr. Mason veio te visitar hoje de manhã — mudou de assunto, olhando para a amiga.
Essa foi a vez de enrubescer.
— Ele só estava sendo cortês, ontem conversamos um bocado durante o jantar. Ele ficou de me emprestar A Divina Comédia de Dante, veio me entregar, só isso — explicou, embora um sorrisinho ainda estivesse em seus lábios.
— Jura que foi só o livro? Porque eu juro que uma das criadas passou com um jarro cheio de água para alojar o buquê de peônias lindíssimas que você ganhou — continuou a provocar.
— Ah, , dá um tempo — resmungou. — Não é nada, mal nos conhecemos.
A garota riu, esbarrando o ombro no de por pura implicância.
— Senhoritas.
Uma terceira voz bastante familiar fez as duas olharem para frente e darem de cara com , acompanhado de John Mason, que sorriu abertamente quando seu olhar encontrou o de .
— Senhores — os cumprimentou primeiro.
— Olá — respondeu, sorrindo.
— Meu amigo e eu estávamos nos perguntando se alguma das damas estaria interessada em nos conceder a próxima dança — sorriu, seu olhar se demorando mais no de .
— Eu acho que consigo fazer esse esforço, e claramente também — olhou para a amiga. — Ela estava reclamando de a garganta estar seca, por que o Senhor não a acompanha até a mesa de ponche, Sr. Mason?
— Seria um prazer — John respondeu prontamente, já oferecendo o braço para a menina. — Vamos?
olhou para a melhor amiga sem saber se deveria batê-la ou abraça-la, mas, com um sorriso, aceitou o braço que John ofereceu e juntos atravessaram o salão.
— Ele gostou dela — comentou.
— E ela gostou dele — completou, ainda observando os dois se afastarem.
— Você está linda, se já não for óbvio — ele elogiou, sorrindo de lado.
— Muito obrigada, Duque Durham. — Fez uma mesura por pura graça.
— Posso falar com você por um momento lá fora? — Apontou para as portas da varanda.
— Claro. — Assentiu, pegando no braço dele para seguirem até o outro lado.
Olhares curiosos e avaliadores se voltaram para os dois enquanto atravessavam o salão e vários cochichos começaram, mas nem , nem estava notando ou sequer ligando. Quando chegaram na varanda, que estava um tanto vazia, o homem os guiou até mais perto do parapeito e parou de frente para a garota.
abriu a boca para perguntar o que ele queria conversar, mas foi mais rápido.
— Eu quero que você case comigo — foi direto, apertando discretamente a mão dela que ainda segurava.
piscou, bastante surpresa.
— Eu sei que muita gente vai falar e pouquíssima vai aprovar, mas eu não ligo. Eu sei que nossos pais podem não gostar muito da ideia no começo, mas tenho certeza que eles só nos querem feliz. Quero ser feliz e sei que é com você que eu vou conseguir. Sei que eu sou uma bagunça, mas também sei que sou a bagunça que você quer — ele continuou a falar. — Eu te amo, . Você quer se casar comigo?
— Eu sou sua, — falou, o coração muito acelerado no peito. — Então, sim, eu me caso com você.
Não precisava parar para pensar, não iria. Estava ouvindo seu coração, o desejo que ela já tinha há muito tempo. Não tinha nada a perder ao casar com ele, mas, se não aceitasse, perderia de vez sua oportunidade de viver o amor que sempre quis. Então, apesar do mau pressentimento, apesar do que as pessoas falariam, ela aceitaria.
— Eu adoraria te beijar agora mesmo. — Ele abriu um sorriso enorme, mas se contentou em beijar apenas a mão dela.
— Nós podemos fazer isso mais tarde. — Soltou um riso muito feliz.
pegou um anel solitário no bolso do paletó, onde um diamante reluzente e muito bonito adornado por safiras era o centro. Ele pegou a mão dela e deslizou o anel no seu dedo anelar vazio, mas que antes costumava ficar o que seu irmão havia colocado anos atrás e, por instinto, olhou para o céu escuro e estrelado, quase como se acreditasse que Theodore os observava.
, quase como se pudesse ler os pensamentos dele, apertou sua mão e ergueu o olhar para o céu também. Uma brisa mais forte soprou, fazendo os cabelos da garota voarem e várias folhas secas se agitarem ao redor dos dois. O vento quente em uma noite fria como aquela os cercou quase como em um abraço, e ambos sorriram, voltando a se encarar. Sabiam que se o céu existisse e se Theodore pudesse vê-los, de onde quer que estivesse, ele tinha acabado de lhes dar a benção para serem felizes juntos.
— Quer voltar e dançar para escandalizar a todos com o seu novo anel de noivado? — sorriu, voltando a encarar .
— Adoraria. — Sorriu, embora ainda estivesse tensa por pensar no que falariam.
E, ignorando todos os olhares escandalizados, os murmúrios inconformados, os olhares confusos dos seus pais e todo o resto, dançaram de mãos e corações atados. olhando para , o amor da sua vida, teve que concordar com o que ele havia dito mais cedo.
Não havia nada no mundo que pudesse pará-los.
Fim...
Nota da autora: Oláa! Então, eu sou apaixonada pela Taylor e, apesar de não ter pegado a música que eu realmente queria, amo essa também. Tive algumas complicações e bloqueios e tive que mudar algumas coisas na história algumas vezes até acabar nessa aqui, mas espero que tenham gostado. Ficou meio rápida, mas eu terminei a fic bem estourando o prazo, portanto foi o que deu para fazer, mesmo que os planos fossem outros. De qualquer formam, fiquem livre para dizer se gostaram ou não. Beijos!
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