Prologue
O grande mistério do mundo é a magia que o cerca. Você seria capaz de identificar um assassino? Descobrir um ladrão? Identificar um cidadão de bem? Diferenciar o bem e o mal? Se sua resposta foi sim, você é claramente alguém evoluído. Se foi não, bom... Então junte-se a nós nessa intensa loucura em busca das respostas que apenas o olho pode dar.
Capítulo Único
- 1.“Primeira regra da mágica: Sempre seja o mais esperto da sala. ” – Truque de Mestre
O frio se fazia presente em Londres o ano inteiro, mas perto do natal, especialmente, estava ainda pior. As duas garotas andavam de braços dados, sentindo o frio ricochetear em seus rostos e deixando-os avermelhados. e Queen, duas irmãs de vinte e cinco e vinte e seis anos, respectivamente, que adoravam andar pela velha terra da Rainha. Aquele era o lar delas, o lugar que as acolheu quando todos, sem exceção, tentaram matá-las antes que deixassem a pequena cidade de Round Top, no condado de Fayette, Texas.
- Poderíamos comprar um presentinho de natal pra , não acha? – Sugeriu com um ar pensativo, seus olhos voltaram-se para irmã mais velha que ria descaradamente de sua cara. – O que foi?
- Eu sabia que você ia querer comprar presentes. – Riu ao ver a outra indignada. – Mas ela merece, é nossa única família, vamos ver o que achamos. – Concordou.
Campbell era a melhor, e única, amiga das garotas. As três dividiam um pequeno apartamento em Charlotte Street. A garota, assim como elas, chegara à cidade da London Eye fugida de sua terra natal, Corippo na Suíça, curiosamente pelo mesmo motivo. Elas trabalhavam em um restaurante italiano situado no centro da cidade, tinham as terças e os domingos de folga. era recepcionista, auxiliava na cozinha e trabalhava como garçonete. Não era exatamente o emprego dos sonhos, mas pagava as contas e as mantinham afastadas do passado que tanto tentavam encobrir.
A loja de artigos múltiplos estava aquecida, se comparada ao clima de fora, a neve já começava a acumular nas calçadas. Algumas pessoas olhavam mercadorias claramente duvidosas, mas as duas seguiram para os fundos, onde sabiam que a área destinada aos livros e filmes ficava.
- Com certeza precisamos de um bom clássico. – Foi o comentário de ao passar pela enorme prateleira que cobria a parede dos fundos.
- Vou levar alguns livros para ela, amanhã podemos comprar a árvore de natal. – Respondeu a mais velha, se afastando para o lado oposto ao da irmã. Seus olhos perdidos entre os tantos títulos a deixara aparentemente vulnerável para quem olhasse de fora. E foi com esse pensamento que alguém se aproximou, com um passo de cada vez, minuciosamente calculado, um homem de aproximadamente um metro e oitenta a cercou com os braços, prendendo o corpo da moça ainda de costas para ele.
O calafrio que desceu pela espinha da garota não poderia ser descrito, o suor rapidamente se acumulou em suas mãos e o ar ficou preso em sua garganta quando o ouviu dizer.
– Finalmente te encontrei.
Ela sabia que seu passado poderia bater à porta em qualquer momento, essa preocupação era uma companhia constante na casa das três garotas. Ao engolir a saliva com dificuldade, ela colocou as habilidades, que há muito estavam adormecidas, finalmente em pratica. Enroscou as mãos no pulso direito do estranho, o girou e no momento em que ele gritou de dor ela forçou o corpo para trás, mudando de posição e prendendo o corpo dele no lugar onde antes o dela estava.
- Quem é você e o que quer? – Perguntou arfando, forçando seu peso contra o dele.
- Acho que me enganei, você não perdeu a prática. – A voz desdenhosa do estranho foi acompanhada por uma risada. Só então ela percebeu de quem se tratava, aos poucos o soltou e, quando o fez completamente, deu um passo para trás. De imediato o rapaz se virou para encará-la, os olhos azuis cintilavam tão escuros quanto um céu noturno, eram quase pretos. Os cabelos castanho-claros e o sorriso que arrasava as calcinhas da maioria das mulheres de Nova York. Matteo Sponatti estava em sua frente, em carne, ossos e charme. O homem parecia alguém saído de seus sonhos. Porém dada a situação em que vivia, isso não era nada bom. Antes que pudesse dizer algo, a voz de sua irmã cortou o espaço entre eles.
- Não acredito que nos encontrou. – Não havia raiva ou frustração na voz dela, apenas uma constatação sem importância. – O que quer?
se virou para olhá-la e notou que algumas pessoas a olhavam curiosas, a garota revirou os olhos e bufou. Matteo mal havia chegado e já causava problemas.
- Esse lugar não é propício para falarmos sobre qualquer coisa, vamos para uma cafeteria. – Chamou se afastando e colocando o livro, que pegara antes de ser surpreendida, sobre algumas presilhas de cabelo.
Os três seguiram em silêncio até o Starbucks que ficava em frente à loja, estava parcialmente vazia devido a hora, o que lhes proporcionou a privacidade que precisavam. As irmãs se entreolharam em um acordo mudo sobre os próximos passos a serem dados, era óbvio que o aparecimento do italiano ali não era para uma visita cordial, e com certeza elas não se deixariam render.
Os minutos que se seguiram tinham o silêncio como convidado especial, isto é, até Matteo começar a rir descontroladamente.
- Molto bene, você estão me olhando como se eu fosse a Cruela e vocês os dálmatas. – O rapaz riu ainda mais ao ver as feições descrentes das duas mulheres. – Não se preocupem, bambinas, não vim para matá-las, até porque o teria feito rapidamente se esse fosse o caso. – Ele havia parado de rir e agora as fitava com um ar desdenhoso.
- Então desembucha logo, o que está fazendo aqui? – questionou já irritada com a enrolação do recém-chegado.
- Vim porque o Max tem uma missão para vocês. – Aquele nome as fez arregalar os olhos. Maximilian Donald era o embaixador dos Estados Unidos, elas já haviam trabalhado para ele em uma ou duas ocasiões ilegais e encobertas, mas havia anos que sequer se mencionava seu nome, esse era o trato.
- O que ele quer de nós? – suspirou audivelmente, estava incomodada com o olhar do rapaz sobre ela.
- Não apenas com vocês, mas com também. – O italiano tirou um papel amassado do bolso onde constavam algumas coisas rabiscadas. – Os maiores empresários de Nova York estão sendo roubados por debaixo dos panos, não há pistas ou algo que leve ao bandido. – Matteo voltou seus olhos para elas. – Por isso ele as quer, na verdade, ele quer os Seis Mestres de volta para ajudar nesse caso.
- Nunca! – A resposta saiu rápida e certeira dos lábios das irmãs Queen, tudo o que não queriam era retomar o grupo, isso traria dor de cabeça demais, sentimentos demais e lembranças demais para lidar agora. Viver em paz era tudo o que precisavam, e não de bandidos do colarinho branco na cola delas. – não vai aceitar, muito menos os demais. – Desdenhou a mais nova, sentindo o suor frio escorrer por sua testa.
- Eles não tiveram opção, assim como vocês não terão. – Direto demais para estar mentindo, foi o que pensou. – Vocês voltam comigo para Nova York, ficarão em um apartamento no centro da cidade, próximo do local dos ataques. Essa é a chance de ganharem um milhão de dólares cada um e não serem acusados de crimes de fraude e chantagem, é claro.
O sorriso enviesado do estrangeiro não enganava, ele estava dizendo a verdade, e não havia motivos para duvidar de que Max denunciaria todos eles e acharia um jeito de deixá-los presos para sempre. Mas havia algo que poderia pedir, ainda que fosse arriscado.
- Tudo bem, nós iremos e convenceremos a ir conosco. – A mais velha se pronunciou fazendo a outra arregalar os olhos. – Mas queremos a certeza de que conheceremos o olho, o líder dessa loucura toda. Queremos o responsável por nosso recrutamento, é um direito que temos e vocês podem nos conseguir isso.
- Não.
- Ótimo, então ficaremos aqui e esperaremos ansiosas a vinda da Interpol. – Foi a palavra final, logo as duas estavam de pé e rumando para saída. Era óbvio que o medo era companheiro, mas jamais voltariam atrás. Precisavam colocar um fim naquela história. A voz dele as fez parar.
- Está certo, assim que tudo estiver feito eu mesmo levarei vocês para conhecer o líder. – virou-se primeiro e estendeu a mão selando o acordo. – Conheço maneiras melhores de fechar um negócio. – Matteo sorriu safado, a fazendo revirar os olhos e a mais velha balançar a cabeça e rir.
- Claro, nos seus sonhos talvez.
Era isso, o acordo estava selado. Elas estavam de volta no jogo, seriam os Seis Mestres mais uma vez, o ato final de um longo jogo. Talvez o mais perigoso até agora.
- 2. “Mas esse é o momento pelo qual todos esperavam” – Truque de Mestre
estava irredutível. Já havia xingado, brigado, gritado e decretado ao mundo que não retornaria para vida de antes, não deixaria Londres nem sob ameaça e se recusava a falar sobre o assunto hás dois dias.
- Muito bem, estou cansada disso. – disse de repente em uma manhã qualquer de quinta feira. – eu sei que voltar para Nova York é quebrar a promessa de jamais colocarmos os pés lá novamente, mas essa é a chance que temos de encontrar respostas para loucura que nossa vida se tornou.
- Essa é a chance de voltarmos a ser o que éramos. – Campbell respondeu de pronto.
- Mágicas? – sugeriu sorrindo amarelo, era uma falha tentativa de amenizar os ânimos, estava tão cansada daquele assunto quanto a própria , mas sabia da importância de ir nessa viagem, ainda que precisasse enfrentar seus fantasmas passados.
- Golpistas. – Aquela resposta era dolorosa, porém verdadeira. As três se calaram, fitando umas às outras com o peso mudo da verdade pairando sobre suas cabeças.
O som de um celular tocando as fez pular, era o da mais velha das Queen. atendeu sem olhar o visor e para seu espanto a voz que escutou fez seu coração se apertar e os olhos arderem. Quatro anos sem notícias, quatro anos sem vê-lo ou ouvir sua voz.
– Estamos esperando vocês no aeroporto particular do líder, às oito, sem atraso. – E então a ligação foi finalizada, deixando-a completamente perdida e com o coração acelerado e dolorido na mesma proporção.
- Quem era? – Indagaram as duas espectadoras.
- .
Não era preciso mais, aquela era a resposta que tanto as assustava. Melhor do que ninguém, elas sabiam onde e como aquilo acabaria, e de forma alguma soava bem. Para nenhuma delas.
Point of view of
O dia havia passado com mais rapidez do que eu gostaria, fingia estar focado nos esquemas que montara há dois dias, mas eu sabia que era puro fingimento, uma prova disso era o mau humor que se fizera presente nos últimos dias e piorara consideravelmente hoje. estava mais frio do que o comum, mal falara duas palavras hoje. Achei melhor deixá-los quietos, afinal, o que estava para acontecer era muito maior do que imaginávamos. Estávamos prestes a enfrentar lembranças dolorosas demais para serem comentadas. Eu sabia que havia muito que ser conversado, e confesso que estava disposto a fazê-lo, mas duvidava que algum dos dois estivesse. Suspirei pesadamente ao colocar minha mala de mão ao lado da poltrona dentro do pequeno avião.
Havíamos chegado há vinte minutos, Clark, o piloto, havia nos passado as instruções de como seria o voo e onde desceríamos. Disse que as outras explicações viriam enquanto a aeronave estivesse no ar. Pensei em questionar como, exatamente, mas sabia que não valia a pena, ele estava instruído a não nos dizer nada.
- Agradeceria se pudéssemos ir de uma vez. – A voz de soou ao meu lado, assustando-me.
- Elas ainda não chegaram. – Falei e o ouvi bufar, era claro que aquele reencontro seria difícil, mas para parecia que o fim do mundo estava sendo anunciado. Os passos de soaram pesados ao se aproximarem, seus olhos estavam cobertos por um par de óculos escuros realmente desnecessários, levando-se em conta o horário e o lugar. Ele se jogou na poltrona do outro lado do corredor, emparelhada com a minha.
- , você disse sem atrasos? – Sua voz estava tão fria que por um momento achei que ele estivesse com raiva de nós, mas bastou que tirasse os óculos que ficou visível seu real estado. murmurou um “sim” meio a contragosto. – Muito responsável da parte delas se atrasar, como se estivéssemos amando revê-las.
- Fico feliz em saber disso, amorzinho. – Uma voz alta e feminina ressoou pelo espaço do avião. Paradas na porta estavam as três figuras que não víamos há quatro anos. era a primeira da fila, seguida por , foi a última a entrar. Meu coração acelerou tanto que jurei que teria um ataque cardíaco. Sem que percebesse já estava de pé, minhas mãos coçando para tocá-la, era mais forte do que eu.
- Não me chame de amorzinho. – A voz sibilante de me parou, soando tão mortífera quanto o olhar que lançava a elas. o encarava de volta com os olhos semicerrados, ignorou a todos nós e seguiu para dentro, ocupando as poltronas do fundo. Respirei fundo e resolvi sentar, minhas mãos tremiam e eu já não tinha controle sobre minha boca. Uma chance e eu diria tudo o que estava guardado há quatro anos.
É claro que não tive chances, pois no instante em que elas se acomodaram, a porta foi fechada e as luzes internas se ascenderam, só então pudemos perceber a figura que nos observava do canto. Uma mulher alta, de cabelos escuros em um corte chanel trajava um conjunto social que seria particularmente antiquado para jovem aparência. Ela caminhou até parar em nossa frente e nos fitou por alguns segundos antes de abrir um sorriso de canto muito sugestivo.
- O que tenho para dizer é simples, portanto serei objetiva. – Sua voz era autoritária, assim como sua postura. – Assim que o avião pousar, vocês seguem para um apartamento que foi reservado para suas estadias, tudo o que precisarem estará lá. Suas instruções são simples, achem quem está fazendo as transações, entreguem-no para Max e estarão dispensados. Registrem qualquer novidade nos tablets que estarão disponíveis no apartamento, façam tudo conforme designado e não se machucarão. Alguma dúvida? – Pisquei duas vezes diante de suas palavras, meu raciocínio demorou a acompanhar o que ela dissera. Por fim a mulher pareceu cansar de nosso silêncio. – Ótimo, Matteo os encontrará no aeroporto.
Do mesmo jeito que surgiu, ela se foi. Caminhou até estar encoberta pelas sombras, colocou o que me parecia ser uma mochila, tirou um controle pequeno do bolso e apertou um botão, que para meu total desespero abriu a porta do avião e pulou. Meu corpo foi puxado para frente sem que eu pudesse controlar, tentei me agarrar à janela e senti a mão de me puxar para trás, xingava alguma coisa e tentava chegar até a porta, sem voar, para fechar a mesma. passou rapidamente por nós e o grito de me fez gelar, não conseguia ver o que se passava atrás de mim. Com muita resistência vi as duas irmãs caminharem com passos lentos e pesados, Allessadra estava presa por uma corda de diversos cintos, com certeza os achara em um dos compartimentos abaixo da cadeira. Ela segurava a irmã, que para meu espanto puxou Campbell para perto de nós.
usou as duas como âncora e alcançou a porta, com a ajuda das Queen o tormento acabou. A porta foi fechada, nos fazendo despencar de vez no chão com a falta de pressão do ar.
Levantei com esforço e só então percebi que estava sobre , os dois se olhavam de uma forma tão intensa que me senti constrangido.
- Sai de cima de mim. – Voltei minha atenção para porta, onde estava sobre as irmãs que o fitavam de forma ameaçadora.
- Com prazer, querida.– Notei o momento em que prendeu a respiração e soltou logo em seguida ao se colocar de pé e ajudar a irmã. Os raios que saíram de seus olhos poderiam derreter em um segundo, se esse fosse seu dom.
Sabe o que eu disse sobre a revolta de ser o fim do mundo? Esqueça, a briga entre e causaria o apocalipse, e eu já conseguia ouvir as trombetas.
End point of view
3. “Estamos lidando com algo muito maior do que nós”. – Truque de Mestre
O restante da viagem foi sem maiores problemas, os rapazes se mantiveram inertes em seus lugares, usava um fone de ouvido e vez ou outra, ainda que relutante, olhava para trás conseguindo enxergar . se limitou a assistir uma das muitas séries disponíveis na pequena televisão em sua frente.
- Será que vai ser sempre assim? – A pergunta de despertou atenção de , que estava distraída lendo um livro qualquer que encontrara ali. Com uma sobrancelha arqueada, a moça indagou silenciosamente ao que ela se referia. – Nós, digo, essa situação. É meio óbvio que está tentando te ver aqui atrás, mas continua rabugento demais para dizer isso em voz alta. – Ela cochichou a última parte, fazendo a amiga virar-se para ver se era verdade o que ouvia, encontrou o homem fitando-a de soslaio e fingindo olhar alguma coisa em sua poltrona. Ela riu.
- Não sei, mas eles têm suas próprias verdades e não serei eu quem vai destituir essas mentes conturbadas. – Campbell deu de ombros e ouviu a outra bufar. – , se você quer falar com eles é um problema seu, mas não pode esperar que eu ou façamos o mesmo. Tua história foi diferente, suas verdades e as dele são diferentes do que aconteceu comigo. – A verdade naquelas palavras era tão dolorosa quanto chocante. A mais nova das Queen nunca conseguira arrancar uma confissão sequer, sobre qualquer coisa, do passado de ou de sua irmã; E tê-la ali, dizendo que realmente havia mais coisa do que foi dita, a fez perceber que essa viagem as levaria para um lugar que, talvez, seria mais perigoso do que imaginava.
levantou e jogou os fones de ouvido sobre o assento. Ouvira parte da conversa entre a amiga e a irmã e sabia que logo seria a próxima vítima, e Deus sabe o quanto ela não estava preparada para dizer qualquer coisa sobre o assunto. Resolveu ir até o banheiro jogar água no rosto e, quem sabe, respirar um pouco aliviada. Assim que tocou na maçaneta da porta, a mesma se abriu revelando quem ela menos queria ver. parou por alguns segundos, fitando-a com surpresa ao vê-la ali, tão próxima. Mas assim como surgiu, se foi. Logo o espanto sumiu, dando lugar ao ódio que ele carregava em seus olhos como diamantes brilhando isolados em meio à escuridão. Ela se afastou um passo para que ele saísse e tomou o lugar em que estava, batendo a porta em seguida.
Parou de frente para minúscula pia e fitou o próprio reflexo no espelho, estava cansada como se tivesse corrido quilômetros e o trabalho mal havia começado. Bufou. A sensação de raiva misturada a um sentimento que ela insistia em desconhecer, ou ignorar, era maçante e cansativo demais. Ligou a torneira e molhou o rosto e a nuca, só queria que aquele voo interminável enfim chegasse ao destino, tudo o que desejava era estar longe deles, dos três, para ser mais honesta. Nenhum dos rapazes lhes trazia uma lembrança que não fosse dolorosa, cada qual por motivos distintos, e isso a massacrava e fazia sua cabeça explodir e se reconstituir em um looping infindável.
havia ido até a pequena copa no canto do avião e pegado duas latas de Coca-Cola, atirou uma para e se limitou a ocupar sua cadeira novamente. havia adormecido.
- Vai falar algo ou continuaremos fingindo que nada está acontecendo? – questionou, olhando o amigo depositar o objeto no apoio de braço da poltrona.
- Não sei do que está falando e não quero saber. – cortou o assunto, soando tão gentil quanto aprendeu a ser. Talvez o tempo que passou com na Hungria não tivesse realmente feito bem a ele, já que os dois foram durante uma das inúmeras fugas que precisaram fazer e se permitiram juntar toda amargura que nutriam pelas garotas que ocupavam as poltronas de trás. O rapaz balançou a cabeça e resolveu ignorar, estavam próximos do destino, logo pisariam na terra que juraram nunca mais voltar, porém desta vez o objetivo era outro, ainda que as companhias não fossem.
Point of View Campbell
No momento em que as rodas tocaram o solo eu soube que meu pesadelo estava prestes a se intensificar, sim, porque já havia começado no momento em que coloquei meus olhos nas três figuras que eu preferia citar como fantasmas do meu passado.
Atravessamos a pista em completo silêncio, Matteo nos aguardava na porta que dava acesso a saída do minúsculo aeroporto particular. Quem diria que entraríamos em território inimigo com tanta classe? O italiano sorriu lascivo assim que seus olhos passaram por todos nós e pousaram em mim, ele sabia de minha relutância em estar aqui.
- Vejo que aceitou meu convite, miele. – Seu tom sugestivo me dizia que o apelido pelo qual me chamara não era exatamente o que eu gostaria de ouvir. Estreitei meus olhos em sua direção e ouvi pigarrear ao meu lado, ao fitá-la notei que prendia o riso. Revirei os olhos. Nunca entendi por que a Queen se dava tão bem com Matteo, ainda no tempo em que trabalhamos juntos aqui ela sempre esteve no páreo com ele, fosse nas brincadeiras, flertes e respostas ácidas. Confesso que por algum tempo achei que eles tivessem um caso, e vendo a cara que direcionava aos dois soube que não fui a única a pensar assim.
- Fala de uma vez o que temos que fazer. – Exigi cortando o papo e ele levantou as mãos fingindo se render.
- Me sigam. – Foi sua resposta.
Partimos rumo à saída, onde um carro imenso e escuro nos aguardava, os vidros filmados e o fato do motorista ter um rádio acoplado à cintura me diziam que aquele veículo pertencia a alguém muito importante. Percorremos as ruas em completo silêncio, apenas o salto de batendo contra o assoalho do carro quebrava a quietude. Assim que o movimento parou, olhei pela janela identificando um prédio altíssimo e espelhado, Matteo saiu do carro e esperou que fizéssemos o mesmo. Fui a última a deixar o carro e subir as escadas que nos separavam da entrada.
Na recepção um homem baixinho de cabelos ralos e aparência serena nos fitava, não parecia confuso ou curioso, apenas acompanhava cada movimento nosso como se estivesse habituado a situações estranhas como esta. Entramos em um elevador grande o bastante para caber ao menos mais quatro pessoas e seguimos para o que parecia ser o oitavo andar; deixamos a cabine metálica e paramos dentro do que parecia um hall de entrada. Matteo indicou que saíssemos primeiro.
- Per favore. – Indicou com a mão que fôssemos na frente, me precipitei para dentro parando ao lado de . Por um momento esqueci do motivo de estarmos ali e me deixei apreciar a vista. A sala era enorme com paredes inteiras de vidro, um tapete cor de areia cobria o meio do cômodo onde um sofá grande o bastante para caber uma família estava em cima, em frente a este uma poltrona e um pufe, todos cinza-claro; uma mesa de vidro mediana ocupava o centro. Uma mesa de canto com revistas enfeitava a sala, assim como um piano preto de caldas bem próximo a parede leste. – Vamos para sala de reuniões, o restante do apartamento vocês podem ver depois. – Afirmou ignorando as caras de choque que todos apresentavam e seguiu para esquerda, passando direto pela escada de mármore e vidro acoplada a parede. Prosseguindo por esta passagem notava-se uma mesa de jantar com pelo menos dez lugares à direita, um lustre grande e cheio de adornos, semelhante ao que ocupava a sala, pairava acima da mesa. A outra passagem os levaria para cozinha, à esquerda uma escada caracol de vidro, e foi nela que todos subiram. No patamar superior um corredor enorme se estendia e um arco de mármore branco, o mesmo da escada da sala, dava vista para uma sala comum com um sofá pequeno e almofadas próximas da janela, algumas revistas e uma televisão descia pendurada em um cabo de apoio, e seis portas. Divididas de forma a ficar quatro na direita e duas à esquerda. Matteo passou direto, seguindo para o fim do corredor e parou ao ver que ainda estávamos abismados com o lugar. – Apressem-se, andiamo.
O escritório era tudo o que se esperar de uma casa imensa como aquela. Móveis caros, mesa de mogno que valia um ano do meu salário. O italiano ocupou a cadeira principal enquanto ligava o computador, nos espalhamos pela sala à espera das instruções.
- Vocês já sabem o que precisam fazer, então aqui estão os tablets. – Matteo retirou uma caixa de papelão debaixo da mesa e abriu sobre o tampo de mogno, expondo os aparelhos. – As pastas com os valores roubados e os nomes dos principais clientes estão aqui dentro, há um backup, no caso de perderem algo, no quarto de vocês. Não percam tempo, Max está impaciente e acredito que vocês também, não é ragazze? – O tom sugestivo de Matteo despertou um olhar curioso nos demais que não sabiam do trato feito pelas Queen.
- Certo, se nos der licença, vamos trabalhar. – assumiu a típica postura matadora de quando estávamos trabalhando e se levantou, notei o olhar malicioso do italiano sobre minha amiga e, por puro costume, voltei meus olhos para , que ao lado de parecia incomodado. Com um gesto de cabeça nos despedimos de Sponatti e deixamos a sala; Caminhamos apressadas em direção às portas do que imaginávamos serem os quartos, entrou na última segunda porta da esquerda. Assim que a porta se abriu, revelando um cômodo grande o bastante para aconchegar uma família de vinte pessoas, sentimos o queixo cair.
- Minha nossa. – passou em nossa frente e pulou sobre a cama gigantesca no meio do quarto. Diferente do resto da casa, as mobílias eram completamente brancas neste cômodo. Um closet do tamanho do meu quarto em Londres estava ao lado do banheiro, este inteiro de mármore branco e vidro verde claro. O Central Park seria a primeira coisa que ela veria ao acordar, isso seria incrível, se não trouxesse tantas recordações que gostaríamos de esquecer.
- John Alfort, Allan Kimmel e Jason Stuart foram os alvos. – disse despertando nossa atenção, as duas irmãs estavam sentadas na cama lendo os arquivos. Apressei-me em fazer o mesmo. – O primeiro é dono de ações de algumas empresas famosas, como Google, Apple e Adidas.
- O segundo é o CEO de uma empresa especializada em marketing. – continuou a descrição.
- Jason é banqueiro. – Arregalei os olhos diante da informação, levantei a cabeça para olhar as meninas e as vi balançar a cabeça. – Acho que sabemos por onde começar.
A porta se abriu de rompante, me fazendo pular.
– Pensamos a mesma coisa. – disse ao aparecer na soleira. Troquei um breve olhar com e definitivamente entendi que estávamos prestes a afundar o barco de vez.
End point of view
4. “Você consegue ler as entrelinhas?” – Truque de Mestre.
Os seis jovens se reuniram na sala de estar com os arquivos em mãos, alguns papéis e notebooks que encontraram pela casa. A verdade era que ninguém queria falar, mas o assunto pairava como sombra entre eles e fazê-lo seria inevitável.
- Precisamos de um show. – disse de repente, o silêncio no ambiente era tamanho que sua voz reverberou. ergueu a cabeça e pigarreou, olhou para as três garotas e ponderou a fala, ele sabia que ela estava certa.
- Mas como faremos isso? – Questionou o rapaz, ponderando as opções. evitava contato visual com ele a todo custo, não estava pronta para conversar, ainda que esse fosse o certo a ser feito.
- Faremos um espetáculo de abertura na Estação Central como demonstração. Atrairemos o público e Matteo pode conseguir um show privado. – Manifestou-se com seu típico ar de sabe tudo, colocou-se de pé e sacou o celular.
- Vou ligar para ele. – Sumindo pela divisão da sala deixou os cinco pensativos, bufou alto e olhou para com cara de poucos amigos ao vê-lo tão afetado com o fato da Queen telefonar para o italiano.
Point of view
- Ele disse que está feito. – A Queen mais velha reapareceu com um sorriso convencido e ocupou o lugar ao lado da irmã. – A apresentação na Estação Central pode ser simples, o que acham da cortina de cartas? – Sugeriu ela olhando para , vi a Campbell arregalar os olhos por alguns segundos antes de fechar a feição e sua atenção se voltar para mim. Aquele truque exigia minha presença, já que ficávamos trocando cartas no palco até que uma cortina destas caía de uma cartola sobre e a garota sumia, apenas para reaparecer em algum lugar inusitado, claro que com seu dom de ficar invisível isso era fácil, todavia fazer esse truque hoje significaria ter intimidade com ela, já que um clima de suspense entre troca de olhares seria necessário e eu não tinha plena certeza se estava pronto para tal.
- Ótima ideia, faremos esse e o do tanque. – interveio cortando qualquer chance de reclamação. O truque do tanque consistia nela entrar num retângulo vertical com entradas de água na parte inferior, os pulsos e tornozelos atados deveriam ser libertos em sessenta segundos ou a água que entrava pelos dutos a afogaria, o que os espectadores não sabiam é que, assim como a Campell, também tinha uma espécie de poder, o seu era desmaterializar o corpo e passar por qualquer objeto sólido.
- E o restante de nós faz o quê? – Inquiriu aparentemente ofendido, balancei a cabeça.
- Vocês farão a abertura. – Decretou, por fim, a mais nova das Queen. Tudo estava finalmente decidido, agora precisávamos apenas esperar para o dia seguinte, a apresentação deveria ser feito no horário de maior funcionamento, isto é, pela manhã. Assisti todos se levantarem e deixarem a sala, permaneci onde estava. Meu corpo se recusava a obedecer meu cérebro, todo o cansaço e estresse da última semana pareciam ter chegado de uma vez e para ficar, respirei fundo e fechei os olhos por alguns segundos. Passos me fizeram ficar em alerta, entretanto não fora necessário muito esforço para saber de quem se tratava, seu perfume ainda era o mesmo. retornou para sala e pareceu hesitar em se aproximar. Reabri os olhos e a fitei, ela estava parada perto da janela.
- Quer mesmo fazer a cortina de cartas? – Sua voz soou baixa, quase como um sussurro.
- Não, mas não é como se tivéssemos escolha. – Me levantei e caminhei em direção a saída, precisava dormir e esquecer tudo por algumas horas.
- Você fala como se eu estivesse mais feliz do que você em fazer isso. – A vi se virar em minha direção e fiz o mesmo. – Sei que não quer ficar perto de mim, mas já que estamos nessa podemos agir como adultos. – Havia ironia em sua voz, ainda que sua postura fosse rija.
- Eu não quero ficar perto de você? É isso o que pensa? – Me aproximei da janela onde ela estava, até estar perto o bastante para sua respiração se misturar com a minha. – Você volta depois de todo esse tempo, reabre minhas feridas que já haviam sido curadas com diversas doses de tequila, diz um monte de bobagens e acha que o meu maior problema é ficar perto de você? – Soprei sentindo meu sangue fervente correr a toda velocidade pelas veias.
- eu...
- Não. – Ergui a mão, impedindo que pronunciasse algo mais. – Nós sempre cometemos os mesmos erros, parece um deja vu sem fim. Vamos apenas nos concentrar no trabalho e acabar com isso de uma vez.
- Tem certeza de que vai conseguir?
Não respondi, me apressei em deixar a sala e chegar no quarto que escolhera, a primeira porta do lado do corredor. Bati a mesma assim que estava dentro do cômodo e chutei a cama, descontando toda frustração e amor que sufocara durante tanto tempo.
A manhã chegou antes do que eu gostaria, levantei da cama indignado com a noite curta que tivera. Tomei um banho rápido e me encaminhei para o closet, olhei por entre as araras de roupa e achei um acervo de cinco ternos escuros variando entre azul, cinza, marrom, vinho e preto no canto mais afastado do cômodo. Bufei. Era óbvio que nos fariam usar tais roupas. Revirei os olhos e tirei o preto do cabide, joguei a toalha que jazia presa em minha cintura sobre o sofá branco no meio do closet e vesti o terno. Passei as mãos pelo cabelo na tentativa de arrumá-lo, borrifei o perfume e deixei o quarto antes que desistisse e voltasse para cama.
Encontrei os demais ao redor da mesa na sala de jantar, os rapazes trajando ternos iguais ao meu e as garotas com vestidos de cores distintas, aquela visão me fez recuar um passo. estava calado bebendo café ao lado de , que comia tudo o que estava à disposição, e cochichavam sobre algo e lia no tablet. Ainda que estivessem dispersos, aquela cena me transportou direto para época em que morávamos praticamente juntos, as garotas alugavam um apartamento pequeno de número 22, enquanto os rapazes e eu residíamos no número 23. Embora vizinhos, costumávamos fazer nossas refeições sempre juntos.
- Anda logo, dude, temos que ir. – Foi a voz de que me despertou. Assentei-me próximo a ele e me servi com café e torradas.
Fomos até a estação em uma van guiada por Matteo, o italiano nos deixou no estacionamento e disse que se misturaria no lugar para não mostrar que nos conhecíamos. Andamos juntos até o meio da estação, as irmãs Queen empurravam o tanque com os aparatos enquanto levava o reservatório móvel de água, carregava as correntes enquanto trazia consigo uma mala de viagem grande, a mim restou montar os dutos do tanque. Os olhares curiosos seguiram nossos movimentos por todo o percurso até a finalização da montagem.
- Podemos começar. – Falei a contragosto, recebendo um aceno de . Seu truque seria o primeiro e, internamente, eu agradecia por isso. Não queria ter que me aproximar da Campbell agora, não com ela tão tentadora naquele vestido justo azul que a deixava ainda mais exuberante.
Droga, isso não vai ser realmente fácil.
End point ofview
5.“Foi apenas uma distração enquanto armávamos o truque de verdade”. –Truque de Mestre
Os movimentos de eram precisos, a garota tirou o vestido verde claro que usava e revelou um maiô branco, as pessoas ao redor paravam para saber o que se passava e por que havia alguém com roupas de banho no meio da estação. Com elegância, ela subiu a escada de ferro que estava acoplada ao tanque e entrou no mesmo.
- O que ela vai fazer? – Um senhor careca, não aparentando mais do que cinquenta anos, perguntou para ninguém em especial.
- Ela vai trazer a publicidade que precisa para o seu banco. – Uma voz suave com sotaque carregado surgiu ao lado do senhor, que com o susto derrubou o café que levava na mão.
- Quem é você?
- Alguém que pode te ajudar. – Foi a resposta dada antes do número começar. A mais nova das Queen teve os braços e pernas presos com a ajuda de , que entrou no cubículo apenas para amarrá-la.
- Senhoras e senhores, preparem-se para assistir o inexplicável. – A voz de reverberou pelo ambiente como se estivesse amplificada, um truque que ele adorava fazer. – Esta bela jovem está prestes a arriscar sua vida, mas seria isso uma verdade ou apenas algo que seus olhos não são capazes de captar?
Depois de estimular a curiosidade da plateia ele saiu de cena, voltando assim as atenções para garota de maiô.
Point of view Queen
Sorri e acenei para o público enquanto fingia lutar contra as amarras, a água estava fria e incomodava minha pele. Retorci as mãos em busca de liberdade, mas as correntes sequer se moveram, os rostos das pessoas começavam a ficar curiosos e tensos e eu estava amando isso, forcei o fecho até conseguir libertar uma mão, os gritos de felicitações soaram altos, mas apenas para o silêncio reinar em seguida. Tentei soltar a outra mão e não obtive êxito, o liquido frio já me deixara arrepiada e agora se encontrava na altura de meu peito, prendi o fôlego e abaixei para libertar meus pés, essa parte do número era sempre mais dramática. Resolvi que era o momento de fingir. Bati desesperadamente no vidro pedindo socorro, algumas pessoas tentavam se aproximar, outras cobriam os olhos, a água se tornou branca graças ao corante que derramara em um dos dutos e logo eu pude passar meus membros por entre o ferro e sair da caixa, segurava uma toalha para mim. Agradeci com um gesto e esperei o momento certo para aparecer, algumas pessoas choravam e outras se recusavam a olhar. deu um toque em meu ombro mostrando que estava na hora de acabar.
- Que coisa mais sem graça isso, hein? – Minha voz reverberou pelo lugar, atraindo atenção. – Truquezinho maldoso esse. – Abri um sorriso, satisfeita com o resultado e com os aplausos que recebera.
- Toda mágica requer um dom. – Minha irmã tomou a palavra e saiu de trás do tanque, com seu vestido lilás de alças finas ela parecia tão delicada, por um momento cheguei a me enganar. – Todo dom deixa um ar de mistério no ar, seria esse o grande segredo da mágica? – Com um sorriso ladino ela indicou o casal atrás de si. e estavam de costas um para o outro; Com um timing perfeito os dois caminharam até estarem a pelo menos dois metros um do outro. tirou um jogo de baralho do decote de seu vestido enquanto sacava as cartas do bolso da calça social, os dois começaram com um jogo de olhares enquanto embaralhavam o jogo, em um segundo de pura tensão as cartas foram jogadas para frente, ficando apenas uma na mão de cada jogador; Eles tinham destreza e habilidade demais, pois no momento seguinte as cartas pareciam cordas presas entre suas mãos, os espectadores aplaudiram, perdidos em meio a tensão que os olhares deles causavam. se aproximou e entregou uma cartola pra , o rapaz mostrou ao público que estava vazia e colocou suas cartas e as da parceira dentro do objeto, em seguida andou lentamente até ela e parou em suas costas, pude ouvir o suspiro do rapaz e prendi o riso. No instante seguinte o chapéu foi virado, derrubando as cartas como uma chuva numerosa demais para ser apenas os dois baralhos ali colocados. Aos olhos vistos, Campbell sumiu, reaparecendo ao lado de pouco depois.
Os gritos e aplausos eram altos o bastante para provas que havíamos agradado, agora bastava saber se Matteo conseguira cumprir sua parte.
A volta para o apartamento fora feita em total silêncio, isso me incomodava mais do que eu gostaria. Estava farta daquela situação toda, vivemos juntos por anos e agora agíamos como estranhos que se encontram no mercado. Quando passamos pela porta e todos se dispersaram com rapidez demais para que eu dissesse algo, senti o sangue ferver. Avistei indo em direção a cozinha e corri em sua direção.
- Precisamos conversar. – Falei tão rápido que não tive plena certeza de que ele entendeu, seus olhos se voltaram para mim com curiosidade.
- Diga. – De todas as respostas que poderia ouvir, essa não era a que eu esperava. O rapaz se encostou no armário da cozinha e me olhou, aguardando, respirei fundo e tentei organizar meus pensamentos.
- , antes de qualquer coisa, eu sei que vocês nos odeiam, e de verdade não os culpo por isso. – Me apressei antes de perder a coragem, os olhos cristalinos dele miraram os meus com espanto. – Sumimos porque foi preciso. O Olho estava nos caçando como animais, eu jamais teria feito isso se sua vida... nossas vidas não estivessem em risco. – Como diria minha irmã, chutei o pau da barraca e só percebi quando já estava feito.
- Eu não te odeio, . – Foram suas primeiras palavras após o silêncio cruel que se fizera depois de minha declaração. – Sei que a organização estava nos caçando, para falar a verdade soube disso quando estava na Croácia procurando por vocês. – Senti o sangue sumir de meu rosto com a revelação. Ele havia me procurado, ido atrás de mim. – Costumava ter uma ideia recorrente de achar você, de entender o que havia acontecido e dar um fim nessa situação toda. Fiz isso por dois anos e então percebi que tudo era um deja vu, um ciclo vicioso que me arrastava e não tinha fim, eu jamais a encontraria se você não quisesse. Infelizmente notei que não queria.
Meu coração apertou diante daquelas palavras, ele havia lutado por mim durante anos enquanto eu fugia e me escondia como um rato ao lado de minha irmã, graças aos delírios de uma organização cruel e desenfreada.
- Você está errado, . – Achei minha voz em meio à onda de sentimentos que assolava meu peito. – Eu queria sim te encontrar, tudo o que desejei durante esses quatro anos foi te ver de novo, poder dizer que eu jamais tive a intenção de feri-lo e nunca quis deixá-lo, mas acreditei que não o veria, até essa loucura toda acontecer. – Confessei sem coragem de olhá-lo nos olhos, fitei meus pés com total atenção enquanto despejava as palavras mais pesadas de minha vida. – Nunca deixei de amar você, , mas não poderia arriscar a vida da minha irmã ou a sua, então ir embora foi o melhor que pude fazer.
O silêncio estava lá novamente, dessa vez mais barulhento do que qualquer grito. Senti sua mão tocar em meu queixo erguendo minha cabeça para eu poder encará-lo.
- Que bom que não fui o único em meio ao deja vu. – Suas palavras sutis me fizeram fechar os olhos involuntariamente, e quando seus lábios tocaram os meus não os reabri, pois a saudade era gritante e explícita demais para permitir uma recusa.
End point of view
6.“Exponha-os agora e destrua-os”. – Truque de Mestre
Matteo conseguira convencer Jason a realizar um evento no prédio principal de sua empresa, e local onde seu banco particular ainda trabalhava. Segundo algumas pesquisas feitas pelos Mestres, aquele lugar guardava mais do que algumas notas, havia ao menos uma coleção de joias raríssimas e, sendo assim, caras o bastante para o valor não poder ser calculado.
- O evento será amanhã, precisamos estar apresentáveis e preparados. – palpitou após fechar a geladeira e trazer três potes de pudim de leite, a garota sentou ao lado das irmãs Queen ao redor da mesa de centro.
- Concordo. – A fala de fez todos largarem o que tinham em mãos e olhá-lo como se um meteoro houvesse acabado de atingir a Terra. – Mas antes vocês precisam contar algumas coisas sobre essa tarefa que não foram ditas.
- Tipo o quê? – inquiriu desdenhosa na tentativa de esconder o nervosismo que já a fazia suar.
- Que tal o trato que tem com Matteo e as está deixando impacientes? – Fora quem respondeu, deixando seu típico sarcasmo pairando pelo ar.
O som de uma agulha caindo no chão seria audível, tamanha quietude havia no ambiente; As garotas imersas em dúvidas e palavras que as sufocavam, os rapazes curiosos e desconfiados. Todos presos em uma rede que parecia não ter brecha.
- Tudo bem. – disse de repente, suas mãos presas à barra da blusa que vestia só mostravam o tamanho de seu nervosismo. – É justo que saibam. – Um pigarro, um suspiro e duas batidas ritmadas de pés impacientes precederam a confissão. – Matteo nos convenceu a embarcar nessa sandice com a promessa de nos levar ao Olho. – O som do espasmo de espanto que deixou a boca dos homens na sala não a fez olhá-los. – Fugimos há quatro anos quando descobrimos que o presidente da organização não nos queria vivos, ouvimos uma discussão entre o Sponatti e uma mulher que alegava que nos matar era preciso, já que tínhamos habilidades demais para andarmos sós, e um poder que não poderiam controlar. – tomou fôlego para dizer o que há anos lhe matava aos poucos. – Disseram que , e eu éramos aberrações que não mereciam estar vivas sem um propósito, e já que vocês tinham algum tipo de relação conosco deveriam morrer também, sendo assim fomos embora. Essa é a verdade.
Point of view
Perplexo era a palavra certa para me definir naquele momento, todos os anos em que passei alimentando ódio foram em vão diante daquela revelação. Nós sabíamos que estávamos sendo caçados e deveríamos ir embora, já que na época decidimos deixar a associação, mas nunca imaginei que o real motivo por trás de tudo aquilo era os dons que as garotas possuíam.
- Você está dizendo que...
- Nunca esqueci os seus conselhos, . – A voz da Queen ainda ressoava pela sala como adagas lançadas ao vento. – Éramos uma família, você era como meu irmão mais velho, jamais permitiria que machucassem qualquer um de vocês, então eu menti e convenci a fazer o mesmo.
Eu estava de olhos fechados, engolindo em seco em uma falha tentativa de não fazer daquilo um circo, meu coração estava destruído, minhas perspectivas eram violentas e falhas e eu me tornei metade de alguém que um dia fui.
- Se passaram por tudo isso, por que querem entrar no covil da serpente? – estava histérico, ousei olhá-lo e vi que seu rosto estava vermelho, as mãos em punho demonstravam sua ira, tão semelhante à , que soaria cômico se não fosse trágico.
- Vamos destruí-los. – Foi a declaração de , me voltei para encará-la e quase sorri diante de sua determinação. – Vamos acabar com um por um, e no fim veremos no que dá.
Assenti diante de suas palavras. Palavras não expressariam meus sentimentos, então me mantive quieto.
- Faremos o melhor número que alguém já assistiu. – Determinou . – Seremos lembrados e enquanto o show acontecer pegaremos o tal ladrão e daremos um jeito de nos infiltrar na sala de reuniões, só precisamos descobrir onde estarão e como fazer para controlá-los.
- Isso é fácil. – Campbell sorriu maldosa. – Poder e sigilo é o que move o Olho, vamos expô-los, mostrar quem são e pegar todo o dinheiro que têm, depois disso repartimos o dinheiro e... – Sua fala se perdeu quando seus olhos encontraram os de , balancei a cabeça. Ela ainda o amava, ouvira sua conversa noite passada, assim como flagrara e mais cedo, naquela sala havia mais histórias de amor não resolvidas do que nos livros de Jane Austen. Arrisquei um olhar para e a vi concentrada no tablet, digitava furiosamente antes de perceber que ninguém falava.
- Decidimos depois, já temos o plano, mandei mensagem para Matteo perguntando sobre o lugar. – Bufei diante daquele nome, pelos céus, aquele cara sempre estava metido na conversa. Ela notou, mas pareceu ignorar. – Ele disse que o espetáculo será no penúltimo andar do prédio, confirmando assim minha teoria. Se bem conhecemos o Olho, eles estarão lá para nos pegar quando tudo acabar, Max deverá estar em algum lugar nos observando também.
- Exato, o banco particular de Jason funciona no subsolo, precisaremos nos dividir para cobrir território. – Falei por fim. – Os primeiros a se apresentarem terão dez minutos para desarmar os alarmes e entrar no banco, com certeza o ladrão estará presente se aproveitando da distração. – Apontei para jovem Queen e . – A segunda dupla a se apresentar terá menos tempo, cerca de oito minutos para chegar ao escritório principal e isolar tudo. – Indiquei e Campbell, que de pronto acenaram. – Os últimos devem fazer de tudo um espetáculo, apresentar cada passo como parte do show enquanto fazem as próprias apresentações, não envolveremos a plateia diretamente, os usaremos como pano de fundo.
Tudo estava organizado, não havia brechas ou oportunidade para falhas, teríamos que ser precisos em cada passo e daria certo. Depois da reunião nos separamos pela casa, notei que puxara para sacada da sala de jantar, ri internamente da cena, vê-los assim era como voltar anos atrás. Não os culpava, mas não seria hipócrita em dizer que estava pronto para pagar o preço para ter o mesmo.
Segui para meu quarto com a ideia de tomar banho e esfriar a cabeça, precisava estar centrado para encarar o que viria.
- Acha mesmo que vai poder fugir pra sempre? – A voz que atormentava meus sonhos soou perto demais para ser ignorada. Olhei por sobre o ombro e avistei sua figura encostada à porta ao lado da minha com os braços cruzados e uma sobrancelha arqueada. Balancei a cabeça e lhe dei as costas, como o covarde que era abri a porta de meu quarto e bati ao passar pela mesma.
- Tão típico. – Seu resmungo foi ouvido graças ao fato de eu ainda estar com as costas apoiadas à madeira branca que me impedia de ver seu rosto. Escondi o rosto entre as mãos, frustrado com minhas próprias atitudes. – Sabe, , você não é o único machucado nessa história.
Ri diante de suas palavras, não era um riso de graça, mas de escárnio.
– Quem pode falar de amor ou defendê-lo, não é? – Perguntei sabendo que ela me ouviria.
- Está disposto a encarar isso assim?
- Não há forma de encarar essa situação, . – Dizer seu nome em voz alta depois de tanto tempo me trazia um misto de nostalgia e felicidade. Ignorei a sensação. – Nenhum de nós está disposto a pagar essa fiança e libertar o que sentimos. – Fui o mais honesto que consegui, diante daquele impasse eu era apenas um peão no tabuleiro. A ouvi bufar.
- Talvez eu estivesse. – Sua declaração me deixou atônito por tempo suficiente para que não pudesse ouvir sequer sua respiração, abri a porta num rompante e encontrei a pequena sala vazia. Fechei os olhos por alguns segundos e soquei a parede em minha frente, era apenas a tentativa de descarregar tudo o que ainda sentia.
End point of view
7."Olhe com atenção. Porque quanto mais atento você pensa que está... menos vai realmente ver." – Truque de Mestre.
O grande dia chegara, era o momento de colocar um fim em toda aquela loucura que se arrastara por tempo demais.
- Estão prontos? – Matteo indagou ao adentrar o apartamento, seus olhos esquadrinharam o lugar e em seguida as pessoas que ali estavam. As garotas em ternos femininos pretos, saltos e blusa branca; Os cabelos presos em rabo de cavalo e a maquiagem forte destacando olhos ou boca era um costume que não chegaram a perder. Aquela visão fez o italiano sorrir, as três eram mulheres lindas e com charmes peculiares, era doce e espirituosa, adorava usar ironia mesclada a algum tipo de mistério e , ah sua favorita, era dona de uma sinceridade invejável, mas o fazia se perder na imensidão escura de seus olhos ou na sensualidade de seu sorriso. A verdade é que sempre quisera fazer parte daquele grupo, todavia sabia as consequências que lhe acarretariam e sua ousadia não era tanta, então se contentava em assisti-los, e intimamente invejada os três rapazes que compunham a equipe. Estes em questão trajavam ternos azuis escuros e sapatos pretos, usava gravata preta, optara pela borboleta e se recusara a colocar o objeto. Previsível,
- Siamo nati pronti, amore mio. ¹– A mais velha das Queen respondeu num italiano impecável, fazendo-o arregalar os olhos. Os seis passaram por ele em direção ao elevador e segurou a porta.
- Acho que você impressionou o italiano. – Brincou , recebendo o riso das irmãs e o resmungo de .
Point of view Queen
O trajeto até o local do show fora feito em vinte minutos, uma fila gigantesca se estendia pela calçada em frente ao prédio. O carro que nos levava foi guiado para parte de trás, onde poderíamos descer sem sermos importunados pela imprensa, a ideia era fazer mistério até a hora da apresentação. Subimos por um elevador privativo até o vigésimo primeiro andar, notei que minha irmã calculava o tempo do elevador, sorri com sua astúcia.
- Vocês têm dez minutos, o senhor Stuart vai falar brevemente e então vocês entram. – Instruiu Sponatti antes de deixar o grupo no camarim.
- Memorizaram o esquema? – Questionou , olhando para porta à espera de alguém que pudesse ouvir o plano. Os demais reviraram os olhos.
- Sim, vamos começar com o truque da água e dos pombos, deixamos o palco e ocupamos a coxia até e entrarem. – respondeu de pronto.
- Perfeito, Campbell e farão o truque dos espelhos, após o fim se retiram e vão direto para o elevador manual e esperam o sinal de . – interveio indicando os outros dois que acenaram positivamente.
- Tudo certo então, o resto é com a gente. – Afirmei me levantando da cadeira e estalando os dedos.
- Você vai conseguir apagar as luzes por tempo suficiente? – dirigiu a palavra a mim pela primeira vez, assenti sem dizer nada.
Batidas na porta indicavam que era hora do show, as pessoas ali dentro não poderiam ser reconhecidas por seus nomes ao deixarem aquela sala, no momento em que seus pés tocassem o palco eles seriam Os Mestres.
A plateia ovacionando enquanto entrávamos era sensacional, mas não podíamos perder o objetivo.
- Muitos consideram a mágica uma rede de mistérios. – assumiu a palavra como de costume, ele estava à minha direita no centro do palco. – Alguns acham que tudo não passa de ilusão, mas quantos de vocês estão realmente dispostos a descobrir? – Com um passo para trás ele cedeu a palavra à .
- Hoje vamos provar que a ilusão e a mágica...
- São duas faces... – o interrompeu.
- De uma mesma moeda. – prosseguiu.
- Estão preparados? – levantou uma sobrancelha fitando a plateia por meros segundos antes das luzes se apagarem e sairmos do palco, deixando apenas ele e minha irmã.
pediu que lhe entregasse um copo de água. Assistimos o momento em que ele mostrou à plateia que não havia rachaduras no objeto, espirrou água em minha irmã e despertou risos nos espectadores. Uma música agitada começou a tocar enquanto ele andava de costas pelo palanque, parando no meio deste; O momento em que o vidro tocou o chão, graças à falta de amparo, e o liquido se espalhou foi o mesmo em que atirou-se de costas para imensidão negra do chão e sumiu diante dos olhos da plateia, que gritou enlouquecida com a mágica.
- E aí? – Olhei em sua direção e o vi secando os cabelos com uma toalha, balancei a cabeça e ri. Fiz um sinal positivo e retomei a atenção para figura de , que acabava de ocupar o lugar do rapaz.
- Todo mundo adora a boa e velha mágica de tirar o pombo da cartola... Ou seria o coelho? – dizia para o público enquanto se aproximava da mesa alta que a equipe de produção deixara ali com um chapéu. As risadas se fizeram ouvir enquanto a garota virava o objeto para todos verem o mesmo vazio e sem fendas. – Vejam bem, eu poderia tirar um pássaro desse chapéu. – E colocando a mão lá dentro ela retirou o animal. – Ou quem sabe dois. – Colocou o pássaro sobre a mesa e puxou mais dois pombos. – Mas seria realmente muito legal tirar algumas dezenas, não acham? – Sugeriu mexendo as sobrancelhas e fazendo os demais rirem. Ela colocou o chapéu no chão e esfregou as mãos antes de colocá-las sobre o objeto; No instante seguinte dezenas de pássaros brancos voavam por cima da plateia, causando aplausos e alvoroço enquanto ela agradecia e ria com as crianças. As luzes se apagaram mais uma vez, era hora do segundo ato.
e estavam frente a frente, próximos à ponta do tablado, uma dúzia de espelhos dispostos em suas costas deixava a cena um tanto inusitada.
- Algumas culturas acreditam que os espelhos são capazes de prender a alma daqueles que já se foram. – Campbell explicou com os olhos presos na figura a sua frente.
- Eu prefiro acreditar que eles são capazes de prender o que quisermos. – Soou presunçosamente. – Por favor, tenha a bondade. – Mostrou um dos diversos objetos e ela seguiu até o mesmo. Os dois mostraram que não havia passagens ou qualquer outra coisa que fizesse daquela mágica uma mentira. – Vamos ver se conseguimos prender a nossa querida Mestra em um desses. – Sorriu desdenhoso, se aproximou de e a girou cinco vezes até que a mesma sumisse diante dos olhos apreensivos do público. Claro que isso era graças ao seu dom de invisibilidade, assim como o truque de que requeria sua dominação em desmaterializar seu corpo e algumas coisas que tivessem ao seu redor.
No momento seguinte a garota apareceu dentro de um dos espelhos, riu ao vê-la acenar e se afastou caminhando para direita e pedindo que ela caminhasse até lá. andou por todos os espelhos antes de seu acompanhante estalar os dedos três vezes e fazê-la surgir ao seu lado.
Mais uma vez a euforia das pessoas me fez sorrir, porém dessa vez o motivo era outro.
End point ofview
8.“Haja o que houver agora. Seja lá o que esse truque seja. Vai ser impressionante”. - Truque de Mestre
O espetáculo estava se desenrolando como o planejado, todos haviam se apresentado e agora as duas primeiras duplas se encontravam nas intrínsecas do prédio. conversava com o público enquanto fazia pequenos truques, como tirar de uma bolha de sabão gigante ou pedir para uma garotinha escolher duas cartas, acertar as duas e fazê-las refletir no teto do ambiente. estava concentrada em manter as luzes do primeiro andar e as câmeras de elevador apagadas para que sua irmã pudesse chegar ao cofre. O ponto em seu ouvido deu um pequeno estalido quando se pronunciou.
- Consegui rastrear o IP dele, está a uma quadra daqui. – O barulho de uma porta se abrindo deixou-a tensa. – Cancela isso, ele acabou de chegar e está a caminho da porta principal do cofre, vai interceptá-lo enquanto eu pego o computador dele para mudar o código.
- Tudo bem, me mantenha informada.
corria pelas escadas com em seu encalço, estavam perto da porta que daria acesso ao andar quando o rapaz a puxou pelo braço, prendendo-a contra parede.
- O que você tá fazendo? Temos que terminar o trabalho. – Ela sussurrava na tentativa de não deixar a mais velha das Campbell escutar, o que era em vão, de fato.
- Você tinha razão. – Ele a viu franzir o cenho confusa e se aproximou ainda mais, colando seu corpo ao dela. A respiração pesada e os olhos fixos dela nos seus indicava que Campbell havia compreendido do que se tratava. – Não vou conseguir me concentrar apenas no trabalho. – Seus lábios tocaram os dela sem realmente beijá-la. – Para ser sincero, estou pronto para entrar naquele deja vu do qual falei. – Ela sorriria se tivesse tempo. Sua boca foi tomada em um beijo cheio de saudade.
teria rido se a mão de não tivesse tocado em seu ombro, indicando que ela deveria voltar ao palco, pelo sorriso que ele trazia estava claro que havia escutado todo o momento do casal.
- O grande mistério do mundo é a magia que o cerca. Você seria capaz de identificar um assassino? Descobrir um ladrão? – A voz da garota fora ainda mais ampliada; Através do ponto disse que o homem estava contido e o IP fora recodificado. – Identificar um cidadão de bem? Diferenciar o bem e o mal? – Deu alguns passos na direção de , se aproximando assim do centro do estrado. – Se sua resposta foi sim, você é claramente alguém evoluído. Se foi não, bom....
Com um estalar de dedos da jovem todo o prédio caiu em profunda escuridão. A movimentação da Staff do show era audível de onde estavam, mas se mantiveram quietos. tocou o braço da moça e ela liberou a luz do lugar, o telão se ascendeu em duas imagens diferentes. De um lado Campbell e estavam parados diante de uma porta no fundo do corredor principal do prédio, na outra Queen e sorriam e acenavam para tela segurando um notebook.
- Hoje nós mostraremos que a mágica está em todos os lugares, ainda que não possamos vê-la. – mostrou o lado em que e estavam, os jovens abriram a porta e revelaram seis figuras presentes na sala, de olhos arregalados pouco a pouco os nomes foram surgindo para plateia. – Este, por exemplo, é O Olho, a organização que a Interpol procura há anos, mas jamais encontrou.
- E eu lhes digo o motivo, o embaixador é o líder deles. Eis a primeira mágica. – sorriu maldosa antes de se virar para outra câmera. – Bem aqui temos o ladrão de Wall Street, como os jornais andam chamando. – O rosto de Matteo surgiu na tela, surpreendendo a garota. Piscando três vezes para recobrar o raciocínio, ela prosseguiu. – Por fim, essa é a conta que o Olho administra, isto é, roubando o dinheiro de bancos e investidores sob algum pseudônimo desnecessário.
O burburinho havia começado.
- Acho que a Interpol tem muito o que fazer por aqui, não acham? – comentou despretensiosamente enquanto assistiam aos amigos correrem pelas instalações do prédio com alguns seguranças em seu encalço. As saídas da sala de show estavam fechadas, se certificara disso em meio a um dos truques, apenas alguém que conhecesse muito bem o prédio saberia da passagem abaixo do palco que levaria a uma escada estreita em direção a garagem. Os segundos se arrastavam enquanto o público assistia a fuga desenfreada dos protagonistas numa direção que eles desconheciam, fora necessários mais cinco minutos até que as luzes sumissem mais uma vez e os seis Mestres estivessem sobre o palco pela última vez.
As pessoas estavam de pé, aplaudindo e divididas entre a surpresa e o espanto, depois de tantas revelações era compreensível.
- Fim do terceiro ato.
Com uma piscadela atirou uma pequena bomba de fumaça no palco e o grupo sumiu por entre o alçapão que os levaria a liberdade. Ou parte dela.
O frio se fazia presente em Londres o ano inteiro, mas perto do natal, especialmente, estava ainda pior. As duas garotas andavam de braços dados, sentindo o frio ricochetear em seus rostos e deixando-os avermelhados. e Queen, duas irmãs de vinte e cinco e vinte e seis anos, respectivamente, que adoravam andar pela velha terra da Rainha. Aquele era o lar delas, o lugar que as acolheu quando todos, sem exceção, tentaram matá-las antes que deixassem a pequena cidade de Round Top, no condado de Fayette, Texas.
- Poderíamos comprar um presentinho de natal pra , não acha? – Sugeriu com um ar pensativo, seus olhos voltaram-se para irmã mais velha que ria descaradamente de sua cara. – O que foi?
- Eu sabia que você ia querer comprar presentes. – Riu ao ver a outra indignada. – Mas ela merece, é nossa única família, vamos ver o que achamos. – Concordou.
Campbell era a melhor, e única, amiga das garotas. As três dividiam um pequeno apartamento em Charlotte Street. A garota, assim como elas, chegara à cidade da London Eye fugida de sua terra natal, Corippo na Suíça, curiosamente pelo mesmo motivo. Elas trabalhavam em um restaurante italiano situado no centro da cidade, tinham as terças e os domingos de folga. era recepcionista, auxiliava na cozinha e trabalhava como garçonete. Não era exatamente o emprego dos sonhos, mas pagava as contas e as mantinham afastadas do passado que tanto tentavam encobrir.
A loja de artigos múltiplos estava aquecida, se comparada ao clima de fora, a neve já começava a acumular nas calçadas. Algumas pessoas olhavam mercadorias claramente duvidosas, mas as duas seguiram para os fundos, onde sabiam que a área destinada aos livros e filmes ficava.
- Com certeza precisamos de um bom clássico. – Foi o comentário de ao passar pela enorme prateleira que cobria a parede dos fundos.
- Vou levar alguns livros para ela, amanhã podemos comprar a árvore de natal. – Respondeu a mais velha, se afastando para o lado oposto ao da irmã. Seus olhos perdidos entre os tantos títulos a deixara aparentemente vulnerável para quem olhasse de fora. E foi com esse pensamento que alguém se aproximou, com um passo de cada vez, minuciosamente calculado, um homem de aproximadamente um metro e oitenta a cercou com os braços, prendendo o corpo da moça ainda de costas para ele.
O calafrio que desceu pela espinha da garota não poderia ser descrito, o suor rapidamente se acumulou em suas mãos e o ar ficou preso em sua garganta quando o ouviu dizer.
– Finalmente te encontrei.
Ela sabia que seu passado poderia bater à porta em qualquer momento, essa preocupação era uma companhia constante na casa das três garotas. Ao engolir a saliva com dificuldade, ela colocou as habilidades, que há muito estavam adormecidas, finalmente em pratica. Enroscou as mãos no pulso direito do estranho, o girou e no momento em que ele gritou de dor ela forçou o corpo para trás, mudando de posição e prendendo o corpo dele no lugar onde antes o dela estava.
- Quem é você e o que quer? – Perguntou arfando, forçando seu peso contra o dele.
- Acho que me enganei, você não perdeu a prática. – A voz desdenhosa do estranho foi acompanhada por uma risada. Só então ela percebeu de quem se tratava, aos poucos o soltou e, quando o fez completamente, deu um passo para trás. De imediato o rapaz se virou para encará-la, os olhos azuis cintilavam tão escuros quanto um céu noturno, eram quase pretos. Os cabelos castanho-claros e o sorriso que arrasava as calcinhas da maioria das mulheres de Nova York. Matteo Sponatti estava em sua frente, em carne, ossos e charme. O homem parecia alguém saído de seus sonhos. Porém dada a situação em que vivia, isso não era nada bom. Antes que pudesse dizer algo, a voz de sua irmã cortou o espaço entre eles.
- Não acredito que nos encontrou. – Não havia raiva ou frustração na voz dela, apenas uma constatação sem importância. – O que quer?
se virou para olhá-la e notou que algumas pessoas a olhavam curiosas, a garota revirou os olhos e bufou. Matteo mal havia chegado e já causava problemas.
- Esse lugar não é propício para falarmos sobre qualquer coisa, vamos para uma cafeteria. – Chamou se afastando e colocando o livro, que pegara antes de ser surpreendida, sobre algumas presilhas de cabelo.
Os três seguiram em silêncio até o Starbucks que ficava em frente à loja, estava parcialmente vazia devido a hora, o que lhes proporcionou a privacidade que precisavam. As irmãs se entreolharam em um acordo mudo sobre os próximos passos a serem dados, era óbvio que o aparecimento do italiano ali não era para uma visita cordial, e com certeza elas não se deixariam render.
Os minutos que se seguiram tinham o silêncio como convidado especial, isto é, até Matteo começar a rir descontroladamente.
- Molto bene, você estão me olhando como se eu fosse a Cruela e vocês os dálmatas. – O rapaz riu ainda mais ao ver as feições descrentes das duas mulheres. – Não se preocupem, bambinas, não vim para matá-las, até porque o teria feito rapidamente se esse fosse o caso. – Ele havia parado de rir e agora as fitava com um ar desdenhoso.
- Então desembucha logo, o que está fazendo aqui? – questionou já irritada com a enrolação do recém-chegado.
- Vim porque o Max tem uma missão para vocês. – Aquele nome as fez arregalar os olhos. Maximilian Donald era o embaixador dos Estados Unidos, elas já haviam trabalhado para ele em uma ou duas ocasiões ilegais e encobertas, mas havia anos que sequer se mencionava seu nome, esse era o trato.
- O que ele quer de nós? – suspirou audivelmente, estava incomodada com o olhar do rapaz sobre ela.
- Não apenas com vocês, mas com também. – O italiano tirou um papel amassado do bolso onde constavam algumas coisas rabiscadas. – Os maiores empresários de Nova York estão sendo roubados por debaixo dos panos, não há pistas ou algo que leve ao bandido. – Matteo voltou seus olhos para elas. – Por isso ele as quer, na verdade, ele quer os Seis Mestres de volta para ajudar nesse caso.
- Nunca! – A resposta saiu rápida e certeira dos lábios das irmãs Queen, tudo o que não queriam era retomar o grupo, isso traria dor de cabeça demais, sentimentos demais e lembranças demais para lidar agora. Viver em paz era tudo o que precisavam, e não de bandidos do colarinho branco na cola delas. – não vai aceitar, muito menos os demais. – Desdenhou a mais nova, sentindo o suor frio escorrer por sua testa.
- Eles não tiveram opção, assim como vocês não terão. – Direto demais para estar mentindo, foi o que pensou. – Vocês voltam comigo para Nova York, ficarão em um apartamento no centro da cidade, próximo do local dos ataques. Essa é a chance de ganharem um milhão de dólares cada um e não serem acusados de crimes de fraude e chantagem, é claro.
O sorriso enviesado do estrangeiro não enganava, ele estava dizendo a verdade, e não havia motivos para duvidar de que Max denunciaria todos eles e acharia um jeito de deixá-los presos para sempre. Mas havia algo que poderia pedir, ainda que fosse arriscado.
- Tudo bem, nós iremos e convenceremos a ir conosco. – A mais velha se pronunciou fazendo a outra arregalar os olhos. – Mas queremos a certeza de que conheceremos o olho, o líder dessa loucura toda. Queremos o responsável por nosso recrutamento, é um direito que temos e vocês podem nos conseguir isso.
- Não.
- Ótimo, então ficaremos aqui e esperaremos ansiosas a vinda da Interpol. – Foi a palavra final, logo as duas estavam de pé e rumando para saída. Era óbvio que o medo era companheiro, mas jamais voltariam atrás. Precisavam colocar um fim naquela história. A voz dele as fez parar.
- Está certo, assim que tudo estiver feito eu mesmo levarei vocês para conhecer o líder. – virou-se primeiro e estendeu a mão selando o acordo. – Conheço maneiras melhores de fechar um negócio. – Matteo sorriu safado, a fazendo revirar os olhos e a mais velha balançar a cabeça e rir.
- Claro, nos seus sonhos talvez.
Era isso, o acordo estava selado. Elas estavam de volta no jogo, seriam os Seis Mestres mais uma vez, o ato final de um longo jogo. Talvez o mais perigoso até agora.
- 2. “Mas esse é o momento pelo qual todos esperavam” – Truque de Mestre
estava irredutível. Já havia xingado, brigado, gritado e decretado ao mundo que não retornaria para vida de antes, não deixaria Londres nem sob ameaça e se recusava a falar sobre o assunto hás dois dias.
- Muito bem, estou cansada disso. – disse de repente em uma manhã qualquer de quinta feira. – eu sei que voltar para Nova York é quebrar a promessa de jamais colocarmos os pés lá novamente, mas essa é a chance que temos de encontrar respostas para loucura que nossa vida se tornou.
- Essa é a chance de voltarmos a ser o que éramos. – Campbell respondeu de pronto.
- Mágicas? – sugeriu sorrindo amarelo, era uma falha tentativa de amenizar os ânimos, estava tão cansada daquele assunto quanto a própria , mas sabia da importância de ir nessa viagem, ainda que precisasse enfrentar seus fantasmas passados.
- Golpistas. – Aquela resposta era dolorosa, porém verdadeira. As três se calaram, fitando umas às outras com o peso mudo da verdade pairando sobre suas cabeças.
O som de um celular tocando as fez pular, era o da mais velha das Queen. atendeu sem olhar o visor e para seu espanto a voz que escutou fez seu coração se apertar e os olhos arderem. Quatro anos sem notícias, quatro anos sem vê-lo ou ouvir sua voz.
– Estamos esperando vocês no aeroporto particular do líder, às oito, sem atraso. – E então a ligação foi finalizada, deixando-a completamente perdida e com o coração acelerado e dolorido na mesma proporção.
- Quem era? – Indagaram as duas espectadoras.
- .
Não era preciso mais, aquela era a resposta que tanto as assustava. Melhor do que ninguém, elas sabiam onde e como aquilo acabaria, e de forma alguma soava bem. Para nenhuma delas.
Point of view of
O dia havia passado com mais rapidez do que eu gostaria, fingia estar focado nos esquemas que montara há dois dias, mas eu sabia que era puro fingimento, uma prova disso era o mau humor que se fizera presente nos últimos dias e piorara consideravelmente hoje. estava mais frio do que o comum, mal falara duas palavras hoje. Achei melhor deixá-los quietos, afinal, o que estava para acontecer era muito maior do que imaginávamos. Estávamos prestes a enfrentar lembranças dolorosas demais para serem comentadas. Eu sabia que havia muito que ser conversado, e confesso que estava disposto a fazê-lo, mas duvidava que algum dos dois estivesse. Suspirei pesadamente ao colocar minha mala de mão ao lado da poltrona dentro do pequeno avião.
Havíamos chegado há vinte minutos, Clark, o piloto, havia nos passado as instruções de como seria o voo e onde desceríamos. Disse que as outras explicações viriam enquanto a aeronave estivesse no ar. Pensei em questionar como, exatamente, mas sabia que não valia a pena, ele estava instruído a não nos dizer nada.
- Agradeceria se pudéssemos ir de uma vez. – A voz de soou ao meu lado, assustando-me.
- Elas ainda não chegaram. – Falei e o ouvi bufar, era claro que aquele reencontro seria difícil, mas para parecia que o fim do mundo estava sendo anunciado. Os passos de soaram pesados ao se aproximarem, seus olhos estavam cobertos por um par de óculos escuros realmente desnecessários, levando-se em conta o horário e o lugar. Ele se jogou na poltrona do outro lado do corredor, emparelhada com a minha.
- , você disse sem atrasos? – Sua voz estava tão fria que por um momento achei que ele estivesse com raiva de nós, mas bastou que tirasse os óculos que ficou visível seu real estado. murmurou um “sim” meio a contragosto. – Muito responsável da parte delas se atrasar, como se estivéssemos amando revê-las.
- Fico feliz em saber disso, amorzinho. – Uma voz alta e feminina ressoou pelo espaço do avião. Paradas na porta estavam as três figuras que não víamos há quatro anos. era a primeira da fila, seguida por , foi a última a entrar. Meu coração acelerou tanto que jurei que teria um ataque cardíaco. Sem que percebesse já estava de pé, minhas mãos coçando para tocá-la, era mais forte do que eu.
- Não me chame de amorzinho. – A voz sibilante de me parou, soando tão mortífera quanto o olhar que lançava a elas. o encarava de volta com os olhos semicerrados, ignorou a todos nós e seguiu para dentro, ocupando as poltronas do fundo. Respirei fundo e resolvi sentar, minhas mãos tremiam e eu já não tinha controle sobre minha boca. Uma chance e eu diria tudo o que estava guardado há quatro anos.
É claro que não tive chances, pois no instante em que elas se acomodaram, a porta foi fechada e as luzes internas se ascenderam, só então pudemos perceber a figura que nos observava do canto. Uma mulher alta, de cabelos escuros em um corte chanel trajava um conjunto social que seria particularmente antiquado para jovem aparência. Ela caminhou até parar em nossa frente e nos fitou por alguns segundos antes de abrir um sorriso de canto muito sugestivo.
- O que tenho para dizer é simples, portanto serei objetiva. – Sua voz era autoritária, assim como sua postura. – Assim que o avião pousar, vocês seguem para um apartamento que foi reservado para suas estadias, tudo o que precisarem estará lá. Suas instruções são simples, achem quem está fazendo as transações, entreguem-no para Max e estarão dispensados. Registrem qualquer novidade nos tablets que estarão disponíveis no apartamento, façam tudo conforme designado e não se machucarão. Alguma dúvida? – Pisquei duas vezes diante de suas palavras, meu raciocínio demorou a acompanhar o que ela dissera. Por fim a mulher pareceu cansar de nosso silêncio. – Ótimo, Matteo os encontrará no aeroporto.
Do mesmo jeito que surgiu, ela se foi. Caminhou até estar encoberta pelas sombras, colocou o que me parecia ser uma mochila, tirou um controle pequeno do bolso e apertou um botão, que para meu total desespero abriu a porta do avião e pulou. Meu corpo foi puxado para frente sem que eu pudesse controlar, tentei me agarrar à janela e senti a mão de me puxar para trás, xingava alguma coisa e tentava chegar até a porta, sem voar, para fechar a mesma. passou rapidamente por nós e o grito de me fez gelar, não conseguia ver o que se passava atrás de mim. Com muita resistência vi as duas irmãs caminharem com passos lentos e pesados, Allessadra estava presa por uma corda de diversos cintos, com certeza os achara em um dos compartimentos abaixo da cadeira. Ela segurava a irmã, que para meu espanto puxou Campbell para perto de nós.
usou as duas como âncora e alcançou a porta, com a ajuda das Queen o tormento acabou. A porta foi fechada, nos fazendo despencar de vez no chão com a falta de pressão do ar.
Levantei com esforço e só então percebi que estava sobre , os dois se olhavam de uma forma tão intensa que me senti constrangido.
- Sai de cima de mim. – Voltei minha atenção para porta, onde estava sobre as irmãs que o fitavam de forma ameaçadora.
- Com prazer, querida.– Notei o momento em que prendeu a respiração e soltou logo em seguida ao se colocar de pé e ajudar a irmã. Os raios que saíram de seus olhos poderiam derreter em um segundo, se esse fosse seu dom.
Sabe o que eu disse sobre a revolta de ser o fim do mundo? Esqueça, a briga entre e causaria o apocalipse, e eu já conseguia ouvir as trombetas.
End point of view
3. “Estamos lidando com algo muito maior do que nós”. – Truque de Mestre
O restante da viagem foi sem maiores problemas, os rapazes se mantiveram inertes em seus lugares, usava um fone de ouvido e vez ou outra, ainda que relutante, olhava para trás conseguindo enxergar . se limitou a assistir uma das muitas séries disponíveis na pequena televisão em sua frente.
- Será que vai ser sempre assim? – A pergunta de despertou atenção de , que estava distraída lendo um livro qualquer que encontrara ali. Com uma sobrancelha arqueada, a moça indagou silenciosamente ao que ela se referia. – Nós, digo, essa situação. É meio óbvio que está tentando te ver aqui atrás, mas continua rabugento demais para dizer isso em voz alta. – Ela cochichou a última parte, fazendo a amiga virar-se para ver se era verdade o que ouvia, encontrou o homem fitando-a de soslaio e fingindo olhar alguma coisa em sua poltrona. Ela riu.
- Não sei, mas eles têm suas próprias verdades e não serei eu quem vai destituir essas mentes conturbadas. – Campbell deu de ombros e ouviu a outra bufar. – , se você quer falar com eles é um problema seu, mas não pode esperar que eu ou façamos o mesmo. Tua história foi diferente, suas verdades e as dele são diferentes do que aconteceu comigo. – A verdade naquelas palavras era tão dolorosa quanto chocante. A mais nova das Queen nunca conseguira arrancar uma confissão sequer, sobre qualquer coisa, do passado de ou de sua irmã; E tê-la ali, dizendo que realmente havia mais coisa do que foi dita, a fez perceber que essa viagem as levaria para um lugar que, talvez, seria mais perigoso do que imaginava.
levantou e jogou os fones de ouvido sobre o assento. Ouvira parte da conversa entre a amiga e a irmã e sabia que logo seria a próxima vítima, e Deus sabe o quanto ela não estava preparada para dizer qualquer coisa sobre o assunto. Resolveu ir até o banheiro jogar água no rosto e, quem sabe, respirar um pouco aliviada. Assim que tocou na maçaneta da porta, a mesma se abriu revelando quem ela menos queria ver. parou por alguns segundos, fitando-a com surpresa ao vê-la ali, tão próxima. Mas assim como surgiu, se foi. Logo o espanto sumiu, dando lugar ao ódio que ele carregava em seus olhos como diamantes brilhando isolados em meio à escuridão. Ela se afastou um passo para que ele saísse e tomou o lugar em que estava, batendo a porta em seguida.
Parou de frente para minúscula pia e fitou o próprio reflexo no espelho, estava cansada como se tivesse corrido quilômetros e o trabalho mal havia começado. Bufou. A sensação de raiva misturada a um sentimento que ela insistia em desconhecer, ou ignorar, era maçante e cansativo demais. Ligou a torneira e molhou o rosto e a nuca, só queria que aquele voo interminável enfim chegasse ao destino, tudo o que desejava era estar longe deles, dos três, para ser mais honesta. Nenhum dos rapazes lhes trazia uma lembrança que não fosse dolorosa, cada qual por motivos distintos, e isso a massacrava e fazia sua cabeça explodir e se reconstituir em um looping infindável.
havia ido até a pequena copa no canto do avião e pegado duas latas de Coca-Cola, atirou uma para e se limitou a ocupar sua cadeira novamente. havia adormecido.
- Vai falar algo ou continuaremos fingindo que nada está acontecendo? – questionou, olhando o amigo depositar o objeto no apoio de braço da poltrona.
- Não sei do que está falando e não quero saber. – cortou o assunto, soando tão gentil quanto aprendeu a ser. Talvez o tempo que passou com na Hungria não tivesse realmente feito bem a ele, já que os dois foram durante uma das inúmeras fugas que precisaram fazer e se permitiram juntar toda amargura que nutriam pelas garotas que ocupavam as poltronas de trás. O rapaz balançou a cabeça e resolveu ignorar, estavam próximos do destino, logo pisariam na terra que juraram nunca mais voltar, porém desta vez o objetivo era outro, ainda que as companhias não fossem.
Point of View Campbell
No momento em que as rodas tocaram o solo eu soube que meu pesadelo estava prestes a se intensificar, sim, porque já havia começado no momento em que coloquei meus olhos nas três figuras que eu preferia citar como fantasmas do meu passado.
Atravessamos a pista em completo silêncio, Matteo nos aguardava na porta que dava acesso a saída do minúsculo aeroporto particular. Quem diria que entraríamos em território inimigo com tanta classe? O italiano sorriu lascivo assim que seus olhos passaram por todos nós e pousaram em mim, ele sabia de minha relutância em estar aqui.
- Vejo que aceitou meu convite, miele. – Seu tom sugestivo me dizia que o apelido pelo qual me chamara não era exatamente o que eu gostaria de ouvir. Estreitei meus olhos em sua direção e ouvi pigarrear ao meu lado, ao fitá-la notei que prendia o riso. Revirei os olhos. Nunca entendi por que a Queen se dava tão bem com Matteo, ainda no tempo em que trabalhamos juntos aqui ela sempre esteve no páreo com ele, fosse nas brincadeiras, flertes e respostas ácidas. Confesso que por algum tempo achei que eles tivessem um caso, e vendo a cara que direcionava aos dois soube que não fui a única a pensar assim.
- Fala de uma vez o que temos que fazer. – Exigi cortando o papo e ele levantou as mãos fingindo se render.
- Me sigam. – Foi sua resposta.
Partimos rumo à saída, onde um carro imenso e escuro nos aguardava, os vidros filmados e o fato do motorista ter um rádio acoplado à cintura me diziam que aquele veículo pertencia a alguém muito importante. Percorremos as ruas em completo silêncio, apenas o salto de batendo contra o assoalho do carro quebrava a quietude. Assim que o movimento parou, olhei pela janela identificando um prédio altíssimo e espelhado, Matteo saiu do carro e esperou que fizéssemos o mesmo. Fui a última a deixar o carro e subir as escadas que nos separavam da entrada.
Na recepção um homem baixinho de cabelos ralos e aparência serena nos fitava, não parecia confuso ou curioso, apenas acompanhava cada movimento nosso como se estivesse habituado a situações estranhas como esta. Entramos em um elevador grande o bastante para caber ao menos mais quatro pessoas e seguimos para o que parecia ser o oitavo andar; deixamos a cabine metálica e paramos dentro do que parecia um hall de entrada. Matteo indicou que saíssemos primeiro.
- Per favore. – Indicou com a mão que fôssemos na frente, me precipitei para dentro parando ao lado de . Por um momento esqueci do motivo de estarmos ali e me deixei apreciar a vista. A sala era enorme com paredes inteiras de vidro, um tapete cor de areia cobria o meio do cômodo onde um sofá grande o bastante para caber uma família estava em cima, em frente a este uma poltrona e um pufe, todos cinza-claro; uma mesa de vidro mediana ocupava o centro. Uma mesa de canto com revistas enfeitava a sala, assim como um piano preto de caldas bem próximo a parede leste. – Vamos para sala de reuniões, o restante do apartamento vocês podem ver depois. – Afirmou ignorando as caras de choque que todos apresentavam e seguiu para esquerda, passando direto pela escada de mármore e vidro acoplada a parede. Prosseguindo por esta passagem notava-se uma mesa de jantar com pelo menos dez lugares à direita, um lustre grande e cheio de adornos, semelhante ao que ocupava a sala, pairava acima da mesa. A outra passagem os levaria para cozinha, à esquerda uma escada caracol de vidro, e foi nela que todos subiram. No patamar superior um corredor enorme se estendia e um arco de mármore branco, o mesmo da escada da sala, dava vista para uma sala comum com um sofá pequeno e almofadas próximas da janela, algumas revistas e uma televisão descia pendurada em um cabo de apoio, e seis portas. Divididas de forma a ficar quatro na direita e duas à esquerda. Matteo passou direto, seguindo para o fim do corredor e parou ao ver que ainda estávamos abismados com o lugar. – Apressem-se, andiamo.
O escritório era tudo o que se esperar de uma casa imensa como aquela. Móveis caros, mesa de mogno que valia um ano do meu salário. O italiano ocupou a cadeira principal enquanto ligava o computador, nos espalhamos pela sala à espera das instruções.
- Vocês já sabem o que precisam fazer, então aqui estão os tablets. – Matteo retirou uma caixa de papelão debaixo da mesa e abriu sobre o tampo de mogno, expondo os aparelhos. – As pastas com os valores roubados e os nomes dos principais clientes estão aqui dentro, há um backup, no caso de perderem algo, no quarto de vocês. Não percam tempo, Max está impaciente e acredito que vocês também, não é ragazze? – O tom sugestivo de Matteo despertou um olhar curioso nos demais que não sabiam do trato feito pelas Queen.
- Certo, se nos der licença, vamos trabalhar. – assumiu a típica postura matadora de quando estávamos trabalhando e se levantou, notei o olhar malicioso do italiano sobre minha amiga e, por puro costume, voltei meus olhos para , que ao lado de parecia incomodado. Com um gesto de cabeça nos despedimos de Sponatti e deixamos a sala; Caminhamos apressadas em direção às portas do que imaginávamos serem os quartos, entrou na última segunda porta da esquerda. Assim que a porta se abriu, revelando um cômodo grande o bastante para aconchegar uma família de vinte pessoas, sentimos o queixo cair.
- Minha nossa. – passou em nossa frente e pulou sobre a cama gigantesca no meio do quarto. Diferente do resto da casa, as mobílias eram completamente brancas neste cômodo. Um closet do tamanho do meu quarto em Londres estava ao lado do banheiro, este inteiro de mármore branco e vidro verde claro. O Central Park seria a primeira coisa que ela veria ao acordar, isso seria incrível, se não trouxesse tantas recordações que gostaríamos de esquecer.
- John Alfort, Allan Kimmel e Jason Stuart foram os alvos. – disse despertando nossa atenção, as duas irmãs estavam sentadas na cama lendo os arquivos. Apressei-me em fazer o mesmo. – O primeiro é dono de ações de algumas empresas famosas, como Google, Apple e Adidas.
- O segundo é o CEO de uma empresa especializada em marketing. – continuou a descrição.
- Jason é banqueiro. – Arregalei os olhos diante da informação, levantei a cabeça para olhar as meninas e as vi balançar a cabeça. – Acho que sabemos por onde começar.
A porta se abriu de rompante, me fazendo pular.
– Pensamos a mesma coisa. – disse ao aparecer na soleira. Troquei um breve olhar com e definitivamente entendi que estávamos prestes a afundar o barco de vez.
End point of view
4. “Você consegue ler as entrelinhas?” – Truque de Mestre.
Os seis jovens se reuniram na sala de estar com os arquivos em mãos, alguns papéis e notebooks que encontraram pela casa. A verdade era que ninguém queria falar, mas o assunto pairava como sombra entre eles e fazê-lo seria inevitável.
- Precisamos de um show. – disse de repente, o silêncio no ambiente era tamanho que sua voz reverberou. ergueu a cabeça e pigarreou, olhou para as três garotas e ponderou a fala, ele sabia que ela estava certa.
- Mas como faremos isso? – Questionou o rapaz, ponderando as opções. evitava contato visual com ele a todo custo, não estava pronta para conversar, ainda que esse fosse o certo a ser feito.
- Faremos um espetáculo de abertura na Estação Central como demonstração. Atrairemos o público e Matteo pode conseguir um show privado. – Manifestou-se com seu típico ar de sabe tudo, colocou-se de pé e sacou o celular.
- Vou ligar para ele. – Sumindo pela divisão da sala deixou os cinco pensativos, bufou alto e olhou para com cara de poucos amigos ao vê-lo tão afetado com o fato da Queen telefonar para o italiano.
Point of view
- Ele disse que está feito. – A Queen mais velha reapareceu com um sorriso convencido e ocupou o lugar ao lado da irmã. – A apresentação na Estação Central pode ser simples, o que acham da cortina de cartas? – Sugeriu ela olhando para , vi a Campbell arregalar os olhos por alguns segundos antes de fechar a feição e sua atenção se voltar para mim. Aquele truque exigia minha presença, já que ficávamos trocando cartas no palco até que uma cortina destas caía de uma cartola sobre e a garota sumia, apenas para reaparecer em algum lugar inusitado, claro que com seu dom de ficar invisível isso era fácil, todavia fazer esse truque hoje significaria ter intimidade com ela, já que um clima de suspense entre troca de olhares seria necessário e eu não tinha plena certeza se estava pronto para tal.
- Ótima ideia, faremos esse e o do tanque. – interveio cortando qualquer chance de reclamação. O truque do tanque consistia nela entrar num retângulo vertical com entradas de água na parte inferior, os pulsos e tornozelos atados deveriam ser libertos em sessenta segundos ou a água que entrava pelos dutos a afogaria, o que os espectadores não sabiam é que, assim como a Campell, também tinha uma espécie de poder, o seu era desmaterializar o corpo e passar por qualquer objeto sólido.
- E o restante de nós faz o quê? – Inquiriu aparentemente ofendido, balancei a cabeça.
- Vocês farão a abertura. – Decretou, por fim, a mais nova das Queen. Tudo estava finalmente decidido, agora precisávamos apenas esperar para o dia seguinte, a apresentação deveria ser feito no horário de maior funcionamento, isto é, pela manhã. Assisti todos se levantarem e deixarem a sala, permaneci onde estava. Meu corpo se recusava a obedecer meu cérebro, todo o cansaço e estresse da última semana pareciam ter chegado de uma vez e para ficar, respirei fundo e fechei os olhos por alguns segundos. Passos me fizeram ficar em alerta, entretanto não fora necessário muito esforço para saber de quem se tratava, seu perfume ainda era o mesmo. retornou para sala e pareceu hesitar em se aproximar. Reabri os olhos e a fitei, ela estava parada perto da janela.
- Quer mesmo fazer a cortina de cartas? – Sua voz soou baixa, quase como um sussurro.
- Não, mas não é como se tivéssemos escolha. – Me levantei e caminhei em direção a saída, precisava dormir e esquecer tudo por algumas horas.
- Você fala como se eu estivesse mais feliz do que você em fazer isso. – A vi se virar em minha direção e fiz o mesmo. – Sei que não quer ficar perto de mim, mas já que estamos nessa podemos agir como adultos. – Havia ironia em sua voz, ainda que sua postura fosse rija.
- Eu não quero ficar perto de você? É isso o que pensa? – Me aproximei da janela onde ela estava, até estar perto o bastante para sua respiração se misturar com a minha. – Você volta depois de todo esse tempo, reabre minhas feridas que já haviam sido curadas com diversas doses de tequila, diz um monte de bobagens e acha que o meu maior problema é ficar perto de você? – Soprei sentindo meu sangue fervente correr a toda velocidade pelas veias.
- eu...
- Não. – Ergui a mão, impedindo que pronunciasse algo mais. – Nós sempre cometemos os mesmos erros, parece um deja vu sem fim. Vamos apenas nos concentrar no trabalho e acabar com isso de uma vez.
- Tem certeza de que vai conseguir?
Não respondi, me apressei em deixar a sala e chegar no quarto que escolhera, a primeira porta do lado do corredor. Bati a mesma assim que estava dentro do cômodo e chutei a cama, descontando toda frustração e amor que sufocara durante tanto tempo.
A manhã chegou antes do que eu gostaria, levantei da cama indignado com a noite curta que tivera. Tomei um banho rápido e me encaminhei para o closet, olhei por entre as araras de roupa e achei um acervo de cinco ternos escuros variando entre azul, cinza, marrom, vinho e preto no canto mais afastado do cômodo. Bufei. Era óbvio que nos fariam usar tais roupas. Revirei os olhos e tirei o preto do cabide, joguei a toalha que jazia presa em minha cintura sobre o sofá branco no meio do closet e vesti o terno. Passei as mãos pelo cabelo na tentativa de arrumá-lo, borrifei o perfume e deixei o quarto antes que desistisse e voltasse para cama.
Encontrei os demais ao redor da mesa na sala de jantar, os rapazes trajando ternos iguais ao meu e as garotas com vestidos de cores distintas, aquela visão me fez recuar um passo. estava calado bebendo café ao lado de , que comia tudo o que estava à disposição, e cochichavam sobre algo e lia no tablet. Ainda que estivessem dispersos, aquela cena me transportou direto para época em que morávamos praticamente juntos, as garotas alugavam um apartamento pequeno de número 22, enquanto os rapazes e eu residíamos no número 23. Embora vizinhos, costumávamos fazer nossas refeições sempre juntos.
- Anda logo, dude, temos que ir. – Foi a voz de que me despertou. Assentei-me próximo a ele e me servi com café e torradas.
Fomos até a estação em uma van guiada por Matteo, o italiano nos deixou no estacionamento e disse que se misturaria no lugar para não mostrar que nos conhecíamos. Andamos juntos até o meio da estação, as irmãs Queen empurravam o tanque com os aparatos enquanto levava o reservatório móvel de água, carregava as correntes enquanto trazia consigo uma mala de viagem grande, a mim restou montar os dutos do tanque. Os olhares curiosos seguiram nossos movimentos por todo o percurso até a finalização da montagem.
- Podemos começar. – Falei a contragosto, recebendo um aceno de . Seu truque seria o primeiro e, internamente, eu agradecia por isso. Não queria ter que me aproximar da Campbell agora, não com ela tão tentadora naquele vestido justo azul que a deixava ainda mais exuberante.
Droga, isso não vai ser realmente fácil.
End point ofview
5.“Foi apenas uma distração enquanto armávamos o truque de verdade”. –Truque de Mestre
Os movimentos de eram precisos, a garota tirou o vestido verde claro que usava e revelou um maiô branco, as pessoas ao redor paravam para saber o que se passava e por que havia alguém com roupas de banho no meio da estação. Com elegância, ela subiu a escada de ferro que estava acoplada ao tanque e entrou no mesmo.
- O que ela vai fazer? – Um senhor careca, não aparentando mais do que cinquenta anos, perguntou para ninguém em especial.
- Ela vai trazer a publicidade que precisa para o seu banco. – Uma voz suave com sotaque carregado surgiu ao lado do senhor, que com o susto derrubou o café que levava na mão.
- Quem é você?
- Alguém que pode te ajudar. – Foi a resposta dada antes do número começar. A mais nova das Queen teve os braços e pernas presos com a ajuda de , que entrou no cubículo apenas para amarrá-la.
- Senhoras e senhores, preparem-se para assistir o inexplicável. – A voz de reverberou pelo ambiente como se estivesse amplificada, um truque que ele adorava fazer. – Esta bela jovem está prestes a arriscar sua vida, mas seria isso uma verdade ou apenas algo que seus olhos não são capazes de captar?
Depois de estimular a curiosidade da plateia ele saiu de cena, voltando assim as atenções para garota de maiô.
Point of view Queen
Sorri e acenei para o público enquanto fingia lutar contra as amarras, a água estava fria e incomodava minha pele. Retorci as mãos em busca de liberdade, mas as correntes sequer se moveram, os rostos das pessoas começavam a ficar curiosos e tensos e eu estava amando isso, forcei o fecho até conseguir libertar uma mão, os gritos de felicitações soaram altos, mas apenas para o silêncio reinar em seguida. Tentei soltar a outra mão e não obtive êxito, o liquido frio já me deixara arrepiada e agora se encontrava na altura de meu peito, prendi o fôlego e abaixei para libertar meus pés, essa parte do número era sempre mais dramática. Resolvi que era o momento de fingir. Bati desesperadamente no vidro pedindo socorro, algumas pessoas tentavam se aproximar, outras cobriam os olhos, a água se tornou branca graças ao corante que derramara em um dos dutos e logo eu pude passar meus membros por entre o ferro e sair da caixa, segurava uma toalha para mim. Agradeci com um gesto e esperei o momento certo para aparecer, algumas pessoas choravam e outras se recusavam a olhar. deu um toque em meu ombro mostrando que estava na hora de acabar.
- Que coisa mais sem graça isso, hein? – Minha voz reverberou pelo lugar, atraindo atenção. – Truquezinho maldoso esse. – Abri um sorriso, satisfeita com o resultado e com os aplausos que recebera.
- Toda mágica requer um dom. – Minha irmã tomou a palavra e saiu de trás do tanque, com seu vestido lilás de alças finas ela parecia tão delicada, por um momento cheguei a me enganar. – Todo dom deixa um ar de mistério no ar, seria esse o grande segredo da mágica? – Com um sorriso ladino ela indicou o casal atrás de si. e estavam de costas um para o outro; Com um timing perfeito os dois caminharam até estarem a pelo menos dois metros um do outro. tirou um jogo de baralho do decote de seu vestido enquanto sacava as cartas do bolso da calça social, os dois começaram com um jogo de olhares enquanto embaralhavam o jogo, em um segundo de pura tensão as cartas foram jogadas para frente, ficando apenas uma na mão de cada jogador; Eles tinham destreza e habilidade demais, pois no momento seguinte as cartas pareciam cordas presas entre suas mãos, os espectadores aplaudiram, perdidos em meio a tensão que os olhares deles causavam. se aproximou e entregou uma cartola pra , o rapaz mostrou ao público que estava vazia e colocou suas cartas e as da parceira dentro do objeto, em seguida andou lentamente até ela e parou em suas costas, pude ouvir o suspiro do rapaz e prendi o riso. No instante seguinte o chapéu foi virado, derrubando as cartas como uma chuva numerosa demais para ser apenas os dois baralhos ali colocados. Aos olhos vistos, Campbell sumiu, reaparecendo ao lado de pouco depois.
Os gritos e aplausos eram altos o bastante para provas que havíamos agradado, agora bastava saber se Matteo conseguira cumprir sua parte.
A volta para o apartamento fora feita em total silêncio, isso me incomodava mais do que eu gostaria. Estava farta daquela situação toda, vivemos juntos por anos e agora agíamos como estranhos que se encontram no mercado. Quando passamos pela porta e todos se dispersaram com rapidez demais para que eu dissesse algo, senti o sangue ferver. Avistei indo em direção a cozinha e corri em sua direção.
- Precisamos conversar. – Falei tão rápido que não tive plena certeza de que ele entendeu, seus olhos se voltaram para mim com curiosidade.
- Diga. – De todas as respostas que poderia ouvir, essa não era a que eu esperava. O rapaz se encostou no armário da cozinha e me olhou, aguardando, respirei fundo e tentei organizar meus pensamentos.
- , antes de qualquer coisa, eu sei que vocês nos odeiam, e de verdade não os culpo por isso. – Me apressei antes de perder a coragem, os olhos cristalinos dele miraram os meus com espanto. – Sumimos porque foi preciso. O Olho estava nos caçando como animais, eu jamais teria feito isso se sua vida... nossas vidas não estivessem em risco. – Como diria minha irmã, chutei o pau da barraca e só percebi quando já estava feito.
- Eu não te odeio, . – Foram suas primeiras palavras após o silêncio cruel que se fizera depois de minha declaração. – Sei que a organização estava nos caçando, para falar a verdade soube disso quando estava na Croácia procurando por vocês. – Senti o sangue sumir de meu rosto com a revelação. Ele havia me procurado, ido atrás de mim. – Costumava ter uma ideia recorrente de achar você, de entender o que havia acontecido e dar um fim nessa situação toda. Fiz isso por dois anos e então percebi que tudo era um deja vu, um ciclo vicioso que me arrastava e não tinha fim, eu jamais a encontraria se você não quisesse. Infelizmente notei que não queria.
Meu coração apertou diante daquelas palavras, ele havia lutado por mim durante anos enquanto eu fugia e me escondia como um rato ao lado de minha irmã, graças aos delírios de uma organização cruel e desenfreada.
- Você está errado, . – Achei minha voz em meio à onda de sentimentos que assolava meu peito. – Eu queria sim te encontrar, tudo o que desejei durante esses quatro anos foi te ver de novo, poder dizer que eu jamais tive a intenção de feri-lo e nunca quis deixá-lo, mas acreditei que não o veria, até essa loucura toda acontecer. – Confessei sem coragem de olhá-lo nos olhos, fitei meus pés com total atenção enquanto despejava as palavras mais pesadas de minha vida. – Nunca deixei de amar você, , mas não poderia arriscar a vida da minha irmã ou a sua, então ir embora foi o melhor que pude fazer.
O silêncio estava lá novamente, dessa vez mais barulhento do que qualquer grito. Senti sua mão tocar em meu queixo erguendo minha cabeça para eu poder encará-lo.
- Que bom que não fui o único em meio ao deja vu. – Suas palavras sutis me fizeram fechar os olhos involuntariamente, e quando seus lábios tocaram os meus não os reabri, pois a saudade era gritante e explícita demais para permitir uma recusa.
End point of view
6.“Exponha-os agora e destrua-os”. – Truque de Mestre
Matteo conseguira convencer Jason a realizar um evento no prédio principal de sua empresa, e local onde seu banco particular ainda trabalhava. Segundo algumas pesquisas feitas pelos Mestres, aquele lugar guardava mais do que algumas notas, havia ao menos uma coleção de joias raríssimas e, sendo assim, caras o bastante para o valor não poder ser calculado.
- O evento será amanhã, precisamos estar apresentáveis e preparados. – palpitou após fechar a geladeira e trazer três potes de pudim de leite, a garota sentou ao lado das irmãs Queen ao redor da mesa de centro.
- Concordo. – A fala de fez todos largarem o que tinham em mãos e olhá-lo como se um meteoro houvesse acabado de atingir a Terra. – Mas antes vocês precisam contar algumas coisas sobre essa tarefa que não foram ditas.
- Tipo o quê? – inquiriu desdenhosa na tentativa de esconder o nervosismo que já a fazia suar.
- Que tal o trato que tem com Matteo e as está deixando impacientes? – Fora quem respondeu, deixando seu típico sarcasmo pairando pelo ar.
O som de uma agulha caindo no chão seria audível, tamanha quietude havia no ambiente; As garotas imersas em dúvidas e palavras que as sufocavam, os rapazes curiosos e desconfiados. Todos presos em uma rede que parecia não ter brecha.
- Tudo bem. – disse de repente, suas mãos presas à barra da blusa que vestia só mostravam o tamanho de seu nervosismo. – É justo que saibam. – Um pigarro, um suspiro e duas batidas ritmadas de pés impacientes precederam a confissão. – Matteo nos convenceu a embarcar nessa sandice com a promessa de nos levar ao Olho. – O som do espasmo de espanto que deixou a boca dos homens na sala não a fez olhá-los. – Fugimos há quatro anos quando descobrimos que o presidente da organização não nos queria vivos, ouvimos uma discussão entre o Sponatti e uma mulher que alegava que nos matar era preciso, já que tínhamos habilidades demais para andarmos sós, e um poder que não poderiam controlar. – tomou fôlego para dizer o que há anos lhe matava aos poucos. – Disseram que , e eu éramos aberrações que não mereciam estar vivas sem um propósito, e já que vocês tinham algum tipo de relação conosco deveriam morrer também, sendo assim fomos embora. Essa é a verdade.
Point of view
Perplexo era a palavra certa para me definir naquele momento, todos os anos em que passei alimentando ódio foram em vão diante daquela revelação. Nós sabíamos que estávamos sendo caçados e deveríamos ir embora, já que na época decidimos deixar a associação, mas nunca imaginei que o real motivo por trás de tudo aquilo era os dons que as garotas possuíam.
- Você está dizendo que...
- Nunca esqueci os seus conselhos, . – A voz da Queen ainda ressoava pela sala como adagas lançadas ao vento. – Éramos uma família, você era como meu irmão mais velho, jamais permitiria que machucassem qualquer um de vocês, então eu menti e convenci a fazer o mesmo.
Eu estava de olhos fechados, engolindo em seco em uma falha tentativa de não fazer daquilo um circo, meu coração estava destruído, minhas perspectivas eram violentas e falhas e eu me tornei metade de alguém que um dia fui.
- Se passaram por tudo isso, por que querem entrar no covil da serpente? – estava histérico, ousei olhá-lo e vi que seu rosto estava vermelho, as mãos em punho demonstravam sua ira, tão semelhante à , que soaria cômico se não fosse trágico.
- Vamos destruí-los. – Foi a declaração de , me voltei para encará-la e quase sorri diante de sua determinação. – Vamos acabar com um por um, e no fim veremos no que dá.
Assenti diante de suas palavras. Palavras não expressariam meus sentimentos, então me mantive quieto.
- Faremos o melhor número que alguém já assistiu. – Determinou . – Seremos lembrados e enquanto o show acontecer pegaremos o tal ladrão e daremos um jeito de nos infiltrar na sala de reuniões, só precisamos descobrir onde estarão e como fazer para controlá-los.
- Isso é fácil. – Campbell sorriu maldosa. – Poder e sigilo é o que move o Olho, vamos expô-los, mostrar quem são e pegar todo o dinheiro que têm, depois disso repartimos o dinheiro e... – Sua fala se perdeu quando seus olhos encontraram os de , balancei a cabeça. Ela ainda o amava, ouvira sua conversa noite passada, assim como flagrara e mais cedo, naquela sala havia mais histórias de amor não resolvidas do que nos livros de Jane Austen. Arrisquei um olhar para e a vi concentrada no tablet, digitava furiosamente antes de perceber que ninguém falava.
- Decidimos depois, já temos o plano, mandei mensagem para Matteo perguntando sobre o lugar. – Bufei diante daquele nome, pelos céus, aquele cara sempre estava metido na conversa. Ela notou, mas pareceu ignorar. – Ele disse que o espetáculo será no penúltimo andar do prédio, confirmando assim minha teoria. Se bem conhecemos o Olho, eles estarão lá para nos pegar quando tudo acabar, Max deverá estar em algum lugar nos observando também.
- Exato, o banco particular de Jason funciona no subsolo, precisaremos nos dividir para cobrir território. – Falei por fim. – Os primeiros a se apresentarem terão dez minutos para desarmar os alarmes e entrar no banco, com certeza o ladrão estará presente se aproveitando da distração. – Apontei para jovem Queen e . – A segunda dupla a se apresentar terá menos tempo, cerca de oito minutos para chegar ao escritório principal e isolar tudo. – Indiquei e Campbell, que de pronto acenaram. – Os últimos devem fazer de tudo um espetáculo, apresentar cada passo como parte do show enquanto fazem as próprias apresentações, não envolveremos a plateia diretamente, os usaremos como pano de fundo.
Tudo estava organizado, não havia brechas ou oportunidade para falhas, teríamos que ser precisos em cada passo e daria certo. Depois da reunião nos separamos pela casa, notei que puxara para sacada da sala de jantar, ri internamente da cena, vê-los assim era como voltar anos atrás. Não os culpava, mas não seria hipócrita em dizer que estava pronto para pagar o preço para ter o mesmo.
Segui para meu quarto com a ideia de tomar banho e esfriar a cabeça, precisava estar centrado para encarar o que viria.
- Acha mesmo que vai poder fugir pra sempre? – A voz que atormentava meus sonhos soou perto demais para ser ignorada. Olhei por sobre o ombro e avistei sua figura encostada à porta ao lado da minha com os braços cruzados e uma sobrancelha arqueada. Balancei a cabeça e lhe dei as costas, como o covarde que era abri a porta de meu quarto e bati ao passar pela mesma.
- Tão típico. – Seu resmungo foi ouvido graças ao fato de eu ainda estar com as costas apoiadas à madeira branca que me impedia de ver seu rosto. Escondi o rosto entre as mãos, frustrado com minhas próprias atitudes. – Sabe, , você não é o único machucado nessa história.
Ri diante de suas palavras, não era um riso de graça, mas de escárnio.
– Quem pode falar de amor ou defendê-lo, não é? – Perguntei sabendo que ela me ouviria.
- Está disposto a encarar isso assim?
- Não há forma de encarar essa situação, . – Dizer seu nome em voz alta depois de tanto tempo me trazia um misto de nostalgia e felicidade. Ignorei a sensação. – Nenhum de nós está disposto a pagar essa fiança e libertar o que sentimos. – Fui o mais honesto que consegui, diante daquele impasse eu era apenas um peão no tabuleiro. A ouvi bufar.
- Talvez eu estivesse. – Sua declaração me deixou atônito por tempo suficiente para que não pudesse ouvir sequer sua respiração, abri a porta num rompante e encontrei a pequena sala vazia. Fechei os olhos por alguns segundos e soquei a parede em minha frente, era apenas a tentativa de descarregar tudo o que ainda sentia.
End point of view
7."Olhe com atenção. Porque quanto mais atento você pensa que está... menos vai realmente ver." – Truque de Mestre.
O grande dia chegara, era o momento de colocar um fim em toda aquela loucura que se arrastara por tempo demais.
- Estão prontos? – Matteo indagou ao adentrar o apartamento, seus olhos esquadrinharam o lugar e em seguida as pessoas que ali estavam. As garotas em ternos femininos pretos, saltos e blusa branca; Os cabelos presos em rabo de cavalo e a maquiagem forte destacando olhos ou boca era um costume que não chegaram a perder. Aquela visão fez o italiano sorrir, as três eram mulheres lindas e com charmes peculiares, era doce e espirituosa, adorava usar ironia mesclada a algum tipo de mistério e , ah sua favorita, era dona de uma sinceridade invejável, mas o fazia se perder na imensidão escura de seus olhos ou na sensualidade de seu sorriso. A verdade é que sempre quisera fazer parte daquele grupo, todavia sabia as consequências que lhe acarretariam e sua ousadia não era tanta, então se contentava em assisti-los, e intimamente invejada os três rapazes que compunham a equipe. Estes em questão trajavam ternos azuis escuros e sapatos pretos, usava gravata preta, optara pela borboleta e se recusara a colocar o objeto. Previsível,
- Siamo nati pronti, amore mio. ¹– A mais velha das Queen respondeu num italiano impecável, fazendo-o arregalar os olhos. Os seis passaram por ele em direção ao elevador e segurou a porta.
- Acho que você impressionou o italiano. – Brincou , recebendo o riso das irmãs e o resmungo de .
Point of view Queen
O trajeto até o local do show fora feito em vinte minutos, uma fila gigantesca se estendia pela calçada em frente ao prédio. O carro que nos levava foi guiado para parte de trás, onde poderíamos descer sem sermos importunados pela imprensa, a ideia era fazer mistério até a hora da apresentação. Subimos por um elevador privativo até o vigésimo primeiro andar, notei que minha irmã calculava o tempo do elevador, sorri com sua astúcia.
- Vocês têm dez minutos, o senhor Stuart vai falar brevemente e então vocês entram. – Instruiu Sponatti antes de deixar o grupo no camarim.
- Memorizaram o esquema? – Questionou , olhando para porta à espera de alguém que pudesse ouvir o plano. Os demais reviraram os olhos.
- Sim, vamos começar com o truque da água e dos pombos, deixamos o palco e ocupamos a coxia até e entrarem. – respondeu de pronto.
- Perfeito, Campbell e farão o truque dos espelhos, após o fim se retiram e vão direto para o elevador manual e esperam o sinal de . – interveio indicando os outros dois que acenaram positivamente.
- Tudo certo então, o resto é com a gente. – Afirmei me levantando da cadeira e estalando os dedos.
- Você vai conseguir apagar as luzes por tempo suficiente? – dirigiu a palavra a mim pela primeira vez, assenti sem dizer nada.
Batidas na porta indicavam que era hora do show, as pessoas ali dentro não poderiam ser reconhecidas por seus nomes ao deixarem aquela sala, no momento em que seus pés tocassem o palco eles seriam Os Mestres.
A plateia ovacionando enquanto entrávamos era sensacional, mas não podíamos perder o objetivo.
- Muitos consideram a mágica uma rede de mistérios. – assumiu a palavra como de costume, ele estava à minha direita no centro do palco. – Alguns acham que tudo não passa de ilusão, mas quantos de vocês estão realmente dispostos a descobrir? – Com um passo para trás ele cedeu a palavra à .
- Hoje vamos provar que a ilusão e a mágica...
- São duas faces... – o interrompeu.
- De uma mesma moeda. – prosseguiu.
- Estão preparados? – levantou uma sobrancelha fitando a plateia por meros segundos antes das luzes se apagarem e sairmos do palco, deixando apenas ele e minha irmã.
pediu que lhe entregasse um copo de água. Assistimos o momento em que ele mostrou à plateia que não havia rachaduras no objeto, espirrou água em minha irmã e despertou risos nos espectadores. Uma música agitada começou a tocar enquanto ele andava de costas pelo palanque, parando no meio deste; O momento em que o vidro tocou o chão, graças à falta de amparo, e o liquido se espalhou foi o mesmo em que atirou-se de costas para imensidão negra do chão e sumiu diante dos olhos da plateia, que gritou enlouquecida com a mágica.
- E aí? – Olhei em sua direção e o vi secando os cabelos com uma toalha, balancei a cabeça e ri. Fiz um sinal positivo e retomei a atenção para figura de , que acabava de ocupar o lugar do rapaz.
- Todo mundo adora a boa e velha mágica de tirar o pombo da cartola... Ou seria o coelho? – dizia para o público enquanto se aproximava da mesa alta que a equipe de produção deixara ali com um chapéu. As risadas se fizeram ouvir enquanto a garota virava o objeto para todos verem o mesmo vazio e sem fendas. – Vejam bem, eu poderia tirar um pássaro desse chapéu. – E colocando a mão lá dentro ela retirou o animal. – Ou quem sabe dois. – Colocou o pássaro sobre a mesa e puxou mais dois pombos. – Mas seria realmente muito legal tirar algumas dezenas, não acham? – Sugeriu mexendo as sobrancelhas e fazendo os demais rirem. Ela colocou o chapéu no chão e esfregou as mãos antes de colocá-las sobre o objeto; No instante seguinte dezenas de pássaros brancos voavam por cima da plateia, causando aplausos e alvoroço enquanto ela agradecia e ria com as crianças. As luzes se apagaram mais uma vez, era hora do segundo ato.
e estavam frente a frente, próximos à ponta do tablado, uma dúzia de espelhos dispostos em suas costas deixava a cena um tanto inusitada.
- Algumas culturas acreditam que os espelhos são capazes de prender a alma daqueles que já se foram. – Campbell explicou com os olhos presos na figura a sua frente.
- Eu prefiro acreditar que eles são capazes de prender o que quisermos. – Soou presunçosamente. – Por favor, tenha a bondade. – Mostrou um dos diversos objetos e ela seguiu até o mesmo. Os dois mostraram que não havia passagens ou qualquer outra coisa que fizesse daquela mágica uma mentira. – Vamos ver se conseguimos prender a nossa querida Mestra em um desses. – Sorriu desdenhoso, se aproximou de e a girou cinco vezes até que a mesma sumisse diante dos olhos apreensivos do público. Claro que isso era graças ao seu dom de invisibilidade, assim como o truque de que requeria sua dominação em desmaterializar seu corpo e algumas coisas que tivessem ao seu redor.
No momento seguinte a garota apareceu dentro de um dos espelhos, riu ao vê-la acenar e se afastou caminhando para direita e pedindo que ela caminhasse até lá. andou por todos os espelhos antes de seu acompanhante estalar os dedos três vezes e fazê-la surgir ao seu lado.
Mais uma vez a euforia das pessoas me fez sorrir, porém dessa vez o motivo era outro.
End point ofview
8.“Haja o que houver agora. Seja lá o que esse truque seja. Vai ser impressionante”. - Truque de Mestre
O espetáculo estava se desenrolando como o planejado, todos haviam se apresentado e agora as duas primeiras duplas se encontravam nas intrínsecas do prédio. conversava com o público enquanto fazia pequenos truques, como tirar de uma bolha de sabão gigante ou pedir para uma garotinha escolher duas cartas, acertar as duas e fazê-las refletir no teto do ambiente. estava concentrada em manter as luzes do primeiro andar e as câmeras de elevador apagadas para que sua irmã pudesse chegar ao cofre. O ponto em seu ouvido deu um pequeno estalido quando se pronunciou.
- Consegui rastrear o IP dele, está a uma quadra daqui. – O barulho de uma porta se abrindo deixou-a tensa. – Cancela isso, ele acabou de chegar e está a caminho da porta principal do cofre, vai interceptá-lo enquanto eu pego o computador dele para mudar o código.
- Tudo bem, me mantenha informada.
corria pelas escadas com em seu encalço, estavam perto da porta que daria acesso ao andar quando o rapaz a puxou pelo braço, prendendo-a contra parede.
- O que você tá fazendo? Temos que terminar o trabalho. – Ela sussurrava na tentativa de não deixar a mais velha das Campbell escutar, o que era em vão, de fato.
- Você tinha razão. – Ele a viu franzir o cenho confusa e se aproximou ainda mais, colando seu corpo ao dela. A respiração pesada e os olhos fixos dela nos seus indicava que Campbell havia compreendido do que se tratava. – Não vou conseguir me concentrar apenas no trabalho. – Seus lábios tocaram os dela sem realmente beijá-la. – Para ser sincero, estou pronto para entrar naquele deja vu do qual falei. – Ela sorriria se tivesse tempo. Sua boca foi tomada em um beijo cheio de saudade.
teria rido se a mão de não tivesse tocado em seu ombro, indicando que ela deveria voltar ao palco, pelo sorriso que ele trazia estava claro que havia escutado todo o momento do casal.
- O grande mistério do mundo é a magia que o cerca. Você seria capaz de identificar um assassino? Descobrir um ladrão? – A voz da garota fora ainda mais ampliada; Através do ponto disse que o homem estava contido e o IP fora recodificado. – Identificar um cidadão de bem? Diferenciar o bem e o mal? – Deu alguns passos na direção de , se aproximando assim do centro do estrado. – Se sua resposta foi sim, você é claramente alguém evoluído. Se foi não, bom....
Com um estalar de dedos da jovem todo o prédio caiu em profunda escuridão. A movimentação da Staff do show era audível de onde estavam, mas se mantiveram quietos. tocou o braço da moça e ela liberou a luz do lugar, o telão se ascendeu em duas imagens diferentes. De um lado Campbell e estavam parados diante de uma porta no fundo do corredor principal do prédio, na outra Queen e sorriam e acenavam para tela segurando um notebook.
- Hoje nós mostraremos que a mágica está em todos os lugares, ainda que não possamos vê-la. – mostrou o lado em que e estavam, os jovens abriram a porta e revelaram seis figuras presentes na sala, de olhos arregalados pouco a pouco os nomes foram surgindo para plateia. – Este, por exemplo, é O Olho, a organização que a Interpol procura há anos, mas jamais encontrou.
- E eu lhes digo o motivo, o embaixador é o líder deles. Eis a primeira mágica. – sorriu maldosa antes de se virar para outra câmera. – Bem aqui temos o ladrão de Wall Street, como os jornais andam chamando. – O rosto de Matteo surgiu na tela, surpreendendo a garota. Piscando três vezes para recobrar o raciocínio, ela prosseguiu. – Por fim, essa é a conta que o Olho administra, isto é, roubando o dinheiro de bancos e investidores sob algum pseudônimo desnecessário.
O burburinho havia começado.
- Acho que a Interpol tem muito o que fazer por aqui, não acham? – comentou despretensiosamente enquanto assistiam aos amigos correrem pelas instalações do prédio com alguns seguranças em seu encalço. As saídas da sala de show estavam fechadas, se certificara disso em meio a um dos truques, apenas alguém que conhecesse muito bem o prédio saberia da passagem abaixo do palco que levaria a uma escada estreita em direção a garagem. Os segundos se arrastavam enquanto o público assistia a fuga desenfreada dos protagonistas numa direção que eles desconheciam, fora necessários mais cinco minutos até que as luzes sumissem mais uma vez e os seis Mestres estivessem sobre o palco pela última vez.
As pessoas estavam de pé, aplaudindo e divididas entre a surpresa e o espanto, depois de tantas revelações era compreensível.
- Fim do terceiro ato.
Com uma piscadela atirou uma pequena bomba de fumaça no palco e o grupo sumiu por entre o alçapão que os levaria a liberdade. Ou parte dela.
Epilogue
“Mas esse é o momento pelo qual todos esperavam. ” – Truque de Mestre
O Sol estava alto e quente como de costume na República Dominicana, a pequena cidade de San Juan fora o local escolhido pelo grupo para mudança, ao menos pelos próximos seis meses. Haviam deixado os Estados Unidos há dois meses. Com o dinheiro que transferira para uma conta aberta em nome deles fora possível fazer mais do que apenas fugir, desta vez eles estavam juntos.
- Tem certeza de que ir a essa festa é uma boa ideia? – perguntou para amiga que acabava de colocar os sapatos, tão altos e reluzentes que poderiam ser vistos a metros de distância. Num vestido vermelho e maleável, exibia uma parte a mais da perna pela fenda que este possuía, a garota estava determinada a colocar um fim em seu passado com e seguir um caminho melhor, mais direto. Desde que chegaram à San Juan e alugaram a casa em que agora viviam, os dois já haviam se estranhado, se beijado e matado algumas saudades, todavia não passara disso. Ela queria mais e estava disposta a tê-lo.
- Até parece que você não conhece a peça. – surgiu no quarto com seu conjuntinho branco de saia e blusa favorito. – Vamos.
Na sala os três rapazes aguardavam sentados no sofá, jogando conversa fora enquanto as garotas terminavam de se arrumar.
- O que será de nós a partir de agora? – questionou expondo a dúvida que martelava em sua cabeça.
- Em seis meses mudamos daqui para outro lugar. – respondeu. – Vamos para Vegas antes de escolhermos outro lugar.
- Por que Vegas? – perguntou, ciente de que a resposta era previsível.
- Vou me casar com a Campbell. – Almofadas voaram em sua direção enquanto as risadas e apelidos eram proferidos. As garotas se entreolharam diante da cena e permaneceram quietas, talvez loucura pegasse enfim.
Em dois táxis os casais se dividiram para chegar à boate, um lugar colorido e badalado que servia a melhor tequila da região. O garçom se apressou em atender as garotas que sorriam lascivas apenas para conseguir as bebidas o quanto antes.
- Seis shots, por favor. – pediu e se virou para olhar o namorado que falava algo com os amigos e ria das caretas que recebera.
- Aqui estão. – O rapaz depositou o pedido sobre o balcão e abriu a boca para elogiar as moças quando uma batida conhecida saiu pelas caixas de som do ambiente, sorriu de lado e se afastou para buscar seu par.
sentiu sua mão ser puxada e ao olhar para saber de quem se tratava viu a mais velha das Queen, com o lábio inferior preso entre os dentes ela o puxou em direção a pista onde alguns casais dançavam a música que já estava em seu refrão.
Quién puede hablar del amor?
Y defenderlo?
Que levante la mano, por favor
¿Quién puede hablar del dolor?
Pagar La fianza
Pa' que salga de mi corazón
Si alguien va a hablar del amor
Te lo aseguro
Esa no voy a ser yo
- Só eu acho essa música muito familiar? – A pergunta de saiu como um sussurro próximo ao ouvido do rapaz, lhe despertando um arrepio tão conhecido.
- Não imagino o motivo. – Desdenhou ao girá-la antes de puxar seu corpo para perto novamente.
Esta Idea recurrente
Quiere jugar con mi mente
Pa' volverme a engatusar
Una historia repetida
Solamente un déjà vu
Que nunca llega a su final
- Isso é sério? Porque se for eu realmente desisto. – Questionou a moça, cética, se afastando para encará-lo. Sua paciência já havia ido para o espaço e ele sabia bem disso.
Mejor me quedo sola
Y me olvido de tus cosas
De tus ojos
O som da risada a fez soltar-se do toque de e com passos duros se afastou.
Mejor esquivo el polvo
No quiero caer de nuevo en esa foto de locura
De hipocresía total
- Você é sempre tão arisca. – Ele disse ao puxá-la pelo braço, a fazendo esbarrar em seu corpo. – Senti falta disso. – Confessou vendo o semblante da moça alterar-se levemente. - Não teria vindo até aqui se não fosse para ficar com você, Queen. – Declarou por fim, vendo o brilho distinto nos olhos dela. – Talvez eu também esteja disposto a pagar o preço, querida. – sorriu abertamente diante do apelido e puxou o rapaz pela nuca, roubando-lhe o beijo que selaria mais uma vez aquela união.
- Gosto disso, amorzinho.
Quién puede hablar del amor?
Y defenderlo?
Que levante la mano, por favor
¿Quién puede hablar del dolor?
Pagar La fianza
Pa' que salga de mi corazón
Si alguien va a hablar del amor
Te lo aseguro
Esa no voy a ser yo
Eles tinham seis meses para decidirem o próximo destino, seis meses para se reconhecerem e aproveitarem cada minuto, pois o futuro ainda poderia lhes reservar alguns desafios, afinal.
Now you see me...?
O Sol estava alto e quente como de costume na República Dominicana, a pequena cidade de San Juan fora o local escolhido pelo grupo para mudança, ao menos pelos próximos seis meses. Haviam deixado os Estados Unidos há dois meses. Com o dinheiro que transferira para uma conta aberta em nome deles fora possível fazer mais do que apenas fugir, desta vez eles estavam juntos.
- Tem certeza de que ir a essa festa é uma boa ideia? – perguntou para amiga que acabava de colocar os sapatos, tão altos e reluzentes que poderiam ser vistos a metros de distância. Num vestido vermelho e maleável, exibia uma parte a mais da perna pela fenda que este possuía, a garota estava determinada a colocar um fim em seu passado com e seguir um caminho melhor, mais direto. Desde que chegaram à San Juan e alugaram a casa em que agora viviam, os dois já haviam se estranhado, se beijado e matado algumas saudades, todavia não passara disso. Ela queria mais e estava disposta a tê-lo.
- Até parece que você não conhece a peça. – surgiu no quarto com seu conjuntinho branco de saia e blusa favorito. – Vamos.
Na sala os três rapazes aguardavam sentados no sofá, jogando conversa fora enquanto as garotas terminavam de se arrumar.
- O que será de nós a partir de agora? – questionou expondo a dúvida que martelava em sua cabeça.
- Em seis meses mudamos daqui para outro lugar. – respondeu. – Vamos para Vegas antes de escolhermos outro lugar.
- Por que Vegas? – perguntou, ciente de que a resposta era previsível.
- Vou me casar com a Campbell. – Almofadas voaram em sua direção enquanto as risadas e apelidos eram proferidos. As garotas se entreolharam diante da cena e permaneceram quietas, talvez loucura pegasse enfim.
Em dois táxis os casais se dividiram para chegar à boate, um lugar colorido e badalado que servia a melhor tequila da região. O garçom se apressou em atender as garotas que sorriam lascivas apenas para conseguir as bebidas o quanto antes.
- Seis shots, por favor. – pediu e se virou para olhar o namorado que falava algo com os amigos e ria das caretas que recebera.
- Aqui estão. – O rapaz depositou o pedido sobre o balcão e abriu a boca para elogiar as moças quando uma batida conhecida saiu pelas caixas de som do ambiente, sorriu de lado e se afastou para buscar seu par.
sentiu sua mão ser puxada e ao olhar para saber de quem se tratava viu a mais velha das Queen, com o lábio inferior preso entre os dentes ela o puxou em direção a pista onde alguns casais dançavam a música que já estava em seu refrão.
Y defenderlo?
Que levante la mano, por favor
¿Quién puede hablar del dolor?
Pagar La fianza
Pa' que salga de mi corazón
Si alguien va a hablar del amor
Te lo aseguro
Esa no voy a ser yo
- Não imagino o motivo. – Desdenhou ao girá-la antes de puxar seu corpo para perto novamente.
Quiere jugar con mi mente
Pa' volverme a engatusar
Una historia repetida
Solamente un déjà vu
Que nunca llega a su final
Y me olvido de tus cosas
De tus ojos
O som da risada a fez soltar-se do toque de e com passos duros se afastou.
No quiero caer de nuevo en esa foto de locura
De hipocresía total
- Gosto disso, amorzinho.
Y defenderlo?
Que levante la mano, por favor
¿Quién puede hablar del dolor?
Pagar La fianza
Pa' que salga de mi corazón
Si alguien va a hablar del amor
Te lo aseguro
Esa no voy a ser yo
Now you see me...?
FIM
Nota da autora: Olá amorzinhos, como estão? Depois de alguns dias quebrando a cabeça com essa história finalmente consegui finalizá-la. As cenas foram inspiradas no filme Truque de Mestre, que é um dos meus amores, espero que gostem dela tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Vou deixar um muito obrigado para linda da Anny, que cobrou, se preocupou e não deixou a peteca cair (haha), um agradecimento superespecial para vocês que leram, peço que deixem seus comentários, por favor. Me perdoem por qualquer erro; para saber mais sobre as outras fanfics que escrevo entrem no grupo Escritas da Mary Lira(link abaixo).
Nota da beta: Ahhh Mary, eu AMO Truque de Mestre. Adorei a fic, sério, parabéns! E foi bom eu não ter deixado a peteca cair hahaha Porque assim tivemos esse ficstape lindo do meu album favorito da minha amiga Shakira.
Agora, quem leu Deja vu poderia deixar um comentário pra nossa querida autora aqui embaixo e depois ir ler as outras fics desse ficstape, que tal? É só clicar no ícone "Ficstape El Dorado" aqui em cima. Dica de amiga! Xx-A
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Nota da beta: Ahhh Mary, eu AMO Truque de Mestre. Adorei a fic, sério, parabéns! E foi bom eu não ter deixado a peteca cair hahaha Porque assim tivemos esse ficstape lindo do meu album favorito da minha amiga Shakira.
Agora, quem leu Deja vu poderia deixar um comentário pra nossa querida autora aqui embaixo e depois ir ler as outras fics desse ficstape, que tal? É só clicar no ícone "Ficstape El Dorado" aqui em cima. Dica de amiga! Xx-A
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