Capítulo Único
Isso não podia ser verdade, meu pior medo estava se tornando real.
Via alguns homens de preto descerem o caixão de onde minha mãe jamais sairia, ela era a única família que eu tinha e me perguntava se havia feito algo tão ruim para merecer isso. Órfã aos dezesseis anos.
Não sabia praticamente nada de meu pai, apenas que minha mãe fora casada com ele, mas logo depois do meu nascimento, ele nos deixou, mudando de estado com o filho mais velho, meu irmão.
Já me perguntei algumas vezes como seria minha vida se tivesse um pai presente, mas nem a voz dele eu conhecia, visto que minha mãe nunca havia me deixado falar com ele, e o mesmo nunca demonstrou interesse em me ver.
Os dias passaram e fiquei hospedada na casa de minha melhor amiga, a família dela sempre foi muito acolhedora, e quando recebemos a visita de uma assistente social, falaram em seu interesse em me adotar. Era complicado, me sentia atrapalhanda. Queria poder voltar pra casa, mas o fato de ser menor de idade me impedia. Até que uma semana depois, a assistente social voltou até a minha amiga para contar que haviam encontrado meu pai e que o mesmo tinha demonstrada interesse em cuidar de mim. Um frio percorreu minha espinha, como ficaria aos cuidados de um cara que eu nem conhecia? Ele era meu pai, ok. Mas eu não sabia nem ao menos como era sua voz. E meu “irmão”? Sentia que o meu pesadelo estava apenas começando.
A visita foi marcada para o dia seguinte, como estudava no período da manhã, fomos até o local combinado logo após o almoço. Tivemos o acompanhamento da assistente social e dona Noemi, mãe de Krish, minha melhor amiga. Chegamos no horário combinado e um homem nos esperava. Ele vestia um sobretudo preto, calça jeans azul escura e sapatos pretos. Ao vê-lo, tive a impressão de já conhecê-lo, porém não sabia de onde, talvez fosse o “sangue correndo nas veias”.
- Oi. – Falei tímida, me sentando ao lado de Noemi.
- Boa tarde. – Disse a assistente social.
- Olá! – Falou com voz grave, sem demonstrar qualquer sentimento.
Fiquei olhando para ele de cima a baixo, ele estendeu sua mão cumprimentando-nos e então sentou novamente. Confesso que não recordo de nada que foi dito, eram apenas questões burocráticas onde a assistente social explicava que ele sendo meu pai, e nunca faltando com suas responsabilidades, teria direito em me levar junto de si. Em nenhum momento me perguntaram o que eu queria, ou se concordava com tudo aquilo, mas diante dos últimos acontecimentos, achei melhor ficar calada e deixar que decidissem por mim. Só queria um lugar pra ficar até completar dezoito anos e não atrapalhar ninguém.
Na noite anterior, fui responsável por uma briga entre Krish e seus pais, onde ela dizia que queria ter seu quarto novamente, era evidente que ela estava com ciúmes, não podia culpá-la, ela era filha única e embora fosse minha melhor amiga, nunca gostou de dividir nada.
Por fim, as duas mulheres se retiraram nos deixando a sós.
Ele esfregava as mãos em suas pernas, sem saber como se dirigir a mim. Eu encarava o chão, e por vezes olhava timidamente pra ele, meu pai era lindo, com certeza faria muito sucesso entre minhas amigas, parecia mais jovem do que realmente era, e por um segundo senti curiosidade em saber como seria meu irmão.
Também queria saber o que aconteceu e por que ele nunca quis ter contato comigo, mas aquele não seria o melhor momento para perguntar.
- Você é muito bonita. – Falou quebrando o silêncio e sentando-se ao meu lado.
- Obrigada. – Falei timidamente.
- Parece com sua mãe. – Disse sorrindo.
- Isso é bom? – Perguntei sem pensar.
- Acho que sim. – Disse sem entender a pergunta.
- Você já ouviu falar em São Paulo? – Perguntou me encarando.
- Sim. – Era obvio que já, quem nunca havia ouvido falar em São Paulo? Tá certo que minha cidade não era lá uma cidade “moderna”, mas qualquer cu do mundo, sabia da existência de SP.
- Eu moro lá, com seu... Irmão. Programei nossa ida daqui dois dias, espero que não tenha problemas pra você.
- Acho que não tem problema, só preciso ver como fica minha escola, eu estou no último ano, então não queria reprovar.
- Já vi isso com a assistente social e um dos meus advogados, eles já resolveram tudo e matriculei você na mesma escola que o .
- Ele ainda estuda? – Perguntei surpresa, afinal minha mãe sempre contava que eu era 2 anos mais nova que ele.
- Está no último ano... Ele não é o melhor aluno da escola, então, reprovou algumas vezes.
- Entendi. – Falei por fim, vendo o assunto morrer, até que ele novamente quebrou o silêncio algum tempo depois.
- O que você gosta de fazer?
- Não sei, essa pergunta é meio... Complexa. – Falei sem saber o que responder.
- Pois é, acho vamos ter tempo de descobrir a partir de agora. – Falou e eu concordei com a cabeça, então ele continuou. – Quero que você sempre me diga do que gosta ou não gosta, tá? Eu sou meio desligado, mas vou tentar ao máximo não esquecer. – Disse sorrindo.
- Você é casado? – Perguntei, sem prestar muita atenção no que ele falava, sempre tive essa curiosidade e acho que seria bom eu saber disso antes de chegar em sua casa e encontrar alguma mulher me odiando, por ser filha de talvez até um possível caso dele.
- Não, eu não costumo ficar fixo com uma mulher. – Falou demonstrando um pouco de vergonha.
- Hum, entendi...
- Moramos apenas eu e o , em um condomínio muito bom lá, fica perto do meu trabalho e da escola do , perto do centro também, dependendo do horário... Lá o transito é meio infernal, então o perto pode levar algumas horas pra chegar.
- Eu não quero atrapalhar vocês. – Falei triste.
- Você não vai nos atrapalhar, nunca. – Disse segurando minha mão. Embora recebesse carinho de dona Noemi, o toque dele era diferente, me fez sentir um aperto no peito. – Quero que saiba, que pode contar comigo pra qualquer coisa, viu? Eu não queria que aquilo tivesse acontecido, mas estou aqui pra te ajudar a enfrentar isso.
- Não gosto de falar disso. – Falei segurando o choro, ele era meu pai, mas era um completo estranho. Aliás, minha vida era rodeada de estranhos, e a única pessoa que eu considerava próxima o suficiente pra confiar, tinha partido, me deixando pra sempre.
- Tudo bem, me desculpa. – Falou sem saber como agir, eu apenas concordei com a cabeça, afastando sua mão da minha.
A assistente logo voltou pedindo para falar comigo. Depois de tudo, ela queria ouvir minha opinião? Acompanhei-a até uma pequena sala onde ela explicou que pelo fato de ter dezesseis anos minha opinião era importante pra eles. Fez uma série de perguntas e deu três opções: ficar com meu pai, a casa da minha (ex) melhor amiga, afinal ela parecia estar me odiando e temendo perder o lugar de filha preferida, e um lar de meninas, que provavelmente seria em outra cidade e estaria superlotado. Escolhi a primeira opção.
Ainda naquela tarde fomos em um carro alugado por ele até a casa em que eu estava “hospedada”. Tia Noemi se culpou por não poder ajudar mais, mas Krish havia se machucado em uma atividade de Educação Física na escola e ela teve que acompanhar a filha, me deixando sozinha com ele.
As coisas que havia levado para casa dela estavam arrumadas em uma pequena mala, já colocada no porta malas do carro, faltavam as coisas que eu havia deixado em minha antiga casa.
Ele estacionou em frente ao pequeno chalé de madeira, desci e respirei fundo, tentando achar coragem para voltar aquele lugar que trazia consigo tantas memórias.
Abri a pequena porta e sorri lembrando da última vez que havia visto ela ali. Ela estava sentada em frente uma pequena mesa, corrigindo algumas provas. Minha mãe era professora, e mesmo com toda doença que enfrentava odiava faltar trabalho, dizia que os dias junto de suas crianças eram umas das poucas coisas que lhe davam prazer. Poderia até mesmo sentir ciúmes de seus pequenos, mas o amor que ela dedicava a mim, era tão forte e intenso que agradecia todos os dias por ter uma mãe tão presente. Minha mãe-pai sempre fez o possível e impossível para me ver bem e feliz, e por isso sabia pouco de minha origem. A única coisa que á deixava triste, era quando tocava no assunto “meu pai”. Não queria ser motivo de tristeza pra ela, sabia que ele existia e morava em São Paulo. Sabia também que tinha um irmão mais velho, filho dele com outra mulher, mas não sabia se os dois haviam namorado ou algo do tipo, lembrei que ela havia me dito sobre uma carta pra ele, caso o pior acontecesse com ela, e então subi apressada as escadas chegando até seu quarto.
Ele foi atrás de mim, sem falar nada. Mexi em algumas gavetas, até achar o envelope rosa claro, entreguei para ele.
- Ela pediu que eu lhe entregasse isso, caso o pior acontecesse. – Falei tentando segurar as lágrimas, aquele lugar tinha o cheiro dela. Ele concordou com a cabeça e pegou o envelope, se aproximando de mim e fazendo com que eu me afastasse.
- Por que você não me deixa te tocar? Deixa pelo menos eu te dar um abraço? Você perdeu sua mãe, não precisa ser forte o tempo todo. – Falou tirando algo que estava engasgado dentro dele. Eu não respondi nada, apenas saí do quarto dela, indo para o meu.
Tranquei a porta, assim que entrei e sentei na cama, deixei sair todas as lágrimas que estavam presas dentro de mim.
O único pedaço do qual eu sentia pertencer não estava mais lá. Mesmo assim conseguia sentir seu cheiro pela casa, conseguia ouvir sua risada falando que eu definitivamente não pertencia as exatas, ou que meus avós ficariam orgulhosos da neta que tinham. Minha mãe falava constantemente da saudade deles, principalmente depois que descobriu sua doença, já em estágio avançado. Me sentia egoísta em todas as noites rezar para que ela ficasse mais tempo comigo, mesmo sabendo de seu sofrimento, me sentia egoísta em sentir ciúmes de meus avós, pois hoje eles em algum lugar melhor estavam junto dela. Queria sim saber o porquê de ela não falar sobre meu pai, mas tinha certeza que mesmo ela tendo cometido algum erro, nada me faria amar e admirar menos aquela mulher.
O amor dela era o bastante para que eu me sentisse a criança mais amada do mundo, e talvez isso fez com que eu nunca lhe desse trabalho. Sempre tirei as melhores notas da escola, nunca fiquei em recuperação ou ganhei alguma advertência, e mesmo com todos seus problemas de saúde, minha rotina era escola – hospital - escola. Sem faltar aula, pois queria ver ela alegre com minhas notas, queria dar pelo menos um mínimo de alegria para alguém tão guerreira.
Fiquei trancada ali durante horas, notei que era noite quando olhei pela janela e uma lua cheia iluminava o céu. Terminei de guardar algumas roupas e pertences pessoais e saí do quarto encontrando dormindo no sofá. Ele segurava o envelope que minha mãe havia deixado, estava aberto, e seu rosto ainda estava um pouco vermelho, o que indicava que ele havia chorado.
Toquei levemente seu ombro, sem saber a melhor maneira de acordá-lo. Ele pulou no sofá me dando um susto e se assustando também. Senti vontade de rir, ele então sorriu e pegou a mala de minha mão.
- Está pronta?
- Sim, acho que podemos ir.
- Até que você não usa tantas coisas, mulheres geralmente viajam com bem mais bagagens. – Disse sorrindo.
- Pois é... – Falei tímida. Verdade era que eu não tinha muitas peças de roupa, minha mãe trabalhava bastante, mas não ganhava proporcional ao seu trabalho. Criar uma criança/adolescente sozinha, não era fácil, então nunca pedia nada, tentando gastar ou dar o mínimo de trabalho possível. Conclusão: tinha apenas o básico, que toda menina devia ter.
Fomos até o carro, e como minha cidade ficava longe da capital, acabei dormindo na primeira hora da viagem. Acordei com o carro parando em um posto de conveniência.
- Hey, dorminhoca, vamos comer alguma coisa? – Falou sorrindo.
- Tô sem fome, obrigada. – Falei com sono.
- Não vou deixar você ficar sem comer, faz muito tempo que estamos juntos e ainda não vi você colocar nada na boca. – Falou pela primeira vez com alguma autoridade.
- Eu... – Sem saber como recusar, concordei em sair do carro e comer alguma coisa com ele. Comemos, ele comprou MUITAS porcarias, que minha mãe não me deixaria comer em talvez... Um mês, e disse que seria o combustível para o restante da viagem. Concordei com a cabeça e sorri enquanto ele ria dos nomes engraçados de algumas bolachas.
Durante o restante da viagem, ele me contou sobre seu trabalho, as bandas que trabalhava e várias curiosidades de alguns artistas. Chegamos em um hotel lindo, e fui com ele até o quarto que indicaram. Ele ficaria no quarto em frente ao meu, e me fez prometer que o chamaria se precisasse de qualquer coisa. Concordei com a cabeça e dormi, pensando em tudo que minha vida havia mudado. Acordei com algumas batidas na porta, levantei me arrumando rápido e abri mais rápido ainda. Ele estava parado em minha frente dizendo que deveríamos tomar café. Fui com ele, e assim passamos o dia, me levou no shopping com a desculpa de comprar algumas roupas novas, comprou também duas malas, muito bonitas e tentou ao máximo não demonstrar que estava com vergonha do meu jeito de vestir. Eu era uma menina do interior, ok. Não entendia nada de moda, marcas ou coisas do tipo, e quando percebi que pra ele imagem era muito importante, senti meu coração apertar. Não o conhecia, mas mesmo apesar de tudo me sentia grata por ele estar disposto a me ajudar, perceber que ele poderia sentir vergonha de mim me fez quebrar por dentro, me fez lembrar de todos os anos que eu desejei ter um pai e da culpa que sentia após esse desejo, por estar sendo ingrata com minha mãe.
O dia passou e no outro saímos cedo em destino a minha nova casa.
Chegamos em um condomínio muito bonito, nele haviam vários prédios, e então ele me explicou que tinha comprado dois apartamentos no último andar de um dos prédios, e transformado em um único, com três suítes, onde uma seria minha. Escritório, home Studio, salas de estar, jantar, varanda, cozinha... Enfim um lugar enorme e muito bonito.
Chegamos e ele apresentou Conceição, sua empregada, dizendo que eu poderia pedir pra ela tudo que precisasse. Ela me pareceu simpática e lembrou a “tia da merenda”, uma senhora muito simpática de minha antiga escola. Fui até o quarto que seria meu, era lindo, um pouco impessoal, mas logo mudaria aquilo. Tinha uma cama de casal, guarda-roupas enorme, um espelho gigante que toda menina amaria ter. Logo me deixou sozinha dizendo que tinha algumas reuniões, e eu fiquei entretida organizando minhas roupas.
Ouvi algumas batidas na porta, um menino de olhos entrou, pedindo licença.
- Tudo bem? – Perguntou beijando meu rosto.
- Tudo e você? – Respondi timidamente.
- Tudo... Bem, eu, vim me apresentar. – Falou sorrindo, seu sorriso era lindo.
- Hum, você é o ?
- Sim, você é a , né? Já pensou se eu me apresento pra alguém achando que é minha irmã e depois não é? – Falou rindo imaginando a cena e me deixando um pouco tonta, pois ele atropelava as palavras.
- Sim, sou eu sim. – Falei um pouco vermelha.
- Caramba, meu pai não disse que tinha uma filha tão linda! Ó, pode ficar tranquila que nenhum marmanjo vai chegar perto de ti, ta?
- Não estava muito preocupada com isso. – Falei sentando na cama.
- Hum... É isso é coisa do irmão mais velho se preocupar. A irmã mais nova tem que obedecer. – Falou sentando ao meu lado e bagunçando meu cabelo, era estranho, nós não nos conhecíamos, mas parecia que eu o conhecia há tempos.
- Eu obedecer você? – Falei fingindo estar braba.
- Claro, nosso pai passa o dia todo no estúdio, geralmente parte da noite também... Então somos só nós dois, e como mais velho da casa...
- Você vai comprar chocolate pra mim?
- Não tinha pensado nisso, mas já que insiste... Metade é meu! – Falou divertido.
- Seu guloso. Te dou um pedacinho. – Disse sorrindo e pegando um chocolate que tinha no lado de minha cama.
- O mandou colocarem vários chocolates no teu quarto né? Que moleza! – Disse folgado, procurando alguma coisa no frigobar que tinha instalado ali. – Aff, não tem cerveja.
- Você não deveria beber, ainda mais no meio da tarde. – Adverti.
- Aqui pode tudo... – Falou rindo e roubando um pedaço do chocolate que eu estava comendo, o olhei com um pouco de medo, o que fez ele rir mais ainda.
- Dizem que irmãos sempre são chatos... – Falei baixinho, mas ele ouviu.
- Nem todos, o teu é bem legal.
- Metido hein...
- É de família, o também sempre foi bem metido.
- Por que você chama ele de ?
- Porque é o nome dele... E também, porque ele prefere assim, já que curte pegar umas minas um pouco mais velhas que eu. Mas com certeza, você ele vai querer que o chame de pai. Ele parecia feliz em poder te conhecer. – Falou me encarando, eu fiquei um pouco sem jeito com o que acabará de ouvir, então apenas sorri concordando com a cabeça. - Eu estava bem ansioso também. – Confessou segurando minha mão. – Você não fala nada? - Perguntou por fim.
- Falo, eu só... Não sei o que responder.
- Nunca sentiu vontade de conhecer o teu irmão mais gostoso?
- Caramba, nos conhecemos a menos de uma hora e já tenho certeza que você é o irmão mais convencido que eu poderia ter. – Disse sorrindo.
- Pelo menos consegui conhecer teu sorriso, ó. – Falou me sujando de chocolate.
- Para, seu chato! – Pedi o sujando também.
Começamos uma verdadeira guerra de chocolate e travesseiro naquele quarto, parecia que nos conhecíamos há anos, paramos quando a porta foi aberta.
- Pelo jeito já estão se dando bem... – falou divertido, encarando a cena.
- Ele é um chato! – Disse por fim, rindo.
- Seu sorriso é lindo. – O mais velho falou, parecendo encantado.
- Viu, sou foda, sei fazer qualquer garota sorrir, você perdeu a aposta. – disse divertido.
- Aposta? – Perguntei intrigada.
- É, o disse que se eu conseguisse fazer você sorrir, ele me deixaria trocar de carro... Consegui, amanhã vou na concessionária. – Falou divertido, enquanto me encarava, notando uma certa tristeza em mim, era tudo uma aposta, até onde foi verdadeiro comigo?
- Hey, que foi? – O mais novo me perguntou.
- Me deixa sozinha, por favor? – Pedi, segurando o choro.
- Mas o que aconteceu? – perguntou.
- Filha, não era uma aposta, quer dizer, não no sentido que você entendeu, eu apenas... – O mais velho tentava se explicar.
- Tá tudo bem, eu só quero ficar sozinha e descansar um pouco. – Menti, vendo os dois concordarem e saírem do meu quarto.
Uma semana passou e eu estava me adaptando a rotina de meu novo lar. Via pouco , ele parecia estar sempre bastante ocupado, mas sempre me procurava e tomava café da manhã conosco todos os dias. Ia pra escola com e voltava da mesma com ele, mas depois do primeiro dia, não me sentia confortável em sua presença, e ele não parecia se preocupar muito. Na escola, fiquei sozinha nos primeiros dias, até fazer amizade com uma menina, Lisandra. Ela era um pouco diferente de mim, mas parecia ser muito legal, estava morando em SP há pouco tempo, o que fazia de nós as novatas da escola, o que era bom, afinal estávamos descobrindo sozinhas vários lugares, dentro e fora de lá.
Depois da primeira semana, meus dias se dividiam em estudar e ficar na casa da Lisandra, ela conheceu meu pai e meu irmão, que não foi muito simpático com ela, mas a mesma não se importou, apenas gostou muito de um amigo do . Ele definitivamente era mais legal que , e muito mais simpático. Sempre que passava por mim, cumprimentava indiferente do lugar que estávamos. Ao contrário de , que desfilava cada dia com uma garota diferente, e logo parou de me dar carona, com a desculpa que não iria pra casa.
Na semana seguinte, me distraí na volta pra casa, e quando percebi dois caras me atacaram, roubando minha mochila e me tocando no chão, fazendo com que eu machucasse o rosto. Por sorte, Lisandra estava perto, e mesmo eu insistindo que não era preciso, me levaram até um pronto socorro, chamando meu pai logo em seguida.
Ele não demorou para chegar, preocupado com o que tinha acontecido.
- Não foi nada, eu estava voltando pra casa, dois caras que eu não sei de onde surgiram, roubaram minha mochila e me tocaram no chão, foi muito rápido, então eu acabei caindo e ralando o joelho e o rosto.
- Mas e o ? Onde ele estava? Aliás, onde ele está?
- Eu não sei, ele tinha um compromisso. – Falei com medo, ele não respondeu nada, apenas pegou o celular, saindo do quarto enquanto a enfermeira limpava meus machucados.
Voltou quieto, parecia bravo, e depois de algumas recomendações, fomos pra casa.
- Desculpa. – Falei entrando no carro.
- Pelo que? - Perguntou sem entender.
- Ter te preocupado e feito você sair do trabalho. – Disse me sentindo culpada, não queria e não poderia dar trabalho para ele, queria o colo de minha mãe naquele momento.
- Você não tem culpa de nada, eu só estou chateado com o , não é culpa sua. – Falou segurando minha mão. – Meu Deus! Eu fiquei tão preocupado. – Disse parecendo soltar o ar que estava preso a algum tempo.
- Eu estou bem. – Falei baixo.
- Graças a Deus, eu não me perdoaria se acontecesse algo, ela não me perdoaria. – Disse por fim, me abraçando pela primeira vez, e pela primeira vez, eu não o afastei.
- Está tudo bem. – Repeti, com voz falha, tentando segurar as lágrimas que insistiam em cair.
- Eu vou estar sempre aqui, sempre viu? – Ele disse beijando minha cabeça, com cuidado por culpa dos machucados.
- Obrigada... Por tudo. – Falei abraçando-o mais forte. Seu abraço era diferente, enquanto o abraço de minha mãe era acolhedor, o dele era protetor.
- Eu amo você. - Ele disse por fim, parecendo ter algumas lágrimas nos olhos. Ficamos um tempo assim, abraçados e depois de alguns minutos, coloquei o cinto e fomos para casa. Cheguei e fui direto pro quarto, segundo a médica eu havia batido a cabeça e precisava fazer repouso.
Horas depois pude ouvir uma discussão entre meu pai e meu irmão.
- Eu não sirvo pra ser babá! – falava alto.
- Eu não pedi pra você ser babá, ela é sua irmã, eu dou tudo que você quer, o que custa trazer ela pra casa em segurança?
- Custa muito! Eu tenho minha vida, e essa garota não abre a boca nem pra me falar oi!
- Essa garota é sua irmã!
- Ótimo, isso faz muita diferença. – Falou debochado.
- Eu quero que você esteja junto dela, durante o caminho para ida e vinda da escola!
- Eu não vou me atrasar pros meus compromissos.
- Que compromissos moleque?
- Qualquer um que não inclua ser babá de uma filha bastarda!
- Eu não te dei o direito de falar assim dela! – Ele disse com raiva.
- E afinal o que mais ela seria? Uma bastarda, filha da empregada! Não mandei você se apaixonar pela babá do teu filho e destruir teu casamento! Você matou minha mãe de desgosto e agora quer que eu seja legal com a causa de tudo isso?
- Você sabe que não foi isso que aconteceu, ela não tem culpa de nada! Não seja injusto.
- Eu sei? EU SEI? – Gritou. – Eu não sei de nada! Você nunca fala nada, mas um dia eu vou descobrir a verdade e você vai pagar! Agora não me venha com essas merdas de que eu tenho que ser um bom irmão, porque eu detesto essa garota e o que a mãe dela representou em sua vida.
- Você fala como se sua mãe fosse uma santa!
- Não fala da minha mãe!
- Não aguenta escutar a verdade?
- Você quem não aguenta carregar a morte de alguém nas costas. – Ouvi o mais novo falar com raiva e bater a porta, saindo de casa. Logo em seguida meu pai também saiu, me deixando sozinha em meio ao silêncio.
Não sai do quarto aquele dia.
Um dia se passou, e eu estava indo até a cozinha quando percebi que a porta do quarto de estava entre aberta. Bati na porta.
- Posso entrar? – Perguntei parada na porta.
- O que você quer? Eu não vou pedir desculpas.
- Você não precisa pedir desculpas, você não fez nada...
- Não é o que e o pensa. – Falou com raiva me interrompendo.
- Desculpa. – Disse triste, virando as costas.
- Você não veio aqui pra me pedir desculpas, veio? – Falou segurando meu braço, no corredor.
- Não, eu só... Queria saber minha história. – Falei com vergonha.
- Tua história? – Disse intrigado.
- É... Bem, eu ouvi a discussão de vocês ontem, e...
- Esquece aquilo, eu estava de cabeça quente. – Me interrompeu parecendo envergonhado.
- Esqueço se você me contar o que sabe.
- Você é teimosa! – Falou por fim.
- Um pouco... – Sorri com vergonha.
- Entra. Acho melhor a gente conversar. – Disse me convidando para entrar em seu quarto, e fechando a porta logo em seguida.
Sentei em sua cama e fiquei o encarando.
- Senta ai... – Apontou para cama. – Olha, eu. Desculpa, eu não queria falar aquilo só estava de cabeça quente. – Disse se desculpando.
- Você disse que não me pediria desculpas... – Ri o encarando.
- Aff, desconsidere as desculpas pedidas. – Riu também.
- Tudo bem, agora você pode me falar o que sabe sobre a história dele com minha mãe? – Perguntei ansiosa.
- O que você sabe?
- Eu? Nada, minha mãe não gostava de falar dele.
- Hum, entendi.
- Você não vai me contar nada?
- Você é ansiosa hein, calma.
- Você ficaria calmo no meu lugar?
- Por que você nunca perguntou pra ele, sobre?
- Por não ter intimidade.
- É, tem sentido. Bom, o que eu sei é que tua mãe era minha babá, os dois se envolveram, e então minha mãe acabou morrendo, eu não sei bem, mas minha vó dizia que a culpa era toda dele, que minha mãe morreu de desgosto, desculpa , eu sei que é tua mãe, mas eu odeio pensar que ele foi capaz de trair.
- Mas o pouco que minha mãe dizia era que eles se envolveram depois da morte da primeira mulher dele, e...
- , claro que ela vai falar isso, minha mãe não tá viva pra se defender.
- Nem a minha. – Falei me levantando e saindo do quarto. Fechei os olhos e me atirei na cama, em minha mente passava um filme, um pesadelo, revivi tudo que sofri, tudo que quis esquecer, aquilo não saia da minha cabeça, acabei dormindo um tempo depois, cansada de tanto chorar.
Acordei com batidas na porta de meu quarto, e em seguida entrou.
- Hey, vamos ver filme? – Falou sentando em minha cama, com um balde de pipoca.
- Que filme? – Perguntei intrigada com essa aproximação dele.
- Qualquer um... Eu só quero desculpa pra comer pipoca. – Disse ligando a televisão.
- Mas você não precisa assistir filme pra comer pipoca...
- Para de ser chata , vamos comer pipoca e ver filme, como irmãos normais.
- Aff, eu não sou chata! Vamos ver algum romance ou drama.
- Nem pensar, quero terror!
- Você disse que queria comer pipoca, eu escolho o filme!
- Tá, mas drama você vai chorar e romance da vontade de vomitar.
- Eu tenho o irmão mais chato do mundo!
- Eu tenho a irmã mais fresca do mundo! – Disse debochado, tacando pipoca em mim. Taquei nele também e então levei um susto com sua crise de “ai meu Deus, esse filme é perfeito”. – BATMAN! – Ele gritou. – É impossível alguém não gostar de Batman.
- O ator é bonito?
- Mulheres...
- Homens... Ops, garotos.
- Você vai ver o garoto... – Ele me encarou e por alguns segundos encarei seus olhos, desci minha visão até sua boca... Ele fez o mesmo, me encarando, e então tirou a camiseta deixando transparecer um corpo muito bonito, sexy. – Calor. – falou se justificando. Me culpei por naquele momento desejar meu irmão, e quis apenas voltar para o dia anterior e não sentir nada daquilo. Ele ficou quieto e iniciou o filme, me distrai com a história, mas como estava cansada dormi.
Acordamos abraçados, encarava o teto enquanto eu olhava para seu abdômen definido e com algumas tatuagens que ele tinha ali, ele era... Me perdi em pensamentos um pouco pervertidos, senti um calor interno e externo, e um arrepio correndo meu corpo, assim que senti os lábios dele em minha testa. Ele é meu irmão, e eu não posso nem sonhar em querer nada dele, além de afeto e carinho de IRMÃO.
- Bom dia, preguicinha. – Falou me abraçando apertado.
- Bom dia, chato.
- Já acorda de bom humor?
- Que horas são?
- Quase dez horas...
- Caramba, tô ferrada, preciso ir pra escola. – Levantei correndo buscando meu uniforme, parei olhando pra que ria descontroladamente. – Do que você tá rindo, ô retardado?
- De você, óbvio.
- Não sabia que eu era palhaça! – Falei com raiva.
- Se você fosse palhaça eu não iria rir e sim morrer de medo.
- Não acredito, tem medo de palhaços? – Gargalhei.
- Não é medo, eu apenas não gosto. – Falou desfazendo o sorriso.
- Se fodeu, sei teu ponto fraco!
- Sabe porra nenhuma, meu ponto fraco é outro!
- Qual?
- Quer que eu te mostre? – Falou se aproximando.
- Mostra! – Disse sentindo meu coração bater acelerado.
- Você é minha maninha, mas, sabe... Irmãos devem ensinar tudo para suas caçulas, não? – Me encarou analisando indiscretamente meu corpo.
- Devem? Tipo o quê? – Sentei ao seu lado
- , não faz isso comigo... – Ele apertou minha coxa.
- O que eu estou fazendo?
- Nada, você não está fazendo nada. – Ele levantou e foi tomar banho, me deixando sem reação.
Resolvi arrumar meu quarto e também tomar um banho frio para esquecer o que tinha acabado de acontecer. Aquilo não poderia se repetir.
Passei o dia repetindo o mantra “ele é teu irmão”. saiu para alguma balada, meu pai pelo jeito também teria compromissos, então acabei indo passar o resto do final de semana na Lisandra, precisávamos colocar o papo em dia, e ótima amiga que era me aconselhou a investir no meu próprio irmão. O que obviamente não o fiz.
A semana passou rápido, ia e voltava comigo da escola, às vezes protetor, outras um verdadeiro mala sem alça, não podia me ver falando com algum garoto que ficava bravo, emburrado e me ignorava o resto do dia. Desfilou pela escola com umas quatro meninas diferentes, todas com personalidade parecida, ou melhor, sem personalidade alguma. Como alguém conseguia aturar uns papos tão vazios? Bom, aturava, mas eles mal abriam a boca para falar, era um troca-troca de línguas frenético, que me davam nojo e uma certa dor na região do peito. Pensei que iria pirar, e que nada poderia piorar minha situação, mas as coisas podem sempre piorar.
nos ligou avisando que faria uma viagem de urgência para o Rio de Janeiro e voltaria apenas no domingo, no segundo seguinte marcou uma social em nossa casa e me convidou a retirar-me da mesma para que ele pudesse aproveitar melhor e sem preocupação. Obvio que não concordei, afinal a casa também era minha e então após brigarmos um pouco, venci a disputa e chamei algumas amigas para a “social”.
Tive que ajudá-lo a organizar as coisas, mas como ele estava acostumado com festinhas, tudo estava “sob controle”, por sorte a acústica do apartamento era ótima, vantagens de sermos filhos de músico... Poderíamos escutar música alta sem incomodar ninguém.
Meia noite e a casa estava lotada, vi se agarrando com duas loiras em um canto da sala, e senti vontade de vomitar. Antonny, um loiro, amigo de veio até mim e começamos a conversar.
Ele era legal, mas estava um pouco bêbado e um tempo depois começou a colocar as mãos em minhas coxas.
- Para. – Pedi retirando sua mão, enquanto o mesmo tentava colocar na parte interna da minha coxa.
- Qual é, você está em uma festa do , quer se fazer de santa?
- Qual é você garoto! Você está na minha casa e eu não te dei liberdade nenhuma!
- Deu sim, todas dão. – Falou colocando a mão novamente, me deixando com ainda mais raiva.
- Eu já mandei você tirar essas mãos de cima de mim! – Disse com raiva, tirando as mãos dele.
- Eu já disse que quem manda em mim sou eu e você é apenas mais uma vadiazinha. – Falou vindo para cima de mim. No momento que eu ia empurrá-lo, senti algo o puxando. Era .
- Quem você pensa que é pra tratar minha irmã assim? Quer morrer? – Disse com raiva, segurando o menino com força. – Eu perguntei se você quer morrer! – Repetiu, dando um soco no mesmo.
Enquanto alguns meninos tentavam segurar que batia incansavelmente no loiro, outros tentavam tirá-lo dali. Após separarem a briga e tirarem o menino da festa, resolvi que seria melhor ir pro meu quarto invés de ficar olhando várias meninas se atirarem pra cima do meu irmão.
Lisandra tinha ido embora, olhei no relógio e já passava das cinco horas da manhã, saí do quarto indo em direção a sala.
- O que você está fazendo? – Perguntei ao ver fumando e rindo sozinho, duas meninas estavam completamente nuas, dormindo no tapete da sala.
- Fumando, quer?
- Quê isso? – Disse olhando pras meninas.
- Quer mesmo que eu descreva? – Respondeu debochado.
- Escroto! – Falei voltando pro quarto.
- Por que escroto? – Disse me seguindo, notoriamente bêbado.
- Quer mesmo que eu responda? – Falei irônica.
- Não, eu quero outra coisa.
- Vai à merda, .
- Não quero ir à merda! – Disse impedindo que eu fechasse a porta.
- O que você quer? – Falei com raiva.
- Você! – Disse abrindo a porta e me empurrando, segurando forte em meus braços, enquanto selava nossa boca.
Em uma fração de segundos, e sem pensar, estapeei o rosto dele com raiva! Ele ficou sem reação por um momento, talvez acordando do transe em que se encontrava, percebeu o que havia feito e saiu do quarto sem falar nada. Tranquei a porta e deitei na cama rolando de um lado para o outro sem conseguir dormir. Minha vida estava uma bagunça, e só tinha Lisandra para conversar, não que isso fosse ruim, ela era uma ótima ouvinte e a melhor amiga que eu já tivera, além de minha mãe, mas estava tudo tão complicado, confuso, que eu não sabia como lidar.
Passei o dia no quarto, meu pai chegou à noite e fingi estar dormindo quando o mesmo bateu na porta. Não queria falar com ele, não queria falar com ninguém.
Sai mais cedo para não precisar encontrar . Não o vi na escola, muito menos na volta pra casa. Confesso que senti um certo alívio ao encontrar a casa vazia quando cheguei. Almocei e fui pro quarto, tinha algumas matérias para pôr em dia.
- Filha? – Fui acordada por meu pai, dentro do meu quarto me olhando intrigado.
- Ah, oi, aconteceu alguma coisa? – Perguntei tentando me ajeitar na cama, havia dormindo em meio vários livros.
- Acho que você precisa descansar mais e estudar menos... – Falou sorrindo sentando-se ao meu lado.
- Ah pai, eu só... – Percebi que havia o chamado de pai pela primeira vez. – Er, eu só estou um pouco cansada. – Disse com vergonha.
- Hum, descansa então... Eu só vim te dar um beijo, estava com saudades e quando cheguei você já estava dormindo. – Falou tentando não demonstrar o quão feliz estava em ser chamado de pai.
- Desculpa, eu estava cansada.
- Não precisa se desculpar, meu anjo. – Disse em tom fraternal. – Eu gostaria de fazer um pedido pra você...
- Fala. – Perguntei curiosa.
- Então, é que... Eu estou conhecendo uma mulher, ela é linda, e bem, queria que você e o jantassem conosco hoje.
- Hoje? Ah, eu tenho que... – Tentei achar alguma desculpa.
- Vamos, claro que vamos. – apareceu na porta do meu quarto, se metendo na conversa, apenas o fuzilei com o olhar, mas acabei aceitando o convite, afinal meu pai não poderia sonhar com o que tinha acontecido.
O mais velho saiu do quarto, feliz com a resposta e dando espaço para o mais novo, que entrou e trancou a porta.
- Podemos conversar?
- O que você quer?
- Conversar?
- Não quero conversar com você.
- , me escuta.
- Adianta eu falar que não, ? Adianta? Você liga para o que eu falar? Para as minhas vontades?
- Calma, não é assim.
- Fala logo! – Disse sem paciência.
- É que bem... Eu queria te pedir desculpas.
- Pelo que?
- Por... pelo beijo.
- Foi tão ruim assim? – Perguntei com raiva.
- Não lembro... Só lembro que te beijei, mas pra saber se teu beijo é ruim eu teria que...
- Cala a boca LEONARDO! –
- Faz! - Falou se aproximando.
- , por favor... Vai se divertir com aquelas vadias, vai!
- , me escuta!
- Você já mandou eu te escutar umas dez vezes hoje, e não falou nada.
- É, tem razão. – Falou sorrindo, aquele sorriso... – Mas agora eu vou falar.
- Então fala ué. – Cruzei os braços encarando ele.
- Você fica linda brava. – Sorriu, aquele sorriso debochado e lindo.
- Você é insuportável. – Bufei.
- Um insuportável que está completamente apaixonado por você.
- Apaixonado por mim? Tá doido? Nós somos irmãos, , irmãos!
- Isso não muda nada!
- , para! – Falei tentando afastar ele.
- Diz que não quer.
- Eu não quero sentir isso. – Falei falha.
- Mas sente desejo, vontade... E está na hora de matar esse desejo todo, sabia? – Disse brincando com meus lábios.
- Você fica com uma por dia, eu não quero! – Afastei ele novamente.
- Eu fico com uma por dia desde que você entrou nessa casa e colocou essa bagunça dentro de mim, mas nenhuma chega perto do que eu sinto, quando to junto de ti.
- Você tá maluco, só pode.
- Então você também está, porque eu sei que o sentimento é correspondido.
- Que sentimento?
- Desejo, amor, vontade... – Falou me dando selinhos, até que minha boca deu passagem para sua língua, deixando-me envolver em um beijo calmo e ao mesmo tempo viciante.
Ele explorava não apenas minha boca, mas sim meu corpo, suas mãos acariciavam minhas costas e desciam até a bunda, causando arrepios em todo corpo. Sentia minha respiração falhar, e mesmo com os olhos fechados, podia perceber o sorrido dele enquanto se distraia beijando minha boca, mordendo meus lábios e dando leves chupões em meu pescoço.
Ele foi me guiando em direção a cama, e por mais que minha cabeça mandava parar, meu corpo pedia pelo dele.
- , eu... – Tentei falar, quando percebi que já estava sem blusa e com ele beijando meus seios por cima do sutiã.
- Eu vou com calma... Se quiser parar me fala. – Falou ofegante.
- Eu... – Disse sem forças o fazendo me olhar. - Não para. – Pedi por fim.
Ele sorriu e concordou com a cabeça, tirando sua camisa e me deitando na cama. Subiu por cima de mim, tirando o short que eu vestia, enquanto distribuía beijos e chupões pela minha coxa, após juntar sua bermuda, com os shorts, percebi um volume em sua boxer preta. Senti um frio me arrepiar internamente, talvez medo do que me esperava, medo da ressaca moral que teria depois daquilo. não parecia se importar, mordiscou meu clitóris, por cima da minha calcinha, e subiu os beijos, tirando meu sutiã. Ele beijava um seio, e alisava o outro com uma mão, a outra brincava com minha calcinha. Eu estava completamente molhada, quando senti seus dedos acariciarem minha intimidade, gemi, queria mais, precisava de mais.
Meu corpo correspondia ao dele, a cada estimulo. Ele arrancou minha calcinha e desceu os beijos até minha vagina, beijando, mordendo, chupando e penetrando a língua em minha intimidade, estava a ponto de explodir, quando senti algo duro sem depositado na entrada da minha vagina. Ele me olhou e eu concordei com a cabeça, o abraçando forte, enquanto ele entrava lentamente dentro de mim. Senti um leve desconforto, mas logo me acostumei com a posição que estávamos e o desconforto se transformou em prazer.
Gemia baixo em seu ouvido pedindo por mais.
- Minha, você é minha, isso, gostosa, rebola vai, rebola. – Ele falava mordiscando minha orelha e beijando meu pescoço. Depois com força me virou de costas e penetrou novamente, dessa vez em um ritmo mais rápido e acelerado, gemendo muito e alisando meu clitóris, enquanto pulsava dentro de mim. Senti meu corpo explodir em pedaços, senti-me exausta e ao mesmo tempo feliz, que droga era aquele que ele tinha me dado? Era minha primeira vez, e eu estava viciada naquilo, queria mais, queria mais sexo, queria sentir meu irmão dentro de mim o tempo todo.
caiu logo em seguida ao meu lado, igualmente exausto me puxou pra junto de si, verificou algo em seu celular, retirou uma toalha que havia colocado embaixo de mim sem que eu percebesse, pude ver uma pequena mancha de sangue e agradeci a Deus por não ter saído muito.
Acabei dormindo logo depois e acordando com meu celular tocando, era meu pai avisando que nos buscaria em trinta minutos.
Corri pra me arrumar e fiz correr também, logo estávamos na sala, sentados um em cada sofá, tarava minhas pernas o que me dava vontade de socá-lo, quando ia reclamar do que acontecia, meu pai abriu a porta.
- Cheguei, meus amores. , arruma essa camisa!
- Qual é velho, o que tem de tão importante nesse jantar? – Disse deitando a cabeça em meu colo, me fazendo corar.
- Nada, só vou apresentar meus filhos para uma mulher importante. – Sorriu apaixonado.
- Mulher importante? Ih, vai ser algemado, quem diria, o grande , algemado.
- Mulher nenhuma me prende... Mas essa é especial e trate de se comportar.
- Pode deixar, não vou dar em cima dela, mas conta aí, ela é gostosa? – Provocou. – Aii. – Deu um grito um pouco alto, após levar um beliscão meu.
- Que foi?
- Nada, só senti uma fisgada na... Perna.
- Filha, tá tudo bem? – Perguntou me encarando.
- Tá sim, estou sobrevivendo ao irmão mais chato do mundo. – Disse tirando de meu colo e pegando a bolsa para irmos ao tal jantar.
O jantar foi bem agradável, Mellina era uma mulher muito simpática, tinha a idade de e pelo jeito era bem resolvida profissionalmente. Os dois pareciam ter uma química ótima, e a maneira que os olhos de ambos brilhavam, me causaram até um pouco de inveja, queria tanto que ele tivesse tido uma relação assim com minha mãe. Mas não poderia viver de passado, ele estava feliz e era uma boa pessoa, talvez algum dia eu pudesse perguntar o que realmente aconteceu, mas sentia que ainda não era o momento.
Dois meses voaram literalmente, passamos no vestibular, ele pra música, eu para arquitetura, e como presente nosso pai nos deixou escolher o local para onde iríamos viajar. Eu e não desgrudávamos mais, morria de ciúmes dele com outras meninas e ele zombava de mim por isso, acabávamos brigando algumas vezes, mas no mesmo dia fazíamos as pazes, e com a desculpa de “estávamos assistindo filme”, acabávamos dormindo juntos todos os dias. Meu pai parecia feliz e não notar a relação que tínhamos, ele e Mellina estavam cada dia mais grudados, e como a mesma morava sozinha, ele praticamente se mudava pra lá nos finais de semana.
Depois de algumas divergências e de nosso pai falar que poderíamos ir um para cada local (o que jamais aconteceria, pois eu não deixaria sozinho em lugar nenhum, sabia muito bem da fama de meu “irmão”), acabamos escolhendo ir para Amsterdã, aquele lugar fascinava nós dois.
As malas já estavam prontas, em dois dias viajaríamos para a maior e melhor viagem da minha vida, meu coração parecia pular do peito, toda vez que pensava nisso. Ouvi um barulho na porta e corri pra ver o que era, comecei a rir descontroladamente enquanto encarava um coberto de lama!
- O que aconteceu? – Perguntei rindo.
- Você estava certa...
- Sobre? – Perguntei ainda rindo.
- Ia chover.
- Hum, é eu estava certa, mas não sabia que caia lama do céu.
- E não cai! Mas o idiota do Lecter levou o cachorro dele junto e ele tomou banho naquela rua de lama, depois se sacudiu todo nos sujando.
- Que dó. – zombei.
- Muita dó... Se eu fosse você – disse se aproximando – me ajudaria no banho.
- E o que eu ganho em troca? – Perguntei o encarando, por um momento esqueci que nosso pai havia chegado há pouco em casa.
- Isso! – Ele respondeu me beijando, eu imediatamente correspondi o beijo.
- Você está me molhando toda. – Ri o encarando, mas o mesmo seguiu atônico, olhando para o corredor.
- O que... – Comecei a falar me virando e encarando nosso pai, vermelho, com uma expressão de raiva.
- Desde quando? – O mais velho disse depois de um tempo.
- Pai eu... – começou a falar.
- Cala a boca! – Ele disse com raiva.
- Desde quando você tem seduzido meu filho?! Vamos , o é homem, pensa com a cabeça de baixo, mas você... Você é mulher, mulheres sabem como seduzir um homem, e pelo jeito você sabe direitinho né? Sua mãe ficaria orgulhosa da... Vadia que criou! – Disse com raiva, eu não conseguia responder nada, senti meu peito doer e as lágrimas saírem livremente pelo meu rosto.
Não existia explicar, eu não tinha como explicar o fato de estar apaixonada pelo meu meio irmão, eu e éramos um erro, um erro que doía em mim pensar em não existir, mas que deveria ter um fim, deveria acabar.
- Não fala assim com ela! A culpa foi minha, eu que insisti! Eu a amo! – disse me defendendo.
- Eu já mandei você calar a boca, seu moleque! – gritou, se aproximando. – Vai pro seu quarto agora! Os dois, cada um pro seu quarto agora!
- Você não manda em mim! – respondeu.
- Por favor, ! – Pedi chorando indo em direção meu quarto.
- Eu falei que você não... – tentava repetir, mas foi mais rápido e segurou ele pela camisa, fazendo ir para seu quarto. Trancou-nos cada um em seu próprio quarto, e após alguns gritos desaforados de a casa ficou em silêncio.
Um tempo depois a porta se abriu e vi a figura do homem que tantos sentimentos diferentes e mistos já senti.
- Precisamos conversar. – Ele disse indo até a cama e sentando em minha frente.
- Eu não sei o que falar. – Falei com vergonha de tudo.
- Por quê? – Perguntou me encarando.
- Eu agi errado, eu... – Tentei formular uma frase, mas era tão difícil.
- Você agiu muito errado! Vocês são irmãos, IRMÃOS, você sabe o que é isso? – Ele me olhava com raiva, eu não sabia o que responder, só conseguia chorar. – Agora não adianta chorar pelas merdas que fez, você não é nenhuma criança, sabe muito bem diferenciar o certo do errado, e o que você fez esta completamente errado! Eu vou conversar com o seu IRMÃO também, e espero que o que eu vi, nunca mais aconteça! Se não serei obrigado a te mandar para algum outro lugar, até que complete dezoito anos e saia da minha responsabilidade. – Falou por fim, transparecendo e me culpando por tudo que tinha acontecido.
Fiquei quieta em meu quarto, chorando em silêncio. Não vi aquela noite, e queria poder não ver ele mais.
Na manhã seguinte ouvi leves batidas em meu quarto e abri, com um certo medo do que escutaria.
- Hey, como você tá? – Perguntou entrando e me abraçando.
- Acho que... Eu estou péssima. – Falei me distanciando dele, enquanto o mesmo tentava me dar um beijo. – Nós não podemos!
- Por que aquele idiota acha que manda?
- Porque somos irmãos, por Deus, , não torna as coisas mais difíceis do que já são! – Falei triste.
- Você quem complica tudo! – Falou emburrado.
- Eu complico? , nós somos irmãos, e se nosso pai me ver com você novamente, ele me manda pra bem longe daqui!
- Ele não seria doido, e para de pensar nisso, não deixa ele fazer lavagem cerebral em ti, vem e me ajuda a achar as chaves do meu carro.
- Você perdeu as chaves? – Perguntei confusa, ele agia como se nada demais tivesse acontecido.
- Não, o idiota tirou as chaves do meu carro, porque eu falei umas merdas pra ele! Sabia que ele cancelou nossa viagem?
- . – Pedi segurando seu braço. – Você tem noção do que aconteceu ontem?
- Ele me viu beijando a garota que eu gosto, o que tem demais nisso?
- A garota que você gosta... é sua irmã.
- Foda-se, eu amo do mesmo jeito. – Disse marrento, roubando um selinho meu.
- Eu pedi pra você não fazer mais isso. – Falei com raiva, mas o mesmo não pareceu ligar muito, saiu do meu quarto indo em direção ao quarto de e revirando tudo que tinha lá.
- , para! – Falei entrando no quarto, mas ele estava tão distraído que não percebeu minha presença. – O que você está fazendo? – Perguntei me aproximando. estava de costas pra mim, com um papel em mãos, lendo concentrado. Ao chegar perto percebi que era a carta que minha mãe havia deixado pra . – , isso é do , é particular.
- O que está acontecendo aqui? – Ouvi a voz de meu pai com raiva. – , você está mexendo em minhas coisas?! Me dá isso. – se aproximou, tirando de o papel.
- Quem você pensa que é pra esconder isso por tanto tempo? – falava com raiva nos olhos, o que tinha escrito ali, que causara isso nele, eu não sabia, mas queria e precisava descobrir logo.
- Isso não é de sua conta! – falou com raiva.
- Isso é a vida da , como você pôde? Me diz, como pôde?! – Ele falava com raiva, encarando o pai.
- Você é um insolente. – começou a falar e então interrompi os dois.
- Chega! – Falei mais alto, fazendo com que o olhar de ambos caíssem sobre mim, todos em silêncio. – Acho que já passou da hora de você contar o que são esses segredos e responder os porquês que existem em minha cabeça, e que tanto eu como você sabemos quais são.
- Melhor eu... – tentou desconversar.
- Para de fugir, e conta logo! – disse tomando a carta de e me entregando, quando desviei o olhar dele, para ler o que continha aquele papel, ele voltou a falar.
- Espera, eu vou contar pra vocês tudo que aconteceu, sentem os dois, e , me deixa falar! – Ele sentou em um sofá próximo a cama, enquanto nós sentamos em sua frente. - Quando conheci a mãe de , éramos muito novos e não sabíamos praticamente nada da vida, foi com ela que vivi meu primeiro amor, o primeiro beijo, primeira relação sexual... Tudo. Jamais pensei que olharia para outra mulher, então ela acabou engravidando e casamos logo em seguida, era o certo a fazer e pra mim não seria nenhum sacrifício ter a mulher que eu amo ao meu lado o tempo todo. Mudamos para uma casa muito bonita que ficava no centro da cidade, como nossa família sempre teve boas condições financeiras, não precisávamos nos preocupar com dinheiro. Eu trabalhava na escola de meu pai, como diretor, era uma escola de artes, com minha mudança pra SP, acabei vendendo a mesma, e hoje ela não existe mais. – Ele falava com calma, eu e mal respirávamos, queríamos conhecer toda história. – Então você nasceu. – Disse olhando pro - e sua mãe sofreu uma depressão terrível, antigamente não se sabia muito sobre a depressão pós-parto, mas aquilo acabou matando ela aos poucos. Ela não queria comer ou amamentar, rejeitava o fato de ter nascido um menino de dentro dela, e eu não conseguia entender o por quê, você era lindo, tão pequeno, tão indefeso. – Ele falava com os olhos brilhando, demonstrando que a qualquer momento as lágrimas cairiam. se encontrava como o pai, estava doendo saber da rejeição da mãe, ele fez menção em falar, mas pedi para que deixasse continuar. – Foi ai que sua mãe entrou em nossa vida. – Disse me encarando. – Lena era linda, doce, meiga, delicada, como você é, se clones existissem na época, eu diria que você é um clone dela, de tão parecida, e talvez por isso te olhar me cause tanta dor. - Acabamos mudando para fazenda, onde morava a família de Charlotte, ela tinha alguns irmãos, e a mãe ainda era viva na época, Lena foi contratada pra cuidar de você , e lhe dava tanto amor que acabei me apaixonando pela forma que ela te tratava. Dentro daquela casa eu não tinha amigos, mas tentava enfrentar tudo e respeitar sua mãe o máximo possível. Em uma noite fria, Charlotte tentou se matar se jogando em um rio que havia perto da casa, por sorte eu tinha ido cavalgar para tentar esquecer um pouco os problemas, e vi a mesma se atirando, mas quando cheguei perto ela já havia engolido um pouco de água e ficado bastante tempo dentro da água gelada. Depois daquilo sua saúde piorou muito, além da depressão e de não querer tomar os remédios, Charlotte contraiu uma gripe forte que se transformou em pneumonia. Um pouco antes de morrer, uns dois meses depois desse episódio, ela me contou o motivo da depressão, disse que eu não deveria chorar, pois ela não mereceria qualquer sentimento bom de mim. Ao questionar o porquê, ela disse que havia se apaixonado por outro homem, e que antes de nos casarmos, havia transado com ele, engravidando.
- Você ta me dizendo que eu não sou seu filho biológico? Mas como? Minha mãe não faria isso, ela não faria. – chorava como uma criança pequena, aquele com certeza estava sendo o pior dia da vida dele.
- Desculpa – falou chorando igualmente o filho, e se aproximando o abraçando. – Eu amo você desde o dia que soube que você existia dentro dela, e nada nem ninguém vai mudar o que sinto por ti, , nada! – Falou segurando o rosto do mais novo, fazendo com que seus olhares se encontrassem.
- Desculpa. – Foi tudo que disse, antes de abraçar o pai. – Mas e a carta? – Perguntou um tempo depois.
- Eu já vou explicar... – disse tentando se recompor um pouco. – Charlotte morreu na mesma noite que me confessou o que tinha feito, depois do enterro peguei e Lena e fui para a antiga casa que morava. Lá acabamos nos aproximando mais e estávamos de casamento marcado quando ela descobriu que estava grávida de você. Apressamos um pouco as coisas, já que a barriga estava começando a aparecer e vivemos tempos felizes naquela casa. Você nasceu linda e delicada, era cópia de sua mãe, mas muito apegada a mim. sempre foi um ótimo irmão mais velho. Estávamos bem e felizes, eu viajava bastante a trabalho, e ela cuidava de vocês em casa, éramos uma família normal. a chamava de mãe e isso causava uma alegria imensa nela, afinal pra ela você – apontou para - era seu filho e fim de papo. Mas então eu fiz a pior merda da minha vida. Com o tempo, os irmãos de sua mãe venderam a parte que tinham em algumas propriedades, e dividíamos duas fazendas com o irmão mais velho dela, ele era conhecido por ser muito mulherengo e amava torrar dinheiro, acabou adquirindo várias dividas, com isso queria vender uma fazenda que pertencia 50% a você, e 50% a ele. Eu não me importava muito com aquilo, mas Lena amava aquele lugar, e eu não queria deixá-la triste, nós havíamos nos conhecido lá, quando Charlotte estava doente, você havia nascido lá, enfim, pra ela o fato de seu filho de coração ter nascido em um lugar tão bonito como aquele, era motivo de nunca se desfazer, com isso eu me recusei a vender, e sem minha assinatura, negócio nenhum seria fechado.
Percebendo que era por culpa dela que não fechávamos negócio, aquele filho da mãe armou e eu caí em sua armadilha. Em uma sexta-feira cheguei em casa e encontrei a mesma silenciosa. Todos dormiam. Fui até o quarto de vocês, dei um beijo no rosto de cada um e me dirigi ao nosso quarto. Quando entrei, encontrei Lena dormindo, nua, com um desconhecido em nossa cama. Eu não pensei muito, parti pra cima dele, ela acordou meio grogue, e a acusei de além de estar dormindo com outro cara em nossa cama ter bebido e deixado nossos filhos sozinhos e a mercê daquilo. Fiz uma mala com algumas coisas minhas e de , e mesmo com ela implorando para que eu ficasse, implorando que eu acreditasse nela e que ela não sabia o que estava acontecendo, eu a ignorei, e mandei cuidar de você, pois duvidava inclusive da sua paternidade. Deixei Lena chorando, você chorando e levei comigo. Mudamos pra São Paulo e por muito tempo, você perguntava por sua mãe e irmã, falei que estavam mortas, eu estava com raiva, vendi tudo que tinha lá, inclusive a casa que morávamos, deixando ela sem nada. Eu fui um monstro, e o que fiz não merecia perdão. Com o tempo e apanhando da vida, aquela noite não saia de minha cabeça, mas por orgulho, tentava me convencer que havia sim sido traído. Seu tio acabou ficando doente, tuberculose e HIV... Devido às noitadas, e pediu para me ver. A contra gosto eu fui até lá, ele acabou me contando que havia armado aquilo, pois precisava me convencer a vender a fazenda... Minhí vontade era matá-lo com as próprias mãos, mas a vida já estava se encarregando disso. Sai do hospital e a primeira coisa que fiz foi comprar uma passagem de volta, mas não sabia pra onde ela tinha ido. Consegui encontrar uma irmã, que me disse que ela estava morando em outra cidade, mas se recusou a dar o endereço para mim, contudo aceitou entregar uma carta para Lena. Eu escrevi talvez a carta mais importante da minha vida, falando que a amava e que esperava algum dia ter seu perdão, deixei meu endereço na carta e vivi todos esses anos esperando alguma notícia de vocês.
Desde que eu vim pra São Paulo, nunca mudamos de endereço e eu nunca me envolvi com ninguém, por ter esperanças de algum dia poder voltar no tempo, de poder viver meu amor com a mulher que eu mais amei e que me fez tão bem, em tão pouco tempo. Mas isso não aconteceu.
Quando fui avisado da morte dela, voltei imediatamente para o Rio Grande do Sul, te conhecer fazia meu coração sair pela boca, finalmente eu iria ver como você estava, não queria que fosse em um momento tão difícil, mas se Deus queria que fosse assim, que era eu para contrariar a vontade dele?
Quando você me entregou a carta que ela havia me deixado, meu coração parecia que estava prestes a quebrar em pedaços, esperava reviver todos os meus erros, mas ao contrário do que pensei que estaria escrito ali, ela apenas me agradeceu por ter ido ao teu encontro e pediu para que eu cuidasse bem de ti, bem da “nossa filha”, disse que me perdoava pelo que eu havia feito, e pediu perdão, pois sabia que eu havia voltado, mas me privou de te conhecer e te ver crescer. Eu nunca vou me perdoar do que eu fiz, de ter perdido teus primeiros passos, de ter lhe feito passar o dia dos pais, sem um pai... De não ter sido presente na vida da minha filha. Acho que nessa história todos perdemos muito, e eu não queria mais errar, queria cumprir a promessa que fiz enquanto lia a carta de Lena, de cuidar e proteger você, mas eu sou um idiota, só faço merda, e te fiz chorar novamente! Eu não consigo ser um bom pai, eu...
- Hey, você é o melhor pai que eu poderia ter. – disse abraçando o pai, enquanto eu me levantava e saia dali.
- Onde você vai? – perguntou se aproximando.
- Eu preciso ficar sozinha. – Pedi indo pro meu quarto.
Finalmente eu sabia minha história, e não sabia o que sentir, além de ser eternamente grata pela mãe que tinha. Não sabia se amava ou odiava o homem que me deu a vida. A vida não machucou apenas uma pessoa, machucou todos nós, e agora eu sabia que aquele cara errava, mas estava tentando acertar.
Father, I'm gonna say thank you
Even if I don't understand
Oh, you left us alone
I guess that made me who I am
Por ela eu tinha me tornado quem sou, foi minha mãe que sempre me protegeu e ensinou tudo da vida, foi ela quem se desdobrou em duas, três... Para me dar tudo que precisava e criar da melhor maneira possível. Hoje sinto a presença dela junto de mim, e mesmo com toda dor da saudade, confio que aos passos do pai, e aos olhos de meu pai, não vai me faltar amor.
Fiquei um tempo no quarto, apenas observando uma pequena foto que guardava comigo desde criança, era a única foto que eu tinha de minha família, nela meu pai me segurava no colo, e beijava a bochecha de minha mãe. Todos sorriam.
Saí do quarto e encontrei e sentados na sala, em silêncio, eles levantaram no momento que me viram sair pela porta, e então abracei , um abraço que nunca havia dado ou ganhado dele, um abraço de saudade, de uma filha que perdoava o pai por ter sido abandonada, por ter vivido tanto tempo sem o amor do mesmo.
, com ciúmes, se juntou a nós, em um abraço triplo. Foi então que abriu a boca pela primeira vez.
- Se você machucar minha filha, eu te mato moleque. Você é meu filho, mas ela é a rainha da casa, então... É bom tomar cuidado, ou vai ter o brinquedinho aí cortado. E sexo só depois do casamento, e casamento só depois que você – olhou pra mim – completar quarenta anos!
Em meio lágrimas, gargalhamos e abraçados tivemos a certeza que algo muito bom estava começando.
I know you were a troubled man
I know you never got the chance
To be yourself, to be your best
I hope that Heaven's given you
A second chance
Via alguns homens de preto descerem o caixão de onde minha mãe jamais sairia, ela era a única família que eu tinha e me perguntava se havia feito algo tão ruim para merecer isso. Órfã aos dezesseis anos.
Não sabia praticamente nada de meu pai, apenas que minha mãe fora casada com ele, mas logo depois do meu nascimento, ele nos deixou, mudando de estado com o filho mais velho, meu irmão.
Já me perguntei algumas vezes como seria minha vida se tivesse um pai presente, mas nem a voz dele eu conhecia, visto que minha mãe nunca havia me deixado falar com ele, e o mesmo nunca demonstrou interesse em me ver.
Os dias passaram e fiquei hospedada na casa de minha melhor amiga, a família dela sempre foi muito acolhedora, e quando recebemos a visita de uma assistente social, falaram em seu interesse em me adotar. Era complicado, me sentia atrapalhanda. Queria poder voltar pra casa, mas o fato de ser menor de idade me impedia. Até que uma semana depois, a assistente social voltou até a minha amiga para contar que haviam encontrado meu pai e que o mesmo tinha demonstrada interesse em cuidar de mim. Um frio percorreu minha espinha, como ficaria aos cuidados de um cara que eu nem conhecia? Ele era meu pai, ok. Mas eu não sabia nem ao menos como era sua voz. E meu “irmão”? Sentia que o meu pesadelo estava apenas começando.
A visita foi marcada para o dia seguinte, como estudava no período da manhã, fomos até o local combinado logo após o almoço. Tivemos o acompanhamento da assistente social e dona Noemi, mãe de Krish, minha melhor amiga. Chegamos no horário combinado e um homem nos esperava. Ele vestia um sobretudo preto, calça jeans azul escura e sapatos pretos. Ao vê-lo, tive a impressão de já conhecê-lo, porém não sabia de onde, talvez fosse o “sangue correndo nas veias”.
- Oi. – Falei tímida, me sentando ao lado de Noemi.
- Boa tarde. – Disse a assistente social.
- Olá! – Falou com voz grave, sem demonstrar qualquer sentimento.
Fiquei olhando para ele de cima a baixo, ele estendeu sua mão cumprimentando-nos e então sentou novamente. Confesso que não recordo de nada que foi dito, eram apenas questões burocráticas onde a assistente social explicava que ele sendo meu pai, e nunca faltando com suas responsabilidades, teria direito em me levar junto de si. Em nenhum momento me perguntaram o que eu queria, ou se concordava com tudo aquilo, mas diante dos últimos acontecimentos, achei melhor ficar calada e deixar que decidissem por mim. Só queria um lugar pra ficar até completar dezoito anos e não atrapalhar ninguém.
Na noite anterior, fui responsável por uma briga entre Krish e seus pais, onde ela dizia que queria ter seu quarto novamente, era evidente que ela estava com ciúmes, não podia culpá-la, ela era filha única e embora fosse minha melhor amiga, nunca gostou de dividir nada.
Por fim, as duas mulheres se retiraram nos deixando a sós.
Ele esfregava as mãos em suas pernas, sem saber como se dirigir a mim. Eu encarava o chão, e por vezes olhava timidamente pra ele, meu pai era lindo, com certeza faria muito sucesso entre minhas amigas, parecia mais jovem do que realmente era, e por um segundo senti curiosidade em saber como seria meu irmão.
Também queria saber o que aconteceu e por que ele nunca quis ter contato comigo, mas aquele não seria o melhor momento para perguntar.
- Você é muito bonita. – Falou quebrando o silêncio e sentando-se ao meu lado.
- Obrigada. – Falei timidamente.
- Parece com sua mãe. – Disse sorrindo.
- Isso é bom? – Perguntei sem pensar.
- Acho que sim. – Disse sem entender a pergunta.
- Você já ouviu falar em São Paulo? – Perguntou me encarando.
- Sim. – Era obvio que já, quem nunca havia ouvido falar em São Paulo? Tá certo que minha cidade não era lá uma cidade “moderna”, mas qualquer cu do mundo, sabia da existência de SP.
- Eu moro lá, com seu... Irmão. Programei nossa ida daqui dois dias, espero que não tenha problemas pra você.
- Acho que não tem problema, só preciso ver como fica minha escola, eu estou no último ano, então não queria reprovar.
- Já vi isso com a assistente social e um dos meus advogados, eles já resolveram tudo e matriculei você na mesma escola que o .
- Ele ainda estuda? – Perguntei surpresa, afinal minha mãe sempre contava que eu era 2 anos mais nova que ele.
- Está no último ano... Ele não é o melhor aluno da escola, então, reprovou algumas vezes.
- Entendi. – Falei por fim, vendo o assunto morrer, até que ele novamente quebrou o silêncio algum tempo depois.
- O que você gosta de fazer?
- Não sei, essa pergunta é meio... Complexa. – Falei sem saber o que responder.
- Pois é, acho vamos ter tempo de descobrir a partir de agora. – Falou e eu concordei com a cabeça, então ele continuou. – Quero que você sempre me diga do que gosta ou não gosta, tá? Eu sou meio desligado, mas vou tentar ao máximo não esquecer. – Disse sorrindo.
- Você é casado? – Perguntei, sem prestar muita atenção no que ele falava, sempre tive essa curiosidade e acho que seria bom eu saber disso antes de chegar em sua casa e encontrar alguma mulher me odiando, por ser filha de talvez até um possível caso dele.
- Não, eu não costumo ficar fixo com uma mulher. – Falou demonstrando um pouco de vergonha.
- Hum, entendi...
- Moramos apenas eu e o , em um condomínio muito bom lá, fica perto do meu trabalho e da escola do , perto do centro também, dependendo do horário... Lá o transito é meio infernal, então o perto pode levar algumas horas pra chegar.
- Eu não quero atrapalhar vocês. – Falei triste.
- Você não vai nos atrapalhar, nunca. – Disse segurando minha mão. Embora recebesse carinho de dona Noemi, o toque dele era diferente, me fez sentir um aperto no peito. – Quero que saiba, que pode contar comigo pra qualquer coisa, viu? Eu não queria que aquilo tivesse acontecido, mas estou aqui pra te ajudar a enfrentar isso.
- Não gosto de falar disso. – Falei segurando o choro, ele era meu pai, mas era um completo estranho. Aliás, minha vida era rodeada de estranhos, e a única pessoa que eu considerava próxima o suficiente pra confiar, tinha partido, me deixando pra sempre.
- Tudo bem, me desculpa. – Falou sem saber como agir, eu apenas concordei com a cabeça, afastando sua mão da minha.
A assistente logo voltou pedindo para falar comigo. Depois de tudo, ela queria ouvir minha opinião? Acompanhei-a até uma pequena sala onde ela explicou que pelo fato de ter dezesseis anos minha opinião era importante pra eles. Fez uma série de perguntas e deu três opções: ficar com meu pai, a casa da minha (ex) melhor amiga, afinal ela parecia estar me odiando e temendo perder o lugar de filha preferida, e um lar de meninas, que provavelmente seria em outra cidade e estaria superlotado. Escolhi a primeira opção.
Ainda naquela tarde fomos em um carro alugado por ele até a casa em que eu estava “hospedada”. Tia Noemi se culpou por não poder ajudar mais, mas Krish havia se machucado em uma atividade de Educação Física na escola e ela teve que acompanhar a filha, me deixando sozinha com ele.
As coisas que havia levado para casa dela estavam arrumadas em uma pequena mala, já colocada no porta malas do carro, faltavam as coisas que eu havia deixado em minha antiga casa.
Ele estacionou em frente ao pequeno chalé de madeira, desci e respirei fundo, tentando achar coragem para voltar aquele lugar que trazia consigo tantas memórias.
Abri a pequena porta e sorri lembrando da última vez que havia visto ela ali. Ela estava sentada em frente uma pequena mesa, corrigindo algumas provas. Minha mãe era professora, e mesmo com toda doença que enfrentava odiava faltar trabalho, dizia que os dias junto de suas crianças eram umas das poucas coisas que lhe davam prazer. Poderia até mesmo sentir ciúmes de seus pequenos, mas o amor que ela dedicava a mim, era tão forte e intenso que agradecia todos os dias por ter uma mãe tão presente. Minha mãe-pai sempre fez o possível e impossível para me ver bem e feliz, e por isso sabia pouco de minha origem. A única coisa que á deixava triste, era quando tocava no assunto “meu pai”. Não queria ser motivo de tristeza pra ela, sabia que ele existia e morava em São Paulo. Sabia também que tinha um irmão mais velho, filho dele com outra mulher, mas não sabia se os dois haviam namorado ou algo do tipo, lembrei que ela havia me dito sobre uma carta pra ele, caso o pior acontecesse com ela, e então subi apressada as escadas chegando até seu quarto.
Ele foi atrás de mim, sem falar nada. Mexi em algumas gavetas, até achar o envelope rosa claro, entreguei para ele.
- Ela pediu que eu lhe entregasse isso, caso o pior acontecesse. – Falei tentando segurar as lágrimas, aquele lugar tinha o cheiro dela. Ele concordou com a cabeça e pegou o envelope, se aproximando de mim e fazendo com que eu me afastasse.
- Por que você não me deixa te tocar? Deixa pelo menos eu te dar um abraço? Você perdeu sua mãe, não precisa ser forte o tempo todo. – Falou tirando algo que estava engasgado dentro dele. Eu não respondi nada, apenas saí do quarto dela, indo para o meu.
Tranquei a porta, assim que entrei e sentei na cama, deixei sair todas as lágrimas que estavam presas dentro de mim.
O único pedaço do qual eu sentia pertencer não estava mais lá. Mesmo assim conseguia sentir seu cheiro pela casa, conseguia ouvir sua risada falando que eu definitivamente não pertencia as exatas, ou que meus avós ficariam orgulhosos da neta que tinham. Minha mãe falava constantemente da saudade deles, principalmente depois que descobriu sua doença, já em estágio avançado. Me sentia egoísta em todas as noites rezar para que ela ficasse mais tempo comigo, mesmo sabendo de seu sofrimento, me sentia egoísta em sentir ciúmes de meus avós, pois hoje eles em algum lugar melhor estavam junto dela. Queria sim saber o porquê de ela não falar sobre meu pai, mas tinha certeza que mesmo ela tendo cometido algum erro, nada me faria amar e admirar menos aquela mulher.
O amor dela era o bastante para que eu me sentisse a criança mais amada do mundo, e talvez isso fez com que eu nunca lhe desse trabalho. Sempre tirei as melhores notas da escola, nunca fiquei em recuperação ou ganhei alguma advertência, e mesmo com todos seus problemas de saúde, minha rotina era escola – hospital - escola. Sem faltar aula, pois queria ver ela alegre com minhas notas, queria dar pelo menos um mínimo de alegria para alguém tão guerreira.
Fiquei trancada ali durante horas, notei que era noite quando olhei pela janela e uma lua cheia iluminava o céu. Terminei de guardar algumas roupas e pertences pessoais e saí do quarto encontrando dormindo no sofá. Ele segurava o envelope que minha mãe havia deixado, estava aberto, e seu rosto ainda estava um pouco vermelho, o que indicava que ele havia chorado.
Toquei levemente seu ombro, sem saber a melhor maneira de acordá-lo. Ele pulou no sofá me dando um susto e se assustando também. Senti vontade de rir, ele então sorriu e pegou a mala de minha mão.
- Está pronta?
- Sim, acho que podemos ir.
- Até que você não usa tantas coisas, mulheres geralmente viajam com bem mais bagagens. – Disse sorrindo.
- Pois é... – Falei tímida. Verdade era que eu não tinha muitas peças de roupa, minha mãe trabalhava bastante, mas não ganhava proporcional ao seu trabalho. Criar uma criança/adolescente sozinha, não era fácil, então nunca pedia nada, tentando gastar ou dar o mínimo de trabalho possível. Conclusão: tinha apenas o básico, que toda menina devia ter.
Fomos até o carro, e como minha cidade ficava longe da capital, acabei dormindo na primeira hora da viagem. Acordei com o carro parando em um posto de conveniência.
- Hey, dorminhoca, vamos comer alguma coisa? – Falou sorrindo.
- Tô sem fome, obrigada. – Falei com sono.
- Não vou deixar você ficar sem comer, faz muito tempo que estamos juntos e ainda não vi você colocar nada na boca. – Falou pela primeira vez com alguma autoridade.
- Eu... – Sem saber como recusar, concordei em sair do carro e comer alguma coisa com ele. Comemos, ele comprou MUITAS porcarias, que minha mãe não me deixaria comer em talvez... Um mês, e disse que seria o combustível para o restante da viagem. Concordei com a cabeça e sorri enquanto ele ria dos nomes engraçados de algumas bolachas.
Durante o restante da viagem, ele me contou sobre seu trabalho, as bandas que trabalhava e várias curiosidades de alguns artistas. Chegamos em um hotel lindo, e fui com ele até o quarto que indicaram. Ele ficaria no quarto em frente ao meu, e me fez prometer que o chamaria se precisasse de qualquer coisa. Concordei com a cabeça e dormi, pensando em tudo que minha vida havia mudado. Acordei com algumas batidas na porta, levantei me arrumando rápido e abri mais rápido ainda. Ele estava parado em minha frente dizendo que deveríamos tomar café. Fui com ele, e assim passamos o dia, me levou no shopping com a desculpa de comprar algumas roupas novas, comprou também duas malas, muito bonitas e tentou ao máximo não demonstrar que estava com vergonha do meu jeito de vestir. Eu era uma menina do interior, ok. Não entendia nada de moda, marcas ou coisas do tipo, e quando percebi que pra ele imagem era muito importante, senti meu coração apertar. Não o conhecia, mas mesmo apesar de tudo me sentia grata por ele estar disposto a me ajudar, perceber que ele poderia sentir vergonha de mim me fez quebrar por dentro, me fez lembrar de todos os anos que eu desejei ter um pai e da culpa que sentia após esse desejo, por estar sendo ingrata com minha mãe.
O dia passou e no outro saímos cedo em destino a minha nova casa.
Chegamos em um condomínio muito bonito, nele haviam vários prédios, e então ele me explicou que tinha comprado dois apartamentos no último andar de um dos prédios, e transformado em um único, com três suítes, onde uma seria minha. Escritório, home Studio, salas de estar, jantar, varanda, cozinha... Enfim um lugar enorme e muito bonito.
Chegamos e ele apresentou Conceição, sua empregada, dizendo que eu poderia pedir pra ela tudo que precisasse. Ela me pareceu simpática e lembrou a “tia da merenda”, uma senhora muito simpática de minha antiga escola. Fui até o quarto que seria meu, era lindo, um pouco impessoal, mas logo mudaria aquilo. Tinha uma cama de casal, guarda-roupas enorme, um espelho gigante que toda menina amaria ter. Logo me deixou sozinha dizendo que tinha algumas reuniões, e eu fiquei entretida organizando minhas roupas.
Ouvi algumas batidas na porta, um menino de olhos entrou, pedindo licença.
- Tudo bem? – Perguntou beijando meu rosto.
- Tudo e você? – Respondi timidamente.
- Tudo... Bem, eu, vim me apresentar. – Falou sorrindo, seu sorriso era lindo.
- Hum, você é o ?
- Sim, você é a , né? Já pensou se eu me apresento pra alguém achando que é minha irmã e depois não é? – Falou rindo imaginando a cena e me deixando um pouco tonta, pois ele atropelava as palavras.
- Sim, sou eu sim. – Falei um pouco vermelha.
- Caramba, meu pai não disse que tinha uma filha tão linda! Ó, pode ficar tranquila que nenhum marmanjo vai chegar perto de ti, ta?
- Não estava muito preocupada com isso. – Falei sentando na cama.
- Hum... É isso é coisa do irmão mais velho se preocupar. A irmã mais nova tem que obedecer. – Falou sentando ao meu lado e bagunçando meu cabelo, era estranho, nós não nos conhecíamos, mas parecia que eu o conhecia há tempos.
- Eu obedecer você? – Falei fingindo estar braba.
- Claro, nosso pai passa o dia todo no estúdio, geralmente parte da noite também... Então somos só nós dois, e como mais velho da casa...
- Você vai comprar chocolate pra mim?
- Não tinha pensado nisso, mas já que insiste... Metade é meu! – Falou divertido.
- Seu guloso. Te dou um pedacinho. – Disse sorrindo e pegando um chocolate que tinha no lado de minha cama.
- O mandou colocarem vários chocolates no teu quarto né? Que moleza! – Disse folgado, procurando alguma coisa no frigobar que tinha instalado ali. – Aff, não tem cerveja.
- Você não deveria beber, ainda mais no meio da tarde. – Adverti.
- Aqui pode tudo... – Falou rindo e roubando um pedaço do chocolate que eu estava comendo, o olhei com um pouco de medo, o que fez ele rir mais ainda.
- Dizem que irmãos sempre são chatos... – Falei baixinho, mas ele ouviu.
- Nem todos, o teu é bem legal.
- Metido hein...
- É de família, o também sempre foi bem metido.
- Por que você chama ele de ?
- Porque é o nome dele... E também, porque ele prefere assim, já que curte pegar umas minas um pouco mais velhas que eu. Mas com certeza, você ele vai querer que o chame de pai. Ele parecia feliz em poder te conhecer. – Falou me encarando, eu fiquei um pouco sem jeito com o que acabará de ouvir, então apenas sorri concordando com a cabeça. - Eu estava bem ansioso também. – Confessou segurando minha mão. – Você não fala nada? - Perguntou por fim.
- Falo, eu só... Não sei o que responder.
- Nunca sentiu vontade de conhecer o teu irmão mais gostoso?
- Caramba, nos conhecemos a menos de uma hora e já tenho certeza que você é o irmão mais convencido que eu poderia ter. – Disse sorrindo.
- Pelo menos consegui conhecer teu sorriso, ó. – Falou me sujando de chocolate.
- Para, seu chato! – Pedi o sujando também.
Começamos uma verdadeira guerra de chocolate e travesseiro naquele quarto, parecia que nos conhecíamos há anos, paramos quando a porta foi aberta.
- Pelo jeito já estão se dando bem... – falou divertido, encarando a cena.
- Ele é um chato! – Disse por fim, rindo.
- Seu sorriso é lindo. – O mais velho falou, parecendo encantado.
- Viu, sou foda, sei fazer qualquer garota sorrir, você perdeu a aposta. – disse divertido.
- Aposta? – Perguntei intrigada.
- É, o disse que se eu conseguisse fazer você sorrir, ele me deixaria trocar de carro... Consegui, amanhã vou na concessionária. – Falou divertido, enquanto me encarava, notando uma certa tristeza em mim, era tudo uma aposta, até onde foi verdadeiro comigo?
- Hey, que foi? – O mais novo me perguntou.
- Me deixa sozinha, por favor? – Pedi, segurando o choro.
- Mas o que aconteceu? – perguntou.
- Filha, não era uma aposta, quer dizer, não no sentido que você entendeu, eu apenas... – O mais velho tentava se explicar.
- Tá tudo bem, eu só quero ficar sozinha e descansar um pouco. – Menti, vendo os dois concordarem e saírem do meu quarto.
Uma semana passou e eu estava me adaptando a rotina de meu novo lar. Via pouco , ele parecia estar sempre bastante ocupado, mas sempre me procurava e tomava café da manhã conosco todos os dias. Ia pra escola com e voltava da mesma com ele, mas depois do primeiro dia, não me sentia confortável em sua presença, e ele não parecia se preocupar muito. Na escola, fiquei sozinha nos primeiros dias, até fazer amizade com uma menina, Lisandra. Ela era um pouco diferente de mim, mas parecia ser muito legal, estava morando em SP há pouco tempo, o que fazia de nós as novatas da escola, o que era bom, afinal estávamos descobrindo sozinhas vários lugares, dentro e fora de lá.
Depois da primeira semana, meus dias se dividiam em estudar e ficar na casa da Lisandra, ela conheceu meu pai e meu irmão, que não foi muito simpático com ela, mas a mesma não se importou, apenas gostou muito de um amigo do . Ele definitivamente era mais legal que , e muito mais simpático. Sempre que passava por mim, cumprimentava indiferente do lugar que estávamos. Ao contrário de , que desfilava cada dia com uma garota diferente, e logo parou de me dar carona, com a desculpa que não iria pra casa.
Na semana seguinte, me distraí na volta pra casa, e quando percebi dois caras me atacaram, roubando minha mochila e me tocando no chão, fazendo com que eu machucasse o rosto. Por sorte, Lisandra estava perto, e mesmo eu insistindo que não era preciso, me levaram até um pronto socorro, chamando meu pai logo em seguida.
Ele não demorou para chegar, preocupado com o que tinha acontecido.
- Não foi nada, eu estava voltando pra casa, dois caras que eu não sei de onde surgiram, roubaram minha mochila e me tocaram no chão, foi muito rápido, então eu acabei caindo e ralando o joelho e o rosto.
- Mas e o ? Onde ele estava? Aliás, onde ele está?
- Eu não sei, ele tinha um compromisso. – Falei com medo, ele não respondeu nada, apenas pegou o celular, saindo do quarto enquanto a enfermeira limpava meus machucados.
Voltou quieto, parecia bravo, e depois de algumas recomendações, fomos pra casa.
- Desculpa. – Falei entrando no carro.
- Pelo que? - Perguntou sem entender.
- Ter te preocupado e feito você sair do trabalho. – Disse me sentindo culpada, não queria e não poderia dar trabalho para ele, queria o colo de minha mãe naquele momento.
- Você não tem culpa de nada, eu só estou chateado com o , não é culpa sua. – Falou segurando minha mão. – Meu Deus! Eu fiquei tão preocupado. – Disse parecendo soltar o ar que estava preso a algum tempo.
- Eu estou bem. – Falei baixo.
- Graças a Deus, eu não me perdoaria se acontecesse algo, ela não me perdoaria. – Disse por fim, me abraçando pela primeira vez, e pela primeira vez, eu não o afastei.
- Está tudo bem. – Repeti, com voz falha, tentando segurar as lágrimas que insistiam em cair.
- Eu vou estar sempre aqui, sempre viu? – Ele disse beijando minha cabeça, com cuidado por culpa dos machucados.
- Obrigada... Por tudo. – Falei abraçando-o mais forte. Seu abraço era diferente, enquanto o abraço de minha mãe era acolhedor, o dele era protetor.
- Eu amo você. - Ele disse por fim, parecendo ter algumas lágrimas nos olhos. Ficamos um tempo assim, abraçados e depois de alguns minutos, coloquei o cinto e fomos para casa. Cheguei e fui direto pro quarto, segundo a médica eu havia batido a cabeça e precisava fazer repouso.
Horas depois pude ouvir uma discussão entre meu pai e meu irmão.
- Eu não sirvo pra ser babá! – falava alto.
- Eu não pedi pra você ser babá, ela é sua irmã, eu dou tudo que você quer, o que custa trazer ela pra casa em segurança?
- Custa muito! Eu tenho minha vida, e essa garota não abre a boca nem pra me falar oi!
- Essa garota é sua irmã!
- Ótimo, isso faz muita diferença. – Falou debochado.
- Eu quero que você esteja junto dela, durante o caminho para ida e vinda da escola!
- Eu não vou me atrasar pros meus compromissos.
- Que compromissos moleque?
- Qualquer um que não inclua ser babá de uma filha bastarda!
- Eu não te dei o direito de falar assim dela! – Ele disse com raiva.
- E afinal o que mais ela seria? Uma bastarda, filha da empregada! Não mandei você se apaixonar pela babá do teu filho e destruir teu casamento! Você matou minha mãe de desgosto e agora quer que eu seja legal com a causa de tudo isso?
- Você sabe que não foi isso que aconteceu, ela não tem culpa de nada! Não seja injusto.
- Eu sei? EU SEI? – Gritou. – Eu não sei de nada! Você nunca fala nada, mas um dia eu vou descobrir a verdade e você vai pagar! Agora não me venha com essas merdas de que eu tenho que ser um bom irmão, porque eu detesto essa garota e o que a mãe dela representou em sua vida.
- Você fala como se sua mãe fosse uma santa!
- Não fala da minha mãe!
- Não aguenta escutar a verdade?
- Você quem não aguenta carregar a morte de alguém nas costas. – Ouvi o mais novo falar com raiva e bater a porta, saindo de casa. Logo em seguida meu pai também saiu, me deixando sozinha em meio ao silêncio.
Não sai do quarto aquele dia.
Um dia se passou, e eu estava indo até a cozinha quando percebi que a porta do quarto de estava entre aberta. Bati na porta.
- Posso entrar? – Perguntei parada na porta.
- O que você quer? Eu não vou pedir desculpas.
- Você não precisa pedir desculpas, você não fez nada...
- Não é o que e o pensa. – Falou com raiva me interrompendo.
- Desculpa. – Disse triste, virando as costas.
- Você não veio aqui pra me pedir desculpas, veio? – Falou segurando meu braço, no corredor.
- Não, eu só... Queria saber minha história. – Falei com vergonha.
- Tua história? – Disse intrigado.
- É... Bem, eu ouvi a discussão de vocês ontem, e...
- Esquece aquilo, eu estava de cabeça quente. – Me interrompeu parecendo envergonhado.
- Esqueço se você me contar o que sabe.
- Você é teimosa! – Falou por fim.
- Um pouco... – Sorri com vergonha.
- Entra. Acho melhor a gente conversar. – Disse me convidando para entrar em seu quarto, e fechando a porta logo em seguida.
Sentei em sua cama e fiquei o encarando.
- Senta ai... – Apontou para cama. – Olha, eu. Desculpa, eu não queria falar aquilo só estava de cabeça quente. – Disse se desculpando.
- Você disse que não me pediria desculpas... – Ri o encarando.
- Aff, desconsidere as desculpas pedidas. – Riu também.
- Tudo bem, agora você pode me falar o que sabe sobre a história dele com minha mãe? – Perguntei ansiosa.
- O que você sabe?
- Eu? Nada, minha mãe não gostava de falar dele.
- Hum, entendi.
- Você não vai me contar nada?
- Você é ansiosa hein, calma.
- Você ficaria calmo no meu lugar?
- Por que você nunca perguntou pra ele, sobre?
- Por não ter intimidade.
- É, tem sentido. Bom, o que eu sei é que tua mãe era minha babá, os dois se envolveram, e então minha mãe acabou morrendo, eu não sei bem, mas minha vó dizia que a culpa era toda dele, que minha mãe morreu de desgosto, desculpa , eu sei que é tua mãe, mas eu odeio pensar que ele foi capaz de trair.
- Mas o pouco que minha mãe dizia era que eles se envolveram depois da morte da primeira mulher dele, e...
- , claro que ela vai falar isso, minha mãe não tá viva pra se defender.
- Nem a minha. – Falei me levantando e saindo do quarto. Fechei os olhos e me atirei na cama, em minha mente passava um filme, um pesadelo, revivi tudo que sofri, tudo que quis esquecer, aquilo não saia da minha cabeça, acabei dormindo um tempo depois, cansada de tanto chorar.
Acordei com batidas na porta de meu quarto, e em seguida entrou.
- Hey, vamos ver filme? – Falou sentando em minha cama, com um balde de pipoca.
- Que filme? – Perguntei intrigada com essa aproximação dele.
- Qualquer um... Eu só quero desculpa pra comer pipoca. – Disse ligando a televisão.
- Mas você não precisa assistir filme pra comer pipoca...
- Para de ser chata , vamos comer pipoca e ver filme, como irmãos normais.
- Aff, eu não sou chata! Vamos ver algum romance ou drama.
- Nem pensar, quero terror!
- Você disse que queria comer pipoca, eu escolho o filme!
- Tá, mas drama você vai chorar e romance da vontade de vomitar.
- Eu tenho o irmão mais chato do mundo!
- Eu tenho a irmã mais fresca do mundo! – Disse debochado, tacando pipoca em mim. Taquei nele também e então levei um susto com sua crise de “ai meu Deus, esse filme é perfeito”. – BATMAN! – Ele gritou. – É impossível alguém não gostar de Batman.
- O ator é bonito?
- Mulheres...
- Homens... Ops, garotos.
- Você vai ver o garoto... – Ele me encarou e por alguns segundos encarei seus olhos, desci minha visão até sua boca... Ele fez o mesmo, me encarando, e então tirou a camiseta deixando transparecer um corpo muito bonito, sexy. – Calor. – falou se justificando. Me culpei por naquele momento desejar meu irmão, e quis apenas voltar para o dia anterior e não sentir nada daquilo. Ele ficou quieto e iniciou o filme, me distrai com a história, mas como estava cansada dormi.
Acordamos abraçados, encarava o teto enquanto eu olhava para seu abdômen definido e com algumas tatuagens que ele tinha ali, ele era... Me perdi em pensamentos um pouco pervertidos, senti um calor interno e externo, e um arrepio correndo meu corpo, assim que senti os lábios dele em minha testa. Ele é meu irmão, e eu não posso nem sonhar em querer nada dele, além de afeto e carinho de IRMÃO.
- Bom dia, preguicinha. – Falou me abraçando apertado.
- Bom dia, chato.
- Já acorda de bom humor?
- Que horas são?
- Quase dez horas...
- Caramba, tô ferrada, preciso ir pra escola. – Levantei correndo buscando meu uniforme, parei olhando pra que ria descontroladamente. – Do que você tá rindo, ô retardado?
- De você, óbvio.
- Não sabia que eu era palhaça! – Falei com raiva.
- Se você fosse palhaça eu não iria rir e sim morrer de medo.
- Não acredito, tem medo de palhaços? – Gargalhei.
- Não é medo, eu apenas não gosto. – Falou desfazendo o sorriso.
- Se fodeu, sei teu ponto fraco!
- Sabe porra nenhuma, meu ponto fraco é outro!
- Qual?
- Quer que eu te mostre? – Falou se aproximando.
- Mostra! – Disse sentindo meu coração bater acelerado.
- Você é minha maninha, mas, sabe... Irmãos devem ensinar tudo para suas caçulas, não? – Me encarou analisando indiscretamente meu corpo.
- Devem? Tipo o quê? – Sentei ao seu lado
- , não faz isso comigo... – Ele apertou minha coxa.
- O que eu estou fazendo?
- Nada, você não está fazendo nada. – Ele levantou e foi tomar banho, me deixando sem reação.
Resolvi arrumar meu quarto e também tomar um banho frio para esquecer o que tinha acabado de acontecer. Aquilo não poderia se repetir.
Passei o dia repetindo o mantra “ele é teu irmão”. saiu para alguma balada, meu pai pelo jeito também teria compromissos, então acabei indo passar o resto do final de semana na Lisandra, precisávamos colocar o papo em dia, e ótima amiga que era me aconselhou a investir no meu próprio irmão. O que obviamente não o fiz.
A semana passou rápido, ia e voltava comigo da escola, às vezes protetor, outras um verdadeiro mala sem alça, não podia me ver falando com algum garoto que ficava bravo, emburrado e me ignorava o resto do dia. Desfilou pela escola com umas quatro meninas diferentes, todas com personalidade parecida, ou melhor, sem personalidade alguma. Como alguém conseguia aturar uns papos tão vazios? Bom, aturava, mas eles mal abriam a boca para falar, era um troca-troca de línguas frenético, que me davam nojo e uma certa dor na região do peito. Pensei que iria pirar, e que nada poderia piorar minha situação, mas as coisas podem sempre piorar.
nos ligou avisando que faria uma viagem de urgência para o Rio de Janeiro e voltaria apenas no domingo, no segundo seguinte marcou uma social em nossa casa e me convidou a retirar-me da mesma para que ele pudesse aproveitar melhor e sem preocupação. Obvio que não concordei, afinal a casa também era minha e então após brigarmos um pouco, venci a disputa e chamei algumas amigas para a “social”.
Tive que ajudá-lo a organizar as coisas, mas como ele estava acostumado com festinhas, tudo estava “sob controle”, por sorte a acústica do apartamento era ótima, vantagens de sermos filhos de músico... Poderíamos escutar música alta sem incomodar ninguém.
Meia noite e a casa estava lotada, vi se agarrando com duas loiras em um canto da sala, e senti vontade de vomitar. Antonny, um loiro, amigo de veio até mim e começamos a conversar.
Ele era legal, mas estava um pouco bêbado e um tempo depois começou a colocar as mãos em minhas coxas.
- Para. – Pedi retirando sua mão, enquanto o mesmo tentava colocar na parte interna da minha coxa.
- Qual é, você está em uma festa do , quer se fazer de santa?
- Qual é você garoto! Você está na minha casa e eu não te dei liberdade nenhuma!
- Deu sim, todas dão. – Falou colocando a mão novamente, me deixando com ainda mais raiva.
- Eu já mandei você tirar essas mãos de cima de mim! – Disse com raiva, tirando as mãos dele.
- Eu já disse que quem manda em mim sou eu e você é apenas mais uma vadiazinha. – Falou vindo para cima de mim. No momento que eu ia empurrá-lo, senti algo o puxando. Era .
- Quem você pensa que é pra tratar minha irmã assim? Quer morrer? – Disse com raiva, segurando o menino com força. – Eu perguntei se você quer morrer! – Repetiu, dando um soco no mesmo.
Enquanto alguns meninos tentavam segurar que batia incansavelmente no loiro, outros tentavam tirá-lo dali. Após separarem a briga e tirarem o menino da festa, resolvi que seria melhor ir pro meu quarto invés de ficar olhando várias meninas se atirarem pra cima do meu irmão.
Lisandra tinha ido embora, olhei no relógio e já passava das cinco horas da manhã, saí do quarto indo em direção a sala.
- O que você está fazendo? – Perguntei ao ver fumando e rindo sozinho, duas meninas estavam completamente nuas, dormindo no tapete da sala.
- Fumando, quer?
- Quê isso? – Disse olhando pras meninas.
- Quer mesmo que eu descreva? – Respondeu debochado.
- Escroto! – Falei voltando pro quarto.
- Por que escroto? – Disse me seguindo, notoriamente bêbado.
- Quer mesmo que eu responda? – Falei irônica.
- Não, eu quero outra coisa.
- Vai à merda, .
- Não quero ir à merda! – Disse impedindo que eu fechasse a porta.
- O que você quer? – Falei com raiva.
- Você! – Disse abrindo a porta e me empurrando, segurando forte em meus braços, enquanto selava nossa boca.
Em uma fração de segundos, e sem pensar, estapeei o rosto dele com raiva! Ele ficou sem reação por um momento, talvez acordando do transe em que se encontrava, percebeu o que havia feito e saiu do quarto sem falar nada. Tranquei a porta e deitei na cama rolando de um lado para o outro sem conseguir dormir. Minha vida estava uma bagunça, e só tinha Lisandra para conversar, não que isso fosse ruim, ela era uma ótima ouvinte e a melhor amiga que eu já tivera, além de minha mãe, mas estava tudo tão complicado, confuso, que eu não sabia como lidar.
Passei o dia no quarto, meu pai chegou à noite e fingi estar dormindo quando o mesmo bateu na porta. Não queria falar com ele, não queria falar com ninguém.
Sai mais cedo para não precisar encontrar . Não o vi na escola, muito menos na volta pra casa. Confesso que senti um certo alívio ao encontrar a casa vazia quando cheguei. Almocei e fui pro quarto, tinha algumas matérias para pôr em dia.
- Filha? – Fui acordada por meu pai, dentro do meu quarto me olhando intrigado.
- Ah, oi, aconteceu alguma coisa? – Perguntei tentando me ajeitar na cama, havia dormindo em meio vários livros.
- Acho que você precisa descansar mais e estudar menos... – Falou sorrindo sentando-se ao meu lado.
- Ah pai, eu só... – Percebi que havia o chamado de pai pela primeira vez. – Er, eu só estou um pouco cansada. – Disse com vergonha.
- Hum, descansa então... Eu só vim te dar um beijo, estava com saudades e quando cheguei você já estava dormindo. – Falou tentando não demonstrar o quão feliz estava em ser chamado de pai.
- Desculpa, eu estava cansada.
- Não precisa se desculpar, meu anjo. – Disse em tom fraternal. – Eu gostaria de fazer um pedido pra você...
- Fala. – Perguntei curiosa.
- Então, é que... Eu estou conhecendo uma mulher, ela é linda, e bem, queria que você e o jantassem conosco hoje.
- Hoje? Ah, eu tenho que... – Tentei achar alguma desculpa.
- Vamos, claro que vamos. – apareceu na porta do meu quarto, se metendo na conversa, apenas o fuzilei com o olhar, mas acabei aceitando o convite, afinal meu pai não poderia sonhar com o que tinha acontecido.
O mais velho saiu do quarto, feliz com a resposta e dando espaço para o mais novo, que entrou e trancou a porta.
- Podemos conversar?
- O que você quer?
- Conversar?
- Não quero conversar com você.
- , me escuta.
- Adianta eu falar que não, ? Adianta? Você liga para o que eu falar? Para as minhas vontades?
- Calma, não é assim.
- Fala logo! – Disse sem paciência.
- É que bem... Eu queria te pedir desculpas.
- Pelo que?
- Por... pelo beijo.
- Foi tão ruim assim? – Perguntei com raiva.
- Não lembro... Só lembro que te beijei, mas pra saber se teu beijo é ruim eu teria que...
- Cala a boca LEONARDO! –
- Faz! - Falou se aproximando.
- , por favor... Vai se divertir com aquelas vadias, vai!
- , me escuta!
- Você já mandou eu te escutar umas dez vezes hoje, e não falou nada.
- É, tem razão. – Falou sorrindo, aquele sorriso... – Mas agora eu vou falar.
- Então fala ué. – Cruzei os braços encarando ele.
- Você fica linda brava. – Sorriu, aquele sorriso debochado e lindo.
- Você é insuportável. – Bufei.
- Um insuportável que está completamente apaixonado por você.
- Apaixonado por mim? Tá doido? Nós somos irmãos, , irmãos!
- Isso não muda nada!
- , para! – Falei tentando afastar ele.
- Diz que não quer.
- Eu não quero sentir isso. – Falei falha.
- Mas sente desejo, vontade... E está na hora de matar esse desejo todo, sabia? – Disse brincando com meus lábios.
- Você fica com uma por dia, eu não quero! – Afastei ele novamente.
- Eu fico com uma por dia desde que você entrou nessa casa e colocou essa bagunça dentro de mim, mas nenhuma chega perto do que eu sinto, quando to junto de ti.
- Você tá maluco, só pode.
- Então você também está, porque eu sei que o sentimento é correspondido.
- Que sentimento?
- Desejo, amor, vontade... – Falou me dando selinhos, até que minha boca deu passagem para sua língua, deixando-me envolver em um beijo calmo e ao mesmo tempo viciante.
Ele explorava não apenas minha boca, mas sim meu corpo, suas mãos acariciavam minhas costas e desciam até a bunda, causando arrepios em todo corpo. Sentia minha respiração falhar, e mesmo com os olhos fechados, podia perceber o sorrido dele enquanto se distraia beijando minha boca, mordendo meus lábios e dando leves chupões em meu pescoço.
Ele foi me guiando em direção a cama, e por mais que minha cabeça mandava parar, meu corpo pedia pelo dele.
- , eu... – Tentei falar, quando percebi que já estava sem blusa e com ele beijando meus seios por cima do sutiã.
- Eu vou com calma... Se quiser parar me fala. – Falou ofegante.
- Eu... – Disse sem forças o fazendo me olhar. - Não para. – Pedi por fim.
Ele sorriu e concordou com a cabeça, tirando sua camisa e me deitando na cama. Subiu por cima de mim, tirando o short que eu vestia, enquanto distribuía beijos e chupões pela minha coxa, após juntar sua bermuda, com os shorts, percebi um volume em sua boxer preta. Senti um frio me arrepiar internamente, talvez medo do que me esperava, medo da ressaca moral que teria depois daquilo. não parecia se importar, mordiscou meu clitóris, por cima da minha calcinha, e subiu os beijos, tirando meu sutiã. Ele beijava um seio, e alisava o outro com uma mão, a outra brincava com minha calcinha. Eu estava completamente molhada, quando senti seus dedos acariciarem minha intimidade, gemi, queria mais, precisava de mais.
Meu corpo correspondia ao dele, a cada estimulo. Ele arrancou minha calcinha e desceu os beijos até minha vagina, beijando, mordendo, chupando e penetrando a língua em minha intimidade, estava a ponto de explodir, quando senti algo duro sem depositado na entrada da minha vagina. Ele me olhou e eu concordei com a cabeça, o abraçando forte, enquanto ele entrava lentamente dentro de mim. Senti um leve desconforto, mas logo me acostumei com a posição que estávamos e o desconforto se transformou em prazer.
Gemia baixo em seu ouvido pedindo por mais.
- Minha, você é minha, isso, gostosa, rebola vai, rebola. – Ele falava mordiscando minha orelha e beijando meu pescoço. Depois com força me virou de costas e penetrou novamente, dessa vez em um ritmo mais rápido e acelerado, gemendo muito e alisando meu clitóris, enquanto pulsava dentro de mim. Senti meu corpo explodir em pedaços, senti-me exausta e ao mesmo tempo feliz, que droga era aquele que ele tinha me dado? Era minha primeira vez, e eu estava viciada naquilo, queria mais, queria mais sexo, queria sentir meu irmão dentro de mim o tempo todo.
caiu logo em seguida ao meu lado, igualmente exausto me puxou pra junto de si, verificou algo em seu celular, retirou uma toalha que havia colocado embaixo de mim sem que eu percebesse, pude ver uma pequena mancha de sangue e agradeci a Deus por não ter saído muito.
Acabei dormindo logo depois e acordando com meu celular tocando, era meu pai avisando que nos buscaria em trinta minutos.
Corri pra me arrumar e fiz correr também, logo estávamos na sala, sentados um em cada sofá, tarava minhas pernas o que me dava vontade de socá-lo, quando ia reclamar do que acontecia, meu pai abriu a porta.
- Cheguei, meus amores. , arruma essa camisa!
- Qual é velho, o que tem de tão importante nesse jantar? – Disse deitando a cabeça em meu colo, me fazendo corar.
- Nada, só vou apresentar meus filhos para uma mulher importante. – Sorriu apaixonado.
- Mulher importante? Ih, vai ser algemado, quem diria, o grande , algemado.
- Mulher nenhuma me prende... Mas essa é especial e trate de se comportar.
- Pode deixar, não vou dar em cima dela, mas conta aí, ela é gostosa? – Provocou. – Aii. – Deu um grito um pouco alto, após levar um beliscão meu.
- Que foi?
- Nada, só senti uma fisgada na... Perna.
- Filha, tá tudo bem? – Perguntou me encarando.
- Tá sim, estou sobrevivendo ao irmão mais chato do mundo. – Disse tirando de meu colo e pegando a bolsa para irmos ao tal jantar.
O jantar foi bem agradável, Mellina era uma mulher muito simpática, tinha a idade de e pelo jeito era bem resolvida profissionalmente. Os dois pareciam ter uma química ótima, e a maneira que os olhos de ambos brilhavam, me causaram até um pouco de inveja, queria tanto que ele tivesse tido uma relação assim com minha mãe. Mas não poderia viver de passado, ele estava feliz e era uma boa pessoa, talvez algum dia eu pudesse perguntar o que realmente aconteceu, mas sentia que ainda não era o momento.
Dois meses voaram literalmente, passamos no vestibular, ele pra música, eu para arquitetura, e como presente nosso pai nos deixou escolher o local para onde iríamos viajar. Eu e não desgrudávamos mais, morria de ciúmes dele com outras meninas e ele zombava de mim por isso, acabávamos brigando algumas vezes, mas no mesmo dia fazíamos as pazes, e com a desculpa de “estávamos assistindo filme”, acabávamos dormindo juntos todos os dias. Meu pai parecia feliz e não notar a relação que tínhamos, ele e Mellina estavam cada dia mais grudados, e como a mesma morava sozinha, ele praticamente se mudava pra lá nos finais de semana.
Depois de algumas divergências e de nosso pai falar que poderíamos ir um para cada local (o que jamais aconteceria, pois eu não deixaria sozinho em lugar nenhum, sabia muito bem da fama de meu “irmão”), acabamos escolhendo ir para Amsterdã, aquele lugar fascinava nós dois.
As malas já estavam prontas, em dois dias viajaríamos para a maior e melhor viagem da minha vida, meu coração parecia pular do peito, toda vez que pensava nisso. Ouvi um barulho na porta e corri pra ver o que era, comecei a rir descontroladamente enquanto encarava um coberto de lama!
- O que aconteceu? – Perguntei rindo.
- Você estava certa...
- Sobre? – Perguntei ainda rindo.
- Ia chover.
- Hum, é eu estava certa, mas não sabia que caia lama do céu.
- E não cai! Mas o idiota do Lecter levou o cachorro dele junto e ele tomou banho naquela rua de lama, depois se sacudiu todo nos sujando.
- Que dó. – zombei.
- Muita dó... Se eu fosse você – disse se aproximando – me ajudaria no banho.
- E o que eu ganho em troca? – Perguntei o encarando, por um momento esqueci que nosso pai havia chegado há pouco em casa.
- Isso! – Ele respondeu me beijando, eu imediatamente correspondi o beijo.
- Você está me molhando toda. – Ri o encarando, mas o mesmo seguiu atônico, olhando para o corredor.
- O que... – Comecei a falar me virando e encarando nosso pai, vermelho, com uma expressão de raiva.
- Desde quando? – O mais velho disse depois de um tempo.
- Pai eu... – começou a falar.
- Cala a boca! – Ele disse com raiva.
- Desde quando você tem seduzido meu filho?! Vamos , o é homem, pensa com a cabeça de baixo, mas você... Você é mulher, mulheres sabem como seduzir um homem, e pelo jeito você sabe direitinho né? Sua mãe ficaria orgulhosa da... Vadia que criou! – Disse com raiva, eu não conseguia responder nada, senti meu peito doer e as lágrimas saírem livremente pelo meu rosto.
Não existia explicar, eu não tinha como explicar o fato de estar apaixonada pelo meu meio irmão, eu e éramos um erro, um erro que doía em mim pensar em não existir, mas que deveria ter um fim, deveria acabar.
- Não fala assim com ela! A culpa foi minha, eu que insisti! Eu a amo! – disse me defendendo.
- Eu já mandei você calar a boca, seu moleque! – gritou, se aproximando. – Vai pro seu quarto agora! Os dois, cada um pro seu quarto agora!
- Você não manda em mim! – respondeu.
- Por favor, ! – Pedi chorando indo em direção meu quarto.
- Eu falei que você não... – tentava repetir, mas foi mais rápido e segurou ele pela camisa, fazendo ir para seu quarto. Trancou-nos cada um em seu próprio quarto, e após alguns gritos desaforados de a casa ficou em silêncio.
Um tempo depois a porta se abriu e vi a figura do homem que tantos sentimentos diferentes e mistos já senti.
- Precisamos conversar. – Ele disse indo até a cama e sentando em minha frente.
- Eu não sei o que falar. – Falei com vergonha de tudo.
- Por quê? – Perguntou me encarando.
- Eu agi errado, eu... – Tentei formular uma frase, mas era tão difícil.
- Você agiu muito errado! Vocês são irmãos, IRMÃOS, você sabe o que é isso? – Ele me olhava com raiva, eu não sabia o que responder, só conseguia chorar. – Agora não adianta chorar pelas merdas que fez, você não é nenhuma criança, sabe muito bem diferenciar o certo do errado, e o que você fez esta completamente errado! Eu vou conversar com o seu IRMÃO também, e espero que o que eu vi, nunca mais aconteça! Se não serei obrigado a te mandar para algum outro lugar, até que complete dezoito anos e saia da minha responsabilidade. – Falou por fim, transparecendo e me culpando por tudo que tinha acontecido.
Fiquei quieta em meu quarto, chorando em silêncio. Não vi aquela noite, e queria poder não ver ele mais.
Na manhã seguinte ouvi leves batidas em meu quarto e abri, com um certo medo do que escutaria.
- Hey, como você tá? – Perguntou entrando e me abraçando.
- Acho que... Eu estou péssima. – Falei me distanciando dele, enquanto o mesmo tentava me dar um beijo. – Nós não podemos!
- Por que aquele idiota acha que manda?
- Porque somos irmãos, por Deus, , não torna as coisas mais difíceis do que já são! – Falei triste.
- Você quem complica tudo! – Falou emburrado.
- Eu complico? , nós somos irmãos, e se nosso pai me ver com você novamente, ele me manda pra bem longe daqui!
- Ele não seria doido, e para de pensar nisso, não deixa ele fazer lavagem cerebral em ti, vem e me ajuda a achar as chaves do meu carro.
- Você perdeu as chaves? – Perguntei confusa, ele agia como se nada demais tivesse acontecido.
- Não, o idiota tirou as chaves do meu carro, porque eu falei umas merdas pra ele! Sabia que ele cancelou nossa viagem?
- . – Pedi segurando seu braço. – Você tem noção do que aconteceu ontem?
- Ele me viu beijando a garota que eu gosto, o que tem demais nisso?
- A garota que você gosta... é sua irmã.
- Foda-se, eu amo do mesmo jeito. – Disse marrento, roubando um selinho meu.
- Eu pedi pra você não fazer mais isso. – Falei com raiva, mas o mesmo não pareceu ligar muito, saiu do meu quarto indo em direção ao quarto de e revirando tudo que tinha lá.
- , para! – Falei entrando no quarto, mas ele estava tão distraído que não percebeu minha presença. – O que você está fazendo? – Perguntei me aproximando. estava de costas pra mim, com um papel em mãos, lendo concentrado. Ao chegar perto percebi que era a carta que minha mãe havia deixado pra . – , isso é do , é particular.
- O que está acontecendo aqui? – Ouvi a voz de meu pai com raiva. – , você está mexendo em minhas coisas?! Me dá isso. – se aproximou, tirando de o papel.
- Quem você pensa que é pra esconder isso por tanto tempo? – falava com raiva nos olhos, o que tinha escrito ali, que causara isso nele, eu não sabia, mas queria e precisava descobrir logo.
- Isso não é de sua conta! – falou com raiva.
- Isso é a vida da , como você pôde? Me diz, como pôde?! – Ele falava com raiva, encarando o pai.
- Você é um insolente. – começou a falar e então interrompi os dois.
- Chega! – Falei mais alto, fazendo com que o olhar de ambos caíssem sobre mim, todos em silêncio. – Acho que já passou da hora de você contar o que são esses segredos e responder os porquês que existem em minha cabeça, e que tanto eu como você sabemos quais são.
- Melhor eu... – tentou desconversar.
- Para de fugir, e conta logo! – disse tomando a carta de e me entregando, quando desviei o olhar dele, para ler o que continha aquele papel, ele voltou a falar.
- Espera, eu vou contar pra vocês tudo que aconteceu, sentem os dois, e , me deixa falar! – Ele sentou em um sofá próximo a cama, enquanto nós sentamos em sua frente. - Quando conheci a mãe de , éramos muito novos e não sabíamos praticamente nada da vida, foi com ela que vivi meu primeiro amor, o primeiro beijo, primeira relação sexual... Tudo. Jamais pensei que olharia para outra mulher, então ela acabou engravidando e casamos logo em seguida, era o certo a fazer e pra mim não seria nenhum sacrifício ter a mulher que eu amo ao meu lado o tempo todo. Mudamos para uma casa muito bonita que ficava no centro da cidade, como nossa família sempre teve boas condições financeiras, não precisávamos nos preocupar com dinheiro. Eu trabalhava na escola de meu pai, como diretor, era uma escola de artes, com minha mudança pra SP, acabei vendendo a mesma, e hoje ela não existe mais. – Ele falava com calma, eu e mal respirávamos, queríamos conhecer toda história. – Então você nasceu. – Disse olhando pro - e sua mãe sofreu uma depressão terrível, antigamente não se sabia muito sobre a depressão pós-parto, mas aquilo acabou matando ela aos poucos. Ela não queria comer ou amamentar, rejeitava o fato de ter nascido um menino de dentro dela, e eu não conseguia entender o por quê, você era lindo, tão pequeno, tão indefeso. – Ele falava com os olhos brilhando, demonstrando que a qualquer momento as lágrimas cairiam. se encontrava como o pai, estava doendo saber da rejeição da mãe, ele fez menção em falar, mas pedi para que deixasse continuar. – Foi ai que sua mãe entrou em nossa vida. – Disse me encarando. – Lena era linda, doce, meiga, delicada, como você é, se clones existissem na época, eu diria que você é um clone dela, de tão parecida, e talvez por isso te olhar me cause tanta dor. - Acabamos mudando para fazenda, onde morava a família de Charlotte, ela tinha alguns irmãos, e a mãe ainda era viva na época, Lena foi contratada pra cuidar de você , e lhe dava tanto amor que acabei me apaixonando pela forma que ela te tratava. Dentro daquela casa eu não tinha amigos, mas tentava enfrentar tudo e respeitar sua mãe o máximo possível. Em uma noite fria, Charlotte tentou se matar se jogando em um rio que havia perto da casa, por sorte eu tinha ido cavalgar para tentar esquecer um pouco os problemas, e vi a mesma se atirando, mas quando cheguei perto ela já havia engolido um pouco de água e ficado bastante tempo dentro da água gelada. Depois daquilo sua saúde piorou muito, além da depressão e de não querer tomar os remédios, Charlotte contraiu uma gripe forte que se transformou em pneumonia. Um pouco antes de morrer, uns dois meses depois desse episódio, ela me contou o motivo da depressão, disse que eu não deveria chorar, pois ela não mereceria qualquer sentimento bom de mim. Ao questionar o porquê, ela disse que havia se apaixonado por outro homem, e que antes de nos casarmos, havia transado com ele, engravidando.
- Você ta me dizendo que eu não sou seu filho biológico? Mas como? Minha mãe não faria isso, ela não faria. – chorava como uma criança pequena, aquele com certeza estava sendo o pior dia da vida dele.
- Desculpa – falou chorando igualmente o filho, e se aproximando o abraçando. – Eu amo você desde o dia que soube que você existia dentro dela, e nada nem ninguém vai mudar o que sinto por ti, , nada! – Falou segurando o rosto do mais novo, fazendo com que seus olhares se encontrassem.
- Desculpa. – Foi tudo que disse, antes de abraçar o pai. – Mas e a carta? – Perguntou um tempo depois.
- Eu já vou explicar... – disse tentando se recompor um pouco. – Charlotte morreu na mesma noite que me confessou o que tinha feito, depois do enterro peguei e Lena e fui para a antiga casa que morava. Lá acabamos nos aproximando mais e estávamos de casamento marcado quando ela descobriu que estava grávida de você. Apressamos um pouco as coisas, já que a barriga estava começando a aparecer e vivemos tempos felizes naquela casa. Você nasceu linda e delicada, era cópia de sua mãe, mas muito apegada a mim. sempre foi um ótimo irmão mais velho. Estávamos bem e felizes, eu viajava bastante a trabalho, e ela cuidava de vocês em casa, éramos uma família normal. a chamava de mãe e isso causava uma alegria imensa nela, afinal pra ela você – apontou para - era seu filho e fim de papo. Mas então eu fiz a pior merda da minha vida. Com o tempo, os irmãos de sua mãe venderam a parte que tinham em algumas propriedades, e dividíamos duas fazendas com o irmão mais velho dela, ele era conhecido por ser muito mulherengo e amava torrar dinheiro, acabou adquirindo várias dividas, com isso queria vender uma fazenda que pertencia 50% a você, e 50% a ele. Eu não me importava muito com aquilo, mas Lena amava aquele lugar, e eu não queria deixá-la triste, nós havíamos nos conhecido lá, quando Charlotte estava doente, você havia nascido lá, enfim, pra ela o fato de seu filho de coração ter nascido em um lugar tão bonito como aquele, era motivo de nunca se desfazer, com isso eu me recusei a vender, e sem minha assinatura, negócio nenhum seria fechado.
Percebendo que era por culpa dela que não fechávamos negócio, aquele filho da mãe armou e eu caí em sua armadilha. Em uma sexta-feira cheguei em casa e encontrei a mesma silenciosa. Todos dormiam. Fui até o quarto de vocês, dei um beijo no rosto de cada um e me dirigi ao nosso quarto. Quando entrei, encontrei Lena dormindo, nua, com um desconhecido em nossa cama. Eu não pensei muito, parti pra cima dele, ela acordou meio grogue, e a acusei de além de estar dormindo com outro cara em nossa cama ter bebido e deixado nossos filhos sozinhos e a mercê daquilo. Fiz uma mala com algumas coisas minhas e de , e mesmo com ela implorando para que eu ficasse, implorando que eu acreditasse nela e que ela não sabia o que estava acontecendo, eu a ignorei, e mandei cuidar de você, pois duvidava inclusive da sua paternidade. Deixei Lena chorando, você chorando e levei comigo. Mudamos pra São Paulo e por muito tempo, você perguntava por sua mãe e irmã, falei que estavam mortas, eu estava com raiva, vendi tudo que tinha lá, inclusive a casa que morávamos, deixando ela sem nada. Eu fui um monstro, e o que fiz não merecia perdão. Com o tempo e apanhando da vida, aquela noite não saia de minha cabeça, mas por orgulho, tentava me convencer que havia sim sido traído. Seu tio acabou ficando doente, tuberculose e HIV... Devido às noitadas, e pediu para me ver. A contra gosto eu fui até lá, ele acabou me contando que havia armado aquilo, pois precisava me convencer a vender a fazenda... Minhí vontade era matá-lo com as próprias mãos, mas a vida já estava se encarregando disso. Sai do hospital e a primeira coisa que fiz foi comprar uma passagem de volta, mas não sabia pra onde ela tinha ido. Consegui encontrar uma irmã, que me disse que ela estava morando em outra cidade, mas se recusou a dar o endereço para mim, contudo aceitou entregar uma carta para Lena. Eu escrevi talvez a carta mais importante da minha vida, falando que a amava e que esperava algum dia ter seu perdão, deixei meu endereço na carta e vivi todos esses anos esperando alguma notícia de vocês.
Desde que eu vim pra São Paulo, nunca mudamos de endereço e eu nunca me envolvi com ninguém, por ter esperanças de algum dia poder voltar no tempo, de poder viver meu amor com a mulher que eu mais amei e que me fez tão bem, em tão pouco tempo. Mas isso não aconteceu.
Quando fui avisado da morte dela, voltei imediatamente para o Rio Grande do Sul, te conhecer fazia meu coração sair pela boca, finalmente eu iria ver como você estava, não queria que fosse em um momento tão difícil, mas se Deus queria que fosse assim, que era eu para contrariar a vontade dele?
Quando você me entregou a carta que ela havia me deixado, meu coração parecia que estava prestes a quebrar em pedaços, esperava reviver todos os meus erros, mas ao contrário do que pensei que estaria escrito ali, ela apenas me agradeceu por ter ido ao teu encontro e pediu para que eu cuidasse bem de ti, bem da “nossa filha”, disse que me perdoava pelo que eu havia feito, e pediu perdão, pois sabia que eu havia voltado, mas me privou de te conhecer e te ver crescer. Eu nunca vou me perdoar do que eu fiz, de ter perdido teus primeiros passos, de ter lhe feito passar o dia dos pais, sem um pai... De não ter sido presente na vida da minha filha. Acho que nessa história todos perdemos muito, e eu não queria mais errar, queria cumprir a promessa que fiz enquanto lia a carta de Lena, de cuidar e proteger você, mas eu sou um idiota, só faço merda, e te fiz chorar novamente! Eu não consigo ser um bom pai, eu...
- Hey, você é o melhor pai que eu poderia ter. – disse abraçando o pai, enquanto eu me levantava e saia dali.
- Onde você vai? – perguntou se aproximando.
- Eu preciso ficar sozinha. – Pedi indo pro meu quarto.
Finalmente eu sabia minha história, e não sabia o que sentir, além de ser eternamente grata pela mãe que tinha. Não sabia se amava ou odiava o homem que me deu a vida. A vida não machucou apenas uma pessoa, machucou todos nós, e agora eu sabia que aquele cara errava, mas estava tentando acertar.
Father, I'm gonna say thank you
Even if I don't understand
Oh, you left us alone
I guess that made me who I am
Por ela eu tinha me tornado quem sou, foi minha mãe que sempre me protegeu e ensinou tudo da vida, foi ela quem se desdobrou em duas, três... Para me dar tudo que precisava e criar da melhor maneira possível. Hoje sinto a presença dela junto de mim, e mesmo com toda dor da saudade, confio que aos passos do pai, e aos olhos de meu pai, não vai me faltar amor.
Fiquei um tempo no quarto, apenas observando uma pequena foto que guardava comigo desde criança, era a única foto que eu tinha de minha família, nela meu pai me segurava no colo, e beijava a bochecha de minha mãe. Todos sorriam.
Saí do quarto e encontrei e sentados na sala, em silêncio, eles levantaram no momento que me viram sair pela porta, e então abracei , um abraço que nunca havia dado ou ganhado dele, um abraço de saudade, de uma filha que perdoava o pai por ter sido abandonada, por ter vivido tanto tempo sem o amor do mesmo.
, com ciúmes, se juntou a nós, em um abraço triplo. Foi então que abriu a boca pela primeira vez.
- Se você machucar minha filha, eu te mato moleque. Você é meu filho, mas ela é a rainha da casa, então... É bom tomar cuidado, ou vai ter o brinquedinho aí cortado. E sexo só depois do casamento, e casamento só depois que você – olhou pra mim – completar quarenta anos!
Em meio lágrimas, gargalhamos e abraçados tivemos a certeza que algo muito bom estava começando.
I know you were a troubled man
I know you never got the chance
To be yourself, to be your best
I hope that Heaven's given you
A second chance
Fim.
Nota da autora: Acabou e eu quero chorar! Haha Essa é a primeira short que posto, depois de parar de escrever por 3 anos. Comecei a postar uma fanfic em andamento (Relatos de uma vida), e quando vi o especial pensei que poderia ser legal participar. Tentei fazer algo diferente e confesso que não foi muito fácil, tive momentos de total falta de criatividade, escrevi 10 páginas, apaguei todas, escrevi novamente... E quando parecia estar “tomando rumo”, li o resumo que tinha feito sobre como eu imaginava a história, conclusão, estava muito diferente e recomecei do zero! Foi ai que a criatividade voltou, escrevi em três dias o que vocês acabaram de ler e espero que tenham gostado!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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