Capítulo Único
- Eu provavelmente deveria entrar – null murmurou, sorrindo contra os lábios de null.
- E eu deveria te deixar ir – ele sorriu, segurando a nuca dela e a beijando novamente.
Eles haviam saído do cinema já fazia quase uma hora depois de terem assistido um filme horrível dos anos 70 em preto e branco, onde um bando de E.T zumbi atacava uma fazenda e tocava o terror ao comer o cérebro das cabras. null parecia ter adorado o filme, mas null havia passado a maior parte do tempo só fazendo piadas para distraí-lo. Agora estavam no carro, em frente à casa dela, tentando se despedir.
- Então para de me beijar, null! – mordiscou o lábio dele, espalmando as mãos no peito do homem e o empurrando para trás. – É sério, meu pai já deve ter notado o seu carro parado aqui faz meia hora.
- Tá, parei, parei... – riu, escorando as costas na porta do carro para que pudesse ficar de frente pra null.
- Eu tô com preguiça de sair daqui – confessou, enchendo as bochechas de ar em uma expressão quase infantil.
- Então não saia – sugeriu, puxando a mão dela e entrelaçando seus dedos.
- Não sei se seria muito confortável dormir aqui – ela estalou os lábios como se realmente cogitasse a ideia.
- Eu já dormi várias vezes no carro. Não é assim tão ruim – null deu de ombros, mexendo em alguma coisa na poltrona do carro e reclinando o banco para trás. – É só fazer isso.
- Bom, é provável que se meu pai ver isso, ele ache que nós estávamos fazendo tudo, menos dormir – arqueou as sobrancelhas, deixando claro o que estava insinuando.
- Ele já não gosta muito de mim, então... – encolheu os ombros, voltando a arrumar o banco do carro.
- Não é que não goste! – null defendeu. – É que você é o primeiro cara com quem eu saio por mais de uma semana. Ele só está um pouco protetor.
- Ele sabe que eu vou embora semana que vem. Deve estar pulando de felicidade então – brincou, mesmo que não achasse muita graça nisso.
null e null haviam se conhecido no começo do verão por intermédio do melhor amigo dos dois, null. null e null eram amigos de infância, mas há uns anos, null teve que se mudar para a Inglaterra com seus pais e só tinha voltado para a Califórnia para passar o verão, que infelizmente, já estava no fim. null e null haviam se encontrado na festa de início das férias que null sempre oferecia e desde então começaram a sair. Era óbvio que os dois estavam se gostando demais, mas ninguém ousava mencionar que essa era a última semana de verão e que na próxima segunda, null estaria em um voo de volta para Londres.
- Eu adoro essa música, aumenta! – null sorriu, mudando de assunto, girando o volume do rádio ao ouvir uma das suas músicas favoritas tocar.
Uma verdade inquestionável era o fato de que ela era louca pelo Ed Sheeran e o novo álbum dele havia se tornado um de seus favoritos. A música how would you feel havia se tornado uma de suas prediletas e era exatamente essa que tocava agora.
- You are the one, girl, and you that is true... – null fechou a mão e levou aos lábios, simulando um microfone. – I’m feeling younger every time that I’m alone with you.
null sorriu, se escorando na outra porta e girando seu corpo para ficar de frente para null enquanto ele cantava sua música favorita. Ele era um ótimo cantor, não era à toa que durante as férias seu emprego à noite era como cantor em um restaurante a beira mar. Além disso, ela não conseguiu deixar de associar a música a eles dois. null era uns cinco anos mais velho e apesar de não ser uma diferença gritante, ele continuava insistindo que se sentia mais novo perto dela.
- We were sitting in a parked car, stealing kisses in the front yard. We got questions we should not ask, but... – ele continuou a cantar, fixando os olhos nos de null.
Ele iria voltar para Londres na segunda-feira e eles ainda não tinham tido uma conversa sobre como ficariam depois disso. No começo, os dois concordaram que seria apenas um lance sem compromisso. Mas agora? Eles estavam cientes que era bem mais que isso. Não que algum deles tivesse dito em voz alta. Mesmo que seus sentimentos fossem gritantes, eles não podiam ser ouvidos por outras pessoas que não seus próprios donos.
- Argh, eu preciso ir! – null resmungou, determinada dessa vez. – A gente se vê amanhã, null.
- Ei, eu te levo na porta, baixinha, espera! – null falou, saindo do carro ao mesmo tempo que null.
- Tão cavalheiro... – ela zombou, segurando a mão dele e entrelaçando seus dedos enquanto caminhavam até a porta da casa dela.
- Eu sempre sou um – fez uma reverência, sorrindo debochado.
- Cavalheiros não fazem uma garota implorar por um orgasmo como você fez ontem – retrucou, rindo ao lembrá-lo de ontem, onde ele a torturou por um tempão. Claro que valeu a pena, mas mesmo assim ainda foi maldade.
- Esse faz – riu, parando diante da porta e de frente para a garota. – A gente se vê amanhã na praia quando seu turno acabar?
- Sim. A null vai passar lá e a gente vai juntas se encontrar com vocês – null se inclinou, dando um selinho demorado nos lábios do homem. – Até amanhã.
- Até amanhã – apertou a cintura dela de leve antes que null se afastasse. – Ei, vai colocar aquele baby doll?
null sorriu maliciosa, piscando para ele.
- Será? – arqueou as sobrancelhas.
- Se colocar, eu quero... – antes que null pudesse continuar a frase, a porta da frente se abriu para a surpresa dos dois. O rapaz ficou branco antes de ficar vermelho. – Olá, Sr. .
- Oi, null – o pai dela respondeu secamente. – O que você quer que minha filha faça se ela colocar o pijama?
null quase sentiu sua palma da mão soar frio enquanto olhava meio desesperado para null e o pai. Ela parecia estar segurando o riso.
- Eu quero que ela se certifique de colocar um suéter e uma meia porque tá frio – enrolou, coçando a nuca de nervoso.
- Frio? Está fazendo vinte e seis graus – o homem rebateu e null quis xingá-lo por saber até a temperatura que estava.
- É que a gente tava no ar-condicionado. Não percebemos que estava calor, pai – null interviu, notando o desespero de null. – Boa noite, null.
Antes que null se despedisse, null saiu empurrando o pai para dentro de casa. O rapaz finalmente soltou o ar que esteve prendendo. O pai dela o assustava muito, especialmente por já ter deixado claro suas habilidades de combate e de esconder um corpo. Deixando de lado esse tipo de pensamento, ele só entrou no carro e meteu o pé para casa.
“Onde vocês estão?” – null.
- Nenhum sinal deles? – null perguntou, semicerrando os olhos na tentativa de ver com nitidez os rostos das pessoas mais distantes. – Eu realmente devia grudar meus óculos na cara para parar de esquecer deles e não ficar nessa situação.
- Concordo – null sorriu, fazendo careta ao olhar novamente para todos os lados. – Nenhum sinal.
- Por que eles marcam de nos encontrar perto do píer se eles não estão aqui? – a baixinha resmungou, desistindo e sentando na areia.
- Eles pensaram que a gente ia atrasar – respondeu, sentando ao lado da amiga.
null e null estavam trabalhando como garçonetes em uma lanchonete perto da praia durante o verão. O trabalho era legal, as pessoas normalmente também eram e as gorjetas eram a melhor parte, sem contar que nas tardes de quarta elas tinham a tarde livre e podiam ir para praia.
- Bom, então vamos esperar por eles aqui. Eu adorei a vista – ela sorriu maliciosa, olhando para o grupo de garotos que jogava vôlei mais a frente.
- Nada mal mesmo – null concordou, compartilhando do sorriso da amiga. – Ei, você não me falou do que aconteceu com você e o null.
null crispou os lábios, fingindo não saber sobre o que null acabara de falar.
- O que aconteceu entre eu e o null? – questionou, colocando os óculos escuros logo após tirar a blusa, ficando apenas com a parte de cima do biquíni e o short.
- Você me ligou logo depois da festa na casa da Ronie. Disse que rolou uma coisa com o null e que você ia me falar assim que ficasse sóbria – relembrou, girando seu corpo para observar as reações dela. – Fala!
- Eu estava bêbada! Não sei – deu de ombros, enrolando uma mecha de cabelo no dedo.
- Você mexe no cabelo quando tá mentindo! null, me conta! – cutucou a barriga da garota, que de cócegas, pulou para o lado. – Eu vou perguntar para ele.
- Ué, pergunta. Eu não sei de nada mesmo – ela deu de ombros, levantando da areia. – Eu vou perguntar se aqueles meninos precisam de uma outra jogadora com eles. Pode vir comigo ou ficar aí martelando essa besteira na cabeça.
null bufou, querendo matar a melhor amiga por fugir tanto quando o assunto era null. Não estava afim de ir jogar vôlei, portanto voltou a checar o celular e viu que tinha uma mensagem de null.
“null quis parar para comprar uma coisa, mas já estamos chegando. Estão perto do píer?” – null.
“Siiiim! É só procurar pela garota mais bonita em um biquíni verde-azulado e você encontra. Não procure a null. Ela está jogando vôlei” – null.
“Biquíni verde-azulado? É aquele verde, né?” – null.
“E como assim a null tá jogando vôlei? Com quem?” – null.
“É verde-azulado, null. Um meio termo entre verde e azul, não uma cor só!” – null.
“E ela foi se juntar aos caras que tão jogando aqui na frente haha” – null.
“É verde!” – null.
“Eu não vou discutir sobre a cor do meu biquíni se eu sei que é verde-azulado” – null.
Deixando o celular de lado, null tirou o vestido que tinha colocado por cima do biquíni, colocou seu óculos de sol, estendeu a canga na areia e deitou para apreciar o solzinho gostoso. Estava tão relaxada que só percebeu que alguém tinha se aproximado quando sentiu um beijo em seus lábios. Abriu os olhos já alarmada, mas respirou aliviada ao ver que era null.
- Eu quase te bati – ela falou, empurrando ele para o lado.
- Desculpa, não resisti – null sorriu, beijando a bochecha dela.
- Cadê a null? – null perguntou, sentando-se de lado para que ficasse melhor de interagir com o casal.
- Sendo feliz com os jogadores de vôlei – null apontou para um local mais a frente onde a garota estava rindo horrores com um jogador alto que estava ao seu lado.
- Ah – ele respondeu secamente, olhando na direção, mas se voltando para o casal. – Se me derem licença, eu preciso ir resolver um assunto.
- Eles se pegaram, né? – null suspirou, olhando para null.
- Se pegaram – null confirmou.
null e null se gostavam há anos. Já namoraram, já terminaram, já tiveram recaídas, já brigaram, já tiveram recaídas e mais recaídas, mas era óbvio que ainda eram apaixonados mesmo que não conseguissem fazer funcionar.
- A gente realmente devia seguir a ideia de trancar os dois em um quarto – a garota sorriu, cogitando.
- Devia, mas no momento, vendo você nesse biquíni, é você quem eu queria trancar em um quarto – beijou o ombro dela, sorrindo. – E é verde.
- Eu poderia deixar a porta da varanda do meu quarto aberta se você conseguir escalar. Subir pela videira é mais fácil do que aparenta. Tem uma escada escondida entre elas. É só você entrar no quintal sem acordar o Stark. Meu pai trabalha cedo então nem te veria indo embora – fechou os olhos, abrindo um sorrisinho ao sentir o beijo em seu ombro. – E é verde-azulado!
- Eu sou velho demais para escalar a varanda de uma garota para passar a noite com ela – retrucou, mas seus olhos azuis brilhavam com a ideia. – Tá, que seja, ! É a cor que você quiser.
- Velho demais? – riu, jogando a cabeça para trás. – Você tem vinte e três anos. Meu pai tem uma camisa mais velha que isso.
- Eu vou tomar meu remédio para os ossos antes de escalar – piscou um olho. – Assim que eu sair mais tarde, vou para sua casa.
- Ótimo! – declarou, feliz, se inclinando para beijar o garoto.
null não perdeu tempo e puxou null para perto de modo que a garota agora estava sentada no meio de suas pernas e com as costas encostadas em seu peito. Ele sorriu, abaixando os olhos para ela que estava distraída olhando a discussão dos amigos – null e null – mais a frente. Ele se perguntava o que era o sentimento gritante em seu peito quando estava com ela e o mais berrante ainda quando pensava que iria embora na segunda-feira.
Se perguntava também como uma pessoa podia se tornar tão importante em apenas algumas semanas e o que diabos ele realmente sentia por null , já que o sentimento parecia crescer cada vez mais. Mas, olhando para ela enquanto os raios de sol iluminavam seus olhos grandes e castanhos, ele encontrou sua resposta, só não estava disposto a acreditar.
- Por que você tá me encarando? – null perguntou, virando o rosto para ele.
- Porque tem uma mancha estranha na sua testa – brincou, estalando um dedo de leve em sua testa.
- Outch – fez uma careta, batendo na mão dele. – Você é muito estranho, null null.
- Vamos entrar na água, levanta! – colocou as mãos no quadril dela, a instigando a levantar.
Os dois foram de mãos dadas até onde null e null ainda estavam discutindo e interromperam a briga, puxando cada um dos dois por um braço e os levando com eles até o imenso mar azul.
- Eu estava no meio de um argumento muito bom – null ralhou com eles, sentindo seu pé ficar úmido pelas ondas leves que batiam em seu tornozelo agora.
- E eu estou no meio de um verão maravilhoso e não quero aproveitar a última semana dele com vocês brigando – null sorriu, abrindo os braços e rodopiando ao redor de si mesma. – Vamos, deem uma trégua até segunda.
- Nós já pausamos brigas por mais tempo que isso – null deu de ombros, olhando para a amiga e ex-namorada.
- Eu quero um sorvete enorme por essa trégua – a morena avisou, sorrindo para os três.
- Maravilhoso! – null gritou.
E os quatro passaram a tarde lá, rindo, se divertindo e para null e null, se apaixonando cada vez mais. Só foram embora no finzinho da tarde, pois null precisava se arrumar para o trabalho. null ainda passou boa parte da noite na casa de null, mas foi embora de carona com null – que alegou estar passando pela casa da amiga e resolveu perguntar se a outra não precisava de carona.
null estava sentada na cama lendo um livro para passar o tempo. Já era mais de meia-noite e null devia estar quase chegando. O pai dela já havia ido dormir há umas três horas e ela quase conseguia ouvir seus roncos de onde estava. Os galhos da árvore lá fora balançaram mais que o normal e isso despertou a atenção dela. Deixando o livro de lado, andou até a varanda e abriu a porta, saindo e sentindo a brisa quente e gostosa do verão cobrir sua pele. Firmemente agarrado a um galho, null olhou para ela meio em desespero.
- Para você, Julieta – ele sorriu, se segurando firmemente com um braço e estendendo o outro, revelando as quatro lilases que ele trazia.
- Você arrancou isso do meu jardim? – sorriu em descrença, se inclinando no parapeito para pegar as flores. – Meu pai vai morrer quando for aguar e ver elas faltando.
- Você pode sugerir que foi um cara apaixonado que roubou para uma garota – null deu a ideia, conseguindo colocar um pé no chão da varanda e depois o outro até que estava de frente para null. – Oi.
null sentiu seu coração saltar no peito com o que ele falou. null nunca tinha dito abertamente que era apaixonado por ela. Nenhum dos dois tinha.
- Olá – ela sorriu, rodeando o pescoço dele com um braço e o beijando. – Vamos entrar antes que a vizinha curiosa e com insônia apareça na janela e resolva perguntar para meu pai amanhã, quem era o rapaz beijando a filha dele.
Os dois entraram no quarto e null fechou a porta da varanda, puxando as cortinas junto. Sua vizinha era realmente curiosa e intrometida, então quando não conseguia dormir – o que era frequente – ela ia para a varanda observar as casas vizinhas.
- O Asher já começou a sentir minha falta. Quase chorou quando eu encerrei a noite hoje – null comentou, divertido, olhando ao redor do quarto de paredes amarelas com borboletinhas brancas e pretas.
- Jura? Ai, meu Deus! O Asher é um amor de pessoa. Eu trabalhei com ele no verão passado. Ele fez uma festa de despedida quando eu e a null saímos – relembrou, sorrindo. – E ele gosta muito de você. Fiquei até com ciúmes naquele outro dia que a gente encontrou ele no mercado.
- Ciúmes? – null provocou, arqueando uma sobrancelha.
- Eu sou ciumenta e passei o verão todo beijando só sua boca, então é óbvio que eu espero o mesmo de você – deu de ombros, cruzando os braços.
- Eu só dei um beijinho nele, mas não significou nada – zombou, esticando os braços para puxá-la pela cintura.
- Tem certeza? Não vou te perdoar caso faça isso de novo – choramingou, entrando na brincadeira.
- Absoluta! – assentiu com a cabeça, pegando as mãos dela e beijando o torso de cada uma. – Sexo de reconciliação parece bom para você?
- Parece ótimo – ela sorriu, o beijando e já andando em direção a cama.
Os dois caíram na cama, que estalou com o peso, mas null só deu um risinho e balançou a cabeça para indicar que era besteira. O beijo era intenso, necessitado. Os dois sabiam que esse seria um dos últimos momentos a sós juntos e queriam aproveitar o máximo que dava, mas logo que null começou a passar as mãos pelas coxas dela, beijando seu pescoço, null pôde ouvir claramente o ronco do pai.
- null, não posso fazer isso com meu pai estando só a duas portas daqui – ela murmurou, fazendo uma careta. – Dá pra ouvir o ronco dele.
null afastou o rosto do pescoço dela e ergueu a cabeça como se para escutar o ronco. Acabou caindo na cama ao lado dela, rindo baixo.
- Eu não estava nem escutando, mas agora tô e não rola mesmo – ele disse, ainda rindo. – Netflix?
- Sim! – concordou, levantando para pegar o notebook. – Vai escolhendo o filme.
Enquanto null colocava o filme, null foi até o closet e pegou uma caixa de sapato, trazendo para a cama. O garoto estranhou, mas assim que ela abriu, ele viu que dentro havia salgadinho, vários doces e barras de chocolate.
- Por que você tem isso numa caixa de sapato? – questionou, desviando o olhar da tela do notebook.
- Porque as vezes eu preciso e não quero ir buscar na cozinha – respondeu, já abrindo uma das barras de chocolate meio-amargo.
- Pode ser Sr. e Sra. Smith? – perguntou, roubando uma mordida da barra de chocolate dela.
- Pode! – aprovou, fazendo uma careta e afastando o chocolate.
Se encolheram na cama enquanto comiam doce e tentavam não fazer barulho com os comentários empolgados durante o filme. Depois desse, ainda resolveram começar a assistir Breaking Bad, mas null dormiu no quarto episódio e null ficou encarregado de guardar tudo. Depois de deixar o notebook na escrivaninha, de jogar os papeis dos doces fora e de pegar os travesseiros e cobertores no closet, ele voltou e fez o melhor que pôde para deixar ela confortável, deitando ao lado dela em seguida. A garota adormecida se remexeu na cama, acabando por jogar um braço por cima da cintura dele e se aconchegando mais perto de seu peito.
- Se eu dissesse que te amo, eu estaria muito fodido? – ele murmurou, olhando para ela.
Mas é claro, ela não ouviu e por isso não respondeu.
- Olha o casal sensação aí! – Ellie sorriu, abraçando null e null pelo pescoço de uma vez só. – Pensei que iam aproveitar o último dia de vocês juntos, sozinhos.
- Muito egoísmo privar o mundo de ver esse neném lindo pela última vez – null zombou, apertando um lado das bochechas de null e beijando o outro.
- Seria muita covardia da parte dela mesmo – null concordou, entrando na brincadeira. – E o seu namorado?
- Joey está lá na cozinha tentando fazer os drinks que aprendeu – revirou os olhos, sorrindo. – Aposto que o null não vai ficar feliz em ver ele gastando a Abslout para fazer drink ruim.
Como de costume, null dava uma festa no início e fim do verão. Como hoje também era feriado na cidade e haveria uma queima de fogos mais tarde, ele tinha optado pela casa da praia que os pais tinham ao invés do seu apartamento e como era de se esperar, praticamente todos estavam ali.
- Não vai mesmo, especialmente se for a de pêssego – null falou, se aproximando do trio. – Olá, lovebirds. Ellieee!
- Oi, maravilhosa! – Ellie sorriu, sapecando um beijo na bochecha da recém-chegada. – Vou falar com a Mandy e o Trevor. Até mais!
- Que horas é seu voo amanhã, bonitinho? – null perguntou para null.
- Seis da noite – informou, dando de ombros. – Vai se juntar ao comitê de despedida e chorar muito?
- Vou sim – assentiu, fazendo um bico choroso. Apesar da brincadeira, era claro em seu olhar que iria sentir falta dele e da amizade recente. – Ah, o null estava te procurando.
- E onde ele tá? – perguntou, olhando ao redor.
- Lá em cima, pode ir lá – apontou para as escadas.
Assim que null virou, null olhou para null.
- Como você está?
- Bem, ué – null deu de ombros.
- Em relação ao null – especificou.
- Nós dois sabíamos que ia acabar – falou. – E...
- E ainda assim, não é tão fácil – completou, recebendo um aceno em concordância. – Vocês conversaram sobre como vai ser agora?
- Não, mas é bem óbvio, né? Ele vai voltar para Londres, eu vou começar a universidade na Columbia. Simplesmente não dá certo – suspirou, cruzando os braços.
- Não custa tentar, amiga – encorajou, esbarrando o ombro no de null.
- Eu não sou boa com relacionamentos normalmente, quanto mais a distância, null – mordiscou o lábio.
- Por isso que eu falei para tentar – insistiu, colocando as mãos na cintura.
- Você quer beber alguma coisa? Porque eu quero! – mudou de assunto, puxando a garota pela mão.
- Eu te amo, mas te odeio, – resmungou, seguindo ela.
null apenas sorriu, continuando seu caminho até a cozinha. Pensar nessas coisas a lembrava de que só tinha mais algumas horas ao lado de null, que se tornara tão especial para ela durante esse verão, que a assustava. Ao chegarem na cozinha, foi direto até os copos vermelhos no balcão e pegou a primeira garrafa que viu pela frente, despejando o líquido no copo.
- Ih, o null tá vindo com o seu boy. Tô indo falar com a Kailey, beijos – null olhou para um ponto atrás de null, depois soprou um beijo no ar e foi correndo pela porta dos fundos.
- Por que a null fugiu da gente? – null questionou, se aproximando de null.
- Não foi de vocês, foi do null mesmo – respondeu, abraçando null pela cintura. – Ela provavelmente foi pra praia, segue lá ela, null.
- Eu cansei – null revirou os olhos, mas olhou para a porta. – Mas eu vou dar uma conferida no pessoal lá atrás.
Dito isso, disparou pela porta, deixando os amigos rindo.
- Ei, quer ir na cabine fotográfica agora? Todo mundo já tá lá fora esperando pelos fogos, ela deve estar vazia – null sugeriu, sorrindo para null.
- Vamos sim! Adoro cabines – ele concordou, segurando os ombros dela e a empurrando em direção a sala.
De alguma forma, null havia conseguido uma cabine fotográfica e ela estava no canto da sala servindo de atração.
- O que o null queria com você? – ela perguntou, curiosa.
- Uma coisinha que eu planejei com ele – respondeu, sorrindo como quem sabe das coisas.
- Ah, não! Vai ficar de segredinho agora? – fez um bico.
- Desculpa – riu, estalando um beijo na bochecha dela. – Vem, vamos entrar!
null afastou a cortina da cabine e manteve aberta até que null entrasse. Uma espécie de tablet estava com a tela acesa e a câmera aberta, apenas esperando os dois acionarem.
- E as poses? Não sou boa nisso – a garota mordiscou o lábio, olhando para null.
- A gente vai improvisando – ele disse, se posicionando ao lado dela. – Posso acionar?
Quando ela anuiu, ele esticou o braço e apertou no botão para acionar a câmera. Depois de uma contagem regressiva de 5 segundos, a primeira foto foi tirada e os dois saíram sorrindo, abraçados de lado. Enquanto contava outros 5 segundos para a próxima foto, os dois mudaram a pose e fizeram uma careta como se estivessem rugindo. A próxima pose foi mais fofa e foi com null dando um beijo na bochecha de null, que saiu com um sorriso de orelha a orelha e os olhos fechadinhos. Na última pose, ele olhou para ela e simplesmente a beijou.
- Acho que essa última saiu ótima – null falou, abrindo um sorriso contra os lábios dele.
- Foi a minha favorita – riu, dando um selinho nela antes de se afastar. – É quase meia-noite, vamos lá ver os fogos.
Ao sair da cabine, null pegou as duas cópias com as quatro fotos. Entregou uma para null e guardou a outra. Ela estava prestes a sair para o deck onde todos iriam observar os fogos, mas null a puxou na direção contrária, subindo os lances de escada que levavam até o sótão da casa.
- Devo me preocupar? – null perguntou, fazendo uma careta ao entrarem no sótão.
- Não – garantiu, indo até a portinha no canto do sótão. – Fecha os olhos.
- Eu tô me preocupando... – falou, desconfiada.
- Só faz isso! – riu e assim que viu que ela estava de olhos fechados, abriu a porta e saiu.
null só escutou os passos de null lá fora e a brisa gelada pinicar sua pele. Em seguida sentiu mãos em sua cintura e logo seu corpo ser puxado para lá também.
- Pode abrir – null deu permissão.
null perdeu o ar ao ver onde estavam. A casa de null era uma estrutura enorme de três andares e eles estavam na parte mais alta do telhado, que era logo em cima dos painéis de vidro da estufa. O céu era maravilhoso visto de lá e a vista era simplesmente de tirar o fôlego.
- Eu me certifiquei que o vidro é resistente o bastante para nós dois e ainda mais três pessoas – null avisou, olhando para baixo e encontrando o topo das plantas lá embaixo. – Vem, vamos sentar.
Mais no meio da plataforma de vidro havia um cobertor grosso, uma pilha de travesseiros apoiadas no canto onde o vidro se elevava para formar um teto mais elevado, uma garrafa de champanhe já aberta e duas taças só esperando serem preenchidas. Um prato cheio de morangos e até pipoca estava lá.
- null, isso é maravilhoso – null conseguiu falar, se recuperando do choque.
- Eu sei – ele disse convencido, mas sorriu com o elogio.
null sentou, cruzando as pernas em estilo borboleta e agradeceu por seu vestido ter a saia mais soltinha. null sentou logo ao lado dela, ligeiramente posicionado um pouco atrás dela de modo que a garota pudesse encostar as costas em seu peito. Ele só se ergueu um pouco para tirar o celular e um fone de ouvido do bolso, então jogou o cobertor sobre os ombros dos dois.
- Por que você fez tudo isso? – null perguntou, olhando para ele e colocando um dos fones quando ele lhe entregou.
- Eu vou embora amanhã. Depois de um verão maravilhoso, achei que merecíamos uma despedida maravilhosa – disse, colocando o outro fone em seu ouvido e colocando play em uma música qualquer.
- Eu não queria que você fosse – murmurou, confessando isso pela primeira vez para ele.
- Eu também não queria – suspirou, encostando a cabeça na dela. – Mas ainda não é nosso tempo, baixinha.
- Acho que não – concordou, baixando seu olhar para as ondas quebrando no mar lá embaixo. – E como a gente fica?
- A gente fica assim. Eu sou null null, estudante de direito em Cambridge. Você é null , futura caloura de medicina na Columbia. Nos conhecemos no verão de 2017 e foi o melhor verão das nossas vidas. Não nos rotulamos como namorados porque não queríamos acabar no final. Então somos só isso. null e null – ele murmurou, fazendo uma enrolação enorme só para não chegar em lugar algum.
- Acho que entendi seu ponto – ela riu. – Eu vou sentir sua falta, null null. Você até que beija bem.
- Também vou sentir sua falta, null . Você tem o melhor boq... – ele começou a falar, mas null caiu na risada e colocou o indicador nos lábios dele, o impedindo de prosseguir.
- Não continue! – disse, ainda rindo e provocando o riso de null também.
Antes que ele pudesse retrucar alguma coisa, uma explosão de fogos clareou o céu escuro acima deles, ganhando a total atenção do casal ao mesmo tempo que a música favorita de null começou a tocar. How would you feel fez com que os fogos azuis, verdes, vermelhos ficassem ainda mais espetaculares no céu por alguns minutos. Isso quase se igualou com a explosão de sentimentos que os dois sentiam em seus corações apertados pela inevitável despedida. Quando o espetáculo cessou, os dois permaneceram em silêncio por mais alguns minutos.
- Como você se sentiria se eu dissesse que te amo? – null sussurrou, quebrando o silêncio e desabafando o que já sentia há um tempo.
O coração de null deu um salto, depois parou e sua mente demorou para processar as palavras ouvidas. Ela não era uma pessoa muito bem resolvida nesse quesito e não sabia nem se quer categorizar o que sentia. Ela sempre acreditou que o amor demorava a chegar na vida das pessoas e não achava que poderia amar alguém em apenas 6 semanas, mas lá estava ela, olhando para os olhos azuis do cara ao seu lado e sentindo exatamente o amor que nunca acreditara ser capaz de sentir.
- Eu ficaria apavorada e imensamente feliz por não ter sido a única idiota a cair nesse nosso joguinho – respondeu baixinho, com um sorriso nos lábios. – E diria que eu também te amo.
- Eu sei que ama – sorriu convencido, abaixando o rosto contra o dela e capturando os seus lábios em um beijo calmo.
O barulho da festa, o vento assoviando no ouvido dos dois e o som das ondas quebrando na areia foram a trilha sonora do momento mais especial dos dois durante o verão todo e possivelmente de suas vidas. Apesar de tudo ficar ainda mais difícil agora, ambos estavam felizes por não se segurarem com uma coisa maravilhosa como aquela.
- Nós vamos voltar para a festa? – null perguntou quando seus lábios finalmente se desgrudaram.
- Não. Essa é nossa noite de despedida, vamos ser só eu, você, champanhe e Netflix – ergueu o celular. – Nós não terminamos de assistir Breaking Bad aquele dia.
Ela riu, mais que satisfeita.
- Pipoca com champanhe é uma combinação bem exótica – ela comentou ao observar null encher as taças.
- Mas ainda tem morango pra equilibrar – ele falou, empurrando o prato pra perto dela e pegando as taças também. – Prontinho.
null sentou atrás de null de modo que ela ficasse entre suas pernas e encostou as costas nos travesseiros. null puxou a bacia de pipoca para o colo e null abriu a Netflix e colocou no episódio onde haviam parado. Ele envolveu o corpo dela com os braços e apoiou o celular nas coxas da garota já que ela estava com os joelhos dobrados agora, permitindo que os dois assistissem confortavelmente.
Durante aquele tempo, aproveitaram o calor um do outro, tentando, mesmo que de forma inconsciente, memorizar cada pedacinho de pele e dos toques que conseguiam. A pipoca foi a primeira a acabar, logo em seguida o morango e quando o champanhe chegou na metade, a série foi esquecida e os dois ficaram conversando sobre amenidades e da vida que os esperavam pela manhã.
O céu, de preto passou para um azul mais claro e de azul foi para laranja meio rosa até que o sol surgiu em plena forma acima do casal que não havia feito questão de dormir.
- Nós precisamos descer, não é? – null suspirou, afastando o cobertor quando começou a ficar com calor.
- Precisamos – confirmou, olhando para ela. – Pronta?
- Não – sorriu, beijando o queixo dele. – Mas vamos mesmo assim.
Juntaram tudo e desceram, encontrando a casa bagunçada, porém, silenciosa. Ao passarem pelo quarto de null, cuja porta estava aberta, viram a cena do melhor amigo dormindo abraçado com null na poltrona da varanda. null foi obrigada a parar para tirar uma foto que iria usar contra os dois pelo resto da vida. Depois disso, foram até o quarto onde null estava ficando e caíram morrendo de sono lá, acordando horas mais tarde com o despertador avisando que o null precisava arrumar as coisas para ir embora.
null já estava acordado e null fingiu não ter dormido lá ao chegar na casa já limpa e de roupa trocada. Também trouxe hambúrgueres enormes para todos. Os quatro comeram no caos em que a cozinha se encontrava, rindo de coisas e momentos banais que aconteceram durante o verão e no fim da tarde, uma hora antes do voo de null, levaram o rapaz para o aeroporto.
Lá no aeroporto, se largaram no chão mesmo e continuaram zoando, fazendo uma espécie de verdade ou desafio para passar o tempo e distrair todos eles da dor que estava por vir, mas o tempo passou mais rápido que o normal e null foi obrigado a embarcar.
- Quando eu for na Inglaterra, é bom você ter vários lugares legais e um amigo lindo pra me apresentar, beleza? – null intimou null, o soltando do abraço.
- Um amigo lindo? – ele riu, abraçando os ombros dela e a virando para null. – null, lhe apresento o meu amigo lindo. Amigo lindo, te apresento null. Tá vendo? Sou eficiente. Só falta os lugares legais.
- Você é um idiota – null riu, batendo nele e o abraçando rapidamente de novo.
- É por motivos como esse que eu não vou sentir sua falta – null falou, sorrindo e indo abraçar o melhor amigo.
- Você vai me mandar uma mensagem de voz chorando assim que eu embarcar, null – null zombou, abraçando o amigo com força. – E é por isso que eu também não vou sentir sua falta.
- Mas vou sentir falta do resto – falou, sorrindo e se afastando.
- Eu também – sorriu, apertando o ombro dele. – Vou esperar a mensagem pra escutar quando chegar em Londres.
- Eu vou gravar assim que você entrar lá – garantiu.
null olhou para null e a embalou em seus braços quando ela o abraçou com todas as forças que tinha. A hora havia chegado e nenhum dos dois estava preparado.
- Breaking Bad é nossa coisa, não assista com mais ninguém – null murmurou, afundando o rosto no pescoço dele.
- E pipoca com champanhe também é tradição nossa. Não repita com mais ninguém – ele sorriu, beijando o topo da cabeça dela.
- Combinado – ela assentiu, se afastando pra encará-lo.
- Não quero que você pense muito na gente, tá? Não se prenda a isso, mas também não esquece – pediu, encarando os olhos castanhos que ele tanto gostava. – Vamos viver.
- Não esquecerei – confirmou. – Digo o mesmo para você.
- Você é inesquecível, baixinha.
E null a beijou, a abraçando com tanta força que a tirou do chão. A cena doía até para null e null, melhores amigos dos dois, que estavam mais no canto observando a despedida e se abraçando também.
- Até a próxima? – null encostou a testa na de null, sorrindo.
- Até a próxima – sorriu, fitando os olhos azuis do rapaz.
null deu um último abraço em todos e em seguida, sem olhar para trás por sentir medo de não conseguir embarcar, entrou no portão de embarque deixando dois amigos incríveis e a primeira garota que já amou e que provavelmente continuaria amando, porém, levou junto memórias maravilhosas, sentimentos inexplicáveis e um verão inesquecível.
- E eu deveria te deixar ir – ele sorriu, segurando a nuca dela e a beijando novamente.
Eles haviam saído do cinema já fazia quase uma hora depois de terem assistido um filme horrível dos anos 70 em preto e branco, onde um bando de E.T zumbi atacava uma fazenda e tocava o terror ao comer o cérebro das cabras. null parecia ter adorado o filme, mas null havia passado a maior parte do tempo só fazendo piadas para distraí-lo. Agora estavam no carro, em frente à casa dela, tentando se despedir.
- Então para de me beijar, null! – mordiscou o lábio dele, espalmando as mãos no peito do homem e o empurrando para trás. – É sério, meu pai já deve ter notado o seu carro parado aqui faz meia hora.
- Tá, parei, parei... – riu, escorando as costas na porta do carro para que pudesse ficar de frente pra null.
- Eu tô com preguiça de sair daqui – confessou, enchendo as bochechas de ar em uma expressão quase infantil.
- Então não saia – sugeriu, puxando a mão dela e entrelaçando seus dedos.
- Não sei se seria muito confortável dormir aqui – ela estalou os lábios como se realmente cogitasse a ideia.
- Eu já dormi várias vezes no carro. Não é assim tão ruim – null deu de ombros, mexendo em alguma coisa na poltrona do carro e reclinando o banco para trás. – É só fazer isso.
- Bom, é provável que se meu pai ver isso, ele ache que nós estávamos fazendo tudo, menos dormir – arqueou as sobrancelhas, deixando claro o que estava insinuando.
- Ele já não gosta muito de mim, então... – encolheu os ombros, voltando a arrumar o banco do carro.
- Não é que não goste! – null defendeu. – É que você é o primeiro cara com quem eu saio por mais de uma semana. Ele só está um pouco protetor.
- Ele sabe que eu vou embora semana que vem. Deve estar pulando de felicidade então – brincou, mesmo que não achasse muita graça nisso.
null e null haviam se conhecido no começo do verão por intermédio do melhor amigo dos dois, null. null e null eram amigos de infância, mas há uns anos, null teve que se mudar para a Inglaterra com seus pais e só tinha voltado para a Califórnia para passar o verão, que infelizmente, já estava no fim. null e null haviam se encontrado na festa de início das férias que null sempre oferecia e desde então começaram a sair. Era óbvio que os dois estavam se gostando demais, mas ninguém ousava mencionar que essa era a última semana de verão e que na próxima segunda, null estaria em um voo de volta para Londres.
- Eu adoro essa música, aumenta! – null sorriu, mudando de assunto, girando o volume do rádio ao ouvir uma das suas músicas favoritas tocar.
Uma verdade inquestionável era o fato de que ela era louca pelo Ed Sheeran e o novo álbum dele havia se tornado um de seus favoritos. A música how would you feel havia se tornado uma de suas prediletas e era exatamente essa que tocava agora.
- You are the one, girl, and you that is true... – null fechou a mão e levou aos lábios, simulando um microfone. – I’m feeling younger every time that I’m alone with you.
null sorriu, se escorando na outra porta e girando seu corpo para ficar de frente para null enquanto ele cantava sua música favorita. Ele era um ótimo cantor, não era à toa que durante as férias seu emprego à noite era como cantor em um restaurante a beira mar. Além disso, ela não conseguiu deixar de associar a música a eles dois. null era uns cinco anos mais velho e apesar de não ser uma diferença gritante, ele continuava insistindo que se sentia mais novo perto dela.
- We were sitting in a parked car, stealing kisses in the front yard. We got questions we should not ask, but... – ele continuou a cantar, fixando os olhos nos de null.
Ele iria voltar para Londres na segunda-feira e eles ainda não tinham tido uma conversa sobre como ficariam depois disso. No começo, os dois concordaram que seria apenas um lance sem compromisso. Mas agora? Eles estavam cientes que era bem mais que isso. Não que algum deles tivesse dito em voz alta. Mesmo que seus sentimentos fossem gritantes, eles não podiam ser ouvidos por outras pessoas que não seus próprios donos.
- Argh, eu preciso ir! – null resmungou, determinada dessa vez. – A gente se vê amanhã, null.
- Ei, eu te levo na porta, baixinha, espera! – null falou, saindo do carro ao mesmo tempo que null.
- Tão cavalheiro... – ela zombou, segurando a mão dele e entrelaçando seus dedos enquanto caminhavam até a porta da casa dela.
- Eu sempre sou um – fez uma reverência, sorrindo debochado.
- Cavalheiros não fazem uma garota implorar por um orgasmo como você fez ontem – retrucou, rindo ao lembrá-lo de ontem, onde ele a torturou por um tempão. Claro que valeu a pena, mas mesmo assim ainda foi maldade.
- Esse faz – riu, parando diante da porta e de frente para a garota. – A gente se vê amanhã na praia quando seu turno acabar?
- Sim. A null vai passar lá e a gente vai juntas se encontrar com vocês – null se inclinou, dando um selinho demorado nos lábios do homem. – Até amanhã.
- Até amanhã – apertou a cintura dela de leve antes que null se afastasse. – Ei, vai colocar aquele baby doll?
null sorriu maliciosa, piscando para ele.
- Será? – arqueou as sobrancelhas.
- Se colocar, eu quero... – antes que null pudesse continuar a frase, a porta da frente se abriu para a surpresa dos dois. O rapaz ficou branco antes de ficar vermelho. – Olá, Sr. .
- Oi, null – o pai dela respondeu secamente. – O que você quer que minha filha faça se ela colocar o pijama?
null quase sentiu sua palma da mão soar frio enquanto olhava meio desesperado para null e o pai. Ela parecia estar segurando o riso.
- Eu quero que ela se certifique de colocar um suéter e uma meia porque tá frio – enrolou, coçando a nuca de nervoso.
- Frio? Está fazendo vinte e seis graus – o homem rebateu e null quis xingá-lo por saber até a temperatura que estava.
- É que a gente tava no ar-condicionado. Não percebemos que estava calor, pai – null interviu, notando o desespero de null. – Boa noite, null.
Antes que null se despedisse, null saiu empurrando o pai para dentro de casa. O rapaz finalmente soltou o ar que esteve prendendo. O pai dela o assustava muito, especialmente por já ter deixado claro suas habilidades de combate e de esconder um corpo. Deixando de lado esse tipo de pensamento, ele só entrou no carro e meteu o pé para casa.
- Concordo – null sorriu, fazendo careta ao olhar novamente para todos os lados. – Nenhum sinal.
- Por que eles marcam de nos encontrar perto do píer se eles não estão aqui? – a baixinha resmungou, desistindo e sentando na areia.
- Eles pensaram que a gente ia atrasar – respondeu, sentando ao lado da amiga.
null e null estavam trabalhando como garçonetes em uma lanchonete perto da praia durante o verão. O trabalho era legal, as pessoas normalmente também eram e as gorjetas eram a melhor parte, sem contar que nas tardes de quarta elas tinham a tarde livre e podiam ir para praia.
- Bom, então vamos esperar por eles aqui. Eu adorei a vista – ela sorriu maliciosa, olhando para o grupo de garotos que jogava vôlei mais a frente.
- Nada mal mesmo – null concordou, compartilhando do sorriso da amiga. – Ei, você não me falou do que aconteceu com você e o null.
null crispou os lábios, fingindo não saber sobre o que null acabara de falar.
- O que aconteceu entre eu e o null? – questionou, colocando os óculos escuros logo após tirar a blusa, ficando apenas com a parte de cima do biquíni e o short.
- Você me ligou logo depois da festa na casa da Ronie. Disse que rolou uma coisa com o null e que você ia me falar assim que ficasse sóbria – relembrou, girando seu corpo para observar as reações dela. – Fala!
- Eu estava bêbada! Não sei – deu de ombros, enrolando uma mecha de cabelo no dedo.
- Você mexe no cabelo quando tá mentindo! null, me conta! – cutucou a barriga da garota, que de cócegas, pulou para o lado. – Eu vou perguntar para ele.
- Ué, pergunta. Eu não sei de nada mesmo – ela deu de ombros, levantando da areia. – Eu vou perguntar se aqueles meninos precisam de uma outra jogadora com eles. Pode vir comigo ou ficar aí martelando essa besteira na cabeça.
null bufou, querendo matar a melhor amiga por fugir tanto quando o assunto era null. Não estava afim de ir jogar vôlei, portanto voltou a checar o celular e viu que tinha uma mensagem de null.
“Siiiim! É só procurar pela garota mais bonita em um biquíni verde-azulado e você encontra. Não procure a null. Ela está jogando vôlei” – null.
“Biquíni verde-azulado? É aquele verde, né?” – null.
“E como assim a null tá jogando vôlei? Com quem?” – null.
“É verde-azulado, null. Um meio termo entre verde e azul, não uma cor só!” – null.
“E ela foi se juntar aos caras que tão jogando aqui na frente haha” – null.
“É verde!” – null.
“Eu não vou discutir sobre a cor do meu biquíni se eu sei que é verde-azulado” – null.
Deixando o celular de lado, null tirou o vestido que tinha colocado por cima do biquíni, colocou seu óculos de sol, estendeu a canga na areia e deitou para apreciar o solzinho gostoso. Estava tão relaxada que só percebeu que alguém tinha se aproximado quando sentiu um beijo em seus lábios. Abriu os olhos já alarmada, mas respirou aliviada ao ver que era null.
- Eu quase te bati – ela falou, empurrando ele para o lado.
- Desculpa, não resisti – null sorriu, beijando a bochecha dela.
- Cadê a null? – null perguntou, sentando-se de lado para que ficasse melhor de interagir com o casal.
- Sendo feliz com os jogadores de vôlei – null apontou para um local mais a frente onde a garota estava rindo horrores com um jogador alto que estava ao seu lado.
- Ah – ele respondeu secamente, olhando na direção, mas se voltando para o casal. – Se me derem licença, eu preciso ir resolver um assunto.
- Eles se pegaram, né? – null suspirou, olhando para null.
- Se pegaram – null confirmou.
null e null se gostavam há anos. Já namoraram, já terminaram, já tiveram recaídas, já brigaram, já tiveram recaídas e mais recaídas, mas era óbvio que ainda eram apaixonados mesmo que não conseguissem fazer funcionar.
- A gente realmente devia seguir a ideia de trancar os dois em um quarto – a garota sorriu, cogitando.
- Devia, mas no momento, vendo você nesse biquíni, é você quem eu queria trancar em um quarto – beijou o ombro dela, sorrindo. – E é verde.
- Eu poderia deixar a porta da varanda do meu quarto aberta se você conseguir escalar. Subir pela videira é mais fácil do que aparenta. Tem uma escada escondida entre elas. É só você entrar no quintal sem acordar o Stark. Meu pai trabalha cedo então nem te veria indo embora – fechou os olhos, abrindo um sorrisinho ao sentir o beijo em seu ombro. – E é verde-azulado!
- Eu sou velho demais para escalar a varanda de uma garota para passar a noite com ela – retrucou, mas seus olhos azuis brilhavam com a ideia. – Tá, que seja, ! É a cor que você quiser.
- Velho demais? – riu, jogando a cabeça para trás. – Você tem vinte e três anos. Meu pai tem uma camisa mais velha que isso.
- Eu vou tomar meu remédio para os ossos antes de escalar – piscou um olho. – Assim que eu sair mais tarde, vou para sua casa.
- Ótimo! – declarou, feliz, se inclinando para beijar o garoto.
null não perdeu tempo e puxou null para perto de modo que a garota agora estava sentada no meio de suas pernas e com as costas encostadas em seu peito. Ele sorriu, abaixando os olhos para ela que estava distraída olhando a discussão dos amigos – null e null – mais a frente. Ele se perguntava o que era o sentimento gritante em seu peito quando estava com ela e o mais berrante ainda quando pensava que iria embora na segunda-feira.
Se perguntava também como uma pessoa podia se tornar tão importante em apenas algumas semanas e o que diabos ele realmente sentia por null , já que o sentimento parecia crescer cada vez mais. Mas, olhando para ela enquanto os raios de sol iluminavam seus olhos grandes e castanhos, ele encontrou sua resposta, só não estava disposto a acreditar.
- Por que você tá me encarando? – null perguntou, virando o rosto para ele.
- Porque tem uma mancha estranha na sua testa – brincou, estalando um dedo de leve em sua testa.
- Outch – fez uma careta, batendo na mão dele. – Você é muito estranho, null null.
- Vamos entrar na água, levanta! – colocou as mãos no quadril dela, a instigando a levantar.
Os dois foram de mãos dadas até onde null e null ainda estavam discutindo e interromperam a briga, puxando cada um dos dois por um braço e os levando com eles até o imenso mar azul.
- Eu estava no meio de um argumento muito bom – null ralhou com eles, sentindo seu pé ficar úmido pelas ondas leves que batiam em seu tornozelo agora.
- E eu estou no meio de um verão maravilhoso e não quero aproveitar a última semana dele com vocês brigando – null sorriu, abrindo os braços e rodopiando ao redor de si mesma. – Vamos, deem uma trégua até segunda.
- Nós já pausamos brigas por mais tempo que isso – null deu de ombros, olhando para a amiga e ex-namorada.
- Eu quero um sorvete enorme por essa trégua – a morena avisou, sorrindo para os três.
- Maravilhoso! – null gritou.
E os quatro passaram a tarde lá, rindo, se divertindo e para null e null, se apaixonando cada vez mais. Só foram embora no finzinho da tarde, pois null precisava se arrumar para o trabalho. null ainda passou boa parte da noite na casa de null, mas foi embora de carona com null – que alegou estar passando pela casa da amiga e resolveu perguntar se a outra não precisava de carona.
null estava sentada na cama lendo um livro para passar o tempo. Já era mais de meia-noite e null devia estar quase chegando. O pai dela já havia ido dormir há umas três horas e ela quase conseguia ouvir seus roncos de onde estava. Os galhos da árvore lá fora balançaram mais que o normal e isso despertou a atenção dela. Deixando o livro de lado, andou até a varanda e abriu a porta, saindo e sentindo a brisa quente e gostosa do verão cobrir sua pele. Firmemente agarrado a um galho, null olhou para ela meio em desespero.
- Para você, Julieta – ele sorriu, se segurando firmemente com um braço e estendendo o outro, revelando as quatro lilases que ele trazia.
- Você arrancou isso do meu jardim? – sorriu em descrença, se inclinando no parapeito para pegar as flores. – Meu pai vai morrer quando for aguar e ver elas faltando.
- Você pode sugerir que foi um cara apaixonado que roubou para uma garota – null deu a ideia, conseguindo colocar um pé no chão da varanda e depois o outro até que estava de frente para null. – Oi.
null sentiu seu coração saltar no peito com o que ele falou. null nunca tinha dito abertamente que era apaixonado por ela. Nenhum dos dois tinha.
- Olá – ela sorriu, rodeando o pescoço dele com um braço e o beijando. – Vamos entrar antes que a vizinha curiosa e com insônia apareça na janela e resolva perguntar para meu pai amanhã, quem era o rapaz beijando a filha dele.
Os dois entraram no quarto e null fechou a porta da varanda, puxando as cortinas junto. Sua vizinha era realmente curiosa e intrometida, então quando não conseguia dormir – o que era frequente – ela ia para a varanda observar as casas vizinhas.
- O Asher já começou a sentir minha falta. Quase chorou quando eu encerrei a noite hoje – null comentou, divertido, olhando ao redor do quarto de paredes amarelas com borboletinhas brancas e pretas.
- Jura? Ai, meu Deus! O Asher é um amor de pessoa. Eu trabalhei com ele no verão passado. Ele fez uma festa de despedida quando eu e a null saímos – relembrou, sorrindo. – E ele gosta muito de você. Fiquei até com ciúmes naquele outro dia que a gente encontrou ele no mercado.
- Ciúmes? – null provocou, arqueando uma sobrancelha.
- Eu sou ciumenta e passei o verão todo beijando só sua boca, então é óbvio que eu espero o mesmo de você – deu de ombros, cruzando os braços.
- Eu só dei um beijinho nele, mas não significou nada – zombou, esticando os braços para puxá-la pela cintura.
- Tem certeza? Não vou te perdoar caso faça isso de novo – choramingou, entrando na brincadeira.
- Absoluta! – assentiu com a cabeça, pegando as mãos dela e beijando o torso de cada uma. – Sexo de reconciliação parece bom para você?
- Parece ótimo – ela sorriu, o beijando e já andando em direção a cama.
Os dois caíram na cama, que estalou com o peso, mas null só deu um risinho e balançou a cabeça para indicar que era besteira. O beijo era intenso, necessitado. Os dois sabiam que esse seria um dos últimos momentos a sós juntos e queriam aproveitar o máximo que dava, mas logo que null começou a passar as mãos pelas coxas dela, beijando seu pescoço, null pôde ouvir claramente o ronco do pai.
- null, não posso fazer isso com meu pai estando só a duas portas daqui – ela murmurou, fazendo uma careta. – Dá pra ouvir o ronco dele.
null afastou o rosto do pescoço dela e ergueu a cabeça como se para escutar o ronco. Acabou caindo na cama ao lado dela, rindo baixo.
- Eu não estava nem escutando, mas agora tô e não rola mesmo – ele disse, ainda rindo. – Netflix?
- Sim! – concordou, levantando para pegar o notebook. – Vai escolhendo o filme.
Enquanto null colocava o filme, null foi até o closet e pegou uma caixa de sapato, trazendo para a cama. O garoto estranhou, mas assim que ela abriu, ele viu que dentro havia salgadinho, vários doces e barras de chocolate.
- Por que você tem isso numa caixa de sapato? – questionou, desviando o olhar da tela do notebook.
- Porque as vezes eu preciso e não quero ir buscar na cozinha – respondeu, já abrindo uma das barras de chocolate meio-amargo.
- Pode ser Sr. e Sra. Smith? – perguntou, roubando uma mordida da barra de chocolate dela.
- Pode! – aprovou, fazendo uma careta e afastando o chocolate.
Se encolheram na cama enquanto comiam doce e tentavam não fazer barulho com os comentários empolgados durante o filme. Depois desse, ainda resolveram começar a assistir Breaking Bad, mas null dormiu no quarto episódio e null ficou encarregado de guardar tudo. Depois de deixar o notebook na escrivaninha, de jogar os papeis dos doces fora e de pegar os travesseiros e cobertores no closet, ele voltou e fez o melhor que pôde para deixar ela confortável, deitando ao lado dela em seguida. A garota adormecida se remexeu na cama, acabando por jogar um braço por cima da cintura dele e se aconchegando mais perto de seu peito.
- Se eu dissesse que te amo, eu estaria muito fodido? – ele murmurou, olhando para ela.
Mas é claro, ela não ouviu e por isso não respondeu.
- Olha o casal sensação aí! – Ellie sorriu, abraçando null e null pelo pescoço de uma vez só. – Pensei que iam aproveitar o último dia de vocês juntos, sozinhos.
- Muito egoísmo privar o mundo de ver esse neném lindo pela última vez – null zombou, apertando um lado das bochechas de null e beijando o outro.
- Seria muita covardia da parte dela mesmo – null concordou, entrando na brincadeira. – E o seu namorado?
- Joey está lá na cozinha tentando fazer os drinks que aprendeu – revirou os olhos, sorrindo. – Aposto que o null não vai ficar feliz em ver ele gastando a Abslout para fazer drink ruim.
Como de costume, null dava uma festa no início e fim do verão. Como hoje também era feriado na cidade e haveria uma queima de fogos mais tarde, ele tinha optado pela casa da praia que os pais tinham ao invés do seu apartamento e como era de se esperar, praticamente todos estavam ali.
- Não vai mesmo, especialmente se for a de pêssego – null falou, se aproximando do trio. – Olá, lovebirds. Ellieee!
- Oi, maravilhosa! – Ellie sorriu, sapecando um beijo na bochecha da recém-chegada. – Vou falar com a Mandy e o Trevor. Até mais!
- Que horas é seu voo amanhã, bonitinho? – null perguntou para null.
- Seis da noite – informou, dando de ombros. – Vai se juntar ao comitê de despedida e chorar muito?
- Vou sim – assentiu, fazendo um bico choroso. Apesar da brincadeira, era claro em seu olhar que iria sentir falta dele e da amizade recente. – Ah, o null estava te procurando.
- E onde ele tá? – perguntou, olhando ao redor.
- Lá em cima, pode ir lá – apontou para as escadas.
Assim que null virou, null olhou para null.
- Como você está?
- Bem, ué – null deu de ombros.
- Em relação ao null – especificou.
- Nós dois sabíamos que ia acabar – falou. – E...
- E ainda assim, não é tão fácil – completou, recebendo um aceno em concordância. – Vocês conversaram sobre como vai ser agora?
- Não, mas é bem óbvio, né? Ele vai voltar para Londres, eu vou começar a universidade na Columbia. Simplesmente não dá certo – suspirou, cruzando os braços.
- Não custa tentar, amiga – encorajou, esbarrando o ombro no de null.
- Eu não sou boa com relacionamentos normalmente, quanto mais a distância, null – mordiscou o lábio.
- Por isso que eu falei para tentar – insistiu, colocando as mãos na cintura.
- Você quer beber alguma coisa? Porque eu quero! – mudou de assunto, puxando a garota pela mão.
- Eu te amo, mas te odeio, – resmungou, seguindo ela.
null apenas sorriu, continuando seu caminho até a cozinha. Pensar nessas coisas a lembrava de que só tinha mais algumas horas ao lado de null, que se tornara tão especial para ela durante esse verão, que a assustava. Ao chegarem na cozinha, foi direto até os copos vermelhos no balcão e pegou a primeira garrafa que viu pela frente, despejando o líquido no copo.
- Ih, o null tá vindo com o seu boy. Tô indo falar com a Kailey, beijos – null olhou para um ponto atrás de null, depois soprou um beijo no ar e foi correndo pela porta dos fundos.
- Por que a null fugiu da gente? – null questionou, se aproximando de null.
- Não foi de vocês, foi do null mesmo – respondeu, abraçando null pela cintura. – Ela provavelmente foi pra praia, segue lá ela, null.
- Eu cansei – null revirou os olhos, mas olhou para a porta. – Mas eu vou dar uma conferida no pessoal lá atrás.
Dito isso, disparou pela porta, deixando os amigos rindo.
- Ei, quer ir na cabine fotográfica agora? Todo mundo já tá lá fora esperando pelos fogos, ela deve estar vazia – null sugeriu, sorrindo para null.
- Vamos sim! Adoro cabines – ele concordou, segurando os ombros dela e a empurrando em direção a sala.
De alguma forma, null havia conseguido uma cabine fotográfica e ela estava no canto da sala servindo de atração.
- O que o null queria com você? – ela perguntou, curiosa.
- Uma coisinha que eu planejei com ele – respondeu, sorrindo como quem sabe das coisas.
- Ah, não! Vai ficar de segredinho agora? – fez um bico.
- Desculpa – riu, estalando um beijo na bochecha dela. – Vem, vamos entrar!
null afastou a cortina da cabine e manteve aberta até que null entrasse. Uma espécie de tablet estava com a tela acesa e a câmera aberta, apenas esperando os dois acionarem.
- E as poses? Não sou boa nisso – a garota mordiscou o lábio, olhando para null.
- A gente vai improvisando – ele disse, se posicionando ao lado dela. – Posso acionar?
Quando ela anuiu, ele esticou o braço e apertou no botão para acionar a câmera. Depois de uma contagem regressiva de 5 segundos, a primeira foto foi tirada e os dois saíram sorrindo, abraçados de lado. Enquanto contava outros 5 segundos para a próxima foto, os dois mudaram a pose e fizeram uma careta como se estivessem rugindo. A próxima pose foi mais fofa e foi com null dando um beijo na bochecha de null, que saiu com um sorriso de orelha a orelha e os olhos fechadinhos. Na última pose, ele olhou para ela e simplesmente a beijou.
- Acho que essa última saiu ótima – null falou, abrindo um sorriso contra os lábios dele.
- Foi a minha favorita – riu, dando um selinho nela antes de se afastar. – É quase meia-noite, vamos lá ver os fogos.
Ao sair da cabine, null pegou as duas cópias com as quatro fotos. Entregou uma para null e guardou a outra. Ela estava prestes a sair para o deck onde todos iriam observar os fogos, mas null a puxou na direção contrária, subindo os lances de escada que levavam até o sótão da casa.
- Devo me preocupar? – null perguntou, fazendo uma careta ao entrarem no sótão.
- Não – garantiu, indo até a portinha no canto do sótão. – Fecha os olhos.
- Eu tô me preocupando... – falou, desconfiada.
- Só faz isso! – riu e assim que viu que ela estava de olhos fechados, abriu a porta e saiu.
null só escutou os passos de null lá fora e a brisa gelada pinicar sua pele. Em seguida sentiu mãos em sua cintura e logo seu corpo ser puxado para lá também.
- Pode abrir – null deu permissão.
null perdeu o ar ao ver onde estavam. A casa de null era uma estrutura enorme de três andares e eles estavam na parte mais alta do telhado, que era logo em cima dos painéis de vidro da estufa. O céu era maravilhoso visto de lá e a vista era simplesmente de tirar o fôlego.
- Eu me certifiquei que o vidro é resistente o bastante para nós dois e ainda mais três pessoas – null avisou, olhando para baixo e encontrando o topo das plantas lá embaixo. – Vem, vamos sentar.
Mais no meio da plataforma de vidro havia um cobertor grosso, uma pilha de travesseiros apoiadas no canto onde o vidro se elevava para formar um teto mais elevado, uma garrafa de champanhe já aberta e duas taças só esperando serem preenchidas. Um prato cheio de morangos e até pipoca estava lá.
- null, isso é maravilhoso – null conseguiu falar, se recuperando do choque.
- Eu sei – ele disse convencido, mas sorriu com o elogio.
null sentou, cruzando as pernas em estilo borboleta e agradeceu por seu vestido ter a saia mais soltinha. null sentou logo ao lado dela, ligeiramente posicionado um pouco atrás dela de modo que a garota pudesse encostar as costas em seu peito. Ele só se ergueu um pouco para tirar o celular e um fone de ouvido do bolso, então jogou o cobertor sobre os ombros dos dois.
- Por que você fez tudo isso? – null perguntou, olhando para ele e colocando um dos fones quando ele lhe entregou.
- Eu vou embora amanhã. Depois de um verão maravilhoso, achei que merecíamos uma despedida maravilhosa – disse, colocando o outro fone em seu ouvido e colocando play em uma música qualquer.
- Eu não queria que você fosse – murmurou, confessando isso pela primeira vez para ele.
- Eu também não queria – suspirou, encostando a cabeça na dela. – Mas ainda não é nosso tempo, baixinha.
- Acho que não – concordou, baixando seu olhar para as ondas quebrando no mar lá embaixo. – E como a gente fica?
- A gente fica assim. Eu sou null null, estudante de direito em Cambridge. Você é null , futura caloura de medicina na Columbia. Nos conhecemos no verão de 2017 e foi o melhor verão das nossas vidas. Não nos rotulamos como namorados porque não queríamos acabar no final. Então somos só isso. null e null – ele murmurou, fazendo uma enrolação enorme só para não chegar em lugar algum.
- Acho que entendi seu ponto – ela riu. – Eu vou sentir sua falta, null null. Você até que beija bem.
- Também vou sentir sua falta, null . Você tem o melhor boq... – ele começou a falar, mas null caiu na risada e colocou o indicador nos lábios dele, o impedindo de prosseguir.
- Não continue! – disse, ainda rindo e provocando o riso de null também.
Antes que ele pudesse retrucar alguma coisa, uma explosão de fogos clareou o céu escuro acima deles, ganhando a total atenção do casal ao mesmo tempo que a música favorita de null começou a tocar. How would you feel fez com que os fogos azuis, verdes, vermelhos ficassem ainda mais espetaculares no céu por alguns minutos. Isso quase se igualou com a explosão de sentimentos que os dois sentiam em seus corações apertados pela inevitável despedida. Quando o espetáculo cessou, os dois permaneceram em silêncio por mais alguns minutos.
- Como você se sentiria se eu dissesse que te amo? – null sussurrou, quebrando o silêncio e desabafando o que já sentia há um tempo.
O coração de null deu um salto, depois parou e sua mente demorou para processar as palavras ouvidas. Ela não era uma pessoa muito bem resolvida nesse quesito e não sabia nem se quer categorizar o que sentia. Ela sempre acreditou que o amor demorava a chegar na vida das pessoas e não achava que poderia amar alguém em apenas 6 semanas, mas lá estava ela, olhando para os olhos azuis do cara ao seu lado e sentindo exatamente o amor que nunca acreditara ser capaz de sentir.
- Eu ficaria apavorada e imensamente feliz por não ter sido a única idiota a cair nesse nosso joguinho – respondeu baixinho, com um sorriso nos lábios. – E diria que eu também te amo.
- Eu sei que ama – sorriu convencido, abaixando o rosto contra o dela e capturando os seus lábios em um beijo calmo.
O barulho da festa, o vento assoviando no ouvido dos dois e o som das ondas quebrando na areia foram a trilha sonora do momento mais especial dos dois durante o verão todo e possivelmente de suas vidas. Apesar de tudo ficar ainda mais difícil agora, ambos estavam felizes por não se segurarem com uma coisa maravilhosa como aquela.
- Nós vamos voltar para a festa? – null perguntou quando seus lábios finalmente se desgrudaram.
- Não. Essa é nossa noite de despedida, vamos ser só eu, você, champanhe e Netflix – ergueu o celular. – Nós não terminamos de assistir Breaking Bad aquele dia.
Ela riu, mais que satisfeita.
- Pipoca com champanhe é uma combinação bem exótica – ela comentou ao observar null encher as taças.
- Mas ainda tem morango pra equilibrar – ele falou, empurrando o prato pra perto dela e pegando as taças também. – Prontinho.
null sentou atrás de null de modo que ela ficasse entre suas pernas e encostou as costas nos travesseiros. null puxou a bacia de pipoca para o colo e null abriu a Netflix e colocou no episódio onde haviam parado. Ele envolveu o corpo dela com os braços e apoiou o celular nas coxas da garota já que ela estava com os joelhos dobrados agora, permitindo que os dois assistissem confortavelmente.
Durante aquele tempo, aproveitaram o calor um do outro, tentando, mesmo que de forma inconsciente, memorizar cada pedacinho de pele e dos toques que conseguiam. A pipoca foi a primeira a acabar, logo em seguida o morango e quando o champanhe chegou na metade, a série foi esquecida e os dois ficaram conversando sobre amenidades e da vida que os esperavam pela manhã.
O céu, de preto passou para um azul mais claro e de azul foi para laranja meio rosa até que o sol surgiu em plena forma acima do casal que não havia feito questão de dormir.
- Nós precisamos descer, não é? – null suspirou, afastando o cobertor quando começou a ficar com calor.
- Precisamos – confirmou, olhando para ela. – Pronta?
- Não – sorriu, beijando o queixo dele. – Mas vamos mesmo assim.
Juntaram tudo e desceram, encontrando a casa bagunçada, porém, silenciosa. Ao passarem pelo quarto de null, cuja porta estava aberta, viram a cena do melhor amigo dormindo abraçado com null na poltrona da varanda. null foi obrigada a parar para tirar uma foto que iria usar contra os dois pelo resto da vida. Depois disso, foram até o quarto onde null estava ficando e caíram morrendo de sono lá, acordando horas mais tarde com o despertador avisando que o null precisava arrumar as coisas para ir embora.
null já estava acordado e null fingiu não ter dormido lá ao chegar na casa já limpa e de roupa trocada. Também trouxe hambúrgueres enormes para todos. Os quatro comeram no caos em que a cozinha se encontrava, rindo de coisas e momentos banais que aconteceram durante o verão e no fim da tarde, uma hora antes do voo de null, levaram o rapaz para o aeroporto.
Lá no aeroporto, se largaram no chão mesmo e continuaram zoando, fazendo uma espécie de verdade ou desafio para passar o tempo e distrair todos eles da dor que estava por vir, mas o tempo passou mais rápido que o normal e null foi obrigado a embarcar.
- Quando eu for na Inglaterra, é bom você ter vários lugares legais e um amigo lindo pra me apresentar, beleza? – null intimou null, o soltando do abraço.
- Um amigo lindo? – ele riu, abraçando os ombros dela e a virando para null. – null, lhe apresento o meu amigo lindo. Amigo lindo, te apresento null. Tá vendo? Sou eficiente. Só falta os lugares legais.
- Você é um idiota – null riu, batendo nele e o abraçando rapidamente de novo.
- É por motivos como esse que eu não vou sentir sua falta – null falou, sorrindo e indo abraçar o melhor amigo.
- Você vai me mandar uma mensagem de voz chorando assim que eu embarcar, null – null zombou, abraçando o amigo com força. – E é por isso que eu também não vou sentir sua falta.
- Mas vou sentir falta do resto – falou, sorrindo e se afastando.
- Eu também – sorriu, apertando o ombro dele. – Vou esperar a mensagem pra escutar quando chegar em Londres.
- Eu vou gravar assim que você entrar lá – garantiu.
null olhou para null e a embalou em seus braços quando ela o abraçou com todas as forças que tinha. A hora havia chegado e nenhum dos dois estava preparado.
- Breaking Bad é nossa coisa, não assista com mais ninguém – null murmurou, afundando o rosto no pescoço dele.
- E pipoca com champanhe também é tradição nossa. Não repita com mais ninguém – ele sorriu, beijando o topo da cabeça dela.
- Combinado – ela assentiu, se afastando pra encará-lo.
- Não quero que você pense muito na gente, tá? Não se prenda a isso, mas também não esquece – pediu, encarando os olhos castanhos que ele tanto gostava. – Vamos viver.
- Não esquecerei – confirmou. – Digo o mesmo para você.
- Você é inesquecível, baixinha.
E null a beijou, a abraçando com tanta força que a tirou do chão. A cena doía até para null e null, melhores amigos dos dois, que estavam mais no canto observando a despedida e se abraçando também.
- Até a próxima? – null encostou a testa na de null, sorrindo.
- Até a próxima – sorriu, fitando os olhos azuis do rapaz.
null deu um último abraço em todos e em seguida, sem olhar para trás por sentir medo de não conseguir embarcar, entrou no portão de embarque deixando dois amigos incríveis e a primeira garota que já amou e que provavelmente continuaria amando, porém, levou junto memórias maravilhosas, sentimentos inexplicáveis e um verão inesquecível.
Fim.
Nota da autora: Esse é meu primeiro ficstape e eu super amei escrever, ainda mais por essa música tão amorzinha e amada por mim. Amiga Thallya, de nada haha você sabe do que eu estou falando (; e espero que gostem e não deixem de me falar o que acharam. Beijos!
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