11. In Repair

Finalizada em 01/07/2021

Parte 1

Olhei para o relógio pela milésima vez e suspirei. O tempo não parecia passar e a ansiedade tomava cada vez mais o meu corpo. Lembrei que não tinha com que me preocupar a curto prazo pelo simples fato de não ter mais ninguém me esperando em casa e mais nenhum compromisso super importante para as noites; mas mesmo com todos esses lembretes, eu ainda estava ansioso. Dez meses e eu ainda me sentia como a pessoa que fez tudo errado, a pessoa que recuou.
! Larga a louça e vai servir a mesa três. - Paul disse passando apressado por mim. O café estava um pouco movimentado e estávamos com uma pessoa a menos, o que fazia com que eu fosse o escolhido para a louça naquele expediente. No total éramos três, mas o Diego estava doente.
– Estou a caminho! - gritei para ele do outro lado do cômodo e fui em direção ao balcão. O pedido número três já estava a postos e eu peguei a sua bandeja. O Coffee Bear era o melhor café da cidade e o lugar onde eu trabalhava por meio período. Eles não eram as melhores pessoas do mundo no que se diz respeito a salário, mas eram as melhores pessoas para se aproximar e fazer amizade - o que era meu caso: estava longe de casa.
Andei em direção à mesa três enquanto equilibrava o pedido e então não pude deixar de encarar. Sentada lendo um livro, estava uma mulher com seus longos cabelos soltos em cascatas. Seu olhar era ágil, o que me fazia pensar no quão interessante sua leitura deveria estar.
– Desculpe interromper, senhorita! O seu pedido. - eu disse assim que cheguei perto o suficiente.
– Obrigada, senhor… - ela fez uma pausa e apertou os olhos para ler o meu crachá. – Senhor . - ela sorriu e esperou que eu continuasse meu serviço.
– Pode me chamar de , não precisa de formalidades. - eu sorri na sua direção e coloquei sua xícara de café na mesa.
– Sou a , ou , , . - ela disse divertida pegando a xícara de café e a bebericando. Nos encaramos por breves segundos e parecia que nos conhecíamos de algum lugar. Fiquei parado a encarando, ao passo que ela fazia o mesmo, era quase como uma força magnética, até que Paul me gritou. Me despedi como deveria, um breve aceno e sugestão de mais algum aperitivo, mas ela só acenou de volta. Voltei para a cozinha e Paul me sinalizou a louça. Comecei a lavar os pratos maiores como se fizesse alguma diferença e esperei ser chamado outra vez, Julie não conseguia cobrir todas as mesas e olhar o caixa sozinha, do mesmo modo que Paul não conseguia dar conta da cozinha sozinho. As horas foram passando e eu saí para atender mais mesas, não deixando de olhar para a mesa três e ela continuava do mesmo jeito: sentada, fazendo a sua leitura. Tinha pedido uma água, mas não tinha voltado a puxar assunto comigo quando fui até lá. O café estava quase no horário de encerramento e quase todos os clientes já tinham ido embora, menos ela. Paul liberou Julie e eu liberei o Paul. Quem fecharia o café seria eu e nada mais divertido do que uma bêbada literária.
– O que acha de umas rosquinhas recheadas? Por conta da casa! - frisei a última parte. Eu não sabia qual seria a reação dela, mas não poderia simplesmente deixá-la ir embora. Esperei que me convidasse para sentar e ela o fez. Eu não disse nada, apenas a encarei enquanto ela encarava as rosquinhas.
– Muito obrigada por essas belezuras, mas não estão fechando, não? - ela perguntou apontando para metade das mesas e cadeiras arrumadas.
–Digamos que sim. - respondi simplesmente. – Mas eu preciso tirar os bêbados do bar.
– Aqui não tem nenhum bêbado. - ela ficou confusa.
– E nem é um bar. - ri com a minha própria piada e esperei que ela entendesse, mas a sua cara ainda era confusa. – Era uma analogia. Você é a pessoa bêbada e café é seu bar.
– Oh , agora entendo. - ela disse um pouco sem graça.
– Não me leve a mal, essa foi realmente boa. Você estava super compenetrada, o que eu não a julgo, porque também adoro A Era do Sangue. - acabei falando demais.
– Você gosta de A Era do Sangue? Eu não acredito. - ela mudou seu semblante para um completamente diferente daquele abatido, meio ressaca, para um animado e cheio de vida. seus olhos voltaram a transmitir o magnetismo do início, me prendendo neles como um imã e eu mal a conhecia.


Parte 2

Depois que terminou de comer as rosquinhas, eu fechei o café e fomos caminhando até o ponto de ônibus mais próximo - o que não era tão próximo assim. A noite tinha caído e com ela a temperatura. Emprestei meu casaco para ela e continuamos um dos dez assuntos que iniciamos na Coffee Bear. Ela era médica veterinária e estava esperando uma pessoa para ter um encontro no café, mas tinha levado um bolo e eu contei sobre a minha mudança para a capital e sobre a minha faculdade de arquitetura. Eram tantas coisas em comum, que não conseguimos parar de preencher uma lista imaginária sobre coisas que queríamos relembrar qualquer dia, como maratonar Harry Potter ou alugar um karaokê. Algumas semanas se passaram e começamos a nos encontrar na maior parte dos dias, para assistir algum filme nostálgico, conversar sobre algum assunto aleatório ou almoçar nos vinte minutos que o meu serviço permitia.
– Pipoca doce ou salgada? - gritou da cozinha do meu apartamento. Eu estava tentando escolher um dos três filmes que ela me deu como opção.
– Doce! - gritei de volta. – Doce sempre, .
Era sempre assim quando íamos assistir a algum filme, ela sempre inventava um jeito novo, algum ingrediente para colocar na pipoca e eu sempre dizia que preferia a doce. Por mais que aquele dia parecesse o mais normal de todos para nós dois, alguma coisa estava diferente. Foi então que aconteceu - ela estava com a cabeça apoiada no meu ombro e então olhou para cima. Eu estava rindo de alguma cena engraçada, mas o sorriso dela era diferente. levantou seu rosto um pouco mais e tentou uma aproximação, que naquele momento já estava mais do que claro o seu destino final. Ela iria me beijar e estava tudo perfeito para isso: luzes apagadas, televisão passando uma comédia romântica, cobertas e o nosso campo magnético. E então tudo mudou, por que eu sai correndo. Eu poderia estar errado, poderia só estar com medo como eu realmente estava - e tudo ainda estaria do mesmo jeito. Saí do apartamento o mais rápido que consegui e desci as escadas que levavam até a portaria e então a saída. Eu não iria muito longe, sabia disso, mas precisava tomar um ar. Meu coração apertou quando lembrei do jeito que deixei e me lamentei por ainda não me sentir pronto e por estar demorando demais para que finalmente eu conseguisse seguir em frente. Parei na esquina e desejei que a brisa fresca levasse o velho eu e concertasse o meu coração. Senti a presença de alguém um pouco afastado, como se esperasse a hora certa de se manifestar.
– Eu sinto muito por ter ido tão longe sem nem te perguntar. - disse.
– A culpa não é sua, .
– Eu cheguei perto demais, , eu forcei uma coisa que já sabia que não daria certo. - ela disse com tristeza na voz.
– A culpa não é sua, . - eu disse mais uma vez. – A culpa é minha. Eu estou em concerto e não quero aceitar.
– Você só precisa de tempo e eu vou te dá-lo. - ela respirou fundo e me deu as costas.
, espera! - gritei em sua direção e ela parou de andar virando para mim. – Eu estou quase lá, por favor, fica.
– Não quero que se sinta obrigado, ! - ela disse com seriedade.
– Me desculpe por ter corrido, eu só estou com medo. Tem demorado tanto para que eu não me sinta mais instável. Eu só queria que você pudesse ver a minha melhor parte.
– Já estou vendo uma dessas partes agora, e ela quer seguir em frente.
– Fica!
– Só se você também ficar. - ela disse e fez o caminho de volta para mim.
Nos abraçamos na esquina da minha casa, perto do meu parque favorito nas noites de insônia, depois de uma das conversas mais sinceras e sem sentido total. Eu poderia ainda estar em concerto, mas não afastaria nunca mais.


FIM



Nota da autora: Muito obrigada por chegar até aqui. Espero que tenha gostado da leitura. ♡

Outras Fanfics:
Longs:
Everything you need at the moment - Especial 10 anos One Direction
The Scar Girl - Especial Harry Potter 20 anos no Brasil
Loves In The Air - Especial Harry Potter 20 anos no Brasil


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