Finalizada


"You got the lights on in the afternoon and the nights are drawn out long"

Olhei da janela do meu quarto para a rua. Era pouco mais de quatro da tarde, o sol ainda brilhava, mas as luzes da casa da frente já estavam acesas. Eu via aquelas meninas com cigarros entre os dedos, correndo de um lado para o outro, de dentro para fora e de fora para dentro daquela casa, carregando toalhas, garrafas de bebidas caras, barris de bebidas baratas e sacos de salgadinhos. Um caminhão estacionou e três homens levaram mesas de plástico para o quintal.
Ela estava encostada na soleira da porta, observando o movimento e dando ordens às outras meninas. Um cigarro em uma das mãos, uma lata de cerveja na outra. vestia uma camisa cortada de uma banda que só ela conhecia, shorts curtíssimos e aquelas meias listradas na altura do joelho. Pra mim, ela era a definição de pecado.
Estava quente e um dos homens do caminhão tirou a camisa, foi até ele, oferecendo-o a lata de cerveja, que educadamente ele recusou. Se eu estivesse apenas uns metros mais próximo, sei que poderia ver o brilho de desejo no olhar dela. era o tipo de mulher que não se sentia nem um pouco envergonhada em desejar alguém, e parecia gostar de deixar isto claro para todos.
Os homens foram embora e eu ainda estava na janela, observando. Alguma coisa naquela casa, naquelas meninas, especialmente em , conseguia prender minha atenção de um jeito que eu não sabia explicar. Voltei meus olhos para a menina parada na porta, aquelas meias no joelho, um sorriso malicioso nos lábios, os olhos em mim. Eu ficaria constrangido de ter sido flagrado se, em seguida, ela não tivesse mostrado o dedo para mim. Bufei e fechei as cortinas da janela.
Aquela menina era detestável, amável e mais alguma coisa que eu não saberia definir. Mas o que importa é que ela sabia dar uma festa, e hoje seria uma das maiores do ano.

"And you’re kissing to cut through the gloom with a cough drop coloured tongue"

Atravessei a rua acompanhado de meus irmãos da fraternidade, éramos da Sigma Phi Epsilon, de Dartmouth, e a festa da Alpha Pi Omega já estava rolando há umas horas quando chegamos.
A festa acontecia na parte de trás da casa, no quintal. A maioria dos barris de cerveja estavam tomados por estudantes idiotas e suas competições de beber. Um casal de bartenders fazia os drinks com outras bebidas. Peguei qualquer coisa que levasse whisky – precisava de algo quente - e fui me esquivando entre as pessoas. Dentro da casa a música era alta, as pessoas dançavam animadas e o calor humano era intenso, quente como o meu whisky. Eu pude sentir a veia latina daquelas meninas quando duas delas começaram a dançar perto de mim. A julgar pelo ritmo da música, house, elas não tinham intenção nenhuma em serem sexy. Mas as curvas de seus corpos, os movimentos que faziam, e o jeito que dançavam juntas deixaria qualquer homem hipnotizado, como estava acontecendo comigo. Desviei o olhar para não perder completamente a sanidade, voltei para o quintal, eu estava sóbrio demais para suportar aquele calor sufocante. Reabasteci meu copo, dessa vez com cerveja – precisava de algo gelado - e resolvi dar uma volta por ali mesmo. Alguns de meus irmãos jogavam beer-pong, em um momento que desviei os olhos do jogo, a encontrei. estava encostada no muro da casa, num espaço mal iluminado, com um cara alto. Eles se beijavam com ferocidade, o cara a apertava contra o muro de tal maneira que os pés dela mal encostavam no chão. Ele desceu a boca para o seu pescoço, enquanto ela subia as mãos e arranhava suas costas. Em algum momento ela mordeu o ombro do menino e abriu os olhos. Preferia que não o tivesse feito. Ela passava os olhos pela festa, e não demorou a cruzar os meus. Imaginei que os olhos dela continuariam a correr, mas ao encontrarem os meus, pararam instantaneamente. Ela sorriu de novo um outro sorriso maravilhoso. Sem desviar o olhar do meu, ela afastou o menino e sussurrou em seu ouvido. Ele sorriu e puxou-a pela mão, andando em direção à porta da casa. o acompanhava, sem tirar os olhos de mim. Chegando na porta, ela hesitou apenas um segundo, levantou a mão livre e fez um sinal para segui-la, sorriu mais uma vez e virou-se para continuar andando.
Eu não tinha certeza se sabia o que aquilo significava. Ela realmente queria que eu fosse até ela? Eu queria ir?
Continuei olhando o jogo, mas estava imune à emoção e aos gritos de comemoração. Minha cabeça estava no quarto do terceiro andar, aquele que a janela era quase de frente para a minha. Eu podia imaginar o que estava acontecendo, podia visualizar seminua, deitando em sua cama com um cara qualquer, como já tinha visto acontecer tantas vezes. Balancei a cabeça, sem acreditar no que eu estava prestes a fazer. Quando me dei conta, já tinha escalado todos os degraus da casa e estava parado de frente para a sua porta. Não estava fechada. Estava aberta apenas o suficiente para que eu pudesse ter um bom ângulo de sua cama. Ela tinha feito aquilo de propósito, eu, como que enfeitiçado, tinha caído naquela armadilha E sabia disso, mas não conseguia escapar. Eu não queria mais escapar.
Ela já estava nua, devo ter demorado mais do que imaginei, ou ela foi mais rápida. Ela estava por cima, se movimentava devagar, fazendo questão de sentir cada centímetro e segundo de prazer. Suas unhas passeavam pelo peito do cara, que não tirava as mãos e apertava a bunda dela. Quando o ritmo foi aumentando, abriu os olhos e olhou para a porta. Era a terceira vez que o olhar dela se prendia ao meu hoje. Era a terceira vez que meu corpo esquentava. Era a terceira vez que eu a desejava. Era o terceiro sorriso malicioso dela, dessa vez seguido de um riso reprimido pelo morder de seu lábio. Ela estava fazendo aquele show para mim. Eu podia sentir isso. Quando ela se mexia, era para mim. Quando sorria, era para mim. Cada gemido que saia por aquela boca, era para mim. Não sei dizer quanto tempo durou, mas eu saí da porta quando notei que estava para terminar. Dei apenas uns cinco passos para o lado e me encostei na parede. Ouvi quando terminaram, o barulho da fivela do cinto, a janela sendo aberta e o barulhinho do isqueiro que tentava ser acendido. Não demorou muito para o cara cruzar sua porta. Ele nem mesmo me viu parado ali, ainda vestia a camisa quando chegou na escada. Ela o tinha enxotado.
- Você pode entrar agora.
estava só com a cabeça para o lado de fora do quarto, que se recolheu logo após me convidar. Respirei fundo uma vez e entrei. fechou a porta atrás de mim, mas desta vez trancou. Eu era o personagem principal do espetáculo. Ela vestia apenas a calcinha. Apontou a cama para eu me sentar e tirou um blusão de seu armário, vestindo-o. Sentou-se ao meu lado, de frente para mim, cruzando as pernas e apoiando o queixo em uma das mãos.
- O que achou da festa?
- Todo mundo está se divertindo bastante, não é?
- Você está se divertindo? – ela sorria, e se eu não tivesse acabado de ver o que vi, eu diria que era um sorriso inocente. Não respondi, eu não sabia o que responder. – Você pode pegar pra mim uma caixinha na primeira gaveta? – ela apontou para o criado-mudo ao meu lado.
Peguei a caixa. Ela abriu e tirou um dichavador, colocou um pouco de erva dentro para triturar. Distribuiu pela seda, quando foi fechar pude notar que sua língua estava azul. acendeu o baseado e me ofereceu. Aceitei, precisava de algo que acalmasse meu corpo. Não era a primeira vez que eu fumava, mas parecia, meus dedos tremiam, nervosos, e depois de tragar eu engasguei e tossi várias vezes. Ela ria, puxando o fumo, prendendo e soltando a fumaça com uma classe que eu nunca tinha visto. Classe e não eram uma dupla muito forte.
- Sua língua tá azul. – eu parecia um idiota, mas não fazia ideia do que conversar com aquela menina.
- Pastilhas para tosse, - ela disse, mostrando uma caixinha com pastilhas azuis – o menor de todos os meus vícios.
Nós fumamos em silêncio, ela me encarava com uma intensidade que desmontava qualquer linha de pensamento que eu tentava traçar.
Um vento frio entrava pela janela, deixou o baseado comigo e se levantou, indo mais uma vez para seu armário. Calçou um par de grossas meias coloridas, na altura do joelho. Sempre esse mesmo tipo de meias, o mesmo tipo de encanto. Voltou para perto de mim e tirou o baseado de meus lábios, levando-o diretamente para entre os seus e o matando. deixou o que restou no cinzeiro em cima do criado mudo e voltou-se para mim. Ela me empurrou levemente pelo peito com uma mão, mas puxou-me os cabelos com a outra, apenas me inclinando, não deitando. Seus joelhos foram para o colchão, um de cada lado do meu corpo. prendeu minhas pernas entre as suas, eu prendi minha respiração.
- Você não me respondeu, bonitão. – seu rosto estava próximo do meu, eu não sabia no que prestar atenção primeiro: seu corpo, a boca ou o olhar. Encarei-a confuso, não entendia sobre o que estava falando. Ela aproximou os lábios de minha orelha, mordeu-me o lóbulo antes de sussurrar. – O que achou do meu showzinho? – sua voz rouca e baixa me deixou arrepiado, o sangue corria gelado e não tinha a ver com o vento frio.
- Você é louca.
- Completamente. – sua boca desceu para meu pescoço, mordendo-me. pegou minhas mãos e levou-as para seus seios. Eu podia sentir os mamilos rijos por baixo do pano da blusa. Apertei seus seios e ela soltou um gemido. O gemido me fez voltar à realidade. Afastei suas mãos de mim e tirei de meu colo. Pus-me de pé.
- Você é louca. – repeti como se a primeira vez não tivesse sido suficiente. Ela riu, levantou-se e destrancou a porta.
- Você não pode lutar para sempre, . Eu sei que você me quer. – ela disse enquanto eu saía de seu quarto.

"And you were sitting in the corner with the coats all piled high and I thought you might be mine. In a small world on an exceptionally rainy Tuesday night, in the right place and time"

Minha cortina ficou fechada o resto do fim de semana. Eu não queria me pegar olhando para aquela casa de novo. Eu não queria ver , não queria ser surpreendido novamente por ela.
Não devia ter aberto aquela cortina nunca.
Na segunda de manhã eu saí do meu banho e abri as cortinas para deixar entrar um pouco de luz, para variar. Vesti cueca e calças e fui pra janela. estava sentada na própria janela, enrolada em um xale cinza, com vários casacos grossos empilhados ao seu lado. Ela puxava o fio de um dos casacos, o olhar perdido em algum ponto, ou em nenhum ponto, no começo da rua. Ela parecia pensativa, parecia triste. Aquela era uma cena melancólica e eu não costumava ver isso nela. era sempre festas, bebidas, cigarros e homens. Essa que eu estava vendo não era a que eu conhecia, fonte de todo pecado, mas uma mulher. Talvez eu tenha estado errado sobre ela todo esse tempo.
Eu queria aquela garota, não poderia negar nem se quisesse, parecia estar estampado em minha testa. Eu queria conhecer essa mulher que estava agora em sua janela, que antes era apenas a . Talvez, esta pudesse ser minha.
Balancei a cabeça, como se isso espantasse os pensamentos. Vesti minha camisa, peguei um casaco e fui para minhas aulas.
Meu mundo não ia parar por causa daquela garota.

Na terça eu não abri as cortinas. Era noite e todos os meninos da casa saíram para beber, eu fiquei para estudar para um teste que teria esta semana. Os livros estavam abertos, mas eu não conseguia me concentrar em muita coisa assim que começou uma chuva que queria derrubar o mundo do lado de fora. Aquilo não estava nas previsões, não costuma chover esta época do ano. Logo os raios começaram a cair, os trovões eram altos, próximos. Faltou energia. Maravilha. Deixei de sair para ficar estudando, agora não tenho como estudar.
Alguém bateu na porta.
Quando abri, lá estava . Encharcada, tremendo de frio.
- Posso entrar?
Saí do caminho, entrou e eu fechei a porta atrás dela.
- Desculpa te incomodar. Saí pra correr e esqueci a chave de casa, quando eu estava voltando começou a chover, eu bati na porta várias vezes e ninguém atendeu, acho que todas saíram.
- Não tem problema. Vem, sobe, te dou umas roupas secas.
Subimos para meu quarto, peguei uma toalha, uma samba-canção e uma camisa e dei para , apontando para o banheiro.
- Toma um banho quente, espero que essas roupas te sirvam. Vou preparar um chocolate pra gente, ok? – ela apenas assentiu com a cabeça, entrando no banheiro e fechando a porta atrás de si.
Na cozinha, foi uma luta para achar o chocolate e o leite usando apenas a lanterna do celular. Esquentei um pouco de leite no fogão e no fim tinha duas canecas de chocolate quente relativamente boas. Peguei dois copos de água e um pote de açúcar, juntei tudo numa bandeja e subi de volta para o quarto. estava sentada na minha cama, a samba-canção preta não ficou frouxa, como eu esperava, suas coxas grossas vestiam aquela peça melhor do que eu. A Lacoste azul clara, sim, estava grande. Como todos os seus blusões, batia no meio da coxa. Ela secava o cabelo com a toalha, e abriu um sorriso enorme quando me viu.
- Obrigada, . – ela pegou uma das xícaras e bebeu, fazendo uma careta.
- Está muito ruim?
- Não, estou só implicando contigo, está ótimo! – ela riu, deu mais um gole e puxou-me o braço. Sentei-me ao seu lado e pousei a bandeja na mesinha em frente à cama.
Bebemos o chocolate em silêncio. olhava para mim e eu encarava um ponto qualquer perto de seus pés, evitando cruzar meu olhar com o dela.
Ela terminou o chocolate e pousou a caneca na bandeja, pegando o copo de água e tomando um único gole.
- Você não tem velas? Aqui tá escuro e frio.
- Não tenho. Depois que um quarto quase pegou fogo por causa de velas, proibiram aqui dentro.
- O que houve?
- Não tenho certeza, algum pledge idiota tentando fazer surpresa para a namorada. Sei que não deu certo. – ela riu. Nunca tinha ouvido sua risada, só conhecia os risos maliciosos. – O problema do frio eu posso resolver, vou pegar um edredom pra você.
Levantei-me, peguei no armário um edredom grosso e voltei para a cama.
- Posso ficar aqui enquanto a chuva não passa? Não gosto de ficar sozinha quando trovoa. – se enrolou no edredom, encostou as costas na parede e abraçou os joelhos.
- Pode, claro. Mas você se importa se eu trocar de roupa? Quero colocar logo um pijama.
- Fica à vontade. O quarto é seu, e não é como se eu pudesse ver muita coisa nesse escuro, né? Infelizmente. – não consegui segurar e ri junto com . Rolei os olhos, voltei para a frente do armário e tirei minhas calças e camisa. Coloquei um shorts e blusa de pijama e voltei para a cama, sentando-me ao seu lado. – Você sempre dorme todo arrumadinho assim? – ela riu novamente e deitou a cabeça em meu ombro.
- Não, mas eu não vou ficar só de cueca com você aqui, né?
- Por que não? Não é como se eu fosse achar ruim. – subiu uma das mãos para o meu pescoço, arranhando-me com suas unhas.
- E eu não sei disso? – ela riu, descendo a mão por meu peito.
- Você não precisa mudar ou se reprimir por minha causa, . Assim você me ofende. – ela chegou à barra da minha blusa e começou a puxar para cima.
- O que você tá fazendo, ?
- Estou tentando te deixar mais à vontade no seu próprio quarto, só isso.
Foi como a cena da outra noite. se livrou do edredom e passou uma das pernas por cima de mim. Novamente, ela estava em meu colo. Suas mãos subiram minha camisa e eu não podia fazer nada em relação àquilo, eu não conseguia impedi-la de fazer exatamente o que ela queria. Ela tirou minha camisa e só posso imaginar o quão bobo eu parecia, pois ela ria de uma forma tão leve, tão fácil, que me fez sorrir junto. Voltei a mim. Peguei seus pulsos e os afastei de meu corpo. me olhou com um sorriso confuso que eu retribuí da mesma forma. Ela riu mais uma vez.
- Você é tão sem graça, .
- Sou.
- Por que não admite que me quer? Acha que eu não noto você me olhando por essa janela quase todos os dias?
- Eu te quero.
Ela se calou, o sorriso vitorioso chegou com alguns segundos de atraso.
- Então por que não pega? – Ela aproximou seu rosto do meu, eu desviei.
- Eu não te quero assim. Eu te quero pra mim, completamente, por inteira. Não te quero pra ser só mais um na sua cama, na sua lista. Eu quero que você seja minha, só minha.
Era a primeira vez que quem estava sem reação era ela, e não eu. mexia os olhos de um lado para o outro, abria e fechava a boca sem nenhum som sair. Sua respiração estava pesada. Ela estava assustada.
Outro raio caiu, o barulho do trovão alto demais para aquele ambiente. tremeu e gritou.
- ! – Segurei seu rosto com as duas mãos. Seus olhos se fixaram nos meus. Aqueles olhos brilhavam em um profundo. Eu estava encurralado, sem saber para qual das írises olhar, sem ter certeza se era possível olhar para qualquer outro lugar. Ela estava igualmente indecisa, segurava a respiração e eu não sabia dizer se ela estava mais calma ou ainda mais excitada.
Eu, definitivamente, estava mais excitado. Puxei seu rosto na direção do meu e a beijei. Era a primeira vez que beijava , em todos aqueles anos que nos cruzávamos. Ela respondeu imediatamente, chocando sua língua fria na minha. constantemente quebrava o beijo para me morder os lábios, e eu pensei que poderia me acostumar com aquilo. Desci minhas mãos por seus braços, sentindo cada pelo se eriçar ao meu toque. estava com as mãos em meus cabelos, puxando-os com força até arranhar minha pele. Era incrível como todas as dores que aquela menina me proporcionava eram estranhamente prazerosas. Com minhas mãos agora indecisas entre sua cintura e o quadril, mexia seu corpo contra e junto ao meu, de um jeito excitante que só tinha me acontecido com ela, cada vez que seus seios, mesmo por baixo da blusa, encostavam em meu peito, eu perdia mais um pouco do que restava do meu controle.
Eu queria tocá-la. Queria possuí-la. Queria tê-la.
Mas não, não hoje.
Empurrei seu corpo apenas para indicá-la para parar. Estávamos ofegantes, tinha me roubado todo o oxigênio. Ela suspirou frustrada, fazendo-me rir.
- Isso não é engraçado, . – aquilo só me fez rir mais. – Sério, não é engraçado. Você está só brincando comigo!
- Não estou brincando, . Eu só não sou tão fácil quanto os outros caras que você conhece.
- Você se acha muito difícil, não é, bonitão? - concordei com a cabeça. – Cuidado, assim você pode cansar minha beleza e eu não vou te querer mais.
Ela riu e deu-me um tapa no peito, saindo do meu colo em seguida.
- Quer dormir? – olhei as horas no celular e eram pouco mais de 11 da noite.
- Com você? So bad. - revirei os olhos e riu. – Quero sim, posso dormir aqui?
- Pode, mas só se você prometer se comportar.
- Não prometo nada, você me conhece. Mas posso tentar.
Concordei com a cabeça. Peguei minha camisa para vestir de novo, mas me impediu, “fica assim mesmo, não me incomoda”, e eu joguei a camisa para fora da cama. Deitei-me e se pôs ao meu lado, deitando a cabeça em meu peito. Ela tremeu ao som de mais um trovão. Eu afagava seus cabelos e ela acariciava-me o tronco com as unhas.
- Você ainda vai ser meu, .
- Eu sei.
Beijei sua testa e beijou-me o peito. Não falamos mais nada e eu acabei por dormir.

"When the zeros line up on the 24 hour clock, when you know who’s calling even though the number is blocked"

ainda dormia quando eu acordei. Seu braço me envolvia, ela respirava devagar, e eu tentava me contorcer para ver seu rosto, sem muito sucesso. Com todo cuidado possível para não acordá-la, saí de seu abraço, então pude deitar-me ao seu lado e observá-la um pouco.
Ela parecia angelical, mal me lembrava a menina vulgar que eu via todos os dias. Ela era tão linda que me assustava. A pele amarronzada, os cabelos num tom escuro, os quadris largos e aquelas curvas acentuadas em seu corpo, os lábios carnudos, tudo a fazia tão diferente do padrão branco, loiríssimo, reto das americanas com o qual eu estava acostumado. Tudo nela se destacava, mesmo entre as meninas de sua irmandade. Afinal, era a , e eu era o seu .
Levantei-me e vesti um par de calças para ir à cozinha, precisava pegar qualquer coisa comestível para a menina que dormia na minha cama. Ao descer as escadas, pude ver dois ou três meninos dormindo pelo chão ou sofá, tinham chegado bêbados demais para subir para as próprias camas. Acho que ninguém iria às aulas nesta quarta-feira. Peguei queijo e presunto na geladeira, pão de fôrma e fiz dois sanduíches. Coloquei suco de laranja em dois copos e subi com o café-da-manhã para o quarto.
- Bom dia, bonitão. – ainda estava deitada. Rolava de um lado ao outro da cama, se espreguiçando.
- Bom dia. Com fome?
- Muita. O que você tem pra mim? – ela se sentou, olhando para a bandeja.
- Sanduíche e suco, tudo bem?
- Preferia morangos, chocolates e champanhe, mas isso também serve.
Eu ri e ela se levantou em um pulo, logo pegando o sanduíche nas mãos.
- O que você vai fazer hoje à noite? – perguntei, dando a primeira mordida em meu sanduíche.
- Eu? Provavelmente o que faço todos os dias, tentar conquistar o mundo seguido de absolutamente nada. Por quê?
- Não quer deixar seus planos de conquistar o mundo de lado por hoje e sair pra jantar comigo?
- Você está me chamando para um encontro, ?
- Só se você topar.
- Eu topo. Você me pega às oito.
Acabamos os sanduíches e os sucos. decidiu que iria voltar para sua casa, terminar algum trabalho e procurar alguma coisa decente para um encontro nos armários de suas amigas.
colocou as roupas, ainda úmidas, em um saco plástico e nós descemos as escadas. Alguns meninos estavam acordados e ficaram surpresos ao nos verem juntos. Apenas ignoramos todos os olhares e sussurros. segurou-me a mão e eu entrelacei nossos dedos. Andei ao seu lado até chegarmos na porta de sua casa.
- Então, eu te vejo às oito?
- Nos vemos às oito! – ela beijou-me rapidamente os lábios e virou-se para entrar na casa. Impedi-a, puxando-a pelo braço e prendendo seu corpo na soleira da porta com o meu.
Segurei-lhe o rosto e dei-lhe um beijo de verdade. Sem urgência, sem agressividade, sem malícia, apenas um beijo com carinho, que ela retribuiu da mesma forma. Separamo-nos apenas quando faltou fôlego.
entrou em casa sem dizer nada, apenas com um sorriso no rosto. Com a porta fechada, voltei para minha casa, com o sorriso mais bobo que poderia esboçar.
- Você tá louco? Transou com a ? Stephanie vai lhe matar! – Anthony, um dos meninos da fraternidade, praticamente gritou assim que fechei a porta atrás de mim. Stephanie era minha ex-namorada, ela não estava exatamente conformada com o fim do namoro, mesmo depois de meses separados.
- Não transei com , só dormimos juntos.
- Você espera que a gente acredite nisso? Ninguém – e ele fez aspas com os dedos – “só dorme junto” com .
- Eu, sim. Se quiserem, podem ir no quarto. Sem sinal de sexo em nenhum lugar. Sobre a Stephanie, nós já acabamos há meses, não tenho mais nada a ver com aquela garota.
- Mas você sabe que ela não vai deixar isso quieto, né? Com o showzinho que você acabou de dar com a menina na porta da casa dela, duvido que Stephanie já não saiba.
Dei de ombros, eu não podia fazer nada em relação a ela. Subi para meu quarto, abri as cortinas e já estava sentada em sua janela. Eu sorri e ela sorriu de volta. Ficamos alguns segundos apenas nos olhando, então ela tirou o celular do bolso e olhou o visor. Seu sorriso se desfez imediatamente, vi seus dedos passeando pela tela e então ela voltou seus olhos para mim. Medo. estava assustada. Desceu da janela, a fechou e cerrou as cortinas. Depois, todas as cortinas da casa estavam fechadas. Liguei para seu celular, ela ignorou a chamada. Disquei o número de todas as meninas que eu conhecia daquela casa, ninguém me atendeu. O telefone fixo também chamava em vão. O que diabos estava acontecendo?
Liguei o notebook, mas sem sinal dela no facebook, não respondia nenhuma das minhas mensagens.
Foram horas sem nenhuma notícia de , e não por falta de tentativas de contato. Eu não sabia o que estava rolando, não sabia se o encontro ainda estava de pé, eu estava por fora de tudo. Bateram em minha porta. Era Andrew, um irmão.
- Não posso falar quem me contou. – ele deu uma pausa longa demais.
- O que, Andrew? O que?!
- recebeu uma mensagem no celular, uma foto de vocês dois juntos, fotos dela pelada e uma ameaça de espalhar as fotos na rede se ela não ficar longe de você.
- Você tá falando sério? Quem fez isso?
- Quem você acha?
Andrew olhou-me como se fosse óbvio, deu de ombros e saiu do quarto. não iria me atender, então mandei uma mensagem.
“Já sei o que aconteceu. Eu estou indo aí. Espero que a porta esteja aberta.”
Vesti uma camisa e um casaco e rumei para a casa de . Não bati na porta, girei a maçaneta e estava aberta, como pedi. Subi direto para seu quarto.
Dei três batidas na porta fechada e ela me deu permissão para entrar. Abri a porta devagar, sem ter muita certeza do que poderia encontrar.
estava sentada em sua cama, as costas apoiadas na cabeceira e os braços ao redor dos joelhos.
- ...
- Quem lhe contou? – ela me cortou.
- Não importa.
- Importa para mim. Foi Sabrina, não foi?
- Eu não sei nem quem é Sabrina, desculpa.
Ela não me olhava. Seus olhos estavam perdidos no nada. Ela estava totalmente presa na própria cabeça. Eu podia ver as lágrimas que ela segurava, o soluço que ela prendia indo e voltando em sua garganta. Eu não sabia o que poderia falar para consertar aquilo. Tinha conserto?
Tirei os sapatos e sentei-me ao seu lado, passei um de meus braços por seus ombros e ela deixou sua cabeça descansar.
- Sabe o que é o pior? – eu apenas resmunguei, deixando-a continuar. – As fotos nem mesmo são minhas. Eu nunca tirei uma foto nua e nunca me deixei fotografar por ninguém.
- Então com o que você está preocupada?
- Com você.
A resposta veio rápida e foi diferente da que eu esperava.
- Você não precisa se preocupar comigo.
- Mas você tem uma imagem...
- Foda-se minha imagem, ! – Foi minha vez de cortá-la. – Eu tenho você agora, não tenho?
Ela esboçou um sorriso triste.
- Eu não sou muita coisa, você sabe.
Eu não respondi. Podia dizer que eu não fazia ideia de quem era essa mulher que eu estava abraçando, que eu me surpreendia a cada minuto, mas eu não precisava falar isso. Não agora.
- Eu não vou sair do seu lado.
- Eu prefiro assim.
E dessa vez ela sorriu de verdade. Ficamos mais um tempo sem dizer nada, apenas aproveitando o abraço e a companhia um do outro. Enquanto a noite ia passando, fizemos pipoca, pegamos refrigerante e assistimos a dois filmes em seu quarto. Eu não sabia os títulos e isso não me incomodava. Foram comédias românticas, mas o que realmente me entretinha não eram os enredos, mas os risos de .
Nos créditos do segundo filme, o celular de começou a apitar. Seu sorriso se desmanchou com o barulho, seus olhos ficaram tristes de novo. Tomei a liberdade de pegar seu celular antes que ela alcançasse.
- , não faz isso.
Mas eu já tinha aberto a mensagem. “Eu sei que ele está aí. Você tem até meia-noite.”
Não faltava muito, apenas uns 20 minutos. olhou-me assustada quando viu a mensagem. Seus olhos imploravam para que eu fosse embora.
- Eu não vou a lugar algum, .
Ela suspirou, derrotada. Voltei a abraçá-la, dando-lhe um beijo na testa e fazendo carinho em seus cabelos.
O relógio digital ao lado de sua cama demorava a mudar os números. Quando os zeros se alinharam o celular começou a tocar e o coração de acelerou. No visor, o número era bloqueado, mas isso pouco fazia diferença quando nós dois tínhamos uma boa noção de quem era. Ela ignorou diversas chamadas por pelo menos cinco minutos. Depois deste tempo, quando o celular gritava já não era por ligações. Eram mensagens, páginas, e-mails. Todos com montagens de . Tomei o aparelho de sua mão e retirei a bateria, jogando os dois dentro da gaveta do criado-mudo.
já chorava, as lágrimas grossas molhando minha camisa e o corpo levemente trêmulo.
- Você não precisa se preocupar. Eu não vou deixar Stephanie sair ilesa de tudo isso.
Minhas palavras não surtiam muito efeito em acalmá-la, mas eu estava certo do que dizia. Stephanie não tinha direito nenhum de se meter na minha vida, muito menos da vida de .

"When you walked around your house wearing my sky blue lacoste and your knee socks"

Fiquei com até a manhã seguinte, ignorando também meu celular, que começou a apitar durante a madrugada. O seu despertador tocou pela manhã, eu sugeri que continuássemos como se nada tivesse acontecido, que ela ignorasse qualquer comentário que pudesse ouvir, e que não se preocupasse, eu estaria por perto.
Não foi assim tão fácil. Os olhares, os sussurros, os risos, os dedos que eram apontados, tudo abalava a confiança que eu sempre tinha visto naquela menina. O sorriso que sempre brincava em seus lábios foi substituído por uma cabeça baixa.
estava tão frágil que não suportou todo o período e logo voltou para casa. Eu não pude acompanhá-la, fiquei rodando o campus à procura de Stephanie.
Quando a encontrei, ela agiu como se não houvesse nada errado, mas eu a conhecia e sabia quando ela estava mentindo. Ela negou quando a confrontei, gaguejando nos argumentos. Falei que faria o possível para fazê-la pagar por aquilo se não tirasse tudo do ar imediatamente, mas sua resposta foi um simples “uma vez na internet, sempre na internet”, controlando um sorriso. Deixei claro que eu mesmo iria procurar um advogado e que, no mínimo, tiraria Stephanie de perto de , faria de tudo para ela não poder mais pisar naquele campus. Falei para ela nunca mais se aproximar de nós, e que se preparasse, porque eu não ia deixar aquilo sair barato. Foi por pouco que não perdi totalmente o controle e bati em Stephanie, apesar de querer, muito, fazer aquilo. Ela notou que eu estava especialmente agressivo, estava encolhida, com medo. Quando dei as costas para ela, minha respiração era pesada e eu tremia de tanta raiva. Eu precisava me acalmar, eu precisava achar .
Quando cheguei a sua casa, me falaram que ela estava dormindo e tinha trancado o quarto. O fato de estar trancada, sozinha, na situação em que estava, me preocupou muito, mas as meninas conseguiram me tranquilizar. sempre se amou demais para tentar qualquer coisa contra si. Mais calmo, voltei para meu quarto, estudei um pouco para os testes da semana, observando a cada 10 minutos se aparecia em sua janela. Já era noite quando ela deu sinal de vida. As luzes de seu quarto se acenderam e ela abriu as cortinas. Eu queria correr até seu lado e segurá-la em meus braços, mas a única coisa que pude fazer foi atender seu telefonema.
“Não precisa se preocupar”, ela disse, “estou bem melhor, mas preciso ficar um pouco sozinha”, quando perguntei o porquê, a vi dando de ombros, “tenho muitas provas pra estudar, não vou deixar isso atrapalhar tanto a minha semana”. O seu sorriso no final da frase me convenceu. Por fim, concordei, sem saber se alguma tentativa de insistência a afastaria mais ainda. “Eu sinto sua falta.” Ela não esperou resposta. Soltou a frase em meus ouvidos e desligou. Paralisei por uns segundos, sem certeza do que tinha ouvido, se tinha ouvido, se não tinha imaginado. A vi rindo do outro lado de sua janela. Na esperança de que ela pudesse ler meus lábios, sussurrei um “também sinto sua falta” de volta. Deve ter funcionado, uma vez que seu sorriso se alargou. Mais alguns segundos me olhando e ela deu um tchau, virando-se para ir estudar.
Voltei para os meus livros com um único pensamento, “quem é essa mulher?”
Não falei com até a hora de dormir, a não ser pelas mensagens de boa noite no celular. Acordei dando graças aos céus por ser sexta-feira, fui fazer os meus testes e voltei para meu quarto ainda no início da tarde. A casa de tocava um som alto, isso significava que elas estavam animadas, e isso me deixava tranquilo. Todas as cortinas e janelas abertas. Da minha janela pude ver que elas estavam arrumando a casa. estava em seu quarto, andando de um lado para o outro, tirando todas as roupas do seu armário e devolvendo de forma mais organizada. Ela vestia a minha blusa da Lacoste, que estava tão clara quanto um céu de verão e que eu nunca mais teria coragem de pedir ou aceitar de volta, e seu par de meias brancas na altura do joelho, e apenas. segurava uma escova de cabelos enquanto arrumava algo em seus móveis, fingia que era um microfone e eu estava assistindo a mais um de seus shows particulares.

"Well you cured my january blues, yeah you made it all alright. I got a feeling I might have lit the very fuse that you were trying not to light"

Algum dos meninos entrou em meu quarto e perguntou se eu iria para a festa daquele dia. Não me dei ao trabalho de tentar reconhecer a voz ou me virar para ver quem era, estava muito mais entretido observando aquela garota dançando na outra casa. Neguei, dizendo que tinha planos melhores para aquela noite. Com isso, mandei uma mensagem para . “Esteja pronta às sete, nós vamos sair para jantar”.
Ela sorria enquanto me respondia. “O que devo vestir?”
“Surpreenda-me.”
mordeu os lábios, contendo mais um sorriso. Correu para suas janelas, fechando-as e cerrando as cortinas.
Enrolei em meu quarto durante as horas que me restavam antes de encontrá-la. Não conseguia pensar em nada que não fosse . Atrasei o meu banho o máximo que podia, apenas para ter certeza que não deixaria me perder em minha imaginação. Agora eu estava preparado para tê-la para mim.
Vesti um par de jeans escuros, uma camisa clara de botões, sapatos, e passei o melhor perfume que consegui encontrar na minha pequena bagunça. Ainda faltava meia-hora para a hora marcada. Ainda estava cedo. Eu não aguentava mais esperar. O carro já estava parado do seu lado da rua, as chaves giravam incessantemente entre meus dedos, meus pés batiam descontroláveis contra o chão. Eu estava mais nervoso do que nunca.
Quem era ?
Ela acendeu em mim coisas que nunca imaginei sentir e, por mais confuso que eu estivesse, nunca tinha me sentido melhor. Ela deu um jeito de dar luz na minha vida quando eu nem mesmo havia notado o caos de melancolia que ela havia se tornado.
Desci as escadas me controlando para não correr. ”Pareça normal, pareça normal!”
Quando toquei sua campainha, foi ela mesma quem abriu a porta. Estava estonteante, parecia tão diferente e ainda assim era tão . Usava um vestido preto curto, sem decote, quase completamente fechado e estranhamente comportado para aquela menina. Aquelas malditas meias na altura do joelho, dessa vez finas, quase transparentes, e brancas, queria me levar à loucura. O salto preto fechado completava a visão de boneca de porcelana. não era nenhuma boneca, muito menos delicada como porcelana, mas, por mais contraditório que pudesse parecer, estava perfeitamente ela, era em cada detalhe que eu enxergava.
Eu devia parecer um completo idiota olhando para a boneca a minha frente, só me tocando da minha imbecilidade quando riu, chamando meu nome.
- Desculpa, mas eu não sei nem o que falar... Eu só... Você... Uau.
Terminei minha sentença –porque frases exigiam sentido- com um suspiro, ainda indeciso se olhava para seu corpo ou seu rosto. Ela riu mais uma vez.
- Vou considerar isso um elogio. Vamos?
Sem querer parecer ainda mais idiota, apenas assenti com a cabeça e peguei-a pela mão, guiando até o carro. Já com o carro em movimento, o silêncio me era incômodo. Tinha medo que, de alguma forma, ela pudesse ler em mim todas as palavras que eu não conseguia pronunciar. Liguei a rádio em uma frequência qualquer, que, no momento, tocava alguma banda alternativa.
- Para onde vamos, ?
- Salubre Trattoria – Pude ouvir engasgar e ri com isso.
- Ficou louco? É muito caro, !
- Paciência, a mesa já tá reservada e nós já chegamos.
A menos de cinco minutos do campus, Salubre Trattoria era um restaurante italiano nos mais caros da região. Não que eu realmente precisasse impressionar , mas eu queria. Eu queria que a gente começasse da melhor forma possível. Já em nossa mesa, num canto mais reservado, logo fizemos o pedido, uma entrada, vinho e os pratos principais. As taças de vinho foram logo cheias, a entrada não demorou a chegar e nós degustamos tudo enquanto perguntava sobre mim. Minhas origens, minha família, meu passado, presente e o que eu esperava para o futuro. Apesar de querer saber muito mais sobre ela, não me dava muito espaço para perguntas, e também respondia o que eu conseguia perguntar de forma vaga.
Quando a comida chegou, senti meu estômago murchar. Apesar da apresentação bonita, aquilo que deveria ser uma refeição não ocupava nem metade do prato. Acabei de comer com menos de dez garfadas, e a comida nem mesmo estava tão boa. Evitei olhar para enquanto comia para ela não notar o meu desgosto.
- ? – me chamou, falando baixo.
Levantei os olhos e murmurei, indicando que ela podia continuar.
- Você ia achar muito ruim se a gente saísse daqui e fosse comer em outro lugar? Ainda estou com muita fome.
Eu ri, negando com a cabeça.
- Para onde você quer ir?
- Pode ser o Burger King? – ela levantava as sobrancelhas, com incerteza. Eu ri mais uma vez.
- Claro. Ainda bem, eu também estou faminto!
Pedi a conta para o garçom, paguei e voltamos para o carro. A viagem durou apenas 10 minutos, apesar do Burger King mais próximo ser em outra cidade. Fomos ouvindo música alta e rindo sobre os comentários do outro sobre o restaurante.
No Burger King, pediu um lanche um pouco maior que o meu e um refrigerante gigante. Comemos apoiados no carro, e a comida em cima do capô e eu de frente para ela.
- Muito obrigada, . Você não tem noção de como eu adoro junk food.
- Consigo ver que mais do que eu. Não acredito que você tem espaço pra tudo isso nesse corpo pequeno.
- Sinto-me lisonjeada! – ela curvou-se, como se fizesse uma reverência. – Mas a alma de um gordo sempre supera o seu corpo!
O tom de sabedoria que ela usou me fez engasgar de tanto rir, e ela riu de minha situação.
Quando os risos cessaram, as respirações voltaram ao normal e o ambiente ficou em silêncio, eu pude finalmente observar em paz. O jeito que ela olhava o próprio hambúrguer, como mordia com cuidado para não se sujar nem derrubar nada, o jeito que segurava o copo do refrigerante, com um mindinho que teimava em ficar levantado. Eu estava completamente fascinado por aquela menina. Apenas quando terminamos de comer ela notou que eu tinha fixado meus olhos nela.
- ? O que você tá olhando? Perdeu alguma coisa? – e aquela risada fez meu coração pular uma batida.
- Você não faz ideia do quão incrível é, . Não tem nenhuma noção do quanto eu estou encantado, fascinado, completamente apaix...
Eu não consegui terminar a frase. me calou com um beijo, um beijo urgente, faminto, que eu correspondi na mesma intensidade. Ela logo envolveu meu quadril com suas pernas, colando nossos corpos. Ao mesmo tempo que queria cada vez mais, tive que nos afastar.
- Vamos para casa?
Ela apenas assentiu com a cabeça, a respiração falha demais para formar palavras. Jogamos tudo no lixo e voltamos para o carro.
- Você está brincando com fogo, . Não devia fazer isso.
Ela olhava para a janela, comecei a dirigir muito devagar, tentando prolongar ao máximo a nossa conversa.

"You were a stranger in my phone book I was acting like I knew, ‘cause I had nothing to lose. When the winter is in full swing and your dreams just aren’t coming true, ain’t it funny what you’ll do."

- Do que você tá falando, ?
- Você não me conhece, .
- , nessa semana eu descobri mais sobre você do que nos anos que a gente se conhece. Eu vi vários dos seus lados. Vi o lado vulgar que você adora exibir em todos os lugares, mas eu vi como você se comporta quando é rejeitada. Eu lhe vi completamente assustada e tremendo com medo de trovões. Até semana passada você era uma completa estranha que eu achava que sabia quem era, que eu achava que podia julgar por todos os boatos que eu ouvia e pelas coisas que via. Agora eu te conheço, . Agora eu sei quem você é. Pode ficar assustada o quanto quiser, pode negar, mas você sabe que é verdade.
Ela não respondeu nada até eu estacionar o carro em frente à sua casa. Quando seus olhos encontraram os meus, pensei em tudo que queria falar antes dela sair pela porta, mas quando tentei abrir a boca para dizer algo, puxou-me o rosto e me beijou. Deixei-me levar pelo beijo, cheio de urgência, e quando o fôlego acabou e meus olhos se abriram, já estava entre mim e o volante, sentada em meu colo.
- Minha casa ou a sua? – Eu disse, com um sorriso no rosto.
- A minha. – Ela me deu um beijo rápido e abriu a porta, saindo e puxando-me pela mão, mal tive tempo de desligar e tirar a chave da ignição.
Subimos as escadas correndo, abriu a porta de seu quarto, que foi fechada com o impacto do meu corpo quando ela me empurrou contra a mesma. voltou a atacar meus lábios com os seus, as mãos subindo por dentro da minha camisa e arranhando-me o tronco, seguindo então para as minhas costas, enquanto as minhas puxavam sua cintura para mais perto do meu corpo. Não sei definir o que tinha naquele beijo, não era apenas o desejo e a urgência de sempre. tirou minha camisa e, enquanto subia as mãos para a minha nuca, eu desci as minhas para sua bunda, puxando-a para que prendesse as pernas ao redor de meu quadril, e andei, com um pouco de dificuldade, até que deitássemos em sua cama. Suas unhas apertaram meus ombros quando desci meus beijos por seu pescoço, minhas mãos passeavam por seu corpo, subindo e descendo, desenhando suas curvas, apertando sua carne. Eu a sentia arrepiar, seus pelos se eriçando quando meu toque era mais gentil. Uma de minhas mãos entrou por seu vestido, subindo por entre suas coxas, e suspirou quando meus dedos tocaram sua intimidade, já úmida.
Concentrei o carinho em seu clitóris, estremecia e seu corpo pedia por mais. Penetrei-lhe um dedo, e ela suspirou. Dois, e seu quadril se elevava quase com violência. Não era mais suficiente para ela. girou, ficando por cima de mim. Seus dedos logo desabotoaram minhas calças, e ela as forçou para baixo, junto com minha cueca. Tirei as peças de roupa que me restavam e só se levantou o suficiente para tirar a calcinha. Sentou sobre meu membro e passeou as unhas por meu peito, arranhando-me e apertando-me e fazendo-me gemer com a excitação da expectativa. Ela levantou novamente o quadril, posicionou meu pênis em sua entrada. Minha respiração parou nesses poucos segundos entre o primeiro contato e a penetração propriamente dita. hesitou e parou logo que a cabeça entrou, uma pausa longa o suficiente apenas para nossos olhares se encontrarem e se perderem um no outro. desceu lentamente, como se aproveitasse cada milímetro de prazer que poderia nos dar. E subiu tão lentamente quanto. E desceu novamente. Ela parecia ter sido moldada para mim. Um encaixe perfeito. Tão perfeito que cada segundo era eterno, era o segundo mais longo que poderíamos ter. Seu corpo subia e descia, movimentando-se sempre lento demais sobre o meu. Sua respiração irregular fazia seu peito tremer. Baixei as alças de seu vestido, deixando seus seios à mostra, tomei-lhes em minhas mãos e estremeceu mais uma vez. Ergui-me apenas o suficiente para que minha boca pudesse encontrar um de seus mamilos. fincou as unhas em meus ombros, tentando recobrar o equilíbrio que havia perdido. Suguei um mamilo, depois o outro, mordendo, lambendo e apertando. gemia, cada vez mais alto. Ela tremia, cada vez mais forte. O vai-e-vem era sempre devagar, e aquela era a pior parte, cada descida era um prazer cada vez mais difícil de segurar. tremeu mais uma vez. E outra. E outra. Empurrou-me, fazendo-me deitar novamente em sua cama. Com minhas mãos em suas coxas, eu mais senti do que vi ter um orgasmo. Um orgasmo intenso como eu nunca tinha visto antes, que me desestabilizou completamente, que fez-me gozar junto com as últimas contrações de seu corpo.
Olhei para o rosto de e pequenas lágrimas escorriam. Eu teria ficado preocupado, se não tivesse um sorriso cansado em seus lábios. Ela nos separou, e um suspiro de reprovação escapou dos lábios dos dois. Eu queria poder tê-la ali, exatamente daquele jeito, para o resto de minha vida. deitou a cabeça em meu peito e um de seus braços me apertou o tronco com força, passei meus braços ao redor de seu corpo e dei-lhe um beijo na testa.
- Eu te amo, .
Escapou. Não foi intencional, muito menos pensado. Foi tão natural que pegou os dois de surpresa.
levantou o rosto e olhou-me nos olhos, nada disse, apenas me beijou. Um beijo profundo e calmo. Voltou a cabeça para meu peito e respirou fundo. Não se mexeu mais, acredito que tenha dormido. Ela não falou que me amava, e isso não me abalava em nada. Não é como se eu esperasse realmente uma resposta.
Eu estava satisfeito. Eu tinha dito o que nem sabia sentir, e eu tinha certeza que era recíproco, não diria nada, nunca, mas eu sabia. Estava estampado em seus olhos, tinha ficado claro naquele beijo, foi consumado nesta noite.

"The late afternoon, the ghost in your room that you always thought didn’t approve of you knocking boots never stopped you letting me get hold of the sweet spot by the scruff of your knee socks"

Já era de tarde quando acordei. não dormia mais ao meu lado. O vestido que ela usara na noite anterior estava no chão, ao lado de tantas outras roupas. Levantei-me. Ela não estava por ali. Fui ao banheiro e tomei um banho, pegando no fim uma toalha qualquer do armarinho. Vesti a cueca e as calças da noite anterior. Chequei meu celular. Nada. Sentei na cama e resolvi esperar, ela teria que aparecer, eventualmente.
E apareceu, poucos minutos depois. Dois sacos de papelão em uma mão, um suporte com dois copos na outra. Ela sorria, abertamente.
- Trouxe almoço, espero que você goste.
Pousou tudo em cima da cama e deu-me um selinho.
Ela vestia shorts jeans, uma camisa de manga comprida azul clara, meias ¾ da mesma cor e calçava botas marrons estilo country. Era incrível a capacidade de de juntar as peças mais improváveis e criar uma visão tão gostosa. Eu ri ao ver as botas e me questionou, apenas apontei para os seus pés.
- Foi um presente, ok? Meu avô me deu em um dos meus aniversários, só faz muito tempo que não as uso e é algo que eu gosto de calçar quando estou tendo um dia bom!
Sentando na cama, tirou os sanduíches da sacola e comemos em silêncio, como era de costume. Meus olhos não despregavam de seu rosto, completamente encantado com cada detalhe daquela menina. O jeito que fechava os olhos durante a mordida, a velocidade que corria a mão aos cantos da boca para limpar qualquer vestígio de molho que pudesse ter escapado. O jeito que mordia o próprio lábio quando me olhava depois de engolir. Eu queria poder tê-la para mim, desse jeitinho, todos os dias.
Quando acabamos de comer, jogou o lixo em um canto do quarto. Assim que o fez, puxei-a pelas pernas para perto de mim.
- Mal acabou de comer e já está com fome de novo, ? – Ela aproximou o rosto do meu e provocou.
- Eu acho que nunca vou matar minha fome de você.
Puxei-a para meu colo e a beijei. Cada beijo que eu dividia com tinha um gosto de novidade, e eu queria saber se essa sensação se repetiria quando nossos corpos se encontrassem de novo.
Suas mãos arranhavam meu tronco e costas com força, me causando uma dor estranhamente prazerosa. Minhas mãos, por sua vez, logo acharam seu caminho por dentro de sua blusa, tocando sua pele com carinho. tirou a própria blusa e correu as mãos para tirar-me a calça. Pus-nos de pé, deixei a calça cair e desabotoei os shorts de enquanto ela tirava as botas. Deixei-a apenas com a lingerie azul e as meias, enquanto eu estava só de cueca.
Pedi-a para deitar-se de costas, e ela obedeceu prontamente.
Comecei os beijos por seu pescoço, descendo pelos ombros e procurando o meio de suas costas. Beijei todo o tronco de , que soltou um gemido sôfrego ao sentir uma mordida em sua cintura. Mais uma mordida no quadril. E outra na bochecha direita de sua bunda.
Mais beijos por suas coxas, e finalmente chegando no lugar que eu queria: a parte de trás dos seus joelhos. Passei de leve os dedos pela área e ela estremeceu. Passei minha língua e ela soltou um gemido. A cada carícia, suspirava e gemia de uma maneira sofrida, como se sentisse dor, de tão sensível que era aquela área.
Voltando ao que realmente interessava, enrolei suas meias, uma de cada vez, até que saíssem. Minhas mãos subiram por suas pernas, arranhando de leve. Tirei minha cueca e deitei meu corpo por cima de . Ela mordeu os lábios ao sentir minha ereção entre suas coxas quentes, suas mãos correram para tirar a própria calcinha e eu me ergui, atrapalhando o menos possível. empurrava o quadril de encontro ao meu, e não demorou para nossos corpos voltarem a se fundir. Na primeira e segunda penetrações ainda estava deitada, mas logo fez questão de ficar de quatro. A posição deixava a penetração ainda mais profunda, o barulho dos corpos se chocando era um incentivo para ir cada vez mais rápido. “Me bate”, sussurrou, e quase imediatamente eu a obedeci, deixando uma marca de mão vermelha em sua bunda. Foi no meio dos tapas, do choque entre os corpos, do suor e dos gemidos que eu gozei. Exausto, continuei até sentir tremer de baixo de mim, só parei quando ela mesma soltou os braços e deitou-se com tudo na cama, também exausta. Deitei-me ao seu lado e ela apenas passou um braço por mim e subiu sua cabeça para o meu peito, sem mudar muito a posição em que já estava.

"You and me could have been a team, each had a half of a king and queen seat. Like the beginning of mean streets, you could be my baby"
Ficamos naquela mesma posição por um tempo que eu não soube definir. Eu posso ter cochilado daquele jeito, ou posso ter ficado acordado observando cochilar. Só sei que quando ela acordou, sentamos na cama, ela ao meu lado, com meu braço envolvendo sua cintura e sua cabeça encostada em meu ombro. Ambas as respirações estavam calmas, o ambiente estava leve, tudo estava bom. levantou o rosto, olhou em meus olhos e me beijou com paixão. Ao fim do beijo, ela continuou lá, olhando no fundo dos meus olhos, como se enxergasse além de mim.
- Você sabe que a gente funciona muito bem juntos, né?
Ela riu e desviou o olhar. Encarava algum ponto no outro lado da cama.
- Você sabe que a gente nunca vai ficar junto, né? – Ela me imitou, sorrindo.
- , nem você acredita nisso. Já pode parar de se enganar.
O modo como ela me olhou confirmava, seu sorriso a denunciava e provava que eu estava certo. Não tinha mais nenhum tipo de dúvida. era minha.
era completamente minha.


Fim.




Nota da autora:
MIMDESCULPA, ABBY. Essa fanfic era pra ter saído no fim de dezembro, mais precisamente no dia 16 ou 17, porque as primeiras 20 páginas da fic eu escrevi até o dia 15, but my boyfriend's back in town, eu me enrolei, bloqueei, fiquei com preguicinha e só consegui terminar agora. Enfim, sobre o especial: foi algo entre leitoras que eram amiguinhas, próximas ou se gostavam, quando umas 3 já tinham desistido de escrever Knee Socks a Abby me chamou e eu tava sem o que fazer na época e aceitei. Deu muito problema com os prazos -oi, eu- e todo mundo teve algum tipo de problema, mas FINALMENTE EU ACABEI e todas vão poder postar no site, YAY. Agora as leitoras lindas vão correr pra ler as outras 11 fics do especial -ou a 12, se estiverem lendo na ordem- porque são todas muito boas, de autoras incríveis, e não tem como escrever porcaria com a inspiração que a gente teve.
Obrigada a quem leu, deixem nos comentários o que acharam da fanfic! Ela é meu orgulhinho, meu novo xodó, e eu espero que tenham gostado.
Qualquer coisa, é só chamar em qualquer um desses lugares: Ask | Facebook | Twitter


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

COMENTÁRIOS: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI


comments powered by Disqus