Capítulo Único
Querido diário,
Meu pai quer que eu me case com um velho viúvo e com filhas mais velhas do que eu em um mês. Ele diz que é pelo bem do reino, mas eu não quero me casar, bom, não quero um casamento arranjado! Você sabe que o meu grande amor é o , mas meu pai já deixou bem claro que ele não é nem uma hipótese já que me casar com ele não traz benefício nenhum para o reino.
Não tive como discutir com ele pois ele deu a notícia na mesa de jantar e não seria adequado.
Como eu queria que mamãe estivesse aqui! Ela jamais permitiria que eu casasse com um desconhecido. Já não posso dizer o mesmo de Emma. Pude ver nos olhos dela o quanto ela adorou o comunicado de papai.
Às vezes acho que mamãe nunca devia ter aceitado que a filha bastarda de papai se juntasse a nossa família. Agora que ela não está mais aqui para me defender, Emma se acha no direito de mandar em mim, mas eu sei que as ações dela são consequência da inveja.
Ela não esconde de ninguém o quanto gosta do , do meu e ela com certeza viu nesse casamento arranjado a oportunidade perfeita de me tirar da vida dele.
Sabe de uma coisa, eu não consigo entender como em outros reinos as mulheres não podem andar a cavalo e tem que usar aqueles vestidos enormes e pesados dia após dia, deve ser tão irritante… Ainda bem que aqui só temos que usar essas roupas em bailes. Ouvi dizer que até as roupas de dormir delas são enormes e desconfortáveis, imagina só como devem ser a noite de núpcias delas.
Enfim, espero que eu consiga me livrar dessa.
22 de abril
Ah! Como eu odeio a Emma! Como ela pode fazer isso? Ela foi até a casa de antes de mim só para contar a ele sobre o tal casamento!
Fiquei horas tentando encontrar uma forma de contar para ele sem que ele ficasse chateado e ela estragou tudo, de novo.
Acabei dizendo que ele não precisava se preocupar porque eu daria um jeito, mas a verdade é que não tenho ideia do que fazer. Meu pai deixou claro hoje que esse assunto não está aberto para discussões e que se eu insistisse sobre mim e ele me deserdaria. Segundo ele as notícias do casamento já correm pelos dois reinos e estar com seria ter um amante!
Essas supostas leis do reino são ridículas e eu acho que prefiro ser deserdada e poder ficar com quem eu quiser do que fazer parte de tudo isso sendo infeliz, mas jamais concordaria em fugir comigo. Ele acha que eu preciso honrar tudo isso como única filha legítima e então o que me resta é sabotar meu próprio casamento.
Só preciso descobrir como.
18 de maio
Querido Diário,
Eu estou em desespero! Não consigo acreditar que se passou um mês desde essa maldita invenção de casamento e eu não conseguir fazer nada para impedir. Ainda não desisti, é claro, mas parece que isso de viver mentindo para o está me matando e me impedindo de pensar direito.
Claro que não deixei de encontrar com ele, tem me ajudado a escapar do castelo e sempre encobre meu paradeiro. Nossa mentira constante tem sido sair para cavalgar. Ainda bem que me ensinou.
Estou fugindo de Emma também. Algo me diz que devo manter distância dela e se não posso contar com ela é melhor que ela fique longe mesmo. Ouvi ela conversando com papai e garantindo que estava tudo pronto para recebermos o tal lorde amanhã mesmo e que os preparativos do casamento já estão praticamente prontos. Prefiro nem pensar no que ela aprontou desde que papai autorizou ela a cuidar de tudo.
Amanhã cedo preciso ir até a casa de , preciso avisá-lo de alguma forma que o tal cara vai aparecer e que ainda sim não irei me casar. E pior do que isso, preciso ser bem convincente, pois aposto que será o assunto na boca de todos do reino. Espero que eu sonhe com a solução.
estava tirando as duas fatias de pão da torradeira quando ouviu alguém batendo em sua porta. Conferiu as horas, era muito cedo para ser até porque era sexta-feira e ele sairia para o trabalho em pouco tempo. Deixou as torradas num prato e caminhou até a porta não esperando encontrar a pessoa que estava parada ali.
- Emma? - estranhou a presença de sua quase cunhada por ali. - O que faz aqui? - perguntou apreensivo, pensando que ela pudesse estar procurando pela irmã.
- Oi, Dougiel. Estou ótima, obrigada por perguntar, e você? - o tom dela era irônico e mesmo se não fosse aquele sorriso a denunciaria.
Não era segredo que Emma se dizia apaixonada por ele, embora eles nunca tenham dividido um momento que não fosse na presença de . Além disso ele sabia de tudo que a meia-irmã já tinha feito com a sua amada e tê-la ali em sua casa era, de certa forma, um tanto ameaçador. Mesmo assim não teve outra escolha a não ser deixá-la entrar.
- Até que enfim. - ela reclamou e foi entrando pela casa como se a conhecesse, o que não era verdade.
- O que você quer aqui, Emma? - repetiu pegando uma torrada e estendeu o prato na direção dela que negou com a cabeça.
- Achei que não ia oferecer. - o sorriso petulante voltara.
“Como se eu não soubesse do que você é capaz caso eu te trate mal.” - ele pensou, mas nada disse.
Vendo que ele não demonstrava o menor interesse de interagir com ela, Emma iniciou o seu discurso como se só quisesse o bem das pessoas, o que era bem comum dela.
- , querido, você sabe o quanto eu gosto de você, certo? - ele permaneceu imóvel, nem mastigava mais. - E é por isso que vim aqui te dizer uma coisa muito importante. vai se casar com o lorde de Stormyville.
- De novo essa história, Emma? - um pequeno riso escapou. - Acho que você precisa encontrar um bom remédio para a sua memória, pois você fez a mesma coisa a algum tempo atrás e nós dois sabemos que já deu um jeito nisso.
- Sabemos? - ela questionou com a sobrancelha erguida e ele coçou a cabeça não gostando do rumo que a conversa tomava.
- Emma, se sua intenção era estragar meu dia você já pode ir porque já conseguiu. - não se importou com a falta de educação. havia lhe garantido que tinha dado um jeito na situação e ela não mentiria para ele.
- Não precisa se estressar, . Eu só vim fazer um favor a você porque não quero que você tenha fama de corno por aí. Mas se não quer me ouvir o problema é seu. - ele sabia que era um jogo, tudo com Emma era assim e apesar disso, mordeu a isca.
- O que é tão importante que você veio me dizer, Emma? - ele conferiu as horas no relógio sabendo que não podia se atrasar.
- Que o lorde de Stormyville, a quem está prometida, chega ao palácio hoje para a cerimonia de casamento que será realizada amanhã. - ela notou o choque em suas feições. - Parece que sua querida não deu um jeito afinal.
Era como se estivesse congelado no lugar, ele sabia que Emma era má quando queria, mas naquele momento ele soube que ela não estava mentindo. Não a viu sair de sua casa, estava em choque e só acordou para a realidade quando ouviu o barulho da porta batendo. não era violento, mas agradeceu por não ter nada em suas mãos ou ele atiraria na parede com força. Não entendia como havia escondido a verdade dele, isso não era justo. O relacionamento deles tinha uma contagem regressiva prestes a expirar e ele nem mesmo estava sabendo. Seu primeiro instinto seria aproveitar o tempo restante, ainda que pouco, mas o pensamento que dizia que ele havia sido enganado rondava a sua mente e uma vontade oposta tomava conta, uma que dizia que eles não mereciam nem mesmo um adeus.
Enquanto isso se apressava para deixar o castelo as escondidas, ela sabia aonde poderia interceptar o caminho de e embora não soubesse como contar a verdade, ela honraria o nome que carregava e a memória de sua mãe e seria honesta. Ela sabia que inúmeros imprevistos poderiam acontecer, mas avistar Emma no caminho com certeza não era um deles. Infelizmente tinha uma ideia do que aquilo poderia significar e torcia para estar errada.
- ! - ela exclamou surpresa. - O que está fazendo fora do castelo? Você devia estar se preparando para o grande dia! - ela tentou fazer a irmã ir na direção contrária, mas a mesma firmou os pés no chão.
- Grande dia uma ova! Você sabe que eu nunca quis essa casamento e eu sei muito bem porque você está insistindo tanto para que ele aconteça.
- Ah, é? - questionou com o tom petulante.
- Todo o reino sabe, Emma. Não precisa desse teatro, você quer o . - ela deu um sorriso vitorioso. - Mas não vai ter! - fez questão de reforçar.
- Eu não teria tanta certeza assim, princesa. - as palavras da irmã fizeram a olhar com raiva. - Inclusive, se o seu destino for o , é melhor voltar para casa, pois você é a última coisa que ele quer ver na frente dele. - Emma colocou todo desdém que conseguiu na forma de se referir a .
- O que você fez? - apesar da raiva, controlou a voz evitando chamar atenção desnecessária nas ruas.
- Fiz o que você deveria ter feito, entreguei o seu convite de casamento!
- Você o quê? - se descontrolou.
- É isso que você ouviu mesmo, acabei de convidá-lo para o grande casamento de amanhã e imagine o quanto ele ficou chateado por você não contar a ele...
deu as costas a Emma e saiu correndo na direção da tão conhecida casa de , ela precisava tentar consertar o estrago que Emma havia feito. Ela não estava longe, precisava apenas alcançá-lo antes que ele tivesse saído.
- ! - ela gritou quando o viu trancando a porta. Ele a olhou e voltou a olhar para a porta e tal ato causou um aperto enorme em seu peito. - Eu não sei o que a Emma falou, mas é mentira e eu posso explicar...
- Então não é verdade que você um lorde de outro reino está chegando hoje? - ele a cortou.
- Sim, mas…
- E não é verdade que a filha legítima do rei está prometida a ele?
- Sim, mas…
- E haverá uma cerimônia amanhã?
- Sim. - ela respondeu derrotada.
- Por que você mentiu para mim, ? - Ele perguntou num tom mais ameno.
- Porque você pararia de me ver e me faria seguir com essa ideia do meu pai. Você sabe que é verdade, , e eu não ia deixar você desistir da gente assim. - ela respirou fundo segurando as lágrimas que estavam prestes a cair.
- Eu preciso ir, . Não vai ser bom se verem você aqui comigo. Adeus. - passou por ela como se ela fosse uma pessoa qualquer na rua e seguiu seu caminho e ela permitiu que uma lágrima descesse. Automaticamente refez o trajeto até o castelo, precisava evitar que Emma a prejudicasse ainda mais.
Assim que voltou ao castelo correndo percebeu que algo estava errado e seguiu até o quarto. Ao vê-la jogada na cama a criada, que era muito mais amiga do que empregada, foi até a mesa de refeições avisar para o rei e seus convidados do outro reino que a filha dele não os acompanharia naquela refeição já que estava se sentindo indisposta. Emma fez menção de desmentir, mas percebendo em tempo avisou que sentia muito e que tinha pedido a irmã que acompanhasse os visitantes naquele dia, assim poderia garantir que ela não se aproximaria do quarto.
- Pronto, ninguém vai aparecer por aqui, agora me conte o que foi que aconteceu. - disse assim que fechou a porta do quarto de . A garota saiu do banheiro com uma roupa mais confortável já que não sairia do quarto até ter um bom plano montado.
- Aconteceu que a senhorita invejosa correu para o e eu fiquei de mentirosa. Ele mal me encarou quando apareci por lá. - ela contou lembrando da forma como ele reagiu. - Ele praticamente me mandou embora, disse que não era bom sermos vistos juntos. - ela jogou uma das almofadas na parede do outro lado do quarto.
- E você vai deixar por isso mesmo? - a instigou a reagir.
- O que é que eu posso fazer, ? Tive um mês para encontrar uma solução e não deu certo. - tinha um tom de derrota na voz.
- O que você pode fazer? - repetiu a pergunta a pergunta num tom de incredulidade. - Você pode tirar essa cara do travesseiro e bolar um plano para se livrar do velhote lá.
- , eu já tentei isso e você sabe!
- Mas agora você tem algo que você não tinha antes.
- E o que é? Porque até onde eu sei eu tinha o e agora não tenho. - soltou o ar derrotada.
- Euzinha! - disse no melhor estilo fada madrinha da Disney. - Então se quiser minha ajuda, sente direito nessa cama e mãos a obra. - a obedeceu em questão de segundos.
- E o que você tem em mente? - ela estava agora curiosa.
- Bom, a gente podia colocar algo na comida do velho, sabe como é…
- Matar ele envenenado? - colocou as mãos na boca em estado de choque.
- Claro que não, ! Eu não sou assassina. - rolou os olhos com o pensamento da outra. - Mas um desconforto intestinal vai tirá-lo do caminho, pode atrasar o casamento.
- Isso não é exatamente uma solução. - ponderou.
- Esse é o primeiro passo, tirar o seu “noivo” do nosso caminho. O segundo é recuperar o , depois evitar esse casamento e no meio tempo achar um lugar para Emma não atrapalhar a vida de mais ninguém.
- Nada muito diferente do que eu já tinha pensado, só que para esse casamento não acontecer só tem uma saída e você sabe que não é viável.
- Tudo depende de até onde você está disposta a ir, … - deixou a amiga pensativa. - A minha ideia é…
O plano de distração de havia dado certo, Emma não havia chegado perto de naquela tarde e faltava pouco para ela colocar o plano em prática. havia tomado um banho relaxante e enquanto isso havia invadido o quarto preparado para a noite de núpcias, pois sabia que Emma havia comprado roupas íntimas para que usasse na primeira noite após o casamento. Assim que encontrou a caixa com um enorme laço vermelho, voltou para o quarto e deixou em cima da cama de .
- Como sabia disso? - perguntou, ainda enrolada na toalha, enquanto desfazia o laço e abria a caixa.
- Quando você vai entender que eu sei de tudo o que acontece nesse castelo? - cruzou os braços se mostrando superior e as duas acabaram rindo. - Ok, a verdade é que Emma não fez questão de esconder os planos dela para você.
tirou de dentro da caixa três conjuntos de lingerie com camisolas de cores diferentes. Olhou para espantada deixando tudo em cima da cama e se afastando.
- Eu não vou usar isso. - ela afirmou.
- Claro que vai, . Você não concordou com o plano?
- Isso é tão… - fez uma careta. - Não dá pra usar isso.
- Não vou discutir isso, aliás, nem tem o que discutir, a não ser a cor. E se fizer muito doce quem vai escolher sou eu. - disse séria e a outra olhou mais de perto as opções que tinha. - E olha que preciso até dar os parabéns para a Emma, ela escolheu coisas de muito bom gosto.
- Bom gosto? Isso não tampa nada, vou me sentir como uma mulher de cabaré! - voltou a reclamar.
- Deixa de ser puritana, mulher! Como é que você acha que vai fazer sexo? De roupa? - levou as mãos ao rosto, espantada com a fala. - Eu estou falando sério, se continuar com essas frescuras eu vou embora e você se vira.
- Ok, eu me rendo, aceito vestir isso. Tudo pelo sucesso do plano. - murmurou a última parte.
- E qual vai ser? Azul, verde ou preta?
- A que você achar que será mais eficaz.
- Então será essa. - jogou a lingerie e a camisola para , que foi se trocar no banheiro.
- E agora? - a garota perguntou visivelmente incomodada.
- Primeiro, para de pensar porque essa cara sua vai espantar o na hora e o plano é justamente o oposto. - respirou fundo e tentou relaxar. - Agora você vai fingir que essa camisola é um blusinha, vai colocar essa saia aqui… - retirou a saia lápis, com listras horizontais pretas e brancas, do guarda roupa e entregou para a dona. - Agora os sapatos. - abriu o outro lado do closet e logo entregou um scarpin preto.
- Preciso de algo para me cobrir, . Não dá pra eu pensar em sair escondida assim. - disse encarando seu reflexo no espelho.
- E você vai ter, aquele sobretudo preto, mas agora você vai se sentar aqui e me deixar fazer sua maquiagem e seu cabelo. - ela se sentou no local indicado sem contrariar.
- Aonde você aprendeu tudo isso? A gente convive há um tempo e eu não sabia de todos os seus dotes. - falou quando foi autorizada a mexer o rosto.
- Eu trabalhei em outros lugares antes de vir trabalhar aqui, , mas hoje não é dia de falar de mim. A não ser para elogiar o meu trabalho. - colocou em frente ao espelho enorme do closet e entregou a ela o sobretudo.
- Você é a melhor! Aposto que não vai resistir.
- Tenho certeza que não. - piscou. - Agora você fica aqui, perto da janela. Assim que você me vir abrindo a janela da sala de jantar significa que o caminho está livre e que todos estão entretidos com o jantar. A carruagem já está na saída escondida de sempre. - a abraçou inesperadamente.
- Obrigada, . - apesar de pega de surpresa ela retribuiu o abraço.
- Boa sorte, . - e saiu do quarto no instante seguinte.
Os minutos pareciam horas, mas sabia que tudo era a ansiedade para o que viria a seguir e o medo de ser pega saindo as escondidas. Permaneceu na janela esperando o sinal de .
havia feito o caminho até a sala de jantar, feliz em notar que todos estavam sentados em seus lugares. Avisou a todos que era melhor que permanecesse de repouso para que estivesse bem para o casamento no dia seguinte, disse ainda que levaria a refeição dela até o quarto e garantiria que ela comesse pelo menos um pouco. Caminhou pela sala e logo abriu a janela, torcendo para que visse o sinal e que o plano funcionasse como o esperado.
Ela abriu a porta do quarto com cuidado, evitando fazer barulho e depois de se certificar que não havia ninguém naquele corredor, fez seu caminho até a saída lateral do castelo. Avistou logo a frente um cocheiro em uma carruagem, havia dito que ele era de confiança e ele a ajudou a entrar na carruagem, seguindo para o endereço dado logo em seguida. sabia que em pouco tempo precisaria reunir toda a sua coragem para seguir o plano, sentia as fortes batidas do seu coração e antes do que esperava a carruagem parou. O homem a ajudou a descer da carruagem, ela encarou a porta da casa, respirou fundo uma última vez e bateu na porta.
conseguiu ouvir os passos indicando que alguém se aproximava, logo a porta foi destrancada e ela se surpreendeu com a visão que teve. A única peça de roupa que ele vestia era uma calça comprida, a garota nunca o tinha visto daquela forma e estava praticamente hipnotizada. Os cabelos molhados, a toalha no ombro direito e o cheiro de alguém que acabava de tomar banho só a deixavam ainda mais zonza, mas tudo isso durou uma fração de segundo, pois a voz dele a trouxe para a realidade.
- ? O que você está fazendo aqui a essa hora? - ele a puxou para dentro de casa e fechou a porta atrás de si. Ela sorriu discretamente ao notar que a raiva que ele parecia sentir mais cedo não estava mais presente.
- Eu precisava te ver, . Eu precisava falar com você. - ela sorriu ainda satisfeita com o que via. Nunca havia tido pensamentos que ela julgava ser impuros, mas vendo ele naquele momento, ela podia ouvir as palavras de ecoarem na sua mente e ela sabia que ela o queria.
- Me desculpe por não estar vestido decentemente, achei que era o Nick ou o Fred. - ele caminhou até o quarto e voltou com uma camiseta.
- Sem problemas. - foi tudo o que ela respondeu.
- O que aconteceu, ? Está tudo bem? Você nunca se arriscou a sair do castelo a essa hora. - ele se aproximou dela.
- Eu não podia deixar as coisas entre a gente simplesmente acabar com aquela conversa que tivemos de manhã. - ela retirou o sobretudo devagar e o colocou no encosto da cadeira. Notou na hora o quanto não estava preparado para vê-la vestindo uma camisola de seda ao invés de uma blusa comportada como sempre usava. Os olhos dele se demoraram um pouco no decote antes de voltarem a encarar os olhos dela. - Eu reconheço que você estava certo, eu devia ter te contado a verdade sobre não ter conseguido cancelar o casamento, mas era simplesmente difícil demais acreditar que não teria mais você na minha vida. - ele podia sentir toda a verdade naquelas palavras. Na verdade ele mesmo havia passado o dia todo remoendo a conversa que haviam tido pela manhã, toda amargura havia sido pela aparição de Emma. Ele amava demais para imaginar uma vida sem ela, mas sabia que ele não era o príncipe que esperavam para ela.
- , eu… - palavras não expressariam o que ele sentia, então ele levou a duas mãos até o rosto dela e a beijou. O beijo começou calmo e apaixonado, como sempre era entre eles, até ele descer aos poucos uma das mãos, primeiro para o seu pescoço e depois para as suas costas. Ao sentir o tecido e confirmar que não era uma blusa, a vontade de saber o que estava por baixo o dominou e o beijo adquiriu intensidade, intensidade essa que foi correspondida por . Quando o folego faltou a ambos, passou a beijar o pescoço dela e ela sutilmente o afastou.
- , eu… Acho melhor nos pararmos. - ela desviou o olhar do dele. - Amanhã eu terei que me casar com o lorde e eu realmente vim para nos despedirmos. Acho que esse beijo é a prova do que foi nosso relacionamento e do quanto gostamos um do outro, será minha eterna lembrança de você. - não conseguia dizer nada. Cada palavra proferida por era como se o ar fosse sendo tirado dele aos poucos, ele sentia como se estivesse sufocando. - Eu espero que você seja feliz, . Adeus.
Dizendo isso deu as costas a ele e começou a caminhar em direção a saída da casa, as batidas do coração mais altas que nunca, e uma sensação de alívio quando ele a segurou pelo braço e a fez se virar novamente na direção dele.
- Você não vai embora assim. - afirmou e se arrepiou ao ouvi-lo. - Como é que você vem vestida assim me dizer que é um adeus, que é o fim da nossa relação e espera ir embora como se não fosse nada demais?
- , eu não sei do que você está falando. - ela tentou desconversar.
- Você deixou bem claro que o nosso namoro termina aqui e que a partir de amanhã você pertence a outra pessoa, então isso quer dizer que hoje você ainda é minha namorada e eu tenho um pedido. - balançou a cabeça afirmativamente e esperou que ele continuasse. - Fica comigo essa última noite? - num ato impensado ela voltou a colar os lábios aos dele e ele voltou a beijá-la com a mesma intensidade de antes.
Se lembrando da imagem que tinha mais cedo de , passou as mãos por debaixo da camiseta que ele vestia, tocando o tronco que ela havia apreciado antes. Isso foi o suficiente para que ele cortasse o beijo apenas para terminar de tirá-la. Da mesma forma, ele ainda estava curioso para saber o que sua amada escondia debaixo da camisola, mas sabia que a sala não era o melhor lugar para acontecer o que estava prestes a acontecer e então, sem partir o beijo, a guiou até o quarto e sentindo as pernas encostarem na cama, ela se deitou.
Aproveitando por ainda estar de pé, levou as mãos até o cós da saia e vendo que ela não se opôs, a puxou vagarosamente até que estava livre dela e também dos sapatos. Apenas uma peça o impedia de ver o que tanto o havia atiçado desde que ela tirara o sobretudo. Notando que ela parecia um pouco insegura, ele tirou primeiro as calças que vestia e se deitou por cima dela, apoiando seu peso nos cotovelos e voltando a beijá-la para que ela voltasse a se sentir a vontade. Distribuiu beijos pelo pescoço, colo, ombros e tudo isso a deixava cada vez mais entregue ao momento. Pouco tempo depois a camisola havia se juntado às outras peças no chão e o que via não chegava aos pés do que havia imaginado. A lingerie preta de renda o havia levado a loucura e o que aconteceu depois foi algo que marcaria a vida deles para sempre e que dizia respeito a somente eles.
acordou no dia seguinte sentindo um frio que não condizia com o sol que adentrava o quarto pela janela, de repente a cama parecia estranhamente maior e desconfortável. Levantou da cama indo até a janela e a abrindo notou um silêncio fora do normal, as ruas estavam vazias e ele deduziu que todas as pessoas do reino haviam se dirigido ao castelo para assistir ao casamento.
Depois dos ótimos momentos que compartilharam na noite anterior, ele a levou de volta para o castelo e se certificou que ninguém soubesse que ela havia saído e quando voltou para a casa não conseguiu dormir. Os flashes do que haviam acabado de fazer voltavam a sua mente e diferente do que imaginava, ele não se arrependia de nada.
Foi até o banheiro e fez a higiene matinal, só então percebeu que estava com fome. Abriu a geladeira e optou por ovos mexidos, por ser o máximo que seu humor permitia. Quebrou-os na panela e enquanto os mexia ouviu batidas na porta, assim como havia sido no dia anterior. Lembrou-se da figura de Emma e desejou com todas as forças que não fosse ela na entrada de sua casa, não conseguiria aguentar provocações dela. No entanto, se surpreendera assim como na noite anterior ao notar ali. Ela estava de calça comprida, blusa de mangas compridas, botas e uma grande mochila nas costas, atrás dela estava Angel, seu cavalo.
- ? O que você está fazendo aqui? - ele perguntou um tanto confuso quanto aliviado.
- Só vai me receber assim agora, ? Eu esperava um “bom dia, amor” ou algo do tipo. - colou os lábios aos dele e entrou na casa. Ele não estava entendendo o que estava acontecendo e chegou a considerar que estivesse sonhando. - ? - ela estalou os dedos na frente dele.
- Bom dia, amor. Você não deveria estar num casamento? Quer dizer, no seu casamento? - ela riu da confusão que o rosto dele transmitia.
- Deveria, mas as últimas circunstâncias alteraram os planos e acho que é Emma quem vai se casar com o tal lorde. - ela deu de ombros como se não fosse importante.
- , o que foi que você fez? - estava intrigado.
- Eu falei a verdade, . - disse simplesmente.
- Que verdade, ? - repetiu o tom dela.
- Que não sou virgem, oras. Foi prometido ao lorde uma princesa virgem e agora eu não sirvo mais para me casar com ele. Fim. - ela sorriu e levou a panela de ovos para a mesa.
- Você não fez isso! - ele disse sério, apesar de um sorriso brincar no canto dos lábios.
- Não fiz o que, ? - ela provocou com um sorriso estampado. - Não fui a anjinha que você esperava? Vim mal intencionada ontem? Você caiu como um patinho no meu plano? - ouviu em sua mente dizendo que o plano não era dela. - Sim, sim e… sim! - gargalhou ainda mais da cara dele.
- Eu não consigo acreditar. - se sentou ainda assimilando as informações.
- Pois acredite, eu sabia que a única forma de não ser obrigada a casar era não sendo mais pura, mas sabia também que você jamais concordaria se eu propusesse isso.
- E não concordaria mesmo. - ele afirmou servindo os pratos.
- Eu fiquei tão revoltada com o comportamento de Emma ontem que contei tudo para e ela me ajudou a bolar um plano para que eu me tornasse irresistível para você. Serei eternamente grata a ela. - finalizou e colocou uma garfada na boca.
- Você sempre foi irresistível, , mas ontem… - ela sentiu as bochechas corarem e desviou o olhar. - Mas , se você contou ao seu pai que não era mais virgem, pelas leis do reino você deveria ter sido deserdada.
- O que exatamente você acha que estou fazendo aqui? - ela piscou com um olho. - Eu fui deserdada e como Emma contou que nós tínhamos um relacionamento ele acabou por te incluir nos documentos. Nós temos até o fim do dia para sair do reino.
- E você fala tudo isso assim, naturalmente? - ainda estava atônito e se levantou e parou ao lado dele.
- O que mais eu poderia pedir, ? Eu vou poder viver com o homem que eu amo, sem ter que encontrá-lo as escondidas, sem regras sobre comportamento, sem ser vigiada constantemente. Eu ganhei tudo o que eu sempre quis.
- Você me ama tanto assim? - ele a olhou com uma admiração diferente.
- Você tem alguma dúvida?
Fim
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