Capítulo Único
Eu mal conseguia sentir meu corpo, estava completamente anestesiada, entorpecida. Minha mente estava nublada, meus pensamentos vagos. Onde eu estava?
Tentei mover minhas pernas, mas nada se mexia. Tentei fazer qualquer movimento, mas meu corpo não respondia.
Alguém pegou minha mão.
- Você precisa voltar. – Um homem. Foi tudo o que consegui distinguir. Sua voz não me era estranha, mas estava tudo tão pesado, como se eu estivesse sendo puxada para uma escuridão sem fim. – Preciso daquela chance pra fazer tudo certo dessa vez. Por favor.
Eu tentei. Juro que tentei abrir meus olhos, juro que tentei falar alguma coisa, juro que tentei mexer minha mão que ele segurava, nem que levemente, para que ele soubesse que eu estava ouvindo. Mas não consegui.
Então senti um beijo em minha testa. Acho que ele saiu.
Seja lá quem ele for.
E então eu apaguei.
***
Senti minha consciência retornando aos poucos. Consegui organizar meus pensamentos e pude constatar que estava deitada sobre uma cama não tão macia quanto a minha. Tentei mover meus dedos, dessa vez meu corpo respondeu, mesmo que lentamente.
Forcei meus olhos a abrirem, mas a luz estava forte demais para que eu conseguisse mantê-los abertos. Não consegui levar minhas mãos para os cobrirem, estava fraca demais. Uma mão logo segurou meu braço, me impedindo de ao menos tentar alcançar meu rosto.
- Calma aí, meu bem, você vai acabar soltando esses fios presos em você. – Após alguns momentos de confusão, reconheci a voz de . Forcei meus olhos a abrirem novamente, permitindo que segurasse minha mão sobre a cama. Ainda que incomodados, os mantive abertos dessa vez, virando minha cabeça lentamente para encarar meu amigo sentado ao meu lado.
- Onde... Onde...? – Tentei perguntar onde eu estava, mas minha garganta estava ressecada demais para que eu conseguisse pronunciar uma sentença completa.
- Você está no hospital. – Seus olhos escureceram rapidamente ao me encarar. – Você não se lembra do que aconteceu? – Flashes surgiam em minha mente, mas nada que fizesse muito sentido. – Eu já chamei os médicos e informei que você acordou. Daqui a pouco eles estarão aqui, por favor, não faça muito esforço. Você ficou apagada por dias.
Arregalei um pouco meus olhos, completamente perdida com as novas informações que tinha recebido. Antes que pudesse tentar perguntar alguma coisa, a porta do quarto abriu e minha mãe entrou, sendo seguida pelo, o que suponho ser, médico.
- Ah, minha filha, graças a Deus você acordou! Eu fiquei tão preocupada! – Ela veio correndo em minha direção e pegou a mão que antes segurava. Agora ele estava mais afastado da minha cama, mas ainda mantinha seus olhos sobre mim, como se a qualquer momento eu pudesse tentar fazer algo estúpido. Acabei por ignorá-lo, e minha mãe também. O que, raios, eu estava fazendo ali?
- Oi, . Eu sou o Dr. Bourne. Como você está se sentindo?
- Ela não está conseguindo falar direito, acredito que esteja com sede, ou algo assim, mas eu não sabia se poderia dar água a ela. – adiantou-se e respondeu por mim.
- Claro, ela pode beber. – O médico informou e, rapidamente, meu amigo trouxe um como com água até mim. Levantei minha mão para que pudesse pegar o copo da sua mão e notei meu braço enfaixado. Como um raio, as imagens do que provavelmente me deu aquele curativo atingiram-me em cheio. Meu Deus. viu meu olhar de pânico e logo abaixou meu braço, levando o copo até minha boca. Tomei alguns goles e tentei regular minha respiração. Mantive meu olhar baixo, não querendo demonstrar meus reais sentimentos naquele momento. Tudo que senti naquele dia estava me perturbando novamente: medo, angústia, confusão, fraqueza... Eu tinha cedido, afinal.
- Fica calma, eu tô aqui. – falou no meu ouvido e se afastou com o copo na mão.
- Melhor? – O médico perguntou, e mesmo que não completamente segura da minha voz, o respondi.
- Eu estou um pouco confusa e me sinto pesada, minha mente. – Soei incoerente e minha voz saiu meio esganiçada, mas até que foi um bom começo.
- Você está sentindo alguma dor?
- Minha cabeça dói. Meu corpo está um pouco dolorido também. – O médico assentiu, anotando alguma coisa em sua prancheta.
- Você se lembra do que aconteceu? – Suspirei.
- Lembro. – Falei, simplesmente. Notei que minha mãe levou suas mãos a boca, lágrimas escorriam pelo seu rosto. apenas me encarava, com pesar.
- Isso é bom. Vou providenciar alguns analgésicos e ficará em observação por mais alguns dias. – Assenti e o médico deixou o quarto.
Um silêncio nada confortável instalou-se no ambiente, e eu estava bem longe de quebrá-lo. Voltei a fechar meus olhos, talvez isso mostrasse que não estava muito a fim de conversa e eles deixassem o quarto. Eu realmente precisava pensar.
Ouvi a porta bater. Ótimo. Respirei mais aliviada e tornei a abrir os olhos.
- Achou mesmo que fosse se livrar de mim? – Ilusão demais achar que me deixaria fácil assim.
- Uma garota pode sonhar.
- Não é hora pra piada, . – Suspirei, ele não iria facilitar em nada minha vida, não que eu tivesse facilitado a vida de alguém com o que acabei fazendo.
- Você pode pegar mais água pra mim, por favor? – Pedi, tentando ganhar um pouco mais de tempo. Acredito que não seja tão fácil explicar que você não estava realmente tentando se matar para seu melhor amigo, que agora aparentava estar bastante irritado. Dessa vez meu braço estava mais firme, então consegui pegar o copo com água da sua mão. mantinha seus olhos em meus pulsos enfaixados, como se, milagrosamente, tudo fosse ser explicado e entendido em um estalar de dedos.
- Por quê? – Direto ao ponto, assim que eu gosto. Demorei mais que o necessário bebendo água, pude ouvir seus pés batendo no chão, em um claro sinal de raiva.
- Eu não estava tentando me matar, só fugiu um pouco do meu controle.
- Fugiu um pouco do seu controle? – Ele saltou da cadeira e foi em direção à janela. Achei que ele queria que eu fosse direta também, talvez tenha me enganado.
- Por que não me contou? Por que não me ligou? Você sabe que eu teria largado tudo pra ir até você! Tem noção que se eu tivesse chegado dez minutos mais tarde você poderia ter perdido tanto sangue que não teria mais volta? Você estaria morta, ! Morta! – jogou suas palavras sobre mim e encarou a paisagem do lado de fora. Sua respiração estava desregulada, seus punhos cerrados... Ele estava tentando, ao máximo, se controlar. Desviei meu olhar dele, encarando a parede branca na minha frente.
- Eu... – Comecei, mas as palavras não saíam. Respirei fundo algumas vezes, tentando organizar minha mente. – Eu precisava de um escape, nada me fazia sentir melhor, nada conseguia me desviar de todo o aperto que eu sentia no peito. Uma angústia que mal me permitia respirar. – Pausei e voltei a olhar para . Ele estava me encarando. – A dor física conseguiu tirar minha mente daquela escuridão toda, ela fez o que livros, filmes, festas e qualquer coisa que as pessoas fazem para se divertir não conseguiu fazer. Eu não vou conseguir te explicar, , e, sinceramente, não quero mais pensar nisso, ok?
- Você apenas espera que eu apague tudo o que aconteceu da minha mente e finja que nada aconteceu? Você quer que eu não me preocupe a cada porra de segundo que eu passar longe de você, pensando se está pensando em se machucar novamente? , eu estive no inferno esses últimos dias! – Lágrimas já escorriam pelo seu rosto e seus olhos estavam tão desesperados que meu coração apertou por saber que era tudo minha culpa.
- Eu sei que agi errado, mas... – Eu não sabia mais o que falar, minha cabeça estava latejando tanto que eu poderia imaginá-la explodindo a qualquer momento. – Olha, eu acabei de despertar de não sei quantos dias, minha cabeça está doendo mais do que imaginei ser capaz e realmente não estou bem pra ter essa discussão agora. Eu preciso de um remédio pra dor e descansar, por favor. – suspirou e saiu do quarto, retornando alguns minutos depois com uma enfermeira. Após tomar os remédios, sentou ao meu lado e segurou minha mão.
- Eu não sei o que faria da minha vida se eu tivesse perdido você.
- Você não perdeu, então não pense demais. Por favor. – Disse em um sussurro, fechando meus olhos e me entregando ao cansaço.
***
Despertei mais disposta, minha cabeça não doía tanto quanto antes, mas uma vontade insuportável de ir ao banheiro estava me deixando louca. Consegui me sentar e encarei a porta do banheiro, calculando todo o esforço que teria que fazer para chegar até lá.
- Você está usando sonda, não precisa ir ao banheiro.
- Cacete! Mas... Mas... – Meu coração estava disparado, levei tanto susto que podia sentir espasmos percorrendo todo o meu corpo por conta do movimento brusco que fiz.
- Me desculpe, não quis te assustar.
- Quem é você e por que tentou me matar? – Falei rapidamente, usando todas as minhas forças para controlar minha respiração.
- Meu nome é . Fui escalado para cuidar de você, eu sou psicólogo. – Ótimo, mais essa.
- Olha, , muito obrigada mesmo, mas eu estou ótima. Tenho certeza que exageraram bastante quando te mandaram até aqui. – Ele apenas me encarava, avaliando todas as minhas ações e palavras. – Pare com isso!
- Com o quê?
- De me avaliar!
- Você quer ajuda para ir ao banheiro?
- Não tente mudar o assunto! – Falei, não tendo controle sobre meu tom de voz. De quem foi essa brilhante ideia? Aposto que tem o dedo da minha mãe nisso. continuava me encarando. – Você me deu tanto susto, que estou agradecendo por estar de sonda, ou estaria toda molhada nesse instante. – Uma risada tomou conta do quarto. Encarei o psicólogo e ele estava rindo tanto que lágrimas escorriam pelo seu rosto. Não estava vendo graça alguma, mas um sorriso idiota não queria sair do meu rosto.
- Me desculpe, eu não...
- Não mesmo! – O interrompi, tentando aparentar raiva, o que não deu muito certo. No final, estávamos os dois rindo feito idiotas. – Pare! – Falei entre os risos e ele pareceu tentar se controlar.
- Ok, parei, parei. – Seus olhos brilhavam com diversão. Por que isso estava chamando tanto minha atenção? – Como você está se sentindo? – Com um revirar de olhos, o encanto foi embora.
- Por que todo mundo continua me perguntando isso? – Falei, sentindo meu humor mudar completamente. Parece que o tal também percebeu a brusca mudança no meu tom de voz.
- Porque você está em um hospital, acredito que faz bastante sentido querer saber algo assim.
- Não sabia que psicólogos deveriam ser engraçadinhos. – Revirei meus olhos mais uma vez.
- Existem muitos psicólogos por aí, cada um tem sua forma de trabalhar. – Desviei meu olhar de , focando na janela atrás dele.
- Você tem noção do quão estranho é saber que você estava há não sei quanto tempo me vendo dormir? Não acho que tenha conseguido avaliar muita coisa enquanto eu estava, sabe, desacordada.
- Não sabia que estava dormindo até eu chegar aqui. – Ele rebateu.
- E achou legal sentar ao lado da minha cama e velar meu sono de beleza?
- Seu sarcasmo é sensacional. Você pensa antes de falar, ou as coisas apenas saem da sua boca sem filtro algum?
- Acho que é um dom. – Disse e dei de ombros. O encarei e um sorriso teimoso parecia não largar seus lábios, que eu provavelmente não deveria ficar encarando.
- Ok. Eu estou ótima. – Melhor colocar meus pensamentos em terrenos mais firmes.
- Você se lembra do que aconteceu para estar aqui?
- Vocês médicos não tem uma salinha para conversar ou algo do tipo? O outro cara fez as mesmas perguntas. Oh, já sei! Vocês seguem uma lista, certo? – Falei, e tinha certeza que ironia estava escorrendo pela minha boca. não se deixou abalar.
- E então?
- Então o quê?
- Você não me respondeu. – Revirei os olhos novamente.
- É algum tipo de tique nervoso que você tem?
- Do que está falando? – Perguntei, já meio emburrada.
- Você revira os olhos com muita frequência.
- Não olhe pra mim se te incomoda tanto. – Eu estava com um péssimo humor e essa conversa estava nos levando a lugar algum.
- Não me incomoda. – O silêncio instalou-se entre nós. – E então?
- De novo com isso? – Contive mais um revirar de olhos, o que fez conter uma risada. – Fico feliz que te divirto. – Disse mordaz. – E sim, eu me lembro de tudo. – Ele pareceu ponderar por algum tempo. Mesmo que sentada, apoiei minha cabeça na cabeceira da cama, não querendo encarar o psicólogo ao meu lado, que avaliava cada movimento meu.
- Você tentou se matar? – Virei minha cabeça rapidamente em sua direção, o que me causou uma breve tontura.
- Nossa. – Eu ri.
- O quê? – Ele perguntou, ainda com aquela pose observadora.
- Você foi direto ao ponto. – Ele deu de ombros.
- Você não parece o tipo de pessoa que curte aquele papo cheio de voltas.
- Não mesmo. Você conseguiu chegar a essa conclusão enquanto eu estava dormindo ou depois que acordei e conversamos um pouco? – Perguntei, não conseguindo me segurar. arqueou uma sobrancelha. – Só querendo esclarecer um ponto aqui. – Levantei as mãos como se estivesse me rendendo. Ele não me respondeu, achei que ele fosse mais engraçado que isso. – Não, não tentei.
- Imaginei que não.
- Mesmo? – Já estava ficando cansada daquela conversa. Deitei-me e fechei meus olhos, funcionou com a minha mãe mais cedo.
- Acho melhor te deixar descansar.
- Minha dor de cabeça piorou. – Era verdade.
- Vou pedir uma enfermeira para vir te olhar. Eu voltarei amanhã.
- Ok. – Disse, apenas, e ele saiu.
***
Alguns dias mais tarde, eu deixei o hospital. A dor de cabeça já tinha me deixado, meus pulsos estavam bem melhores, mesmo que ainda enfaixados, e eu me sentia bem melhor. Acredito que a experiência de quase morte teve um efeito e tanto sobre mim.
Meus pais já tinham retornado a vida normal, que, basicamente, resumia-se a trabalho. Não que eu estivesse reclamando, eu sempre fiquei sozinha e acabei me acostumando com isso. Eu meio que estava sentindo saudades do meu quarto e de um pouco de paz e silêncio. E privacidade, claro! As visitas constantes estavam me deixando louca. estava lá todos os dias, assim como o tal psicólogo. Meus pais revezavam, claro que a empresa não poderia se dar ao luxo de ter os dois fora para acompanhar sua filha no hospital. Longe de mim querer tal culpa para a minha vida.
- Está confortável, minha querida? – Minha mãe perguntou pela milésima vez, enquanto eu me reinstalava em meu quarto.
- Está tudo ótimo, mãe. Não se preocupe. – O motivo que me levou ao hospital não foi novamente mencionado. Meus pais aceitaram muito bem o fato de não ter tentado me matar e minha palavra foi mais que suficiente. Ok, acredito que tenha falado sobre isso com eles também. Enfim, foi como se nada tivesse acontecido. A não ser por , claro, que insistia em questionar cada mínima mudança que ele notava em mim. E isso estava me tirando do sério. Sentia que eu poderia pular em seu pescoço qualquer dia desses.
- Tudo bem então. Por favor, não se esforce demais. Nós abastecemos seu frigobar para evitar que tenha que ir a cozinha ou chamar sempre alguém aqui. Mas qualquer coisa que precisar, tenho certeza que todos virão te ajudar. – Eu assenti, querendo logo que ela deixasse o quarto para que pudesse ter minha companheira de longa data novamente: a solidão.
- Claro, mãe. Pode deixar. Vou ficar quietinha aqui o dia todo. – Se ninguém resolvesse me perturbar, eu seguiria esse plano maravilhoso sem me importar nem um pouquinho. Minha mãe foi em direção a porta, mas parou e olhou em minha direção.
- Filha... – Arregalei um pouco meus olhos porque o tom de voz preocupado e amoroso nunca foi tão acentuado na fala da minha mãe. – Qualquer cosia basta me ligar, ok? Darei um jeito de chegar aqui o mais rápido possível. – Essa foi nova.
- Tudo bem, mãe, pode ficar despreocupada. Vai ficar tudo bem! – Tentei soar o mais confiante possível. Minha mãe deixou meu quarto e eu logo levantei para trancar a porta. Voltei para a minha cama e apenas aproveitei todo o conforto que ela me proporcionava. Lar doce lar.
Alguns podem até achar que várias imagens do que aconteceu viriam me assombrar e blá blá blá. Mas eu estava realmente bem no meu quarto, me sentindo acolhida, em casa.
Com o objetivo de ligar no netflix e fazer maratona de One Tree Hill, levantei da minha cama e fui em direção a janela para fechar as cortinas. Entretanto, meu vizinho, que tinha a janela do seu quarto exatamente de frente para a minha - separadas apenas por um quintal de largura mediana, o mínimo para nos permitir certa privacidade -, tinha um enorme cartaz pressionado na janela. Forcei um pouco a vista para que pudesse enxergar o que ele tinha escrito. Um sorriso apareceu em seu rosto quando percebeu que eu o tinha notado.
“Fico feliz que tenha voltado. Estava preocupado com você.”
Sorri bobamente. Não éramos tão íntimos assim, mas essas janelas já tinham visto algumas conversas. Também já tínhamos saído algumas vezes, mas nada nunca rolou, mesmo que eu tivesse objeção alguma a isso.
Sorri para ele em agradecimento. Ele levantou uma mão e fez um sinal que eu esperasse. tirou o cartaz da frente e deixou que um segundo ficasse visível para mim.
“Eu sei que você deve estar precisando descansar.”
Ele puxou outro cartaz. Eu ainda sorria.
“Mas realmente precisava saber se estava bem.”
Pela primeira vez essa pergunta não me deixou irritada. Fiz sinal para que ele esperasse e fui em direção ao meu armário, tirando um piloto e algumas folhas de cartolina dali. Escrevi uma resposta e voltei para a janela.
“Eu estou bem.”
Mesmo distantes, pude notar seu alívio. Ele escreveu um outro cartaz.
“Isso é ótimo.”
Sorri para ele e ficamos algum tempo apenas nos encarando. Fiz um sinal de que escreveria algo, ele apenas assentiu e ficou esperando.
“Isso seria mais fácil se apenas pedisse meu número.”
Mostrei o cartaz, já ansiosa por sua resposta. Ele demorou um pouco mais dessa vez.
“Mas assim não seria tão divertido.”
Eu sorri e ele pediu para que eu esperasse.
“Mas também não sou contra ter seu número.”
Ele sorriu de lado ao perceber que eu tinha acabado de ler. Arqueei minha sobrancelha, não tendo certeza se esse pequeno gesto seria notado por ele.
“Vou pensar no seu caso enquanto faço maratona no netflix.”
Pude ver sua gargalhada.
“Não seja tão má.”
Sorri, mas quando estava prestes a escrever minha resposta, alguém bateu em minha porta. Bufei e fiz sinal para que tinha alguém me chamando. Ele suspirou e levantou um cartaz rapidamente.
“Tudo bem. Nos falamos depois então.”
Com raiva por ter sido incomodada, escrevi um “me desculpe” e fui abrir a porta.
- Oi. – Falei em um tom não tão calmo assim.
- Tem alguém lá embaixo querendo te ver. – Charlotte, a governanta, disse. Suspirei.
- Mais visitas. – Revirei meus olhos. – Pede pra subir, por favor. – Já estava voltando para cama para usar a minha tática infalível de deitar e fechar os olhos.
- Mas, ... – Voltei meu olhar para ela, curiosa pelo seu tom de voz.
- Quem é, Charlotte?
- Seu ex. – Excelente! Só o que me faltava. – Eu nem tinha como dizer que você não estava em casa.
- Eu sei.
- Ainda o mando subir?
- Não! Eu vou descer em um instante.
Avistei Charlotte descer e voltei para dentro do quarto. Mais essa agora. O que esse infeliz veio fazer aqui? O que, exatamente, ele sabia que tinha acontecido?
Troquei minha blusa de manga curta por uma com manga comprida, a fim de esconder meus pulsos enfaixados. Sem vontade alguma, segui em direção a escada, indo encontrar aquele que quebrou meu coração duas semanas atrás.
Cheguei a sala e estava sentado no sofá. Ele parecia tão confortável como se estivesse em sua própria casa.
- . – Informei da minha chegada e levantou rapidamente do sofá, vindo em minha direção e abraçando-me. Fiquei imóvel em seus braços, apenas esperando que esperando que ele me soltasse para que pudesse falar logo o que queria e fosse embora.
- , eu fiquei tão preocupado com você! Eu me senti tão culpado por tudo o que aconteceu!
- Tá tudo bem, . Não foi... Você se sentiu o quê? – Perguntei, extremamente surpresa ao me dar conta das suas palavras. – Você tá supondo que o que quer que ache que aconteceu tem a ver com você? – Disse completamente descrente.
- Mas foi logo depois que a gente terminou. Eu falei com sua mãe e ela me disse que você começou a agir diferente depois...
- Que você terminou comigo? Ah, meu Deus! Isso só pode ser brincadeira. – Suspirei, juntando todas as minhas forças para ser educada. – Sinto muito por qualquer coisa que a minha mãe tenha te contado, mas não precisa mesmo se sentir culpado porque nada disso tem a ver com você.
- , eu não vim aqui para discutir com você, eu vim pra dizer que eu me precipitei, ok? – Isso só pode ser brincadeira. – Eu sei que a gente pode fazer dar certo dessa vez. – Assim que essas palavras deixaram sua boca, eu lembrei de um momento semi-consciente no hospital, se é que isso realmente existe. Alguém esteve no meu quarto e disse exatamente isso. Será que...
- Você foi me visitar, ? – Perguntei rapidamente, sentindo uma ansiedade absurda por sua resposta. Ele pareceu surpreso por um instante, me encarando e parecendo ler alguma coisa em meus olhos aflitos.
- Eu fui, mas você não estava acordada. – Ele disse, ansioso, como se ponderasse cada palavra. Eu suspirei. Não tinha parado muito tempo para pensar no que aconteceu antes que eu realmente despertasse, mas agora era como se um vazio tomasse conta de mim. Uma angústia, uma necessidade por saber quem foi a pessoa que me visitou e pediu com sentimentos tão fortes e apaixonados que eu voltasse, que eu voltasse para ele. Balancei a cabeça e encarei meu ex-namorado a minha frente, completamente perdida e submersa em pensamentos que me levavam a lugar algum.
- Por que não voltou? – Ele pareceu surpreso com a pergunta.
- Porque eu não queria atrapalhar, achei melhor não me intrometer. Seus pais ficaram muito preocupados, sua mãe então. – Minha mãe adorava o , acredito que tenha chorado tanto quanto eu quando soube que terminamos. Eu apenas assenti, não queria prolongar aquela conversa. Eu apenas queria voltar para o meu quarto e fazer a maldita maratona no netflix. Sozinha.
- , eu estou cansada. Eu preciso voltar para a minha cama, depois a gente conversa, tudo bem? Eu só quero deitar e relaxar um pouco.
- Claro, claro. – Ele pegou minhas mãos. – Eu posso vir te visitar amanhã? – Ele perguntou, ansioso.
- Pode. – Encarei surpreso com a minha resposta. Mas mais surpresa ainda estava eu ao constatar o que tinha dito.
***
- Mãe, é realmente necessário que eu continue as consultas com o ? – Perguntei pela milésima vez, achando aquilo extremamente desnecessário. Por mais que ele fosse legal, não via motivo algum para que ainda tivesse que fazer o tratamento.
- , não vou discutir com você novamente. Nós já chegamos, alguém virá te buscar quando acabar. – Minha mãe disse e me deu um beijo na bochecha, encerrando o assunto. Revirei meus olhos e saí do carro.
A secretária do consultório de logo me mandou entrar, informando que ele já estava me esperando.
- Olá. – Falei para chamar sua atenção. Ele estava de costas para a porta e parecia encarar algo em suas mãos. Guardou o que quer que seja rapidamente em seu bolso e virou na minha direção.
- Oi, . Sente-se. – apontou para o sofá posicionado em frente a sua poltrona. Ele estava meio distante, mas logo seu sorriso costumeiro tinha voltado para seus lábios.
- E então? Quando vai me liberar das sessões? – Perguntei, com um sorriso inocente nos lábios.
- Ah, eu estou bem, e você? Está mais feliz por ter voltado para o seu quarto? – Revirei meus olhos. – Ah, o doce revirar de olhos. – Bufei. – Bufar é novidade. – Ele sorria.
- Lá vamos nós de novo.
- Não sei qual a sua necessidade de se livrar de mim.
- Só não vejo motivo para continuar, eu estou bem. Não tentei me matar nem nada, e você sabe disso.
- O que não tira a questão da auto-mutilação.
- Lá vamos nós de novo. Isso está começando a ficar bem chato, mesmo que suas piadinhas estejam melhorando. Acredito que esses momentos em minha maravilhosa presença estejam te ensinando algo.
- E o seu ego, precisamos, definitivamente, trabalhar nisso. Apesar...
- Apesar...? – Pelo seu tom, eu já sabia que não iria gostar do que ele iria falar em seguida.
- Nós sabemos que isso é uma fachada, . Você usa toda essa “confiança” para desviar o foco de todos os seus medos, dessa forma as pessoas não desconfiam de você e das suas inseguranças, e te deixam em paz. – Eu tinha certeza que minha boca estava aberta em extrema surpresa, mas minha mente não conseguia enviar o sinal para fechá-la. Eu estava tão embasbacada, que até parou para analisar sua fala ausente de qualquer sutileza.
- Você tem certeza que se formou em psicologia, certo?
- Nós já concordamos que a franqueza entre nós é a melhor opção.
- Sim, mas pega leve aí. – Levantei do sofá e fui pegar um pouco de água. Será que... Será que ele estava certo? Mas... A última vez que me senti tão confusa assim foi quando eu acordei na cama do hospital, na semana passada. Mas eu precisava admitir que já tinha pensado em algo do tipo. Droga.
- E então? – perguntou quando eu já estava sentada novamente a sua frente.
- Talvez... – Comecei a falar bem baixinho. - ... você esteja um pouquinho certo.
- Desculpe, acho que não te ouvi direito. Você disse que eu o quê? – Bufei.
- Eu disse que você pode estar certo, ok?
- E você está concordando porque...
- Porque eu já tinha pensado nisso antes. – Admiti, meio contrariada. Por que meus olhos estavam marejando?
- . – disse e veio rapidamente para o meu lado. Ele sentou-se comigo no sofá e pegou uma de minhas mãos, seu olhar estava intenso no meu, senti minha respiração falhar.
- Eu sei que tenho problemas, tudo bem? Minha autoestima é uma merda, tenho a séria sensação de estar sempre atrapalhando e incomodando, minha relação com os meus pais é péssima, meu ex terminou comigo porque eu não quis transar com ele e usou a desculpa do “somos incompatíveis”... A única coisa boa na minha vida é meu melhor amigo, ele é a única pessoa que me entende e me aceita exatamente como eu sou. – Joguei todas as palavras em cima dele e levantei, soltando nossas mãos em um movimento brusco. Esse pequeno contato estava me deixando louca. – Está feliz agora? – Perguntei, exasperada. Fui para o outro lado do consultório, abraçando-me e tentando controlar minha respiração e meu coração acelerado. logo veio em minha direção, passando um braço ao meu redor e me apertando contra si, apenas me deixando chorar. Encaixei meu rosto em seu pescoço, sentindo o local arrepiar com a minha respiração. Fechei meu olhos e apenas chorei, fazendo meu máximo para desligar pensamentos completamente impróprios para o momento. é meu psicólogo e eu sou apenas sua paciente, fim da história. Tenho coisas muito mais importantes para colocar no lugar nesse momento.
- Vai ficar tudo bem, eu prometo isso a você. Você é uma pessoa tão forte, , nós conseguiremos dar um jeito em cada um desses problemas, em tudo que te faz mal, em tudo que te faz se sentir menor e indefesa. – Passei meus braços por sua cintura e me permiti ceder ao seu abraço. acariciava minhas costas e me mantinha apertada em seus braços. Eu estava tão insegura, tão confusa com tudo. Minha cabeça girava e eu não sabia mais o que fazer com a minha vida.
- Senhor, ... – A porta abriu-se de súbito, com a secretária nos interrompendo. ficou tão assustado que me largou abruptamente, encarando a mulher a sua frente.
- Oi, Lauren, eu estou no meio da sessão. – Ele falou, nervoso.
- É que sua próxima paciente já chegou. Eu bati na porta, mas parece que não ouviram. – Limpei minhas lágrimas e fui em direção ao sofá para pegar minha bolsa.
- Nós já acabamos por hoje, de qualquer forma. Até a próxima sessão, . – Falei rapidamente e deixei seu consultório, completamente desesperada por ar fresco. Entrei no elevador e aproveitei o espelho para dar um jeito no meu rosto inchado. Quando cheguei à portaria do prédio, pude avistar o carro de estacionado no outro lado da rua. Meu amigo estava apoiado no lado de fora, com um óculos escuros e um sorriso que indicava que estava planejando algo. Respirei fundo e deixei o que tinha acabado de acontecer para pensar mais tarde. Segui em sua direção, que já estava com os braços abertos para me receber.
me abraçou tão forte, que senti meus pés deixarem o chão por alguns segundos.
- ! – Ralhei com ele, mas um sorriso brotando em meus lábios. Ele me soltou, me encarando em seguida. Passou uma das mãos em minha bochecha, logo percebendo que eu tinha chorado, mas não comentou o assunto.
- Tenho planos para hoje, vim te sequestrar!
- Não se anuncia um sequestro, meu bem, eu posso gritar e sair correndo.
- Você não sairia correndo se soubesse o que planejei para hoje! – Ele disse com um sorriso iluminando todo o seu rosto.
- Sabia! Assim que te vi, eu soube que estava armando algo! – Sua alegria logo me contagiou, já estava completamente envolvida no momento.
- Então, senhorita, entre no carro, por gentileza. – falou, galante, ao abrir a porta do carro para mim.
- Muito obrigada, gentil cavalheiro. – Nós rimos. Ele deu a volta no carro, se posicionando atrás do volante. – Então... Aonde estamos indo? – Perguntei, animada!
- Isso é surpresa!
- ! – Ele apenas ajeitou seus óculos e deu partida no carro, seguindo para Deus sabe onde. ligou em uma rádio qualquer, deixando uma música qualquer no fundo.
- Antes de começarmos o que temos planejado para hoje, eu queria conversar com você sobre uma coisa. – Ele estava sério, de repente. Eu permaneci em silêncio, achando melhor deixa-lo falar. – No dia que você acordou no hospital... Eu estava muito nervoso e preocupado, a memória ainda estava muito viva na minha mente e eu sei que posso ter te assustado um pouco. Eu só queria me desculpar pelo meu comportamento, você sabe que sou maravilhoso. – Terminou sua fala e piscou para mim, amenizando as palavras ditas anteriormente. parou em um sinal vermelho e virou para mim. Dei um beijo em sua bochecha.
- Obrigada, sua humildade me inspira. – Ele riu com a minha ironia. – Você sabe que eu te amo, né? Você é meu melhor amigo, não sei o que faria sem você. – Disse, de repente tímida. retribuiu meu beijo na bochecha.
- Aprendi com a melhor. – As buzinas já estavam soando atrás de nós, indicando que o sinal já estava aberto e que estávamos prendendo o trânsito. Ele arrancou com o carro. – E eu te amo mais. – O sorriso de antes voltou para seus lábios e ele se concentrou na direção. Suspirei. Olhei para e percebi que ele fez uma careta. Ele apontou para o rádio e logo aumentei o volume, cantando junto com a Demi Lovato.
- TAKE ME DOWN INTO YOUR PARADISE – ele não aguentou e juntou-se a mim. – DON’T BE SCARED ‘CAUSE I’M YOUR BODY TYPE. – me acompanhava nas caras e bocas. Eu já estava com os braços para o alto, cantando a plenos pulmões!
- JUST SOMETHING THAT WE WANNA TRY, CUZ YOU AND I – nos encaramos e gritamos a última parte do refrão juntos.
- WE’RE COOL FOR THE SUMMER! – Caímos na risada e assim seguimos, para onde quer que estivéssemos indo.
- Eu sei que, no fundo, você ama Demi Lovato.
- Bem no fundo mesmo. – Ele disse, tentando soar sério.
- UM PARQUE DE DIVERSÕES? ! – Saltei do carro e me joguei nos braços do meu amigo assim que ele também deixou o veículo.
- Gostou? – Ele parecia envergonhado, ansioso pela minha resposta.
- EU ADOREI! AI, MEU DEUS! Podemos ir na montanha-russa? – Pedi, meus olhos estavam brilhando em excitação, com certeza.
- Por que você sempre quer ir nos brinquedos mais altos? – Ele fez uma cara extremamente fofa. Sempre esqueço do seu medo, porque ele sempre me acompanha nesses brinquedos! – Vamos, antes que eu desista e me arrependa. – Ele falou, mas um sorriso brincava em seus lábios. pegou uma de minhas mãos, entrelaçando nossos dedos. E, dessa forma, seguimos em direção ao parque, com sorrisos bobos no rosto e um desejo enorme por diversão!
- Quer segurar minha mão? – Perguntei em um tom divertido, fazendo revirar os olhos. Nós estávamos nos acomodando na montanha-russa, que logo daria partida.
- Não, obrigado. Eu estou ótimo, não sei de onde tirou que eu... – os carrinhos começaram a se mover. - ... que eu tenho... Me dá logo essa mão e AI, MEU DEUS DO CÉU! EU QUERO SAIR! – apertou minha mão e começou a olhar para os lados, eu já estava acostumada com a cena, sempre a mesma. Eu já sentia as lágrimas rolarem pelo meu rosto, porque nunca deixava de ser engraçado. Esse momento inicial era sempre o mais difícil, mas depois ele acabava curtindo, não que fosse admitir, claro. Apertei nossas mãos, sentindo um aperto confortável e uma nova sensação que ainda não consegui identificar.
- Lá vem a descida! – Falei, concentrando-me apenas na adrenalina que já preenchia meu corpo.
- Eu não quero ver. – choramingou, eu só conseguia rir.
- Ei. – O chamei, o carrinho estava quase no topo. – Eu estou aqui, vai ficar tudo bem. – Disse, tentando acalmá-lo um pouco, mas logo começamos a descer e apenas gritos eram ouvidos.
- Eu nunca mais subo nisso. – falou assim que saímos do carrinho.
- Você fala isso toda vez. – Dei de ombros, rindo da sua tentativa de soar sério. – Olha! – Chamei sua atenção para uma enorme pelúcia que estava exposta na barraca de tiro.
- Vamos, vou ganhar aquela pelúcia pra você. – Ele disse em uma pose superior. logo comprou as fichas e posicionou-se com a espingarda, já encarando seu alvo.
- Quero só ver se é realmente bom nisso. – Falei em seu ouvido, ele apenas riu de lado.
- Espere e observe. – deu o primeiro tiro e foi certeiro.
- Pura sorte de principiante. – Dei de ombros, lutando para segurar o sorriso que queria aparecer em meus lábios. Ele deu o segundo disparo, acertando novamente. arqueou a sobrancelha em minha direção, em desafio. Permaneci em silêncio dessa vez, apenas observando seu terceiro e último tiro.
- Três tiros, três acertos. – Ele falou, sorrindo em minha direção. – Eu quero aquela pelúcia, por favor. – apontou para a pelúcia que eu tinha falado anteriormente, a pegando e entregando para mim.
- Obrigada! – O abracei. – Agora eu fiquei com vontade de tentar.
- Será que tem algum colete vendendo por aqui? – Dei um tapa em seu braço.
- Para! Se você conseguiu, tenho certeza que não é tão difícil assim. – Sorri de lado, o provocando.
- Tá certo então. Mais três fichas, por favor. – pediu, entregando-me a espingarda. Imitei o que ele tinha feito anteriormente, confiante de que não era assim tão complicado. O que pude constatar que não era verdade, já que a risada alta de fazia questão de jogar na minha cara que eu tinha errado. E feio. Apenas olhei em sua direção, em sinal para que parasse.
- Não estou vendo graça alguma. – Falei.
- Eu vou te ajudar. – posicionou-se atrás de mim, passando seus braços ao meu redor e auxiliando-me a segurar a espingarda. Seus lábios estavam em meu ouvido, dando-me instruções que eu não estava tendo sucesso em prestar atenção. – Entendeu?
- Uhm, aham. Entendi, sim. – O que, raios, ele tinha acabado de dizer? Seus braços ainda estavam ao meu redor e, com a sua ajuda, eu apertei o gatilho e passei bem perto do alvo.
- Bem melhor. – Sua voz estava mais baixa, seus lábios quase tocando minha orelha. – Tenho certeza que conseguirá na última. – Eu respirei fundo, o ar estava, subitamente, pesado. Nada disse, apenas me preparei e disparei, acertando o alvo.
- Consegui. – Falei, meu coração estava acelerado e minha respiração falha. Isso não podia ser resultado da proximidade com , certo? Balancei minha cabeça, tentando afastar esses pensamentos completamente sem fundamento dela.
- Agora é só escolher um brinde.
- Eu não vou ganhar uma pelúcia? – Perguntei, desapontada. apenas riu.
- Acredito que as crianças ficaram bastante felizes com a sua péssima pontaria. – Dei outro tapa em seu braço.
- Sai daqui. – Rimos.
- Acho melhor te levar de volta pra casa, já tá bem tarde. – apontou para o céu escuro.
- Eu nem vi a hora passar!
- Nem eu. – Ele disse, pensativo. – Vamos! – Seguimos em direção ao seu carro e fomos cantando e rindo até minha casa.
***
- esteve aqui, mas foi embora assim que soube que não estava. Você disse que ele poderia vir te visitar e some o dia inteiro. – Minha mãe nem me deu tempo de dizer “oi”, assim que entrei em casa após me deixar.
- Oi, mãe. Estou bem, sim. foi me buscar e fomos dar uma volta. E a senhora, como está? Ah, que ótimo. Eu estou cansada, vou tomar um banho e descansar.
- Você não tem jeito mesmo. – Dei de ombros e subi para o meu quarto, minha mãe deveria casar com o e me deixar em paz.
Segui para o banheiro, precisando desesperadamente de um banho. Depois de uma ducha rápida, vesti meu pijama e me joguei na cama, o cansaço tomando conta de mim. Fechei meus olhos, deixando que os pensamentos que suprimi durante o dia retornassem à minha mente. Suspirei. O que estava acontecendo?
Primeiro esgueirando-se pela minha mente e me levando a expor coisas que eu não queria. Então ele me abraça e faz tudo parecer muito melhor, me encara como se o mundo pudesse desabar ao nosso redor, mas que nada seria mais importante que eu. Depois a secretária invade a sala e um vazio se instala entre nós, como se nada tivesse acontecido!
Daí o aparece, e o que eu achava que já estava confuso, tomou proporções ainda maiores. Como explicar os arrepios que percorreram meu corpo quando ele estava me ajudando a atirar? Suas palavras ditas próximas ao meu ouvido nunca soaram tão... íntimas.
Eu só podia estar ficando louca.
“Tell me what you want, what you like, It’s ok…”
Ouvi meu celular tocando e apenas estiquei o braço para pegá-lo no criado mudo ao lado da cama.
- Oi. – Atendi sem olhar o visor para saber quem era.
- . Sou eu, .
- Ah, oi, . – Eu estava tão cansada.
- Não sei se sua mãe avisou, mas eu estive aí mais cedo.
- Ela falou. – Até mais do que deveria, mas guardei o comentário para mim.
- Uhm. – Me senti na obrigação de explicar, afinal, eu disse que ele poderia vir me ver.
- passou para me buscar no psicólogo e acabou planejando algumas coisas para nós. Cheguei em casa bem tarde e esqueci completamente. Me desculpe.
- Não, tudo bem. Também não disse que horas iria, você não tinha a obrigação de ficar presa em casa me esperando. – Ele riu. – Bom... Eu estava pensando se a gente poderia sair amanhã. Acho que algumas coisas não foram bem esclarecidas entre nós... – Levantei em um pulo da cama, não gostando do rumo que a conversa estava tomando. Segui para a janela, me deparando com a luz do quarto de sendo acesa. Fiquei no canto, apenas observando se ele estava a fim de conversar hoje, mesmo ainda tendo no telefone. Claro, .
- Uhm, a gente deveria ir com calma, não acha? – Perguntei, prestando mais atenção no quarto do meu vizinho do que no telefonema, confesso.
- Sim, eu concordo... – Quem... Era uma mulher? estava saindo com alguém? – Você entende, certo? – Me aproximei mais da janela, tentando olhar melhor os dois. Eles não estavam nem próximos, mas ela sorria mais do que o sugerido. E ele parecia estar gostando bastante. – ?
- Ah, uhm. Claro, claro. – Falei, virando minhas costas para a janela e fechando a cortina.
- Então você vai aceitar sair comigo amanhã? – Suspirei. Não poderia fazer mal, certo?
- Sim, tudo bem. – Foco, , foco. – Vai ser ótimo, assim vai poder me explicar melhor a cena no hospital, certo?
- Claro, vai ser ótimo termos um tempo só nosso novamente. – falou e me peguei imaginando um futuro para nós, mesmo que um pouco borrado, parecia ao alcance das mãos.
- Sim, vai ser ótimo.
- Então eu passo aí, amanhã, às 20h. Está bom pra você?
- Claro, tá perfeito.
- Nos vemos amanhã, então. – Suspirei, minha mente estava sendo invadida por muitas lembranças. Boas lembranças. – E, , não vou estragar essa chance. Eu realmente sinto sua falta. – Respirei fundo, analisando minhas emoções.
- Até amanhã, . – Melhor permanecer em lugares mais seguros.
- Até amanhã. – Desligamos a chamada, mas permaneci em pé, encarando o nada.
Minha vida era confusa, mas isso está saindo do controle.
Antes que me desse conta, meus pés já estavam me levando para a janela novamente. A luz estava apagada. Será que eles saíram? Ou será que estão... Ok. Eu tenho nada a ver com isso. Ok. Ok.
Fui em direção ao meu guarda-roupa, retirando de lá um álbum com fotos da escola, agradecendo por toda essa loucura ter acontecido no período de férias. estava na maioria das fotos, mas começou a figurar em algumas delas, tomando conta nas mais recentes. Nós fomos felizes. Talvez ainda possamos ser.
***
estava pontualmente em minha porta às 20h. Minha mãe parecia prestes a soltar fogos. Arrumei-me de uma maneira um pouco formal, se bem conheço , nós iríamos a algum restaurante caro e importante.
- Você está linda. – disse assim que desci as escadas e o encontrei na sala. Ele não estava vestido formalmente, o costumeiro terno dos nossos encontros tinha sido deixado de lado. Olhei-me no espelho da sala, agradecendo por ter deixado meu cabelo solto e ter escolhido um vestido neutro, que se encaixaria em algumas opções.
- Obrigada, você também está nada mal. – Sorri timidamente, aceitando seu abraço e passando meus braços por seus ombros. Não pareceu tão estranho quanto imaginei que fosse.
- Vamos? – Saímos de braços dados. abriu a porta do seu carro para mim e, assim que entrei, ele deu a volta para se sentar no banco do motorista.
- Aonde estamos indo? – Perguntei, extremamente curiosa.
- Isso pode soar meio bizarro, mas a primeira vez que eu te vi não foi na escola. – Arregalei meus olhos, totalmente surpresa com sua fala.
- Não? Mas eu... Eu não lembro... – Ele sorria.
- Você não me viu naquela noite. Você estava com algumas amigas em uma pequena pizzaria, nos arredores daquele clube que você frequenta. Você estava vestindo um moletom e seu cabelo estava em um coque bagunçado. – não conseguia tirar o sorriso dos lábios, seus olhos focados na estrada, mas ainda perdidos nas lembranças.
- Não acredito que se lembra disso! Como nunca me contou?
- O assunto nunca surgiu. – Ele deu de ombros.
- Nós estávamos tendo uma noite das garotas e a despensa da casa de Haley estava vazia, os pais tinham viajado e ela estava comendo fora todos os dias. Nós estávamos com tanta fome que não pensamos duas vezes antes de sairmos de casa em busca de comida, sem nem mesmo nos trocarmos. E o que você estava fazendo lá?
- Era perto da minha casa, eu também estava com fome e com muita preguiça de preparar algo. Então saí pra comprar uma pizza e espairecer um pouco, e foi quando eu te vi. – Senti o carro parar, mas ainda estava embasbacada demais. – Chegamos. – apontou para a pequena pizzaria. Encarei o lugar a nossa frente, tentando reorganizar minha mente. Eu, definitivamente, não estava preparada para isso.
- Não acredito...
- Você não gostou? A gente pode ir para outro lugar, não tem problema, eu só...
- É perfeito. De verdade. – Disse, surpresa com essa atitude tão diferente dele. Não parecia o que terminou comigo de maneira tão súbita e por um motivo tão egoísta. Eu só precisava me controlar e não esquecer dessa parte da história.
- Vamos, eu pedi uma mesa mais reservada para nós, acredito que temos muito o que conversar. – Deixamos o veículo e seguimos para a pizzaria.
- Aquele dia foi realmente muito engraçado. – Disse, em meio a risadas e lembranças dos bons tempos. Nosso pedido já havia chegado e estávamos conversamos enquanto aproveitávamos a excelente pizza do local.
- Eu tenho pensado bastante na gente. Eu fui um babaca. Sei que nunca admiti isso, mas tive bastante tempo pra refletir. – Tomei um pouco do meu refrigerante, absorvendo suas palavras.
- Você sabe que eu não tenho como apagar aquilo, certo?
- Eu sei, mas eu posso tentar compensar a cada dia. Quando eu soube do que aconteceu, eu fiquei louco de preocupação de ter te perdido para sempre. Fiquei sabendo que arrombou a porta do seu quarto pra te tirar de lá, alguém já tinha chamado uma ambulância e tudo acabou bem. Mas foram dias terríveis. – dizia olhando profundamente em meus olhos. Eu não sabia o que dizer.
- , você terminou comigo porque eu não queria transar com você, tem noção do como essa sua atitude egoísta me fez sentir? – Eu soei magoada, mas não podia simplesmente apagar tudo aquilo da minha mente. Ele suspirou.
- Eu sei que fui um idiota. – Ele fez uma pausa, inseguro, de repente. – Por isso que eu fui até o hospital te visitar, mesmo você falando que eu não tinha algo a ver com a situação, eu não podia deixar de me sentir culpado. Mas você estava inconsciente ainda, então fui embora. – Minha mente não conseguia associar a voz de com o homem que esteve no meu quarto, me pedindo com tanto vigor que eu voltasse para ele. – Não tenho o direito de te pedir para esquecer tudo, mas posso te pedir mais uma chance pra fazer tudo dar certo, eu sei que a gente pode fazer isso. Eu, pelo menos, não te esqueci. – Eu nada disse, tendo muita coisa em mente. Por mais que tenha admitido ter sido um idiota e seu real motivo para terminar comigo, meu coração ainda estava dividido. tinha sido maravilhoso essa noite, mas eu ainda tinha medo de ser enganada novamente.
- Eu preciso pensar, . Acho melhor nós irmos, já está ficando bem tarde. – Ele assentiu e pagou a conta. Deixamos a pizzaria logo em seguida, ainda em silêncio.
parou o carro em frente a minha casa, virando-se para mim. Ele parecia lutar com as palavras.
- Eu só... Só queria pedir pra não me afastar. Eu sei que agi errado com você, mas eu quero tentar de novo. Eu vou respeitar o seu tempo, só peço que me deixe lutar por você, por nós. – Eu suspirei mediante suas palavras, que atingiram em certo meu coração, confundindo ainda mais minha mente. Eu assenti, já indicando que deixaria o carro. aproximou seu rosto do meu e me deu um beijo na bochecha. Quando ele se afastou, nossos olhares se encontraram, mas logo seus olhar estava sobre a meus lábios. A tensão dentro do carro aumentou, e por mais que eu soubesse que deveríamos ir devagar, não pude impedir o beijo que aconteceu em seguida.
Os lábios de estavam suaves sobre os meus, sem pressa. Aprofundamos o beijo, colocou uma de suas mãos sobre meu rosto, fazendo um carinho sobre minha bochecha. Quando dei conta do que estava acontecendo, interrompi o beijo antes que a situação fugisse do meu controle.
- Vamos devagar, .
- Me desculpe. Devagar, claro. Se é assim que você quer, assim será. – Ele sorriu para mim.
- Boa noite. – Saí do carro rapidamente. Meu olhar logo seguiu para a janela do quarto de , que teve sua luz apagada assim que o carro de deu partida.
***
Uma semana tinha se passado desde minha última sessão com e hoje teríamos que nos encontrar novamente. Eu estava um pouco receosa, confesso. Subi para o andar onde ficava seu consultório, a passos lentos.
Cheguei e fui diretamente falar com a secretária, que me mandou entrar poucos minutos depois. Respirei fundo e entrei.
- Oi, . – disse assim que eu passei pela porta. Ele estava apoiado na frente da sua mesa, com as mãos no bolso da calça.
- Oi. – Falei, insegura.
- Nós precisamos conversar sobre o que aconteceu semana passada.
- Sempre direto ao ponto. – Sentei no sofá, mas não deu sinal de deixar sua posição.
- Mesmo que não faça ideia de como começar essa conversa. – Ficamos nos encarando por um tempo, as palavras pareciam ter sumido de nossas mentes. – Ok. Rolou uma certa tensão entre nós na semana passada e eu sinto que talvez tenha te encorajado de alguma forma. Não sei se posso chamar isso de atração, eu realmente não sei o que aconteceu, mas não irá se repetir. – Ele ficou pensativo, de repente. – Eu omiti algo de você, porque acreditei que dessa forma eu conseguiria me conectar melhor com você, talvez me aproximar mais, deixar tudo apenas entre nós dois. Mas...
- Mas... – O encorajei, confusa e perdida com toda aquela informação. Eu tinha sentido, sim, essa tensão, essa atração. Mas preferi não fantasiar sobre isso, minha mente já estava cheia o suficiente.
- Mas tem outra pessoa. – retirou sua mão direita do bolso, uma enorme aliança dourada brilhando em seu dedo anelar, indicando que ele estava noivo. Excelente.
- Uau. Por essa eu não esperava. – Desviei meu olhar e permaneci sentada, em silêncio, no sofá. Parando para analisar friamente a situação, não tinha obrigação alguma de me contar algo. Tudo bem que a situação constrangedora de agora poderia ter sido evitada se eu soubesse que ele era comprometido.
- Eu sei. – Ele caminhou até sua poltrona. – Eu só precisava deixar tudo claro. Eu sei que nada aconteceu, mas eu precisava esclarecer isso o quanto antes pra evitar problemas no futuro.
- Você poderia ter evitado o que está acontecendo nesse momento. – Disse, revirando os olhos.
- Eu sei, e sinto muito por isso.
- Eu estou um momento frágil, , não precisa se preocupar com isso. Acredite, tenho muita coisa na minha mente pra sequer pensar nisso. Ainda mais com meu psicólogo! – Nossos olhares encontraram e um acordo silencioso foi velado. Os sorrisos, aos poucos, retornaram aos nossos rostos, mesmo que uma dúvida sobre a continuidade do tratamento com ele permanecesse em minha mente.
- Agora que esclarecemos tudo, precisamos resolver mais uma coisa. Como se sente em relação a continuar seu tratamento comigo?
- Andou fazendo cursinho pra ler mente agora? – Ele sorriu. – Não sei, . É meio estranho. Foi uma situação bem estranha semana passada, e agora você chega e fala que é noivo. – Fiz uma pausa, minha mente a mil por hora.
- Mas... – Ele incentivou.
- Mas eu nunca tinha conseguido falar abertamente daquele jeito. Tudo bem que foi tudo jogado, mas só o fato de falar já deixa as coisas muito mais reais e assustadoras.
- Nós podemos tentar e no final da sessão de hoje você me dá uma resposta. O que acha?
- Excelente ideia. – Nos ajeitamos em nossos lugares, encarando um ao outro.
- Então me conta o que está acontecendo na sua vida nesse momento. Você levantou alguns problemas e eu gostaria de entender melhor. Você comentou do seu ex, você ainda mantem contato com ele?
- Tem certeza que não está lendo minha mente? – revirou os olhos. – Ok, ok. Nós meio que saímos ontem.
- Certo. – Ele não conseguiu conter seu olhar espantado. – E como foi que você se sentiu?
- Especifique. – Tentei ganhar mais tempo, me julguem.
- Vamos por partes então. Eu vou falar um momento e você vai me falar a primeira palavra que passar pela sua mente.
- Não sei se eu gosto disso.
- Vamos começar. – apenas me ignorou. Ótimo. – Como foi quando o viu logo depois do acidente?
- Estranho.
- E quando conversaram pela primeira vez?
- Confuso.
- Quando ele te chamou para sair, o que sentiu?
- Raiva. – Oh, oh.
- Essa é uma palavra interessante. Voltaremos nela depois.
- Acho que não devemos nos prender ao passado! – Tentei soar divertida, porque não estava nem um pouco a fim de explicar a raiva.
- Gostei do seu otimismo. – falou, irônico. – Como se sentiu durante o encontro?
- Em um conflito interno.
- Ok. E depois do encontro?
- Não sei. – Suspirei, afundando-me no sofá. – Esse jogo não é divertido.
- Me fala mais sobre a raiva. Era dele? De você? Do que aconteceu? – Permaneci em silêncio, eu definitivamente não queria explicar a raiva. – O que você está me escondendo?
- Nada...? Tá bom! Eu meio que estava espiando meu vizinho pela janela, e ele meio que estava acompanhado... E, talvez, algo bem remoto, eu tenha ficado um pouco irritada com a cena. Mas foi coisa boba, sabe, nós temos nada, nem nunca tivemos...
- Mas vocês se falam?
- Bom, tecnicamente, sim. – Falei, sincera.
- Tecni...
- Senhor , sua próxima paciente chegou. – Respirei audivelmente, fazendo me encarar com um olhar nada amigável. Até parece que a culpa era minha.
- Ok, já estou terminando. – Ele falou, voltando-se para mim. – E então?
- Então que eu estou indo. – Levantei-me rapidamente, já seguindo para a porta.
- Não está esquecendo que me deve uma resposta sobre a nossa conversa no início?
- Ah, sim. Claro. - Sorri timidamente para ele. – Até semana que vem, . – Falei e saí, deixando um sorridente para trás.
Segui calmamente para o elevador, sentindo que um grande peso havia sido retirado das minhas costas. É claro que não deixaria a história com o pra trás, mas eu vou pensar em alguma coisa. Retirei meu celular do bolso, já buscando o número da minha casa para que alguém viesse me buscar. Entretanto, antes que eu pudesse finalizar a chamada...
- , que surpresa. – Ai, meu Deus.
- ! Você por aqui. – Desliguei meu celular, o guardando novamente. O que ele estava fazendo aqui?
- O escritório da minha mãe é aqui. – Ele apontou para a porta onde a senhora trabalhava. Como eu nunca tinha reparado? - Mas e você?
- Eu estava no psicólogo. – Falei, meio envergonhada.
- Isso é ótimo, fico feliz que tenha procurado ajuda.
- Eu meio que não procurei, sabe, mas aqui estou. – Nós rimos. Eu estava nervosa. O elevador tinha acabado de descer e ficamos os dois olhando um para a cara do outro, em um silêncio bem desconfortável.
- Uhm, você está indo pra casa? – Ele perguntou, tão constrangido quanto eu.
- Sim. Vou ligar lá pra casa agora. – Retirei meu celular novamente do bolso, mas colocou sua mão sobre a minha, impedindo-me de fazer a ligação.
- Eu estou de carro, eu te levo.
- Não precisa... Bom, eu ia falar que não precisa se incomodar, mas como somos vizinhos... – , para de ser idiota. O elevador chegou ao nosso andar, me salvando de falar qualquer outra besteira.
- Vamos então. – me deu passagem, entrando no elevador logo depois de mim. Descemos em silêncio, o elevador estava bem cheio, o que acabou sendo excelente. – Meu carro está por aqui. – nos levou até seu carro, abrindo a porta para que eu pudesse entrar. Assim que deu a partida, ele ligou o rádio, deixando uma música qualquer bem baixinha ao fundo.
- Nossas conversas por cartazes não costumam ser tão estranhas. – Soltei, não aguentando o clima esquisito que estava entre nós. caiu na gargalhada, respirando fundo e concordando comigo.
- Era exatamente o que eu estava pensando. Os cartazes provam que podemos ter uma conversa decente.
- Concordo plenamente.
- Então... – começou, ainda incerto. – Eu ainda estou esperando seu número de telefone, sabe. – Sorri, relembrando nossa última conversa.
- Ainda não sei se você merece. – Ai, caramba. Como isso saiu da minha boca?
- Como assim? – Ele parecia surpreso com a minha resposta, mas ainda tinha um sorriso em seus lábios.
- Vi que estava com uma amiga outro dia. - Acho que vou fazer um voto de silêncio depois de hoje.
- Oh. Isso. – estava com um sorriso nos lábios. Desviei meu olhar, encarando a rua. – É apenas uma amiga. – Informação interessante. – Também te vi chegando com seu ex ontem, vocês voltaram a namorar? – Então ele estava me olhando. Segurei o sorriso nos meus lábios, não querendo demonstrar minha satisfação.
- Não estamos namorando. – Falei e senti o olhar de sobre mim, assim que paramos no sinal. Nos encaramos por um momento, mas a luz verde logo apareceu e teve que colocar o carro novamente em movimento. Suspirei quando avistei minha casa.
- E então? – falou assim que estacionou.
- O quê? – Perguntei, meio boba com o sorriso que ele estava lançando em minha direção. – Oh. Meu número. Ok. Acho que você merece tê-lo.
- Fico feliz que tenha conquistado sua confiança. – Nós dois estávamos com sorrisos enormes nos lábios. me passou seu celular e eu anotei meu número nele. O entreguei o aparelho, já me preparando para sair do carro.
- Muito obrigada pela carona. – permanecei em silêncio, então segui a deixa e saí do carro. Olhei para trás uma única vez e comecei a andar até minha casa.
- , espera. – Virei-me ao ouvir me chamar e a outra porta do carro ser batida. vinha em minha direção. – Eu estava pensando... Talvez a gente pudesse dar uma volta, não sei. Sair. – Mordi meu lábio inferior, contendo um sorriso.
- Acho uma excelente ideia.
- Ótimo. Te mando uma mensagem então. – falou, mas não fez menção de ir embora. Ele deu um passo a frente, mas logo recuou quando. Estranhei sua atitude, mas logo entendi quando apareceu ao meu lado.
- Achei que não fosse chegar hoje ainda. – falou, aproximando-se com cautela de nós.
- Encontrei no prédio e estávamos conversando. – Os dois se encaravam, como se estivessem tendo algum tipo de conversa silenciosa. Uma tensão se estabeleceu entre os dois, mas não consegui distinguir o que exatamente estava acontecendo. Era como se eu tivesse perdido uma parte muito importante de um filme para que eu pudesse entender o final.
- Eu acho melhor eu ir. A gente se fala, .
- Vou ficar esperando. – Sorri para ele. retribuiu meu sorriso e foi para seu carro.
e eu voltamos para a minha casa, ele ainda estava em silêncio e com uma expressão pensativa.
Quando chegamos ao meu quarto, liguei a tv e me joguei na cama. sentou ao meu lado, colocando minha cabeça sobre seu colo e fazendo carinho em meu cabelo.
- Como foi a consulta?
- O que você tem, ? Parece que viu um fantasma.
- Nada, está tudo bem. Só estava lembrando de uma coisa, mas nada importante. Me conta, ocorreu tudo bem?
- Sim, é ótimo.
- É mesmo? – Ele arqueou uma sobrancelha, focando sua atenção em mim. – Você sabe que também pode conversar comigo sobre tudo, certo?
- Eu sei. – Suspirei, acomodando-me melhor na cama.
- Você está mesmo se sentindo melhor?
- Eu estou ótima, . – Falei, logo sentindo aonde ele queria chegar. pegou um de meus pulsos, cobertos por pulseiras de propósito.
- Não sentiu mais a necessidade de aliviar a dor no peito? – Ele perguntou bem baixinho, em um tom bastante preocupado. Eu levantei e encarei. Toquei seu rosto, tentando acalmá-lo. Estava extremamente emocionada com sua preocupação.
- Eu estou bem, de verdade.
- Você me contaria caso...
- Sim, prometo a você.
- Ótimo. – respirou fundo e continuou me encarando. Desviei meu olhar, o ar estava começando a faltar. O que tinha acontecido com esses homens?
- Eu preciso de um banho, fique à vontade. – Levantei rapidamente, pegando qualquer roupa mais confortável no guarda-roupa e indo tomar um banho.
, e . Minha cabeça parecia em um círculo vicioso, pelo menos não estava mais nele.
Saí do banheiro e encontrei deitado na minha cama e assistindo a um episódio de Game Of Thrones.
- Ei, por que não me esperou? – Perguntei, já me juntando a ele na cama.
- Você estava demorando demais. – passou seu braço sob minha cabeça, puxando-me para seu peito. Enquanto ele mexia em meu cabelo, eu me forçava a prestar atenção na televisão, algo que não estava dando muito certo. Já na metade do episódio, ouvi meu celular tocar, mas ele estava ao lado de . Ele o pegou, mas não sem olhar no visor. – Por que o está te ligando, ? – Arregalei meu olhos, encarando o humor do meu amigo mudar drasticamente. Nunca tinha visto tão irritado como quando contei o motivo de ter terminado comigo.
- Me dá meu celular, . – Pedi. Ele me entregou o aparelho, mas sua expressão de surpresa não deixou seu rosto.
- Oi, . – Atendi e deixei o quarto. Como foi que eu me meti nessa situação?
- Oi. Como você está?
- Bem. Você? – Respondi, ainda em um tom baixo para que não escutasse.
- Também. Eu liguei pra saber se gostaria de dar uma volta, não sei, ou posso ir até aí pra gente passar um tempo juntos.
- NÃO! Digo, não é uma boa ideia, . está aqui, melhor ficar pra próxima.
- Acho que seu amigo me odeia.
- Você acha? – Perguntei, inocente, a ironia escorrendo pelos meus lábios. sorriu.
- Tudo bem então, acredito que já estará em problema o suficiente só por eu ter ligado.
- É bem provável.
- Acho melhor eu desligar então. Nos falamos depois? – Ele perguntou, ansioso.
- Claro, a gente se fala.
Finalizamos e chamada e eu respirei fundo antes de retornar para o quarto. estava emburrado encarando a televisão, mas eu tinha certeza que não estava prestando atenção. Voltei para a cama, sentando ao seu lado. Ele nem seu mexeu, ou virou para me encarar, pelo menos não até meu celular apitar, indicando que uma mensagem tinha chegado. Eu não conhecia o número.
“Acho que eu esqueci de te passar meu número. .”
Sorri instantaneamente, o que fez resmungar audivelmente. Antes que eu pudesse responder, outra mensagem chegou.
“Eu também queria saber se você está livre amanhã à noite.”
O sorriso aumentou em meus lábios, mas não tive a chance de responder prontamente, porque chamou minha atenção.
- Não acredito que você está falado com ele novamente. – Ele parecia extremamente chateado. Ele falou em um tom baixo, encarando nada enquanto dizia.
- Nós conversamos, , ele mudou.
- Você sabe que eu não acredito nisso. E quando vocês conversaram? – Acho que eu não comentei isso com ele, droga. Encarei meu celular, achando melhor responder logo, antes que ele desistisse.
“Estou livre, sim! O que tem em mente?”
Mandei e voltei minha atenção para , que revirou os olhos ao ver que eu não estava prestando atenção nele.
- Talvez a gente tenha saído ontem.
- Vocês saíram? Tipo um encontro? – Meu amigo perguntou, seus olhos sendo tomados por uma decepção clara.
- Não foi um encontro, nós só conversamos.
- E isso bastou pra que você esquecesse tudo o que ele te fez?
- Eu não esqueci, . – Ele suspirou, balançando a cabeça e sentando na cama. – Eu não consigo aceitar isso, o cara foi um babaca.
- Ele foi, e ele admitiu isso.
- E bastou ele constatar o óbvio pra você o aceitar de volta?
- Eu não o aceitei de volta, nós só saímos para conversar. Ele estava preocupado, achou que tinha sido, de alguma forma, responsável pelo que aconteceu. – se encolheu, como se a lembrança de me encontrar no chão do meu quarto, após ter arrombado minha porta, estivesse muito forte em sua mente. Me aproximei dele, o abraçando de lado.
- E ele teve? – Ele perguntou, se eu não estivesse tão próxima, com certeza não teria ouvido.
- Não. Não posso te falar que não doeu quando ele terminou comigo, mas não consigo culpá-lo. – me abraçou fortemente, beijando meu cabelo.
- Ainda bem, porque estou muito novo pra ser preso.
- ! – Bati em seu peito. – Nem brinca com uma coisa dessas.
- E quem disse que eu estava brincando?
- Para, menino! – Ele acabou cedendo e rindo comigo.
e eu passamos o resto da tarde juntos. Assistimos comédias no Netflix, comemos sorvete e jogamos conversa fora. Era tão bom poder passar esse tempo com ele. me fazia tão bem, eu me sentia tão leve em sua companhia.
Algumas vezes eu o peguei encarando meus lábios, mas ele logo voltava seu olhar para os meus olhos, sem nunca expressar o que se passava realmente em sua mente. Por mais que seja difícil para as pessoas acreditarem, nós nunca nos envolvemos amorosamente, digamos assim. Mas confesso que programas como o de hoje não ajudam muito a convencer as outras pessoas. Nós sempre andamos abraçados, ou muito próximos um do outro. E também seria louca se falasse que não é atraente, porque ele é. E de uns tempos para cá, isso estava se tornando cada vez mais evidente para mim.
Meu celular tocou novamente, me despertando dos meus devaneios acerca da beleza de . Era uma nova mensagem de .
“Não vou te falar, é surpresa. ;)”
“Então como vou saber o que vestir?”
Enviei a mensagem e segui para a janela do meu quarto, na expectativa que pudesse vê-lo. estava me encarando, como se me esperasse. Ele sorriu, e eu respondei timidamente.
“Não é nada chique, vista-se de maneira confortável.”
“Isso não é justo.”
Mandei a mensagem e lancei meu olhar inconformado para ele, que apenas ria.
“Você fica linda de qualquer jeito, não precisa se preocupar com isso.”
Senti minhas bochechas corarem, abaixando meu rosto e fingindo encarar algo no celular. Olhei de relance para ele, mas apenas sorria.
“Esse novo jeito de conversa não é tão divertido quanto os cartazes, mas até que eu gostei.”
Achei melhor mudar de assunto, não podia responder falando que ele ficava maravilhoso de qualquer jeito, inclusive quando acaba de acordar, apenas com uma calça de moletom e cabelo bagunçado. Claro que u não poderia falar isso, porque então ele saberia que eu olho para a sua janela muito mais do que deveria.
“E nós nem estamos sem assunto!”
Ele lembrou do nosso momento constrangedor de mais cedo. Eu sorri para ele.
“Verdade, acho que somos melhores com as palavras escritas do que com as ditas.”
Ele pareceu ponderar.
“Concordo, ou eu fico tão nervoso perto de você que não consigo pensar em nada bom o bastante.”
Arregalei meus olhos e o encarei, sem saber o que digitar depois disso.
“Talvez isso também possa se aplicar a mim.”
Seu sorriso em resposta valeu toda a minha sinceridade. Alguém bateu em sua porta, e acenou que teria que ir.
“Amanhã, às 19h. Pode ser?”
“Estarei pronta!”
E assim ele saiu, e eu fiquei largada na cama pensando no que vestir e o que estava aprontando.
***
Passei o dia inteiro tentando adivinhar onde iria me levar, mas não consegui chegar em nenhuma opção satisfatória. Ainda faltava cerca de meia-hora para que chegasse, mas eu já estava pronta e extremamente ansiosa. Tinha trocado algumas mensagens com e durante o dia, mas nem deu sinal. Me impedi de mandar alguma mensagem, mesmo que as dúvidas estivessem borbulhando em minha mente. Às 19h a campainha da minha casa tocou, como já estava na sala, corri para a porta. Respirei fundo e a abri, deparando-me com um ainda mais maravilhoso da minha frente. Ele sorriu de canto, medindo-me de cima a baixo.
- Você está linda. – Sorri timidamente, despedindo-me da minha mãe, que estava olhando sobre os meus ombros para do lado de fora.
- Você não está nem um pouco atrás. – Falei, já com a porta fechada atrás de nós. Nós apenas sorrimos um para o outo enquanto caminhávamos até seu carro. Já acomodados, ligou em uma rádio qualquer e começou a dirigir. – Não vai mesmo me contar para onde estamos indo?
- Vou segurar a surpresa pelo menos por mais um pouco, você vai descobrir assim que nos aproximarmos, de qualquer forma. – Ele sorriu. Eu não me cansava de olhar para ele.
- Interessante essa informação. É longe daqui? – Sua gargalhada preencheu o carro.
- Você é uma pessoa muito ansiosa, sabia? – Dei de ombros e fiz uma cara de desinteressada, o que apenas o fez rir mais.
- Eu gosto do seu sorriso. – Falei sem pensar, logo desviando meu olhar para a janela. O carro parou no sinal e tocou meu braço, chamando minha atenção para que eu olhasse para ele.
- Não precisa ficar com vergonha, eu gosto de tudo em você. – Minhas bochechas logo coraram e agradeci aos céus pelo sinal ter aberto. virou para frente, colocando o carro novamente em movimento. – Me diz, qual seu artista favorito? – Ele perguntou após alguns minutos.
- Uhm, essa é uma pergunta muito difícil. Eu gosto de muita gente.
- Fale alguns então. – Ele sorria, como se estivesse esperando apenas o momento certo para revelar algo muito importante.
- Eu amo a Demi Lovato, acho aquela mulher sensacional. E também sou apaixonada pelo Ed Sheeran, amo aquele ruivo maravilhoso. – Falei, sorrindo pela careta que fez.
- Então você definitivamente vai gostar da surpresa que preparei. – Ele estacionou o carro e apontou para uma fila, na qual várias pessoas estavam usando camisas e segurando faixas sobre o Ed. saiu do carro e veio abrir a porta para mim, eu ainda estava muito surpresa para conseguir me mover. Assim que caí em mim, saltei do carro e pulei em cima do .
- Não acredito que você tem ingressos para esse show! Ele vai ser para poucas pessoas e bem íntimo! Como... Como? COMO? – ria da minha animação, me guiando para a entrada do local, com uma mão apoiada no fim das minhas costas.
- Minha mãe conseguiu os ingressos, um dos clientes dela trabalha da produção.
- Eu preciso comprar um mega presente pra sua mãe! Não acredito que vou ver o Ed! – Abracei novamente, que me apertou em seus braços. – Muito obrigada, de verdade. Essa é a melhor surpresa que eu poderia ter!
- Fico feliz que tenha gostado. – falou no meu ouvido, me soltando assim que a fila começou a andar.
Já acomodados lá dentro, estava ao meu lado, apenas me encarando enquanto eu olhava admirada toda a pequena estrutura preparada para o show. O palco era pequeno e as luzes estavam fracas, dando um ar bastante envolvente ao local.
Quando Ed subiu ao palco, passou seus braços pela minha cintura, colocando-me na sua frente. Confesso que imaginei que ele nem conhecesse as músicas do Ed Sheeran, mas me surpreendi ao ouvi-lo cantar quase todas no meu ouvido.
- Fã do Ed também? – Virei-me para ele.
- O cara é um gênio. Olha tudo o que ele é capaz de fazer sozinho no palco! – falou, admirado. Sorri para ele, nossos olhares se encontrando e nossas respirações falhando. Ed começava uma nova música ao fundo, sua batida lenta fez com que e eu nos aproximássemos mais.
“…I'm falling for your eyes, but they don't know me yet
And with a feeling I'll forget, I'm in love now
Kiss me like you wanna be loved…”
E como se fosse uma ordem, nossos lábios se encontraram. logo me envolveu em seus braços e eu passei os meus sobre os seus ombros. Estávamos completamente perdidos um no outro, nos entregando ao beijo como se nada mais no mundo realmente importasse.
Aos poucos, nós fomos nos separando, nossos olhos fechados e corações acelerados. Abri meus olhos lentamente e encontrei sorrindo para mim. Um sorriso logo apareceu em meus lábios e me deu um breve selinho, virando-me novamente de costas para ele. E, abraçados, aproveitamos o resto do show, e não tinha nenhum outro lugar do mundo onde eu quisesse estar.
O show terminou por volta das 21h, então e eu decidimos sair para comer alguma coisa. Ainda no clima do show, fomos jantar em um restaurante ali perto. Nossos olhares não desviavam, nossas mãos não se separavam... Parecíamos dois adolescentes descobrindo o que era se apaixonar.
Pouco mais das 22h, me deixou em casa, despedindo-se com um longo beijo e um olhar que transmitia a mensagem que aquele não era o fim.
Quando entrei em casa, minha mãe ainda estava sentada na sala, assistindo televisão.
- Chegou cedo. – Ela disse.
- Sim. – Disse, apenas. Um sorriso bobo figurava em meus olhos.
- Não sabia que eram próximos. Ele esteve aqui no dia... No dia do seu acidente, mas como você disse que não queria ser incomodada e eu não sabia que eram amigos, pedi pra voltar outra hora. E depois que o vi saindo do seu quarto no hospital, soube que tinha me equivocando. – Eu estava tão surpresa, que minha mãe logo levantou do sofá e veio em minha direção. – , você está bem?
- Mãe, o foi me visitar no hospital? – Eu perguntei, ignorando a pergunta da minha mãe. Ela arqueou uma sobrancelha, não entendendo o porquê da minha pergunta.
- Não, ele não foi. Mas ele estava conversando comi...
- A senhora tem certeza?
- Tenho, eu vi a lista de todas as pessoas que entraram no seu quarto, lá tem esse controle de visitas. O próprio também admitiu...
- Eu preciso sair, mãe. – A interrompi, saindo correndo de casa. Eu precisava falar com . Parti em disparada até sua casa, não sabendo exatamente o que eu estava fazendo, eu só precisava ir até lá. Toquei a campainha e a senhora abriu a porta.
- Oi, , você está bem? Parece pálida. – Ela falou preocupada.
- Senhora , eu preciso falar com o . – Antes que ela pudesse me responder, ele apareceu na escada, vindo em minha direção. Assim que notou meu estado, veio correndo até mim.
- Você está bem?
- Eu preciso falar com você. – Falei e virei as costas, indo para o gramado em frente a casa do .
- Aconteceu alguma coisa? – Ele estava preocupado e eu via em seus olhos que meu comportamento o estava assustando.
- Você foi me visitar no hospital, ? – Fui direto ao ponto. Se não foi o ... – Me diz, , eu preciso saber. – Ele suspirou, surpreso.
- Fui, mas você não estava consciente. Soube que acordou mais tarde naquele dia, mas achei melhor não voltar.
- Por que você não me contou?
- Achei que... Você estava ouvindo? – se aproximou de mim, mas eu dei um passo para trás, confusa demais.
- O que você foi fazer lá? – Ele recuou com a minha pergunta.
- Eu imaginava o que você estava fazendo com você mesma há algum tempo, eu conseguia ver parcialmente o seu quarto, por mais invasivo que isso possa soar. Mas eu estava tão preocupado com você e eu não sabia como me aproximar! Você estava com o e eu nunca conseguia dizer as coisas certas quando estava perto de você.
- Por isso... Agora todas as nossas conversas fazem sentido, você sempre soube. – Eu estava tão envergonhada, eu me senti tão fraca e exposta que eu precisei colocar ainda mais distância entre nós.
- Não se afasta de mim, por favor. Nós tivemos uma noite tão maravilhosa, por favor. – Eu... – Dei mais alguns passos para trás. – Eu preciso encontrar o . – Disse e saí, deixando me encarando como se tivesse me perdido para sempre.
Disquei o número de um táxi e fui para a casa do meu amigo. Assim que o táxi chegou, enviei uma mensagem para que me esperasse do lado de fora da sua casa.
A sorte foi que não deixei a bolsa que levei para o encontro com o em casa. Paguei o taxista e encontrei extremamente preocupado em pé em frente a sua casa. Assim que desci, ele veio correndo em minha direção, me envolvendo em seus braços e me acalmando.
- O que aconteceu, ? – Eu apertei meus braços em sua cintura, buscando todo o conforto que só ele conseguia me dar.
- O mentiu pra mim de novo, . Ele não foi me visitar no hospital, ele sabia que era importante eu saber disso e mentiu pra mim. E o .
- O que tem o ?
- Foi ele, , ele que foi o cara que me visitou enquanto eu estava inconsciente. – suspirou. Ele me afastou dele, encarando meus olhos.
- ...
- Ele sempre soube, ! O via do quarto dele, por isso que ele sempre se mostrava tão preocupado e sempre me distraía quando ambos estávamos em casa. – Eu falei, tentando colocar um pouco de ordem nos meus pensamentos.
- Eu preciso te contar uma coisa. – levou suas mãos ao seu rosto, seus olhos estavam tão aflitos que eu podia sentir meu coração quebrar só de olhar para ele. – No dia que eu praticamente invadi sua casa pra te salvar, o esteve lá antes de mim, mas sua mãe não o deixou entrar. Ele me encontrou quando estava saindo, ele disse pra eu ir rápido porque você precisava de ajuda. Acredito que ele que ligou pra ambulância antes mesmo de eu entrar na sua casa, se ele não tivesse chamado, talvez tivesse sido tarde demais.
- Ele... – Minha cabeça rodava. Eu me afastei de , fechando meus olhos com força e levando minhas mãos até minha cabeça. As lágrimas já escorriam pelo meu rosto livremente, meu coração estava batendo tão freneticamente que eu sentia que poderia desmaiar a qualquer momento.
- , olha pra mim. – me virou para ele, retirando minhas mãos da minha cabeça e limpando minhas lágrimas. – O que está acontecendo?
- Eu estou tão confusa, eu não sei o que fazer, . – Ele se afastou de mim, como se ponderasse algo para dizer. Sua luta interna acabou e ele voltou para perto, olhando intensamente em meus olhos.
- Eu te amo, . Eu sinto que eu estou te perdendo e eu não posso deixar isso acontecer sem lutar de novo. Eu amo você. – Encarei como se ele estivesse falando em um outro idioma.
- Você... Você...
- Eu não posso mais esconder isso de você. Quando eu arrombei a porta do seu quarto e te encontrei deitada e cheia de sangue naquele chão, eu senti como se uma parte de mim estivesse morrendo. Quando você acordou, eu jurei pra mim mesmo que iria lutar por você, lutar pelo que eu sinto. Eu sei que você está confusa, que talvez nunca tenha me enxergado como algo além do seu melhor amigo, mas eu sei que a gente pode dar certo. – Meu coração apertou. estava chorando nesse momento e nesse instante eu vi muito mais que meu amigo de tantos anos, eu percebi o homem que ele tinha se tornado e o quão importante ele para mim. e eu passamos por tantas coisas, ele esteve ao meu lado em todos os momentos da minha vida. Eu não conseguia imaginá-la sem ele, mas eu ainda não sabia qual lugar ele estava ocupando nela.
Percebendo isso, se aproximou de mim. Suas mãos foram postas em meu rosto e seu olhar mostrava todo o amor que ele tinha para me dar. E então ele me beijou, e foi naquele momento que meu coração tomou a decisão.
Tentei mover minhas pernas, mas nada se mexia. Tentei fazer qualquer movimento, mas meu corpo não respondia.
Alguém pegou minha mão.
- Você precisa voltar. – Um homem. Foi tudo o que consegui distinguir. Sua voz não me era estranha, mas estava tudo tão pesado, como se eu estivesse sendo puxada para uma escuridão sem fim. – Preciso daquela chance pra fazer tudo certo dessa vez. Por favor.
Eu tentei. Juro que tentei abrir meus olhos, juro que tentei falar alguma coisa, juro que tentei mexer minha mão que ele segurava, nem que levemente, para que ele soubesse que eu estava ouvindo. Mas não consegui.
Então senti um beijo em minha testa. Acho que ele saiu.
Seja lá quem ele for.
E então eu apaguei.
Senti minha consciência retornando aos poucos. Consegui organizar meus pensamentos e pude constatar que estava deitada sobre uma cama não tão macia quanto a minha. Tentei mover meus dedos, dessa vez meu corpo respondeu, mesmo que lentamente.
Forcei meus olhos a abrirem, mas a luz estava forte demais para que eu conseguisse mantê-los abertos. Não consegui levar minhas mãos para os cobrirem, estava fraca demais. Uma mão logo segurou meu braço, me impedindo de ao menos tentar alcançar meu rosto.
- Calma aí, meu bem, você vai acabar soltando esses fios presos em você. – Após alguns momentos de confusão, reconheci a voz de . Forcei meus olhos a abrirem novamente, permitindo que segurasse minha mão sobre a cama. Ainda que incomodados, os mantive abertos dessa vez, virando minha cabeça lentamente para encarar meu amigo sentado ao meu lado.
- Onde... Onde...? – Tentei perguntar onde eu estava, mas minha garganta estava ressecada demais para que eu conseguisse pronunciar uma sentença completa.
- Você está no hospital. – Seus olhos escureceram rapidamente ao me encarar. – Você não se lembra do que aconteceu? – Flashes surgiam em minha mente, mas nada que fizesse muito sentido. – Eu já chamei os médicos e informei que você acordou. Daqui a pouco eles estarão aqui, por favor, não faça muito esforço. Você ficou apagada por dias.
Arregalei um pouco meus olhos, completamente perdida com as novas informações que tinha recebido. Antes que pudesse tentar perguntar alguma coisa, a porta do quarto abriu e minha mãe entrou, sendo seguida pelo, o que suponho ser, médico.
- Ah, minha filha, graças a Deus você acordou! Eu fiquei tão preocupada! – Ela veio correndo em minha direção e pegou a mão que antes segurava. Agora ele estava mais afastado da minha cama, mas ainda mantinha seus olhos sobre mim, como se a qualquer momento eu pudesse tentar fazer algo estúpido. Acabei por ignorá-lo, e minha mãe também. O que, raios, eu estava fazendo ali?
- Oi, . Eu sou o Dr. Bourne. Como você está se sentindo?
- Ela não está conseguindo falar direito, acredito que esteja com sede, ou algo assim, mas eu não sabia se poderia dar água a ela. – adiantou-se e respondeu por mim.
- Claro, ela pode beber. – O médico informou e, rapidamente, meu amigo trouxe um como com água até mim. Levantei minha mão para que pudesse pegar o copo da sua mão e notei meu braço enfaixado. Como um raio, as imagens do que provavelmente me deu aquele curativo atingiram-me em cheio. Meu Deus. viu meu olhar de pânico e logo abaixou meu braço, levando o copo até minha boca. Tomei alguns goles e tentei regular minha respiração. Mantive meu olhar baixo, não querendo demonstrar meus reais sentimentos naquele momento. Tudo que senti naquele dia estava me perturbando novamente: medo, angústia, confusão, fraqueza... Eu tinha cedido, afinal.
- Fica calma, eu tô aqui. – falou no meu ouvido e se afastou com o copo na mão.
- Melhor? – O médico perguntou, e mesmo que não completamente segura da minha voz, o respondi.
- Eu estou um pouco confusa e me sinto pesada, minha mente. – Soei incoerente e minha voz saiu meio esganiçada, mas até que foi um bom começo.
- Você está sentindo alguma dor?
- Minha cabeça dói. Meu corpo está um pouco dolorido também. – O médico assentiu, anotando alguma coisa em sua prancheta.
- Você se lembra do que aconteceu? – Suspirei.
- Lembro. – Falei, simplesmente. Notei que minha mãe levou suas mãos a boca, lágrimas escorriam pelo seu rosto. apenas me encarava, com pesar.
- Isso é bom. Vou providenciar alguns analgésicos e ficará em observação por mais alguns dias. – Assenti e o médico deixou o quarto.
Um silêncio nada confortável instalou-se no ambiente, e eu estava bem longe de quebrá-lo. Voltei a fechar meus olhos, talvez isso mostrasse que não estava muito a fim de conversa e eles deixassem o quarto. Eu realmente precisava pensar.
Ouvi a porta bater. Ótimo. Respirei mais aliviada e tornei a abrir os olhos.
- Achou mesmo que fosse se livrar de mim? – Ilusão demais achar que me deixaria fácil assim.
- Uma garota pode sonhar.
- Não é hora pra piada, . – Suspirei, ele não iria facilitar em nada minha vida, não que eu tivesse facilitado a vida de alguém com o que acabei fazendo.
- Você pode pegar mais água pra mim, por favor? – Pedi, tentando ganhar um pouco mais de tempo. Acredito que não seja tão fácil explicar que você não estava realmente tentando se matar para seu melhor amigo, que agora aparentava estar bastante irritado. Dessa vez meu braço estava mais firme, então consegui pegar o copo com água da sua mão. mantinha seus olhos em meus pulsos enfaixados, como se, milagrosamente, tudo fosse ser explicado e entendido em um estalar de dedos.
- Por quê? – Direto ao ponto, assim que eu gosto. Demorei mais que o necessário bebendo água, pude ouvir seus pés batendo no chão, em um claro sinal de raiva.
- Eu não estava tentando me matar, só fugiu um pouco do meu controle.
- Fugiu um pouco do seu controle? – Ele saltou da cadeira e foi em direção à janela. Achei que ele queria que eu fosse direta também, talvez tenha me enganado.
- Por que não me contou? Por que não me ligou? Você sabe que eu teria largado tudo pra ir até você! Tem noção que se eu tivesse chegado dez minutos mais tarde você poderia ter perdido tanto sangue que não teria mais volta? Você estaria morta, ! Morta! – jogou suas palavras sobre mim e encarou a paisagem do lado de fora. Sua respiração estava desregulada, seus punhos cerrados... Ele estava tentando, ao máximo, se controlar. Desviei meu olhar dele, encarando a parede branca na minha frente.
- Eu... – Comecei, mas as palavras não saíam. Respirei fundo algumas vezes, tentando organizar minha mente. – Eu precisava de um escape, nada me fazia sentir melhor, nada conseguia me desviar de todo o aperto que eu sentia no peito. Uma angústia que mal me permitia respirar. – Pausei e voltei a olhar para . Ele estava me encarando. – A dor física conseguiu tirar minha mente daquela escuridão toda, ela fez o que livros, filmes, festas e qualquer coisa que as pessoas fazem para se divertir não conseguiu fazer. Eu não vou conseguir te explicar, , e, sinceramente, não quero mais pensar nisso, ok?
- Você apenas espera que eu apague tudo o que aconteceu da minha mente e finja que nada aconteceu? Você quer que eu não me preocupe a cada porra de segundo que eu passar longe de você, pensando se está pensando em se machucar novamente? , eu estive no inferno esses últimos dias! – Lágrimas já escorriam pelo seu rosto e seus olhos estavam tão desesperados que meu coração apertou por saber que era tudo minha culpa.
- Eu sei que agi errado, mas... – Eu não sabia mais o que falar, minha cabeça estava latejando tanto que eu poderia imaginá-la explodindo a qualquer momento. – Olha, eu acabei de despertar de não sei quantos dias, minha cabeça está doendo mais do que imaginei ser capaz e realmente não estou bem pra ter essa discussão agora. Eu preciso de um remédio pra dor e descansar, por favor. – suspirou e saiu do quarto, retornando alguns minutos depois com uma enfermeira. Após tomar os remédios, sentou ao meu lado e segurou minha mão.
- Eu não sei o que faria da minha vida se eu tivesse perdido você.
- Você não perdeu, então não pense demais. Por favor. – Disse em um sussurro, fechando meus olhos e me entregando ao cansaço.
Despertei mais disposta, minha cabeça não doía tanto quanto antes, mas uma vontade insuportável de ir ao banheiro estava me deixando louca. Consegui me sentar e encarei a porta do banheiro, calculando todo o esforço que teria que fazer para chegar até lá.
- Você está usando sonda, não precisa ir ao banheiro.
- Cacete! Mas... Mas... – Meu coração estava disparado, levei tanto susto que podia sentir espasmos percorrendo todo o meu corpo por conta do movimento brusco que fiz.
- Me desculpe, não quis te assustar.
- Quem é você e por que tentou me matar? – Falei rapidamente, usando todas as minhas forças para controlar minha respiração.
- Meu nome é . Fui escalado para cuidar de você, eu sou psicólogo. – Ótimo, mais essa.
- Olha, , muito obrigada mesmo, mas eu estou ótima. Tenho certeza que exageraram bastante quando te mandaram até aqui. – Ele apenas me encarava, avaliando todas as minhas ações e palavras. – Pare com isso!
- Com o quê?
- De me avaliar!
- Você quer ajuda para ir ao banheiro?
- Não tente mudar o assunto! – Falei, não tendo controle sobre meu tom de voz. De quem foi essa brilhante ideia? Aposto que tem o dedo da minha mãe nisso. continuava me encarando. – Você me deu tanto susto, que estou agradecendo por estar de sonda, ou estaria toda molhada nesse instante. – Uma risada tomou conta do quarto. Encarei o psicólogo e ele estava rindo tanto que lágrimas escorriam pelo seu rosto. Não estava vendo graça alguma, mas um sorriso idiota não queria sair do meu rosto.
- Me desculpe, eu não...
- Não mesmo! – O interrompi, tentando aparentar raiva, o que não deu muito certo. No final, estávamos os dois rindo feito idiotas. – Pare! – Falei entre os risos e ele pareceu tentar se controlar.
- Ok, parei, parei. – Seus olhos brilhavam com diversão. Por que isso estava chamando tanto minha atenção? – Como você está se sentindo? – Com um revirar de olhos, o encanto foi embora.
- Por que todo mundo continua me perguntando isso? – Falei, sentindo meu humor mudar completamente. Parece que o tal também percebeu a brusca mudança no meu tom de voz.
- Porque você está em um hospital, acredito que faz bastante sentido querer saber algo assim.
- Não sabia que psicólogos deveriam ser engraçadinhos. – Revirei meus olhos mais uma vez.
- Existem muitos psicólogos por aí, cada um tem sua forma de trabalhar. – Desviei meu olhar de , focando na janela atrás dele.
- Você tem noção do quão estranho é saber que você estava há não sei quanto tempo me vendo dormir? Não acho que tenha conseguido avaliar muita coisa enquanto eu estava, sabe, desacordada.
- Não sabia que estava dormindo até eu chegar aqui. – Ele rebateu.
- E achou legal sentar ao lado da minha cama e velar meu sono de beleza?
- Seu sarcasmo é sensacional. Você pensa antes de falar, ou as coisas apenas saem da sua boca sem filtro algum?
- Acho que é um dom. – Disse e dei de ombros. O encarei e um sorriso teimoso parecia não largar seus lábios, que eu provavelmente não deveria ficar encarando.
- Ok. Eu estou ótima. – Melhor colocar meus pensamentos em terrenos mais firmes.
- Você se lembra do que aconteceu para estar aqui?
- Vocês médicos não tem uma salinha para conversar ou algo do tipo? O outro cara fez as mesmas perguntas. Oh, já sei! Vocês seguem uma lista, certo? – Falei, e tinha certeza que ironia estava escorrendo pela minha boca. não se deixou abalar.
- E então?
- Então o quê?
- Você não me respondeu. – Revirei os olhos novamente.
- É algum tipo de tique nervoso que você tem?
- Do que está falando? – Perguntei, já meio emburrada.
- Você revira os olhos com muita frequência.
- Não olhe pra mim se te incomoda tanto. – Eu estava com um péssimo humor e essa conversa estava nos levando a lugar algum.
- Não me incomoda. – O silêncio instalou-se entre nós. – E então?
- De novo com isso? – Contive mais um revirar de olhos, o que fez conter uma risada. – Fico feliz que te divirto. – Disse mordaz. – E sim, eu me lembro de tudo. – Ele pareceu ponderar por algum tempo. Mesmo que sentada, apoiei minha cabeça na cabeceira da cama, não querendo encarar o psicólogo ao meu lado, que avaliava cada movimento meu.
- Você tentou se matar? – Virei minha cabeça rapidamente em sua direção, o que me causou uma breve tontura.
- Nossa. – Eu ri.
- O quê? – Ele perguntou, ainda com aquela pose observadora.
- Você foi direto ao ponto. – Ele deu de ombros.
- Você não parece o tipo de pessoa que curte aquele papo cheio de voltas.
- Não mesmo. Você conseguiu chegar a essa conclusão enquanto eu estava dormindo ou depois que acordei e conversamos um pouco? – Perguntei, não conseguindo me segurar. arqueou uma sobrancelha. – Só querendo esclarecer um ponto aqui. – Levantei as mãos como se estivesse me rendendo. Ele não me respondeu, achei que ele fosse mais engraçado que isso. – Não, não tentei.
- Imaginei que não.
- Mesmo? – Já estava ficando cansada daquela conversa. Deitei-me e fechei meus olhos, funcionou com a minha mãe mais cedo.
- Acho melhor te deixar descansar.
- Minha dor de cabeça piorou. – Era verdade.
- Vou pedir uma enfermeira para vir te olhar. Eu voltarei amanhã.
- Ok. – Disse, apenas, e ele saiu.
Alguns dias mais tarde, eu deixei o hospital. A dor de cabeça já tinha me deixado, meus pulsos estavam bem melhores, mesmo que ainda enfaixados, e eu me sentia bem melhor. Acredito que a experiência de quase morte teve um efeito e tanto sobre mim.
Meus pais já tinham retornado a vida normal, que, basicamente, resumia-se a trabalho. Não que eu estivesse reclamando, eu sempre fiquei sozinha e acabei me acostumando com isso. Eu meio que estava sentindo saudades do meu quarto e de um pouco de paz e silêncio. E privacidade, claro! As visitas constantes estavam me deixando louca. estava lá todos os dias, assim como o tal psicólogo. Meus pais revezavam, claro que a empresa não poderia se dar ao luxo de ter os dois fora para acompanhar sua filha no hospital. Longe de mim querer tal culpa para a minha vida.
- Está confortável, minha querida? – Minha mãe perguntou pela milésima vez, enquanto eu me reinstalava em meu quarto.
- Está tudo ótimo, mãe. Não se preocupe. – O motivo que me levou ao hospital não foi novamente mencionado. Meus pais aceitaram muito bem o fato de não ter tentado me matar e minha palavra foi mais que suficiente. Ok, acredito que tenha falado sobre isso com eles também. Enfim, foi como se nada tivesse acontecido. A não ser por , claro, que insistia em questionar cada mínima mudança que ele notava em mim. E isso estava me tirando do sério. Sentia que eu poderia pular em seu pescoço qualquer dia desses.
- Tudo bem então. Por favor, não se esforce demais. Nós abastecemos seu frigobar para evitar que tenha que ir a cozinha ou chamar sempre alguém aqui. Mas qualquer coisa que precisar, tenho certeza que todos virão te ajudar. – Eu assenti, querendo logo que ela deixasse o quarto para que pudesse ter minha companheira de longa data novamente: a solidão.
- Claro, mãe. Pode deixar. Vou ficar quietinha aqui o dia todo. – Se ninguém resolvesse me perturbar, eu seguiria esse plano maravilhoso sem me importar nem um pouquinho. Minha mãe foi em direção a porta, mas parou e olhou em minha direção.
- Filha... – Arregalei um pouco meus olhos porque o tom de voz preocupado e amoroso nunca foi tão acentuado na fala da minha mãe. – Qualquer cosia basta me ligar, ok? Darei um jeito de chegar aqui o mais rápido possível. – Essa foi nova.
- Tudo bem, mãe, pode ficar despreocupada. Vai ficar tudo bem! – Tentei soar o mais confiante possível. Minha mãe deixou meu quarto e eu logo levantei para trancar a porta. Voltei para a minha cama e apenas aproveitei todo o conforto que ela me proporcionava. Lar doce lar.
Alguns podem até achar que várias imagens do que aconteceu viriam me assombrar e blá blá blá. Mas eu estava realmente bem no meu quarto, me sentindo acolhida, em casa.
Com o objetivo de ligar no netflix e fazer maratona de One Tree Hill, levantei da minha cama e fui em direção a janela para fechar as cortinas. Entretanto, meu vizinho, que tinha a janela do seu quarto exatamente de frente para a minha - separadas apenas por um quintal de largura mediana, o mínimo para nos permitir certa privacidade -, tinha um enorme cartaz pressionado na janela. Forcei um pouco a vista para que pudesse enxergar o que ele tinha escrito. Um sorriso apareceu em seu rosto quando percebeu que eu o tinha notado.
“Fico feliz que tenha voltado. Estava preocupado com você.”
Sorri bobamente. Não éramos tão íntimos assim, mas essas janelas já tinham visto algumas conversas. Também já tínhamos saído algumas vezes, mas nada nunca rolou, mesmo que eu tivesse objeção alguma a isso.
Sorri para ele em agradecimento. Ele levantou uma mão e fez um sinal que eu esperasse. tirou o cartaz da frente e deixou que um segundo ficasse visível para mim.
“Eu sei que você deve estar precisando descansar.”
Ele puxou outro cartaz. Eu ainda sorria.
“Mas realmente precisava saber se estava bem.”
Pela primeira vez essa pergunta não me deixou irritada. Fiz sinal para que ele esperasse e fui em direção ao meu armário, tirando um piloto e algumas folhas de cartolina dali. Escrevi uma resposta e voltei para a janela.
“Eu estou bem.”
Mesmo distantes, pude notar seu alívio. Ele escreveu um outro cartaz.
“Isso é ótimo.”
Sorri para ele e ficamos algum tempo apenas nos encarando. Fiz um sinal de que escreveria algo, ele apenas assentiu e ficou esperando.
“Isso seria mais fácil se apenas pedisse meu número.”
Mostrei o cartaz, já ansiosa por sua resposta. Ele demorou um pouco mais dessa vez.
“Mas assim não seria tão divertido.”
Eu sorri e ele pediu para que eu esperasse.
“Mas também não sou contra ter seu número.”
Ele sorriu de lado ao perceber que eu tinha acabado de ler. Arqueei minha sobrancelha, não tendo certeza se esse pequeno gesto seria notado por ele.
“Vou pensar no seu caso enquanto faço maratona no netflix.”
Pude ver sua gargalhada.
“Não seja tão má.”
Sorri, mas quando estava prestes a escrever minha resposta, alguém bateu em minha porta. Bufei e fiz sinal para que tinha alguém me chamando. Ele suspirou e levantou um cartaz rapidamente.
“Tudo bem. Nos falamos depois então.”
Com raiva por ter sido incomodada, escrevi um “me desculpe” e fui abrir a porta.
- Oi. – Falei em um tom não tão calmo assim.
- Tem alguém lá embaixo querendo te ver. – Charlotte, a governanta, disse. Suspirei.
- Mais visitas. – Revirei meus olhos. – Pede pra subir, por favor. – Já estava voltando para cama para usar a minha tática infalível de deitar e fechar os olhos.
- Mas, ... – Voltei meu olhar para ela, curiosa pelo seu tom de voz.
- Quem é, Charlotte?
- Seu ex. – Excelente! Só o que me faltava. – Eu nem tinha como dizer que você não estava em casa.
- Eu sei.
- Ainda o mando subir?
- Não! Eu vou descer em um instante.
Avistei Charlotte descer e voltei para dentro do quarto. Mais essa agora. O que esse infeliz veio fazer aqui? O que, exatamente, ele sabia que tinha acontecido?
Troquei minha blusa de manga curta por uma com manga comprida, a fim de esconder meus pulsos enfaixados. Sem vontade alguma, segui em direção a escada, indo encontrar aquele que quebrou meu coração duas semanas atrás.
Cheguei a sala e estava sentado no sofá. Ele parecia tão confortável como se estivesse em sua própria casa.
- . – Informei da minha chegada e levantou rapidamente do sofá, vindo em minha direção e abraçando-me. Fiquei imóvel em seus braços, apenas esperando que esperando que ele me soltasse para que pudesse falar logo o que queria e fosse embora.
- , eu fiquei tão preocupado com você! Eu me senti tão culpado por tudo o que aconteceu!
- Tá tudo bem, . Não foi... Você se sentiu o quê? – Perguntei, extremamente surpresa ao me dar conta das suas palavras. – Você tá supondo que o que quer que ache que aconteceu tem a ver com você? – Disse completamente descrente.
- Mas foi logo depois que a gente terminou. Eu falei com sua mãe e ela me disse que você começou a agir diferente depois...
- Que você terminou comigo? Ah, meu Deus! Isso só pode ser brincadeira. – Suspirei, juntando todas as minhas forças para ser educada. – Sinto muito por qualquer coisa que a minha mãe tenha te contado, mas não precisa mesmo se sentir culpado porque nada disso tem a ver com você.
- , eu não vim aqui para discutir com você, eu vim pra dizer que eu me precipitei, ok? – Isso só pode ser brincadeira. – Eu sei que a gente pode fazer dar certo dessa vez. – Assim que essas palavras deixaram sua boca, eu lembrei de um momento semi-consciente no hospital, se é que isso realmente existe. Alguém esteve no meu quarto e disse exatamente isso. Será que...
- Você foi me visitar, ? – Perguntei rapidamente, sentindo uma ansiedade absurda por sua resposta. Ele pareceu surpreso por um instante, me encarando e parecendo ler alguma coisa em meus olhos aflitos.
- Eu fui, mas você não estava acordada. – Ele disse, ansioso, como se ponderasse cada palavra. Eu suspirei. Não tinha parado muito tempo para pensar no que aconteceu antes que eu realmente despertasse, mas agora era como se um vazio tomasse conta de mim. Uma angústia, uma necessidade por saber quem foi a pessoa que me visitou e pediu com sentimentos tão fortes e apaixonados que eu voltasse, que eu voltasse para ele. Balancei a cabeça e encarei meu ex-namorado a minha frente, completamente perdida e submersa em pensamentos que me levavam a lugar algum.
- Por que não voltou? – Ele pareceu surpreso com a pergunta.
- Porque eu não queria atrapalhar, achei melhor não me intrometer. Seus pais ficaram muito preocupados, sua mãe então. – Minha mãe adorava o , acredito que tenha chorado tanto quanto eu quando soube que terminamos. Eu apenas assenti, não queria prolongar aquela conversa. Eu apenas queria voltar para o meu quarto e fazer a maldita maratona no netflix. Sozinha.
- , eu estou cansada. Eu preciso voltar para a minha cama, depois a gente conversa, tudo bem? Eu só quero deitar e relaxar um pouco.
- Claro, claro. – Ele pegou minhas mãos. – Eu posso vir te visitar amanhã? – Ele perguntou, ansioso.
- Pode. – Encarei surpreso com a minha resposta. Mas mais surpresa ainda estava eu ao constatar o que tinha dito.
- Mãe, é realmente necessário que eu continue as consultas com o ? – Perguntei pela milésima vez, achando aquilo extremamente desnecessário. Por mais que ele fosse legal, não via motivo algum para que ainda tivesse que fazer o tratamento.
- , não vou discutir com você novamente. Nós já chegamos, alguém virá te buscar quando acabar. – Minha mãe disse e me deu um beijo na bochecha, encerrando o assunto. Revirei meus olhos e saí do carro.
A secretária do consultório de logo me mandou entrar, informando que ele já estava me esperando.
- Olá. – Falei para chamar sua atenção. Ele estava de costas para a porta e parecia encarar algo em suas mãos. Guardou o que quer que seja rapidamente em seu bolso e virou na minha direção.
- Oi, . Sente-se. – apontou para o sofá posicionado em frente a sua poltrona. Ele estava meio distante, mas logo seu sorriso costumeiro tinha voltado para seus lábios.
- E então? Quando vai me liberar das sessões? – Perguntei, com um sorriso inocente nos lábios.
- Ah, eu estou bem, e você? Está mais feliz por ter voltado para o seu quarto? – Revirei meus olhos. – Ah, o doce revirar de olhos. – Bufei. – Bufar é novidade. – Ele sorria.
- Lá vamos nós de novo.
- Não sei qual a sua necessidade de se livrar de mim.
- Só não vejo motivo para continuar, eu estou bem. Não tentei me matar nem nada, e você sabe disso.
- O que não tira a questão da auto-mutilação.
- Lá vamos nós de novo. Isso está começando a ficar bem chato, mesmo que suas piadinhas estejam melhorando. Acredito que esses momentos em minha maravilhosa presença estejam te ensinando algo.
- E o seu ego, precisamos, definitivamente, trabalhar nisso. Apesar...
- Apesar...? – Pelo seu tom, eu já sabia que não iria gostar do que ele iria falar em seguida.
- Nós sabemos que isso é uma fachada, . Você usa toda essa “confiança” para desviar o foco de todos os seus medos, dessa forma as pessoas não desconfiam de você e das suas inseguranças, e te deixam em paz. – Eu tinha certeza que minha boca estava aberta em extrema surpresa, mas minha mente não conseguia enviar o sinal para fechá-la. Eu estava tão embasbacada, que até parou para analisar sua fala ausente de qualquer sutileza.
- Você tem certeza que se formou em psicologia, certo?
- Nós já concordamos que a franqueza entre nós é a melhor opção.
- Sim, mas pega leve aí. – Levantei do sofá e fui pegar um pouco de água. Será que... Será que ele estava certo? Mas... A última vez que me senti tão confusa assim foi quando eu acordei na cama do hospital, na semana passada. Mas eu precisava admitir que já tinha pensado em algo do tipo. Droga.
- E então? – perguntou quando eu já estava sentada novamente a sua frente.
- Talvez... – Comecei a falar bem baixinho. - ... você esteja um pouquinho certo.
- Desculpe, acho que não te ouvi direito. Você disse que eu o quê? – Bufei.
- Eu disse que você pode estar certo, ok?
- E você está concordando porque...
- Porque eu já tinha pensado nisso antes. – Admiti, meio contrariada. Por que meus olhos estavam marejando?
- . – disse e veio rapidamente para o meu lado. Ele sentou-se comigo no sofá e pegou uma de minhas mãos, seu olhar estava intenso no meu, senti minha respiração falhar.
- Eu sei que tenho problemas, tudo bem? Minha autoestima é uma merda, tenho a séria sensação de estar sempre atrapalhando e incomodando, minha relação com os meus pais é péssima, meu ex terminou comigo porque eu não quis transar com ele e usou a desculpa do “somos incompatíveis”... A única coisa boa na minha vida é meu melhor amigo, ele é a única pessoa que me entende e me aceita exatamente como eu sou. – Joguei todas as palavras em cima dele e levantei, soltando nossas mãos em um movimento brusco. Esse pequeno contato estava me deixando louca. – Está feliz agora? – Perguntei, exasperada. Fui para o outro lado do consultório, abraçando-me e tentando controlar minha respiração e meu coração acelerado. logo veio em minha direção, passando um braço ao meu redor e me apertando contra si, apenas me deixando chorar. Encaixei meu rosto em seu pescoço, sentindo o local arrepiar com a minha respiração. Fechei meu olhos e apenas chorei, fazendo meu máximo para desligar pensamentos completamente impróprios para o momento. é meu psicólogo e eu sou apenas sua paciente, fim da história. Tenho coisas muito mais importantes para colocar no lugar nesse momento.
- Vai ficar tudo bem, eu prometo isso a você. Você é uma pessoa tão forte, , nós conseguiremos dar um jeito em cada um desses problemas, em tudo que te faz mal, em tudo que te faz se sentir menor e indefesa. – Passei meus braços por sua cintura e me permiti ceder ao seu abraço. acariciava minhas costas e me mantinha apertada em seus braços. Eu estava tão insegura, tão confusa com tudo. Minha cabeça girava e eu não sabia mais o que fazer com a minha vida.
- Senhor, ... – A porta abriu-se de súbito, com a secretária nos interrompendo. ficou tão assustado que me largou abruptamente, encarando a mulher a sua frente.
- Oi, Lauren, eu estou no meio da sessão. – Ele falou, nervoso.
- É que sua próxima paciente já chegou. Eu bati na porta, mas parece que não ouviram. – Limpei minhas lágrimas e fui em direção ao sofá para pegar minha bolsa.
- Nós já acabamos por hoje, de qualquer forma. Até a próxima sessão, . – Falei rapidamente e deixei seu consultório, completamente desesperada por ar fresco. Entrei no elevador e aproveitei o espelho para dar um jeito no meu rosto inchado. Quando cheguei à portaria do prédio, pude avistar o carro de estacionado no outro lado da rua. Meu amigo estava apoiado no lado de fora, com um óculos escuros e um sorriso que indicava que estava planejando algo. Respirei fundo e deixei o que tinha acabado de acontecer para pensar mais tarde. Segui em sua direção, que já estava com os braços abertos para me receber.
me abraçou tão forte, que senti meus pés deixarem o chão por alguns segundos.
- ! – Ralhei com ele, mas um sorriso brotando em meus lábios. Ele me soltou, me encarando em seguida. Passou uma das mãos em minha bochecha, logo percebendo que eu tinha chorado, mas não comentou o assunto.
- Tenho planos para hoje, vim te sequestrar!
- Não se anuncia um sequestro, meu bem, eu posso gritar e sair correndo.
- Você não sairia correndo se soubesse o que planejei para hoje! – Ele disse com um sorriso iluminando todo o seu rosto.
- Sabia! Assim que te vi, eu soube que estava armando algo! – Sua alegria logo me contagiou, já estava completamente envolvida no momento.
- Então, senhorita, entre no carro, por gentileza. – falou, galante, ao abrir a porta do carro para mim.
- Muito obrigada, gentil cavalheiro. – Nós rimos. Ele deu a volta no carro, se posicionando atrás do volante. – Então... Aonde estamos indo? – Perguntei, animada!
- Isso é surpresa!
- ! – Ele apenas ajeitou seus óculos e deu partida no carro, seguindo para Deus sabe onde. ligou em uma rádio qualquer, deixando uma música qualquer no fundo.
- Antes de começarmos o que temos planejado para hoje, eu queria conversar com você sobre uma coisa. – Ele estava sério, de repente. Eu permaneci em silêncio, achando melhor deixa-lo falar. – No dia que você acordou no hospital... Eu estava muito nervoso e preocupado, a memória ainda estava muito viva na minha mente e eu sei que posso ter te assustado um pouco. Eu só queria me desculpar pelo meu comportamento, você sabe que sou maravilhoso. – Terminou sua fala e piscou para mim, amenizando as palavras ditas anteriormente. parou em um sinal vermelho e virou para mim. Dei um beijo em sua bochecha.
- Obrigada, sua humildade me inspira. – Ele riu com a minha ironia. – Você sabe que eu te amo, né? Você é meu melhor amigo, não sei o que faria sem você. – Disse, de repente tímida. retribuiu meu beijo na bochecha.
- Aprendi com a melhor. – As buzinas já estavam soando atrás de nós, indicando que o sinal já estava aberto e que estávamos prendendo o trânsito. Ele arrancou com o carro. – E eu te amo mais. – O sorriso de antes voltou para seus lábios e ele se concentrou na direção. Suspirei. Olhei para e percebi que ele fez uma careta. Ele apontou para o rádio e logo aumentei o volume, cantando junto com a Demi Lovato.
- TAKE ME DOWN INTO YOUR PARADISE – ele não aguentou e juntou-se a mim. – DON’T BE SCARED ‘CAUSE I’M YOUR BODY TYPE. – me acompanhava nas caras e bocas. Eu já estava com os braços para o alto, cantando a plenos pulmões!
- JUST SOMETHING THAT WE WANNA TRY, CUZ YOU AND I – nos encaramos e gritamos a última parte do refrão juntos.
- WE’RE COOL FOR THE SUMMER! – Caímos na risada e assim seguimos, para onde quer que estivéssemos indo.
- Eu sei que, no fundo, você ama Demi Lovato.
- Bem no fundo mesmo. – Ele disse, tentando soar sério.
- UM PARQUE DE DIVERSÕES? ! – Saltei do carro e me joguei nos braços do meu amigo assim que ele também deixou o veículo.
- Gostou? – Ele parecia envergonhado, ansioso pela minha resposta.
- EU ADOREI! AI, MEU DEUS! Podemos ir na montanha-russa? – Pedi, meus olhos estavam brilhando em excitação, com certeza.
- Por que você sempre quer ir nos brinquedos mais altos? – Ele fez uma cara extremamente fofa. Sempre esqueço do seu medo, porque ele sempre me acompanha nesses brinquedos! – Vamos, antes que eu desista e me arrependa. – Ele falou, mas um sorriso brincava em seus lábios. pegou uma de minhas mãos, entrelaçando nossos dedos. E, dessa forma, seguimos em direção ao parque, com sorrisos bobos no rosto e um desejo enorme por diversão!
- Quer segurar minha mão? – Perguntei em um tom divertido, fazendo revirar os olhos. Nós estávamos nos acomodando na montanha-russa, que logo daria partida.
- Não, obrigado. Eu estou ótimo, não sei de onde tirou que eu... – os carrinhos começaram a se mover. - ... que eu tenho... Me dá logo essa mão e AI, MEU DEUS DO CÉU! EU QUERO SAIR! – apertou minha mão e começou a olhar para os lados, eu já estava acostumada com a cena, sempre a mesma. Eu já sentia as lágrimas rolarem pelo meu rosto, porque nunca deixava de ser engraçado. Esse momento inicial era sempre o mais difícil, mas depois ele acabava curtindo, não que fosse admitir, claro. Apertei nossas mãos, sentindo um aperto confortável e uma nova sensação que ainda não consegui identificar.
- Lá vem a descida! – Falei, concentrando-me apenas na adrenalina que já preenchia meu corpo.
- Eu não quero ver. – choramingou, eu só conseguia rir.
- Ei. – O chamei, o carrinho estava quase no topo. – Eu estou aqui, vai ficar tudo bem. – Disse, tentando acalmá-lo um pouco, mas logo começamos a descer e apenas gritos eram ouvidos.
- Eu nunca mais subo nisso. – falou assim que saímos do carrinho.
- Você fala isso toda vez. – Dei de ombros, rindo da sua tentativa de soar sério. – Olha! – Chamei sua atenção para uma enorme pelúcia que estava exposta na barraca de tiro.
- Vamos, vou ganhar aquela pelúcia pra você. – Ele disse em uma pose superior. logo comprou as fichas e posicionou-se com a espingarda, já encarando seu alvo.
- Quero só ver se é realmente bom nisso. – Falei em seu ouvido, ele apenas riu de lado.
- Espere e observe. – deu o primeiro tiro e foi certeiro.
- Pura sorte de principiante. – Dei de ombros, lutando para segurar o sorriso que queria aparecer em meus lábios. Ele deu o segundo disparo, acertando novamente. arqueou a sobrancelha em minha direção, em desafio. Permaneci em silêncio dessa vez, apenas observando seu terceiro e último tiro.
- Três tiros, três acertos. – Ele falou, sorrindo em minha direção. – Eu quero aquela pelúcia, por favor. – apontou para a pelúcia que eu tinha falado anteriormente, a pegando e entregando para mim.
- Obrigada! – O abracei. – Agora eu fiquei com vontade de tentar.
- Será que tem algum colete vendendo por aqui? – Dei um tapa em seu braço.
- Para! Se você conseguiu, tenho certeza que não é tão difícil assim. – Sorri de lado, o provocando.
- Tá certo então. Mais três fichas, por favor. – pediu, entregando-me a espingarda. Imitei o que ele tinha feito anteriormente, confiante de que não era assim tão complicado. O que pude constatar que não era verdade, já que a risada alta de fazia questão de jogar na minha cara que eu tinha errado. E feio. Apenas olhei em sua direção, em sinal para que parasse.
- Não estou vendo graça alguma. – Falei.
- Eu vou te ajudar. – posicionou-se atrás de mim, passando seus braços ao meu redor e auxiliando-me a segurar a espingarda. Seus lábios estavam em meu ouvido, dando-me instruções que eu não estava tendo sucesso em prestar atenção. – Entendeu?
- Uhm, aham. Entendi, sim. – O que, raios, ele tinha acabado de dizer? Seus braços ainda estavam ao meu redor e, com a sua ajuda, eu apertei o gatilho e passei bem perto do alvo.
- Bem melhor. – Sua voz estava mais baixa, seus lábios quase tocando minha orelha. – Tenho certeza que conseguirá na última. – Eu respirei fundo, o ar estava, subitamente, pesado. Nada disse, apenas me preparei e disparei, acertando o alvo.
- Consegui. – Falei, meu coração estava acelerado e minha respiração falha. Isso não podia ser resultado da proximidade com , certo? Balancei minha cabeça, tentando afastar esses pensamentos completamente sem fundamento dela.
- Agora é só escolher um brinde.
- Eu não vou ganhar uma pelúcia? – Perguntei, desapontada. apenas riu.
- Acredito que as crianças ficaram bastante felizes com a sua péssima pontaria. – Dei outro tapa em seu braço.
- Sai daqui. – Rimos.
- Acho melhor te levar de volta pra casa, já tá bem tarde. – apontou para o céu escuro.
- Eu nem vi a hora passar!
- Nem eu. – Ele disse, pensativo. – Vamos! – Seguimos em direção ao seu carro e fomos cantando e rindo até minha casa.
- esteve aqui, mas foi embora assim que soube que não estava. Você disse que ele poderia vir te visitar e some o dia inteiro. – Minha mãe nem me deu tempo de dizer “oi”, assim que entrei em casa após me deixar.
- Oi, mãe. Estou bem, sim. foi me buscar e fomos dar uma volta. E a senhora, como está? Ah, que ótimo. Eu estou cansada, vou tomar um banho e descansar.
- Você não tem jeito mesmo. – Dei de ombros e subi para o meu quarto, minha mãe deveria casar com o e me deixar em paz.
Segui para o banheiro, precisando desesperadamente de um banho. Depois de uma ducha rápida, vesti meu pijama e me joguei na cama, o cansaço tomando conta de mim. Fechei meus olhos, deixando que os pensamentos que suprimi durante o dia retornassem à minha mente. Suspirei. O que estava acontecendo?
Primeiro esgueirando-se pela minha mente e me levando a expor coisas que eu não queria. Então ele me abraça e faz tudo parecer muito melhor, me encara como se o mundo pudesse desabar ao nosso redor, mas que nada seria mais importante que eu. Depois a secretária invade a sala e um vazio se instala entre nós, como se nada tivesse acontecido!
Daí o aparece, e o que eu achava que já estava confuso, tomou proporções ainda maiores. Como explicar os arrepios que percorreram meu corpo quando ele estava me ajudando a atirar? Suas palavras ditas próximas ao meu ouvido nunca soaram tão... íntimas.
Eu só podia estar ficando louca.
“Tell me what you want, what you like, It’s ok…”
Ouvi meu celular tocando e apenas estiquei o braço para pegá-lo no criado mudo ao lado da cama.
- Oi. – Atendi sem olhar o visor para saber quem era.
- . Sou eu, .
- Ah, oi, . – Eu estava tão cansada.
- Não sei se sua mãe avisou, mas eu estive aí mais cedo.
- Ela falou. – Até mais do que deveria, mas guardei o comentário para mim.
- Uhm. – Me senti na obrigação de explicar, afinal, eu disse que ele poderia vir me ver.
- passou para me buscar no psicólogo e acabou planejando algumas coisas para nós. Cheguei em casa bem tarde e esqueci completamente. Me desculpe.
- Não, tudo bem. Também não disse que horas iria, você não tinha a obrigação de ficar presa em casa me esperando. – Ele riu. – Bom... Eu estava pensando se a gente poderia sair amanhã. Acho que algumas coisas não foram bem esclarecidas entre nós... – Levantei em um pulo da cama, não gostando do rumo que a conversa estava tomando. Segui para a janela, me deparando com a luz do quarto de sendo acesa. Fiquei no canto, apenas observando se ele estava a fim de conversar hoje, mesmo ainda tendo no telefone. Claro, .
- Uhm, a gente deveria ir com calma, não acha? – Perguntei, prestando mais atenção no quarto do meu vizinho do que no telefonema, confesso.
- Sim, eu concordo... – Quem... Era uma mulher? estava saindo com alguém? – Você entende, certo? – Me aproximei mais da janela, tentando olhar melhor os dois. Eles não estavam nem próximos, mas ela sorria mais do que o sugerido. E ele parecia estar gostando bastante. – ?
- Ah, uhm. Claro, claro. – Falei, virando minhas costas para a janela e fechando a cortina.
- Então você vai aceitar sair comigo amanhã? – Suspirei. Não poderia fazer mal, certo?
- Sim, tudo bem. – Foco, , foco. – Vai ser ótimo, assim vai poder me explicar melhor a cena no hospital, certo?
- Claro, vai ser ótimo termos um tempo só nosso novamente. – falou e me peguei imaginando um futuro para nós, mesmo que um pouco borrado, parecia ao alcance das mãos.
- Sim, vai ser ótimo.
- Então eu passo aí, amanhã, às 20h. Está bom pra você?
- Claro, tá perfeito.
- Nos vemos amanhã, então. – Suspirei, minha mente estava sendo invadida por muitas lembranças. Boas lembranças. – E, , não vou estragar essa chance. Eu realmente sinto sua falta. – Respirei fundo, analisando minhas emoções.
- Até amanhã, . – Melhor permanecer em lugares mais seguros.
- Até amanhã. – Desligamos a chamada, mas permaneci em pé, encarando o nada.
Minha vida era confusa, mas isso está saindo do controle.
Antes que me desse conta, meus pés já estavam me levando para a janela novamente. A luz estava apagada. Será que eles saíram? Ou será que estão... Ok. Eu tenho nada a ver com isso. Ok. Ok.
Fui em direção ao meu guarda-roupa, retirando de lá um álbum com fotos da escola, agradecendo por toda essa loucura ter acontecido no período de férias. estava na maioria das fotos, mas começou a figurar em algumas delas, tomando conta nas mais recentes. Nós fomos felizes. Talvez ainda possamos ser.
estava pontualmente em minha porta às 20h. Minha mãe parecia prestes a soltar fogos. Arrumei-me de uma maneira um pouco formal, se bem conheço , nós iríamos a algum restaurante caro e importante.
- Você está linda. – disse assim que desci as escadas e o encontrei na sala. Ele não estava vestido formalmente, o costumeiro terno dos nossos encontros tinha sido deixado de lado. Olhei-me no espelho da sala, agradecendo por ter deixado meu cabelo solto e ter escolhido um vestido neutro, que se encaixaria em algumas opções.
- Obrigada, você também está nada mal. – Sorri timidamente, aceitando seu abraço e passando meus braços por seus ombros. Não pareceu tão estranho quanto imaginei que fosse.
- Vamos? – Saímos de braços dados. abriu a porta do seu carro para mim e, assim que entrei, ele deu a volta para se sentar no banco do motorista.
- Aonde estamos indo? – Perguntei, extremamente curiosa.
- Isso pode soar meio bizarro, mas a primeira vez que eu te vi não foi na escola. – Arregalei meus olhos, totalmente surpresa com sua fala.
- Não? Mas eu... Eu não lembro... – Ele sorria.
- Você não me viu naquela noite. Você estava com algumas amigas em uma pequena pizzaria, nos arredores daquele clube que você frequenta. Você estava vestindo um moletom e seu cabelo estava em um coque bagunçado. – não conseguia tirar o sorriso dos lábios, seus olhos focados na estrada, mas ainda perdidos nas lembranças.
- Não acredito que se lembra disso! Como nunca me contou?
- O assunto nunca surgiu. – Ele deu de ombros.
- Nós estávamos tendo uma noite das garotas e a despensa da casa de Haley estava vazia, os pais tinham viajado e ela estava comendo fora todos os dias. Nós estávamos com tanta fome que não pensamos duas vezes antes de sairmos de casa em busca de comida, sem nem mesmo nos trocarmos. E o que você estava fazendo lá?
- Era perto da minha casa, eu também estava com fome e com muita preguiça de preparar algo. Então saí pra comprar uma pizza e espairecer um pouco, e foi quando eu te vi. – Senti o carro parar, mas ainda estava embasbacada demais. – Chegamos. – apontou para a pequena pizzaria. Encarei o lugar a nossa frente, tentando reorganizar minha mente. Eu, definitivamente, não estava preparada para isso.
- Não acredito...
- Você não gostou? A gente pode ir para outro lugar, não tem problema, eu só...
- É perfeito. De verdade. – Disse, surpresa com essa atitude tão diferente dele. Não parecia o que terminou comigo de maneira tão súbita e por um motivo tão egoísta. Eu só precisava me controlar e não esquecer dessa parte da história.
- Vamos, eu pedi uma mesa mais reservada para nós, acredito que temos muito o que conversar. – Deixamos o veículo e seguimos para a pizzaria.
- Aquele dia foi realmente muito engraçado. – Disse, em meio a risadas e lembranças dos bons tempos. Nosso pedido já havia chegado e estávamos conversamos enquanto aproveitávamos a excelente pizza do local.
- Eu tenho pensado bastante na gente. Eu fui um babaca. Sei que nunca admiti isso, mas tive bastante tempo pra refletir. – Tomei um pouco do meu refrigerante, absorvendo suas palavras.
- Você sabe que eu não tenho como apagar aquilo, certo?
- Eu sei, mas eu posso tentar compensar a cada dia. Quando eu soube do que aconteceu, eu fiquei louco de preocupação de ter te perdido para sempre. Fiquei sabendo que arrombou a porta do seu quarto pra te tirar de lá, alguém já tinha chamado uma ambulância e tudo acabou bem. Mas foram dias terríveis. – dizia olhando profundamente em meus olhos. Eu não sabia o que dizer.
- , você terminou comigo porque eu não queria transar com você, tem noção do como essa sua atitude egoísta me fez sentir? – Eu soei magoada, mas não podia simplesmente apagar tudo aquilo da minha mente. Ele suspirou.
- Eu sei que fui um idiota. – Ele fez uma pausa, inseguro, de repente. – Por isso que eu fui até o hospital te visitar, mesmo você falando que eu não tinha algo a ver com a situação, eu não podia deixar de me sentir culpado. Mas você estava inconsciente ainda, então fui embora. – Minha mente não conseguia associar a voz de com o homem que esteve no meu quarto, me pedindo com tanto vigor que eu voltasse para ele. – Não tenho o direito de te pedir para esquecer tudo, mas posso te pedir mais uma chance pra fazer tudo dar certo, eu sei que a gente pode fazer isso. Eu, pelo menos, não te esqueci. – Eu nada disse, tendo muita coisa em mente. Por mais que tenha admitido ter sido um idiota e seu real motivo para terminar comigo, meu coração ainda estava dividido. tinha sido maravilhoso essa noite, mas eu ainda tinha medo de ser enganada novamente.
- Eu preciso pensar, . Acho melhor nós irmos, já está ficando bem tarde. – Ele assentiu e pagou a conta. Deixamos a pizzaria logo em seguida, ainda em silêncio.
parou o carro em frente a minha casa, virando-se para mim. Ele parecia lutar com as palavras.
- Eu só... Só queria pedir pra não me afastar. Eu sei que agi errado com você, mas eu quero tentar de novo. Eu vou respeitar o seu tempo, só peço que me deixe lutar por você, por nós. – Eu suspirei mediante suas palavras, que atingiram em certo meu coração, confundindo ainda mais minha mente. Eu assenti, já indicando que deixaria o carro. aproximou seu rosto do meu e me deu um beijo na bochecha. Quando ele se afastou, nossos olhares se encontraram, mas logo seus olhar estava sobre a meus lábios. A tensão dentro do carro aumentou, e por mais que eu soubesse que deveríamos ir devagar, não pude impedir o beijo que aconteceu em seguida.
Os lábios de estavam suaves sobre os meus, sem pressa. Aprofundamos o beijo, colocou uma de suas mãos sobre meu rosto, fazendo um carinho sobre minha bochecha. Quando dei conta do que estava acontecendo, interrompi o beijo antes que a situação fugisse do meu controle.
- Vamos devagar, .
- Me desculpe. Devagar, claro. Se é assim que você quer, assim será. – Ele sorriu para mim.
- Boa noite. – Saí do carro rapidamente. Meu olhar logo seguiu para a janela do quarto de , que teve sua luz apagada assim que o carro de deu partida.
Uma semana tinha se passado desde minha última sessão com e hoje teríamos que nos encontrar novamente. Eu estava um pouco receosa, confesso. Subi para o andar onde ficava seu consultório, a passos lentos.
Cheguei e fui diretamente falar com a secretária, que me mandou entrar poucos minutos depois. Respirei fundo e entrei.
- Oi, . – disse assim que eu passei pela porta. Ele estava apoiado na frente da sua mesa, com as mãos no bolso da calça.
- Oi. – Falei, insegura.
- Nós precisamos conversar sobre o que aconteceu semana passada.
- Sempre direto ao ponto. – Sentei no sofá, mas não deu sinal de deixar sua posição.
- Mesmo que não faça ideia de como começar essa conversa. – Ficamos nos encarando por um tempo, as palavras pareciam ter sumido de nossas mentes. – Ok. Rolou uma certa tensão entre nós na semana passada e eu sinto que talvez tenha te encorajado de alguma forma. Não sei se posso chamar isso de atração, eu realmente não sei o que aconteceu, mas não irá se repetir. – Ele ficou pensativo, de repente. – Eu omiti algo de você, porque acreditei que dessa forma eu conseguiria me conectar melhor com você, talvez me aproximar mais, deixar tudo apenas entre nós dois. Mas...
- Mas... – O encorajei, confusa e perdida com toda aquela informação. Eu tinha sentido, sim, essa tensão, essa atração. Mas preferi não fantasiar sobre isso, minha mente já estava cheia o suficiente.
- Mas tem outra pessoa. – retirou sua mão direita do bolso, uma enorme aliança dourada brilhando em seu dedo anelar, indicando que ele estava noivo. Excelente.
- Uau. Por essa eu não esperava. – Desviei meu olhar e permaneci sentada, em silêncio, no sofá. Parando para analisar friamente a situação, não tinha obrigação alguma de me contar algo. Tudo bem que a situação constrangedora de agora poderia ter sido evitada se eu soubesse que ele era comprometido.
- Eu sei. – Ele caminhou até sua poltrona. – Eu só precisava deixar tudo claro. Eu sei que nada aconteceu, mas eu precisava esclarecer isso o quanto antes pra evitar problemas no futuro.
- Você poderia ter evitado o que está acontecendo nesse momento. – Disse, revirando os olhos.
- Eu sei, e sinto muito por isso.
- Eu estou um momento frágil, , não precisa se preocupar com isso. Acredite, tenho muita coisa na minha mente pra sequer pensar nisso. Ainda mais com meu psicólogo! – Nossos olhares encontraram e um acordo silencioso foi velado. Os sorrisos, aos poucos, retornaram aos nossos rostos, mesmo que uma dúvida sobre a continuidade do tratamento com ele permanecesse em minha mente.
- Agora que esclarecemos tudo, precisamos resolver mais uma coisa. Como se sente em relação a continuar seu tratamento comigo?
- Andou fazendo cursinho pra ler mente agora? – Ele sorriu. – Não sei, . É meio estranho. Foi uma situação bem estranha semana passada, e agora você chega e fala que é noivo. – Fiz uma pausa, minha mente a mil por hora.
- Mas... – Ele incentivou.
- Mas eu nunca tinha conseguido falar abertamente daquele jeito. Tudo bem que foi tudo jogado, mas só o fato de falar já deixa as coisas muito mais reais e assustadoras.
- Nós podemos tentar e no final da sessão de hoje você me dá uma resposta. O que acha?
- Excelente ideia. – Nos ajeitamos em nossos lugares, encarando um ao outro.
- Então me conta o que está acontecendo na sua vida nesse momento. Você levantou alguns problemas e eu gostaria de entender melhor. Você comentou do seu ex, você ainda mantem contato com ele?
- Tem certeza que não está lendo minha mente? – revirou os olhos. – Ok, ok. Nós meio que saímos ontem.
- Certo. – Ele não conseguiu conter seu olhar espantado. – E como foi que você se sentiu?
- Especifique. – Tentei ganhar mais tempo, me julguem.
- Vamos por partes então. Eu vou falar um momento e você vai me falar a primeira palavra que passar pela sua mente.
- Não sei se eu gosto disso.
- Vamos começar. – apenas me ignorou. Ótimo. – Como foi quando o viu logo depois do acidente?
- Estranho.
- E quando conversaram pela primeira vez?
- Confuso.
- Quando ele te chamou para sair, o que sentiu?
- Raiva. – Oh, oh.
- Essa é uma palavra interessante. Voltaremos nela depois.
- Acho que não devemos nos prender ao passado! – Tentei soar divertida, porque não estava nem um pouco a fim de explicar a raiva.
- Gostei do seu otimismo. – falou, irônico. – Como se sentiu durante o encontro?
- Em um conflito interno.
- Ok. E depois do encontro?
- Não sei. – Suspirei, afundando-me no sofá. – Esse jogo não é divertido.
- Me fala mais sobre a raiva. Era dele? De você? Do que aconteceu? – Permaneci em silêncio, eu definitivamente não queria explicar a raiva. – O que você está me escondendo?
- Nada...? Tá bom! Eu meio que estava espiando meu vizinho pela janela, e ele meio que estava acompanhado... E, talvez, algo bem remoto, eu tenha ficado um pouco irritada com a cena. Mas foi coisa boba, sabe, nós temos nada, nem nunca tivemos...
- Mas vocês se falam?
- Bom, tecnicamente, sim. – Falei, sincera.
- Tecni...
- Senhor , sua próxima paciente chegou. – Respirei audivelmente, fazendo me encarar com um olhar nada amigável. Até parece que a culpa era minha.
- Ok, já estou terminando. – Ele falou, voltando-se para mim. – E então?
- Então que eu estou indo. – Levantei-me rapidamente, já seguindo para a porta.
- Não está esquecendo que me deve uma resposta sobre a nossa conversa no início?
- Ah, sim. Claro. - Sorri timidamente para ele. – Até semana que vem, . – Falei e saí, deixando um sorridente para trás.
Segui calmamente para o elevador, sentindo que um grande peso havia sido retirado das minhas costas. É claro que não deixaria a história com o pra trás, mas eu vou pensar em alguma coisa. Retirei meu celular do bolso, já buscando o número da minha casa para que alguém viesse me buscar. Entretanto, antes que eu pudesse finalizar a chamada...
- , que surpresa. – Ai, meu Deus.
- ! Você por aqui. – Desliguei meu celular, o guardando novamente. O que ele estava fazendo aqui?
- O escritório da minha mãe é aqui. – Ele apontou para a porta onde a senhora trabalhava. Como eu nunca tinha reparado? - Mas e você?
- Eu estava no psicólogo. – Falei, meio envergonhada.
- Isso é ótimo, fico feliz que tenha procurado ajuda.
- Eu meio que não procurei, sabe, mas aqui estou. – Nós rimos. Eu estava nervosa. O elevador tinha acabado de descer e ficamos os dois olhando um para a cara do outro, em um silêncio bem desconfortável.
- Uhm, você está indo pra casa? – Ele perguntou, tão constrangido quanto eu.
- Sim. Vou ligar lá pra casa agora. – Retirei meu celular novamente do bolso, mas colocou sua mão sobre a minha, impedindo-me de fazer a ligação.
- Eu estou de carro, eu te levo.
- Não precisa... Bom, eu ia falar que não precisa se incomodar, mas como somos vizinhos... – , para de ser idiota. O elevador chegou ao nosso andar, me salvando de falar qualquer outra besteira.
- Vamos então. – me deu passagem, entrando no elevador logo depois de mim. Descemos em silêncio, o elevador estava bem cheio, o que acabou sendo excelente. – Meu carro está por aqui. – nos levou até seu carro, abrindo a porta para que eu pudesse entrar. Assim que deu a partida, ele ligou o rádio, deixando uma música qualquer bem baixinha ao fundo.
- Nossas conversas por cartazes não costumam ser tão estranhas. – Soltei, não aguentando o clima esquisito que estava entre nós. caiu na gargalhada, respirando fundo e concordando comigo.
- Era exatamente o que eu estava pensando. Os cartazes provam que podemos ter uma conversa decente.
- Concordo plenamente.
- Então... – começou, ainda incerto. – Eu ainda estou esperando seu número de telefone, sabe. – Sorri, relembrando nossa última conversa.
- Ainda não sei se você merece. – Ai, caramba. Como isso saiu da minha boca?
- Como assim? – Ele parecia surpreso com a minha resposta, mas ainda tinha um sorriso em seus lábios.
- Vi que estava com uma amiga outro dia. - Acho que vou fazer um voto de silêncio depois de hoje.
- Oh. Isso. – estava com um sorriso nos lábios. Desviei meu olhar, encarando a rua. – É apenas uma amiga. – Informação interessante. – Também te vi chegando com seu ex ontem, vocês voltaram a namorar? – Então ele estava me olhando. Segurei o sorriso nos meus lábios, não querendo demonstrar minha satisfação.
- Não estamos namorando. – Falei e senti o olhar de sobre mim, assim que paramos no sinal. Nos encaramos por um momento, mas a luz verde logo apareceu e teve que colocar o carro novamente em movimento. Suspirei quando avistei minha casa.
- E então? – falou assim que estacionou.
- O quê? – Perguntei, meio boba com o sorriso que ele estava lançando em minha direção. – Oh. Meu número. Ok. Acho que você merece tê-lo.
- Fico feliz que tenha conquistado sua confiança. – Nós dois estávamos com sorrisos enormes nos lábios. me passou seu celular e eu anotei meu número nele. O entreguei o aparelho, já me preparando para sair do carro.
- Muito obrigada pela carona. – permanecei em silêncio, então segui a deixa e saí do carro. Olhei para trás uma única vez e comecei a andar até minha casa.
- , espera. – Virei-me ao ouvir me chamar e a outra porta do carro ser batida. vinha em minha direção. – Eu estava pensando... Talvez a gente pudesse dar uma volta, não sei. Sair. – Mordi meu lábio inferior, contendo um sorriso.
- Acho uma excelente ideia.
- Ótimo. Te mando uma mensagem então. – falou, mas não fez menção de ir embora. Ele deu um passo a frente, mas logo recuou quando. Estranhei sua atitude, mas logo entendi quando apareceu ao meu lado.
- Achei que não fosse chegar hoje ainda. – falou, aproximando-se com cautela de nós.
- Encontrei no prédio e estávamos conversando. – Os dois se encaravam, como se estivessem tendo algum tipo de conversa silenciosa. Uma tensão se estabeleceu entre os dois, mas não consegui distinguir o que exatamente estava acontecendo. Era como se eu tivesse perdido uma parte muito importante de um filme para que eu pudesse entender o final.
- Eu acho melhor eu ir. A gente se fala, .
- Vou ficar esperando. – Sorri para ele. retribuiu meu sorriso e foi para seu carro.
e eu voltamos para a minha casa, ele ainda estava em silêncio e com uma expressão pensativa.
Quando chegamos ao meu quarto, liguei a tv e me joguei na cama. sentou ao meu lado, colocando minha cabeça sobre seu colo e fazendo carinho em meu cabelo.
- Como foi a consulta?
- O que você tem, ? Parece que viu um fantasma.
- Nada, está tudo bem. Só estava lembrando de uma coisa, mas nada importante. Me conta, ocorreu tudo bem?
- Sim, é ótimo.
- É mesmo? – Ele arqueou uma sobrancelha, focando sua atenção em mim. – Você sabe que também pode conversar comigo sobre tudo, certo?
- Eu sei. – Suspirei, acomodando-me melhor na cama.
- Você está mesmo se sentindo melhor?
- Eu estou ótima, . – Falei, logo sentindo aonde ele queria chegar. pegou um de meus pulsos, cobertos por pulseiras de propósito.
- Não sentiu mais a necessidade de aliviar a dor no peito? – Ele perguntou bem baixinho, em um tom bastante preocupado. Eu levantei e encarei. Toquei seu rosto, tentando acalmá-lo. Estava extremamente emocionada com sua preocupação.
- Eu estou bem, de verdade.
- Você me contaria caso...
- Sim, prometo a você.
- Ótimo. – respirou fundo e continuou me encarando. Desviei meu olhar, o ar estava começando a faltar. O que tinha acontecido com esses homens?
- Eu preciso de um banho, fique à vontade. – Levantei rapidamente, pegando qualquer roupa mais confortável no guarda-roupa e indo tomar um banho.
, e . Minha cabeça parecia em um círculo vicioso, pelo menos não estava mais nele.
Saí do banheiro e encontrei deitado na minha cama e assistindo a um episódio de Game Of Thrones.
- Ei, por que não me esperou? – Perguntei, já me juntando a ele na cama.
- Você estava demorando demais. – passou seu braço sob minha cabeça, puxando-me para seu peito. Enquanto ele mexia em meu cabelo, eu me forçava a prestar atenção na televisão, algo que não estava dando muito certo. Já na metade do episódio, ouvi meu celular tocar, mas ele estava ao lado de . Ele o pegou, mas não sem olhar no visor. – Por que o está te ligando, ? – Arregalei meu olhos, encarando o humor do meu amigo mudar drasticamente. Nunca tinha visto tão irritado como quando contei o motivo de ter terminado comigo.
- Me dá meu celular, . – Pedi. Ele me entregou o aparelho, mas sua expressão de surpresa não deixou seu rosto.
- Oi, . – Atendi e deixei o quarto. Como foi que eu me meti nessa situação?
- Oi. Como você está?
- Bem. Você? – Respondi, ainda em um tom baixo para que não escutasse.
- Também. Eu liguei pra saber se gostaria de dar uma volta, não sei, ou posso ir até aí pra gente passar um tempo juntos.
- NÃO! Digo, não é uma boa ideia, . está aqui, melhor ficar pra próxima.
- Acho que seu amigo me odeia.
- Você acha? – Perguntei, inocente, a ironia escorrendo pelos meus lábios. sorriu.
- Tudo bem então, acredito que já estará em problema o suficiente só por eu ter ligado.
- É bem provável.
- Acho melhor eu desligar então. Nos falamos depois? – Ele perguntou, ansioso.
- Claro, a gente se fala.
Finalizamos e chamada e eu respirei fundo antes de retornar para o quarto. estava emburrado encarando a televisão, mas eu tinha certeza que não estava prestando atenção. Voltei para a cama, sentando ao seu lado. Ele nem seu mexeu, ou virou para me encarar, pelo menos não até meu celular apitar, indicando que uma mensagem tinha chegado. Eu não conhecia o número.
“Acho que eu esqueci de te passar meu número. .”
Sorri instantaneamente, o que fez resmungar audivelmente. Antes que eu pudesse responder, outra mensagem chegou.
“Eu também queria saber se você está livre amanhã à noite.”
O sorriso aumentou em meus lábios, mas não tive a chance de responder prontamente, porque chamou minha atenção.
- Não acredito que você está falado com ele novamente. – Ele parecia extremamente chateado. Ele falou em um tom baixo, encarando nada enquanto dizia.
- Nós conversamos, , ele mudou.
- Você sabe que eu não acredito nisso. E quando vocês conversaram? – Acho que eu não comentei isso com ele, droga. Encarei meu celular, achando melhor responder logo, antes que ele desistisse.
“Estou livre, sim! O que tem em mente?”
Mandei e voltei minha atenção para , que revirou os olhos ao ver que eu não estava prestando atenção nele.
- Talvez a gente tenha saído ontem.
- Vocês saíram? Tipo um encontro? – Meu amigo perguntou, seus olhos sendo tomados por uma decepção clara.
- Não foi um encontro, nós só conversamos.
- E isso bastou pra que você esquecesse tudo o que ele te fez?
- Eu não esqueci, . – Ele suspirou, balançando a cabeça e sentando na cama. – Eu não consigo aceitar isso, o cara foi um babaca.
- Ele foi, e ele admitiu isso.
- E bastou ele constatar o óbvio pra você o aceitar de volta?
- Eu não o aceitei de volta, nós só saímos para conversar. Ele estava preocupado, achou que tinha sido, de alguma forma, responsável pelo que aconteceu. – se encolheu, como se a lembrança de me encontrar no chão do meu quarto, após ter arrombado minha porta, estivesse muito forte em sua mente. Me aproximei dele, o abraçando de lado.
- E ele teve? – Ele perguntou, se eu não estivesse tão próxima, com certeza não teria ouvido.
- Não. Não posso te falar que não doeu quando ele terminou comigo, mas não consigo culpá-lo. – me abraçou fortemente, beijando meu cabelo.
- Ainda bem, porque estou muito novo pra ser preso.
- ! – Bati em seu peito. – Nem brinca com uma coisa dessas.
- E quem disse que eu estava brincando?
- Para, menino! – Ele acabou cedendo e rindo comigo.
e eu passamos o resto da tarde juntos. Assistimos comédias no Netflix, comemos sorvete e jogamos conversa fora. Era tão bom poder passar esse tempo com ele. me fazia tão bem, eu me sentia tão leve em sua companhia.
Algumas vezes eu o peguei encarando meus lábios, mas ele logo voltava seu olhar para os meus olhos, sem nunca expressar o que se passava realmente em sua mente. Por mais que seja difícil para as pessoas acreditarem, nós nunca nos envolvemos amorosamente, digamos assim. Mas confesso que programas como o de hoje não ajudam muito a convencer as outras pessoas. Nós sempre andamos abraçados, ou muito próximos um do outro. E também seria louca se falasse que não é atraente, porque ele é. E de uns tempos para cá, isso estava se tornando cada vez mais evidente para mim.
Meu celular tocou novamente, me despertando dos meus devaneios acerca da beleza de . Era uma nova mensagem de .
“Não vou te falar, é surpresa. ;)”
“Então como vou saber o que vestir?”
Enviei a mensagem e segui para a janela do meu quarto, na expectativa que pudesse vê-lo. estava me encarando, como se me esperasse. Ele sorriu, e eu respondei timidamente.
“Não é nada chique, vista-se de maneira confortável.”
“Isso não é justo.”
Mandei a mensagem e lancei meu olhar inconformado para ele, que apenas ria.
“Você fica linda de qualquer jeito, não precisa se preocupar com isso.”
Senti minhas bochechas corarem, abaixando meu rosto e fingindo encarar algo no celular. Olhei de relance para ele, mas apenas sorria.
“Esse novo jeito de conversa não é tão divertido quanto os cartazes, mas até que eu gostei.”
Achei melhor mudar de assunto, não podia responder falando que ele ficava maravilhoso de qualquer jeito, inclusive quando acaba de acordar, apenas com uma calça de moletom e cabelo bagunçado. Claro que u não poderia falar isso, porque então ele saberia que eu olho para a sua janela muito mais do que deveria.
“E nós nem estamos sem assunto!”
Ele lembrou do nosso momento constrangedor de mais cedo. Eu sorri para ele.
“Verdade, acho que somos melhores com as palavras escritas do que com as ditas.”
Ele pareceu ponderar.
“Concordo, ou eu fico tão nervoso perto de você que não consigo pensar em nada bom o bastante.”
Arregalei meus olhos e o encarei, sem saber o que digitar depois disso.
“Talvez isso também possa se aplicar a mim.”
Seu sorriso em resposta valeu toda a minha sinceridade. Alguém bateu em sua porta, e acenou que teria que ir.
“Amanhã, às 19h. Pode ser?”
“Estarei pronta!”
E assim ele saiu, e eu fiquei largada na cama pensando no que vestir e o que estava aprontando.
Passei o dia inteiro tentando adivinhar onde iria me levar, mas não consegui chegar em nenhuma opção satisfatória. Ainda faltava cerca de meia-hora para que chegasse, mas eu já estava pronta e extremamente ansiosa. Tinha trocado algumas mensagens com e durante o dia, mas nem deu sinal. Me impedi de mandar alguma mensagem, mesmo que as dúvidas estivessem borbulhando em minha mente. Às 19h a campainha da minha casa tocou, como já estava na sala, corri para a porta. Respirei fundo e a abri, deparando-me com um ainda mais maravilhoso da minha frente. Ele sorriu de canto, medindo-me de cima a baixo.
- Você está linda. – Sorri timidamente, despedindo-me da minha mãe, que estava olhando sobre os meus ombros para do lado de fora.
- Você não está nem um pouco atrás. – Falei, já com a porta fechada atrás de nós. Nós apenas sorrimos um para o outo enquanto caminhávamos até seu carro. Já acomodados, ligou em uma rádio qualquer e começou a dirigir. – Não vai mesmo me contar para onde estamos indo?
- Vou segurar a surpresa pelo menos por mais um pouco, você vai descobrir assim que nos aproximarmos, de qualquer forma. – Ele sorriu. Eu não me cansava de olhar para ele.
- Interessante essa informação. É longe daqui? – Sua gargalhada preencheu o carro.
- Você é uma pessoa muito ansiosa, sabia? – Dei de ombros e fiz uma cara de desinteressada, o que apenas o fez rir mais.
- Eu gosto do seu sorriso. – Falei sem pensar, logo desviando meu olhar para a janela. O carro parou no sinal e tocou meu braço, chamando minha atenção para que eu olhasse para ele.
- Não precisa ficar com vergonha, eu gosto de tudo em você. – Minhas bochechas logo coraram e agradeci aos céus pelo sinal ter aberto. virou para frente, colocando o carro novamente em movimento. – Me diz, qual seu artista favorito? – Ele perguntou após alguns minutos.
- Uhm, essa é uma pergunta muito difícil. Eu gosto de muita gente.
- Fale alguns então. – Ele sorria, como se estivesse esperando apenas o momento certo para revelar algo muito importante.
- Eu amo a Demi Lovato, acho aquela mulher sensacional. E também sou apaixonada pelo Ed Sheeran, amo aquele ruivo maravilhoso. – Falei, sorrindo pela careta que fez.
- Então você definitivamente vai gostar da surpresa que preparei. – Ele estacionou o carro e apontou para uma fila, na qual várias pessoas estavam usando camisas e segurando faixas sobre o Ed. saiu do carro e veio abrir a porta para mim, eu ainda estava muito surpresa para conseguir me mover. Assim que caí em mim, saltei do carro e pulei em cima do .
- Não acredito que você tem ingressos para esse show! Ele vai ser para poucas pessoas e bem íntimo! Como... Como? COMO? – ria da minha animação, me guiando para a entrada do local, com uma mão apoiada no fim das minhas costas.
- Minha mãe conseguiu os ingressos, um dos clientes dela trabalha da produção.
- Eu preciso comprar um mega presente pra sua mãe! Não acredito que vou ver o Ed! – Abracei novamente, que me apertou em seus braços. – Muito obrigada, de verdade. Essa é a melhor surpresa que eu poderia ter!
- Fico feliz que tenha gostado. – falou no meu ouvido, me soltando assim que a fila começou a andar.
Já acomodados lá dentro, estava ao meu lado, apenas me encarando enquanto eu olhava admirada toda a pequena estrutura preparada para o show. O palco era pequeno e as luzes estavam fracas, dando um ar bastante envolvente ao local.
Quando Ed subiu ao palco, passou seus braços pela minha cintura, colocando-me na sua frente. Confesso que imaginei que ele nem conhecesse as músicas do Ed Sheeran, mas me surpreendi ao ouvi-lo cantar quase todas no meu ouvido.
- Fã do Ed também? – Virei-me para ele.
- O cara é um gênio. Olha tudo o que ele é capaz de fazer sozinho no palco! – falou, admirado. Sorri para ele, nossos olhares se encontrando e nossas respirações falhando. Ed começava uma nova música ao fundo, sua batida lenta fez com que e eu nos aproximássemos mais.
And with a feeling I'll forget, I'm in love now
Kiss me like you wanna be loved…”
E como se fosse uma ordem, nossos lábios se encontraram. logo me envolveu em seus braços e eu passei os meus sobre os seus ombros. Estávamos completamente perdidos um no outro, nos entregando ao beijo como se nada mais no mundo realmente importasse.
Aos poucos, nós fomos nos separando, nossos olhos fechados e corações acelerados. Abri meus olhos lentamente e encontrei sorrindo para mim. Um sorriso logo apareceu em meus lábios e me deu um breve selinho, virando-me novamente de costas para ele. E, abraçados, aproveitamos o resto do show, e não tinha nenhum outro lugar do mundo onde eu quisesse estar.
O show terminou por volta das 21h, então e eu decidimos sair para comer alguma coisa. Ainda no clima do show, fomos jantar em um restaurante ali perto. Nossos olhares não desviavam, nossas mãos não se separavam... Parecíamos dois adolescentes descobrindo o que era se apaixonar.
Pouco mais das 22h, me deixou em casa, despedindo-se com um longo beijo e um olhar que transmitia a mensagem que aquele não era o fim.
Quando entrei em casa, minha mãe ainda estava sentada na sala, assistindo televisão.
- Chegou cedo. – Ela disse.
- Sim. – Disse, apenas. Um sorriso bobo figurava em meus olhos.
- Não sabia que eram próximos. Ele esteve aqui no dia... No dia do seu acidente, mas como você disse que não queria ser incomodada e eu não sabia que eram amigos, pedi pra voltar outra hora. E depois que o vi saindo do seu quarto no hospital, soube que tinha me equivocando. – Eu estava tão surpresa, que minha mãe logo levantou do sofá e veio em minha direção. – , você está bem?
- Mãe, o foi me visitar no hospital? – Eu perguntei, ignorando a pergunta da minha mãe. Ela arqueou uma sobrancelha, não entendendo o porquê da minha pergunta.
- Não, ele não foi. Mas ele estava conversando comi...
- A senhora tem certeza?
- Tenho, eu vi a lista de todas as pessoas que entraram no seu quarto, lá tem esse controle de visitas. O próprio também admitiu...
- Eu preciso sair, mãe. – A interrompi, saindo correndo de casa. Eu precisava falar com . Parti em disparada até sua casa, não sabendo exatamente o que eu estava fazendo, eu só precisava ir até lá. Toquei a campainha e a senhora abriu a porta.
- Oi, , você está bem? Parece pálida. – Ela falou preocupada.
- Senhora , eu preciso falar com o . – Antes que ela pudesse me responder, ele apareceu na escada, vindo em minha direção. Assim que notou meu estado, veio correndo até mim.
- Você está bem?
- Eu preciso falar com você. – Falei e virei as costas, indo para o gramado em frente a casa do .
- Aconteceu alguma coisa? – Ele estava preocupado e eu via em seus olhos que meu comportamento o estava assustando.
- Você foi me visitar no hospital, ? – Fui direto ao ponto. Se não foi o ... – Me diz, , eu preciso saber. – Ele suspirou, surpreso.
- Fui, mas você não estava consciente. Soube que acordou mais tarde naquele dia, mas achei melhor não voltar.
- Por que você não me contou?
- Achei que... Você estava ouvindo? – se aproximou de mim, mas eu dei um passo para trás, confusa demais.
- O que você foi fazer lá? – Ele recuou com a minha pergunta.
- Eu imaginava o que você estava fazendo com você mesma há algum tempo, eu conseguia ver parcialmente o seu quarto, por mais invasivo que isso possa soar. Mas eu estava tão preocupado com você e eu não sabia como me aproximar! Você estava com o e eu nunca conseguia dizer as coisas certas quando estava perto de você.
- Por isso... Agora todas as nossas conversas fazem sentido, você sempre soube. – Eu estava tão envergonhada, eu me senti tão fraca e exposta que eu precisei colocar ainda mais distância entre nós.
- Não se afasta de mim, por favor. Nós tivemos uma noite tão maravilhosa, por favor. – Eu... – Dei mais alguns passos para trás. – Eu preciso encontrar o . – Disse e saí, deixando me encarando como se tivesse me perdido para sempre.
Disquei o número de um táxi e fui para a casa do meu amigo. Assim que o táxi chegou, enviei uma mensagem para que me esperasse do lado de fora da sua casa.
A sorte foi que não deixei a bolsa que levei para o encontro com o em casa. Paguei o taxista e encontrei extremamente preocupado em pé em frente a sua casa. Assim que desci, ele veio correndo em minha direção, me envolvendo em seus braços e me acalmando.
- O que aconteceu, ? – Eu apertei meus braços em sua cintura, buscando todo o conforto que só ele conseguia me dar.
- O mentiu pra mim de novo, . Ele não foi me visitar no hospital, ele sabia que era importante eu saber disso e mentiu pra mim. E o .
- O que tem o ?
- Foi ele, , ele que foi o cara que me visitou enquanto eu estava inconsciente. – suspirou. Ele me afastou dele, encarando meus olhos.
- ...
- Ele sempre soube, ! O via do quarto dele, por isso que ele sempre se mostrava tão preocupado e sempre me distraía quando ambos estávamos em casa. – Eu falei, tentando colocar um pouco de ordem nos meus pensamentos.
- Eu preciso te contar uma coisa. – levou suas mãos ao seu rosto, seus olhos estavam tão aflitos que eu podia sentir meu coração quebrar só de olhar para ele. – No dia que eu praticamente invadi sua casa pra te salvar, o esteve lá antes de mim, mas sua mãe não o deixou entrar. Ele me encontrou quando estava saindo, ele disse pra eu ir rápido porque você precisava de ajuda. Acredito que ele que ligou pra ambulância antes mesmo de eu entrar na sua casa, se ele não tivesse chamado, talvez tivesse sido tarde demais.
- Ele... – Minha cabeça rodava. Eu me afastei de , fechando meus olhos com força e levando minhas mãos até minha cabeça. As lágrimas já escorriam pelo meu rosto livremente, meu coração estava batendo tão freneticamente que eu sentia que poderia desmaiar a qualquer momento.
- , olha pra mim. – me virou para ele, retirando minhas mãos da minha cabeça e limpando minhas lágrimas. – O que está acontecendo?
- Eu estou tão confusa, eu não sei o que fazer, . – Ele se afastou de mim, como se ponderasse algo para dizer. Sua luta interna acabou e ele voltou para perto, olhando intensamente em meus olhos.
- Eu te amo, . Eu sinto que eu estou te perdendo e eu não posso deixar isso acontecer sem lutar de novo. Eu amo você. – Encarei como se ele estivesse falando em um outro idioma.
- Você... Você...
- Eu não posso mais esconder isso de você. Quando eu arrombei a porta do seu quarto e te encontrei deitada e cheia de sangue naquele chão, eu senti como se uma parte de mim estivesse morrendo. Quando você acordou, eu jurei pra mim mesmo que iria lutar por você, lutar pelo que eu sinto. Eu sei que você está confusa, que talvez nunca tenha me enxergado como algo além do seu melhor amigo, mas eu sei que a gente pode dar certo. – Meu coração apertou. estava chorando nesse momento e nesse instante eu vi muito mais que meu amigo de tantos anos, eu percebi o homem que ele tinha se tornado e o quão importante ele para mim. e eu passamos por tantas coisas, ele esteve ao meu lado em todos os momentos da minha vida. Eu não conseguia imaginá-la sem ele, mas eu ainda não sabia qual lugar ele estava ocupando nela.
Percebendo isso, se aproximou de mim. Suas mãos foram postas em meu rosto e seu olhar mostrava todo o amor que ele tinha para me dar. E então ele me beijou, e foi naquele momento que meu coração tomou a decisão.
Epílogo
5 anos depois...
Eu estava tão nervosa, hoje era o grande dia da minha formatura. Toda a minha família estava ali e eu mal podia esperar. Eu estava na fila dos formandos, não em meu lugar habitual, aguardando que meu nome fosse chamado. Assim que a pessoa que estava na minha frente foi chamada, logo me preparei. Respirei fundo e me levantei, buscando minha família com o olhar.
- Senhorita... Oh, me desculpe. Senhora . – Eu nunca me cansaria de ouvir meu nome assim. Segui em direção a pessoa que estava distribuindo os famosos canudos e peguei o meu, posando para a foto. Encarei meu marido na plateia, estava com um sorriso de orelha a orelha, tirando foto de cada detalhe. Nossos olhares se encontraram e ele piscou para mim, fazendo com que um arrepio percorresse meu corpo. Fui em direção aos formandos que já tinham sido chamados e sentei-me com eles, aguardando as próximas etapas da cerimônia.
Assim que tudo acabou e o local estava preenchido pelos capelos que foram, como de costume, jogados para o alto, segui em direção a minha família. Primeiro cumprimentei meus pais, ambos extremamente felizes por eu ter escolhido cursar administração e, em breve, assumir a empresa deles. A seguir, veio .
Meu melhor amigo estava ao meu lado em mais uma etapa importante da minha vida. Nós passamos por uma crise em nossa amizade. Aquele único beijo que aconteceu há anos me fez enxergar que todo o amor e carinho que eu sentia por ele era amizade. Ele percebeu assim que nos separamos que eu precisava estar em outro lugar, que meu coração tinha tomado a decisão que minha cabeça confusa não conseguia.
Por mais que a rejeição tenha sido difícil, me levou de volta para casa, mesmo tendo a certeza que meu destino final seria a casa do vizinho. Nenhuma palavra foi dita em nossa despedida, nossas emoções estavam dominadas por sentimentos diferentes e aquela conversa aconteceria mais tarde.
Ainda no primeiro toque, atendeu o celular, correndo para a porta da sua casa quando disse que o estava esperando. Quando eu o vi, eu senti todo o meu mundo desmoronar, eu sabia que correria pelo fogo por ele, que eu arriscaria tudo por aquele que lutou contra a escuridão para me trazer de volta a vida.
Assim que me soltou de seu abraço, estava atrás dele, ansioso pela sua vez de me parabenizar.
- Oi, senhora . – Ele me abraçou apertado. – Parabéns, meu amor, você merece.
- Obrigada, senhor . – Nós rimos, ainda soando estranho, mesmo que fosse maravilhoso. e eu nos casamos três anos depois e nosso casamento vai maravilhosamente bem, obrigada.
- Viu a surpresa quando me chamaram de senhora? Eu tive que me segurar pra não rir!
- Sua mãe teve que me dar um tapa pra que eu parasse! – Ele passou o braço pela minha cintura, nos guiando para fora do auditório.
- Eles estão no sétimo céu depois que resolvi cursar administração.
- Fico tão feliz que as coisas entre você e seus pais tenham se acertado. – Ele deu um beijo na minha bochecha.
- Eu também.
Chegamos ao local da festa. Meus pais, e Lindsay, sua namorada, também estavam na nossa mesa. Assim que e eu chegamos, minha mãe veio novamente em minha direção, seus olhos cheios de lágrimas.
- Quando você vai contar pra ele? – Ela perguntou em meu ouvido. Arregalei meus olhos em sua direção, surpresa com sua pergunta. Ela apenas sorriu, voltando para a mesa e sentando ao lado do meu pai.
Uma música lenta começou a tocar e logo colocou-se de pé, estendendo sua mão em minha direção.
- Me concede a honra dessa dança, senhora ? – Assenti, sorrindo, e peguei sua mão, indo para a pista de dança. passou seus braços pela minha cintura, colando nossos corpos.
- Eu tenho uma coisa pra te contar. – Comecei, sentindo que aquele era o momento certo.
- O quê? – Meu tom sério fez com que ele afastasse nossos rostos para que pudesse me olhar. Respirei fundo.
- Nossa família vai aumentar. – me encarou, seus olhos revezando entre meu rosto e minha barriga. – Eu estou grávida. – O sorriso que me deu foi tão radiante, que lágrimas logo já estavam percorrendo pelo meu rosto.
- Grávida? Nós vamos ter um bebê? Eu vou ser pai? – Ele soltou um monte de perguntas, ainda em choque com a notícia. – Eu amo tanto você! – me abraçou novamente, ajoelhando na minha frente e beijando minha barriga. Eu ria, mas um pouco envergonhada pela atenção que seu gesto trouxe.
- Então você está feliz com isso? Sei que estamos casados há pouco tempo, eu acabei de me formar, mas... – me beijou, interrompendo minha fala nervosa.
- Não existe alguém mais feliz nesse mundo do que eu. – Ele disse, distribuindo beijos pelo meu rosto. – Mas precisamos estabelecer algumas regras, caso seja menina.
- É mesmo? Quais? – Arqueei uma sobrancelha em sua direção, curiosa com o que ele estava prestes a dizer.
- A primeira é que ex namorado está proibido dentro da nossa casa. – Eu gargalhei.
- Nem sabemos se será uma menina e você já está pensando no ex-namorado dela? – fez uma careta, gostando nada de imaginar essa cena.
- Enfim, só por precaução. E a segunda é que amigos serão apenas amigos. – Revirei meus olhos, dando um tapa em seu ombro.
- O que foi? Só por precaução. – Ele disse novamente.
- Não está esquecendo alguém? – Perguntei, com um sorriso em meus lábios.
- Quem? – Ele perguntou, com a testa franzida.
- E o vizinho? – Um sorriso logo surgiu em seus lábios, como se estivesse esperando que eu dissesse isso.
- Nossa casa será cercada, o quarteirão todo apenas para nós. E muros altos, bem altos. – Sorri novamente, lágrimas voltando a escorrer pelo meu rosto.
- Por que tanto preconceito com a possibilidade de ser um vizinho?
- Porque é o vizinho que fica com a garota. – E com essa brilhante resposta, me beijou, selando assim o início de uma nova fase na nossa vida. Juntos. Para sempre.
I will love you and forever
I will love you like I never
Like I never heard goodbye
Like I never heard a lie
Like I'm falling into love for the first time
Eu estava tão nervosa, hoje era o grande dia da minha formatura. Toda a minha família estava ali e eu mal podia esperar. Eu estava na fila dos formandos, não em meu lugar habitual, aguardando que meu nome fosse chamado. Assim que a pessoa que estava na minha frente foi chamada, logo me preparei. Respirei fundo e me levantei, buscando minha família com o olhar.
- Senhorita... Oh, me desculpe. Senhora . – Eu nunca me cansaria de ouvir meu nome assim. Segui em direção a pessoa que estava distribuindo os famosos canudos e peguei o meu, posando para a foto. Encarei meu marido na plateia, estava com um sorriso de orelha a orelha, tirando foto de cada detalhe. Nossos olhares se encontraram e ele piscou para mim, fazendo com que um arrepio percorresse meu corpo. Fui em direção aos formandos que já tinham sido chamados e sentei-me com eles, aguardando as próximas etapas da cerimônia.
Assim que tudo acabou e o local estava preenchido pelos capelos que foram, como de costume, jogados para o alto, segui em direção a minha família. Primeiro cumprimentei meus pais, ambos extremamente felizes por eu ter escolhido cursar administração e, em breve, assumir a empresa deles. A seguir, veio .
Meu melhor amigo estava ao meu lado em mais uma etapa importante da minha vida. Nós passamos por uma crise em nossa amizade. Aquele único beijo que aconteceu há anos me fez enxergar que todo o amor e carinho que eu sentia por ele era amizade. Ele percebeu assim que nos separamos que eu precisava estar em outro lugar, que meu coração tinha tomado a decisão que minha cabeça confusa não conseguia.
Por mais que a rejeição tenha sido difícil, me levou de volta para casa, mesmo tendo a certeza que meu destino final seria a casa do vizinho. Nenhuma palavra foi dita em nossa despedida, nossas emoções estavam dominadas por sentimentos diferentes e aquela conversa aconteceria mais tarde.
Ainda no primeiro toque, atendeu o celular, correndo para a porta da sua casa quando disse que o estava esperando. Quando eu o vi, eu senti todo o meu mundo desmoronar, eu sabia que correria pelo fogo por ele, que eu arriscaria tudo por aquele que lutou contra a escuridão para me trazer de volta a vida.
Assim que me soltou de seu abraço, estava atrás dele, ansioso pela sua vez de me parabenizar.
- Oi, senhora . – Ele me abraçou apertado. – Parabéns, meu amor, você merece.
- Obrigada, senhor . – Nós rimos, ainda soando estranho, mesmo que fosse maravilhoso. e eu nos casamos três anos depois e nosso casamento vai maravilhosamente bem, obrigada.
- Viu a surpresa quando me chamaram de senhora? Eu tive que me segurar pra não rir!
- Sua mãe teve que me dar um tapa pra que eu parasse! – Ele passou o braço pela minha cintura, nos guiando para fora do auditório.
- Eles estão no sétimo céu depois que resolvi cursar administração.
- Fico tão feliz que as coisas entre você e seus pais tenham se acertado. – Ele deu um beijo na minha bochecha.
- Eu também.
Chegamos ao local da festa. Meus pais, e Lindsay, sua namorada, também estavam na nossa mesa. Assim que e eu chegamos, minha mãe veio novamente em minha direção, seus olhos cheios de lágrimas.
- Quando você vai contar pra ele? – Ela perguntou em meu ouvido. Arregalei meus olhos em sua direção, surpresa com sua pergunta. Ela apenas sorriu, voltando para a mesa e sentando ao lado do meu pai.
Uma música lenta começou a tocar e logo colocou-se de pé, estendendo sua mão em minha direção.
- Me concede a honra dessa dança, senhora ? – Assenti, sorrindo, e peguei sua mão, indo para a pista de dança. passou seus braços pela minha cintura, colando nossos corpos.
- Eu tenho uma coisa pra te contar. – Comecei, sentindo que aquele era o momento certo.
- O quê? – Meu tom sério fez com que ele afastasse nossos rostos para que pudesse me olhar. Respirei fundo.
- Nossa família vai aumentar. – me encarou, seus olhos revezando entre meu rosto e minha barriga. – Eu estou grávida. – O sorriso que me deu foi tão radiante, que lágrimas logo já estavam percorrendo pelo meu rosto.
- Grávida? Nós vamos ter um bebê? Eu vou ser pai? – Ele soltou um monte de perguntas, ainda em choque com a notícia. – Eu amo tanto você! – me abraçou novamente, ajoelhando na minha frente e beijando minha barriga. Eu ria, mas um pouco envergonhada pela atenção que seu gesto trouxe.
- Então você está feliz com isso? Sei que estamos casados há pouco tempo, eu acabei de me formar, mas... – me beijou, interrompendo minha fala nervosa.
- Não existe alguém mais feliz nesse mundo do que eu. – Ele disse, distribuindo beijos pelo meu rosto. – Mas precisamos estabelecer algumas regras, caso seja menina.
- É mesmo? Quais? – Arqueei uma sobrancelha em sua direção, curiosa com o que ele estava prestes a dizer.
- A primeira é que ex namorado está proibido dentro da nossa casa. – Eu gargalhei.
- Nem sabemos se será uma menina e você já está pensando no ex-namorado dela? – fez uma careta, gostando nada de imaginar essa cena.
- Enfim, só por precaução. E a segunda é que amigos serão apenas amigos. – Revirei meus olhos, dando um tapa em seu ombro.
- O que foi? Só por precaução. – Ele disse novamente.
- Não está esquecendo alguém? – Perguntei, com um sorriso em meus lábios.
- Quem? – Ele perguntou, com a testa franzida.
- E o vizinho? – Um sorriso logo surgiu em seus lábios, como se estivesse esperando que eu dissesse isso.
- Nossa casa será cercada, o quarteirão todo apenas para nós. E muros altos, bem altos. – Sorri novamente, lágrimas voltando a escorrer pelo meu rosto.
- Por que tanto preconceito com a possibilidade de ser um vizinho?
- Porque é o vizinho que fica com a garota. – E com essa brilhante resposta, me beijou, selando assim o início de uma nova fase na nossa vida. Juntos. Para sempre.
I will love you like I never
Like I never heard goodbye
Like I never heard a lie
Like I'm falling into love for the first time
FIM
Nota da autora: Eu fiquei tão nervosa para escrever essa fic, gente! Acho que gastei todos os meus neurônios para desenvolvê-la!
Espero que tenha dado certo e que tenha colocado um pouquinho de dúvida na cabeça de vocês! hahaha
E então? Conseguiram descobrir quem era? Ficou com quem queria? Por favor, me deixem saber! <3 Não sabem o quanto estou esperando para saber a opinião de vocês!
Eu queria fazer um agradecimento especial à That, essa linda que me ajudou, lendo antes e me dando várias dicas! Muito obrigada, That, você não tem noção do quanto a sua ajuda foi importante! <3
Bom, é isso. Beijos e até a próxima!
Larys
xx
Outras Fanfics:
- 07. I Wish You Would - Ficstape #004 (/ficstape/07iwishyouwould.html)
- 11. Kiss Me - Ficstape #008 (/ficstape/11kissme.html)
- 08. The Heart Never Lies - Ficstape #011 (/ficstape/08theheartneverlies.html)
- É só você sorrir - Especial Música Brasileira (/ffobs/e/esovocesorrir.html)
- 05. Lightweight - Ficstape #017 (/ficstape/05lightweight.html)
- 15. Moments - Ficstape #024 (/ficstape/15moments.html)
- 12. You Belong With Me - Ficstape #025 (/ficstape/12youbelongwithme.html)
- 09. Enchanted - Ficstape #026 (/ficstape/09enchanted.html)
- 05. All Too Well - Ficstape #027 (/ficstape/05alltoowell.html)
- 10. Shape Of My Heart - Ficstape #029 (/ficstape/10shapeofmyheart.html)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que tenha dado certo e que tenha colocado um pouquinho de dúvida na cabeça de vocês! hahaha
E então? Conseguiram descobrir quem era? Ficou com quem queria? Por favor, me deixem saber! <3 Não sabem o quanto estou esperando para saber a opinião de vocês!
Eu queria fazer um agradecimento especial à That, essa linda que me ajudou, lendo antes e me dando várias dicas! Muito obrigada, That, você não tem noção do quanto a sua ajuda foi importante! <3
Bom, é isso. Beijos e até a próxima!
Larys
xx
Outras Fanfics:
- 07. I Wish You Would - Ficstape #004 (/ficstape/07iwishyouwould.html)
- 11. Kiss Me - Ficstape #008 (/ficstape/11kissme.html)
- 08. The Heart Never Lies - Ficstape #011 (/ficstape/08theheartneverlies.html)
- É só você sorrir - Especial Música Brasileira (/ffobs/e/esovocesorrir.html)
- 05. Lightweight - Ficstape #017 (/ficstape/05lightweight.html)
- 15. Moments - Ficstape #024 (/ficstape/15moments.html)
- 12. You Belong With Me - Ficstape #025 (/ficstape/12youbelongwithme.html)
- 09. Enchanted - Ficstape #026 (/ficstape/09enchanted.html)
- 05. All Too Well - Ficstape #027 (/ficstape/05alltoowell.html)
- 10. Shape Of My Heart - Ficstape #029 (/ficstape/10shapeofmyheart.html)
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