Fanfic finalizada.

PARTE I — Adrenaline

segurou o ar tentando processar o que acontecia à sua volta. Mesmo após todo aquele tempo na vida do crime, ele ainda sentia um leve nervoso, especialmente agora. Precisava se acalmar ou acabaria com todo o plano, mas era impossível manter toda a concentração quando ela estava ali.
era seu elo fraco.
A tensão era tanta que ele conseguia ouvir cada pisada dada no concreto, tendo a sensação de que até as batidas de seu coração eram ouvidas. Passou os olhos pelo ambiente para cobrir o perímetro, um sentimento lhe dizia que tinha algo errado, não queria ser paranoico, mas era difícil.
Deveria tê-la deixado em casa.
Seus olhos mais uma vez foram até os da mulher, encontrando totalmente o oposto do que esperava. era uma pessoa forte e que não se deixava abalar por nada. O olhar dela sustentava o de , demonstrando uma calma que até o teria feito sorrir em admiração, se não fosse a situação em que se encontravam.
Desviou sua atenção para checar o relógio no pulso. O objeto marcava exatamente oito horas. Estava na hora.
Como sempre, sinalizou com a mão para onde cada um deveria ir. O ar parecia ainda mais pesado e por um momento achou que sufocaria, mas tinha consciência de que aquilo era apenas um resultado de seu nervosismo e ansiedade diante de tudo que poderia dar errado.
Mesmo sabendo ser errado, checou se estava atrás dele e dessa vez os passos foram aumentados, passando pelo breu da rua em que se encontravam. A chuva forte caindo não ajudava em nada, muito pelo contrário, só tornava tudo mais perigoso.
A sua volta as coisas pareceram acontecer em câmera lenta, era como se tivesse perdido completamente a noção do tempo. Uma luz invadiu seus olhos, revelando que não estavam sozinhos como tinha imaginado e antes mesmo de conseguir destravar a arma, um barulho de tiro, quase ensurdecedor, reverberou no ambiente.
Um grito foi ecoado, alto e agudo. Alguém havia sido atingido.
De imediato seu rosto se virou em direção a uma pouco distante dele agora, que tinha os olhos arregalados e a arma que havia entregado para ela mais cedo, em punhos. Fez sinal para onde deveria ir com ele, então segurou na mão dela assim que a mulher o alcançou, queria dizer algo, mas não foi possível.
Precisavam sair dali.
Usou a pouca brecha que teve para apertar o botão em seu celular, chamando por reforço. Contudo, poderiam demorar a chegar e precisavam ao menos achar um lugar para se esconderem.
Mais tiros passaram a ser disparados, queria entender o que acontecia ali, mas naquele momento seu único objetivo era tirar dali com vida.
Quando conseguiu afastá-la o máximo possível para trás de uma pilastra, passou a disparar sua arma, atirando para todos os lados. Não tinha muita visibilidade de onde estava e aquilo só dificultava sua forma de agir.
— Do outro lado — gritou, indicando para ela cobrir a outra direção.
Se antes tudo parecia em câmera lenta, agora as coisas simplesmente corriam diante de seus olhos. Pelo menos metade de seus homens estavam mortos no chão trazendo a ele o alerta de que precisava agir ou a situação acabaria ficando ainda pior do que já estava.
olhou para ele brevemente, sinalizando que existia uma brecha e o homem negou com a cabeça. Só tinha chance de um deles sair dali. E teria de ser ela.
— Vai!
Os olhos da mulher se estreitaram, conforme ela rodou o corpo, escorando-se contra a pilastra e disparou quatro tiros que foram certeiros, atingindo dois oponentes. Ele até teria questionado aquilo, como ela havia aprendido o movimento, mas não o fez.
Tinham coisas mais importantes em jogo.
O olhar dela dizia que não iria sem ele, mas aquilo não estava em negociação. Em um rompante, passou correndo para a outra pilastra onde a mulher se encontrava e a puxou para uma parede em que teriam mais proteção.
O tempo era escasso, até que os alcançassem e fossem atacados de novo.
, olha pra mim. — Sua expressão era de pânico e teria segurado o rosto dela, se não precisasse manter a arma em punhos. — Eu preciso que saia daqui. Agora!
Ela queria questionar, dizer que jamais sairia dali e por um momento seu olhar demonstrou arrependimento e dor. Tinha um milhão de coisas que ela gostaria de ter dito a ele antes que fizesse o que o homem pediu, mas seus pés passaram a se mover antes mesmo de ela se dar conta.

não sabia por quanto tempo já havia corrido, mas uma coisa era certa, seus músculos não iam conseguir sustentá-la por muito mais tempo. O oxigênio em seus pulmões parecia cada vez mais escasso e seu batimento cardíaco encontrava-se nas alturas.
Precisava se concentrar.
Não conseguia lembrar quando foi a última vez que sentiu os pés doerem tanto. Seu corpo nem estava tão cansado assim, aquela adrenalina fazia parte de sua vida, mas não significava que não queria encontrar um refúgio.
A chuva que passou a cair incessantemente só dificultava ainda mais sua visibilidade conforme corria sem olhar para trás. Seu peito subia e descia, mas desistir não era uma opção e a mulher continuou correndo, tentando manter o foco.
estava bem. Tentou se convencer, mesmo tendo dificuldade em acreditar naquilo.
Teve a certeza do quanto tinha corrido quando os barulhos de tiros, carros e vozes foram cessando. Era um bom sinal, mas não conseguia deixar de pensar que deveria ter ficado para ajudar. Então, mais uma vez, checou a quantidade de balas em seu bolso, logo constatando que tinha o suficiente. No entanto, torceu para não precisar mais usá-las.
Acabou rindo com a ironia daquilo.
Os passos foram ficando cada vez mais largos e a mulher parou finalmente, depois do que ela achava ser uma hora, ao avistar um celeiro. O local estava escuro e parecia abandonado, mas mesmo assim ela cobriu o perímetro e deu duas voltas antes de correr para dentro e se livrar daquela chuva e de qualquer outro perigo.
Localizou a parede bem ao fundo do lugar, ficando atrás de uma pilha de assoalhos e procurou por ferimentos. Tinham algumas escoriações em sua pele, mas nada muito grave e permaneceu ali, esperando e torcendo.
O tempo parecia simplesmente não passar, seu aparelho celular não tinha bateria alguma e por isso o período que ficou ali poderia ser comparado a uma eternidade, até um barulho ser entoado, arrancando um salto de seu corpo. O coração mais uma vez bateu forte e ela engoliu a seco, prendendo a respiração para manter um silêncio absoluto.
Se a encontrassem ali, não teria para onde ir, ou talvez sequer sobreviveria.
Empunhou a arma e esgueirou-se ainda mais. De repente sentiu um desespero tomar conta de cada célula presente em seu corpo, de uma forma que jamais havia acontecido com ela antes. era centrada e sempre pensava de forma objetiva, mas ali, por um momento, flashes de sua vida começaram a passar diante de seus olhos.
O que estava fazendo? Precisava acabar com aquilo de uma vez por todas.
A decisão foi tomada, mas ela escapou por entre os seus dedos quando o som de passos ficou mais alto e a porta passou a ser aberta lentamente. Sua única reação diante daquilo foi de esconder-se, segurando a arma em suas mãos, que tremiam sem parar.
Não queria morrer. Não daquele jeito tão covarde.
… — Aquela voz calma sussurrou seu nome.
não soube explicar o que se passou exatamente, mas arma foi largada e a mulher levantou em um rompante correndo de encontro ao homem, que parecia tão apavorado quanto ela diante de toda aquela situação. Os braços da mulher envolveram o pescoço de , que não hesitou em abraçá-la pela cintura.
Ele a segurava com tanta força que, se fosse possível, seus corpos acabariam sendo fundidos. Os lábios dela se colaram aos dele com voracidade e ele não hesitou em corresponder ao beijo. Suas respirações estavam aceleradas, mas nenhum dos dois queria parar.
Precisavam desesperadamente um do outro.
afrouxou o abraço e suas mãos delinearam a cintura da mulher, apertando-a com firmeza. Um gemido escapou da boca dela e ele não conseguiu conter um sorriso em meio ao beijo, aproveitando para colocar o lábio inferior de entre seus dentes e puxá-los.
abriu os olhos para poder olhá-la ao afastar um pouco o rosto e estava claro no olhar da mulher o que ela queria.
Que ele a desejava ardentemente não era segredo algum, mas não tinha certeza se aquele era o momento apropriado para o que ambos desejavam.
Parte daquilo era a adrenalina falando.
…— Seu tom de voz era baixo.
Seus olhos ainda a estudavam e tinha uma porção de coisas que gostaria de dizer, mas não conseguia. A presença dela era intoxicante, assim como seu cheiro e todo o resto que vinha dela, então apenas tentou tranquilizá-la.
— Está tudo bem, . Ninguém sabe que estamos aqui.
Ela se afastou um pouco e relaxou os braços descendo, de uma forma que suas mãos alcançaram os cabelos dele próximo a nuca e fez um carinho de leve. fechou os olhos brevemente, soltando um muxoxo.
— Eu preciso de você dentro de mim, . — Sua boca voltou a ficar colada a dele.
abriu os olhos, parecia querer pegar fogo e ela sustentou aquele olhar. sabia que não era o momento certo para pedir aquilo, mas era verdade. Precisava dele daquela forma, o resto poderia ser resolvido depois.
— Você está machucada? — Era evidente a preocupação no olhar do homem, o que lhe arrancou um sorriso.
— Não…Eu estou bem, baby. — Roçou seus lábios ao dele, fechando os olhos e adorando sentir o gosto de .
Era claro que ele estava tentando resistir, e aquilo só incentivou para continuar com a provocação. Adorou ver o jeito como mordeu os próprios lábios, apertando sua cintura com força.
A adrenalina era alta demais em seu corpo e só aqueles poucos toques trocados já a faziam escorrer.
…— gemeu, ao sentir ela esfregar uma perna a outra.
Sua ereção já começava a dar sinais só com a ideia do quanto ela estava ficando molhada.
— Eu quero que me coma aqui e agora, .
As palavras dela foram a deixa para ele voltar a grudar os lábios aos da mulher, conforme subiu suas mãos nas costas dela e puxou a regata de tecido fino que ela usava, rasgando-a sem delicadeza alguma. soltou um gemido de excitação e surpresa diante daquilo, intensificando o beijo e levou as mãos até a barra da blusa dele, não demorando para se livrar dela.
não estava com muita paciência para prolongar as coisas e sabia que a mulher muito menos, então afastou-se para tirar suas calças junto a cueca. Não conseguiu conter o sorriso quando seu olhar voltou a cair sobre ela, que o media com avidez, algo que ele retribuiu ao ajoelhar-se na frente dela.
— Caralho… — Mordeu o canto da boca, ao levar as mãos até a barra da calça fina que ela usava puxando-a e trazendo a calcinha de junto ao chão.
Ele nunca ia se cansar de vê-la daquele jeito, apesar da pouca luminosidade que vinha de um poste qualquer ao lado de fora.
Antes de levantar, porém, ele levou as mãos até as panturrilhas da mulher, dedilhando-as lentamente conforme ia subindo. Assim que tocou em suas coxas, as agarrou fazendo um impulso para enlaçar as pernas em sua cintura, vendo-a atender prontamente ao seu pedido silencioso.
A boceta dela ficou perfeitamente encaixada em seu pau já extremamente duro e ele poderia ter socado nela de uma só vez, mas era gostoso demais aquela sensação de sentir que ela o melava com seu prazer. Mais delicioso ainda foi o jeito que ela gemeu, afundando o rosto na curva de seu pescoço estremecendo em seu colo.
No entanto, não aguentou segurar muito mais quando a mulher gemeu toda entregue contra o pé de seu ouvido. Em um gesto lento, ele se atolou nela, sentindo cada parte da boceta de o engolir e foi preciso segurá-la com mais firmeza. Seus olhos se reviraram nas órbitas e se não fosse o tesão que sentia, teria desabado ali mesmo.
Precisou de um tempo para se recuperar, então procurou de maneira desesperada pela boca da mulher conforme passou a se movimentar. não demorou em rebolar no seu colo ao brincar com a língua de , beijando-o com cada vez mais intensidade.
As mãos dela o segurava com uma firmeza desesperada, como se tentasse fazer o corpo deles se fundirem. Ele entrava e sai dela na mesma sincronia que rebolava, gemendo cada vez mais alto e fazendo aquilo preencher o ambiente inteiro.
Não tinham exatamente certeza do quanto aquilo poderia ser arriscado, mas nenhum dos dois teve coragem de parar o que acontecia ali. Muito menos conseguiu impedi-la de gemer daquele jeito que ele tanto adorava ouvir.
Sua vida tinha sido sempre uma adrenalina e se arriscar por mais uma, principalmente com , pareceu o certo.
— Eu te amo, — murmurou contra a boca dela, ao se ajoelhar para ter mais firmeza nos movimentos que faziam. As pernas de ambos os castigavam como seus corpos cansados depois de tudo o que já tinha acontecido.
Ela o encarou por alguns instantes, sem saber muito bem como processar tudo aquilo, então voltou a beijá-lo com intensidade. Seu quadril movia-se de maneira desesperada, mas conseguia sentir a dor muscular quase o dilacerando.
Apesar da adrenalina, não podia negar o quanto estava exausta e acabada com a vida que vinha tendo ao lado dele. Contudo, parecia simplesmente não conseguir sair do vício que havia criado em relação a . Ele era como uma droga tão potente que a fazia o querer em cada segundo do seu dia.
Não era saudável, ela sabia daquilo, mas era incapaz de simplesmente deixar ir.
Suas unhas cravaram a pele dele e ela o arranhou fazendo-o soltar um grunhido de dor e prazer. Aquele era o inferno particular deles, onde ninguém poderia julgá-los além deles mesmos.
Em meio ao misto de sentimentos e êxtase, como já era de se esperar, os dois desabaram em prazer e desespero em ter um outro.

🐍 🐍 🐍


não tinha pregado o olho depois de terem sido resgatados. O sol lá fora castigava seus olhos ao invadir o quarto, tornando ainda mais difícil suas tentativas em descansar.
Tinha certeza de que mais um pouco e surtaria de vez.
Eu te amo. As palavras dele ainda reverberavam em sua cabeça e ela sentia até uma vontade de vomitar cada vez que acontecia.
Um milhão de coisas na vida que levava ao lado dele deveria assustá-la, mas aquelas palavras misturadas a suas atitudes da noite anterior foram o estopim. Aquela fora a prova de que havia perdido completamente o rumo das coisas e que seus planos iriam por água abaixo se não fizesse nada.
Naquele momento a única coisa capaz de aliviá-la um pouco mais, foi ver que o homem não se encontrava ao seu lado na cama. Conseguiu sentir quando ele saiu logo depois de chegar em casa, ao ser chamado por um de seus capangas.
Levantou da cama decidida a não se lamentar mais, afinal aquele não era seu trabalho ali e correu para o banheiro. Nem mesmo esperou a água esquentar depois de abrir o chuveiro e se enfiou embaixo dele, com ela congelando.
De primeira sentiu um choque em sua pele e aquele tremor tomou conta, mas logo a sensação foi ficando muito melhor e ajudou-a relaxar. As dores musculares se fizeram ainda mais presentes, assim como sua cabeça que parecia querer explodir.
Porra.
Estava fodida em proporções que jamais poderia ser capaz de explicar, mas teria.
Não demorou muito para ficar vestida e notou uma movimentação estranha ao lado de fora do seu quarto. Alguém andava de um lado para o outro e ela franziu o cenho sem entender muito bem o que era aquilo.
Estava sendo…vigiada?
O coração bateu um pouco mais forte e ela foi até a cômoda onde sabia ter uma arma. Enfiou sua mão bem fundo, tateando o espaço até se dar conta de que não tinha mais nada ali.
— Procurando isso? — A voz de invadiu o quarto e ela pulou de susto, virando-se rápido.
… — soprou o nome dele, mantendo o contato visual para não demonstrar nervosismo.
— Você não confia que eu posso te proteger, ? — A pergunta a pegou de surpresa, que sentiu o corpo dar uma relaxada.
Não era bem aquilo que esperava escutar.
— O quê? — Piscou algumas vezes, demonstrando sua confusão.
O homem deixou a arma de lado e ela o encarou se aproximando. Seus olhos a estudavam de uma forma que ela achou um tanto diferente, então apenas sorriu quando ficou perto o suficiente para passar a mão em seu rosto.
— Do que você tem medo, ?
Se ela dissesse, seria uma mulher morta.
— Nada, eu só achei que seria seguro ter uma arma escondida. — Sorriu de leve, para deixar transparecer calma.
tombou a cabeça de leve, conforme ainda a estudava. Um milhão de coisas que ela não tinha sequer ideia se passavam na cabeça dele.
Não queria ter que desconfiar da mulher que amava.
Mas como não?
Ela precisava se esconder dele?
— Por que não me contou? Tem algo que eu não posso saber? — Seu tom de voz estava rouco e fez cada pelo do corpo da mulher arrepiar.
— Eu não queria te deixar preocupado, apenas isso. Tudo tem sido bem estressante desde que fugimos — murmurou, sentindo os lábios tremerem. Não estava com medo dele, mas apreensiva com o rumo que aquela conversa poderia ter. — Nós podíamos ter morrido ontem, .
Um suspiro forte escapou da boca do homem e ele relaxou a postura.
— Eu sei, amor. Mas está tudo bem…eu sempre irei te proteger. — Selou os lábios aos dela, sorrindo. — Só não gosto da ideia de que não confie em mim.
balançou a cabeça concordando. Então em um rompante as palavras seguintes pularam de sua boca:
— Eu preciso ir a um lugar, sozinha.
voltou a se afastar, franzindo o cenho ao escutar aquilo. Não queria ser invasivo ou proibi-la de fazer as coisas.
— Pode me dizer onde, ? Tenho que me certificar de que estará segura… — murmurou calmo.
— Eu preciso que confie em mim, . — Dessa vez foi ela quem quebrou a distância entre eles.
a encarou por alguns instantes, então fechou os olhos encostando a testa a dela em um sinal de rendição.
— Ao menos leve um segurança com você, por favor… — Foi um pedido em súplica e não uma ordem. — Se algo acontecer com…
— Nada vai acontecer comigo. — Segurou o rosto do homem. — E tudo bem, eu levo, se isso te deixa mais tranquilo.
Não sabia como lidaria com a situação tendo um segurança com ela, mas aquilo ficaria para depois. O importante era não fazer muitos questionamentos sobre onde iria.
— Eu te amo, . — Aquelas palavras a assustaram mais uma vez.
Contudo, sabia que elas não durariam por muito tempo, então apenas o beijou para demonstrar que sentia o mesmo.


não achou que conseguiria mesmo até se ver no meio daquela lanchonete, com sua antiga peruca e a Scarlett que existia dentro dela completamente incorporada.
Quase tinha se esquecido do quanto odiava aquelas roupas apertadas que costumava usar na boate todas as noites. Porém os olhos curiosos sobre ela não eram tão desconfortáveis como costumavam ser.
Agora ela estava até gostando, considerando que passou os últimos seis meses vivendo como uma sombra.
Mediu o perímetro, observando cada saída daquele lugar, desde janelas e portas, até dutos do ar central. Depois observou possíveis câmeras, para então se atentar às pessoas presentes ali. Anotou perfeitamente as mais observadoras e também aquelas distraídas, mas principalmente as que fingiam não ver nada.
Seus olhos eram como uma máquina de observação e sentia falta de usá-los para aquilo.
De óculos escuros ninguém conseguia ver o que a mulher fazia e gostou da sensação. Então endireitou-se em sua cadeira para ter uma última visão mais ampla e fez sinal para o segurança junto dela se aproximar.
Aquela era sua chance para despistá-lo.
Ir ao banheiro era sempre uma desculpa que funcionava com as mulheres e antes de se dar conta, já estava dentro dele, torcendo para que o homem tivesse mesmo acreditado nela.
Foi puxada para uma das cabines e teve a boca tampada assim que adentrou o espaço, o que abafou o grito saindo de sua boca. Seus olhos se arregalaram em uma surpresa e alívio, mas perdeu a consciência antes de conseguir dizer qualquer coisa.


PARTE II — Secrets

4380 horas.
60 dias.
6 meses.
Esse era todo o tempo que havia se passado desde o desaparecimento de . Da forma mais estranha possível ninguém havia visto a mulher depois que ela entrou em um dos banheiros femininos da Coffee Plate, onde um segurança aguardava por ela na porta.
Havia desaparecido como uma sombra.
não lembrava do que era ter um bom sono desde então. Sua função foi se certificar de que varressem aquela cidade inteira. Londres continha seus buracos e ele tinha convicção de que a encontraria.
Contudo, dias se passaram e nada de achá-la. Fez acordos com pessoas que jamais esperaria e mesmo assim, nem um rastro de .
Parecia que ele simplesmente havia perdido um pedaço de seu peito.
Max, seu braço direito, se esforçava para convencê-lo de que ela a essa altura ou teria sido levada para outro país ou pior, tinha sido morta. Só a ideia das duas coisas, mas pior ainda da segunda, o apavorava.
Era tão desesperador pensar naquilo, que acordava todas as noites com um pesadelo lhe atormentando, procurando pela garota deitada ao seu lado. Pior ainda era nunca a encontrar.
Ódio era tudo que sentia naquele momento e na intenção de colocá-lo para fora, jogou todas as coisas de cima da mesa no chão, ao passo que um grito quase rasgou sua garganta.
Não sabia se aguentaria muito mais tempo daquela tortura. Era insuportável.
Max adentrou sua sala no minuto seguinte, o velho amigo não o tinha abandonado em nenhum momento desde o desaparecimento da mulher. Apesar de ter opiniões controversas sobre aquilo.
— Se for falar mais uma das suas bobagens, pode ir embora, Max — avisou, não sabia se conseguiria controlar a raiva.
Não com tudo aquilo acontecendo.
O homem o encarou por alguns instantes, como sempre fazia, franzindo o cenho e fechou a porta atrás de si antes de caminhar para próximo de sua mesa.
— Você precisa se reerguer, Lion. — Max olhou a volta, vendo o desastre que ele havia feito, mas também notou como o amigo encontrava-se devastado.
Aquilo não era bom para os negócios. Sempre soube que a mulher seria um problema.
bufou com as palavras dele, o encarando com uma cara de poucos amigos. Não queria ouvir aquela palhaçada toda de novo.
— Já disse para me deixar em paz — esbravejou. — Enquanto não encontrarmos a Ch…
— Chega, ! — O grito do homem o pegou de surpresa, que ficou até um pouco incrédulo. — Isso já está ridículo, cara. Já parou para pensar que te enganou este tempo todo?
Ele não conseguia dizer nada, sentia-se completamente impotente. Sem falar que era doloroso demais imaginar aquilo.
— Cara, eu estou te falando, desde que aquela mulher entrou na sua vida, as coisas no negócio ficaram complicadas… — Max continuou suas justificativas sobre . — Estou dizendo isso como seu amigo, .
o encarou com uma cara séria, mas nada disse mais uma vez. Seus olhos percorreram a sala em que se encontrava e então ele se sentou em sua cadeira, ainda olhando para o amigo, que tentava entender o que se passava na cabeça dele.
— Iremos ao Entertainer Club esta noite — avisou, ainda com a mesma expressão e de quem queria ficar sozinho. Max abriu a boca para questionar, mas foi mais rápido em interromper. — Prepare meus melhores seguranças, é uma ordem.


🐍 🐍 🐍



O homem não se sentia tão preparado assim quando a noite finalmente chegou. Cada músculo do seu corpo parecia doer e seu coração oscilava entre acelerado e estilhaçado pela possibilidade de se decepcionar com o que poderia acontecer.
ainda era a dona de seus devaneios, como sempre.
Uma lembrança gostosa correu seus pensamentos ao chegar de frente para aquela boate. Sabia como era arriscado ir até ali depois de ter fugido com uma dançarina que devia rios de dinheiro para o dono, contudo, aquela mulher valia qualquer risco que pudesse tomar.
Passou a entrada já correndo os olhos pelo lugar com pouca luminosidade e era inevitável não a procurar em cima do palco, dançando e atraindo milhares de olhares para ela. A sensação de nostalgia o envolveu a cada passo que dava, arrepiando os pelos de seu corpo.
Scarlett.
O primeiro nome que ela deu a ele ressoou em sua cabeça e sorriu.
Caralho. A falta que sentia de era quase sufocante e precisou respirar fundo para não deixar transparecer como estava abalado. Mas era difícil, quando cada parte dele clamava por ela, o cheiro, o gosto…aquela voz que só a mulher tinha.
Aquilo era insuportável.
sentou-se em uma mesa bem afastada, na área vip do local e pediu por um uísque. Seus olhos ainda percorriam a boate como um leão caçando a onça e era difícil deixar de fazer aquilo, quando ainda tinha esperança de que a mulher poderia aparecer a qualquer momento.
Sua visão ficou levemente turva quando uma mulher de peruca rosa passou um pouco à frente. O coração acelerou e ele achou que sufocaria ali mesmo de tanta adrenalina que seu corpo liberou em uma fração de segundos.
Quais eram as chances? Ele obviamente saberia se a mulher tivesse voltado ao clube.
Claro que saberia.
Em um rompante saiu de onde estava sentado e seguiu aquela garota com cabelo rosa. Largou a bebida no primeiro balcão que passou ao terminá-la e foi seguindo o caminho que ela fazia, tentando não parecer um maluco e chamar atenção de alguém ali na boate.
Conhecia muito bem o caminho que percorreram e sentiu a ansiedade o consumir. Ela estava indo em direção ao quarto que havia conhecido , tinha certeza, jamais se esqueceria de um detalhe como aquele. Nem mesmo em um milhão de anos.
Adentrou a porta que foi aberta sem pensar duas vezes, fechando os olhos para apenas sentir ela o envolver, mas tudo que sentiu foi um vazio que o rasgou ao meio.
… — murmurou, sentindo-se desesperado.
passou a mão na barba por fazer, pensando como aquilo era sequer possível. Não tinha como ter alucinado aquele tempo todo.
Como se o mundo pudesse acabar ao seu redor, ele sentiu aquele cheiro gostoso lhe invadir, logo esperando para os braços dela o tomarem, mas tudo o que viu foi uma aparecer diante dele com roupas completamente diferentes do que estava acostumado.
A mulher usava calça preta colada, uma jaqueta grossa e larga, os cabelos presos em um rabo de cavalo e não continha maquiagem alguma em seu rosto. Ela parecia alguém completamente diferente do que conhecera.
Estava paralisado.
— Oi, … — ela murmurou, parada a alguns metros dele. O olhar firme e fixo ao dele.
Algo havia mudado, ele soube de primeira.
, o que… — Deu um passo à frente, mas ela se afastou, deixando-o confuso e destruído ao mesmo tempo. — Não faz isso, por favor…
— Nós não temos muito tempo e preciso que me escute. — Até a voz dela havia mudado.
Que porra estava acontecendo? Sua mente gritou.
, me conta o que está acontecendo. Onde você esteve esse tempo todo? — A bombardeou de perguntas, afinal se achava no direito de obtê-las depois de todo aquele tempo tentando encontrá-la. — Eu achei que estava morta…
A expressão dela foi impassível por alguns instantes, mas uma parte de conseguiu enxergar o quanto ela estava se segurando para olhá-lo daquele jeito. A única coisa que o homem não conseguia compreender era o porquê.
Estavam juntos e ele jamais a deixaria, independente do que fosse.
— Só me escuta, . — implorou, sentindo o coração quase ir parar em sua boca. — Você precisa esquecer qualquer coisa que um dia aconteceu entre nós. Volte para casa e finja que a gente nunca se conheceu. — Aquilo o atingiu como um tiro no estômago.
Do que ela estava falando?
Nada fazia sentido e sentiu como se o ar do mundo todo tivesse diminuído em segundos.
Tinha ensaiado um milhão de coisas que diria a ela caso o desfecho fosse aquele, mas pareceu simplesmente perder a capacidade de falar. Não estava surpreso, pois quando algo te atinge dessa forma é difícil saber exatamente como reagir.
Já tinha passado por muitas coisas em sua vida, mas nada se comparava aquilo.
, me escuta… — A voz de invadiu seus ouvidos como um zumbido, e então ele se deu conta de que tinha ficado completamente fora de órbita.
Não queria ouvir nada daquilo, só queria voltar ao que eram.
, por favor…— deu um passo à frente viu a forma como ela grudou a mão na própria cintura. — Que porra está acontecendo aqui? — Não gritou, apenas expôs sua frustração e teria dado fim na distância entre eles, se os braços da mulher não tivessem ido para frente e ela não estivesse segurando uma arma apontada para ele.
Seus olhos ficaram fixos aos de , vendo como a mulher respirava rápido. O peito dela subia e descia, mas apesar de tudo aquilo, suas mãos e pernas não vacilaram nem por um segundo.
Então percebeu que seja lá onde ela havia estado nos últimos seis meses, tinha sido muito bem treinada para estar ali.
— Se afasta, por favor… — Os lábios dela tremeram, assim como os olhos encheram de lágrimas.
Suas atitudes simplesmente não encaixavam e estava deixando o homem apenas mais confuso.
Não se afastou como ela havia pedido, pelo contrário, ele segurou a arma dela pela ponta e a puxou em direção ao seu peito. era mais alto do que e por isso ela o encarou com a cabeça levemente inclinada, sem acreditar no que fazia.
Por que tinha que ser tão teimoso?
Estava apenas fazendo seu trabalho e tentando salvar sua vida.
— Eu já estou morto por dentro desde que você foi embora, . — A encarou no fundo dos olhos, vendo como os lábios dela tremeram ainda mais do que antes. — Se vai me matar, faça isso de uma vez.
já tinha presenciado muitas coisas em sua vida, sentindo medo de formas inimagináveis, mas nada se comparava ao que experimentou naquele momento. Encarar dizendo que ela poderia matá-lo a destruiu por dentro.
Quando aceitou aquele trabalho anos atrás, sabia como poderia ser difícil, mas nunca foi avisada que poderia se apaixonar no meio dele. Todas as coisas que sentia e estava fazendo eram completamente fora de sua ética, provavelmente perderia seu posto se descobrissem.
Mas nada daquilo pareceu realmente relevante ao encará-lo daquele jeito na sua frente, pronto para dar sua vida por alguém que o tinha usado e traído sem pensar duas vezes. Ele não disse nada, mas ela conseguia ver em seus olhos que o homem entendia exatamente o que estava acontecendo.
Provavelmente ele havia compreendido no dia do seu desaparecimento, estava apenas em negação.
Respirou fundo, determinada a afrouxar sua mão da arma e tirá-lo dali antes que tudo virasse um caos, mas um estrondo ecoou no ambiente a assustando e um barulho de tiro veio logo em seguida.
O grito escapando de sua boca, que quase rasgou sua garganta, não foi nada comparado com o que precisou assistir. O corpo de se projetou em sua direção e ela sequer teve tempo de segurá-lo, pois caíram no chão com uma força descomunal.
Apesar dos tiros que ecoavam para todos os lados, tudo que conseguiu compreender foi o peso do corpo do homem e o líquido quente ensopando sua roupa.
— Não! — gritou, tirando-o com dificuldade de cima dela e o virando.
Suas mãos tremeram de forma frenética, conforme ela tentava a todo custo encontrar onde estava o ferimento dele. Rasgou a camisa do homem como conseguiu e então puxou o lençol que cobria a cama ao lado deles para poder estancar o sangue que não parava de sair.
… — Escutou a voz dele chamar seu nome quando seus olhos se encontraram. estava visivelmente fraco, o tiro havia sido próximo da costela. — Saia daqui…
Não conseguiu acompanhar muito bem quando um homem vestindo uma farda da Scotland Yard parou bem na porta, pois ela se virou para segurar a cabeça dele, que se encontrava desacordado.
— Por favor… não — grudou os lábios aos de . — Eu te amo…
— Se afaste, ! — A voz grossa gritou. — Nós capturamos o Lion!
Depois disso, tudo que sentiu em meio ao caos à sua volta, foram mãos a puxar para longe do corpo estirado no chão.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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