Fanfic finalizada.

(Essa é uma shortfic baseada na música “Stockholm Syndrome” da banda ‘One Direction”. | Coloque-a para carregar e dê play quando for pedido Stockholm Syndrome)


Capítulo 1

“Who's that shadow holding me hostage?”
(De quem é aquela sombra que me mantém refém?)


terminou de ajeitar seus cabelos e vestiu suas roupas marcadas, que deixavam todas as partes mais voluptuosas de seu corpo quase a mostra. Passou seu batom rosa nos lábios, como fazia logo após todos os nossos encontros secretos dos últimos seis meses.
— Então, vou indo. Tem alguém aí fora? — ela perguntou e eu abri uma fresta da porta, espiando o corredor vazio do 5º andar, de um dos prédios da universidade.
— Ninguém vai ver você. — disse e ela sorriu, vindo até a mim e depositando um beijo rápido em meus lábios. — Até a próxima, ).
— Amanhã, mesmo horário. — era quem decidia o dia, a hora e o lugar dos nossos encontros escondidos.
— Venha com aquela saia preta e sem calcinha. — disse, mordendo a orelha dela, que riu.
— Pensarei no seu caso. — ela disse, ajeitando a blusa antes de abrir a porta e sair. Eu tinha que esperar dez minutos antes de ir e já estava acostumado com aquilo. Era uma regra e eu, como cativo de , apenas obedecia.
De todas as garotas que conhecia, era única que não era rodada. Eu morava em um bairro cheio delas, acredite que eu sabia reconhecer uma a léguas de distância. E quanto a , ela era o tipo de garota pelo qual todos morriam por tê-la, mas de todos eu fui o escolhido para a tarefa.
Não que fosse grandes coisas para mim, pois nos encontrávamos escondidos, nem dava pra me gabar pelo fato. E ninguém podia saber do nosso relacionamento, porque ela era podre de rica, filha de um magnata e eu um vagabundo que fazia parte da gangue “Cobras Mortíferas”. Ou seja, não podia nem mesmo me vangloriar por ter transado com a mulher mais gostosa da região.
Aposto que você deve estar se perguntando “Como um cara perigoso como você conseguiu se envolver com uma mulher do nível da , então?”. Eu decidi fazer faculdade, por mais que meu pai tenha ferrado com a minha vida, e me “presenteado” como moeda de troca para a gangue mais perigosa da cidade, alegando que era isso ou a nossa casa ia ser deles.
Quando fiz quinze anos, Johnny Killer apareceu na minha porta, me lembro muito bem da maneira rude que ele falou comigo e com a minha mãe, avisando que a casa seria dele se eu não fosse com ele naquele mesmo instante. Meu pai tinha acabado de morrer e a dívida não tinha sido paga, ali diante daqueles olhos negros e aquela cicatriz horrorosa no rosto, me dei conta de que era hora de crescer.
Mas nunca pensei que fosse gostar tanto de fazer parte da gangue. Acho que o fato de minha mãe ter morrido alguns meses depois e não ter me restado mais ninguém no mundo, fez com que eu acreditasse que a gangue era em definitivo a minha família. Eles me ouviam reclamar, me ajudavam quando tinha alguma treta acontecendo e me alimentavam. Para mim aquilo era família e ponto final. Eu obedecia Johnny Killer, que aliás, não recebeu esse nome a toa. Ele era um matador mesmo, mas nunca o vi matando. Ele mesmo diz ter se aposentado e que agora ele manda matar ao invés de sujar suas mãos de sangue. Como ia dizendo, eu o obedecia e se eu dizia que o trabalho estaria feito, era porque daria conta do recado.
Mas quando conheci , eu fui obrigado a não obedecê-lo mais. A minha sorte é que no fundo, Johnny me tratava como um filho e os trabalhos pesados não caíam em minhas mãos, por exemplo, matar, roubar, sequestrar. Isso era trabalho para os outros.
Eu fiquei encarregado do tráfico, eu era quem comandava tudo e repassava o resultado das vendas. Eu achava o máximo no começo, mas quando fiz dezoito anos percebi que era hora de mudar. Eu queria usar todo o talento que tinha para administrar aquelas coisas ilícitas, para administrar algo que fosse bom. Quando falei com Johnny que queria ir para a universidade, levei um tapa na cara. Ele riu e caçoou de mim, mas quando foi na minha graduação do ensino médio e eu contei que tinha conseguido passar em uma boa universidade, ele cedeu e acabou me dando apoio. Eu continuo administrando o tráfico e sendo um filho da puta que cobra com uma pancadaria das boas, quando quem deve não paga. Aqui o esquema é esse, não existe alternativa diferente.
Uma vez eu descobri que podia ser um bom piloto de fuga, tomei paixão por carros potentes, e Johnny percebendo isso, me colocou para cumprir essa tarefa por diversas vezes. Até resolver me dar um belo carro, tão potente, que mal acreditei que fosse meu mesmo. Achei estranho e perguntei para Johnny o motivo daquele presente repentino, e ele apenas me disse que estava merecendo, mas isso foi antes de eu começar a fazer as coisas fora dos eixos dele.
Certa vez não cobrei um devedor, ele disse que precisava de dinheiro para sustentar a família, que o vício era o inferno pessoal dele e que não teria dinheiro para pagar o que devia. Eu nunca soube o que é ser viciado, confesso que já tinha experimentado a erva uma vez ou outra, mas sabia que aquilo seria furada. Minha vida pode parecer pouco, mas valia alguma coisa.
Assim que Johnny soube que perdoei a dívida, disse que seria cobrado de mim através de um serviço perigoso, ele me colocou à frente de um sequestro arriscado. Eu sequestraria a filha de um magnata, dono de metade da cidade. Eu não tinha como negar, não existia escolha.
Eu pedi para que o fizesse sozinho, eu a sequestraria e a levaria para o cativeiro do meu jeito. Com a força da minha sedução, a melhor arma que eu tinha, modéstia à parte. E foi assim que fiz, assim que descobri que ela era da minha universidade, dei um jeito de me aproximar.
? Cara, você só pode ter fumado um. — , meu único amigo que eu realmente podia confiar dentro do Cobras Mortíferas, me disse rindo.
— Qual é o problema? Ela é gostosinha.
— Esse é o problema, meu amigo. Ela não vai dar moral pra você aí, cheio de tatuagens, com essa cara de malandro de gangue. Ela é o tipo de garota que namora esses engomadinhos com cara de Presidente Júnior da universidade.
— E quem disse que quero namorar com ela?
— Plano do Johnny?
— Ele quer que eu sequestre a garota, parece que o irmão dela tá devendo até o que ele carrega dentro da cueca.
— Ele é idiota, basta ameaçá-lo e ele paga na mesma hora. — disse.
— A diversão pro Johnny é me ver nessa história, eu perdoei a dívida de um devedor e ele virou o bicho comigo.
— Porra, ficou maluco? Ele odeia esse tipo de coisa.
— Eu sei, mas fiquei com pena do cara.
— E agora vai se foder, porque só tem cara de boazinha. Vai ser impossível pegar essa mulher sem se ferir.
— Eu adoro esse tipo de mulher. — eu disse, com um sorriso formando nos lábios.
— Te arrumei os convites pra tal festa que vai ter na casa dela. — ele estendeu a mão e me entregou um papel amassado. Para mim era um ticket de ouro.
— Não vou nem perguntar como conseguiu. — eu disse e ele riu. — Agora é só conseguir arrastá-la para fora da casa e sumir com ela de vista.
— Se precisar de cobertura, só me avisar. – ele estendeu a mão e fizemos um cumprimento que fazíamos desde que tinha entrado nos cobras mortais. — E se liga, a festa é de máscaras. Vai ser até bom, vai facilitar sua vida e ninguém vai saber quem pegou a menina.
— Beleza. — eu disse e fiquei pensativo, planejando cada detalhe do que faria.
No dia da maldita festa, eu já me sentia culpado sem nem ao menos ter sequestrado , eu arrumei um terno simples, e uma máscara preta que cobria parte do meu rosto. Quando cheguei à mansão dos , percebi como era diferente de tudo que estava acostumado.
A casa que morava era bem grande, o casarão era o local onde morava eu e mais oito dos funcionários mais prestigiados do Johnny. O lugar não era de se jogar fora, mas era longe do que eu estava acostumado.
Eu entreguei o convite na porta da casa e fui entrando como se conhecesse tudo, quando, na verdade, estava prestes a me perder em um daqueles corredores. A música alta tomava conta do ambiente e ali estavam as pessoas mais ricas da universidade, pessoas que eu não estava acostumado a conversar e nem fazia questão.
Aliás, isso foi o que me ajudou a não importar tanto em sequestrar . Naquele momento eu a achava uma patricinha como todas as outras. Eu ainda não sabia, mas devia ter dado ouvido ao quando ele disse que quem se metia com se feria.
Eu a vi dançando animada com umas amigas e me aproximei, peguei uma taça do champagne que serviam e bebi o líquido sem nem ver. As amigas dela me olharam assim que passei perto e cochicharam no ouvido dela. E a partir dali era só esperar a hora de dar o bote. Nunca falhava.
Dei uma volta pela mansão, porque nunca saberia quando teria a chance de entrar naquele lugar de novo, ainda mais que sequestraria a herdeira daquilo tudo. Subi um lance de escadas e cheguei ao andar superior da casa, havia dois corredores e eu comecei a andar por um deles, as luzes dos castiçais de cristal pendurados no teto iluminavam meu caminho.
Abri uma porta e pelos troféus em cima da estante, me dei conta de que era o quarto de Charles , o irmão “ruim de pagar” de . Fechei a porta e quando me virei, dei de cara com a própria.
— Posso saber o que quer na minha casa? — levei um puta susto, ouvindo a voz dela, mas não era bobo e arrumei uma desculpa rapidamente.
— Estava procurando seu quarto, confesso. — disse abrindo um sorriso. — Já fantasiei tantas vezes que precisava ver como é.
— Acha mesmo que acredito? — ela riu. — Me fala logo! Aliás, tire a máscara.
— Só se você tirar a sua. — ela usava uma máscara verde veneziana, combinando com seu vestido justo.
— Negócio fechado. — ela retrucou e juntos colocamos as mãos nas máscaras, eu segurava a dela e ela a minha. Se ela tirasse minha máscara, ela saberia minha identidade e não teria a menor possibilidade de prosseguir com meu plano.
— Eu tiro primeiro e depois você. — eu disse e ela assentiu. Eu retirei sua máscara lentamente, e minha respiração ficou suspensa quando seus olhos fixaram-se nos meus.
E então eu desisti. Como um marica idiota, eu desisti de ir em frente com aquele plano maldito. Ela deslizou minha máscara para fora do meu rosto e quando retirou, sua expressão foi de espanto.
— Vem comigo. — ela disse simplesmente com os olhos inexpressivos.
Eu a segui, enquanto ela me puxava pela mão. Quando entrei em um quarto, logo percebi que era o dela, cheio de fotos dela penduradas nas paredes. era linda e eu estava em seu quarto, que era cinco vezes maior do que o meu.
— Agora me fala, como entrou nessa festa? Quem te deu o convite? — ela perguntou, irritada. Ali estava o motivo pelo qual deveria ter sequestrado aquela garota, ela provavelmente me expulsaria dali em questão de segundos, como se fosse uma doença contagiosa.
— Não revelo minha fonte de ouro. — eu disse rindo, passei o dedo indicador no meu lábio inferior, pensativo. — Aquela dali é você? — perguntei, apontando para uma foto dela na parede. Reconheci o uniforme de cheerleader e sorri, era óbvio que ela tinha sido uma na época do colégio.
— É, sou eu. — ela olhou de relance para a foto. — Para de me enrolar, .
— Você sabe mesmo meu nome? Estou impressionado. — eu ri e ela revirou os olhos.
— Todo mundo sabe quem você é, todo mundo morre de medo de você naquela universidade.
— Você não me parece ter medo de mim.
— Não tenho mesmo.
— Pois devia ter. — disse, levantando uma das minhas sobrancelhas.
— Pode me dar um bom motivo? — ela era boa em retrucar. A segurei firme pelo rosto e ela arregalou os olhos, assustada, quando apertei. Fui andando e empurrando-a até que ela se encostasse na parede. — Vai fazer o que? Eu grito se for preciso.
— Duvido que vão te ouvir com a altura da música rolando lá embaixo. — disse com um sorriso brincando nos lábios. — Eu vim aqui porque era para te sequestrar, seu irmãozinho deve muita grana pro meu amigo. Não sei qual desculpa vou dar pra ele quando chegar lá e contar que não cumpri minha promessa.
— E por que não vai cumprir? — ela disse entre os dentes.
— Meu Deus, você é mesmo muito petulante. — eu ri. — Isso te deixa diferente, te deixa sexy. Eu não quero fazer, não sou esse tipo de cara, não faço esse tipo de trabalho e no fundo, confesso que fui com a sua cara, patricinha. — disse soltei o maxilar dela, e recebi um olhar enfurecido vindo dela.
pegou o abajur e veio com ele pra cima de mim, tentando me atacar e eu simplesmente a segurei pelos braços com toda facilidade do mundo, a levei de volta até a parede e sem dizer uma palavra sequer, eu a beijei. Ouvi um baque surdo quando abajur caiu no carpete macio, que estava debaixo dos nossos pés, e então ela me beijou de volta.
Aí começou o que eu intitulo de minha prisão. Eu fui embora logo depois, deixando-a atordoada e no fundo esperava que ela não me denunciasse. Nos outros dias na universidade, ela me olhava, mas fingia que nem me conhecia. Nada fora da normalidade.
O que estava fora de normalidade era o fato de que não conseguia parar de pensar nela. E eu fico insuportável quando quero alguma coisa, e eu queria jogar aquela garota em algum lugar firme e virar a noite ouvindo seus gemidos em meu ouvido.
E em certo dia, assistindo a única aula que tínhamos juntos, recebi um pequeno bilhete que ela deixou cair sorrateiramente em cima da minha mesa, enquanto saía da sala, apressada. O bilhete me dizia para encontrá-la na quinta cabine privativa da biblioteca no terceiro andar.
Eu fiquei espantado, obviamente. Quando que em minha vida inteira, eu pensaria que aquela mulher maravilhosa estava marcando um encontro comigo?
Quando cheguei lá, ela me puxou para dentro da cabine e travou a porta.
— Escuta, o que eu estou a ponto de fazer aqui não quer dizer nada, só que eu queria repetir o que fizemos no meu quarto. — ela disse. Eu assenti, me aproximando dela e a beijando.
Foi nosso primeiro encontro às escondidas. Nós nos víamos uma vez por semana, todas as sextas-feiras depois dessa primeira vez. Os nossos amassos ficavam cada vez mais intensos a cada encontro e nós sempre conversávamos sobre coisas triviais. Disciplinas nas quais estávamos afundando, reclamávamos de alguma prova ou nota dada por algum professor.
Comecei a contar para ela sobre os serviços que fazia, não mencionava o tráfico, apesar de que ela parecia saber disso. Eu contava apenas das surras que eu dava em alguns caras e as expressões dela beiravam o horror, eu me divertia ao vê-la com aquela expressão de choque.
Ela ficou super empolgada quando contei sobre minhas tatuagens. Contei quando fiz minha primeira tatuagem aos 17 anos, e me arrependi logo depois, era uma cobra estranha no braço, o símbolo da gangue e todos tinham que fazer. Mas logo depois, comecei a fazer as tatuagens que eu achava interessante e foi assim que cobri meu braço esquerdo inteiro. A mais elaborada de todas é a que carrego nas costas, asas 3D que parecem se movimentar conforme eu me movimento.
Quando completamos um mês desde o primeiro encontro, eu já estava louco. Já era a quinta vez que nos víamos ali e daquela vez eu estava decidido a levar aquilo para outro nível, mas ela deu o sinal de que queria antes mesmo que eu dissesse alguma coisa. E então transamos em cima da mesinha de estudos, e eu nunca me diverti tanto fazendo-a gemer baixo, quando na verdade ela queria gritar.
Quando acabamos, ela começou a catar as peças de suas roupas de marca e riu enquanto as vestia.
— Agora vamos ver se você para de me olhar como se fosse me devorar toda vez que passa por mim nos corredores da universidade. — ela disse, mordendo o lábio inferior.
— Acho meio difícil. Eu quero mais agora. —falei, segurando-a pela barriga e ela se escolheu quando beijei sua orelha. — Vou te chamar pra estudar comigo sempre, pode ser? — disse, a virando de frente para mim e pisquei. — Eu te ligo? — perguntei como um idiota.
— Nunca me ligue. — ela disse assustada. — Lembre-se das regras: Nunca fale comigo quando me encontrar na universidade, nunca mencione meu nome como se me conhecesse, . Eu te procuro como temos feito no último mês e aviso quando quiser mais disso aqui.
“Disso aqui” podia ser traduzido como trepada das boas.
— Eu vou sair antes de você e depois dê uns dez minutos antes de ir. — ela disse, mandona, mas com um sorriso nos lábios. Tão carinhosa... Só que não.
— Claro, madame. — ela revirou os olhos, ajeitando os cabelos rapidamente.
— É sério, se alguém da universidade nos ver juntos, toda minha reputação vai por água abaixo e meus planos de carreira, inclusive minha candidatura à presidente juvenil dos estudantes.
— Eu sei. Imagina que escândalo seria ser flagrada, logo após ter tido alguns orgasmos em uma sala privativa de estudos da biblioteca com ? — abri a boca como se estivesse espantado com a perspectiva daquilo acontecer e ela me deu um tapa no ombro, séria, mas logo depois um sorriso brotou em seus lábios.
— Quando eu quiser, te aviso. — ela disse e mandou um beijo no ar, antes de sair da sala privativa que era só de . Eu terminei de colocar minhas calças e percebi que tinha me metido em uma encrenca.
E isso tudo foi só o começo do que seria uma relação profunda e conturbada.



Capítulo 2

“But I fear, I'm getting used to being held by you”
(Mas temo que eu esteja me acostumando a ser mantido por você)

Depois de seis meses do nosso primeiro encontro, eu tinha certeza de que era, de longe, a melhor coisa que aconteceu em minha vida inteira, não era de se espantar que acabei me tornando refém de seu sentimento por mim ou, na verdade, refém de sua cama.
Aquilo que nós tínhamos era um segredo e tanto, para mim e para ela. No meu caso já estava acostumado com isso, escondia todos os negócios ilícitos da gangue, fossem drogas, bebidas e crimes que na verdade são proibidos até de pensar. Na gangue, se você abre a boca, morre. Simples assim.
Para , se abrisse a boca e contasse que estávamos com aquela história toda de sexo casual seria uma morte, sua morte social. A patricinha rica e inteligente se pegando com bad boy delinquente, só fica bonito mesmo nos livros e nos filmes. Na vida real a situação é completamente diferente.
Eu não demonstrava o quanto ela estava se tornando importante para mim, o que nós tínhamos era só sexo para ela e para mim seria assim também. Ainda mais com a minha reputação de cafajeste, eu não queria mudá-la. Todos que me conheciam, fosse do meu bairro ou da faculdade, sabiam que quando se tratava de relacionamentos, meu pênis entrava em cena, enquanto meu coração saía fora.
O que diriam se eu contasse que com era diferente? Aliás, o que diriam se soubessem que estava com ?
Meu celular começou a tocar ininterruptamente, enquanto tomava meu café da manhã de sábado, quando olhei no visor revirei os olhos. Era Johnny, que provavelmente me xingaria por algum erro que tinha cometido. Ele tinha ficado insuportável depois que não consegui sequestrar .
— Fala. — atendi, irritado, antes mesmo de ouvir sua voz grave, se arrastando pela linha telefônica.
— Você conseguiu fechar o negócio com os mexicanos, não sei o que fez, mas estou orgulhoso de você. Passe aqui mais tarde para buscar seu dinheiro. — ele falou, animado, e eu respirei aliviado. A última coisa que queria era que ele ficasse irritado comigo em pleno final de semana, porque isso resultaria em trabalho escravo para mim.
Meu celular apitou, avisando que estava recebendo uma segunda chamada e eu tratei de dispensar logo Johnny, antes que ele achasse algum defeito e começasse a sessão de xingamentos.
— Oi. — Falei com a boca cheia de cereal.
— Oi, . — a voz chorosa de me fez colocar a colher dentro da tigela, eu a escutava atento.
? O que houve?
— Você tá muito ocupado? Preciso da sua ajuda. — ela disse sem rodeios e eu já fui levantando e pegando minha jaqueta.
— Aonde você tá? — eu disse, pegando as chaves do carro que Johnny tinha me fornecido, um carro de luxo com 500 cavalos de potência e novo em folha. Não via a hora de usá-lo nas corridas clandestinas contra a gangue dos “Dragões Sanguinários”.
— Em casa. Não tem ninguém aqui, pode vir. — eu desliguei, entrando no carro sem perder tempo e fui logo seguindo para a mansão gigantesca dela. Não era a segunda vez que entraria ali, porque nos últimos seis meses não fiz serviço só na biblioteca, seu quarto era o melhor lugar depois da sala privativa.
Assim que cheguei, o segurança apenas assentiu para mim, ele já me conhecia das outras vezes que fui lá e apenas abriu o portão. Estacionei meu carro e o motorista veio pegá-lo para guardar na garagem. Adorava aquele tratamento sofisticado.
Assim que entrei na mansão, a encontrei sentada no pé da escada, enrolada em um roupão de seda e de chinelos de dedo. Algo totalmente fora dos padrões dela, o que me fez ter certeza da gravidade da situação.
— Eles levaram Chuck. — ela disse se levantando e vindo até a mim. Chuck era o apelido de seu irmão drogado. — Você precisa libertá-lo.
— Ei, ele não foi pego pelo pessoal das cobras. Se fosse o caso, eu saberia.
— Eles me mandaram uma foto. — ela tremia, enquanto estendia seu celular me mostrando a foto em que Chuck aparecia ensanguentado e caído no chão. Eu reconheci o local na mesma hora. Aquela dali era a sede dos dragões, eu tinha ido ali duas ou três vezes, porque não era permitida a entrada de uma gangue no espaço da outra sem autorização.
— Merda! — eu esbravejei. — A coisa ficou feia, ele se meteu com uma gangue pior do que a cobras, . O pessoal dos dragões sanguinários, não o deixará livre,enquanto ele não pagar a dívida que ele tem.
— Eles disseram que ele deve cem mil. Acha possível que Chuck tenha gasto tudo isso em drogas? — ela disse e eu ri de sua ingenuidade.
— Tenho certeza que sim. Até porque a dívida só vai aumentando depois que você atrasa o pagamento. — ela limpou uma lágrima e se levantou.
— Você vai me ajudar? — ela perguntou com a voz se tornando firme.
— Ah, não sei, . Esse pessoal é meio complicado, minha gangue não se dá bem com a dos dragões.
— Eu vou me virar sozinha então. Meu irmão pode ser um idiota, mas não vou deixá-lo na mão. — ela disse, determinada, e se virou subindo as escadas. Eu segurei seu braço, fazendo com que ela se virasse.
— Tudo bem, eu vou com você. — eu não sabia se aquilo que ela tinha dito era blefe, mas funcionou. Porque só de imaginar se metendo com os Dragões, me dava calafrio e desespero.
Ela subiu e pediu que eu a esperasse, apenas assenti. Cruzei os braços e fiz uma prece em silêncio para que nada desse errado, porque entrar no local em que os dragões tinham sede, era como entrar em uma caminho sem volta, caso você não soubesse lidar com eles.
Ela demorou vinte minutos se arrumando e eu estava tentando pensar na melhor maneira de conversar com Alejandro, o chefão dos dragões. Ele era dez vezes pior do que o Johnny e era temido por todas as outras gangues existentes na cidade.
Todos sabiam que não deveria se meter com ele, a paciência dele esgotava rápido.
— Eu não sei como conversar com ele, ou o que falar. — ela mordeu o lábio, assustada, enquanto terminava de descer os degraus e eu estendi o braço para ela, que me olhou relutante, como se estivesse em dúvida de segurá-lo.
— Olha, me parece que sou a única pessoa por aqui e aliás, estou disposto a te ajudar, podia demonstrar um pouco mais de gratidão. — disse e ela revirou os olhos, antes de entrelaçar seu braço no meu. — E relaxa, eu sei como lidar com Alejandro.
Nós fomos no meu carro, apesar de, no fundo, estar com medo de perdê-lo para Alejandro como forma de pagamento da dívida. Johnny arrancaria meus olhos. Eu dirigi rapidamente para o lado da cidade em que os dragões se encontravam e ao meu lado, respirava fundo, visivelmente preocupada com irmãozinho playboy.
Na porta do local havia um homem alto e forte com cara de quem comeu e não gostou, era de praxe colocar um “segurança” na porta, pra meter medo. A minha gangue fazia isso também, e sabia que eles eram mais do que corruptíveis, se oferecesse dinheiro teria qualquer coisa.
Mas aquele dali não queria facilitar muito meu serviço.
— Tem hora marcada com Alejandro? — ele perguntou, com cara de poucos amigos.
— Sim. — eu menti descaradamente e ele assentiu.
— Vou averiguar. — ele me deu as costas e entrou pelo portão de ferro, que parecia dar acesso a um imenso galpão.
segurava minha mão com força, todo o medo que provavelmente sentia, a fez tomar uma medida desesperada, como fazer aquele pequeno gesto, por exemplo. Assim que o segurança grandalhão voltou, eu parei de me concentrar na maciez da pele dela e foquei nas palavras dele.
— Ele irá receber você. — ele apontou para mim. — E você não poderá entrar. — disse apontando para .
— Ei, eu quero entrar! Eu preciso! — ela falou pela primeira vez e apesar de seu medo, naquele momento parecia ter deixado sua irritação falar mais alto.
— Meu camarada, colabora comigo. — eu tirei cem pratas do bolso e deslizei pela mão do segurança, que segurou o dinheiro firmemente antes de guardar no bolso.
— Entrem. — ele disse, simplesmente, abrindo espaço para nós, que entramos calados e acredito que ambos sentíamos os cabelos da nuca arrepiados.
Assim que entramos no local, outro homem veio até nós, esse já me era familiar, tinha participado de umas corridas clandestinas que eu também estava. Ele apenas me cumprimentou com a cabeça e depois começou a andar, eu o seguia e segurava a mão fria e trêmula de .
Chegamos ao final de um corredor escuro e ele apontou para uma porta de madeira.
— Podem entrar. Alejandro irá conversar com vocês. — ele disse e eu assenti.
Olhei de relance para , que mordeu o lábio com tanta força que, por um minuto, achei que fosse cortá-lo. O cara que havia nos acompanhado se afastou e percebi que os olhos de estavam marejados, foi desesperador ver aquela cena.
E eu não me incomodava com mulheres chorando, só havia me incomodado certa vez em que vi minha mãe se debulhar em lágrimas logo após a morte do meu pai. Eu prometi que as coisas melhorariam, mas infelizmente, só pioraram.
— Ei. —segurei o rosto delicado de entre minhas mãos. — Vai ficar tudo bem, entendeu? — ela assentiu, e eu a abracei. Sem me importar se ela acharia ruim ou não, afinal estávamos longe de qualquer conhecido dela.
Para minha surpresa, ela rodeou minha cintura com os braços finos e apertou-me com força. Beijei o topo de sua cabeça e ela logo se afastou, enxugando qualquer rastro de medo que tivesse passado por ali. Uma coisa que podia afirmar sobre , era que ela era mais forte do que aparentava ser.
— Eu vou ficar bem. Preciso ser forte e livrar meu irmão dessa. — ela disse de maneira firme.
— Posso te perguntar uma coisa? — falei com a expressão séria e ela assentiu. — Pra que vir de salto? Não dava para colocar um tênis? — perguntei e ela revirou os olhos.
— Sério? Eu precisava ficar apresentável e utilizar minha única arma. — eu fiz cara de quem não tinha entendido e ela prosseguiu. — Meu corpo, seu sonso.
— Certo. Não acho que vá precisar disso e nunca deixaria que Alejandro encostasse um dedo sequer em você.
— Ciúmes? — ela perguntou, com um sorriso divertido nos lábios.
— Você sabe que não, . Estou apenas me preocupando com seu bem estar. — eu disse. — E vamos logo, antes que Alejandro desista e mate todos nós de uma vez só.
Eu abri a porta com cautela, sem saber o que me aguardava e para meu espanto, a sala era enorme, e muito bem decorada apesar do lado de fora do local ter cara de um ferro velho, de tão podre que estava.
Assim que entramos, Alejandro se levantou e veio até nós com cara de sério. Eu tremi um pouco nas bases, por saber que o maior chefão do tráfico estava ali na minha frente.
— Mal pude acreditar que um cobra tinha ousado pisar em minha área. Precisei ver com meus próprios olhos e descobrir quem era o idiota que clamou pela própria morte. — eu engoli seco.
— Eu que o convenci. — disse e libertou sua mão da minha. — Me... Me desculpe, mas você está com meu irmão e eu o quero de volta. — sua voz subiu alguns decibéis e eu pedi mentalmente que ela mantivesse a calma diante de Alejandro.
, deixe comigo. — disse olhando para ela. — Alejandro, eu pisei aqui porque Charles, ou mais conhecido como Chuck, está sob seu poder e quero saber qual é o preço para consegui-lo de volta. — disse sem rodeios.
— Eu mandei o valor para a garota. — ele disse.
— Aquele valor é absurdo, e eu nunca conseguiria levantá-lo em pouco tempo. — disse.
— Eu tenho até um pouco de paciência sobrando. Mas decidi que quero os cem mil. — Alejandro disse com um sorriso surgindo no rosto.
— Não existe outra chance? — perguntou e Alejandro passou a mão pela barba cerrada.
— Talvez. — respondeu com um ar pensativo e então me olhou. — Você ainda gosta de dirigir, ?
— Sim. — respondi automaticamente. Eu era meio que famoso pelas corridas, porque sempre ganhava e isso irritava a todos os outros competidores, meu nome acabou ficando conhecido no meio das gangues.
— Eu tenho uma proposta então. — eu sentia meu coração disparado, porque tinha certeza que a proposta seria absurdamente indecente para um cobra. Ele me utilizaria para afrontar minha própria gangue, tinha certeza. — Quero que corra para mim.
— Não creio que isso...
— Eu não terminei de falar. — ele me cortou. — Eu tenho Willow, ele é o melhor corredor que possuo. Mas ele não é melhor do que você, rapaz. — ele caminhou até um sofá creme e se sentou ali. — Você é o melhor que já vi até hoje.
— Que tipo de corrida? — perguntei apesar de que em minha mente já estava pronto para negar.
— Se você ganhar essa corrida, o concorrente me paga 100 mil e a dívida está perdoada. — ele disse sem emoção na voz, mas um espasmo de sorriso brincou no canto de seus lábios.
Ele estava se divertindo vendo eu me debater com meus princípios.
— Ele aceita. — respondeu em alto e bom tom. Eu a olhei, aliás, eu a fuzilei com os olhos. A filha da puta não podia calar aquela boquinha em momentos como aquele?
— Aceito porra nenhuma. — disse e me virei para Alejandro. — Você sabe que isso seria uma afronta para meu povo.
— Eu sei, mas achei que essa garota fosse tão importante para você quanto sua gangue. — ele disse e eu o odiei por saber brincar comigo e me manipular de maneira tão profunda. — Quer saber? Vou dar um tempo para você pensar. — ele se levantou e foi até a porta, abrindo-a. — Voltem aqui daqui uma semana, será o dia da corrida. Espero que tenha o dinheiro ou então tenha decidido correr para mim, porque os dedos da mão esquerda de seu irmão estão infelizmente todos quebrados, então imagine o que posso fazer com ele se não cumprirem o trato?
tremia, não sei se de raiva ou medo, e eu segurei sua mão puxando-a para fora da sala comigo. Saí dali arrastando ela comigo, até que chegamos do lado de fora e ela soltou sua mão da minha, seus olhos havia pânico e raiva.
— Esse cara é um grande filho da puta! Eu queria matá-lo. — ela esbravejou e até assim ela conseguia ficar linda. Eu era um babaca diante dela.
— Eu sei. Olha, eu teria dito que sim, mas o pessoal dos cobras me matariam e eu não teria mais família alguma, não teria mais com quem contar. — eu disse, me sentindo culpado por não poder ajuda-la.
— Acho que te entendo, estou lutando pela única família que tenho, já que meus pais fingem que nem eu e Chuck existimos. — ela passou a mão na testa vincada. — Vamos embora daqui? Esse lugar me causa arrepios na espinha.
Eu assenti e abri a porta do carro para ela, coisa que nunca faria com qualquer outra pessoa no planeta terra. Ela entrou e colocou o cinto, enquanto eu dava a volta para entrar no carro, me perguntei como sairia daquela situação, porque ver sofrer era doloroso demais.
Eu a levei para casa e assim que estacionamos no imenso quintal de sua mansão, ela pulou em meu colo, me beijando com voracidade e me espantando um pouco. Ela não era assim espontânea, aquilo estava completamente fora dos padrões dela.
— O que preciso fazer para que você corra para aquele maldito gangster? — ela perguntou mordendo o lóbulo da minha orelha e eu estremeci.
— Você está jogando comigo? — perguntei.
— Estou usando minha arma, esqueceu? — ela disse e segurou uma de minhas mãos, colocando-a sobre um de seus seios. Dentro da minha calça sentia um volume se formando e fechei os olhos quando ela se esfregou em minha de forma lenta e cruel. Aquilo era injusto comigo.
De repente ela se afastou, se sentou no banco do carona novamente com sua respiração desregulada, ela me olhou e sorriu maliciosamente antes de morder o lábios inferior.
— Você sabe que se correr e ganhar, vai ganhar um prêmio inesquecível, certo? — ela piscou antes de sair do carro, deixando para trás o rastro de seu perfume importado e cheiro de destruição.



Capítulo 3

“Baby, I'll never leave if you keep holding me this way”
(Querida, eu nunca irei embora se você continuar me segurando desse jeito)

Três dias depois estava em uma das salas da universidade, estudando sozinho e tentando me concentrar nas palavras do livro que pareciam dançar na minha frente, eu estava zonzo de tanto estudo e por não ter nenhuma comida no estômago.
Ouvi um barulho dos saltos altos sobre o chão de mármore que veio até a mim e parou diante da carteira em que me sentava. Eu quis ignorar, eu sabia que era , sabia que ela estava querendo jogar pesado e eu não resistiria.
— Não vai me olhar? — ela disse com voz manhosa. Patricinha dos infernos que parecia ter prazer em me torturar. — Não. — respondi seco, mas na verdade estava louco para olhar. — Tudo bem, então. — ela caminhou para a porta e eu respirei aliviado, mas o alívio durou pouco, ela trancou a mesma e voltou logo depois até a mim. Me fez levantar a cabeça, jogou meu livro no chão e sorriu. — Você decidiu?
Ela perguntou, mas meus olhos só sabiam dançar no nó de seu casaco que ela desfazia habilmente enquanto me olhava sedutora, assim que abriu o casaco eu sibilei e travei o maxilar. Meu papai, aquilo não acabaria bem.
Eu me levantei da cadeira, me aproximei de seu corpo cálido e quente, tão convidativo e apetitoso. Ela tinha controle sobre mim como um sequestrador tinha com sua vítima, ela mandava e desmandava em mim, eu estava completamente envolvido com a mulher que tinha sequestrado meu autocontrole.
Me lembro de certa vez ter lido sobre a Síndrome de Estocolmo, que é um estado psicológico em que a vítima de um sequestro, ou detida contra sua vontade, cria laços afetivos com o se raptor, e no meu caso eu tinha uma raptora. A pessoa mais improvável do mundo tinha despertado em mim sentimentos, laços afetivos. Quem diria?
Passei minha mão pelo espaço aberto de seu casaco, ela usava uma blusa colada no corpo, seus mamilos estavam eriçados, talvez pelo frio, mas preferia acreditar que era por pura excitação em estar comigo.
Eu a puxei para beijá-la e o doce sabor de morango de seus lábios chegou à minha língua, assim que chupei seu lábio inferior antes de consumar o beijo. Ela fez um som parecido com um ronronar de um gato, e eu soube que estava no caminho certo.
Segurei sua bunda por cima da saia preta justa, que ela usava, com ambas as minhas mãos, enquanto a beijava, acariciando-a algumas vezes. Antes de deslizar minha mão para a parte da frente, acariciei a parte interna de sua coxa e fui subindo vagarosamente, até que encontrasse o tecido de sua calcinha, eu parti o beijo e ela me olhou com profundo desejo.
Acariciei levemente por cima de sua calcinha, fazendo com que ela resmungasse e soltasse alguns gemidos baixos, por conta do local onde estávamos. Ouvimos batidas na porta e ela fez menção de se afastar, mas eu puxei novamente.
— Para! Você ficou maluco? — ela perguntou em desespero.
— Ei! Tem alguém aí dentro? Essa porta estava destrancada agora mesmo! — Ouvimos a voz de alguém do outro lado da porta. Eu afastei sua calcinha para o lado e comecei a movimentar meu dedo sem o tecido de algodão impedindo o contato.
— Puta merda! — ela resmungou e curvou a cabeça para trás, segurando firmemente em meus ombros. Eu sorri diante daquela reação, mas a minha alegria durou pouco, pois as batidas voltaram e então ela me empurrou com força. — Droga! Você precisa entender que não dá para ficarmos juntos diante de todos, e nem mesmo sermos vistos no mesmo lugar, como aqui e agora, por exemplo! Se alguém abrir essa porta e me ver com alguém como você... — ela se calou na mesma hora que disse isso e eu não pude reprimir uma feição de decepção, apenas assenti e me afastei dela que veio até a mim e segurou meu braço.
— O que foi? — eu perguntei, começando a me irritar. — Sabe, ? Eu me pergunto porque ainda me encontra se te enojo tanto. — ela ficou calada, e eu me virei para sair dali, quando estava perto da porta sua voz me atingiu.
— Você foi a pior ideia que tive na vida, mas o problema é que de todas as ideias ruins que já tive, você foi a melhor. — ela tinha acabado de admitir que de alguma maneira eu era algo para ela além de “sexo” e “salvação do irmão babaca”? — Olha, eu preciso ir. Hoje à noite vai ter a festa à fantasia na Delta Kappa, você vai? — ela perguntou, amarrando seu casaco e eu apenas a puxei para mim, beijando-a novamente. Não a beijei por muito tempo, mas o suficiente para que mostrasse o quanto tinha gostado daquela declaração dela.
— Talvez eu vá. — só iria por ela, que isso fique bem claro. A maioria dos playboys que iam naquela festa tentava me provocar e me fazer brigar, tentavam despertar o meu lado monstro e eu evitava que isso acontecesse, porque quando batia em alguém as coisas ficavam fora do controle.
— Certo. — ela disse e parecia recuperar o fôlego. — Nos vemos lá.
Ela se afastou e destrancou a porta saindo dali em passos rápidos, eu sorria quando um professor exaltado entrou ali com cara de quem sabia o que eu e estávamos fazendo, mas acho que até os professores tinham medo da minha má fama, pois ele não disse nada, apenas pegou seus materiais que estavam abandonados na mesa e saiu dali.
Eu fiquei pensativo, e depois do que tinha acabado de ouvir da boca de , decidi ir a tal festa que ela disse para que eu fosse. De alguma maneira eu sentia como se estivesse, enfim, conseguindo amolecer o coração dela.
~*~

“ Who's this man that's holding your hand And talking 'bout your eyes?”
(Quem é esse cara segurando sua mão e falando sobre os seus olhos?)

Dê o play na música "Stockholm Syndrome"

Coloquei uma camiseta branca, um jeans qualquer e saí de casa quando beirava as onze e meia da noite, recebi uma mensagem em meu celular e meu semblante murchou ao ver que era Johnny me colocando à frente de uma nova cobrança.
Tentei não pensar naquilo enquanto entrava em meu carro e ouvia o motor rugir, eu iria me divertir naquela noite, aquela festa era pra isso, certo? Assim que estacionei perto da casa da fraternidade e saí do carro, várias meninas me olharam, algumas com desejo, outras com um certo nojo.
Eu as ignorei por completo, meu foco era outro.
Assim que adentrei a casa, percebi que a animação já estava em um nível bastante adiantado. Havia pessoas bêbadas se esfregando umas nas outras na pista de dança improvisada no meio da enorme sala de entrada da fraternidade.
Tentei achar , mas não a via em lugar algum. Não que fosse falar com ela, porque ela provavelmente me mataria depois, mas pelo menos para fazer com que ela me visse por ali, eu poderia ganhar um prêmio no quarto dela mais tarde, se é que entendem o que quero dizer com isso.
— Mas você acha mesmo que o Chad teria coragem de agarrar a patricinha à força? — Um cara cheio de anabolizantes no corpo perguntou, atrás de mim, para um outro cara com cara de noiado.
— Cara, me diz o que Chad não tem coragem de fazer? — o noiado respondeu. Eu olhava de relance para eles, e em minha mente uma resposta foi formulada para aquela pergunta. Chad não teria coragem de fazer aquilo, porque se fizesse, morreria pelas minhas mãos.
Chad era o presidente júnior da universidade, e eu me lembrei das sábias palavras do meu amigo , sobre aquele ser o tipo do cara perfeito para ela. Senti um sentimento de posse em mim, eu sabia que não era minha, mas não seria daquele engomadinho filho da puta também.
Me virei para ir em busca de , mas fui interrompido no caminho por Megan, uma das mais provocantes da universidade, já tinha perdido as contas de quantas vezes a comi. Ela usava um vestido vermelho curto e carregava um copo cheio de bebida na mão.
— Oi, . — ela disse com a voz provocante. — Senti saudades. Não imaginava que começaria a frequentar esse tipo de festa, se quiser, te mostro a parte de cima da casa.
Ela queria transar comigo, isso sim. Em qualquer outra ocasião, iria para cima com ela e faríamos um sexo rápido e quente, porém, eu tinha na cabeça e a minha mente colocava ela aos beijos com Chad.
— Eu tenho outro compromisso, Meg. Se não se importa. — eu respondi e me afastei, deixando-a boquiaberta e sem entender o motivo de dispensá-la, nem eu entendia.
Meu olhos encontraram o de , ela tinha as sobrancelhas erguidas, parecia ter acabado de assistir à cena com Meg, e eu só lamentava por ela, já que não reivindicava a mim diante das outras garotas. Ela se virou e falou rapidamente com uma garota, eu caminhei até o outro lado da sala, reparando o quanto ela estava maravilhosa, usava uma daquela roupas que ela adorava, justa no corpo, porém nada vulgar. Eu avistei Chad vindo pelo outro lado da pista de dança, em direção a ela e comecei a me movimentar, tentando ficar perto dela sem ser notado.
Chad alcançou o braço de e eu queimei de raiva, ou inveja, talvez.
Eles conversavam animados e eu me aproximei mais, cada vez ficando mais próximo deles. Estava atrás de , havia duas pessoas nos separando, mas dali era o suficiente par acompanhar a conversa deles.
— Adoro seus olhos. — Chad disse e eu sacudi a cabeça diante daquela cantada ridícula.
— Obrigada. Sabe, estou me perguntando o que veio falar comigo, já que sempre ignora minha presença na universidade. — respondeu e eu adorei que ela estivesse tratando-o friamente.
— Você é intimidante, querida. Você tem um jeito determinado que apavora até os mais corajosos. — ele tinha razão nessa parte, não podia deixar de concordar. — Mas diante desse fato, cheguei à conclusão de que somos uma combinação perfeita. — Chad disse segurando a mão de e se sentindo o gostoso da parada, quando na verdade estava queimando o próprio filme. Não me espantava que ele tivesse que beijar mulheres à força, afinal, que tipo de mulher beijaria um cara que falava aquele tipo de coisa?
— O pior é que você está certo. — respondeu e eu não acreditei no que ouvia. Ela preferia andar com aquele idiota publicamente do que andar comigo? Eu poderia não estar na alta sociedade como ela, mas pelo menos sabia falar uma coisa ou outra sem exaltar meu ego. E olha que eu adorava me gabar pelas coisas que conquistava.
— Você quer ir comigo para um dos quartos disponíveis lá em cima? — ele disse e para mim foi o suficiente, virei-me e caminhei com tudo para a direção dele, mas não briguei com ele diretamente. Provoquei todo um acidente para que esbarrasse nele e sua bebida voasse, molhando a mim e ele ao mesmo tempo. me olhou assustada, acho que temia pelo que faria a seguir.
— Você só pode estar brincando comigo. — eu falei e olhei minha camiseta molhada colando no corpo.
— Digo o mesmo. — ele retrucou. Eu quis rir de sua petulância e pelo fato de ele não temer apanhar até morrer.
— Diz o mesmo? Você sabe com quem você tá falando, filhinho de papai? — eu disse engrossando a voz e me aproximando dele com uma cara de quem o destroçaria, segurei sua camisa pela gola e sua cara se assemelhava à de um poodle assustado. — Fica dando em cima da garota, sabendo que ela não te quer, derruba bebida em mim e ainda me afronta. Está querendo provocar a própria morte, é isso? Decidiu se suicidar e resolveu irritar os outros, para que fizessem o serviço? Porque é isso que parece para mim.
me segurou pelo braço e eu a olhei de relance, seus olhos injetados de raiva me desarmaram. Eu soltei a gola da camisa de Chad e saí andando em direção a uma porta. Assim que entrei no cômodo, percebi que era a cozinha, coloquei minhas mãos sobre a bancada de mármore e tentei me acalmar, tentei não voltar para dentro da festa e arrebentar a cara daquele babaca.
A porta da cozinha se abriu, entrou e me fuzilou. Havia dois garotos fumando ali, nem notaram nossa presença, mas ela fez questão de me puxar pela mão e me levar até a dispensa, que ficava ali dentro da cozinha.
— Da próxima vez, basta mijar em círculo em volta do lugar onde eu estiver, e acho que vai resolver o problema. — disse, logo após de fechar a porta da dispensa num rompante.
— Eu acho que ninguém notou que fiz por você. — eu respondi, assumindo que foi por causa dela mesmo.
— Claro! Isso por que você briga com qualquer um e por qualquer coisa. Assim como fode tudo que se move na sua frente.
— Ei, não tenho culpa se elas se oferecem para mim, por exemplo a Megan com aquele vestido vermelho. —Ela revirou os olhos visivelmente irritada. — Mas não precisa ficar com ciúmes, sou todo seu essa noite.
— Não sei se quero ficar com você essa noite. — ela disse.
— Ótimo, mas eu quero e muito. — eu rebati e ela sacudiu a cabeça antes de sorrir levemente. — Sabe o que eu queria de verdade hoje? — ela me olhou esperando que eu prosseguisse. — Uma dança com você. Vê se pensa nisso com carinho.
— Não se empolga. — ela disse, assim que eu terminei falar.
Eu estava quebrando o gelo que revestia o coração da patricinha? Essa seria uma novidade e tanto. A ideia me agradava bastante, mais do que eu supostamente deveria gostar.
Assim que voltei para a festa, peguei uma bebida e me misturei com a aglomeração que estava no meio da pista. Depois de uns vinte minutos, senti sua mão envolvendo as minhas e o perfume de invadiu meu nariz. Eu acreditei estar sonhando, por isso nem quis abrir meus olhos.
— Abre os olhos para mim. — ela pediu com sua voz adocicada e eu obedeci. Ela se aproximou do meu ouvido. — Eu atendi ao seu desejo, e adoraria que você atendesse ao meu. Preciso que salve meu irmão, .
— Você é injusta ao me usar dessa maneira. — eu disse, antes de segurá-la pelo couro cabeludo, abaixei minha cabeça e ignorei a existência de todas as pessoas que estavam bêbadas demais para notar que um gangster estava prestes a beijar uma garota linda da high society.
Passei minha língua nos lábios dela e depois me afastei. A música mudou e se virou, colando suas costas em meu peitoral, começando a se remexer ao som daquela música. Era libertador, era algo novo, nunca estive daquela maneira com e estava adorando cada segundo.
Quando pensei que tinha acabado todo o sonho, ela me puxou em sua direção e mordeu meu lábio inferior. Olhávamos um nos olhos do outro quando ela me abraçou pelo pescoço e pediu de maneira carinhosa.
— Vem comigo? — eu assenti, enquanto ela me puxava e me levava para algum lugar que nem sabia onde era, mas que tinha certeza que gostaria. A razão de ter certeza disso era que eu estaria com ela e isso era suficiente.

~*~


Estávamos em um quarto, disse que era de uma amiga dela e que estava tudo bem ficarmos ali dentro. Eu estava sentado na beirada da cama e sentada em meu colo, beijávamo-nos com toda a intensidade do planeta reunida ali.
Quando nos afastamos, fiquei olhando para suas feições, seus traços delicados e que pareciam frágeis à primeira vista.
— Nós temos esse estranho relacionamento, mas vivemos pensando no que irá acontecer no futuro, por mais que você não admita, . A ideia de ficarmos ou não juntos, mesmo que pareça impossível para nós.
— Por que está falando disso? — ela perguntou, abaixando a cabeça.
— Porque sei que nós dois nunca seremos fortes o suficiente para virarmos as costas um para o outro. Você trouxe para mim um ponto de equilíbrio entre o que é certo e o que é errado, e eu tenho revisto alguns conceitos meus sobre o que tenho feito da minha vida.
— Sério? — ela perguntou e mordeu o lábio antes de prosseguir. — O que eu sou para você? O certo ou o errado, ? — ela perguntou, acariciando meus cabelos.
— A porra da coisa mais certa que já fiz. — respondi com toda sinceridade que havia em mim e ela me beijou logo em seguida.
Eu a puxei para que caíssemos juntos na cama, a puxei para junto de mim, que já foi tirando o vestido lilás que usava. Eu a impedi que tirasse a calcinha e o sutiã, fazia questão de tirá-los eu mesmo.
Separei os lábios inchados de sua intimidade e passei um dedo ali, fazendo com que ela soltasse um gemido, ela abriu um pouco as pernas dela de maneira instintiva e então substituí o dedo pela minha língua, fazendo-a gemer e jogar a cabeça para trás, pedindo por mais das carícias que fiz incessantemente até que ela implorasse para que eu a fodesse.
Tirei minhas próprias roupas diante do olhar sedento de . Assim que terminei de retirar tudo, peguei o pacote metálico dentro do bolso da calça que usava e coloquei em meu membro ereto.
Encaixei na entrada da intimidade úmida dela e penetrei vagarosamente, e aquilo fez com que eu sentisse mais desejo do que nunca, o corpo dela se arrepiou por inteiro e ela soltou um gemido maravilhoso em meu ouvido. Mordi o lábio dela e comecei a investir de maneira cada vez mais intensa, mais selvagem e eu me perdi no prazer que sentia, não apenas físico, devo ressaltar.
Se eu já sentia que pertencia a ela antes daquilo, tive certeza, ali, naquele momento. Eu poderia foder todas as mulheres do mundo, me casar e ter filhos com alguém, mas a imagem de estaria sempre em minha cabeça.
Continuei me movimentando dentro dela, deixando-me sentir todo o tesão que o momento me oferecia até que senti o orgasmo vir. Soltei um resmungo rouco e relaxei meu corpo ao lado do dela.
Ela se enroscou em meu corpo, como fazia sempre que transávamos em seu quarto. A diferença era que uns cinco ou dez minutos depois, ela me mandava embora. Aquele momento foi diferente, e me assustei quando ouvi sua voz.
— Me conte um segredo seu, . — ela pediu, acariciando meu peitoral.
— Você não vai gostar de ouvir os meus segredos. — Eu disse, enquanto ela recostava a cabeça na parede. — Eles não são bonitos.
— Não me importo, quero saber algo seu, algo que nunca revelou para ninguém.
— Que novidade é essa? Nunca quis saber muito sobre minha vida, só as coisas básicas. — perguntei desconfiado.
— Não posso querer me sentir mais próxima de você?
— Isso é para que eu salve seu irmão? Não precisa, . Eu decidi que vou fazer isso independente de qualquer coisa. — falei e ela depositou um beijo rápido e estalado em meus lábios.
— Obrigada, mas agora me conte o segredo. — ela disse com um sorriso nos lábios e eu respirei fundo antes de jogar para fora de mim algo que só minha mãe sabia e que ela levou para o túmulo.
— Eu quase matei um cara uma vez. — Eu não a olhei, com medo que sua expressão fosse de puro pânico. — Eu cheguei em casa da escola e então vi aquele cara em cima da minha mãe, ele... — tomei fôlego antes de prosseguir, aquele era um segredo que escondia até de mim, às vezes. — Ele estava tentando estuprá-la, foi cobrar uma dívida do meu pai como sempre acontecia. Eu não pensei, apenas fui até a cozinha e peguei uma garrafa de vidro que estava em cima da mesa, voltei e quebrei na cabeça dele, que me olhou meio zonzo e ainda teve forças para tentar me pegar, e então eu enfiei a garrafa quebrada no abdômen dele. Eu achei que ele fosse morrer sangrando, deitado no chão da sala, mas meu pai chegou e o cara só não morreu porque ele o ajudou, e ligou para a emergência.
— Caramba. — Ela disse e eu me atrevi a olhar para seu rosto. Sua expressão era uma mescla de preocupação e seriedade.
— Não levei a culpa, meu pai disse que tinha sido ele.
— Sendo bem sincera, achei que já tinha matado, acho que o maior choque é saber que nunca o fez.
— Pelo visto, minha cotação com você é das piores. Não tiro sua razão de querer apenas meu corpo. — eu respondi rindo e ela riu também, sacudindo a cabeça em negação.
— Me desculpe, associo todos os seus negócios com a gangue ao fato de que era para ter me sequestrado.
— Mas eu não o fiz. Eu não consegui quando olhei em seus olhos. — Eu sorri. — Foi você quem acabou me fazendo sua vítima, sequestrou-me para dentro da sua vida e eu nunca mais consegui sair, nem acho que conseguirei fazer isso algum dia. — eu disse, sentindo-me um sentimental idiota.
— Eles chamam isso de Síndrome de Estocolmo, um refém de sequestro que acaba criando algum tipo de laço afetivo com o seu sequestrador. — ela disse e parecia ter lido a minha mente, eu tinha associado isso antes que ela o fizesse.
— Já tinha ouvido falar do assunto. Acho que não teria definição melhor. — acariciei seus cabelos macios. — Mas agora é a sua vez, qual é o seu segredo, ?
— Meu segredo? O que escondo de todos e acho que até de mim? — ela perguntou e eu assenti. — Eu acho que amo você, .
Foi um baque ouvi-la dizer aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Era sério aquilo, ou ela estava brincando comigo mais um vez?
— Não brinque comigo, garota. — disse sorrindo de canto.
— Eu não mentiria sobre isso. — ela mordeu o lábio inferior, parecia extremamente arrependida de ter dito. Aquilo significava que era verdade.
— Ah, por favor.
— Você estragou tudo e agora me sinto uma idiota por ter me exposto assim para você. — Ela se levantou e foi vestindo toda sua roupa, eu me levantei e fui até ela que vestira tudo numa rapidez assustadora.
— Ei, calma. Me deixe ter a chance de responder à altura. — eu pedi e ela pegou as sandálias que tinha tirado assim que entramos naquele quarto. Fui até ela e segurei seu braço, ela virou e me olhou.
— Olha, isso foi um erro, uma brincadeira só pra curtir com você mesmo. Esquece isso, ok? — ela disse, antes de sair do quarto à toda velocidade, não me dando nem ao menos a chance de dizer que eu a amava desde o momento em que ela se revelou para mim naquela maldita festa em sua casa.



Capítulo 4

“But my stockholm syndrome is in your room”
(Mas minha Síndrome de Estocolmo está no seu quarto)
“Yeah, I fell for you”
(Sim, me apaixonei por você)


Eu dormi mal pra caramba na noite da véspera da corrida. Eu tinha mentido para Johnny, disse que ia me encontrar com uma garota e que ficaria desconectado do mundo por algumas horas, mas na verdade estaria no meio de uma estrada e o celular não tinha sinal por lá.
No dia seguinte da festa em que disse me amar, liguei para Alejandro e combinei os detalhes, confirmando que participaria da corrida e então ele me passou a hora e o local.
Quanto à , ela simplesmente sumira depois daquele nosso momento juntos na festa. Não fora à universidade, não respondia às minhas chamadas, não retornara minhas ligações e nem respondia às minhas mensagens. Não sabia nem mesmo se queria ir comigo, mas pelo gelo e o chá de sumiço, era bem provável que ela não estivesse a fim de me ver.
Eu queria dizer que a amava, mas não queria fazê-lo através de um aparelho de celular.
Entrei em meu carro e, quando já ia saindo, a porta começou a ser golpeada violentamente, era exatamente ela, com lágrimas escorrendo no rosto. Eu abri a porta com desespero e ela falou com a voz emaranhada e embolada.
— Eles atiraram na perna do meu irmão. O Alejandro me enviou uma foto e disse que tinha feito aquilo pra mostrar que não está de brincadeira comigo ao ameaçar Chuck de morte. — ela tremia, enquanto enxugava uma lágrima.
— Eu estava indo para o lugar onde vai acontecer a corrida. — eu falei, sem saber muito bem como agir perto dela. — Se quiser ir comigo...
— Você vai mesmo correr? — ela perguntou.
— Eu não viraria as costas para você.
— Você disse que não gosta do meu irmão, que ele não paga sua gangue também, achei que estivesse brincando comigo.
— Ele é seu irmão, você o ama e eu não quero ver você sofrendo por isso. Agora entre logo no carro, porque não podemos nos atrasar ou definitivamente poderemos começar a nos preocupar, porque até onde eu saiba, nenhum de nós tem 100 mil na mão agora.
Eu dirigi no limite, quase como um aquecimento para a corrida mesmo. Certa vez, uma garota que tinha como transa fixa me disse que eu fodia como dirigia indo até os limites, agindo com um pouco de imprudência e ia até atingir o máximo que podia. Talvez ela estivesse certa, ou seria muita pretensão minha dizer isso?
Assim que chegamos, já avistei Alejandro e uma pequena aglomeração em volta dele, segurei a mão de , que ficou calada durante todo o trajeto e ela aceitou sem reclamações os olhares de repreensão. Será mesmo que ela me amava? Ou ela teria dito realmente de brincadeira?
— O piloto da vez chegou. Abram espaço! — Alejandro disse, com seu sotaque latino.
— Já está tudo pronto?
— Estão preparando, enquanto isso, pode descansar naquela tenda. — ele apontou para uma tenda branca. — A corrida deve acontecer apenas quando anoitecer.
Eu assenti e caminhei até a tenda, estava grudada em meu braço enquanto caminhava e, assim que adentramos o local, ela me puxou para um abraço apertado. Eu não sabia ao certo como reagir diante daquele impulso, apenas a abracei de volta.
— Eu não retiro o que disse naquela noite. — ela começou a falar. — E não somente por que vai correr pelo meu irmão, mas porque você é a única pessoa além de Chuck que se preocupa comigo, alguém que apesar de estar destratando o tempo todo, me trata como se fosse uma rainha.
— Mas é isso que você é, ou estou errado? — falei e ela riu.
— Talvez esteja certo. — ela afastou um pouco e continuou com seus braços em volta da minha cintura.
— Escute, eu preciso te falar uma coisa. — ela assentiu e eu prossegui, queria dizer para ela que também a amava. — Como você saiu naquele rompante sem me dar a chance de te dizer, não me esperou digerir a informação que tinha acabado de jogar sobre meu colo como uma bomba.
— Eu não esperava que fosse responder de volta, . De alguma forma, sempre soube que você era o bad boy e eu acabaria sofrendo no final.
— Mas eu sofri durante todo esse tempo que estávamos juntos, sabendo que nunca iria me assumir publicamente e caramba, você acabou estando certa, porque olhe só onde estamos metidos.
— Em uma corrida clandestina, e me soa como algo maravilhoso.
— Me soa como algo perigoso para que esteja envolvida.
— Não se eu estiver com você. — ela ponderou antes de continuar. — Não percebe? Corremos riscos diários em nossas vidas, a vida é cercada de pequenos perigos cotidianos e está no destino a decisão se aquilo nos afetará ou não. Então, eu estar ou não com você, não mudará o que terá de acontecer comigo.
— O que você quer dizer com isso?
— Que eu reafirmo sobre amar você e que estou disposta a arriscar tudo que tenho e almejo para meu futuro, se isso significa que terei a chance de ter você ao meu lado.
— Eu... Eu digo o mesmo. — disse e ela me olhou surpresa.
— O que você quer dizer com isso?
— Já pensou se a gente recomeçasse em outro lugar? — perguntei, começando a me empolgar com a ideia que surgiu em minha mente nos dias anteriores enquanto divagava sobre como faria para sair dos “Cobras”, caso fosse descoberto nessa corrida e Johnny quisesse me esfolar vivo.
— Nós dois? Tipo... Fugir?
— Exatamente.
— Mas a gente se conhece há seis meses, não sabemos o que faremos ou para onde vamos.
— Seria muito esquisito se eu já tivesse pesquisado? Espero que não. Descobri até que podemos pedir transferência para outras universidades. Na verdade, pesquisei sobre o assunto para mim mesmo, caso precisasse fugir da minha própria gangue, mas se você fosse comigo, me sentiria muito melhor.
— Eu não sei o que pensar.
— Pense até o fim da corrida. — meu celular vibrou no meu bolso e eu o peguei, achando aquilo estranho. Achei que ali não tivesse sinal.
Na tela do celular, o nome de Johnny brilhava incessantemente, eu ignorei a primeira ligação, depois outra e outra, mas quando chegou à décima ligação, decidi atendê-lo.
— Filho da puta! Bastardo! Como ousa correr para aquele desgraçado do Alejandro. — ele vociferou do outro lado da linha. — Acabei de receber uma mensagem do próprio me informando e pedindo que fosse assistir minha própria cria me apunhalar pelas costas.
— Eu preciso te explicar com calma, Johnny. A situação é mais complicada do que você imagina, a ...
— Aquela vadiazinha rica que você anda comendo que colocou isso na sua cabeça? Pro inferno o que ela quer! Eu quero você aqui e agora! Se correr essa noite, será um homem morto pelos próprios irmãos.
Eu não respondi, apenas desliguei a ligação e travei meu maxilar enquanto a raiva crescia dentro de mim, me olhava aflita e eu respirei fundo antes de falar novamente.
— Eu vou correr essa maldita noite e vencerei.
— O que aconteceu? — ela perguntou e eu não contaria do que Johnny a tinha chamado.
— Eu vou embora, . Só isso. — ela continuou me olhando, sem entender. — Acabei de ser jurado de morte, se eu ficar, os cobras me matam.
— Mas eles não são sua “família”?
— Eu também achava isso, mas descobri que estou sozinho no mundo.
? Hora do show! — Um cara alto que nem sabia quem era veio animado me chamar e interrompeu a mim e .
— Vamos lá? — eu perguntei e olhei para ela, que sorriu e depositou um beijo rápido em meus lábios.
— Claro.
— Ei! — o cara chamou a e ela o olhou. — Você quer jogar a bandeira que sinaliza o início da corrida?
— Não, ela não gosta...
— Eu adoraria! — me cortou e parecia incrivelmente animada com aquela possibilidade.
Eu sacudi a cabeça rindo e ela deu de ombros antes de passar por mim e sair da tenda. Me ajeitei dentro do carro, coloquei minhas luvas de couro próprias para corridas, meus óculos estilo aviador e liguei meu carro, dando uma acelerada que fez com que todos a nossa volta ficassem agitados.
Alguns minutos depois, veio caminhando com outra roupa, um vestido preto justo com um decote generoso, seus lábios mercados por um batom vermelho que me fez querer sair daquele carro e agarrá-la. Ela parou na frente dos carros, eu olhei para o lado e o motorista que correria contra mim me olhou desafiador, eu apenas o cumprimentei com a cabeça antes de rugir o motor do carro novamente.
me olhou, deu uma piscadinha para mim e mandou um beijo, eu sorri diante daquela atitude dela, e então se posicionou no espaço entre meu carro e do outro piloto, agitou a bandeira vermelha para cima e depois para baixo, jogando-a atrás de si.
Quando a bandeira atingiu o chão, acelerei com gosto, atingindo os limites que podia do meu carro. Se eu te disser que me preocupei com o outro concorrente seria mentira, pois o fiz comer poeira, não senti nenhuma dificuldade em alcançar o fim do percurso dar a volta e chegar bem antes dele, dando inclusive um cavalo de pau no final. Só para me exibir mesmo, confesso.
Assim que saí do carro, veio correndo até a mim e me deu um beijo que fez com que todos vibrassem à nossa volta. Assim que separamos nossos lábios, ela acariciou meus cabelos.
— Chuck está a salvo, ele os libertaram! — ela me confidenciou e eu sorri. — Você conseguiu! Obrigada!
— Faço qualquer coisa por você, , não se deu conta disso ainda?
— E eu faço por você também! — Ela me olhava nos olhos quando prosseguiu. — Quando partimos?
— Sério? — Ela assentiu e eu a levantei do chão, abraçando e rodopiando com ela.
— Me desculpe atrapalhar a comemoração de vocês, mas gostaria de fazer uma proposta para você, . — eu me virei e dei de cara com Alejandro e quem falava era um cara que estava ao seu lado. — Eu sou quem competiu contra Alejandro, meu nome é Roger. — ele me estendeu um cartão e eu o peguei. — Eu achava que meu piloto era bom, afinal ele venceu vários campeonatos nacionais correndo para minha equipe, mas depois de hoje tive certeza de que ele não fazia nada, comparado ao que acabei de ver.
— Obrigado. — eu disse.
— Eu estou aqui para fazer uma proposta, rapaz. Aceita ir comigo e entrar para minha equipe? E olha, é coisa séria, nada de clandestinidade.
— O que? Caramba! É claro que topo. — eu respondi animado. Era um novo começo que queria, não era? Pois bem, Deus me jogou no colo uma chance de ouro.
— Ótimo! Me ligue, ou me procure em Las Vegas. Tem meu endereço e telefone no cartão. — ele deu dois tapas no meu ombro. — Bem-vindo à equipe, .
, eu estou muito agradecido pela corrida. — Alejandro disse sorrindo com petulância. — A conta está paga e o irmão da sua namorada está no hospital sendo muito bem cuidado. Espero que ele não volte a procurar por problemas e que não precisemos nos ver novamente.
Eu assenti, minha mão formigava para socá-lo, mas me contive quando senti a mão de em meu braço, ela o acariciava e aquilo de alguma forma me acalmava. Ele se afastou logo em seguida e depositou um beijo rápido em meu rosto.
— Vamos? — ela pediu.
— Para onde? — perguntei e ela me olhou maliciosa.
— Para qualquer lugar, contanto que eu esteja com você.
— Precisa passar na sua casa para buscar alguma coisa? — Minhas roupas, e alguns pertences. — ela disse e eu assenti.
— Preciso ir até lá também. — ela me olhou sem entender o motivo de eu querer ir lá, e eu prossegui. — Precisamos nos despedir do seu quarto em grande estilo, não acha?
Ela deu uma gargalhada gostosa enquanto caminhávamos em direção ao carro, fazendo planos das coisas que faríamos durante nossa viagem, e principalmente de todas as coisas que queríamos fazer quando chegássemos em Las Vegas.
“But now, together, we're alone”
(Mas agora, juntos, nós estamos sós)
“And there's no other place I'd ever wanna go”
(E não há outro lugar que eu queira ir)






FIM



Nota da autora: Hello, everyone! Algumas pessoas vão me reconhecer, mas a maioria não tem nem ideia de quem eu sou, né? Eu vou me apresentar então, sou a Bia Tomaz, escritora de “A confused heart”, “03.Don’t hold the wall” e "“A valentine’s tale” e "Our life together". Fiquei mais do que lisonjeada ao ser convidada para particpar dessea "Ficstape" e espero que tenham gostado do que escrevi com muito amor <3 haha
Quem quiser interagir comigo e com as outras leitoras das minhas fanfics é só entrar no grupo (Tem o nome de outra fic, mas está aberto para qualquer tópico.)
Então é isso, beijos e até a próxima! ;)



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