Capítulo 1
Eu ainda lembrava da primeira vez que havia posto meus olhos nela. Os cabelos pintados pela metade de vermelho cereja e os olhos verdes que queimavam como fogo como se procurassem por algo a muito tempo perdido.
Eu ainda lembrava de como ela me olhava quando eu chorava assistindo filmes e de como ria quando eu falhava ao fazer uma bola de chiclete com a boca.
É engraçado o que lembramos quando pensamos em alguém. Coisas simples, não grandes. Coisas como a primeira vez que fomos lavar roupas ou como a primeira vez que ela pegou um bichinho de pelúcia para mim numa máquina do Arcade.
Éramos crianças naquele tempo, vivendo ingênuos.
1976
Corro para alcançar o ônibus, amaldiçoando meu relógio por causar meu atraso. Quando estou a três metros dele, o ônibus fecha e prossegue apesar dos meus gritos.
Até tento correr mais um pouco mas desisto na frente do ponto e respiro fundo, colocando as mãos na testa sem saber o que fazer.
- Caralho. – grito levantando os braços e ouço uma risada baixa, viro-me para descobrir quem é a dona dela e me deparo com uma garota encostada em um poste.
Ela está de costas com um pé posto no mesmo, seu joelho dobrado enquanto o o outro está no chão. Sua mão esquerda segura um cigarro e ela me olha com diversão.
- Acho que perdeu esse aí. – traga seu cigarro com despreocupação. A jaqueta de couro e saia jeans a fazem parecer descolada e muito, muito bonita.
- Acho que sim. – respondo segurando uma alça da mochila.
- Para onde estava indo? – solta a fumaça e joga o cigarro no chão, pisando no mesmo.
- O funeral da minha avó. – minto recebendo um olhar um pouco espantado dela. Dou risada e nego. – Foi piada.
- Qual seu nome? – sorri parecendo mais tranquila pela piada.
- . – respondo quase imediatamente. – Qual o seu?
- É um segredo de estado. – pende a cabeça para o lado me analisando. – Pode me chamar de Cherry.
Estende a mão e eu a cumprimento, um pouco nervoso.
- E a razão do apelido? – olho para os fios de cabelo vermelhos e ela os joga para trás.
- Altamente confidencial. Se ficar por muito tempo talvez descubra. – dá de ombros, enfiando as mãos no bolso da jaqueta.
- Ficar aonde? – pergunto sem saber o que dizer.
- Você é curioso, não é mesmo ?
- Talvez confuso seja a palavra certa. – ela dá risada e vira para seguir seu caminho.
- Nos vemos por aí! – grita de costas e eu olho para os lados.
- Como?! – grito também me sentindo um louco.
- Isso você pode descobrir por si só! – grita uma última vez se afastando.
Em meus dezenove anos de vida eu poderia dizer que aquela tinha sido uma das situações mais anormais da minha vida.
Meu coração palpitava ao pensar nos olhos verdes que a cada dia desbotavam mais e mais na minha mente pelo fato de que eu não tinha a visto desde do dia em que nos conhecemos.
Todas as tardes visitei o ponto, esperando que ela aparecesse e me contasse mais sobre ela. Tardes chuvosas e ensolaradas, eu estava lá todos os dias. Comecei a pensar em desistir no décimo quarto dia, mas o panfleto prensado no poste trouxe minhas esperanças ao alto novamente.
“O que acha de uma caça ao tesouro?”
Li na parte de trás, um pouco embaixo estava escrito meu nome em letras personalizadas gigantes. A primeira instrução mandava eu virar o panfleto, do outro lado da folha anunciavam um concurso de bandas em um pub do outro lado da cidade, o prêmio para o ganhador era em dinheiro.
“Espero que siga as regras da caça, . Ficarei decepcionada se um garoto tão fofo se mostrar trapaceiro.”
Pensei por todo o trajeto de volta para casa, eu tinha uma chance de encontrar ela e as condições para isso eram formar uma banda e tocar num concurso?
Eu tinha amigos que conheciam pessoas que tocavam instrumentos e eu nunca havia sido desaprovado por meu canto. Mas não era simples formar uma banda. Valia a pena?
Talvez para um garoto de dezenove anos desempregado sim.
Naquele dia contatei quantas pessoas pude, marcando um ensaio para decidir quem faria parte da banda. Consegui vinte pessoas.
Quando o dia do ensaio chegou eu os recebi na minha garagem, o que era um pouco apertado mas servia se cada um tocasse individualmente.
- Meu nome é Derek e eu vou tocar o riff de Boom Boom do John Lee.
Todos os vinte homens passaram pelo ensaio e eu tomei algum tempo para me decidir quem integraria a banda.
Derek e Jesse tinham sido ótimos na guitarra. Chip tinha se destacado na bateria. E Brandon era o único bom no baixo.
Quando chamei seus nomes assisti como todos os outros ficaram decepcionados ou me xingaram dizendo que aquilo era besteira e que tinham perdido o tempo precioso de suas vidas. Era claramente sorte tantas pessoas aparecerem para o ensaio, apenas porque eu tinha mencionado o prêmio em dinheiro do concurso.
- Agora é a sua vez. – Jesse sorri e eu olho para todos que confirmam.
- O que?
- É, cara. Como vai contribuir para essa banda?
- Eu consigo segurar algumas notas. – dou de ombros e Chip arqueia as sobrancelhas.
- Mostre para nós.
- Agora?
- É, agora.
- Qual música? – eu tinha um microfone em algum lugar por aqui.
- O palco é seu. Te damos a cortesia para escolher.
Encontrei o microfone e o testei cantando Redbone. Quando a música acabou eles me olharam e não pareceram muito impressionados.
- Não é nenhum Robert Plant mas pode melhorar com treino. – Brandon segura seu baixo em uma pose descolada e eu respiro fundo ajustando a jaqueta em meu corpo.
- Canta outra coisa, algo tipo discoteca. – Derek pede.
Passamos algumas horas ensaiando e absorvendo como cada um trabalhava. Ficamos na minha garagem até uma da manhã e combinamos de passar no pub no dia seguinte para nos inscrevermos no concurso.
Todos eles eram mais velhos que eu exceto Chip que tinha a minha idade, Brandon tinha um carro então nos esprememos e dirigimos até o pub.
Chegando lá entramos no estabelecimento largo. As pessoas bebiam e riam enquanto Hall & Oates tocava no fundo.
Meus olhos procuravam por ela em todo o lugar, e o lado racional da minha mente dizia que seria difícil encontrá-la no amontoado de pessoas dançando e se divertindo.
Até que eu a encontrei no bar, servindo bebidas e fazendo drinks com habilidade. Lançando sorrisos para todos. Deslumbrante, usava uma camisa de seda roxa e as mangas compridas estavam dobradas até o cotovelo. A camisa era de botões mas ao invés de abotoá-los ela tinha amarrado as pontas de um jeito estiloso e decotado. A calça jeans pelo que pude ver com o balcão a cobrindo era cós alto. Os cabelos pretos e vermelhos estavam em um penteado, a parte de cima com volume e a de baixo caindo em ondas.
Derek, Jesse, Chip e Brandon olharam para mim me tirando do devaneio e então repararam em quem eu encarava.
Não precisei que eles dissessem em voz alta para descobrir o que se passava na cabeça dos quatro.
Derek apoiou o braço no cotovelo de Brandon e mordeu a própria mão, Brandon em si puxou ar demais pros próprios pulmões como se estivesse surpreso, Jesse mordeu o lábio olhando diretamente para ela e Chip pareceu tentar decidir se a mesma era real ou apenas um sonho. Para o meu azar cérebros não são capazes de inventar rostos o que tornava ela real e fazia meus quatro novos amigos aparentemente caidinhos por ela.
- Você conhece ela? – Derek pergunta já animado.
- Eu diria que conhecer é uma palavra forte demais.
- Desembuche.
- Eu a conheci num ponto de ônibus, mas não sei nem o nome dela. Ela disse que prefere ser chamada de Cherry-
- Cherry. – Chip pronuncia como se fosse uma palavra linda vinda de outra língua que se não a inglesa.
- Se você não for conversar com ela, eu vou. – Jesse toma a frente.
Respiro fundo e ando um passo hesitante.
- Se não der certo eu irei em seguida. – vejo Brandon levantar a mão e sigo andando até o bar onde ela está.
Há uma multidão me bloqueando mas tento desviar dos braços sendo jogados para cima de mim e chamar a atenção dela.
- Cherry! – grito envergonhado e ela levanta seus olhos até me encontrar. Sorri e sussurra algo para o outro homem com ela, então sai do bar vindo até mim.
Ela é mais linda do que a praia ao pôr do sol, seu sorriso é como uma música que intensifica meus sentidos.
- ! – me cumprimenta e eu procuro por palavras para dizer. – Você veio!
- Ah, si-sim eu vim.
- Você vai competir? – parece achar meu nervosismo prazeroso.
- Sim.
- Com quem?
- Aqueles caras ali. – aponto para os quatro que olham na nossa direção e ela acena para eles com aquele sorriso que encanta a todos.
- Eles parecem ser legais.
- Bom- Eles são. – coço a nuca e ela junta as próprias mãos.
- Eu preciso voltar ao trabalho. Mas no meu intervalo venho conversar mais. – aponta para o bar e eu assinto.
- Espera! – ela se vira confusa e eu tomo coragem para perguntar. – Por que pediu para que eu participasse desse concurso?
- Porque achei que você ficaria gostoso no palco. – seu olhar se torna malicioso. – E também porque vai ser ótimo ter um rival fofo como você.
Continua seu caminho para o bar e eu arregalo os olhos.
Rival?
- ! – Jesse me chacoalha e eu cubro minha boca com a mão. – O que aconteceu?
- Ei cara. – Chip empurra meu ombro e eu respiro fundo.
- Conheçam a nossa competição. – aponto para Cherry e eles se viram parecendo tão chocados quanto eu.
- Ela é bonita, e ainda faz música? – Derek parece impressionado.
- Precisamos nos inscrever ainda. – Brandon acrescenta.
- Acho melhor não. – tento andar para a direção oposta e Jesse me puxa.
- Vamos lá! Vamos ganhar essa competição. – bate em meu peito e eu tusso.
- Vamos ser massacrados.
- Apenas se não treinarmos. – dá de ombros e eu resmungo.
- Eu espero que ela não seja boa.
- Também esperamos. – Derek concorda. – Quer dizer... Em partes.
- Eu não quero fazer isso.
- Nós queremos e precisamos de um vocalista.
- Nenhum de vocês sabe cantar? – pergunto vendo todos negarem.
- Não pode nos deixar na mão.
- Mas-
- . – Chip diz como uma advertência. – Quando ganharmos você pede desculpa.
- Confiante, huh?
- Você tem que confiar no seu taco.
- Sempre achei essa frase muito estranha, sabe? Não-
- Pare de enrolar e vamos.
- Agora? Eu nem sei aonde tem-
- Vamos! – Brandon me puxa.
- Ok, ok.
Andamos até o cartaz onde se assinavam os nomes e paramos quando percebemos que precisávamos escolher um nome para a banda.
- Eu sempre quis estar numa banda chamada Toes. – Jesse sugere e descartamos no mesmo segundo.
- Killers?
- Absolutamente não. – vasculho o bar e meus olhos param em uma jukebox.
- Jukebox Tune? – cruzo os braços e vejo que eles parecem ficar confusos.
- Esse é na verdade... Um nome bom. – Derek concorda.
- Todos de acordo? – Chip questiona e nos inscrevemos no concurso.
Depois disso tentamos dançar um pouco ao som da música e eu me solto, tentando meu melhor nos passos. Cherry vem até mim mostrando suas habilidades e eu de repente me sinto bastante nervoso, sem ideia do que fazer com meus braços.
- Oi! – ela diz por cima do barulho.
- Oi!
Play That Funky Music toca e ela dança como se estivesse andando com ritmo.
Revirando os olhos impaciente ela puxa minhas mãos e se vira de costas para mim posicionando elas um pouco abaixo de sua cintura enquanto a mesma remexe os quadris de um jeito sensual. Eu congelo por um momento mas logo faço o mesmo, colando nossos corpos e sentindo ela dançar.
Quando se certifica de que eu não vou puxar minhas mãos ela levanta os braços se divertindo e rindo me levando a rir também.
Seu corpo se fricciona no meu e eu respiro fundo para não perder a sanidade.
Giro ela para ficar de frente para mim e ela se agarra aos meus ombros continuando a dançar.
- Fiquei feliz que veio. – ela admite.
- Você ainda não me disse seu nome. – tento novamente e ela semicerra os olhos.
- Ainda não merece ele.
- E tem algo que eu possa fazer para merecê-lo? – ela pensa e estala a língua.
- Na verdade tem. – olha para os meus amigos. – Mas temos que sair daqui.
- Você vai me dizer seu nome se eu fizer tal coisa? – me certifico e ela assente, puxando-me pela mão para fora da pista de dança.
Olho para os caras e eles sorriem de um jeito malicioso, praticamente me parabenizando.
Quando chegamos ao lado de fora ela para puxa uma chave do bolso e eu pigarreio.
- O que quer que eu faça?
- Você vai saber quando chegarmos lá. – me leva até uma moto vermelha e me entrega um capacete.
- Uma moto?
- Não me diga que tem medo, . – ela ri e eu engulo seco.
- Eu nunca andei em uma. – digo colocando o capacete e ela sobe na moto pronta para dirigir.
- Eu te deixo me agarrar bem forte. – pisca um olho e eu me sinto um pouco mais relaxado.
Dirigimos por grande parte de Brighton e a sensação do vento enquanto parecíamos voar era incrível, diferente de qualquer coisa que eu já tinha experienciado. Minhas mãos se envoltaram por sua cintura e eu a abracei enquanto íamos até onde ela queria.
Ela parou a moto na rua e correu até à beira-mar, me convocando para me juntar a ela.
- Ainda não entendi o que quer que eu faça! – grito por conta da distância e corro pela areia até ela.
- Não? – desamarra a camisa e tira ela pelos braços enquanto anda de costas até a água.
- Já está escurecendo!
- Você tem medo? – ela pergunta desabotoando a calça e eu considero. Não está tão calor assim.
Mas eu queria saber seu nome então jogo a jaqueta e amontoo minhas roupas perto das suas. Corro para o mar e alcanço a mesma mas quase xingo quando meus pés entram em contato com a água.
- Vamos pegar uma hipotermia. – temo que aquilo aconteça de verdade e ela abaixa a mão e joga água em minha pele descoberta.
Eu pulo para trás e vejo que ela sorri, cruzando os braços como se tivesse frio.
- Você quer mesmo fazer isso? – pergunto e ela assente. Então abaixo por um momento para carregá-la e ando até mais fundo para jogar seu corpo na água.
- ! – ela grita rindo, quando levanta me empurra e eu caio na água.
- Você quer me matar? – questiono indignado puxando seu braço e ela cambaleia para não perder o equilíbrio.
A água não está muito movimentada então não sinto tanto medo.
- Duvido que me alcança. – se solta de mim e pula de cabeça na água, nadando por cima e batendo as pernas.
Mal sabia ela que eu tinha ganhado o campeonato de natação da escola no meu penúltimo ano.
Puxo ela quando ela para pra retomar o fôlego e ela tenta me cegar com água para fugir mas eu viro meu rosto.
- Você me deve um nome. – digo quando ela para de se debater, boiando na água.
- Meu nome é . – finalmente revela e eu sorrio involuntariamente.
- ?
- . – reafirma.
- Que coincidência. – solto.
- O que?
- Nossos nomes começam com A. – penso em voz alta e ela ri.
- Tem razão. – ela para de boiar. – Quantos anos você tem?
- Dezenove. – mexo meus braços de baixo da água. – E você, ?
- Vinte e dois. – levanta as duas mãos mostrando dois dedos em cada e eu me surpreendo. – E de onde seu sotaque vem?
- Eu não tenho sotaque. – franzo o cenho ofendido.
- Claro que tem.
- Eu me mudei quando tinha oito anos, é impossível que você perceba a diferença. – ela me olha ainda esperando pela resposta e eu suspiro derrotado. – Nasci em Bristol.
- Eu tenho bom ouvido.
- Por isso toca em concursos?
- Eu canto.
- Você canta? – ela confirma o que eu temia.
- Por que parece assustado?
- Eu não quero ter que competir contra você.
- Isso é fofo.
- Na verdade, é só medo de ser massacrado.
- Isso é mais fofo ainda. – sorri.
- Espero que não saiba cantar. – brinco.
- Isso é surpresa.
- Você gosta de guardar segredos, não é?
- Você é bem perceptivo.
- Vou parar de insistir.
- Ótimo.
- Vamos sair? – tento pedir enquanto tremo.
- Vamos. – concorda imediatamente e eu rio nadando para chegar primeiro.
Vestimos nossas roupas e sentamos na areia, tentando fazer o frio passar para podermos assistir o céu estrelado.
- Gosta do seu trabalho? – puxo assunto e ela parece sem fala.
- U-uou. Vai tentar me dizer que meu trabalho não dá futuro?
- N-não! Não é isso o que-
Tento reformular e ela responde.
- Gosto. – dá de ombros. – Ele paga as contas e fiz vários amigos lá.
- Entendo.
- E você? Com o que trabalha?
- Bom... No momento nada. – admito envergonhado.
- Jura? – ela sorri.
- No dia em que nos conhecemos eu estava indo para uma entrevista de emprego.
- O dia em que você perdeu o ônibus? – pergunta risonha.
- Sim.
- Que sorte.
- Foi o que eu disse para os meus amigos. – rimos.
- Você fuma?
- Não. – nego abaixando a cabeça.
- Mau hábito, eu sei. Você bebe, certo?
- Em ocasiões especiais.
- Ocasiões especiais como festas ou uma lata de cerveja toda noite?
- Acha que eu teria esse corpo se bebesse uma lata toda noite? – aponto para mim mesmo.
- Tem razão. – pende a cabeça pro lado.
- Você não tem namorado né? – de repente me dou conta daquela possibilidade mas ela nega.
- Absolutamente solteira.
- Ufa. – digo em voz alta, soando um pouco besta.
- Gosto que se importe.
- Gosto que seja solteira.
- Me conte um medo seu.
- Aranhas. – respondo imediatamente.
- Isso não é um medo real.
- Claro que é! Você já viu aqueles monstros de oito patas?
- Elas são adoráveis, qual é!
- Adoráveis? – quase engasgo. – Você usa drogas então?
- Apenas as legais. – pisca um olho. – Falando nisso, estou com fome.
- Qual é a relação? – aponto confuso.
- Apenas me lembrei de que estou com fome.
- Eu tenho... – coloco a mão no bolso. – Cherry Cola Gum.
- Huh, Bubblicious. – pega o chiclete e o coloca na boca. – Acho que esse é o encontro mais sofisticado que já tive.
- Isso é um encontro? – arregalo os olhos. – Se tivesse me avisado com antecedência eu pelo menos pagaria um cachorro-quente.
- Quanta consideração.
- Um cavalheiro precisa ter. – pego mais um chiclete, mascando-o.
- Qual é a sua opinião sobre... – procura ao nosso redor. – O mar?
- Vasto. – brinco.
- Excepcionalmente. – concorda. – O que acha da ondas?
- Inconstantes. – observo a água indo e vindo. – Acho que o mar representa a liberdade.
- Eu acho que ele é uma prova do quão pequenos somos. – revela. – Somos como estrelas vistas de longe.
Viro meu rosto para olhar para ela e a encontro fascinada com o mar e a areia. Os olhos brilhando e o sorriso se formando. Há tanto em seus olhos e em seu sorriso que é difícil distinguir quais sentimentos são. Admiração pelo o que é simples, tanta atenção concentrada em um lugar só.
É como a representação da profundidade, com seus cabelos vermelhos molhados caindo pelos ombros.
- Mas entendo porque o vê como a liberdade. – vira seu rosto e eu respiro fundo.
- Eu posso... Te beijar? – peço e ela sorri, acenando lentamente com a cabeça.
Me aproximo devagar e junto nossos lábios em um selinho. Nossos lábios se movem em um beijo e eu seguro seu rosto, sentindo meu coração acelerar. Sinto o gosto do chiclete dela quando sua boca se abre e eu passo o meu chiclete para sua boca enquanto aprofundamos o beijo.
Ela sobe em cima de mim na areia e eu dou suporte para o seu corpo para deitarmos.
- Na... Na minha casa...
- Estou bem aqui. – ela assegura recuperando o fôlego.
- Ah, ok. – afirmo um pouco confuso e ela sorri.
- Já ficou com alguém na praia?
- Estamos em público. – solto desacreditado e ela suspira.
- Estamos destinados a morrer, . Você não quer ter experiências mágicas antes disso?
- Você é louca. – nego sorrindo e a puxo para outro beijo.
Havíamos ficado naquele dia e depois disso viramos muito próximos, nos encontrávamos todos os dias no bar e então íamos para o apartamento dela a noite.
- Vem! – ela chama com as bexigas de água em mãos.
- Não acho que isso seja uma boa ideia. – faço uma careta e chego perto.
- Você é tão careta.
- Qual o problema em gostar de ficar seco? – pergunto mas ela joga a bexiga em mim e sai correndo para a outra calçada.
- Você está morta! – grito atravessando a rua e mirando nela com a minha bexiga.
- Para, para, para! – pede quando eu jogo as duas e agarro sua cintura, ela está rindo e esperneando.
- Os seus vizinhos vão chamar a polícia. – aviso e ela se vira para mim, apertando o cabelo molhado.
- Deixe de se preocupar por um momento. – pede e se aproxima, me distraindo. Quando penso que vai me beijar deixa uma bexiga de água cair em cima de minha cabeça.
Balanço o cabelo e passo as mãos nos olhos antes de voltar a correr.
...
A competição estava chegando perto e ela como sempre parecia calma, mas eu estava surtando. O pânico de pensar em cantar na frente de tantas pessoas batia no meu peito e eu até tinha pesadelos com aquilo.
- E se desistirmos? – pergunto mascando o chiclete.
- Claro que não. – Cherry nega de imediato.
- Escute sua namorada. – Derek aconselha.
- Ela só quer que eu cante para me humilhar.
- Pare com isso, está melhorando a cada ensaio. – Jesse tentou me tranquilizar.
- Ainda acho besteira você nunca cantar para mim.
- E te dar vantagens na competição? – Chip pergunta. – Ele está certo.
- Vocês são tão dramáticos. – revira os olhos se mexendo em meu colo.
- Disse a menina que chora toda vez que lê X-Men. – rebato e ela puxa meu nariz.
- Se eu chorasse toda vez que assistisse “A Vida É um Jogo” não me acharia no direito de zombar de ninguém.
- Isso era segredo! – falo alto e os meninos riem.
- Conte-nos mais Cherry. – Brandon pede.
- Tem muitas- Ai!
- Pare com isso. – belisco sua cintura e ela nega me beijando.
- Eu te amo do jeitinho que você é. – sussurra me dando um selinho e eu sou pego de surpresa.
...
- Olha! – ela vem até mim com uma concha em mãos. – Quando eu era pequena queria ter o tamanho para poder entrar em uma concha.
- Como um caracol?
- Sim, eles são lindos você não acha?
- Da onde veio sua fascinação por eles?
- Acho que não teria coisa mais divertida do que viver na minha própria concha.
- Metafórica.
- Quando era pequena tentava achar caracóis na floresta. Era a minha diversão.
- E fazia o que quando achava eles?
- Os observava... Até minha mãe dizer que era hora de ir embora. – olha para a concha sorrindo em nostalgia.
- Eu te amo. – revelo. Ela levanta os olhos até mim e seu sorriso de repente se torna por minha causa. – Quero viver em uma concha com você.
- Quer? – pergunta feliz.
- Quero. – assinto a puxando para perto e ela ri.
- Então é uma promessa.
- É uma promessa.
...
- Estou nervoso. – digo como se não fosse óbvio.
- Então pare. – Jesse responde.
- Fique tranquilo. – Cherry me dá um beijo na bochecha.
- Agora é a sua vez. – Brandon avisa Lila e ela sorri subindo no palco com a própria banda.
Ela estava deslumbrante como sempre, o cabelo em um penteado que demorou uma hora para ser feito, a maquiagem e a roupa cintilante.
Eu nunca poderia vencer ela.
A performance dela passou e eu fiquei mais nervoso, subindo no palco enquanto tremia.
Respirei fundo e parei em frente ao microfone.
- Somos os Jukebox Tune! Esperamos que gostem! – Derek interage com a plateia e nos posicionamos.
[Recomendo que coloquem para tocar Sugar Drunk High do James Bay.]
Chip começou com a bateria e eu comecei a cantar enquanto os outros também tocavam.
We shed tears for movie scenes
(Nós derramamos lágrimas por cenas de filme)
No real fears, fake feelings
(Sem medos reais, sentimentos falsos)
Minhas mãos seguraram o microfone e eu olhei para ela, tentando ficar calmo.
It’s a sentimental wasteland
(É um terreno baldio sentimental)
We’re young enough to lose teeth
(Somos jovens o suficiente para perder dentes)
But not old enough for enemies
(Mas não velhos o bastante para os inimigos)
Still steering with both hands
(Ainda dirigimos com ambas as mãos)
A música que eu havia escrito fazia mais sentido quando eu cantava olhando para ela.
We were just kids living young and naïve
(Éramos apenas crianças, sendo jovens e inocentes)
Running round streets like the King and the Queen
(Correndo pelas ruas como o Rei e a Rainha)
Gas light flicker in your eye, what are hopeless dreams?
(A luz da gasolina cintila em seus olhos, quais são seus sonhos sem esperança?)
Staying out waiting ‘til they call off the search
(Ficávamos fora esperando até que eles cancelassem a busca)
Chewing gum, cherry coke until our brains burned
(Mascando chiclete, refrigerante de cereja, até que nossos cérebros queimassem)
Sorri para ela e ela revirou os olhos, brincando.
A sugar drunk high, we were the only ones
(Um porre de açúcar, éramos os únicos)
Ela dançou levantando os braços e me incentivou a continuar.
The bitter taste of nicotine
(O sabor amargo da nicotina)
Still alive on my coat and jeans
(Ainda está vivo no meu casaco e jeans)
But you were the light that I saw standing in front of the sun
(Mas você era a luz que eu vi na frente do sol)
You were the girl on the hill singing all night, all night
(Você era a garota na colina, cantando a noite toda, a noite toda)
We were just kids living young and naïve
(Éramos apenas crianças, sendo jovens e inocentes)
Running round streets like the King and the Queen
(Correndo pelas ruas como o Rei e a Rainha)
Gas light flicker in your eye, what are hopeless dreams?
(A luz da gasolina cintila em seus olhos, quais são seus sonhos sem esperança?)
Staying out waiting ‘til they call off the search
(Ficávamos fora esperando até que eles cancelassem a busca)
Chewing gum, cherry coke until our brains burned
(Mascando chiclete, refrigerante de cereja, até que nossos cérebros queimassem)
A sugar drunk high, we were the only ones
(Um porre de açúcar, éramos os únicos)
Abaixei meu tom de voz e e fechei os olhos por alguns segundos. Encontrando ela quando os abri.
Maybe never be found
(Talvez nunca ser encontrados)
Like a drop in the ocean
(Como uma gota no oceano)
If we ever grow up
(Se algum dia crescermos)
We’ll be gone in the moment
(Nós sumiremos no momento)
A plateia esperou enquanto Jesse tocava a guitarra do jeito que tínhamos ensaiado. Eu pisquei na direção dela e ela gargalhou, parecendo se divertir enquanto ouvia a música.
Batemos palmas e logo fomos acompanhados pelas pessoas que nos assistiam.
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
We were living on a sugar drunk high
(Nós vivíamos em um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
We were just kids living young and naïve
(Éramos apenas crianças, sendo jovens e inocentes)
Balancei a cabeça.
Running round streets like the King and the Queen
(Correndo pelas ruas como o Rei e a Rainha)
Gas light flicker in your eye, what are hopeless dreams?
(A luz da gasolina cintila em seus olhos, quais são seus sonhos sem esperança?)
Staying out waiting ‘til they call off the search
(Ficávamos fora esperando até que eles cancelassem a busca)
Bati o pé.
Chewing gum, cherry coke until our brains burned
(Mascando chiclete, refrigerante de cereja, até que nossos cérebros queimassem)
A sugar drunk high, we were the only ones
(Um porre de açúcar, éramos os únicos)
Abaixei o tom novamente.
Maybe never be found
(Talvez nunca ser encontrados)
Like a drop in the ocean
(Como uma gota no oceano)
If we ever grow up
(Se algum dia crescermos)
We’ll be gone in the moment
(Nós sumiremos no momento)
Quando a música acabou todos bateram palmas e eu dei um passo para trás pela surpresa que me atingiu ao sermos tão parabenizados pela nossa performance.
E Jukebox Tune ganhou o concurso. Mas eu ganhei a garota.
Eu ainda lembrava de como ela me olhava quando eu chorava assistindo filmes e de como ria quando eu falhava ao fazer uma bola de chiclete com a boca.
É engraçado o que lembramos quando pensamos em alguém. Coisas simples, não grandes. Coisas como a primeira vez que fomos lavar roupas ou como a primeira vez que ela pegou um bichinho de pelúcia para mim numa máquina do Arcade.
Éramos crianças naquele tempo, vivendo ingênuos.
1976
Corro para alcançar o ônibus, amaldiçoando meu relógio por causar meu atraso. Quando estou a três metros dele, o ônibus fecha e prossegue apesar dos meus gritos.
Até tento correr mais um pouco mas desisto na frente do ponto e respiro fundo, colocando as mãos na testa sem saber o que fazer.
- Caralho. – grito levantando os braços e ouço uma risada baixa, viro-me para descobrir quem é a dona dela e me deparo com uma garota encostada em um poste.
Ela está de costas com um pé posto no mesmo, seu joelho dobrado enquanto o o outro está no chão. Sua mão esquerda segura um cigarro e ela me olha com diversão.
- Acho que perdeu esse aí. – traga seu cigarro com despreocupação. A jaqueta de couro e saia jeans a fazem parecer descolada e muito, muito bonita.
- Acho que sim. – respondo segurando uma alça da mochila.
- Para onde estava indo? – solta a fumaça e joga o cigarro no chão, pisando no mesmo.
- O funeral da minha avó. – minto recebendo um olhar um pouco espantado dela. Dou risada e nego. – Foi piada.
- Qual seu nome? – sorri parecendo mais tranquila pela piada.
- . – respondo quase imediatamente. – Qual o seu?
- É um segredo de estado. – pende a cabeça para o lado me analisando. – Pode me chamar de Cherry.
Estende a mão e eu a cumprimento, um pouco nervoso.
- E a razão do apelido? – olho para os fios de cabelo vermelhos e ela os joga para trás.
- Altamente confidencial. Se ficar por muito tempo talvez descubra. – dá de ombros, enfiando as mãos no bolso da jaqueta.
- Ficar aonde? – pergunto sem saber o que dizer.
- Você é curioso, não é mesmo ?
- Talvez confuso seja a palavra certa. – ela dá risada e vira para seguir seu caminho.
- Nos vemos por aí! – grita de costas e eu olho para os lados.
- Como?! – grito também me sentindo um louco.
- Isso você pode descobrir por si só! – grita uma última vez se afastando.
Em meus dezenove anos de vida eu poderia dizer que aquela tinha sido uma das situações mais anormais da minha vida.
Meu coração palpitava ao pensar nos olhos verdes que a cada dia desbotavam mais e mais na minha mente pelo fato de que eu não tinha a visto desde do dia em que nos conhecemos.
Todas as tardes visitei o ponto, esperando que ela aparecesse e me contasse mais sobre ela. Tardes chuvosas e ensolaradas, eu estava lá todos os dias. Comecei a pensar em desistir no décimo quarto dia, mas o panfleto prensado no poste trouxe minhas esperanças ao alto novamente.
“O que acha de uma caça ao tesouro?”
Li na parte de trás, um pouco embaixo estava escrito meu nome em letras personalizadas gigantes. A primeira instrução mandava eu virar o panfleto, do outro lado da folha anunciavam um concurso de bandas em um pub do outro lado da cidade, o prêmio para o ganhador era em dinheiro.
“Espero que siga as regras da caça, . Ficarei decepcionada se um garoto tão fofo se mostrar trapaceiro.”
Pensei por todo o trajeto de volta para casa, eu tinha uma chance de encontrar ela e as condições para isso eram formar uma banda e tocar num concurso?
Eu tinha amigos que conheciam pessoas que tocavam instrumentos e eu nunca havia sido desaprovado por meu canto. Mas não era simples formar uma banda. Valia a pena?
Talvez para um garoto de dezenove anos desempregado sim.
Naquele dia contatei quantas pessoas pude, marcando um ensaio para decidir quem faria parte da banda. Consegui vinte pessoas.
Quando o dia do ensaio chegou eu os recebi na minha garagem, o que era um pouco apertado mas servia se cada um tocasse individualmente.
- Meu nome é Derek e eu vou tocar o riff de Boom Boom do John Lee.
Todos os vinte homens passaram pelo ensaio e eu tomei algum tempo para me decidir quem integraria a banda.
Derek e Jesse tinham sido ótimos na guitarra. Chip tinha se destacado na bateria. E Brandon era o único bom no baixo.
Quando chamei seus nomes assisti como todos os outros ficaram decepcionados ou me xingaram dizendo que aquilo era besteira e que tinham perdido o tempo precioso de suas vidas. Era claramente sorte tantas pessoas aparecerem para o ensaio, apenas porque eu tinha mencionado o prêmio em dinheiro do concurso.
- Agora é a sua vez. – Jesse sorri e eu olho para todos que confirmam.
- O que?
- É, cara. Como vai contribuir para essa banda?
- Eu consigo segurar algumas notas. – dou de ombros e Chip arqueia as sobrancelhas.
- Mostre para nós.
- Agora?
- É, agora.
- Qual música? – eu tinha um microfone em algum lugar por aqui.
- O palco é seu. Te damos a cortesia para escolher.
Encontrei o microfone e o testei cantando Redbone. Quando a música acabou eles me olharam e não pareceram muito impressionados.
- Não é nenhum Robert Plant mas pode melhorar com treino. – Brandon segura seu baixo em uma pose descolada e eu respiro fundo ajustando a jaqueta em meu corpo.
- Canta outra coisa, algo tipo discoteca. – Derek pede.
Passamos algumas horas ensaiando e absorvendo como cada um trabalhava. Ficamos na minha garagem até uma da manhã e combinamos de passar no pub no dia seguinte para nos inscrevermos no concurso.
Todos eles eram mais velhos que eu exceto Chip que tinha a minha idade, Brandon tinha um carro então nos esprememos e dirigimos até o pub.
Chegando lá entramos no estabelecimento largo. As pessoas bebiam e riam enquanto Hall & Oates tocava no fundo.
Meus olhos procuravam por ela em todo o lugar, e o lado racional da minha mente dizia que seria difícil encontrá-la no amontoado de pessoas dançando e se divertindo.
Até que eu a encontrei no bar, servindo bebidas e fazendo drinks com habilidade. Lançando sorrisos para todos. Deslumbrante, usava uma camisa de seda roxa e as mangas compridas estavam dobradas até o cotovelo. A camisa era de botões mas ao invés de abotoá-los ela tinha amarrado as pontas de um jeito estiloso e decotado. A calça jeans pelo que pude ver com o balcão a cobrindo era cós alto. Os cabelos pretos e vermelhos estavam em um penteado, a parte de cima com volume e a de baixo caindo em ondas.
Derek, Jesse, Chip e Brandon olharam para mim me tirando do devaneio e então repararam em quem eu encarava.
Não precisei que eles dissessem em voz alta para descobrir o que se passava na cabeça dos quatro.
Derek apoiou o braço no cotovelo de Brandon e mordeu a própria mão, Brandon em si puxou ar demais pros próprios pulmões como se estivesse surpreso, Jesse mordeu o lábio olhando diretamente para ela e Chip pareceu tentar decidir se a mesma era real ou apenas um sonho. Para o meu azar cérebros não são capazes de inventar rostos o que tornava ela real e fazia meus quatro novos amigos aparentemente caidinhos por ela.
- Você conhece ela? – Derek pergunta já animado.
- Eu diria que conhecer é uma palavra forte demais.
- Desembuche.
- Eu a conheci num ponto de ônibus, mas não sei nem o nome dela. Ela disse que prefere ser chamada de Cherry-
- Cherry. – Chip pronuncia como se fosse uma palavra linda vinda de outra língua que se não a inglesa.
- Se você não for conversar com ela, eu vou. – Jesse toma a frente.
Respiro fundo e ando um passo hesitante.
- Se não der certo eu irei em seguida. – vejo Brandon levantar a mão e sigo andando até o bar onde ela está.
Há uma multidão me bloqueando mas tento desviar dos braços sendo jogados para cima de mim e chamar a atenção dela.
- Cherry! – grito envergonhado e ela levanta seus olhos até me encontrar. Sorri e sussurra algo para o outro homem com ela, então sai do bar vindo até mim.
Ela é mais linda do que a praia ao pôr do sol, seu sorriso é como uma música que intensifica meus sentidos.
- ! – me cumprimenta e eu procuro por palavras para dizer. – Você veio!
- Ah, si-sim eu vim.
- Você vai competir? – parece achar meu nervosismo prazeroso.
- Sim.
- Com quem?
- Aqueles caras ali. – aponto para os quatro que olham na nossa direção e ela acena para eles com aquele sorriso que encanta a todos.
- Eles parecem ser legais.
- Bom- Eles são. – coço a nuca e ela junta as próprias mãos.
- Eu preciso voltar ao trabalho. Mas no meu intervalo venho conversar mais. – aponta para o bar e eu assinto.
- Espera! – ela se vira confusa e eu tomo coragem para perguntar. – Por que pediu para que eu participasse desse concurso?
- Porque achei que você ficaria gostoso no palco. – seu olhar se torna malicioso. – E também porque vai ser ótimo ter um rival fofo como você.
Continua seu caminho para o bar e eu arregalo os olhos.
Rival?
- ! – Jesse me chacoalha e eu cubro minha boca com a mão. – O que aconteceu?
- Ei cara. – Chip empurra meu ombro e eu respiro fundo.
- Conheçam a nossa competição. – aponto para Cherry e eles se viram parecendo tão chocados quanto eu.
- Ela é bonita, e ainda faz música? – Derek parece impressionado.
- Precisamos nos inscrever ainda. – Brandon acrescenta.
- Acho melhor não. – tento andar para a direção oposta e Jesse me puxa.
- Vamos lá! Vamos ganhar essa competição. – bate em meu peito e eu tusso.
- Vamos ser massacrados.
- Apenas se não treinarmos. – dá de ombros e eu resmungo.
- Eu espero que ela não seja boa.
- Também esperamos. – Derek concorda. – Quer dizer... Em partes.
- Eu não quero fazer isso.
- Nós queremos e precisamos de um vocalista.
- Nenhum de vocês sabe cantar? – pergunto vendo todos negarem.
- Não pode nos deixar na mão.
- Mas-
- . – Chip diz como uma advertência. – Quando ganharmos você pede desculpa.
- Confiante, huh?
- Você tem que confiar no seu taco.
- Sempre achei essa frase muito estranha, sabe? Não-
- Pare de enrolar e vamos.
- Agora? Eu nem sei aonde tem-
- Vamos! – Brandon me puxa.
- Ok, ok.
Andamos até o cartaz onde se assinavam os nomes e paramos quando percebemos que precisávamos escolher um nome para a banda.
- Eu sempre quis estar numa banda chamada Toes. – Jesse sugere e descartamos no mesmo segundo.
- Killers?
- Absolutamente não. – vasculho o bar e meus olhos param em uma jukebox.
- Jukebox Tune? – cruzo os braços e vejo que eles parecem ficar confusos.
- Esse é na verdade... Um nome bom. – Derek concorda.
- Todos de acordo? – Chip questiona e nos inscrevemos no concurso.
Depois disso tentamos dançar um pouco ao som da música e eu me solto, tentando meu melhor nos passos. Cherry vem até mim mostrando suas habilidades e eu de repente me sinto bastante nervoso, sem ideia do que fazer com meus braços.
- Oi! – ela diz por cima do barulho.
- Oi!
Play That Funky Music toca e ela dança como se estivesse andando com ritmo.
Revirando os olhos impaciente ela puxa minhas mãos e se vira de costas para mim posicionando elas um pouco abaixo de sua cintura enquanto a mesma remexe os quadris de um jeito sensual. Eu congelo por um momento mas logo faço o mesmo, colando nossos corpos e sentindo ela dançar.
Quando se certifica de que eu não vou puxar minhas mãos ela levanta os braços se divertindo e rindo me levando a rir também.
Seu corpo se fricciona no meu e eu respiro fundo para não perder a sanidade.
Giro ela para ficar de frente para mim e ela se agarra aos meus ombros continuando a dançar.
- Fiquei feliz que veio. – ela admite.
- Você ainda não me disse seu nome. – tento novamente e ela semicerra os olhos.
- Ainda não merece ele.
- E tem algo que eu possa fazer para merecê-lo? – ela pensa e estala a língua.
- Na verdade tem. – olha para os meus amigos. – Mas temos que sair daqui.
- Você vai me dizer seu nome se eu fizer tal coisa? – me certifico e ela assente, puxando-me pela mão para fora da pista de dança.
Olho para os caras e eles sorriem de um jeito malicioso, praticamente me parabenizando.
Quando chegamos ao lado de fora ela para puxa uma chave do bolso e eu pigarreio.
- O que quer que eu faça?
- Você vai saber quando chegarmos lá. – me leva até uma moto vermelha e me entrega um capacete.
- Uma moto?
- Não me diga que tem medo, . – ela ri e eu engulo seco.
- Eu nunca andei em uma. – digo colocando o capacete e ela sobe na moto pronta para dirigir.
- Eu te deixo me agarrar bem forte. – pisca um olho e eu me sinto um pouco mais relaxado.
Dirigimos por grande parte de Brighton e a sensação do vento enquanto parecíamos voar era incrível, diferente de qualquer coisa que eu já tinha experienciado. Minhas mãos se envoltaram por sua cintura e eu a abracei enquanto íamos até onde ela queria.
Ela parou a moto na rua e correu até à beira-mar, me convocando para me juntar a ela.
- Ainda não entendi o que quer que eu faça! – grito por conta da distância e corro pela areia até ela.
- Não? – desamarra a camisa e tira ela pelos braços enquanto anda de costas até a água.
- Já está escurecendo!
- Você tem medo? – ela pergunta desabotoando a calça e eu considero. Não está tão calor assim.
Mas eu queria saber seu nome então jogo a jaqueta e amontoo minhas roupas perto das suas. Corro para o mar e alcanço a mesma mas quase xingo quando meus pés entram em contato com a água.
- Vamos pegar uma hipotermia. – temo que aquilo aconteça de verdade e ela abaixa a mão e joga água em minha pele descoberta.
Eu pulo para trás e vejo que ela sorri, cruzando os braços como se tivesse frio.
- Você quer mesmo fazer isso? – pergunto e ela assente. Então abaixo por um momento para carregá-la e ando até mais fundo para jogar seu corpo na água.
- ! – ela grita rindo, quando levanta me empurra e eu caio na água.
- Você quer me matar? – questiono indignado puxando seu braço e ela cambaleia para não perder o equilíbrio.
A água não está muito movimentada então não sinto tanto medo.
- Duvido que me alcança. – se solta de mim e pula de cabeça na água, nadando por cima e batendo as pernas.
Mal sabia ela que eu tinha ganhado o campeonato de natação da escola no meu penúltimo ano.
Puxo ela quando ela para pra retomar o fôlego e ela tenta me cegar com água para fugir mas eu viro meu rosto.
- Você me deve um nome. – digo quando ela para de se debater, boiando na água.
- Meu nome é . – finalmente revela e eu sorrio involuntariamente.
- ?
- . – reafirma.
- Que coincidência. – solto.
- O que?
- Nossos nomes começam com A. – penso em voz alta e ela ri.
- Tem razão. – ela para de boiar. – Quantos anos você tem?
- Dezenove. – mexo meus braços de baixo da água. – E você, ?
- Vinte e dois. – levanta as duas mãos mostrando dois dedos em cada e eu me surpreendo. – E de onde seu sotaque vem?
- Eu não tenho sotaque. – franzo o cenho ofendido.
- Claro que tem.
- Eu me mudei quando tinha oito anos, é impossível que você perceba a diferença. – ela me olha ainda esperando pela resposta e eu suspiro derrotado. – Nasci em Bristol.
- Eu tenho bom ouvido.
- Por isso toca em concursos?
- Eu canto.
- Você canta? – ela confirma o que eu temia.
- Por que parece assustado?
- Eu não quero ter que competir contra você.
- Isso é fofo.
- Na verdade, é só medo de ser massacrado.
- Isso é mais fofo ainda. – sorri.
- Espero que não saiba cantar. – brinco.
- Isso é surpresa.
- Você gosta de guardar segredos, não é?
- Você é bem perceptivo.
- Vou parar de insistir.
- Ótimo.
- Vamos sair? – tento pedir enquanto tremo.
- Vamos. – concorda imediatamente e eu rio nadando para chegar primeiro.
Vestimos nossas roupas e sentamos na areia, tentando fazer o frio passar para podermos assistir o céu estrelado.
- Gosta do seu trabalho? – puxo assunto e ela parece sem fala.
- U-uou. Vai tentar me dizer que meu trabalho não dá futuro?
- N-não! Não é isso o que-
Tento reformular e ela responde.
- Gosto. – dá de ombros. – Ele paga as contas e fiz vários amigos lá.
- Entendo.
- E você? Com o que trabalha?
- Bom... No momento nada. – admito envergonhado.
- Jura? – ela sorri.
- No dia em que nos conhecemos eu estava indo para uma entrevista de emprego.
- O dia em que você perdeu o ônibus? – pergunta risonha.
- Sim.
- Que sorte.
- Foi o que eu disse para os meus amigos. – rimos.
- Você fuma?
- Não. – nego abaixando a cabeça.
- Mau hábito, eu sei. Você bebe, certo?
- Em ocasiões especiais.
- Ocasiões especiais como festas ou uma lata de cerveja toda noite?
- Acha que eu teria esse corpo se bebesse uma lata toda noite? – aponto para mim mesmo.
- Tem razão. – pende a cabeça pro lado.
- Você não tem namorado né? – de repente me dou conta daquela possibilidade mas ela nega.
- Absolutamente solteira.
- Ufa. – digo em voz alta, soando um pouco besta.
- Gosto que se importe.
- Gosto que seja solteira.
- Me conte um medo seu.
- Aranhas. – respondo imediatamente.
- Isso não é um medo real.
- Claro que é! Você já viu aqueles monstros de oito patas?
- Elas são adoráveis, qual é!
- Adoráveis? – quase engasgo. – Você usa drogas então?
- Apenas as legais. – pisca um olho. – Falando nisso, estou com fome.
- Qual é a relação? – aponto confuso.
- Apenas me lembrei de que estou com fome.
- Eu tenho... – coloco a mão no bolso. – Cherry Cola Gum.
- Huh, Bubblicious. – pega o chiclete e o coloca na boca. – Acho que esse é o encontro mais sofisticado que já tive.
- Isso é um encontro? – arregalo os olhos. – Se tivesse me avisado com antecedência eu pelo menos pagaria um cachorro-quente.
- Quanta consideração.
- Um cavalheiro precisa ter. – pego mais um chiclete, mascando-o.
- Qual é a sua opinião sobre... – procura ao nosso redor. – O mar?
- Vasto. – brinco.
- Excepcionalmente. – concorda. – O que acha da ondas?
- Inconstantes. – observo a água indo e vindo. – Acho que o mar representa a liberdade.
- Eu acho que ele é uma prova do quão pequenos somos. – revela. – Somos como estrelas vistas de longe.
Viro meu rosto para olhar para ela e a encontro fascinada com o mar e a areia. Os olhos brilhando e o sorriso se formando. Há tanto em seus olhos e em seu sorriso que é difícil distinguir quais sentimentos são. Admiração pelo o que é simples, tanta atenção concentrada em um lugar só.
É como a representação da profundidade, com seus cabelos vermelhos molhados caindo pelos ombros.
- Mas entendo porque o vê como a liberdade. – vira seu rosto e eu respiro fundo.
- Eu posso... Te beijar? – peço e ela sorri, acenando lentamente com a cabeça.
Me aproximo devagar e junto nossos lábios em um selinho. Nossos lábios se movem em um beijo e eu seguro seu rosto, sentindo meu coração acelerar. Sinto o gosto do chiclete dela quando sua boca se abre e eu passo o meu chiclete para sua boca enquanto aprofundamos o beijo.
Ela sobe em cima de mim na areia e eu dou suporte para o seu corpo para deitarmos.
- Na... Na minha casa...
- Estou bem aqui. – ela assegura recuperando o fôlego.
- Ah, ok. – afirmo um pouco confuso e ela sorri.
- Já ficou com alguém na praia?
- Estamos em público. – solto desacreditado e ela suspira.
- Estamos destinados a morrer, . Você não quer ter experiências mágicas antes disso?
- Você é louca. – nego sorrindo e a puxo para outro beijo.
Havíamos ficado naquele dia e depois disso viramos muito próximos, nos encontrávamos todos os dias no bar e então íamos para o apartamento dela a noite.
- Vem! – ela chama com as bexigas de água em mãos.
- Não acho que isso seja uma boa ideia. – faço uma careta e chego perto.
- Você é tão careta.
- Qual o problema em gostar de ficar seco? – pergunto mas ela joga a bexiga em mim e sai correndo para a outra calçada.
- Você está morta! – grito atravessando a rua e mirando nela com a minha bexiga.
- Para, para, para! – pede quando eu jogo as duas e agarro sua cintura, ela está rindo e esperneando.
- Os seus vizinhos vão chamar a polícia. – aviso e ela se vira para mim, apertando o cabelo molhado.
- Deixe de se preocupar por um momento. – pede e se aproxima, me distraindo. Quando penso que vai me beijar deixa uma bexiga de água cair em cima de minha cabeça.
Balanço o cabelo e passo as mãos nos olhos antes de voltar a correr.
...
A competição estava chegando perto e ela como sempre parecia calma, mas eu estava surtando. O pânico de pensar em cantar na frente de tantas pessoas batia no meu peito e eu até tinha pesadelos com aquilo.
- E se desistirmos? – pergunto mascando o chiclete.
- Claro que não. – Cherry nega de imediato.
- Escute sua namorada. – Derek aconselha.
- Ela só quer que eu cante para me humilhar.
- Pare com isso, está melhorando a cada ensaio. – Jesse tentou me tranquilizar.
- Ainda acho besteira você nunca cantar para mim.
- E te dar vantagens na competição? – Chip pergunta. – Ele está certo.
- Vocês são tão dramáticos. – revira os olhos se mexendo em meu colo.
- Disse a menina que chora toda vez que lê X-Men. – rebato e ela puxa meu nariz.
- Se eu chorasse toda vez que assistisse “A Vida É um Jogo” não me acharia no direito de zombar de ninguém.
- Isso era segredo! – falo alto e os meninos riem.
- Conte-nos mais Cherry. – Brandon pede.
- Tem muitas- Ai!
- Pare com isso. – belisco sua cintura e ela nega me beijando.
- Eu te amo do jeitinho que você é. – sussurra me dando um selinho e eu sou pego de surpresa.
...
- Olha! – ela vem até mim com uma concha em mãos. – Quando eu era pequena queria ter o tamanho para poder entrar em uma concha.
- Como um caracol?
- Sim, eles são lindos você não acha?
- Da onde veio sua fascinação por eles?
- Acho que não teria coisa mais divertida do que viver na minha própria concha.
- Metafórica.
- Quando era pequena tentava achar caracóis na floresta. Era a minha diversão.
- E fazia o que quando achava eles?
- Os observava... Até minha mãe dizer que era hora de ir embora. – olha para a concha sorrindo em nostalgia.
- Eu te amo. – revelo. Ela levanta os olhos até mim e seu sorriso de repente se torna por minha causa. – Quero viver em uma concha com você.
- Quer? – pergunta feliz.
- Quero. – assinto a puxando para perto e ela ri.
- Então é uma promessa.
- É uma promessa.
...
- Estou nervoso. – digo como se não fosse óbvio.
- Então pare. – Jesse responde.
- Fique tranquilo. – Cherry me dá um beijo na bochecha.
- Agora é a sua vez. – Brandon avisa Lila e ela sorri subindo no palco com a própria banda.
Ela estava deslumbrante como sempre, o cabelo em um penteado que demorou uma hora para ser feito, a maquiagem e a roupa cintilante.
Eu nunca poderia vencer ela.
A performance dela passou e eu fiquei mais nervoso, subindo no palco enquanto tremia.
Respirei fundo e parei em frente ao microfone.
- Somos os Jukebox Tune! Esperamos que gostem! – Derek interage com a plateia e nos posicionamos.
[Recomendo que coloquem para tocar Sugar Drunk High do James Bay.]
Chip começou com a bateria e eu comecei a cantar enquanto os outros também tocavam.
We shed tears for movie scenes
(Nós derramamos lágrimas por cenas de filme)
No real fears, fake feelings
(Sem medos reais, sentimentos falsos)
Minhas mãos seguraram o microfone e eu olhei para ela, tentando ficar calmo.
It’s a sentimental wasteland
(É um terreno baldio sentimental)
We’re young enough to lose teeth
(Somos jovens o suficiente para perder dentes)
But not old enough for enemies
(Mas não velhos o bastante para os inimigos)
Still steering with both hands
(Ainda dirigimos com ambas as mãos)
A música que eu havia escrito fazia mais sentido quando eu cantava olhando para ela.
We were just kids living young and naïve
(Éramos apenas crianças, sendo jovens e inocentes)
Running round streets like the King and the Queen
(Correndo pelas ruas como o Rei e a Rainha)
Gas light flicker in your eye, what are hopeless dreams?
(A luz da gasolina cintila em seus olhos, quais são seus sonhos sem esperança?)
Staying out waiting ‘til they call off the search
(Ficávamos fora esperando até que eles cancelassem a busca)
Chewing gum, cherry coke until our brains burned
(Mascando chiclete, refrigerante de cereja, até que nossos cérebros queimassem)
Sorri para ela e ela revirou os olhos, brincando.
A sugar drunk high, we were the only ones
(Um porre de açúcar, éramos os únicos)
Ela dançou levantando os braços e me incentivou a continuar.
The bitter taste of nicotine
(O sabor amargo da nicotina)
Still alive on my coat and jeans
(Ainda está vivo no meu casaco e jeans)
But you were the light that I saw standing in front of the sun
(Mas você era a luz que eu vi na frente do sol)
You were the girl on the hill singing all night, all night
(Você era a garota na colina, cantando a noite toda, a noite toda)
We were just kids living young and naïve
(Éramos apenas crianças, sendo jovens e inocentes)
Running round streets like the King and the Queen
(Correndo pelas ruas como o Rei e a Rainha)
Gas light flicker in your eye, what are hopeless dreams?
(A luz da gasolina cintila em seus olhos, quais são seus sonhos sem esperança?)
Staying out waiting ‘til they call off the search
(Ficávamos fora esperando até que eles cancelassem a busca)
Chewing gum, cherry coke until our brains burned
(Mascando chiclete, refrigerante de cereja, até que nossos cérebros queimassem)
A sugar drunk high, we were the only ones
(Um porre de açúcar, éramos os únicos)
Abaixei meu tom de voz e e fechei os olhos por alguns segundos. Encontrando ela quando os abri.
Maybe never be found
(Talvez nunca ser encontrados)
Like a drop in the ocean
(Como uma gota no oceano)
If we ever grow up
(Se algum dia crescermos)
We’ll be gone in the moment
(Nós sumiremos no momento)
A plateia esperou enquanto Jesse tocava a guitarra do jeito que tínhamos ensaiado. Eu pisquei na direção dela e ela gargalhou, parecendo se divertir enquanto ouvia a música.
Batemos palmas e logo fomos acompanhados pelas pessoas que nos assistiam.
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
We were living on a sugar drunk high
(Nós vivíamos em um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
Sugar drunk high
(Um porre de açúcar)
We were just kids living young and naïve
(Éramos apenas crianças, sendo jovens e inocentes)
Balancei a cabeça.
Running round streets like the King and the Queen
(Correndo pelas ruas como o Rei e a Rainha)
Gas light flicker in your eye, what are hopeless dreams?
(A luz da gasolina cintila em seus olhos, quais são seus sonhos sem esperança?)
Staying out waiting ‘til they call off the search
(Ficávamos fora esperando até que eles cancelassem a busca)
Bati o pé.
Chewing gum, cherry coke until our brains burned
(Mascando chiclete, refrigerante de cereja, até que nossos cérebros queimassem)
A sugar drunk high, we were the only ones
(Um porre de açúcar, éramos os únicos)
Abaixei o tom novamente.
Maybe never be found
(Talvez nunca ser encontrados)
Like a drop in the ocean
(Como uma gota no oceano)
If we ever grow up
(Se algum dia crescermos)
We’ll be gone in the moment
(Nós sumiremos no momento)
Quando a música acabou todos bateram palmas e eu dei um passo para trás pela surpresa que me atingiu ao sermos tão parabenizados pela nossa performance.
E Jukebox Tune ganhou o concurso. Mas eu ganhei a garota.
FIM
Nota da autora: Sem nota.
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