Capítulo Único
Can you tell me, who called the race?
Can anyone stay in one place?
And when you get to the finish line
Will you wish for more time?
But see, one day
One day you will
But maybe one day you will find
That you just can't push rewind
Você pode me dizer, quem anunciou a corrida?
Alguém pode ficar em primeiro lugar?
E quando você conseguir chegar na linha final
Você vai desejar por mais tempo?
Mas veja, um dia
Um dia você vai
Mas talvez um dia você descubra
Que você não pode voltar no tempo
já tinha tirado os sapatos de salto e as bijuterias, e estava usando apenas o vestido novo, comprado na tarde daquele mesmo dia, quando entrou em casa, quase duas horas depois do horário em que deveria ter chegado. Tinham combinado de jantar no recém-inaugurado restaurante de um antigo colega de faculdade de ambos, mas ele tinha entrado em uma reunião e conseguira apenas mandar mensagens, avisando que se atrasaria e pedindo desculpas.
“Me perdoa, meu amor. Eu prometo que, da próxima vez...”
“Nem termina!” Ela interrompeu, sem qualquer constrangimento, o discurso que o namorado começara. “Sabe quantas vezes eu já escutei essa frase, só essa semana, ?” Indagou, levantando-se do sofá e cruzando os braços na frente do corpo.
“Eu faço isso pela gente, .”
“Não, . Você faz isso por você. Por vaidade.” Retrucou. “E eu acho legal querer ser bem sucedido, amar a carreira, mas você precisa encontrar um equilíbrio entre isso e a sua vida pessoal, ou vai ficar sem uma!”
“E isso quer dizer o que exatamente?” Irritou-se, cruzando também os braços, como se a desafiasse.
“Quer dizer que você vai acabar sozinho, . Sem mim e sem ninguém.” Afirmou, de forma corajosa. “Porque se eu, que te amo tanto e que tenho uma história com você, já não to suportando mais, qualquer pessoa que venha a te conhecer não vai ter tempo nem de se apaixonar por você, antes de perder meia dúzia de sessões de cinema ou de criar uma úlcera no estômago, esperando duas, três horas, pra jantar junto com você.”
“Você tá exagerando.” Disse, mas sabia que não era verdade.
“Eu já comi um sanduíche e to morrendo de sono.” Massageando a própria nuca, ela encerrou a conversa e caminhou para o quarto, onde, mesmo após apenas dez minutos, uma banana e um copo de leite, ele a encontrou já com todas as luzes apagadas e as costas voltadas para o lado da cama em que dormia.
Discussões daquele tipo entre eles eram frequentes, havia algum tempo. gostava de ter um namorado bem sucedido e, quando ele começara a não acompanhá-la nos eventos para trabalhar, se desculpava pela ausência dele até com certo gosto. Tinha orgulho de saber que ele tinha ambições na vida, assim como ela, enquanto, na época, alguns namorados de amigas suas não pensavam sequer em arrumar um emprego. No entanto, com o tempo, a situação fugira do controle e, por mais que ela tivesse certeza que o emprego não era uma desculpa, que confiasse nele e soubesse que ele estava mesmo preso em reuniões, e não com amigos ou outras garotas, tinha começado a se sentir colocada demais em segundo plano.
“É uma conta nova, ! Eu preciso ganhar essa conta!” Ele disse, em uma nova discussão, na semana seguinte, depois de chegar ao aniversário de um amigo deles quando quase todo mundo já tinha ido embora. A agência de publicidade em que o rapaz trabalhava tinha recebido, naquele mesmo dia, um pedido para idealizar uma grande campanha, incluindo diferentes mídias, para uma conhecida marca de produtos de higiene pessoal e cosmética.
“Onde é que isso para, hum, ?” Ela perguntou, tentando não levantar a voz. “Eu sinto que isso é uma corrida sem fim da linha, sabe? Que você sempre vai querer ir mais e mais longe!”
“E não é assim que deve ser? Eu faço o que eu amo, . Eu me sinto desafiado, cada vez que aparece uma conta nova.”
“Eu também me sinto desafiada, toda vez que eu tenho que desenhar peças pra uma coleção, mas eu não vendo todo o meu tempo por isso. Eu também amo o que eu faço, mas isso não é a única coisa que eu amo.” Disse, sentindo lágrimas em seus olhos, e levantou, indo na direção do banheiro do bar.
ficou olhando para a namorada, até que ela não pudesse mais ser alcançada pelo seu olhar, pensando no que ela tinha acabado de dizer. Ele a amava muito e era ruim demais saber que sua dedicação ao trabalho estava fazendo com que ela duvidasse disso.
Será que ela tinha razão e ele já não precisava mais ser tão competitivo assim? Será que, quando olhasse para trás, no futuro, iria querer não ter perdido cada simples momento ao lado dela?
All we have is this moment
Tomorrow's unspoken
Yesterday is history
So why don't you be here with me?
All we have is this moment
To put our love into motion
Yesterday is history
So why don't you be here with me?
Be here with me now
Tudo o que temos é este momento
O amanhã é implícito
O ontem é uma história
Então, por que você não está aqui comigo?
Tudo o que temos é este momento
Para colocar nosso amor em movimento
O ontem é uma história
Então, por que você não está aqui comigo?
Esteja aqui comigo, agora
De uma mesa no canto do salão de festas, olhava, frustrada, as amigas de infância na pista de dança, dançando uma balada com seus maridos e namorados. Sua irmã, Savannah, vestida de noiva, jogou a cabeça para trás, rindo de algo que Andrew, que havia se tornado seu digníssimo esposo uma hora antes, dissera ao pé de seu ouvido. Sua mãe e seu pai cochicharam algo, olhando em sua direção, com semblantes preocupados, e ela sabia exatamente por quê. Então, recebeu mais uma mensagem por whatsapp, dessa vez com o conteúdo ”já estou dentro do carro, indo praí”, mas a iminente chegada de não foi nenhum motivo de animação, depois de tudo que ela já tinha passado naquela noite por causa da ausência dele.
Ela não queria que ele chegasse, mais uma vez, depois de não fazer pose para as fotos ao lado dela, depois de ela ter respondido dezenas de perguntas sobre a ausência dele, e recebido olhares e sorrisos cheios de piedade. Queria que ele tivesse estado lá para secar as lágrimas de felicidade que ela derramou quando a irmã mais velha leu seus votos, que ele tivesse chorado de rir, assim como ela, com o discurso do padrinho, já um pouco bêbado. Queria que ele estivesse ali desde o começo, que estivesse ali agora!
Porém ele não estava e a sensação que tinha era de que ele nunca estava. A sensação que tinha era de que eles não tinham mais seus momentos, um presente juntos. Havia só um passado lindo e expectativas de um futuro.
Lembrou-se, com saudades imensas, do dia em que o conhecera, quando eles eram estudantes universitários que só pensavam em viver o presente, e nem mesmo levavam seus cursos de publicidade e moda tão a sério.
A primeira festa do ano da famosa fraternidade Delta Kappa Epsilon já estava lotada de estudante enlouquecidos por álcool e drogas ilícitas, quando chegou com dois companheiros do time de basquete. Eles foram aplaudidos e cumprimentados por quase todos os estudantes por quem iam passando, como acontecia em todas as festas depois da vitória do time na temporada anterior, e alguns colegas mais entusiasmados chegaram a se oferecer para pegar bebidas para os três, que apenas agradeceram por ora. Enquanto duas meninas disputavam a atenção de Gerard Lee, e Sofie White pedia que Paul Savoy autografasse sua camiseta, não escutava Alicia Chace elogiar suas cestas de três pontos, pois estava com todos os seus sentidos ocupados, observando uma garota que cantava no karaokê.
A menina, de pé sobre a mesa de centro da sala de convivência, junto com um amigo que tinha um moicano azul estranhíssimo no alto da cabeça, usava um short curto e uma camiseta simples de alcinha, com um tipo de colete cheio de franjas por cima e um par de tênis All Star de cano alto nos pés. Ela não era afinada e nem tinha ritmo suficiente para cantar Wannabe, mas o movimento de seus quadris parecia convidar a se mover junto com ela, o que ele teve que se esforçar para não fazer, já que pegaria muito mal se alguém achasse que ele era chegado em Spice Girls.
achou excêntrico, quando percebeu que a mesma tinta azul do moicano do rapaz que dividia os vocais com a morena tinha sido usada para colorir as pontas dos cabelos dela, mas, por mais que ele tentasse se distrair com outras convidadas da festa, seus olhos sempre acabavam naquela que ele, mais tarde, descobriu ser . Nada de mais interessante havia ali para ele do que álcool e garotas, mas o mais curioso foi que ele cismou com uma das poucas que não se importavam com o fato de ele ter sido o maior pontuador do principal jogo do time queridinho da universidade em que estudavam. Ela fez um jogo duro danado para aceitar uma bebida e concordar em dar um passeio com ele no jardim, e fez com que ele realmente andasse muito e conversasse bastante, antes de, enfim, ocupar com ele um dos poucos espaços vagos fora do casarão que abrigava a DKE.
É claro que ela sabia quem ele era, antes daquela noite, e que o vira chegar no exato momento em que cantava com o namorado do meu melhor amigo, que insistira muito e a convencera com o golpe baixo de escolher as apimentadas de maior sucesso da década de noventa. No entanto, não era de se deixar impressionar por popularidade e só se interessou realmente em beijar , depois que ele mostrou que era bem mais que rostinho e corpo – muito – bonitos, e que tinha conteúdo.
Ele gostava de filosofia e se interessava por política, o que surpreendeu o lado ativista de . Jogava basquete, mas também amava artes marciais e, em razão delas, tinha adquirido certo conhecimento de cultura oriental, o que encantou a zen budista e praticante de yoga. Eles tinham muito em comum, na verdade, e foi isso que fez com que ela escrevesse seu número de celular na palma da mão do garoto, no final da festa, e aceitasse sair com ele, alguns dias depois.
Não só o orgasmo indescritível que teve no carro dele na madrugada do domingo seguinte, como os três anos de namoro, seguidos de seis de união das escovas de dente, tinham mostrado que a decisão dela tinha sido acertada, mas ela estava com medo – e por que não dizer apavorada mesmo? – de que, por não estarem mais tão conectados no presente, o prometido futuro estivesse derretendo, como os relógios de Dali.
Do you ever think that
We're just chasing our tails?
Like life is one big fast treadmill
And we pop what is prescribed
If it gets us first prize
But you know who I, who I think will win
Are the ones that love loving
Are the ones that take the time
Você já pensou que
Estamos perseguindo nossas próprias caudas?
Como a vida é grande, rápida e passageira
E fazemos o que é prescrito
Se isso nos der o primeiro prêmio
Mas você sabe quem eu, quem eu acho que vai ganhar
São aqueles que amam amar
São aqueles que aproveitam o momento
“Que bom que você gostou!” disse, aliviado, depois de ter mostrado a o material que tinha preparado para apresentar ao chefe no dia seguinte. “Eu precisava muito dividir isso com você, . Eu preciso muito que você entenda por que e a que eu me dedico tanto.”
“, amor, eu sei.” Ela deixou a mesa, levantando-se para pegar um copo d’água. “Eu entendo que você responde a uma demanda, a uma realidade. Eu sei que a sua carreira é competitiva, que o mundo capitalista é competitivo, e não to defendendo que você deve ignorar isso e viver como um sonhador, na contramão do sistema!” Riu. “Eu só preciso que você tenha também um tempo pra você mesmo e pra gente. Eu quero você comigo nos eventos de família. Eu quero ter um filho seu e saber que você vai participar da educação dele.”
“Eu quero muito um filho seu, . Filhos, aliás!” Respondeu, sorridente. “Mas é justamente por isso que eu preciso dessa conta nova...”
“Não começa, ! Pelo amor de Deus!” Suplicou, cansada demais até para se irritar. “Não usa filhos que nem nasceram como desculpa pra isso que você se tornou! Uma família precisa de amor, caramba! Seus filhos não vão ser felizes, se tiverem os melhores brinquedos, a melhor escola, as melhores roupas, mas não tiverem o seu carinho, a sua presença, os seus cuidados e, definitivamente, eu não to feliz nessa situação, e não vou ter um filho achando que ele pode fazer um milagre acontecer!”
“...”
“Eu também tenho um trabalho e to indo cuidar dele.” Ela avisou, pendurando a bolsa que estava sobre a bancada da cozinha em um dos ombros. “Só... pensa bem, . Eu não vou mais falar sobre isso, porque eu sinto que fico rodando em círculos e não saio do lugar, e isso é frustrante, então você devia pensar realmente bem nas escolhas que tá fazendo.” Pediu, com toda a calma do mundo, e concentrou toda a sua energia para rogar ao universo que ele ouvisse e lhe atendesse, ao menos uma vez, e que isso fizesse alguma diferença, enfim.
ficou pensativo, mais uma vez, quando ela não se importou em beijar seus lábios antes de sair de casa, como fazia antes. Estava mesmo se mostrando cansada daquela situação e ele, pela primeira vez, pensou verdadeiramente em não se candidatar a nenhuma outra conta, depois daquela para a qual já tinha todos os esboços prontos.
Be here with me now
'Cause our future is right now, right in front on you
Don't let the clock, the clock tell you what to do
Our future is right now, I'm in front of you
Baby don't blink and miss
Esteja aqui comigo, agora
Porque o nosso futuro é agora, está diante de você
Não deixe o relógio, o relógio te dizer o que fazer
Nosso futuro é agora, estou diante de você
Querido, não pisque e perca
“Merda!” colocou o telefone sobre a mesa, depois de ouvir esta ligação está sendo transferida para a caixa de mensagens, pela sexta ou sétima vez.
Tinha tentado ligar várias vezes para o celular de , depois de saber por sua secretária que ela tinha ligado, mas que não quisera deixar qualquer recado. O telefone estava desligado ou fora de área, e ela não atendeu, nem respondeu, qualquer umas das cinco mensagens que ele enviou por sms. Pior do que isso: no whatsapp, ela sequer visualizou nada que ele escreveu e isso começou a deixá-lo preocupado.
estava ocupada com trabalho e tinha deixado o celular desligado e bem longe, de propósito, depois de tentar falar com e saber que ele estava em mais uma daquelas suas inúmeras e intermináveis reuniões. Tinha prometido, mais ou menos um mês antes, que não reclamaria mais de seus furos com ela por causa de trabalho, e estava determinada a cumprir o que prometera. Não havia sido tão difícil, porque ele vinha se esforçando, mas se, logo naquele dia, ele tinha se envolvido com suas atividades e esquecido do compromisso que tinha, ia tornar a tarefa ainda mais fácil, pois a relação dos dois não sobreviveria nem mesmo por mais vinte e quatro horas. Estava cansada de dar murro em ponta de faca e seria a gota d’água.
Enquanto ela cuidava de alguns detalhes do primeiro desfile com peças exclusivamente suas, depois de ter sido promovida dentro da grife para a qual trabalhava havia cinco anos, ele chegava ao apartamento dos dois e encontrava seu convite para o evento sobre a cama.
“Merda!” Xingou de novo, ainda mais irritado do que ficara quando não conseguira localizá-la. Não era à toa que ela tinha tomado chá e sumiço, visto que, além de provavelmente bastante ocupada, devia estar extremamente decepcionada por ele não ter tocado no assunto e ter passado boa parte do dia emendando uma reunião com a outra.
“Koreen, oi. Eu preciso da sua ajuda!” Disse, quando, depois de muitos toques, a assistente dela finalmente atendeu o próprio celular. Ao menos alguém estava conectada com o mundo externo ao estúdio em que aconteceria o desfile.
conseguiu convencer a garota a ajudá-lo a por em prática um plano meio louco, apelando para o romantismo dela, e foi para o evento, correndo, mas não sem antes passar em um lugar especial e fazer uma comprinha estratégica. Lembrou-se, no caminho, de quando ele e eram apenas dois sonhadores, e, apesar de ter orgulho imenso de tudo que ambos tinham conquistado, viveu um momento de certa nostalgia.
estava na sala de aula, fazendo um desenho com base em um modelo vivo, quando o rapaz com que tinha saído na noite anterior começou a ligar sem parar. Seu celular ficava sem o som, o que a livrou, com certeza, de uma bronca e tanto da professora Germania e das reclamações dos colegas de classe, mas ela ficou desconcentrada, e acabou não um desenho com a qualidade desejada.
A madrugada com ele tinha sido divertida e quente, e ela queria mais das conversas, dos toques, dos beijos e do sexo fantástico, mas não achou que ele ligaria tão rápido. Na verdade, não se surpreenderia se ele sequer ligasse, pois já tinha feito sexo casual antes, sem esperar por um terceiro encontro como algumas amigas a aconselhavam a fazer, e vários caras não tinham mais dado mais sinal de vida depois disso. O mundo se dizia evoluído, mas ainda era machista o suficiente para que um homem achasse que não deveria ter um relacionamento com uma mulher que não tivesse falsos pudores e demonstrasse gostar de transar.
“Oi, .” Ela falou, quando ele atendeu depois de um só toque. A aula acabara e ela, finalmente, estava retornando a ligação ignorada por livre e espontânea pressão.
“! E aí?” Ele respondeu e, por algum motivo, ela teve certeza de que ele sorria, verdadeiramente entusiasmado com o contato.
“Tudo certo. E com você?”
“Tudo certo também. Tá na faculdade?”
“Uhum.”
Ele sabia muito bem onde ela estava, pois estava no corredor atrás dela. Não era nenhum perseguidor, mas não teria mais nenhuma aula naquele dia e ficara sabendo, na lanchonete, totalmente por acaso, que os alunos do segundo período de moda não teriam aula no terceiro tempo, porque uma das professoras tinha ido para a semana de moda de Nova York. Estava louco que ela cravasse os dentes no ombro dele, mais uma vez, para abafar um grito na hora do próprio gozo, que arranhasse de novo suas costas com as unhas longas e gemesse o apelido que, em seus lábios, tinha um som tão bom quanto o de qualquer um dos clássicos do rock que ele adorava.
“Me mostra um dos seus desenhos?” Pediu, quando estavam fazendo um lanche, entre uma transa e outra, no apartamento dele.
“Pra que? Vai me dizer que gosta de moda, agora?” Riu.
“Não, mas gosto de você, com certeza, então me interesso pelas suas coisas.” Deu de ombros.
“Tá.” Ela ergueu as sobrancelhas, desconfiada, mas concordou. Levantou-se do sofá e tirou um caderno da mochila, colocando-o no colo do rapaz.
“Eu não preciso entender de moda pra saber que eles são lindos.” Comentou ele.
“Obrigada! Eu já fiquei meio na dúvida, algumas vezes, sobre esse curso, mas, se eu tenho certeza de alguma coisa na vida, é de que eu quero desenhar. Arquitetura não é uma opção, por causa da matemática, mas eu pensei em artes plásticas ou design gráfico talvez.”
“Já eu adoro propaganda. Eu acho o curso chato, às vezes, e confesso que passei boa parte do tempo, até agora, em quadra, e outra grande nas festas, mas nunca pensei em fazer outra coisa.”
“Eu, na verdade, queria fazer os três, já que estamos em um momento confissão.” Riu. “Mas eu sou uma só, né? Não dá pra ter ambição de três.” Acrescentou.
tinha ambição de três, de quatro... de dez! E, agora, ele via que ela estava certa ao dizer aquilo. Ela tinha deixado de apenas sonhar e realizara muito, mas sempre com aquele equilíbrio que já tinha na época, e ele, por outro lado, tinha se perdido, achando que podia abraçar todas as oportunidades. Tinham ambos transformado sonhos em realidade, mas o fato de ele nunca estar satisfeito fazia com que estivessem menos felizes do que quando quase tudo era apenas perspectiva.
estava disposto a mudar. Ele agora entendia que precisava disso, ou perderia , e teria apenas seu trabalho, além de todo o tempo do mundo para se arrepender.
Ele ficou escondido nos bastidores, olhando cada modelo entrar na passarela com uma roupa mais linda que a outra, e sentindo um orgulho tão grande, que quase não conseguiu levar o plano adiante de tanta vontade de aparecer e dizer isso a ela. Segurou-se, contudo, até que ela se juntasse às meninas, adentrando a passarela na frente delas e recebendo os aplausos do público. Tomou o seu lugar atrás da última top model e chamou a atenção dos convidados, ao aparecer no meio das belas garotas com um buquê de rosas vermelhas.
percebeu a movimentação, os comentários, os convidados surpresos com alguma coisa. Olhou para trás, vendo o namorado sorrir e avançar na sua direção, e ficou paralisada, até que ele chegasse perto dela e lhe desse as flores, antes de segurar sua mão e sair da passarela com ela, voltando ao camarim.
“!” Ela sorriu amplamente, tocando o rosto dele. “Que bom que você tá aqui! Eu pensei que...”
“Que eu não viria. Eu sei. Me perdoa.” Ele também acariciou o rosto dela. “Eu te prometo que...”
“Você veio! Você assistiu ao desfile, participou... você tá aqui, agora! Por favor, vive esse momento comigo. Não estraga o momento, prometendo alguma coisa que talvez você não consiga cumprir.” Pediu e ele assentiu.
“Eu só quero que você saiba que eu me arrependo de cada momento que eu perdi e que eu vou tentar, de verdade, não perder outros.”
“E eu só quero curtir essa sensação de ter você aqui, num dos momentos mais importantes da minha vida, .” Ela beijou os lábios dele, delicadamente, segurando em sua nuca. “Me leva pra jantar?” Questionou, hesitante. “Ou você tem alguma coisa pra fazer que...”
“No restaurante que você quiser.” Respondeu, seguro.
“Tem certeza?” Perguntou, com ar brincalhão.
“É claro que eu preferia que não fosse num japonês, mas hoje é a sua noite.”
“Tudo bem. Eu tava pensando naquele tailandês que inaugurou no mês passado. A sua irmã me disse que ele é incrível!”
“E, por falar em minha irmã, esqueceu que ela tá aí, junto a sua irmã, e com seus pais e os meus? Acho que o jantar a dois vai ter que ser outro dia.” Lamentou, e ela, apesar de não ter reclamado, lastimou ainda mais, com receio de não ter a sorte de ver largar o trabalho, antes da hora do jantar, em uma outra noite. Ele, no entanto, a surpreendeu, não só levando-a ao tailandês na noite seguinte, como jantando com ela durante cada noite daquela semana.
É claro que voltou a deixar de ir a alguns eventos e se atrasou para outros, porque velhos hábitos não são fáceis de mudar, mas ele não pegou mais nenhuma conta nova, enquanto não entregou alguma que já estivesse sob sua responsabilidade. No ano seguinte, pegou menos contas que naquele, e, no posterior, fundou sua própria agência com um amigo, para poder fazer seus próprios e trabalhar em casa.
teve um casal de gêmeos, logo depois do aniversário de doze anos de namoro dos dois, e a pediu em casamento, quando Joe e Zoe completaram um aninho.
Como todas as pessoas, eles viveram momentos felizes e tristes, mas o importante foi que eles viveram esses momentos, e que viveram cada um deles juntos.
Can anyone stay in one place?
And when you get to the finish line
Will you wish for more time?
But see, one day
One day you will
But maybe one day you will find
That you just can't push rewind
Você pode me dizer, quem anunciou a corrida?
Alguém pode ficar em primeiro lugar?
E quando você conseguir chegar na linha final
Você vai desejar por mais tempo?
Mas veja, um dia
Um dia você vai
Mas talvez um dia você descubra
Que você não pode voltar no tempo
já tinha tirado os sapatos de salto e as bijuterias, e estava usando apenas o vestido novo, comprado na tarde daquele mesmo dia, quando entrou em casa, quase duas horas depois do horário em que deveria ter chegado. Tinham combinado de jantar no recém-inaugurado restaurante de um antigo colega de faculdade de ambos, mas ele tinha entrado em uma reunião e conseguira apenas mandar mensagens, avisando que se atrasaria e pedindo desculpas.
“Me perdoa, meu amor. Eu prometo que, da próxima vez...”
“Nem termina!” Ela interrompeu, sem qualquer constrangimento, o discurso que o namorado começara. “Sabe quantas vezes eu já escutei essa frase, só essa semana, ?” Indagou, levantando-se do sofá e cruzando os braços na frente do corpo.
“Eu faço isso pela gente, .”
“Não, . Você faz isso por você. Por vaidade.” Retrucou. “E eu acho legal querer ser bem sucedido, amar a carreira, mas você precisa encontrar um equilíbrio entre isso e a sua vida pessoal, ou vai ficar sem uma!”
“E isso quer dizer o que exatamente?” Irritou-se, cruzando também os braços, como se a desafiasse.
“Quer dizer que você vai acabar sozinho, . Sem mim e sem ninguém.” Afirmou, de forma corajosa. “Porque se eu, que te amo tanto e que tenho uma história com você, já não to suportando mais, qualquer pessoa que venha a te conhecer não vai ter tempo nem de se apaixonar por você, antes de perder meia dúzia de sessões de cinema ou de criar uma úlcera no estômago, esperando duas, três horas, pra jantar junto com você.”
“Você tá exagerando.” Disse, mas sabia que não era verdade.
“Eu já comi um sanduíche e to morrendo de sono.” Massageando a própria nuca, ela encerrou a conversa e caminhou para o quarto, onde, mesmo após apenas dez minutos, uma banana e um copo de leite, ele a encontrou já com todas as luzes apagadas e as costas voltadas para o lado da cama em que dormia.
Discussões daquele tipo entre eles eram frequentes, havia algum tempo. gostava de ter um namorado bem sucedido e, quando ele começara a não acompanhá-la nos eventos para trabalhar, se desculpava pela ausência dele até com certo gosto. Tinha orgulho de saber que ele tinha ambições na vida, assim como ela, enquanto, na época, alguns namorados de amigas suas não pensavam sequer em arrumar um emprego. No entanto, com o tempo, a situação fugira do controle e, por mais que ela tivesse certeza que o emprego não era uma desculpa, que confiasse nele e soubesse que ele estava mesmo preso em reuniões, e não com amigos ou outras garotas, tinha começado a se sentir colocada demais em segundo plano.
“É uma conta nova, ! Eu preciso ganhar essa conta!” Ele disse, em uma nova discussão, na semana seguinte, depois de chegar ao aniversário de um amigo deles quando quase todo mundo já tinha ido embora. A agência de publicidade em que o rapaz trabalhava tinha recebido, naquele mesmo dia, um pedido para idealizar uma grande campanha, incluindo diferentes mídias, para uma conhecida marca de produtos de higiene pessoal e cosmética.
“Onde é que isso para, hum, ?” Ela perguntou, tentando não levantar a voz. “Eu sinto que isso é uma corrida sem fim da linha, sabe? Que você sempre vai querer ir mais e mais longe!”
“E não é assim que deve ser? Eu faço o que eu amo, . Eu me sinto desafiado, cada vez que aparece uma conta nova.”
“Eu também me sinto desafiada, toda vez que eu tenho que desenhar peças pra uma coleção, mas eu não vendo todo o meu tempo por isso. Eu também amo o que eu faço, mas isso não é a única coisa que eu amo.” Disse, sentindo lágrimas em seus olhos, e levantou, indo na direção do banheiro do bar.
ficou olhando para a namorada, até que ela não pudesse mais ser alcançada pelo seu olhar, pensando no que ela tinha acabado de dizer. Ele a amava muito e era ruim demais saber que sua dedicação ao trabalho estava fazendo com que ela duvidasse disso.
Será que ela tinha razão e ele já não precisava mais ser tão competitivo assim? Será que, quando olhasse para trás, no futuro, iria querer não ter perdido cada simples momento ao lado dela?
All we have is this moment
Tomorrow's unspoken
Yesterday is history
So why don't you be here with me?
All we have is this moment
To put our love into motion
Yesterday is history
So why don't you be here with me?
Be here with me now
Tudo o que temos é este momento
O amanhã é implícito
O ontem é uma história
Então, por que você não está aqui comigo?
Tudo o que temos é este momento
Para colocar nosso amor em movimento
O ontem é uma história
Então, por que você não está aqui comigo?
Esteja aqui comigo, agora
De uma mesa no canto do salão de festas, olhava, frustrada, as amigas de infância na pista de dança, dançando uma balada com seus maridos e namorados. Sua irmã, Savannah, vestida de noiva, jogou a cabeça para trás, rindo de algo que Andrew, que havia se tornado seu digníssimo esposo uma hora antes, dissera ao pé de seu ouvido. Sua mãe e seu pai cochicharam algo, olhando em sua direção, com semblantes preocupados, e ela sabia exatamente por quê. Então, recebeu mais uma mensagem por whatsapp, dessa vez com o conteúdo ”já estou dentro do carro, indo praí”, mas a iminente chegada de não foi nenhum motivo de animação, depois de tudo que ela já tinha passado naquela noite por causa da ausência dele.
Ela não queria que ele chegasse, mais uma vez, depois de não fazer pose para as fotos ao lado dela, depois de ela ter respondido dezenas de perguntas sobre a ausência dele, e recebido olhares e sorrisos cheios de piedade. Queria que ele tivesse estado lá para secar as lágrimas de felicidade que ela derramou quando a irmã mais velha leu seus votos, que ele tivesse chorado de rir, assim como ela, com o discurso do padrinho, já um pouco bêbado. Queria que ele estivesse ali desde o começo, que estivesse ali agora!
Porém ele não estava e a sensação que tinha era de que ele nunca estava. A sensação que tinha era de que eles não tinham mais seus momentos, um presente juntos. Havia só um passado lindo e expectativas de um futuro.
Lembrou-se, com saudades imensas, do dia em que o conhecera, quando eles eram estudantes universitários que só pensavam em viver o presente, e nem mesmo levavam seus cursos de publicidade e moda tão a sério.
A primeira festa do ano da famosa fraternidade Delta Kappa Epsilon já estava lotada de estudante enlouquecidos por álcool e drogas ilícitas, quando chegou com dois companheiros do time de basquete. Eles foram aplaudidos e cumprimentados por quase todos os estudantes por quem iam passando, como acontecia em todas as festas depois da vitória do time na temporada anterior, e alguns colegas mais entusiasmados chegaram a se oferecer para pegar bebidas para os três, que apenas agradeceram por ora. Enquanto duas meninas disputavam a atenção de Gerard Lee, e Sofie White pedia que Paul Savoy autografasse sua camiseta, não escutava Alicia Chace elogiar suas cestas de três pontos, pois estava com todos os seus sentidos ocupados, observando uma garota que cantava no karaokê.
A menina, de pé sobre a mesa de centro da sala de convivência, junto com um amigo que tinha um moicano azul estranhíssimo no alto da cabeça, usava um short curto e uma camiseta simples de alcinha, com um tipo de colete cheio de franjas por cima e um par de tênis All Star de cano alto nos pés. Ela não era afinada e nem tinha ritmo suficiente para cantar Wannabe, mas o movimento de seus quadris parecia convidar a se mover junto com ela, o que ele teve que se esforçar para não fazer, já que pegaria muito mal se alguém achasse que ele era chegado em Spice Girls.
achou excêntrico, quando percebeu que a mesma tinta azul do moicano do rapaz que dividia os vocais com a morena tinha sido usada para colorir as pontas dos cabelos dela, mas, por mais que ele tentasse se distrair com outras convidadas da festa, seus olhos sempre acabavam naquela que ele, mais tarde, descobriu ser . Nada de mais interessante havia ali para ele do que álcool e garotas, mas o mais curioso foi que ele cismou com uma das poucas que não se importavam com o fato de ele ter sido o maior pontuador do principal jogo do time queridinho da universidade em que estudavam. Ela fez um jogo duro danado para aceitar uma bebida e concordar em dar um passeio com ele no jardim, e fez com que ele realmente andasse muito e conversasse bastante, antes de, enfim, ocupar com ele um dos poucos espaços vagos fora do casarão que abrigava a DKE.
É claro que ela sabia quem ele era, antes daquela noite, e que o vira chegar no exato momento em que cantava com o namorado do meu melhor amigo, que insistira muito e a convencera com o golpe baixo de escolher as apimentadas de maior sucesso da década de noventa. No entanto, não era de se deixar impressionar por popularidade e só se interessou realmente em beijar , depois que ele mostrou que era bem mais que rostinho e corpo – muito – bonitos, e que tinha conteúdo.
Ele gostava de filosofia e se interessava por política, o que surpreendeu o lado ativista de . Jogava basquete, mas também amava artes marciais e, em razão delas, tinha adquirido certo conhecimento de cultura oriental, o que encantou a zen budista e praticante de yoga. Eles tinham muito em comum, na verdade, e foi isso que fez com que ela escrevesse seu número de celular na palma da mão do garoto, no final da festa, e aceitasse sair com ele, alguns dias depois.
Não só o orgasmo indescritível que teve no carro dele na madrugada do domingo seguinte, como os três anos de namoro, seguidos de seis de união das escovas de dente, tinham mostrado que a decisão dela tinha sido acertada, mas ela estava com medo – e por que não dizer apavorada mesmo? – de que, por não estarem mais tão conectados no presente, o prometido futuro estivesse derretendo, como os relógios de Dali.
Do you ever think that
We're just chasing our tails?
Like life is one big fast treadmill
And we pop what is prescribed
If it gets us first prize
But you know who I, who I think will win
Are the ones that love loving
Are the ones that take the time
Você já pensou que
Estamos perseguindo nossas próprias caudas?
Como a vida é grande, rápida e passageira
E fazemos o que é prescrito
Se isso nos der o primeiro prêmio
Mas você sabe quem eu, quem eu acho que vai ganhar
São aqueles que amam amar
São aqueles que aproveitam o momento
“Que bom que você gostou!” disse, aliviado, depois de ter mostrado a o material que tinha preparado para apresentar ao chefe no dia seguinte. “Eu precisava muito dividir isso com você, . Eu preciso muito que você entenda por que e a que eu me dedico tanto.”
“, amor, eu sei.” Ela deixou a mesa, levantando-se para pegar um copo d’água. “Eu entendo que você responde a uma demanda, a uma realidade. Eu sei que a sua carreira é competitiva, que o mundo capitalista é competitivo, e não to defendendo que você deve ignorar isso e viver como um sonhador, na contramão do sistema!” Riu. “Eu só preciso que você tenha também um tempo pra você mesmo e pra gente. Eu quero você comigo nos eventos de família. Eu quero ter um filho seu e saber que você vai participar da educação dele.”
“Eu quero muito um filho seu, . Filhos, aliás!” Respondeu, sorridente. “Mas é justamente por isso que eu preciso dessa conta nova...”
“Não começa, ! Pelo amor de Deus!” Suplicou, cansada demais até para se irritar. “Não usa filhos que nem nasceram como desculpa pra isso que você se tornou! Uma família precisa de amor, caramba! Seus filhos não vão ser felizes, se tiverem os melhores brinquedos, a melhor escola, as melhores roupas, mas não tiverem o seu carinho, a sua presença, os seus cuidados e, definitivamente, eu não to feliz nessa situação, e não vou ter um filho achando que ele pode fazer um milagre acontecer!”
“...”
“Eu também tenho um trabalho e to indo cuidar dele.” Ela avisou, pendurando a bolsa que estava sobre a bancada da cozinha em um dos ombros. “Só... pensa bem, . Eu não vou mais falar sobre isso, porque eu sinto que fico rodando em círculos e não saio do lugar, e isso é frustrante, então você devia pensar realmente bem nas escolhas que tá fazendo.” Pediu, com toda a calma do mundo, e concentrou toda a sua energia para rogar ao universo que ele ouvisse e lhe atendesse, ao menos uma vez, e que isso fizesse alguma diferença, enfim.
ficou pensativo, mais uma vez, quando ela não se importou em beijar seus lábios antes de sair de casa, como fazia antes. Estava mesmo se mostrando cansada daquela situação e ele, pela primeira vez, pensou verdadeiramente em não se candidatar a nenhuma outra conta, depois daquela para a qual já tinha todos os esboços prontos.
Be here with me now
'Cause our future is right now, right in front on you
Don't let the clock, the clock tell you what to do
Our future is right now, I'm in front of you
Baby don't blink and miss
Esteja aqui comigo, agora
Porque o nosso futuro é agora, está diante de você
Não deixe o relógio, o relógio te dizer o que fazer
Nosso futuro é agora, estou diante de você
Querido, não pisque e perca
“Merda!” colocou o telefone sobre a mesa, depois de ouvir esta ligação está sendo transferida para a caixa de mensagens, pela sexta ou sétima vez.
Tinha tentado ligar várias vezes para o celular de , depois de saber por sua secretária que ela tinha ligado, mas que não quisera deixar qualquer recado. O telefone estava desligado ou fora de área, e ela não atendeu, nem respondeu, qualquer umas das cinco mensagens que ele enviou por sms. Pior do que isso: no whatsapp, ela sequer visualizou nada que ele escreveu e isso começou a deixá-lo preocupado.
estava ocupada com trabalho e tinha deixado o celular desligado e bem longe, de propósito, depois de tentar falar com e saber que ele estava em mais uma daquelas suas inúmeras e intermináveis reuniões. Tinha prometido, mais ou menos um mês antes, que não reclamaria mais de seus furos com ela por causa de trabalho, e estava determinada a cumprir o que prometera. Não havia sido tão difícil, porque ele vinha se esforçando, mas se, logo naquele dia, ele tinha se envolvido com suas atividades e esquecido do compromisso que tinha, ia tornar a tarefa ainda mais fácil, pois a relação dos dois não sobreviveria nem mesmo por mais vinte e quatro horas. Estava cansada de dar murro em ponta de faca e seria a gota d’água.
Enquanto ela cuidava de alguns detalhes do primeiro desfile com peças exclusivamente suas, depois de ter sido promovida dentro da grife para a qual trabalhava havia cinco anos, ele chegava ao apartamento dos dois e encontrava seu convite para o evento sobre a cama.
“Merda!” Xingou de novo, ainda mais irritado do que ficara quando não conseguira localizá-la. Não era à toa que ela tinha tomado chá e sumiço, visto que, além de provavelmente bastante ocupada, devia estar extremamente decepcionada por ele não ter tocado no assunto e ter passado boa parte do dia emendando uma reunião com a outra.
“Koreen, oi. Eu preciso da sua ajuda!” Disse, quando, depois de muitos toques, a assistente dela finalmente atendeu o próprio celular. Ao menos alguém estava conectada com o mundo externo ao estúdio em que aconteceria o desfile.
conseguiu convencer a garota a ajudá-lo a por em prática um plano meio louco, apelando para o romantismo dela, e foi para o evento, correndo, mas não sem antes passar em um lugar especial e fazer uma comprinha estratégica. Lembrou-se, no caminho, de quando ele e eram apenas dois sonhadores, e, apesar de ter orgulho imenso de tudo que ambos tinham conquistado, viveu um momento de certa nostalgia.
estava na sala de aula, fazendo um desenho com base em um modelo vivo, quando o rapaz com que tinha saído na noite anterior começou a ligar sem parar. Seu celular ficava sem o som, o que a livrou, com certeza, de uma bronca e tanto da professora Germania e das reclamações dos colegas de classe, mas ela ficou desconcentrada, e acabou não um desenho com a qualidade desejada.
A madrugada com ele tinha sido divertida e quente, e ela queria mais das conversas, dos toques, dos beijos e do sexo fantástico, mas não achou que ele ligaria tão rápido. Na verdade, não se surpreenderia se ele sequer ligasse, pois já tinha feito sexo casual antes, sem esperar por um terceiro encontro como algumas amigas a aconselhavam a fazer, e vários caras não tinham mais dado mais sinal de vida depois disso. O mundo se dizia evoluído, mas ainda era machista o suficiente para que um homem achasse que não deveria ter um relacionamento com uma mulher que não tivesse falsos pudores e demonstrasse gostar de transar.
“Oi, .” Ela falou, quando ele atendeu depois de um só toque. A aula acabara e ela, finalmente, estava retornando a ligação ignorada por livre e espontânea pressão.
“! E aí?” Ele respondeu e, por algum motivo, ela teve certeza de que ele sorria, verdadeiramente entusiasmado com o contato.
“Tudo certo. E com você?”
“Tudo certo também. Tá na faculdade?”
“Uhum.”
Ele sabia muito bem onde ela estava, pois estava no corredor atrás dela. Não era nenhum perseguidor, mas não teria mais nenhuma aula naquele dia e ficara sabendo, na lanchonete, totalmente por acaso, que os alunos do segundo período de moda não teriam aula no terceiro tempo, porque uma das professoras tinha ido para a semana de moda de Nova York. Estava louco que ela cravasse os dentes no ombro dele, mais uma vez, para abafar um grito na hora do próprio gozo, que arranhasse de novo suas costas com as unhas longas e gemesse o apelido que, em seus lábios, tinha um som tão bom quanto o de qualquer um dos clássicos do rock que ele adorava.
“Me mostra um dos seus desenhos?” Pediu, quando estavam fazendo um lanche, entre uma transa e outra, no apartamento dele.
“Pra que? Vai me dizer que gosta de moda, agora?” Riu.
“Não, mas gosto de você, com certeza, então me interesso pelas suas coisas.” Deu de ombros.
“Tá.” Ela ergueu as sobrancelhas, desconfiada, mas concordou. Levantou-se do sofá e tirou um caderno da mochila, colocando-o no colo do rapaz.
“Eu não preciso entender de moda pra saber que eles são lindos.” Comentou ele.
“Obrigada! Eu já fiquei meio na dúvida, algumas vezes, sobre esse curso, mas, se eu tenho certeza de alguma coisa na vida, é de que eu quero desenhar. Arquitetura não é uma opção, por causa da matemática, mas eu pensei em artes plásticas ou design gráfico talvez.”
“Já eu adoro propaganda. Eu acho o curso chato, às vezes, e confesso que passei boa parte do tempo, até agora, em quadra, e outra grande nas festas, mas nunca pensei em fazer outra coisa.”
“Eu, na verdade, queria fazer os três, já que estamos em um momento confissão.” Riu. “Mas eu sou uma só, né? Não dá pra ter ambição de três.” Acrescentou.
tinha ambição de três, de quatro... de dez! E, agora, ele via que ela estava certa ao dizer aquilo. Ela tinha deixado de apenas sonhar e realizara muito, mas sempre com aquele equilíbrio que já tinha na época, e ele, por outro lado, tinha se perdido, achando que podia abraçar todas as oportunidades. Tinham ambos transformado sonhos em realidade, mas o fato de ele nunca estar satisfeito fazia com que estivessem menos felizes do que quando quase tudo era apenas perspectiva.
estava disposto a mudar. Ele agora entendia que precisava disso, ou perderia , e teria apenas seu trabalho, além de todo o tempo do mundo para se arrepender.
Ele ficou escondido nos bastidores, olhando cada modelo entrar na passarela com uma roupa mais linda que a outra, e sentindo um orgulho tão grande, que quase não conseguiu levar o plano adiante de tanta vontade de aparecer e dizer isso a ela. Segurou-se, contudo, até que ela se juntasse às meninas, adentrando a passarela na frente delas e recebendo os aplausos do público. Tomou o seu lugar atrás da última top model e chamou a atenção dos convidados, ao aparecer no meio das belas garotas com um buquê de rosas vermelhas.
percebeu a movimentação, os comentários, os convidados surpresos com alguma coisa. Olhou para trás, vendo o namorado sorrir e avançar na sua direção, e ficou paralisada, até que ele chegasse perto dela e lhe desse as flores, antes de segurar sua mão e sair da passarela com ela, voltando ao camarim.
“!” Ela sorriu amplamente, tocando o rosto dele. “Que bom que você tá aqui! Eu pensei que...”
“Que eu não viria. Eu sei. Me perdoa.” Ele também acariciou o rosto dela. “Eu te prometo que...”
“Você veio! Você assistiu ao desfile, participou... você tá aqui, agora! Por favor, vive esse momento comigo. Não estraga o momento, prometendo alguma coisa que talvez você não consiga cumprir.” Pediu e ele assentiu.
“Eu só quero que você saiba que eu me arrependo de cada momento que eu perdi e que eu vou tentar, de verdade, não perder outros.”
“E eu só quero curtir essa sensação de ter você aqui, num dos momentos mais importantes da minha vida, .” Ela beijou os lábios dele, delicadamente, segurando em sua nuca. “Me leva pra jantar?” Questionou, hesitante. “Ou você tem alguma coisa pra fazer que...”
“No restaurante que você quiser.” Respondeu, seguro.
“Tem certeza?” Perguntou, com ar brincalhão.
“É claro que eu preferia que não fosse num japonês, mas hoje é a sua noite.”
“Tudo bem. Eu tava pensando naquele tailandês que inaugurou no mês passado. A sua irmã me disse que ele é incrível!”
“E, por falar em minha irmã, esqueceu que ela tá aí, junto a sua irmã, e com seus pais e os meus? Acho que o jantar a dois vai ter que ser outro dia.” Lamentou, e ela, apesar de não ter reclamado, lastimou ainda mais, com receio de não ter a sorte de ver largar o trabalho, antes da hora do jantar, em uma outra noite. Ele, no entanto, a surpreendeu, não só levando-a ao tailandês na noite seguinte, como jantando com ela durante cada noite daquela semana.
É claro que voltou a deixar de ir a alguns eventos e se atrasou para outros, porque velhos hábitos não são fáceis de mudar, mas ele não pegou mais nenhuma conta nova, enquanto não entregou alguma que já estivesse sob sua responsabilidade. No ano seguinte, pegou menos contas que naquele, e, no posterior, fundou sua própria agência com um amigo, para poder fazer seus próprios e trabalhar em casa.
teve um casal de gêmeos, logo depois do aniversário de doze anos de namoro dos dois, e a pediu em casamento, quando Joe e Zoe completaram um aninho.
Como todas as pessoas, eles viveram momentos felizes e tristes, mas o importante foi que eles viveram esses momentos, e que viveram cada um deles juntos.
Fim
Nota da autora: Obrigada por ler!! Espero que tenha gostado. Que tal me dizer, hum? ;)
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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