Capítulo Único
Como um mito de muitos anos atrás contava: dizem que algumas almas escolhidas, foram divididas em duas partes e dispersas pelo mundo para que se encontrassem mais tarde, mas não antes sem passar por uma jornada pessoal. Acredite você ou não, suas almas habitam diversos corpos pois precisavam cumprir missões e chegar em seu objetivo final, compartilhar entre si todo o aprendizado que tiveram durante séculos e séculos para serem melhores um para o outro.
Mas não se engane, o processo é doloroso, talvez um pouco demais às vezes.
A falta e o sentimento de angústia por aquela parte que você sabe e gostaria que estivesse por perto apenas cresce durante os anos. Mas ainda sim, é uma jornada válida, uma jornada que mostra que você não precisa de alguém que te complete, mas sim, complete.
A história também contava que essas almas separadas e destinadas ao reencontro, traziam algo que fazia com que elas se reconhecessem. Óbvio, que de toda a população no mundo, nem todos nasciam com o mesmo destino, havia pessoas normais e pessoas com suas marcas.
tinha um pequeno sol em seu antebraço.
A garotinha cresceu ouvindo sobre a história de seus avós e o quanto eles, mesmo imperfeitos, eram perfeitos um para o outro, já seus pais, nem tanto. era destinada a nascer, mesmo que sua mãe e seu pai tivessem separado ainda pequena, ela cresceu sob o crescente amor.
Tinha tudo que precisava com a mãe, os avós e amigos que a cercavam. Mas uma vozinha ainda falava de forma suave dentro dela.
“Do que você tanto sente falta que sequer consegue se lembrar?”
Forçou por anos sua mente para entender o que lhe faltava, supriu algumas sensações com coisas que lhe sintonizavam, como a música ou a escrita, aquilo acalmava seu coração inquieto, então um dia, desistiu.
“Sinto muito, ele está melhor que todos nós agora” foi a frase que a desmotivou que, independente de outras situações que já havia passado em sua vida - como a separação dos pais ou até mesmo coisas isoladas como manter conexão com as pessoas -, ela não sabia como superaria aquela primeira perda sentimental.
O outono veio e levou junto de seu avô, uma parte de seu coração também.
Aquela não foi sua última perda, mas ainda sim sobreviveu, mesmo que com um coração que cada noite crescia mais frio e enclausurado.
“Eu queria me sentir compreendida” dizia sempre sem entender, tinha uma família incrivelmente compreensiva e presente, mas ainda assim, sentia a necessidade de alguém para ouvi-la claramente.
Ele não era tão diferente assim.
cresceu sob o amor de uma família unida, mas ainda assim, mesmo que nada lhe faltasse visivelmente, dentro dele havia um espaço inexplicável.
Ele tinha uma forma de preencher aquilo, ele escrevia canções tarde da noite desde que se entendia por gente, já que problemas de sono sempre foram algo recorrente. Viveu por várias partes do mundo, Califórnia foi seu lugar por um tempo quase indeterminado, mas ainda assim, não sentia que tinha um lar aonde pertencia, que não havia um lar para si desde que decidiu que sua vida seria feita da música, sua maior paixão.
Pelo menos era isso que ele achava, já que o sentimento de adrenalina por estar sempre na estrada, cantando para milhares de pessoas era algo insubstituível e entorpecia muitos outros sentimentos indesejados, ou melhor, desconhecidos.
tinha uma meia lua em seu antebraço.
Todos os seres humanos guardam dentro de si algo que possivelmente tenham que trabalhar durante todos os anos de vida, afinal, a aprendizagem na vida humana nunca termina. Todos os dias aprendemos que existem inúmeras situações, pessoas, formas de vivência e convivência entre outras coisas diferentes por aí, além de que sempre topamos com pessoas por nossas vidas, aquelas que nos marcam com memórias, lembranças, amor, dor e diversos sentimentos que persistem em nós por muito tempo.
tinha sua insegurança um pouco mais incompreensível do que os outros, em diversas ocasiões se viu em ocasiões em que cada vez mais se focava no trabalho e não deixava absolutamente nada de espaço para um pouco de amor, porque ele simplesmente não tinha confiança o suficiente para experimentar dar um amor de verdade a alguém. Não entenda mal, ele tentou, mas todos os cenários diferentes corriam por sua mente e quando algo poderia estar mais profundo do que parecia, não terminavam bem porque no fundo, ele sabia que o amor para ele seria como sintonizar um rádio antigo, onde você mexeria um botão até encontrar algum tipo de sinal e, de repente, vestígios surgiriam, de pouco em pouco você escutaria sua música tomando forma e finalmente ao fim, poderia escutá-la totalmente bem, aproveitando o sentimento que ela traz.
E então, ele pacientemente, apenas esperou para que um dia se sentisse confortável em compartilhar suas inseguranças com alguém que as entendesse.
O mundo não era normal antes, não é normal agora e nem nunca vai ser, mas você imagina um mundo onde almas gêmeas talvez não saibam o que elas significam umas para as outras?
Muitas pessoas desistem nesse longo processo de despertar, muitas conhecem as suas sem querer e a maioria segue procurando.
Foi a mesma coisa com e , que se encontraram pela primeira vez na estação de trem Snow Hill em um dia de verão quase irreconhecível para as pessoas daquela parte da Europa.
— Eu já disse James, nos vamos a gravadora e assim que sairmos de lá, comemoramos nosso novo rumo. – , que andava todo arrumado por ter tido um ensaio para o casamento de sua irmã mais cedo, naquele dia, afrouxava a gravata de tanto que o calor lhe atingia, mas ele não culpava o clima, era ótimo um dia de sol quando se teve um mês inteiro de puros dias frios. O rapaz tinha seu carro, mas ainda assim, naquele dia, por alguma razão na qual nunca sequer pensaria em questionar, havia decidido que um passeio de metrô seria algo ideal — Não se preocupe, você pode levá-la, mas por favor, diga a ela que não preciso dela tentando me apresentar ninguém, eu simplesmente quero me divertir.
A verdade é que todos seus amigos, inclusive sua família, apareciam constantemente com pessoas diferentes ou ocasiões diferentes, para que ele conhecesse alguém.
Nunca se sentiu conectado de forma definitiva.
não estava longe disso e muito menos dele.
Naquele mesmo dia, que o rapaz havia decidido ser um ótimo dia para enfrentar o metro, , a garota de cabelos negros com mexas púrpuras em seu cabelo, havia chegado na cidade e curiosamente foi obrigada por sua amiga que vivia próximo e alegava que aquela era a forma mais rápida de chegar ao seu destino. Táxis com certeza não eram um forte da cidade.
— É óbvio que não — disse olhando aos redores, pensando a quanto tempo não passava por aquele lugar que costumava ser um de seus favoritos quando criança — Estou esperando pelo trem e antes que você diga algo, eu estava a fim de um passeio, nada demais.
A meia lua dele e o sol dela pareceram brilhar assim que os pés de pisaram na plataforma em que deveriam estar.
Acreditava-se que as poucas pessoas que ainda tinham suas marcas e viviam como pessoas normais no mundo, por simplesmente não saberem de suas histórias, reluziam assim que estivessem próximas.
Não foi diferente com eles.
Ambos não só voaram os olhos em busca de algo pelo local no mesmo momento, como também posaram o olhar um no outro, de longe, em plataformas opostas e se viram pela primeira vez.
ficou admirado pela figura que o intrigou de primeira, mesmo que não a pudesse ver bem por contas dos trens que passavam em suas frentes, ficou admirado com a garota de cabelos negros cujo fios púrpuras pareciam brilhar de longe conforme o vento batia.
Ambos pensaram a mesma coisa naquele momento, se perguntaram estranhamente se já haviam se visto antes. Ele sabia que ela era familiar, mas que se lembraria se tivesse visto aquelas mechas púrpuras alguma vez em sua vida, e ela o mesmo, apesar de pensar que poderia ser coisa de sua mente, se questionou o mesmo pois tinha quase certeza que o conhecia de algum lugar.
Mas aquilo era comum naquele estágio, suas almas ainda não estavam preparadas para um encontro nada previsto na história desenhada pelo destino. pegou seu caminho para o caminho contrário dele e suas reações se foram, mas, ainda sim, pensamentos ficaram.
Seus rostos finalmente estavam gravados em suas mentes.
O segundo encontro aconteceu alguns anos depois da estação.
— Você definitivamente não quer que eu vá nessa festa, . - mais falava isso para si mesma do que para a amiga a sua frente que reclamava sobre a cor de batom que havia escolhido para aquele dia.
— Não, senhora, não tente me convencer de não ir. — A amiga respondeu firme, deixando o batom que segurava sob a mesa — Aliás, por que você ainda faz vestida assim?
— Estou esperando que você desista de me arrastar para uma festa onde certamente eu não quero estar por inúmeros motivos diferentes. — A verdade era que era apenas um pouco mais antissocial do que gostaria, ela conseguia interagir com as pessoas tranquilamente, mas quando podia evitar, era a primeira coisa que fazia.
— você não precisa mais se preocupar com ele. — tocou no assunto que não era tão desejado no momento e aquilo fez com que fechasse a cara deixando um longo suspiro escapar — Olha, ele te magoou, sem dúvidas, mas eu já te disse que você não deveria sentir tanto assim, ele não merece isso de você, não merece sua tristeza e sequer sua raiva.
— Tudo bem! — suspirou e disse dando-se por vencida, aquele não era um bom dia para discordar da amiga, pois de qualquer forma, com qualquer argumento, ela ganharia.
A garota sentia falta da Califórnia, do clima quente e um pouco árido, das pessoas que conviveu por boa parte de sua vida, mas ainda assim se sentia mais parte dali, daquele lugar, daquela cidade, daquele país do que de qualquer outro lugar que já esteve.
Ao chegar na festa, se sentiu totalmente o contrário, ela não era de frequentar pubs lotados e muito menos festas em pubs, apesar de gostar muito desde que completou a maioridade, de entrar, sentar-se em um desses lugares onde o bar ficava longe de uma possível plateia, para pedir água com gás - porque nesse mundo prefere ser cautelosa, que é o que lhe ensinaram desde sempre - enquanto vê a banda ao vivo daquele dia. Normalmente aquilo não a incomodava já que era basicamente um hábito. Porém, festas, pessoas aleatórias comemorando sabe-se lá o que, não era muito o que ela gostava.
Era complicado.
de certa forma, por mais que gostava do conforto do seu flat no centro da cidade, não dispensava “perder” seu tempo com os amigos de banda, que eram praticamente sua família. Além de que seus pais gerenciavam juntos um bar, este que ele deu de presente para eles em seu trigésimo segundo aniversário juntos.
— Eu estou chegando! — O rapaz dizia em seu telefone enquanto ria de algo engraçado que o amigo gritava do outro lado da linha — Sim, claro que sim! — ele riu, aproveitou e respirou brevemente a brisa leve que passou por ele assim que virou a esquina da rua em que o pub se encontrava — Te vejo em dois minutos.
Desligou a ligação e guardou o celular de volta em seu bolso, buscando suas chaves para se distrair enquanto seguia seu caminho. O dia havia sido algo bonito e inexplicável, um céu azul com nuvens brancas e pomposas o cercavam, mas ainda assim, o sol brilhava como nunca.
A última vez que ele se lembrava de um dia assim, havia sido anos atrás, o mesmo dia em que mudou de gravadora junto com sua banda, mas isso não significava que necessariamente esse era o motivo dele se lembrar daquele dia.
— Será que a gente não pode dar meia volta, assistir um filme, comer um lanche gigante e depois vários chocolates ou talvez sorvete? — pensou na proposta por alguns segundos — É, acho que sorvete resolve também.
— Não! — respondeu séria, voltando a andar já que havia impedido que continuasse — E não de novo!
— Mas eu nem disse nada — respondeu quase ofendida.
— Mas pensou, isso já é suficiente! — respondeu rindo — Vamos nos atrasar e você ouviu-a pelo telefone. — disse se referindo a amiga que estava dando a festa aquele dia — Se nos atrasarmos, pagamos três rodadas de bebidas que ela quiser e você... — apontou para a amiga que suspirava a esse ponto — Sequer bebe em festas, vai mesmo querer gastar dinheiro à toa?
— Droga! — olhou para a amiga dando risada — Você realmente sabe como me convencer de fazer coisas que eu não quero.
— É, eu sei que a sua alma mão de vaca fala mais alta nesse tipo de situação. — respondeu rindo, sabia mesmo que a amiga facilmente levada por aquele tipo de argumento — Mas pensa assim... — colocou as mãos sobre os ombros da amiga com cuidado — Pelo menos isso só acontece uma vez por mês.
por segundos agradeceu por nunca suspeitar de suas longas caminhadas na parte da tarde com direito a um café no final dela enquanto aproveita a “golden hour” do terraço do apartamento ou das vezes em que a amiga não voltava para casa, onde aproveitava e dava suas escapadas para desenhar esboços aleatórios no pub perto de casa. A garota era artista, em tempos que não frequentava a faculdade não tinha um tipo de programação certo, por isso a amiga sempre pensou que precisava de um ar, de que ela precisava ao menos sair e aproveitar, esquecer que coisas preocupam sua cabeça.
Mal sabia ela que na realidade , aproveitava seu tempo da sua maneira.
— Olha isso, John! — as duas pararam assim que ouviram a voz do segurança que passou por elas surgiu — em um sábado à noite no Hopkins é novidade.
— Quantas vezes mesmo eu te implorei para fingir que não me conhecia se eu viesse aqui com alguém, Bee? — a garota disse colocando as mãos sobre a testa, sabia que teria que explicar para a amiga mais tarde.
— Vocês se conhecem? - perguntou confusa.
— Longa história. — que lançou um olhar fuzilado o homem que riu - Eu explico depois, vamos!
O staff do local conhecia ela como ninguém, já fazia um tempo que a rotina de não mudava e por isso era uma surpresa ela aparecer pelo local em um sábado à noite onde provavelmente estaria lotado pela festa, pessoas recorrentes e que foram aproveitar a banda nova que tocaria ali aquela noite.
— O de sempre, ? — o bartender perguntou rindo assim que elas passaram por ele.
— Você bebe? — perguntou indignada.
— Ah, pelo amor de Deus, John! — olhou para o rapaz em desespero e ele apenas riu fazendo com que ela olhasse para a amiga mais uma vez — É claro que não, o meu “de sempre” é água com gás, ele só está provocando, vamos, eu explico mais tarde.
A música em particular, naquela noite, estava alta e as luzes haviam mudado de um vermelho e amarelo para roxo e azul por conta do tema da noite. Passar por meio daquelas pessoas com certeza não era legal, mesmo que não estivessem suadas ou atracados uns aos outros como normalmente as pessoas ficavam nessa parte do pub, onde era aberto uma pista de dança não muito grande, elas ainda estavam em grande maioria.
— Não estamos atrasadas! — disse alto assim que se aproximaram em uma grande mesa ao fundo do local onde todos, ou pelo menos a maioria das pessoas que conheciam estavam — Não é hoje que você vai ver a senhorita “não abre a mão para nada” te pagando três rodadas de tequila, .
As garotas se sentiam confortáveis com as pessoas que estavam ali, a maioria eram colegas da faculdade ou conhecidos como do trabalho de na editora ou dela mesma e de do estúdio e gravadora em que trabalhavam.
— Ela estava contando com esse um minuto de atraso, mas , como sempre, pontual! — um dos amigos disse dando risada, o que também puxou a risada dos outros ali presente.
— Feliz aniversário! — e disseram juntas mostrando as sacolinhas de presente para a amiga que as abraçou com força.
— Me diz que é aquele bracelete que eu te mostrei na semana passada, !? — disse entre o abraço — Não importa, o que for, eu vou amar. — disse se endireitando — Mas se for aquele bracelete eu vou te amar para o resto da minha vida.
— Você já não me ama esse tanto? — brincou — Você acha mesmo que eu não sabia que me levar às três da tarde em um shopping, com a desculpa de querer me comprar um sorvete, era uma dica para o que você queria de presente?
— Ela fez isso com você também? — perguntou — Comigo não foi sorvete, foi Bubble Tea e o presente foi uma blusa que ela fingiu só ter visto naquele dia, mas como eu não sou boba, já sabia que era uma desculpa.
A noite por apenas ter começado, estava totalmente divertida, colocou em sua cabeça de se lembrar de fazer isso mais vezes, gostava de poder comer batatas fritas com bacon e cheddar enquanto ria de coisas estúpidas que e contavam aos amigos e, principalmente, nunca riu tanto quanto naquela noite com ambas as amigas já um pouco alteradas e cantando no palco, já que John passou pela mesa avisando que aquela noite não haveria banda, que seria a noite do Karaokê.
— Desde quando existe esse tipo noite por aqui? — pergunta para John enquanto se aproxima e se escora no bar à sua frente vendo as amigas cantando por todos os lados, rindo com as mesmas errando a letra de três em três versos.
— Desde que o patrão demitiu a última banda. — Ele disse rindo.
John, então, tirou um copo do balcão e o encheu com um líquido rosado, colocando uma pequena flor em cima do copo.
— Te mandaram isso. — ele disse, entregando o copo, deixando-a com uma cara confusa — Não se preocupa, sem álcool para você, mesa cinco. — ele indicou com a cabeça.
A mesa cheia de pessoas não foi de grande ajuda assim e John se recusou dizer de quem especificamente havia vindo a bebida porque sabia que ela se irritaria. Foi quando ela o avistou se aproximando da mesa enquanto fechava o zíper da calça, trazendo braços abertos em direção aos amigos e um sorriso sorrateiro na boca.
O bartender conhecia cada um naquela mesa e conhecia a garota muito bem também. Sabia que mesmo que a bebida não viesse de quem ela provavelmente achou que havia vindo desde que ela avistou a figura pelo local, então era melhor que ela apenas não se envolvesse.
— Só pode ser brincadeira! — ela disse soltando a bebida na bancada — Acho que minha noite acabou.
— Como seu amigo e intrometido de plantão, devo te dizer que você não deveria ficar tão afetada por ele assim, não quando ele sequer merece qualquer tipo de sentimento. — John disse.
— Eu não estou. — ela mentiu — Mas ainda assim, a presença dele incomoda, toda vez que eu vejo ele, me lembro do tanto de tempo que ele me fez perder nessa vida.
De longe, viu suas amigas acenarem para ela, chamando a mesma para que subisse ao palco ou fosse até elas e deu graças que não notaram a presença dele ali.
— Se serve de consolo, para mim nenhum relacionamento que deu errado é perda de tempo, apenas te mostra que aquela pessoa não é quem deveria ser para você e, melhor ainda, te faz perceber que tipo de pessoa você quer bem longe. — Triz, uma das ajudantes do bar disse se aproximando — Eu acho que no momento certo, essa pessoinha — ela disse apontando para a marca de sol no braço de — vai aparecer em um passe de mágica.
sentiu sua marca queimar levemente, assim que a mais velha se retirou. Já havia sentido aquela sensação estranha antes tentou-se lembrar de todas as vezes, mas apenas conseguia descrever duas especificamente e todas elas envolviam a ruiva que conheceu desde o dia em que pisou naquela cidade.
Triz havia sido a primeira pessoa com quem conversou quando decidiu que tomaria um táxi até sua casa, mesmo depois de tê-la convencido de tomar o metrô por ser mais fácil e sem trânsito algum naquela hora, a ruiva a convenceu a todo custo de que o metrô era a forma mais rápida de chegar a algum lugar. Todos os tipos de motivos possíveis ela lhe deu naquele dia e depois desapareceu sem sequer se despedir. Curiosamente, ela a reencontrou no pub na primeira noite em que decidiu entrar e se sentar para comer algo, desaparecendo por algum tempo logo depois disso.
— Eu acho que vou para casa. — disse pensativa, afinal aquelas coisas martelavam em sua cabeça sem ela entender o porquê.
— Não! — a mulher disse alto e quase deixando com que o copo que enxugava no momento escorregasse e quebrasse — Quer dizer, não! fique mais um pouco, aproveite seus amigos.
— Minha cabeça está doendo — ela responde, confusa pela reação dela e de John que olhava de forma indecifrável a Triz.
— Vá descansar, ! — ele disse antes que a ruiva dissesse qualquer coisa que pudesse assustar a garota — Vir para cá em um sábado à noite já é um grande avanço na sua vida social, deve ter te cansado.
Ela então se despediu de ambos, que a olharam se retirar com lentidão.
— Ainda não! — ouviu mesmo que bem baixo, Triz comentar enquanto olhava com seu canto de olho para vê-la cutucando o outro ao seu lado — Faltam apenas alguns minutos, se ela sair desse lugar, se ela sair da linha temporal onde eles se encontram aqui como da última vez na estação — ela suspirou — se não for agora, demorará mais três anos para que outra oportunidade surja.
Uma coisa não contada sobre o mito anterior, em uma parte, talvez arrancada dos livros em que esses tipos de histórias eram contadas, dizia que, se o processo de cura interna de ambas as partes da alma durante sua jornada for algo muito difícil e doloroso, algo os guiaria além do destino, intuição e reconhecimento.
Triz então, indignada com a situação, saiu de trás do balcão e caminhou com um copo de líquido roxo em sua mão e passando por com certa pressa, que desinteressada, a observou se aproximando da mesa número cinco, por onde passaria. A ruiva não perdeu tempo, assim que se aproximou distraída com seu celular, Triz tropeçou em seus próprios pés, derrubando em uma pessoa em questão o líquido roxo, .
Ele se levantou impulsivamente por se assustar com o líquido gelado que correu por sua blusa e com um pouco de força sua cadeira foi para trás fazendo com que ele desse de frente com que estava bem próxima da mesa assim que se levantou.
— Ai! — os dois reclamaram ao mesmo tempo, ele não mais pela bebida que havia sido derrubada, mas sim, pelo mesmo motivo que ela.
Assim que se chocaram, de frente um para o outro, segurou para que ela não caísse com o impacto. Suas mãos foram diretamente para a cintura da garota e, também para o pulso, segurando-a com delicadeza. Mas, assim que sua mão entrou em contato com sua pele, uma forte onda de eletricidade pareceu correr por eles, causando um choque leve, mas ainda assim, algo um pouco doloroso.
Se afastaram imediatamente.
— Tudo bem? — ele pergunta assim que se afastaram.
Seus olhos não conseguiam deixar os dela e por alguma razão, ela se sentia da mesma forma.
— Eu acho que — ela aponta para a camisa molhada dele — eu que deveria perguntar isso.
A sintonia parecia palpável naquele momento.
nunca tinha explicado a ninguém sua teoria principal sobre o amor, mas, nascer com algum tipo de missão ou jornada, pesou em sua mente. Desde a primeira vez em que decidiu gostar de alguém por conta própria, percebeu que talvez o amor fosse como a melodia perfeita em notas que sequer deveriam ser combinadas.
Ela pensava que, no mundo, mesmo que nem todos nascessem com uma marca visível como a dela, de sol, eles nasciam com vocações. pensava que dentro de nós uma sintonia como a de um rádio antigo pudesse acontecer quando menos esperamos. E que, por fim, no final, tudo que passamos para chegar até aquele momento, o momento em que você sintoniza na rádio certa, iria valer a pena e não importa que fosse uma vocação, um hobby ou um amor que provocaria isso dentro da pessoa, tudo era válido se te fazia feliz à primeira vista.
Com a pura consciência de que nada é perfeito, mas nada deve nos fazer sentirmos imperfeitos.
— ? — uma voz atrapalhou o momento que e ela estavam tendo — Meu Deus, é você mesmo.
— Vocês se conhecem? — perguntou fora de seus pensamentos.
— Não!
— Sim!
Responderam ao mesmo tempo.
— Nada de especial, estudamos na mesma universidade. — ela comentou, sem sequer olhar para o outro.
— Você quer, sei lá, dar uma volta? — perguntou impulsivamente, sequer pensou duas vezes assim que a pergunta brotou em sua mente.
— Quero! — ela agiu da mesma forma e isso sequer fazia parte de sua personalidade — Mas antes, posso fazer uma pergunta?
A cena era algo tão estranho e fora do comum que todos da mesa assistiam intrigados. Nunca viram agir daquela forma e não queriam interromper então se mantiveram calados.
— Claro. — ele respondeu.
— Já nós conhecemos antes? — ela perguntou.
— Eu não tenho certeza, — ele respondeu confuso — mas eu tenho a mesma sensação.
Não era tão tarde da noite quando se “conheceram”, mas com certeza já seria cedo quando se despedissem.
— Ok, filme favorito? — Ele perguntou.
Caminhavam pelas ruas da cidade que naquela época do ano permaneciam agitadas a qualquer hora.
— Only You. — ele a olhou rindo — É, eu sei que é clichê e estranho, mas se eu dissesse que é Psicose também seria, então eu prefiro dizer aquele que demonstra minha personalidade romântica quase imperceptível.
— Com certeza se fosse outra situação você diria Psicose. — ele respondeu rindo enquanto esticava sua mão, ajudando-a subir em um dos degraus altos que tiveram que subir.
— Sem dúvidas! — ela riu — Mas parece que eu te conheço há muito tempo, então foi um pouco natural dizer.
— Eu senti a mesma coisa quando falava das minhas músicas favoritas lá trás. — ele disse se referindo ao assunto anterior àquele.
— Estranho! — ela comentou sem graça.
— Nem me fala! — ele sorriu, o que acabou demonstrando o mesmo sentimento.
A noite seguiu e, com ela, assuntos e mais assuntos apareceram, não parecia que a noite seria tão curta.
— Já vai amanhecer! — ele disse olhando seu relógio e, então, uma ideia surgiu em sua mente — Você quer ver algo legal? Não é longe daqui, mas, precisamos correr se quisermos chegar a tempo.
— Claro! — ela respondeu e ele a pegou pelo braço levemente, para que fossem rápidos.
Correram por toda a avenida principal da cidade até chegarem a uma pequena colina. A vista era linda e nada longe da cidade em si, ainda era possível ver algumas pessoas saindo de pubs, festas, indo trabalhar àquela hora, mesmo de longe.
— Fica melhor assim. — ele disse, pegando um de seus fones de ouvido e entregando a ela.
— Você tinha razão, é bem legal aqui! — Ela disse analisando o lugar, assim que pegou o fone e colocou em seu ouvido — Nunca tinha vindo.
— Eu venho para compor. — ele sorriu olhando para a escuridão à sua frente que aos poucos se desvanecia — Normalmente minha companhia é o violão, mas, eu acho que encontrei uma que eu gosto mais.
Ela sorriu com sua conclusão repentina e olhou para frente onde o céu já dava indícios de que o sol sairia em breve.
— O sol já vai nascer. — ela disse acariciando seu braço, onde a marca do sol ficava.
— De qual dos dois você gosta mais? — ele perguntou e ela o olhou confusa — Você gosta mais da lua ou do sol?
— Ah, da lua! — ela sorriu olhando para ele — E você?
— Do sol. — ele disse de forma tranquila.
Demorou apenas alguns segundos para que o sol nascesse de forma alaranjada, a cor que se espalhava pelo azul do céu que também aparecia aos poucos fazendo com que a lua e as estrelas se fossem, assim como .
— Droga! — ela exclamou olhando as notificações em seu celular quando o pegou para tirar uma foto daquele momento.
— O que foi? — ele perguntou preocupado — Aconteceu alguma coisa.
— Eu preciso ir! — ela respondeu apressadamente, se levantando em seguida — É meu trabalho, surgiu algo que eu preciso fazer com urgência, nos falamos depois.
A garota então partiu, andou com tanta pressa que sequer deu espaço para que se despedisse propriamente ou lhe oferecesse uma carona já que seu carro não estava tão longe dali.
— Nós falamos depois. — ele disse baixo já que ela não escutaria por já estar longe — Espero...
Porém, para se falarem mais tarde, primeiro deveriam ter pego algum tipo de contato um do outro e isso não aconteceu. só percebeu quando já estava em seu flat, deitado em seu sofá e pensando que, a qualquer momento, ela poderia ligar ou mandar uma mensagem. Seus olhos se arregalaram quando percebeu que aquilo não aconteceria já que ela não tinha seu número e muito menos ele o dela.
Por semanas, talvez meses, ambas as partes buscaram por si outra vez, afinal internet é algo realmente útil hoje em dia, mas, ainda assim, como a própria Triz havia explicado na noite em que finalmente se conheceram, se um dos dois saísse do curso temporal, uma nova oportunidade apenas viria dali três anos. a buscou por um ano completo por ela, mas nunca a encontrou já que a mesma não usava as redes sociais com frequência e ela, por mais estranho que parecesse, sequer havia perguntado seu nome aquela noite.
Talvez aquele realmente não fosse o momento, talvez o universo tivesse visto que mesmo que ambos se complementassem, ainda havia muito no que trabalhar em si mesmo, de ambas as partes. Quem sabe seus medos, personalidades e gostos ainda tivessem muitos aspectos a mudar e acrescentar. Talvez aquele momento tenha sido apenas um gostinho do sentimento que ambos buscaram por durante tanto tempo, para que pudessem lidar melhor e preservar não apenas a si mesmos, mas também, um ao outro no futuro.
E então, três anos se passaram.
— Estou a dois minutos da estação. — ela disse para a pessoa no outro lado da linha — Tem um engarrafamento meio estranho por aqui, caso eu atrase, você já sabe o motivo.
Três anos à frente e, mesmo não parecendo tanto tempo assim, muitas coisas haviam mudado.
As linhas do tempo voltaram a se alinhar quando naquela manhã de domingo, decidiu que, ao invés de pegar um metrô, como costumava fazer, ela iria de táxi a seu destino. O local ficava em um lugar de caminho um pouco mais largo então decidiu que não faria o trajeto que já estava acostumada. Ela desceu de seu apartamento e tomou o táxi, mas apenas chegou até a avenida principal.
O mesmo com que naquela manhã de domingo havia se convencido de que uma caminhada com Jessie, sua cachorrinha, faria bem, ele queria aproveitar o máximo de tempo que teria na cidade, porque demoraria a voltar da próxima viagem que faria. Então saiu de seu apartamento, desceu três quarteirões e foi surpreendido por uma grande confusão de carros no final da rua.
O engarrafamento que acontecia, era por conta de um acidente que havia acontecido, nada grave, mas ainda sim com cuidados necessários de trânsito. A avenida não era pequena, mas ainda sim passavam poucos carros pelo espaço liberado e organizado pela polícia de trânsito que havia se alojado ali para cuidar do caso. Por alguma razão teve o pensamento de que talvez caminhar um pouco e pegar o metrô seria melhor do que ficar sentada esperando com que a vez de seu táxi na fila chegasse. Ela então pagou e desceu com a pequena mala de criança que carregava pela cidade naquele dia e seguiu caminhando rua a frente e no mesmo instante em que ela chegava à esquina, Jessie e também apareciam, curiosos sobre o que estava acontecendo ali no local.
— É Jessie, — ele se agachou e a acariciou — parece que foi um acidente, melhor voltarmos para casa por agora, a cidade parece meio caótica para um domingo de manhã.
se levantou ainda acariciando a cachorra, sem prestar atenção em nada a seu redor a não ser nela e esse foi o motivo de seu terceiro encontro com . A garota tentava ligar para o número que ela havia ligado pouco antes e não prestou atenção à sua frente, dando um belo encontrão com as costas de .
Quase igual a primeira vez que realmente se conversaram, em seu segundo encontro.
— Meu Deus, você está bem? — ele disse se virando imediatamente em direção a ela que ria com a mão em sua testa, sem olhá-lo.
— Sim! — ela disse rindo — Eu preciso prestar atenção quando estou andando, me desculpe por isso.
Sua mão foi em direção à bolsa infantil que trazia para arrumá-la nos ombros outra vez e seus olhos subiram para o rapaz a sua frente que parecia paralisado e, de fato, ele estava.
Porque ele a havia encontrado, mesmo depois de tanto esforço e nenhum resultado, um domingo de manhã simples, antes de uma grande viagem havia trazido ela a ele.
E então ele compreendeu. Eles se encontrariam, conheceriam e reconheceriam quando tinha que ser o momento certo.
— Você! — ela disse sorrindo — Parece que esbarrar um no outro é a nossa “coisa” especial.
— Eu te procurei — ele disse impulsivamente e ela sorriu mais largo — Como estão as coisas?
Ele perguntou curioso e desapontado, esperando que a resposta fosse algo diferente do que ele realmente desejava ouvir.
— Tudo bem! — ela respondeu — Na realidade estou atrasada para um chá de bebê.
— Não vou te segurar por mais tempo, seu filho ou filha, não sei — ele disse confuso — deve estar esperando. — sorriu baixo.
— Filho? — ela perguntou e olhou para os ombros no mesmo momento que ele — Ah, isso? — ela riu fraco — isso, na realidade essa bolsa é do bebê de uma amiga, aliás, do primeiro filho dela, ela esqueceu em casa e me pediu para levar.
pareceu aliviado com a notícia e percebeu, rindo da expressão que surgiu em seu rosto.
— Você parece aliviado com a notícia. — ela comentou rindo.
— Digamos que isso me dá esperanças em possivelmente poder te levar em um encontro de verdade no futuro? — ele respondeu em forma de pergunta, meio incerto se deveria ser tão direto.
— Você sabe que não tenho filhos, mas e se eu tiver um namorado ou melhor — ela exaltou — e se eu tiver um marido?
— Você tem um marido? — ele arqueou as sobrancelhas um pouco tenso com a resposta e ela apenas balançou a cabeça negativamente ainda dando risada — Você tem um namorado?
— Eu tenho cara de que tenho um namorado? — ela perguntou brincando e ele a olhou intrigado — Brincadeira! — ela disse antes que ele pudesse responder — Não, eu não tenho um namorado.
— Então eu tenho esperanças. — ele respondeu suspirando.
— Talvez, — riu — você está ocupado agora? — ele perguntou acariciando Jessie.
— Para você? Nunca. — respondeu sorrindo.
— Quer ir comer alguns docinhos de festa de criança comigo, como segundo encontro? — ela perguntou.
— Deixamos Jessie em casa, eu me troco em dois minutos e podemos ir. — ele disse apressado, segurando a mão da garota de forma delicada para que ela o seguisse.
e definitivamente formavam um casal feito no céu e construídos na terra. Suas almas eram a mesma, mas ainda sim, suas personalidades, gostos e modo de ser eram diferentes. O suficiente para que complementassem um ao outro de forma absurda e, o melhor, para que pudessem aprender quem foram, quem eram e, principalmente, quem se tornariam porque se encontrariam novamente em outras vidas além do tempo.
Mas não se engane, o processo é doloroso, talvez um pouco demais às vezes.
A falta e o sentimento de angústia por aquela parte que você sabe e gostaria que estivesse por perto apenas cresce durante os anos. Mas ainda sim, é uma jornada válida, uma jornada que mostra que você não precisa de alguém que te complete, mas sim, complete.
A história também contava que essas almas separadas e destinadas ao reencontro, traziam algo que fazia com que elas se reconhecessem. Óbvio, que de toda a população no mundo, nem todos nasciam com o mesmo destino, havia pessoas normais e pessoas com suas marcas.
tinha um pequeno sol em seu antebraço.
A garotinha cresceu ouvindo sobre a história de seus avós e o quanto eles, mesmo imperfeitos, eram perfeitos um para o outro, já seus pais, nem tanto. era destinada a nascer, mesmo que sua mãe e seu pai tivessem separado ainda pequena, ela cresceu sob o crescente amor.
Tinha tudo que precisava com a mãe, os avós e amigos que a cercavam. Mas uma vozinha ainda falava de forma suave dentro dela.
“Do que você tanto sente falta que sequer consegue se lembrar?”
Forçou por anos sua mente para entender o que lhe faltava, supriu algumas sensações com coisas que lhe sintonizavam, como a música ou a escrita, aquilo acalmava seu coração inquieto, então um dia, desistiu.
“Sinto muito, ele está melhor que todos nós agora” foi a frase que a desmotivou que, independente de outras situações que já havia passado em sua vida - como a separação dos pais ou até mesmo coisas isoladas como manter conexão com as pessoas -, ela não sabia como superaria aquela primeira perda sentimental.
O outono veio e levou junto de seu avô, uma parte de seu coração também.
Aquela não foi sua última perda, mas ainda sim sobreviveu, mesmo que com um coração que cada noite crescia mais frio e enclausurado.
“Eu queria me sentir compreendida” dizia sempre sem entender, tinha uma família incrivelmente compreensiva e presente, mas ainda assim, sentia a necessidade de alguém para ouvi-la claramente.
Ele não era tão diferente assim.
cresceu sob o amor de uma família unida, mas ainda assim, mesmo que nada lhe faltasse visivelmente, dentro dele havia um espaço inexplicável.
Ele tinha uma forma de preencher aquilo, ele escrevia canções tarde da noite desde que se entendia por gente, já que problemas de sono sempre foram algo recorrente. Viveu por várias partes do mundo, Califórnia foi seu lugar por um tempo quase indeterminado, mas ainda assim, não sentia que tinha um lar aonde pertencia, que não havia um lar para si desde que decidiu que sua vida seria feita da música, sua maior paixão.
Pelo menos era isso que ele achava, já que o sentimento de adrenalina por estar sempre na estrada, cantando para milhares de pessoas era algo insubstituível e entorpecia muitos outros sentimentos indesejados, ou melhor, desconhecidos.
tinha uma meia lua em seu antebraço.
Todos os seres humanos guardam dentro de si algo que possivelmente tenham que trabalhar durante todos os anos de vida, afinal, a aprendizagem na vida humana nunca termina. Todos os dias aprendemos que existem inúmeras situações, pessoas, formas de vivência e convivência entre outras coisas diferentes por aí, além de que sempre topamos com pessoas por nossas vidas, aquelas que nos marcam com memórias, lembranças, amor, dor e diversos sentimentos que persistem em nós por muito tempo.
tinha sua insegurança um pouco mais incompreensível do que os outros, em diversas ocasiões se viu em ocasiões em que cada vez mais se focava no trabalho e não deixava absolutamente nada de espaço para um pouco de amor, porque ele simplesmente não tinha confiança o suficiente para experimentar dar um amor de verdade a alguém. Não entenda mal, ele tentou, mas todos os cenários diferentes corriam por sua mente e quando algo poderia estar mais profundo do que parecia, não terminavam bem porque no fundo, ele sabia que o amor para ele seria como sintonizar um rádio antigo, onde você mexeria um botão até encontrar algum tipo de sinal e, de repente, vestígios surgiriam, de pouco em pouco você escutaria sua música tomando forma e finalmente ao fim, poderia escutá-la totalmente bem, aproveitando o sentimento que ela traz.
E então, ele pacientemente, apenas esperou para que um dia se sentisse confortável em compartilhar suas inseguranças com alguém que as entendesse.
O mundo não era normal antes, não é normal agora e nem nunca vai ser, mas você imagina um mundo onde almas gêmeas talvez não saibam o que elas significam umas para as outras?
Muitas pessoas desistem nesse longo processo de despertar, muitas conhecem as suas sem querer e a maioria segue procurando.
Foi a mesma coisa com e , que se encontraram pela primeira vez na estação de trem Snow Hill em um dia de verão quase irreconhecível para as pessoas daquela parte da Europa.
— Eu já disse James, nos vamos a gravadora e assim que sairmos de lá, comemoramos nosso novo rumo. – , que andava todo arrumado por ter tido um ensaio para o casamento de sua irmã mais cedo, naquele dia, afrouxava a gravata de tanto que o calor lhe atingia, mas ele não culpava o clima, era ótimo um dia de sol quando se teve um mês inteiro de puros dias frios. O rapaz tinha seu carro, mas ainda assim, naquele dia, por alguma razão na qual nunca sequer pensaria em questionar, havia decidido que um passeio de metrô seria algo ideal — Não se preocupe, você pode levá-la, mas por favor, diga a ela que não preciso dela tentando me apresentar ninguém, eu simplesmente quero me divertir.
A verdade é que todos seus amigos, inclusive sua família, apareciam constantemente com pessoas diferentes ou ocasiões diferentes, para que ele conhecesse alguém.
Nunca se sentiu conectado de forma definitiva.
não estava longe disso e muito menos dele.
Naquele mesmo dia, que o rapaz havia decidido ser um ótimo dia para enfrentar o metro, , a garota de cabelos negros com mexas púrpuras em seu cabelo, havia chegado na cidade e curiosamente foi obrigada por sua amiga que vivia próximo e alegava que aquela era a forma mais rápida de chegar ao seu destino. Táxis com certeza não eram um forte da cidade.
— É óbvio que não — disse olhando aos redores, pensando a quanto tempo não passava por aquele lugar que costumava ser um de seus favoritos quando criança — Estou esperando pelo trem e antes que você diga algo, eu estava a fim de um passeio, nada demais.
A meia lua dele e o sol dela pareceram brilhar assim que os pés de pisaram na plataforma em que deveriam estar.
Acreditava-se que as poucas pessoas que ainda tinham suas marcas e viviam como pessoas normais no mundo, por simplesmente não saberem de suas histórias, reluziam assim que estivessem próximas.
Não foi diferente com eles.
Ambos não só voaram os olhos em busca de algo pelo local no mesmo momento, como também posaram o olhar um no outro, de longe, em plataformas opostas e se viram pela primeira vez.
ficou admirado pela figura que o intrigou de primeira, mesmo que não a pudesse ver bem por contas dos trens que passavam em suas frentes, ficou admirado com a garota de cabelos negros cujo fios púrpuras pareciam brilhar de longe conforme o vento batia.
Ambos pensaram a mesma coisa naquele momento, se perguntaram estranhamente se já haviam se visto antes. Ele sabia que ela era familiar, mas que se lembraria se tivesse visto aquelas mechas púrpuras alguma vez em sua vida, e ela o mesmo, apesar de pensar que poderia ser coisa de sua mente, se questionou o mesmo pois tinha quase certeza que o conhecia de algum lugar.
Mas aquilo era comum naquele estágio, suas almas ainda não estavam preparadas para um encontro nada previsto na história desenhada pelo destino. pegou seu caminho para o caminho contrário dele e suas reações se foram, mas, ainda sim, pensamentos ficaram.
Seus rostos finalmente estavam gravados em suas mentes.
O segundo encontro aconteceu alguns anos depois da estação.
— Você definitivamente não quer que eu vá nessa festa, . - mais falava isso para si mesma do que para a amiga a sua frente que reclamava sobre a cor de batom que havia escolhido para aquele dia.
— Não, senhora, não tente me convencer de não ir. — A amiga respondeu firme, deixando o batom que segurava sob a mesa — Aliás, por que você ainda faz vestida assim?
— Estou esperando que você desista de me arrastar para uma festa onde certamente eu não quero estar por inúmeros motivos diferentes. — A verdade era que era apenas um pouco mais antissocial do que gostaria, ela conseguia interagir com as pessoas tranquilamente, mas quando podia evitar, era a primeira coisa que fazia.
— você não precisa mais se preocupar com ele. — tocou no assunto que não era tão desejado no momento e aquilo fez com que fechasse a cara deixando um longo suspiro escapar — Olha, ele te magoou, sem dúvidas, mas eu já te disse que você não deveria sentir tanto assim, ele não merece isso de você, não merece sua tristeza e sequer sua raiva.
— Tudo bem! — suspirou e disse dando-se por vencida, aquele não era um bom dia para discordar da amiga, pois de qualquer forma, com qualquer argumento, ela ganharia.
A garota sentia falta da Califórnia, do clima quente e um pouco árido, das pessoas que conviveu por boa parte de sua vida, mas ainda assim se sentia mais parte dali, daquele lugar, daquela cidade, daquele país do que de qualquer outro lugar que já esteve.
Ao chegar na festa, se sentiu totalmente o contrário, ela não era de frequentar pubs lotados e muito menos festas em pubs, apesar de gostar muito desde que completou a maioridade, de entrar, sentar-se em um desses lugares onde o bar ficava longe de uma possível plateia, para pedir água com gás - porque nesse mundo prefere ser cautelosa, que é o que lhe ensinaram desde sempre - enquanto vê a banda ao vivo daquele dia. Normalmente aquilo não a incomodava já que era basicamente um hábito. Porém, festas, pessoas aleatórias comemorando sabe-se lá o que, não era muito o que ela gostava.
Era complicado.
de certa forma, por mais que gostava do conforto do seu flat no centro da cidade, não dispensava “perder” seu tempo com os amigos de banda, que eram praticamente sua família. Além de que seus pais gerenciavam juntos um bar, este que ele deu de presente para eles em seu trigésimo segundo aniversário juntos.
— Eu estou chegando! — O rapaz dizia em seu telefone enquanto ria de algo engraçado que o amigo gritava do outro lado da linha — Sim, claro que sim! — ele riu, aproveitou e respirou brevemente a brisa leve que passou por ele assim que virou a esquina da rua em que o pub se encontrava — Te vejo em dois minutos.
Desligou a ligação e guardou o celular de volta em seu bolso, buscando suas chaves para se distrair enquanto seguia seu caminho. O dia havia sido algo bonito e inexplicável, um céu azul com nuvens brancas e pomposas o cercavam, mas ainda assim, o sol brilhava como nunca.
A última vez que ele se lembrava de um dia assim, havia sido anos atrás, o mesmo dia em que mudou de gravadora junto com sua banda, mas isso não significava que necessariamente esse era o motivo dele se lembrar daquele dia.
— Será que a gente não pode dar meia volta, assistir um filme, comer um lanche gigante e depois vários chocolates ou talvez sorvete? — pensou na proposta por alguns segundos — É, acho que sorvete resolve também.
— Não! — respondeu séria, voltando a andar já que havia impedido que continuasse — E não de novo!
— Mas eu nem disse nada — respondeu quase ofendida.
— Mas pensou, isso já é suficiente! — respondeu rindo — Vamos nos atrasar e você ouviu-a pelo telefone. — disse se referindo a amiga que estava dando a festa aquele dia — Se nos atrasarmos, pagamos três rodadas de bebidas que ela quiser e você... — apontou para a amiga que suspirava a esse ponto — Sequer bebe em festas, vai mesmo querer gastar dinheiro à toa?
— Droga! — olhou para a amiga dando risada — Você realmente sabe como me convencer de fazer coisas que eu não quero.
— É, eu sei que a sua alma mão de vaca fala mais alta nesse tipo de situação. — respondeu rindo, sabia mesmo que a amiga facilmente levada por aquele tipo de argumento — Mas pensa assim... — colocou as mãos sobre os ombros da amiga com cuidado — Pelo menos isso só acontece uma vez por mês.
por segundos agradeceu por nunca suspeitar de suas longas caminhadas na parte da tarde com direito a um café no final dela enquanto aproveita a “golden hour” do terraço do apartamento ou das vezes em que a amiga não voltava para casa, onde aproveitava e dava suas escapadas para desenhar esboços aleatórios no pub perto de casa. A garota era artista, em tempos que não frequentava a faculdade não tinha um tipo de programação certo, por isso a amiga sempre pensou que precisava de um ar, de que ela precisava ao menos sair e aproveitar, esquecer que coisas preocupam sua cabeça.
Mal sabia ela que na realidade , aproveitava seu tempo da sua maneira.
— Olha isso, John! — as duas pararam assim que ouviram a voz do segurança que passou por elas surgiu — em um sábado à noite no Hopkins é novidade.
— Quantas vezes mesmo eu te implorei para fingir que não me conhecia se eu viesse aqui com alguém, Bee? — a garota disse colocando as mãos sobre a testa, sabia que teria que explicar para a amiga mais tarde.
— Vocês se conhecem? - perguntou confusa.
— Longa história. — que lançou um olhar fuzilado o homem que riu - Eu explico depois, vamos!
O staff do local conhecia ela como ninguém, já fazia um tempo que a rotina de não mudava e por isso era uma surpresa ela aparecer pelo local em um sábado à noite onde provavelmente estaria lotado pela festa, pessoas recorrentes e que foram aproveitar a banda nova que tocaria ali aquela noite.
— O de sempre, ? — o bartender perguntou rindo assim que elas passaram por ele.
— Você bebe? — perguntou indignada.
— Ah, pelo amor de Deus, John! — olhou para o rapaz em desespero e ele apenas riu fazendo com que ela olhasse para a amiga mais uma vez — É claro que não, o meu “de sempre” é água com gás, ele só está provocando, vamos, eu explico mais tarde.
A música em particular, naquela noite, estava alta e as luzes haviam mudado de um vermelho e amarelo para roxo e azul por conta do tema da noite. Passar por meio daquelas pessoas com certeza não era legal, mesmo que não estivessem suadas ou atracados uns aos outros como normalmente as pessoas ficavam nessa parte do pub, onde era aberto uma pista de dança não muito grande, elas ainda estavam em grande maioria.
— Não estamos atrasadas! — disse alto assim que se aproximaram em uma grande mesa ao fundo do local onde todos, ou pelo menos a maioria das pessoas que conheciam estavam — Não é hoje que você vai ver a senhorita “não abre a mão para nada” te pagando três rodadas de tequila, .
As garotas se sentiam confortáveis com as pessoas que estavam ali, a maioria eram colegas da faculdade ou conhecidos como do trabalho de na editora ou dela mesma e de do estúdio e gravadora em que trabalhavam.
— Ela estava contando com esse um minuto de atraso, mas , como sempre, pontual! — um dos amigos disse dando risada, o que também puxou a risada dos outros ali presente.
— Feliz aniversário! — e disseram juntas mostrando as sacolinhas de presente para a amiga que as abraçou com força.
— Me diz que é aquele bracelete que eu te mostrei na semana passada, !? — disse entre o abraço — Não importa, o que for, eu vou amar. — disse se endireitando — Mas se for aquele bracelete eu vou te amar para o resto da minha vida.
— Você já não me ama esse tanto? — brincou — Você acha mesmo que eu não sabia que me levar às três da tarde em um shopping, com a desculpa de querer me comprar um sorvete, era uma dica para o que você queria de presente?
— Ela fez isso com você também? — perguntou — Comigo não foi sorvete, foi Bubble Tea e o presente foi uma blusa que ela fingiu só ter visto naquele dia, mas como eu não sou boba, já sabia que era uma desculpa.
A noite por apenas ter começado, estava totalmente divertida, colocou em sua cabeça de se lembrar de fazer isso mais vezes, gostava de poder comer batatas fritas com bacon e cheddar enquanto ria de coisas estúpidas que e contavam aos amigos e, principalmente, nunca riu tanto quanto naquela noite com ambas as amigas já um pouco alteradas e cantando no palco, já que John passou pela mesa avisando que aquela noite não haveria banda, que seria a noite do Karaokê.
— Desde quando existe esse tipo noite por aqui? — pergunta para John enquanto se aproxima e se escora no bar à sua frente vendo as amigas cantando por todos os lados, rindo com as mesmas errando a letra de três em três versos.
— Desde que o patrão demitiu a última banda. — Ele disse rindo.
John, então, tirou um copo do balcão e o encheu com um líquido rosado, colocando uma pequena flor em cima do copo.
— Te mandaram isso. — ele disse, entregando o copo, deixando-a com uma cara confusa — Não se preocupa, sem álcool para você, mesa cinco. — ele indicou com a cabeça.
A mesa cheia de pessoas não foi de grande ajuda assim e John se recusou dizer de quem especificamente havia vindo a bebida porque sabia que ela se irritaria. Foi quando ela o avistou se aproximando da mesa enquanto fechava o zíper da calça, trazendo braços abertos em direção aos amigos e um sorriso sorrateiro na boca.
O bartender conhecia cada um naquela mesa e conhecia a garota muito bem também. Sabia que mesmo que a bebida não viesse de quem ela provavelmente achou que havia vindo desde que ela avistou a figura pelo local, então era melhor que ela apenas não se envolvesse.
— Só pode ser brincadeira! — ela disse soltando a bebida na bancada — Acho que minha noite acabou.
— Como seu amigo e intrometido de plantão, devo te dizer que você não deveria ficar tão afetada por ele assim, não quando ele sequer merece qualquer tipo de sentimento. — John disse.
— Eu não estou. — ela mentiu — Mas ainda assim, a presença dele incomoda, toda vez que eu vejo ele, me lembro do tanto de tempo que ele me fez perder nessa vida.
De longe, viu suas amigas acenarem para ela, chamando a mesma para que subisse ao palco ou fosse até elas e deu graças que não notaram a presença dele ali.
— Se serve de consolo, para mim nenhum relacionamento que deu errado é perda de tempo, apenas te mostra que aquela pessoa não é quem deveria ser para você e, melhor ainda, te faz perceber que tipo de pessoa você quer bem longe. — Triz, uma das ajudantes do bar disse se aproximando — Eu acho que no momento certo, essa pessoinha — ela disse apontando para a marca de sol no braço de — vai aparecer em um passe de mágica.
sentiu sua marca queimar levemente, assim que a mais velha se retirou. Já havia sentido aquela sensação estranha antes tentou-se lembrar de todas as vezes, mas apenas conseguia descrever duas especificamente e todas elas envolviam a ruiva que conheceu desde o dia em que pisou naquela cidade.
Triz havia sido a primeira pessoa com quem conversou quando decidiu que tomaria um táxi até sua casa, mesmo depois de tê-la convencido de tomar o metrô por ser mais fácil e sem trânsito algum naquela hora, a ruiva a convenceu a todo custo de que o metrô era a forma mais rápida de chegar a algum lugar. Todos os tipos de motivos possíveis ela lhe deu naquele dia e depois desapareceu sem sequer se despedir. Curiosamente, ela a reencontrou no pub na primeira noite em que decidiu entrar e se sentar para comer algo, desaparecendo por algum tempo logo depois disso.
— Eu acho que vou para casa. — disse pensativa, afinal aquelas coisas martelavam em sua cabeça sem ela entender o porquê.
— Não! — a mulher disse alto e quase deixando com que o copo que enxugava no momento escorregasse e quebrasse — Quer dizer, não! fique mais um pouco, aproveite seus amigos.
— Minha cabeça está doendo — ela responde, confusa pela reação dela e de John que olhava de forma indecifrável a Triz.
— Vá descansar, ! — ele disse antes que a ruiva dissesse qualquer coisa que pudesse assustar a garota — Vir para cá em um sábado à noite já é um grande avanço na sua vida social, deve ter te cansado.
Ela então se despediu de ambos, que a olharam se retirar com lentidão.
— Ainda não! — ouviu mesmo que bem baixo, Triz comentar enquanto olhava com seu canto de olho para vê-la cutucando o outro ao seu lado — Faltam apenas alguns minutos, se ela sair desse lugar, se ela sair da linha temporal onde eles se encontram aqui como da última vez na estação — ela suspirou — se não for agora, demorará mais três anos para que outra oportunidade surja.
Uma coisa não contada sobre o mito anterior, em uma parte, talvez arrancada dos livros em que esses tipos de histórias eram contadas, dizia que, se o processo de cura interna de ambas as partes da alma durante sua jornada for algo muito difícil e doloroso, algo os guiaria além do destino, intuição e reconhecimento.
Triz então, indignada com a situação, saiu de trás do balcão e caminhou com um copo de líquido roxo em sua mão e passando por com certa pressa, que desinteressada, a observou se aproximando da mesa número cinco, por onde passaria. A ruiva não perdeu tempo, assim que se aproximou distraída com seu celular, Triz tropeçou em seus próprios pés, derrubando em uma pessoa em questão o líquido roxo, .
Ele se levantou impulsivamente por se assustar com o líquido gelado que correu por sua blusa e com um pouco de força sua cadeira foi para trás fazendo com que ele desse de frente com que estava bem próxima da mesa assim que se levantou.
— Ai! — os dois reclamaram ao mesmo tempo, ele não mais pela bebida que havia sido derrubada, mas sim, pelo mesmo motivo que ela.
Assim que se chocaram, de frente um para o outro, segurou para que ela não caísse com o impacto. Suas mãos foram diretamente para a cintura da garota e, também para o pulso, segurando-a com delicadeza. Mas, assim que sua mão entrou em contato com sua pele, uma forte onda de eletricidade pareceu correr por eles, causando um choque leve, mas ainda assim, algo um pouco doloroso.
Se afastaram imediatamente.
— Tudo bem? — ele pergunta assim que se afastaram.
Seus olhos não conseguiam deixar os dela e por alguma razão, ela se sentia da mesma forma.
— Eu acho que — ela aponta para a camisa molhada dele — eu que deveria perguntar isso.
A sintonia parecia palpável naquele momento.
nunca tinha explicado a ninguém sua teoria principal sobre o amor, mas, nascer com algum tipo de missão ou jornada, pesou em sua mente. Desde a primeira vez em que decidiu gostar de alguém por conta própria, percebeu que talvez o amor fosse como a melodia perfeita em notas que sequer deveriam ser combinadas.
Ela pensava que, no mundo, mesmo que nem todos nascessem com uma marca visível como a dela, de sol, eles nasciam com vocações. pensava que dentro de nós uma sintonia como a de um rádio antigo pudesse acontecer quando menos esperamos. E que, por fim, no final, tudo que passamos para chegar até aquele momento, o momento em que você sintoniza na rádio certa, iria valer a pena e não importa que fosse uma vocação, um hobby ou um amor que provocaria isso dentro da pessoa, tudo era válido se te fazia feliz à primeira vista.
Com a pura consciência de que nada é perfeito, mas nada deve nos fazer sentirmos imperfeitos.
— ? — uma voz atrapalhou o momento que e ela estavam tendo — Meu Deus, é você mesmo.
— Vocês se conhecem? — perguntou fora de seus pensamentos.
— Não!
— Sim!
Responderam ao mesmo tempo.
— Nada de especial, estudamos na mesma universidade. — ela comentou, sem sequer olhar para o outro.
— Você quer, sei lá, dar uma volta? — perguntou impulsivamente, sequer pensou duas vezes assim que a pergunta brotou em sua mente.
— Quero! — ela agiu da mesma forma e isso sequer fazia parte de sua personalidade — Mas antes, posso fazer uma pergunta?
A cena era algo tão estranho e fora do comum que todos da mesa assistiam intrigados. Nunca viram agir daquela forma e não queriam interromper então se mantiveram calados.
— Claro. — ele respondeu.
— Já nós conhecemos antes? — ela perguntou.
— Eu não tenho certeza, — ele respondeu confuso — mas eu tenho a mesma sensação.
Não era tão tarde da noite quando se “conheceram”, mas com certeza já seria cedo quando se despedissem.
— Ok, filme favorito? — Ele perguntou.
Caminhavam pelas ruas da cidade que naquela época do ano permaneciam agitadas a qualquer hora.
— Only You. — ele a olhou rindo — É, eu sei que é clichê e estranho, mas se eu dissesse que é Psicose também seria, então eu prefiro dizer aquele que demonstra minha personalidade romântica quase imperceptível.
— Com certeza se fosse outra situação você diria Psicose. — ele respondeu rindo enquanto esticava sua mão, ajudando-a subir em um dos degraus altos que tiveram que subir.
— Sem dúvidas! — ela riu — Mas parece que eu te conheço há muito tempo, então foi um pouco natural dizer.
— Eu senti a mesma coisa quando falava das minhas músicas favoritas lá trás. — ele disse se referindo ao assunto anterior àquele.
— Estranho! — ela comentou sem graça.
— Nem me fala! — ele sorriu, o que acabou demonstrando o mesmo sentimento.
A noite seguiu e, com ela, assuntos e mais assuntos apareceram, não parecia que a noite seria tão curta.
— Já vai amanhecer! — ele disse olhando seu relógio e, então, uma ideia surgiu em sua mente — Você quer ver algo legal? Não é longe daqui, mas, precisamos correr se quisermos chegar a tempo.
— Claro! — ela respondeu e ele a pegou pelo braço levemente, para que fossem rápidos.
Correram por toda a avenida principal da cidade até chegarem a uma pequena colina. A vista era linda e nada longe da cidade em si, ainda era possível ver algumas pessoas saindo de pubs, festas, indo trabalhar àquela hora, mesmo de longe.
— Fica melhor assim. — ele disse, pegando um de seus fones de ouvido e entregando a ela.
— Você tinha razão, é bem legal aqui! — Ela disse analisando o lugar, assim que pegou o fone e colocou em seu ouvido — Nunca tinha vindo.
— Eu venho para compor. — ele sorriu olhando para a escuridão à sua frente que aos poucos se desvanecia — Normalmente minha companhia é o violão, mas, eu acho que encontrei uma que eu gosto mais.
Ela sorriu com sua conclusão repentina e olhou para frente onde o céu já dava indícios de que o sol sairia em breve.
— O sol já vai nascer. — ela disse acariciando seu braço, onde a marca do sol ficava.
— De qual dos dois você gosta mais? — ele perguntou e ela o olhou confusa — Você gosta mais da lua ou do sol?
— Ah, da lua! — ela sorriu olhando para ele — E você?
— Do sol. — ele disse de forma tranquila.
Demorou apenas alguns segundos para que o sol nascesse de forma alaranjada, a cor que se espalhava pelo azul do céu que também aparecia aos poucos fazendo com que a lua e as estrelas se fossem, assim como .
— Droga! — ela exclamou olhando as notificações em seu celular quando o pegou para tirar uma foto daquele momento.
— O que foi? — ele perguntou preocupado — Aconteceu alguma coisa.
— Eu preciso ir! — ela respondeu apressadamente, se levantando em seguida — É meu trabalho, surgiu algo que eu preciso fazer com urgência, nos falamos depois.
A garota então partiu, andou com tanta pressa que sequer deu espaço para que se despedisse propriamente ou lhe oferecesse uma carona já que seu carro não estava tão longe dali.
— Nós falamos depois. — ele disse baixo já que ela não escutaria por já estar longe — Espero...
Porém, para se falarem mais tarde, primeiro deveriam ter pego algum tipo de contato um do outro e isso não aconteceu. só percebeu quando já estava em seu flat, deitado em seu sofá e pensando que, a qualquer momento, ela poderia ligar ou mandar uma mensagem. Seus olhos se arregalaram quando percebeu que aquilo não aconteceria já que ela não tinha seu número e muito menos ele o dela.
Por semanas, talvez meses, ambas as partes buscaram por si outra vez, afinal internet é algo realmente útil hoje em dia, mas, ainda assim, como a própria Triz havia explicado na noite em que finalmente se conheceram, se um dos dois saísse do curso temporal, uma nova oportunidade apenas viria dali três anos. a buscou por um ano completo por ela, mas nunca a encontrou já que a mesma não usava as redes sociais com frequência e ela, por mais estranho que parecesse, sequer havia perguntado seu nome aquela noite.
Talvez aquele realmente não fosse o momento, talvez o universo tivesse visto que mesmo que ambos se complementassem, ainda havia muito no que trabalhar em si mesmo, de ambas as partes. Quem sabe seus medos, personalidades e gostos ainda tivessem muitos aspectos a mudar e acrescentar. Talvez aquele momento tenha sido apenas um gostinho do sentimento que ambos buscaram por durante tanto tempo, para que pudessem lidar melhor e preservar não apenas a si mesmos, mas também, um ao outro no futuro.
E então, três anos se passaram.
— Estou a dois minutos da estação. — ela disse para a pessoa no outro lado da linha — Tem um engarrafamento meio estranho por aqui, caso eu atrase, você já sabe o motivo.
Três anos à frente e, mesmo não parecendo tanto tempo assim, muitas coisas haviam mudado.
As linhas do tempo voltaram a se alinhar quando naquela manhã de domingo, decidiu que, ao invés de pegar um metrô, como costumava fazer, ela iria de táxi a seu destino. O local ficava em um lugar de caminho um pouco mais largo então decidiu que não faria o trajeto que já estava acostumada. Ela desceu de seu apartamento e tomou o táxi, mas apenas chegou até a avenida principal.
O mesmo com que naquela manhã de domingo havia se convencido de que uma caminhada com Jessie, sua cachorrinha, faria bem, ele queria aproveitar o máximo de tempo que teria na cidade, porque demoraria a voltar da próxima viagem que faria. Então saiu de seu apartamento, desceu três quarteirões e foi surpreendido por uma grande confusão de carros no final da rua.
O engarrafamento que acontecia, era por conta de um acidente que havia acontecido, nada grave, mas ainda sim com cuidados necessários de trânsito. A avenida não era pequena, mas ainda sim passavam poucos carros pelo espaço liberado e organizado pela polícia de trânsito que havia se alojado ali para cuidar do caso. Por alguma razão teve o pensamento de que talvez caminhar um pouco e pegar o metrô seria melhor do que ficar sentada esperando com que a vez de seu táxi na fila chegasse. Ela então pagou e desceu com a pequena mala de criança que carregava pela cidade naquele dia e seguiu caminhando rua a frente e no mesmo instante em que ela chegava à esquina, Jessie e também apareciam, curiosos sobre o que estava acontecendo ali no local.
— É Jessie, — ele se agachou e a acariciou — parece que foi um acidente, melhor voltarmos para casa por agora, a cidade parece meio caótica para um domingo de manhã.
se levantou ainda acariciando a cachorra, sem prestar atenção em nada a seu redor a não ser nela e esse foi o motivo de seu terceiro encontro com . A garota tentava ligar para o número que ela havia ligado pouco antes e não prestou atenção à sua frente, dando um belo encontrão com as costas de .
Quase igual a primeira vez que realmente se conversaram, em seu segundo encontro.
— Meu Deus, você está bem? — ele disse se virando imediatamente em direção a ela que ria com a mão em sua testa, sem olhá-lo.
— Sim! — ela disse rindo — Eu preciso prestar atenção quando estou andando, me desculpe por isso.
Sua mão foi em direção à bolsa infantil que trazia para arrumá-la nos ombros outra vez e seus olhos subiram para o rapaz a sua frente que parecia paralisado e, de fato, ele estava.
Porque ele a havia encontrado, mesmo depois de tanto esforço e nenhum resultado, um domingo de manhã simples, antes de uma grande viagem havia trazido ela a ele.
E então ele compreendeu. Eles se encontrariam, conheceriam e reconheceriam quando tinha que ser o momento certo.
— Você! — ela disse sorrindo — Parece que esbarrar um no outro é a nossa “coisa” especial.
— Eu te procurei — ele disse impulsivamente e ela sorriu mais largo — Como estão as coisas?
Ele perguntou curioso e desapontado, esperando que a resposta fosse algo diferente do que ele realmente desejava ouvir.
— Tudo bem! — ela respondeu — Na realidade estou atrasada para um chá de bebê.
— Não vou te segurar por mais tempo, seu filho ou filha, não sei — ele disse confuso — deve estar esperando. — sorriu baixo.
— Filho? — ela perguntou e olhou para os ombros no mesmo momento que ele — Ah, isso? — ela riu fraco — isso, na realidade essa bolsa é do bebê de uma amiga, aliás, do primeiro filho dela, ela esqueceu em casa e me pediu para levar.
pareceu aliviado com a notícia e percebeu, rindo da expressão que surgiu em seu rosto.
— Você parece aliviado com a notícia. — ela comentou rindo.
— Digamos que isso me dá esperanças em possivelmente poder te levar em um encontro de verdade no futuro? — ele respondeu em forma de pergunta, meio incerto se deveria ser tão direto.
— Você sabe que não tenho filhos, mas e se eu tiver um namorado ou melhor — ela exaltou — e se eu tiver um marido?
— Você tem um marido? — ele arqueou as sobrancelhas um pouco tenso com a resposta e ela apenas balançou a cabeça negativamente ainda dando risada — Você tem um namorado?
— Eu tenho cara de que tenho um namorado? — ela perguntou brincando e ele a olhou intrigado — Brincadeira! — ela disse antes que ele pudesse responder — Não, eu não tenho um namorado.
— Então eu tenho esperanças. — ele respondeu suspirando.
— Talvez, — riu — você está ocupado agora? — ele perguntou acariciando Jessie.
— Para você? Nunca. — respondeu sorrindo.
— Quer ir comer alguns docinhos de festa de criança comigo, como segundo encontro? — ela perguntou.
— Deixamos Jessie em casa, eu me troco em dois minutos e podemos ir. — ele disse apressado, segurando a mão da garota de forma delicada para que ela o seguisse.
e definitivamente formavam um casal feito no céu e construídos na terra. Suas almas eram a mesma, mas ainda sim, suas personalidades, gostos e modo de ser eram diferentes. O suficiente para que complementassem um ao outro de forma absurda e, o melhor, para que pudessem aprender quem foram, quem eram e, principalmente, quem se tornariam porque se encontrariam novamente em outras vidas além do tempo.
Epílogo
— Você está pronta para isso? — tomou sua mão e disse alto para que ela escutasse com clareza já que o barulho ao redor era absurdamente alto.
— Eu nunca disse que estaria. — ela respondeu segurando sua mão firme — Um...
— Dois! — ele sorriu continuando a contagem — Antes de descermos eu tenho que perguntar algo.
— O que? — ela pergunta curiosa.
— Você pode me responder lá embaixo quando chegarmos... — a garota sacudiu a cabeça positivamente — Lá vai — ele respirou fundo — você quer se casar comigo? — ele perguntou chocando-a por alguns minutos — Te vejo lá embaixo — disse saltando em seguida.
Aquela era a primeira vez dela pulando de paraquedas e a segunda dele na mesma situação. Não importava quantas vezes seriam, aquela seria a mais marcante de suas vidas.
Ela disse sim assim que seus pés pisaram no solo, o abraçando e sorrindo como nunca, ela estava feliz e aquilo, finalmente, fez com que sua marca de Sol desaparecesse no mesmo instante.
Já ele a beijou e seu coração, que antes de encontrá-la, parecia cheio de um sentimento de falta e saudade, finalmente pareceu ter encontrado a peça que faltava.
Fim.
Nota da autora: O tanto que eu esperei por esse ficstape e essa música!!! Nem acredito que deu certo, eu amei tanto escrever a história ou, pelo menos, o começo da história desses dois, vocês não têm noção do quanto foi importante. Afinal, essa música é tudo, certo? Sem dúvidas a minha favorita desse álbum incrível.
Enfim, eu agradeço de coração se você leu até aqui e gostou, é sempre bom saber o que vocês pensam, então, não esqueçam de deixar seu comentário na caixinha que vai estar disponível em link aqui embaixo. Espero que tenham aproveitado <3
Xoxo, Caleonis
Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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