Finalizada em: 19/01/2018

Capítulo 1


O agente Jayce abriu a porta que levava ao telhado do prédio abandonado apenas para encontrar o que já suspeitava. Ele segurou um grito de dor e raiva dentro do peito, mas suas emoções naquele segundo não puderam ser acobertadas pela razão. Lucky olhou satisfeita para ele e para o corpo de Jessie estirado no chão, uma adaga cravada em seu coração e outra em seu estômago. A missão de capturar e prender com vida Lucky, uma assassina de aluguel irlandesa que estava aterrorizando a cidade havia sido atribuída a eles, mas tudo o que o agente queria agora era matar aquela psicopata.
— Resistir é inútil, Lucky. Entregue-se ou eu atiro em você. — Jayce disse severamente, a voz ríspida cortando o ar gelado enquanto ele olhava furiosamente para aquela que havia acabado de assassinar sua companheira de trabalho.
Lucky sorria maliciosamente enquanto dizia:
— Agora você me vê...
O agente percebeu em um milésimo de segundo que esta era a deixa de Lucky. Então ele atirou várias vezes em sua direção, mas ela era ágil ao se movimentar e se divertia ao brincar com aqueles se que atreviam a caçá-la, justo ela, uma caçadora nata.
— (…) agora não me vê mais.
Ela havia se jogado do telhado, deixando Jayce com uma expressão sombria e obstinada. Ele murmurou para si mesmo que ainda iria prendê-la, custe o que custasse. A morte de Jessie não seria em vão.
— E CORTA! É isso aí, pessoal, muito obrigada e parabéns a todos vocês, a todos nós! O período de produção do filme está oficialmente finalizado. Vejo vocês daqui a alguns dias na nossa wrap party (festa de encerramento) e depois apenas se tivermos de refilmar alguma cena! — Fiora falou aplaudindo e todos no set começaram a aplaudir também.

Após longos meses filmando Time Bomb, um filme de ação sobre espionagem para o público jovem adulto, eu só conseguia pensar que tiraria pelo menos uma semana de folga, acordaria tarde e não sentiria saudades de passar o dia todo no set de filmagem. Entrei no meu camarim e peguei algumas uvas da cesta de frutas frescas que estava na mesinha. Kat, uma assistente geral, veio me ajudar a tirar meu figurino de “Lucky”. Depois que ela saiu eu comecei a arrumar minhas coisas e a me preparar para ir embora, quando ouvi alguém batendo à porta.
?
— Pode entrar! — respondi.
Eu já estava com as minhas coisas prontas, só faltava chamar o táxi que me levaria para casa. Abri a porta e vi quatro homens do lado de fora sorrindo. Eu os reconheci, eram os caras da banda contratada para tocar na cena da festa. Nós tínhamos nos conhecido durante as filmagens e eu tinha desenvolvido um crush secreta pelo ao vê-lo no palco.
— Desculpe, nós sabemos que você está cansada, mas tínhamos de vir aqui.
— Nós somos grandes fãs.
— Você foi incrível, foi muito legal poder te ver atuando. Você muda completamente!
— Acho que estou entendendo como as minhas fãs se sentem quando falam comigo... — murmurou.
— Awwn, obrigada! — Eu respondi com um sorriso de orelha a orelha, feliz por eles serem tão fofos e simpáticos. — Vocês também foram ótimos, com certeza irei a um show de vocês. E amei a música que fizeram só para o filme.
Foi a vez deles sorrirem. Eu não era assim tão famosa, então era ótimo receber algum reconhecimento.
— Vemos você na festa, né? — perguntou.
— Mas é claro! — eu respondi dando uma piscadela.
— Te vemos lá, então.
Nós nos despedimos e eu abri um aplicativo no meu celular para chamar o táxi. A porta do camarim de Darius estava aberta e eu entrei para me despedir. Tínhamos nos tornado bons amigos, bem diferente da ficção em que ele era Jayce e tínhamos que fingir que nos odiávamos. Ashley, outra atriz do elenco, também estava lá. Não era segredo para ninguém que estava rolando algo entre eles. Depois fui agradecer Fiora, a diretora, e me despedi de outras pessoas da equipe técnica que estavam por perto enquanto meu táxi não chegava. Eu estava sem condições de dirigir, precisava de comida, banho e cama.

***

— Eu queria falar que eu acho, só acho, que aquela piscadela foi pra você, . — disse enquanto se ajeitava na van cuidadosamente para não derrubar seu café.
O roadie já havia guardado todos os instrumentos e estava apenas esperando a banda para irem embora.
— Você é um cara de sorte. A é mais gata que a Ashley, pena que nenhuma das duas ficaria comigo — suspirou triste, não disfarçando a centelha de inveja em sua voz.
— Eu prefiro a Zelena, mas achei meio desnecessário ela ter morrido no filme. — falou pensativo, passando a mão pelos cabelos.
— Cada uma é linda de um jeito diferente. De qualquer forma, não somos nenhum Darius da vida pra termos chance — disse finalizando aquele diálogo.
— Não sei o que está acontecendo com a autoestima de vocês, mas a minha continua alta. Vou deixar o quarto arrumado antes de sairmos pra festa na sexta, vai que rola, né? — disse.
— Vamos só ver se você vai ter mesmo coragem de chegar nela. E relaxa, a gente não vai contar pra ela que você já assistiu a todos os filmes que ela fez, inclusive aquelas participações de dois minutos como figurante sem fala. — provocou.
apenas riu, mas por dentro ele não se sentia tão confiante quanto gostaria de ser. Ele tinha mais contato com artistas da indústria musical, o que tornava tudo mais fácil porque um compreendia a vida do outro, era simples de arranjar assunto, começar uma conversa. Mas com , apesar de todas as similaridades na vida de qualquer artista, ele estava nervoso. Receoso que talvez pusesse tudo a perder, e não é todo dia que você tem a oportunidade de ir à uma festa sabendo que sua crush estará lá.
— Se vocês contassem seria muita mancada. Ela ia me achar um creepy total. E eu não acho que ela tenha piscado pra mim, já que nas entrevistas é algo que ela faz naturalmente — afirmou convicto, mas pensando no quanto gostaria que seus amigos estivessem certos.
— Chegamos — anunciou o roadie.

***

Durante os meses de gravação do filme eu me mudei para mais perto do estúdio em que filmávamos. Darius, Ashley e várias outras pessoas do elenco também estavam no alojamento, então a gente se reunia com frequência para beber e assistir a RuPaul's Drag Race ou Rick & Morty.
Eu dividia o pequeno apartamento só com uma modelo, Sona, mas ela estava na Polônia tirando fotos para a próxima coleção de inverno de sei lá que loja. Ela viajava muito e sempre trazia roupas que ganhava de designers famosos (e outros nem tanto), e o melhor de tudo é que quando ela ganhava algo que não gostava, ela dava ou trocava com as amigas dela. Ela me deu um vestido quando nos tornamos boas amigas, e confessou que estava receosa que não fosse gostar de conviver comigo. Eu a entendia, colegas de apartamento parecem ser 8 ou 80 no quesito sorte. “Lucky me”.
Cheguei no apartamento vazio morta de cansaço, mas feliz por saber que o banheiro estaria vago e eu poderia ficar quanto tempo quisesse na banheira. Deixei a água quente enchendo e abri o Spotify. Procurei a banda do filme e deixei tocando as 10 mais da página deles. E não é que eles eram bons mesmo? Além de serem uns fofos... “Bem que o poderia estar aqui comigo me massageando” pensei, suspirando.
Antes de ir dormir eu resolvi procurar o Instagram dele, mas quem procura o que quer, acha o que não quer, né. Vi fotos dele junto de uma garota e eles pareciam bem próximos. Não tinha nada escrito dando a entender que eram namorados, nem um coração sequer... Mas ídolos de banda e nós atores/atrizes meio que somos aconselhados a não deixar o público saber que estamos namorando, ou a namorar apenas com quem pode nos influenciar positivamente. Fora disso é por nossa conta e risco deixar que nossa popularidade diminua.
Postei uma selfie de “boa noite” vestindo um baby doll de seda com algumas transparências e renda que uma loja tinha me enviado por correio (porque, afinal de contas, eu ganhava dinheiro para fazer propaganda) e fui dormir. O dia tinha sido muito cansativo e eu estava exausta.

***

No dia seguinte eu acordei super tarde e fui almoçar com as garotas. Ashley e Zelena queriam passar em algumas lojas e nós andamos a tarde toda procurando roupas e acessórios para a festa e postando snaps e stories para registrar tudo.
, aquele cara da banda deu um like na sua foto — Zelena disse sorrindo de um jeito malicioso.
— Quem? Nem eu vi isso ainda, cadê? — perguntei e peguei o celular com capinha de unicórnio de sua mão.
— Eu sigo o no Instagram, aí o nome dele apareceu aqui na sua foto de ontem.
— Aaah, como você tá linda! E eu amo as lingeries da Ann Summers — Ashley disse ao olhar a foto. — Vamos dar uma passada lá também? Queria algo legal pra mostrar pro Darius...
— Vamos, é a uma quadra daqui só. A Ann Summers tem uns conjuntos de lingerie muito provocantes e lindos, mas eu acho a Intimissimi mais confortável, sem deixar de ser sensual. — Zelena analisou rapidamente.
— Caramba, que tiro. Vocês viram aquele cara? — eu falei enquanto a gente atravessava a rua. — E eu nem curto asiáticos, mas aquele cara era lindo!
— Por isso que eu gosto da minha vida de solteira — Zelena disse para nós e piscando para ele.
— Você não perde tempo mesmo, né? — disse Ashley rindo.
— Eu sabia que você falaria isso — Zelena suspirou. — Mas é que eu sou desapegada, diferente de vocês duas tontas apaixonadas.
— Contra fatos não há argumentos — Ashley disse dando de ombros. — Darius é a melhor coisa que me aconteceu neste ano.
— Awnn que fofa você! — eu disse.
Já na loja, Ashley pegou um conjunto preto de couro e tiras, bem estilo dominatrix.
— Ok, não é mais tão fofa — eu disse surpresa porque ela parecia que ia realmente experimentar aquilo.
— Gosto assim — Zelena fez um joinha aprovando.
Nós vimos a loja inteira e eu gastei mais do que deveria, mas peças na promoção nunca são demais... E claro, eu preciso de um conjunto de cada cor.

Voltamos para o prédio depois de jantarmos num restaurante japonês e eu fui pro meu apartamento deixar as minhas coisas. Estava cheia de sacolas, ainda bem que ninguém entrou no elevador comigo. Tirei as etiquetas, separei por cor e botei tudo pra lavar. Não dá pra deixar as coisas pra última hora, a festa já era amanhã e eu estava com medo das roupas não secarem a tempo. Lavei até algumas coisas da Sona que estavam no cesto dela, porque sim, eu não era uma boa amiga, eu era uma ótima amiga.
Passei uma meia hora no celular só vendo o Facebook, mensagens, e-mails, etc. O tinha visualizado e comentado TODOS os meus stories do Instagram! Se isso não era interesse, eu não sei o que era. Mas aí eu vi que ele também tinha curtido todas as fotos da Zelena e da Ashley, então ele podia ser só um serial liker mesmo. Abri meu twitter para postar a minha empolgação com a festa de amanhã e fiquei mais um tempo vendo as fofocas do mundo todo pelos trending topics.
Na moral, eu fico tão enojada e com raiva lendo sobre os assédios sexuais e acusações de estupro. Eu sei que homens também sofrem essas coisas, mas em uma proporção muito menor. Mesmo que eles tenham vergonha de falar publicamente sobre isso, muitas mulheres também têm. Então se todos falassem, o assédio dos homens continuaria sendo menor. O que não deixa de ser grave, mas é de querer furar meus olhos a quantidade de comentário “mas nem todo homem” embaixo das notícias das mulheres que tiveram coragem de expor seus algozes. Quando a notícia é sobre um homem, as mulheres não vão lá comentar “mas nem toda mulher” é isso, faz aquilo, etc.
Terminei meu dia estendendo as roupas, curtindo pelo menos 15 fotos do de uma vez e me sentindo ridícula ao fazer isso; e ouvindo novamente as músicas deles no Spotify enquanto tomava um banho relaxante e aromatizado na banheira. Quase dormi lá.


Capítulo 2


Apesar de quase ter dormido na banheira, as coisas foram bem diferentes quando eu deitei na cama. Meu cérebro não parava um minuto e era como se várias linhas de pensamento estivessem brigando pela minha atenção. Eu pensava em todas as coisas que tinha que fazer no dia seguinte e tentava organizá-las num cronograma, por exemplo, que horas teria de levantar da cama, o que eu comeria ou não para não correr risco nenhum de ficar estufada ou passar mal na festa; se iria ao apê de Ashley para me arrumar lá com as garotas ou se era melhor ficar aqui e me arrumar sozinha... Até que eu adormeci.
Acordei um pouco atrasada porque não ouvi o alarme do celular e o dia passou como se alguém tivesse cortado as minhas horas pela metade: esmalte, passar ferro na roupa da festa, banho, depilação, arrumar o cabelo, fazer uma maquiagem caprichada de mais de 1 hora, comer e beber muita água para não ficar desidratada, deixar o celular e a bateria externa 100% carregados, ajudar as amigas a escolher as roupas no grupo do WhatsApp... Às vezes eu odiava ser mulher. Pros homens parecia ser tão mais fácil... Um banho, um gel no cabelo (ou não), fazer a barba, botar o terno e GGWP (good game well played). Estavam prontos e lindos.
Darius mandou no grupo que havia acabado de terminar a centésima partida de Overwatch e que tinha cansado de esperar. Tinha chamado um Uber e nós tínhamos apenas mais 7 minutos para ficarmos prontas. Só deu tempo de jogar um perfume, dar uma ajeitada no espelho, pegar a bolsa e torcer para não ter esquecido nada.
Durante o trajeto eu abri o Instagram e vi que o havia postado uma foto deles curtindo a festa. O tinha saído muito (repito: MUITO) gato, mesmo não olhando pra foto. Todos estavam muito estilosos na verdade, mas eu só tinha olhos para o meu crush. Por que eu não poderia ser mais como a Zelena? Eu com certeza me sentiria menos trouxa.
Havia um pequeno congestionamento na frente do Hotel Warwick, mas normal. Não era pela nossa wrap party, aparentemente eram as fãs de uma banda coreana chamada BTS (de acordo com os cartazes que eu podia ler da janela do carro) esperando para vê-los. Aaah, lembranças da minha adolescência. Quem nunca, né?
Meu coração acelerou assim que eu e meus amigos adentramos na festa, que ficava no salão do terraço. A melhor parte era a vista. Uma garçonete passou com uma bandeja cheia de taças de champagne, mas nós queríamos mesmo era os drinks coloridos e diferentes do bar. Meus olhos passaram como um scanner pelo salão, mas era muito grande. Não achei o . Então nós fomos cumprimentando todos que apareciam pelo nosso caminho enquanto íamos em direção ao bar.
Nós encontramos com Kat, Fiora, Saoirse (a maquiadora) e tantos outros rostos conhecidos que deram tudo de si na produção do filme e pedimos uma rodada de tequila, a bebida da felicidade.
— Venham aqui Lucky, Jessie e Jayce! — Fiora nos chamou para tirarmos fotos.
Muito obrigada por este vestido maravilhoso, Sona! Você deveria estar aqui, pensei.
Eis que após várias fotos eu vejo os homens da banda conversando com outras mulheres da produção. OK, CALMA, vai dar tudo certo. O só está falando com a Cass porque não me viu ainda!
— Aquela cobra. — Eu disse para a Saoirse, olhando fulminantemente para os dois. — Ok, certo, desculpe, eu não deveria falar essas coisas só porque ela chegou na frente. Sororidade mandou lembranças.
— Não sei o que você viu nele, mana. — Saoirse disse sincera. — Mas se te consola, a sua maquiagem ficou incrível.
— Vindo de uma maquiadora profissional que eu admiro, consola sim. E muito! Vamos pegar mais bebida comigo? — eu perguntei fazendo charme, mesmo que Saoirse já estivesse com um copo cheio de um drink azul na mão.
— Vamos sim. Vou chamar a Kat.
— Você não está dando em cima da minha mulher, está? — Kat perguntou fingindo estar de olho em nós duas e fazendo pose botando as mãos na cintura.
— Eu sou sua mulher agora? Finalmente! — Saoirse disse roubando um selinho de Kat e eu roubei o drink de sua mão.
— FOCO NAS BEBIDAS, GAROTAS. — eu falei enquanto dava um gole naquele néctar dos deuses. Nem senti o gosto do álcool, o que tornou tudo mais perigoso.
— Alguém falou em bebidas?
Escutei atrás de mim aquela voz que não saía da minha cabeça graças ao Spotify. Eu me virei torcendo para ele estar sem a Cass e o cumprimentei.
— Oiii, ! — eu falei dando o meu melhor sorriso.
— Devolve a minha bebida, sua ladra! — Saoirse disse e saiu abraçada com Kat.
— Pelo visto você vai ter que ir pegar bebida comigo — disse. — Antes que alguém te roube de mim.
— Ah tá, não sou eu que estou te roubando de alguém, não? — eu perguntei, pensando que aquilo não poderia ser eu, mas a tequila falando.
— Que nada, eu esperei a noite toda para falar com você.
Dessa vez eu pedi um dry martini, e uma dose de Jameson. Ótima escolha.
— Mas e a Cass? — eu perguntei.
— Ah, ela disse que queria um autógrafo da banda. Mas ficava piscando e encostando no meu braço. — Ele falou rindo e eu me derreti pelo jeito dele.
— Então vai ver ela quer a mesma coisa que eu. — Falei e caminhei dançando até a pista.
— Eu não te puxo agora porque você tá segurando essa bebida, mas... Ah, deixa pra lá, eu não resisto. — Ele mal terminou de falar e se inclinou para me beijar.
Olha... Eu não sei se eram as bebidas ou se era mesmo a pegada dele. Mas eu estava me sentindo elevada, ou como dizem, nas nuvens. Beijá-lo me deu uma brisa que logo virou outra coisa, e enquanto nós nos beijávamos eu fui me sentindo tão bem que eu não queria mais parar, e eu precisava tê-lo por completo. Não sei quanto tempo passamos ali naquele frenesi, mas eu tive que perguntar:
— Você quer ir para outro lugar?
— Só vamos, . Está muito difícil pra mim... — ele disse meio envergonhado por não conseguir segurar sua excitação e eu vi o volume na sua calça.
Quis rir, mas sabia que iria cortar o clima, tadinho. Então me virei e disse para ele me seguir. Fui andando na frente para que desse para esconder aquilo e nós saímos da festa dando um tchauzinho rápido para quem cruzasse com a gente. Ainda bem que todo mundo também já estava bêbado e/ou ficando. Era feio não nos despedirmos de todo mundo? Era. Mas acho que qualquer um que tivesse nos visto na pista de dança teria entendido.
O elevador parecia que não ia chegar nunca, e quando chegou, já havia outras pessoas para pegá-lo conosco. Felizmente ninguém da festa.
— Você beija bem pra caralho — sussurrei no ouvido de .
— Você falando desse jeito só piora a minha situação — ele sussurrou de volta no meu ouvido e eu senti sua respiração no meu pescoço. Achei que fosse explodir de tesão ali mesmo.
Nós saímos do hotel e ele acenou para pegar um táxi. Antes que eu pudesse dar o meu endereço, afinal de contas a Sona não estaria lá, ele informou o dele para a motorista, que prontamente colocou num aplicativo de GPS. Tocava algum remix de MØ na rádio, e o álcool deixava o embalo da música tão melhor. Eu estava completamente envolvida cantando.
I just wanna spend the nights with you.
Do it like your mother said not to do. cantou junto comigo.
Quando chegamos na casa dele, nós demos boa noite à motorista e ele disse para ela ficar com o troco. Ele foi me guiando e subimos num instante para o quarto, onde recomeçamos a nos beijar. A cortina entreaberta e a tela de espera do computador iluminavam o necessário para que eu visse a sombra das coisas e não tropeçasse em nada até chegar à cama. O álcool e meu salto alto não estavam me ajudando, muito menos os beijos no pescoço que o me dava.


Capítulo 3


Fechei a cortina totalmente porque aquele show tinha de ser apenas meu e de nenhum paparazzi, e depois voltei a minha atenção para o pescoço de . Ouvir seus gemidos baixinhos enquanto a acariciava era melhor que música para os meus ouvidos. Achei que estivesse no domínio da situação, com a minha mão esquerda em sua cintura, puxando-a para mais perto, e a direita tocando seus seios macios; mas ela resolveu brigar pelo controle e tomar o poder. Ela se afastou um pouco de mim e me jogou na cama, e eu tateei minha luminária para que tivéssemos um pouco de luz, sem tirar meus olhos daquele espetáculo de mulher.
Ela pegou o celular bem rápido e colocou numa playlist. Cara, eu não acreditava no que estava acontecendo... Ela abriu o zíper lateral do seu vestido e foi tirando de um jeito sensual, sem perder o ritmo da música. Era algo natural pra ela e ela ganhou pontos comigo por não ser perdida na melodia. Querendo ou não são as pequenas coisas que fazem um músico se apaixonar, mas mesmo se ela não tivesse muito ritmo, acho que ela seria a minha exceção.
Sem tirar suas sandálias, ela se sentou em cima de mim vestindo apenas sua calcinha, levantou a postura e colocou seu tronco pra frente, me dando permissão para chupar seus seios. Eu dei uma boa olhada antes; eu podia estar bêbado, mas não queria me esquecer daquela visão que era a seminua no meu colo. Eu comecei a chupar com vontade aqueles peitos, mas tomando cuidado para não machucá-la, e ia passando a mão pelo seu corpo e trazendo-a para mais perto pela cintura.
Eu conseguia sentir suas mãos na minha cabeça; os dedos delicados segurando forte enquanto ela gemia. A intensidade de seus agarrões variava conforme eu me empenhava em seus seios, até que ela saiu de cima de mim e começou a passar a mão no volume por cima da minha calça. Tirei a minha camisa e ela desabotoou e abriu o zíper da minha calça, o suficiente pra tirar meu pau pra fora.
Depois disso não havia palavras para descrever o que eu estava sentindo. Ela me chupava com vontade, dava para ver que ela estava se divertindo e gostava do que estava fazendo, e não fazia apenas por “obrigação”. O contato visual estava me matando, era como se eu estivesse hipnotizado. Eu tive que fechar os olhos e me concentrar muito para não gozar. Não queria decepcioná-la, mas ao mesmo tempo eu estava me segurando muito para não botar minhas mãos em sua cabeça e meter meu pau até gozar naquela boca quente e maravilhosa.
— É melhor você parar, senão eu não aguento — eu disse pausadamente.
Coloquei minha mão na sua calcinha e ela estava tão molhada que eu tive que tomar o poder de novo. Fui inclinando seu corpo para que ela se deitasse e abri suas pernas meio bruscamente. Ansiava por sentir tudo — o suor, o cheiro que aumentava o meu tesão, seu gosto; queria saborear cada gota da sua essência e usar a minha língua para beijar e contornar seus lábios. Introduzi dois dedos e continuei lambendo e beijando seu clitóris, ficando assim por um bom tempo. Eu poderia ficar ali pra sempre, só ouvindo seus gemidos e vendo-a se contorcer de prazer. Depois fui subindo e dando vários beijinhos na sua barriga, na pele macia entre os seios, em sua clavícula e com muito esforço, eu parei. Já estava ficando impaciente, meu pênis podia sentir como estava molhada através do tecido de sua calcinha, esta que eu queria só colocar pro lado e meter com força, mas peguei uma camisinha na cômoda antes de continuar.
Ela se sentou na cama apenas para colocar a mão na minha nuca e me puxar para cima dela de novo, enquanto me beijava ferozmente e mordiscava minha boca. Naquela noite era como se todos os meus sentidos estivessem aguçados, e não dormentes como o álcool às vezes me deixava. Tudo com ela estava sendo perfeito até demais, todos aqueles estímulos — a visão da mulher que eu admirava e nunca achei que fosse ter, a fragrância do seu perfume misturada com o suor de tudo que estávamos fazendo; seu toque firme e suas reações pelos meus toques em sua pele; seu sabor único, ainda que característico, e claro, ouvir seus gemidos e sua respiração entrecortada e sensual... Fui tomado pela melhor sensação da noite ao ver sua expressão de prazer e ouvi-la gemer alto enquanto eu a penetrava.
Após algum tempo nós trocamos de posição e eu me deitei atrás dela, para fazermos “de lado”. Ela pediu para eu enforcá-la um pouco, então eu usei meu braço que estava por baixo de seu pescoço para abracá-la mais forte e tapar sua boca, mas ela era uma safada que começou a lamber e chupar meus dedos. A minha outra mão explorava seu corpo por inteiro e a apertava. Que coxas, quadris, barriga, seios fenomenais. Estava perto do meu limite há algum tempo, então lambi a ponta dos meus dedos e coloquei-os em seu clitóris, massageando-o e penetrando-a com mais força. estava gemendo cada vez mais alto, puta merda que mulher era essa, eu pensei, seu deleite tornava as coisas quase impossíveis pra mim; então eu me foquei na música de sua playlist e torci para que funcionasse.
Senti seu corpo todo se contorcendo e dando umas tremidas leves, enquanto ela gemia e mordia meus dedos com mais força. Ao redor do meu membro tudo ficou mais apertado por alguns segundos, até que notei seu gozo tocando a minha glande. Infelizmente a camisinha cortava parte do que eu poderia estar experienciando, mas mesmo assim foi muito bom.
Dei-lhe um selinho e perguntei se estava bem. Ela estava sem fôlego, mas me deu permissão para continuar. Esperei algum tempo até que sua respiração se recompusesse e fiquei de joelhos na cama. Puxei seu quadril pra mim e a ajeitei de “quatro”, encaixando-me sem dificuldades dentro dela, que continuava com a cabeça no travesseiro. Montei sobre ela e com uma mão eu apertava seus seios, com a outra eu tentava me equilibrar na cama afundando sua cabeça cada vez mais no travesseiro e puxando seus cabelos. Acho que ela quase gozou de novo, mas eu fui muito rápido para que isso acontecesse.
Enquanto ela ficava deitada na cama eu fui ao banheiro jogar a camisinha fora e tomar uma ducha rápida. Cara, que noite! Eis que ela apareceu no banheiro e entrou na ducha comigo, começou a me tocar e a me beijar e o meu pau começou a dar pequenos sinais de vida de novo. Mas nós apenas nos ensaboamos e ficamos de boa. Ela parecia estar bem cansada, e eu achei que eu não estivesse tanto, mas foi só deitar na cama que o cansaço veio pesado pra cima de mim. Eu dei uma camiseta minha para ela usar de pijama, e ela estava tão linda daquele jeito meio desarrumado que eu me senti otário por não ter transado outra vez. Por fim ela deitou na cama e se ajeitou do meu lado, eu a abracei e caí no sono.


Capítulo 4


Apesar de eu não ter bebido tanto, eu sei que misturei muitas coisas. Acordei com um pouco de ressaca, morrendo de sede e meio quebrada (mas ok, isso provavelmente tinha outra razão). Fui ao banheiro e olhei para o desastre: o restante de maquiagem borrada ao redor dos olhos, o cabelo despenteado; a cara de uma noite mal dormida, mas muito bem aproveitada. Não havia muitas coisas que eu poderia usar para melhorar a minha aparência no banheiro dele, mas pelo menos tinha um enxaguante bucal e um pente.
Voltei para o quarto e continuava adormecido, mas havia mudado de posição. Terminei de me vestir, peguei a minha bolsa do chão e conectei o carregador portátil ao celular. Havia tantas mensagens que eu me arrependi de ter ligado meu 4G. Fiz um carinho nos cabelos de e o acordei com uns beijinhos.
— Bom dia, — falei e o vi se espreguiçar cheio de sono. Lindo até assim, puta que o pariu.
— Bom dia, linda. Você já está toda arrumada, que pressa é essa?
— Você sabe... Preciso ir embora... Minha colega de apartamento chega hoje e vou pegá-la no aeroporto. — Menti.
— Não precisa, não. Fica mais um pouco. Deixa que ela pede um Uber. — Ele pediu com uma voz manhosa que quase me convenceu.
— Bem que eu queria, mas realmente não posso...
— Tudo bem, me dá um minuto que eu já abro a porta pra você — ele disse e lentamente começou a se arrumar.
Eu fiquei olhando para o quarto e vendo seus objetos, a decoração e tudo mais que eu não tinha reparado na noite anterior. Pôsters de filmes antigos, fotos com os amigos, algumas roupas jogadas pelo chão... Seu celular vibrou com alguma notificação e a tela acendeu sozinha. Logo reparei no ícone do fogo do Tinder. Seria esquisito se déssemos match após essa noite, mas eu iria rir, afinal de contas não éramos nada mais do que um sexo casual. Não é apenas assim que funcionamos nos dias de hoje? A gente se apaixona pela noite e depois encontramos outro rostinho ou corpo bonito para nos divertir.
— Pronto. Tem certeza de que não quer ficar? — Ele perguntou se aproximando de mim, mas eu só lhe concedi um selinho.
— Não pode me beijar, não escovei os dentes! — reclamei, mas para o bem dele.
— Não ligo pra isso. Você não tem mau hálito.
— Tenho sim, só está disfarçado pelo seu antisséptico.
— Ok... Você não quer nem tomar um café da manhã?
— Não, obrigada, mas aceito uma água!
Pedi um Uber e descemos as escadas. Vi seus companheiros de banda na cozinha e os cumprimentei morrendo de vergonha... Quer dizer, eu sei que já sou uma mulher adulta e tal, mas mesmo assim, né? Dava um pouco de vergonha todos saberem que você passou a noite transando.
O Uber chegou e nós nos despedimos com um beijo no rosto. Ainda bem que eu sempre levava meus óculos escuros para onde quer que eu fosse, e aprendi isso da pior maneira na única vez que não os levei. Nunca mais fiquei sem eles. Já era ruim o suficiente ir pra casa com a roupa da noite anterior. Tipo, ninguém usaria um vestido e um salto alto brilhante desses a essa hora da manhã...

***

Cheguei no meu apê e fiz a coisa mais libertadora possível: troquei de roupa. Tirei o sutiã, botei uma calcinha de algodão, meu pijama e comecei a fazer um lanche e um nespresso na máquina que a Sona tinha comprado mês passado. Sorri lembrando da noite anterior. Mais um crush pra minha lista de conquistas. Agora era só passar para o próximo.




Fim.



Nota da autora: Agradecimentos especiais ao site e às garotas que tornaram esse Ficstape possível, e a você também, leitora que chegou até o final desta história. 😊
Agradecimentos aos meus amigos e amigas que me ajudaram dando seu feedback: André, Anne (Inu), Caio, Cah, Mr. H, Rê e S. (Ordem alfabética).

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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