Capítulo Único
grampeava, com um tanto de agressividade, o cartaz de trinta centímetros no poste de madeira no meio de uma rua semi deserta. Deu um passo para trás para observar como ele ficou, se ela não tinha grampeado de maneira torta, para poder sair dali e grampear em outros lugares. Entretanto, quando botou o pé esquerdo para trás, tropeçou no meio-fio da calçada, se desequilibrando e caindo em cima de alguém desconhecido; não sabendo se aquilo era sorte, pois amorteceu uma queda que seria muito feia, ou se era azar, por ser uma situação tão constrangedora.
Desesperada, a garota levantou imediatamente e seu rosto automaticamente corou, formando uma cor muito próxima de um pimentão. Ela ajudou o sujeito a se levantar, finalmente conseguindo ver o rosto dele... e ele não era um desconhecido.
Ele era , também conhecido como o seu colega em oitenta por cento das disciplinas em sua escola. Alto, cabelo castanho claro e cacheado até o começo do pescoço, toca violão, violino, piano, fala quatro línguas diferentes e é, claramente, a maior paixão platônica da vida de uma tímida .
― Ai meu Deus, , sinto muito! ― ela se desculpou, desesperada, sem nem ao mesmo perceber que tinha proferido mais palavras para ele em um minuto do que nos últimos dois anos como sua colega.
― Ei ei ei, não se preocupe... ― abriu aquele sorriso matador, fazendo gestos para que a garota se acalmasse e franzindo o cenho, tentando se lembrar do nome da colega, até que conseguiu. ― .
― Você se machucou? ― perguntou. ― Céus, eu sou tão desastrada.
― Está tudo bem, eu juro. ― o garoto ria levemente da preocupação dela. ― Mas o que você estava fazendo aqui?
― Eu estava só... ― ergueu o restante dos panfletos em sua mão. ― fazendo um favor ao meu irmão idiota.
Curioso, pegou um dos panfletos da mão de e o analisou, assentindo e fazendo um biquinho para indicar seu interesse.
― Bubblegummers. Um nome bem legal para uma banda. ― ele elogiou. ― O que eles tocam?
― Indie rock, geralmente. ― ela respondeu e, à medida que se recuperava da queda, ficava mais nervosa por estar falando com a sua paixão de escola. ― Mas eles também fazem covers de folk, classic rock e pop.
― E eles são bons? ― questionou de novo.
― Sou suspeita para falar, mas digamos que o que o meu irmão tem de irritante, ele tem de talentoso. ― logo percebeu que por não conhecê-la direito e muito menos o seu irmão, aquilo poderia não ser uma resposta adequada para , então passou a ficar nervosa e a falar mais do que o normal. ― E é claro, você não o conhece, então não tem como saber se ele é realmente irritante, mas acredite, ele é. Por isso que eu disse aquilo, mas fui burra demais para perceber que você talvez não entendesse e...
― Eu entendi, . ― ele riu levemente da personalidade desastrada da garota, achando até um tanto fofa. ― Acho que talvez apareça para esse show, parece que vai ser bom.
― Estaremos esperando por você, então. ― a garota cordialmente disse, mas com a voz ofegante, típico de quando ela se sentia acanhada.
Após alguns segundos encarando os hipnotizantes olhos castanho-esverdeados de e sentindo as bochechas arderem quando o mesmo percebeu, murmurou um breve “até mais” e saiu para pendurar mais panfletos pela rua, mas nunca esquecendo aquela interação.
(...)
Nada que se refletia no espelho parecia o suficiente para , que se frustrava com absolutamente qualquer combinação de roupas que usava. Olhou para o lado, onde sua cama se encontrava, mas mal dava para observar que ali havia uma cama, já que a mesma estava consumida pela pilha de roupas recusada pela garota.
― , qual é! Vamos nos atrasar! ― ela ouviu a voz reclamona do irmão mais velho e logo virou seu corpo para a porta, onde ele estava ali com a expressão irritada.
― Sinto muito Phillip, mas eu não consigo achar nada para usar! ― a irmã se justificou, formando um beicinho.
Sem paciência, Phillip caminhou até a pilha de roupas na cama da irmã e pegou aleatoriamente um vestido de veludo preto com mangas compridas e uma bota coturno, entregando para ela.
― Vai ser isso e assim que você se vestir, vá direto para o carro! ― ele mandou, fazendo a garota suspirar.
― Eu ainda tenho que fazer a minha maquiagem! ― com aquela resposta, o rosto do irmão foi se contraindo e indo de irritado para furioso, então cedeu. ― Tudo bem, farei apenas um delineado e colocar um batom, vai ser rápido, eu juro.
Phillip saiu do quarto enquanto ainda encarava a irmã com um olhar desconfiado, sem tirá-los de sua visão até que a garota sumisse de seu campo. riu fraco da reação do irmão, mas logo fez o que ele pediu. Na verdade, ela até gostou do que ele escolheu; o vestido preto deixava quase a metade de suas costas nuas e ressaltava ótimos aspectos do seu corpo, a bota coturno combinava bastante e deixava o estilo um pouco mais descontraído, mais adequado para o ambiente do show.
Embora não fizesse o tipo que se vestisse por homens, ela não podia evitar pensar “será que vai gostar disso?”. Assim que terminou seu delineado, a garota guardou a maquiagem e voltou a se olhar no espelho, alisando seu vestido e borrifando o seu perfume, gostando do resultado que via e mal podendo esperar para que a visse também.
Assim que entrou no carro, Phillip já parecia mais calmo, mas estranhou quando a irmã apareceu com as pernas tremendo e tentando regular a própria respiração.
― Você parece mais nervosa do que eu. ― ele fez a observação. ― O que aconteceu para você estar assim?
― Nada. ― ela tentou o despistar, sem sucesso.
― Eu te vi de fraldas, , então eu sei quando você está mentindo. ― Phillip, mesmo mantendo os olhos na rua, encarou a irmã por alguns segundos com o cenho franzido.
respirou fundo, pensando se deveria falar para ele sobre . Phillip era dois anos mais velho que ela e foi seu primeiro melhor amigo. Na época em que os dois iam para a escola, antes do garoto ir para a faculdade, viviam grudados nos corredores junto com o grupo de amigos do garoto. Ele era mais do que apenas seu irmão e ela lhe contava absolutamente tudo, então por que se sentia nervosa para falar sobre aquilo?
― Tem um garoto... ― ela contou, um tanto quanto hesitante e olhando para os próprios pés. ― E ele vem para o show.
― Ah, que garoto? ― perguntou, curioso para saber quem roubou o coração da irmãzinha, uma tarefa que ele sabia que não era fácil, considerando que um de seus amigos já tinha gostado dela.
― . ― respondeu esperando a reação de Phillip, que na realidade parecia um tanto quanto sem expressão.
― ? O cara que namorou a Celina Hewitt? ― questionou. Celina Hewitt era basicamente a “rainha” do Veep High School, a escola que ambos estudaram. Popular, organizadora de todos os eventos sociais, líder de torcida e rainha de absolutamente todos os bailes de primavera, inverno, boas-vindas e futuramente de formatura.
― Sim, ele mesmo. ― ela confirmou.
― Desde quando vocês estão saindo?
― Desde nunca. ― ela brincou, rindo. ― Eu só... tenho uma quedinha por ele, só isso.
Tudo que ouviu sair da boca de Phillip após aquilo foi um “hum”, o que fez com que ela achasse aquela reação um tanto quanto estranha, vinda do irmão.
― O que houve? Você não gosta dele? ― foi a vez dela de fazer as perguntas.
― Não é isso, nunca falei com esse cara, só ouvi algumas coisas sobre ele. ― Phillip respondeu, dando de ombros.
― Que coisas?
― Ele vive se metendo em brigas com outros garotos, já discutiu com a Celina várias vezes em público nas festas, bateu o carro do pai dele, entre outras coisas. ― o irmão contou, chocando um pouquinho, mesmo que ela mesma já tinha ouvido sobre algumas daquelas situações. Vendo como ela ficou chateada, Phillip suspirou e voltou a falar. ― Mas ei, se você gosta dele, talvez ele tenha mudado. Você não é de gostar de qualquer um, certo?
― Certo. ― ela respondeu quase sussurrando e com a cabeça baixa.
Quando chegaram no clube em que a banda de Phillip tocaria, ajudou ele e aos outros membros a tirar os equipamentos da van que tinha chegado alguns segundos depois. Também foi uma ótima guia para que os garotos se acalmassem, obrigando-os a fazerem alguns exercícios de respiração.
Depois de tudo, antes do começo do show a garota se juntou ao resto da plateia, não deixando de checar a porta a cada cinco segundos para ver se não aparecia. Aquelas checadas foram em vão por pelo menos quinze minutos, quando ele finalmente surgiu em toda a sua glória. Vestindo uma jaqueta jeans por cima de uma camisa preta, calça também jeans azul e com seu cabelo cacheado preso, aquela imagem quase fez a pressão da pobre cair.
olhou para todos os lados, procurando por algo ou alguém, até que pousou seu olhar em e sorriu, acenando e enfrentando a multidão para ir até ela.
― Uau, esse lugar está cheio! ― ele comentou assim que se aproximou dela.
― É. ― ela assentiu e riu fraco. ― Meu irmão e os outros caras da banda estavam hiperventilando no mesmo ritmo de tanto nervosismo, foi bem engraçado.
― Rindo do desespero do seu irmão, hein? Que irmã maravilhosa. ― foi irônico, soltando a sua maravilhosa risada.
― Nós temos os nossos momentos. ― deu de ombros e riu junto. Sem nem perceber, ela já se sentia à vontade ao lado dele. ― Então, você veio sozinho?
― Não, gosto de fazer essas coisas sozinho. ― respondeu, mas logo olhou para ela e sorriu. ― Mas na verdade não estou sozinho, estou com você.
Naquele exato momento, sentiu o seu coração e suas bochechas aquecerem ao mesmo tempo.
― Quanto tempo faz que somos colegas? Quatro, cinco anos? ― perguntou. ― Nós mal vemos um ao outro longe da escola.
― Cinco. ― ela assentiu. ― E a vez do panfleto foi a primeira vez que nos falamos.
― Na verdade, não foi. ― ele revelou, fazendo a boca de formar um perfeito “o”, de tão chocada que ela ficou.
― Sim, foi! ― insistiu, indignada.
― Oitavo ano do Ensino Fundamental. Você joga uma bola de queimada no meu rosto durante a educação física, eu vou parar na enfermaria e você fica desesperada me pedindo desculpa a cada três segundos. Primeiro ano do Ensino Médio, estou prestes a rodar em física, a professora me indica você como tutora e você me salva e eu digo que te deverei algo para sempre. ― a relembrou e a surpreendeu com o tanto de detalhes que se lembrava.
― Ai meu Deus, como que eu não lembrei disso? ― questionou não apenas para ele, mas para si mesma; ela era completamente louca por , como é que tinha deixado acontecimentos daquela magnitude escapar da sua mente?
― Bem, naquelas épocas o meu cabelo era muito estranho, meus dentes eram tortos e meu rosto era preenchido por espinhas... ― ele riu de si mesmo, mas logo se tocou sobre o que falava. ― Não estou dizendo que sou lindo agora e que você me nota por causa disso, na verdade eu nem sei se você me nota, tudo que sei é que você tropeçou e caiu em cima de mim e agora estamos aqui.
― Me sinto tão mal por ter esquecido aquelas coisas, mil desculpas. ― balançava a cabeça negativamente, desaprovando de sua própria atitude.
― Está tudo bem. ― sorriu e sentiu que todo o seu corpo derreteria.
A garota continuaria a falar com ele se não fosse pelo começo do show. Ela se forçou a não rir das expressões nervosas nos rostos dos garotos da banda, mas ficou feliz quando notou o brilho em seus olhos quando eles viram quantas pessoas estavam ali.
parecia estar apreciando o show. Constantemente ela o pegava dançando um pouco e cantando junto com os covers, assim como o pegava olhando para ela, deixando-a intrigada, mas feliz. mal podia acreditar naquilo; estava em um show do seu irmão, com o cara que gostava que, embora pudesse não gostar dela no jeito romântico, parecia pelo menos ter uma certa apreciação por ela. Aquela noite com certeza seria inesquecível.
(...)
Algumas semanas tinham se passado após o show, e tudo estava absolutamente maravilhoso; e desenvolveram uma ótima amizade ― se viam nos intervalos entre aulas, no almoço e após a aula sempre achavam alguma atividade para fazerem juntos, seja ir ao cinema ou apenas ao parque para conversarem.
Descobriram que tinham muitas coisas em comum: o mesmo gosto para músicas, mesma opiniões para questões políticas, hobbys parecidos, entre outras. Entretanto, algo sério estava acontecendo; já não sentia mais uma mera paixão platônica por , ela estava se apaixonando por ele, de verdade. A situação estava começando a ficar desesperadora, mas ela também estava muito satisfeita com a amizade.
caminhava calmamente pelo corredor da escola. O professor estava doente, então tinha um período livre, mas não sabia o que fazer além de ficar à toa e esperar pela próxima aula. Um tempo depois, o som de lindos instrumentos sincronizados invadiram seus ouvidos, e ela decidiu segui-lo. Seus passos terminaram quando ela chegou na frente de uma sala de aula que havia uma porta de vidro que deixava todo o lado de dentro visível, e ali estava , concentrado no som de seu violino até que o professor pedisse para que ele e seus colegas parassem. não conseguia tirar os olhos dali, e ficou completamente envergonhada quando seu novo amigo a viu e acenou. Ela acenou de volta, mas não hesitou em sair correndo dali um segundo depois.
O sinal tocou assim que ficou de costas para a sala e, quando ela já tinha dado alguns passos em direção a qualquer lugar que não fosse perto de , ela sentiu uma mão no seu ombro e pulou de susto.
― Calma, , sou eu. ― anunciou, rindo da reação dela.
― Ah, desculpa. ― ela abriu um sorriso amarelado e pôs uma mecha de seu cabelo ondulado para trás da orelha.
― Então, tem uma nova loja de discos antigos incrível na Fifth Avenue, você quer ir lá depois da aula? ― ele sugeriu e, deixando seu coração desacelerar, demorou alguns segundos para responder.
― É, claro, será ótimo. ― ela respondeu quase sem fôlego. ― Bem, tenho que ir para minha aula de Biologia agora. Nos vemos depois?
― Nos vemos depois. ― riu enquanto assistia a amiga ir embora, achando o seu jeito um tanto quanto estranho e engraçado, mas fofo ao mesmo tempo.
(...)
A loja de discos antigos podia atacar a rinite de , mas mesmo assim ela se sentia no paraíso. Estar perto de todos aqueles clássicos a inspirava e a deixava mais animada do que o normal, e o seu parceiro não estava muito atrás disso. Os dois pareciam um casal de nerds assistindo e analisando os filmes de Star Wars, mas com música.
― Céus, eu amei essa loja! ― ela expressou assim que fez uma compra, olhando em volta com um sorriso incrível estampado no rosto antes de sair.
― Fico feliz. ― disse, abraçando-a de lado. ― Então, o que houve para você ficar tão agitada quando te convidei para vir aqui?
― Nada. ― ela tentou o cortar e pressionou os lábios ao terminar de falar, mas aquela resposta não foi suficiente para ele.
― , qual é, você pode me contar. ― continuou insistindo. Após muito pensar, finalmente cedeu e decidiu juntar a coragem para dizer a verdade para ele.
― Olhe, , eu não fui completamente honesta com você. ― se desfez do abraço dele e ficou na frente dele, sentindo o suor nas mãos só de pensar no que falaria em seguida.
― Como assim? ― ele pareceu não entender e franziu o cenho.
― Só quero que saiba que eu valorizo muito a nossa amizade, ok? ― ela tentou fazer com que ele se sentisse mais seguro antes de ela jogar uma bomba nele, mas aquilo só fez suspeitar ainda mais.
― Agora estou com medo. ― ele riu nervosamente. ― O que está acontecendo, ?
A garota pressionou os lábios, fechou os olhos e respirou fundo. Nunca tinha feito aquilo antes, nunca admitiu sua atração, tampouco sua paixão por alguém. A amizade de era recente, mas já significava tanto para e ela se sentia tão mal por estar prestes a estragar algo tão precioso em tão pouco tempo, porém ela já tinha certeza que se esperasse mais tempo, poderia explodir.
Os olhos castanho-esverdeados de olhavam-na com curiosidade e expectativa e, vendo a dificuldade que a garota estava tendo para desabafar, ele pegou a sua mão, o que só piorou as coisas. O toque dele era delicado e parecia pertencer ali, e isso fez todos os pelos do corpo de ouriçarem. Por fim, a coragem veio, pois ela sabia que se arrependeria de não dizer o que sentia e perder a possibilidade de ser um sentimento recíproco, afinal, se fosse, ela poderia sentir aquele toque, aquele olhar e aquele sorriso todos os dias.
― Estou apaixonada por você, . Pelo último ano eu comecei a ter uma paixãozinha platônica, uma queda por você, mas agora com a nossa amizade e te conhecendo melhor, essa quedinha se transformou em paixão e... ― suspirou pesadamente, tentando não tropeçar em suas palavras. ― eu sei que a probabilidade de você sentir o mesmo é pequena, mas só queria que você soubesse como realmente me sinto.
Esperando pela resposta dele, ficou nervosa quando parecia que não diria nada. Ele pareceu ficar um tanto quanto chocado, olhou para cima parecendo estar pensando em algo, mas logo baixou sua cabeça e desviou o seu olhar para ela.
― Você quer sair amanhã? ― perguntou.
― O quê? ― ficou extremamente confusa. Ele iria apenas ignorar o que ela disse?
― Hoje. Oito da noite. Eu e você no Alessandro’s. ― abriu um sorriso largo e pôs as mãos no bolso da calça, apenas aguardando aceitar.
― Alessandro’s é um restaurante chique. ― ela franziu o cenho e olhou para ele de maneira curiosa, sorrindo junto com ele. ― Isso significa que você sente o mesmo?
― Te vejo hoje à noite, . ― piscou o olho de uma maneira sedutora e saiu dali, deixando-a perplexa e confusa, mas satisfeita.
(...)
sacudiu as mãos e expirou pela boca. Sempre foi um cara confiante com si mesmo, mas, por alguma razão desconhecida por ele, estava nervoso com esse encontro. Assim que ocupou alguns segundos para respirar fundo e se acalmar, tocou na campainha ao lado da porta da casa de .
Ele se sentiu em um filme quando a garota apareceu; ela estava com um vestido azul-céu com um decote que ia até um pouco acima de seu umbigo, maquiagem que, ao invés de esconder sua beleza natural, realçava-a; ela pôs a maioria de seu cabelo para o lado esquerdo e fez com que eles ficassem mais cacheados. sentiu falta de ar ao assistir a imagem dela sorrindo para ele com seu batom rosa, pressentindo que estava prestes a ter uma ótima noite.
― Está pronto? ― ela perguntou enquanto fechava a porta atrás dela.
― Prontíssimo. ― respondeu e ofereceu o braço para a garota, que entrelaçou o dela no dele.
não tinha ideia do que esperar daquele encontro, só sabia que estava feliz que ele estava acontecendo.
Entretanto, assim que entrou na Captur de , as palavras de seu irmão no dia do show martelaram em sua mente sem parar, como se ela mesma estava tentando sabotar o próprio encontro antes mesmo de chegar no restaurante. Ela não queria acabar brigando com ele em público como Celina, ou aguentar seu temperamento difícil, mesmo que não se lembre de vê-lo fazendo tais coisas. Estando concentrado no trânsito, não percebeu o nervosismo e hesitação da garota, o que facilitou para que ela tivesse um tempo para ponderar sobre tudo.
O restaurante realmente a impressionou. Ela nunca tinha estado ali, mas já ouvira falar daquele lugar incrível, com seus lustres, luz baixa, clima romântica e comidas caras porém grandes e gostosas. foi um cavalheiro o tempo inteiro, então se sentiu mal em sentir a necessidade de fazer algumas perguntas para ele.
Assim que ambos terminaram suas saladas e esperavam seu jantar principal, encostou os dois braços na mesma e ficou o encarando, e fez o mesmo.
― Então, você gostou da salada? ― ele perguntou com os olhos semicerrados.
― Amei, e isso está vindo de uma garota que odeia comidas saudáveis. ― ela respondeu, temporariamente rindo, mas alguns segundos depois ela lambeu seus lábios com a ponta da língua e suspirou. ― Olha, tem algumas coisas que preciso te falar.
― Uau, você está muito reveladora hoje. ― ele brincou e sorriu, mas logo se mexeu na cadeira e inclinou-se para o encosto dela. ― Pode falar.
― Meu irmão me disse algumas coisas sobre você. ― começou. ― E eu sei que esse é nosso primeiro encontro e eu nem tenho certeza se você sente o mesmo que eu já que você não falou nada, mas... essas coisas simplesmente não saíram da minha mente no caminho para cá.
― Que coisas? ― pousou a mão em cima da dela, acariciando-a, o que fez com que sentisse uma onda de calma em se corpo.
― Só... algumas coisas sobre sua reputação. As discussões com a Celina Hewitt, as brigas com outros caras, quando você bateu o carro do seu pai e etc. ― naquele momento, se sentiu mal por mencionar todas aquelas coisas. Ela estava lá, num encontro em um restaurante caro onde pagaria nada, com o garoto dos seus sonhos, só sabendo falar de suas inseguranças.
― Ei, eu entendo. ― como um mágico, sentiu o clima de e viu que ela estava se sentindo abalada e ingrata ao dizer aquelas coisas.
Foi naquele momento que ele percebeu a ligação que tinha com ela, mesmo com suas poucas semanas de amizade. Contudo, ao invés de sentir medo daquilo, ele gostou. Melhor e mais estranho ainda: ele amou.
― Olha, sobre eu e a Celina... ― ele voltou a falar. ― Nós éramos terríveis um com o outro. Ela era uma má namorada, mas eu também não era um santo, na verdade, eu era ainda pior, mas nós nos reconciliamos e somos amigos agora. Eu realmente tinha um problema com brigas e raiva, mas fui para um acampamento no verão passado para pessoas como eu, e agora sou controlado. A coisa com o carro do meu pai foi apenas um acidente e, acredite, até hoje eu pago por isso.
― Entendi. Sinto muito por ter tocado nesses assuntos. ― ela se desculpou e mordeu o lábio inferior, lançando um olhar fofo para ele.
― Está tudo bem, se sentir assim é normal. ― abriu um sorriso reconfortante e olhou sedutoramente para ela. ― E sobre sua dúvida se eu sinto o mesmo...
― Sim? ― sentia que seu coração estava prestes a sair pela boca.
― Como você acha que eu me lembro de absolutamente todas as nossas interações, ? ― ele fez a pergunta retórica. ― Eu sempre te notei. Assim como você tinha uma quedinha por mim, eu tinha por você. Mas você era tão tímida e ficava tão retraída quando falava com alguém que eu pensava que estaria te incomodando. E quando eu fiquei mais confiante e mais popular, achei que não seria bom o suficiente, você sempre foi tão inteligente, obediente e educada e eu... Bem, sou eu.
― Mas como você sequer me notou? Quer dizer, eu sou tão... ― ela tentava procurar a palavra certa, mas não conseguia. ― apagada.
― Desde aquela bolada da queimada na educação física, seu pedido desesperado de desculpas e suas bochechas vermelhas nunca saíram da minha mente.
nunca abriu um sorriso tão grande quanto o que abriu após ouvir aquelas palavras de . Eles seguiram o jantar normalmente, conversando sobre outros assuntos, mas nenhum dos dois esqueceu daquela conversa.
Exatamente 22:30h da noite, deixou em sua casa e ele fez questão de caminhar com ela até a porta e ficar de mãos dadas.
No momento em que seus lábios se aproximavam enquanto eles se despediam, todas as dúvidas e inseguranças saíram da mente de e ela apenas se concentrou naquele beijo contagiante maravilhoso.
Desesperada, a garota levantou imediatamente e seu rosto automaticamente corou, formando uma cor muito próxima de um pimentão. Ela ajudou o sujeito a se levantar, finalmente conseguindo ver o rosto dele... e ele não era um desconhecido.
Ele era , também conhecido como o seu colega em oitenta por cento das disciplinas em sua escola. Alto, cabelo castanho claro e cacheado até o começo do pescoço, toca violão, violino, piano, fala quatro línguas diferentes e é, claramente, a maior paixão platônica da vida de uma tímida .
― Ai meu Deus, , sinto muito! ― ela se desculpou, desesperada, sem nem ao mesmo perceber que tinha proferido mais palavras para ele em um minuto do que nos últimos dois anos como sua colega.
― Ei ei ei, não se preocupe... ― abriu aquele sorriso matador, fazendo gestos para que a garota se acalmasse e franzindo o cenho, tentando se lembrar do nome da colega, até que conseguiu. ― .
― Você se machucou? ― perguntou. ― Céus, eu sou tão desastrada.
― Está tudo bem, eu juro. ― o garoto ria levemente da preocupação dela. ― Mas o que você estava fazendo aqui?
― Eu estava só... ― ergueu o restante dos panfletos em sua mão. ― fazendo um favor ao meu irmão idiota.
Curioso, pegou um dos panfletos da mão de e o analisou, assentindo e fazendo um biquinho para indicar seu interesse.
― Bubblegummers. Um nome bem legal para uma banda. ― ele elogiou. ― O que eles tocam?
― Indie rock, geralmente. ― ela respondeu e, à medida que se recuperava da queda, ficava mais nervosa por estar falando com a sua paixão de escola. ― Mas eles também fazem covers de folk, classic rock e pop.
― E eles são bons? ― questionou de novo.
― Sou suspeita para falar, mas digamos que o que o meu irmão tem de irritante, ele tem de talentoso. ― logo percebeu que por não conhecê-la direito e muito menos o seu irmão, aquilo poderia não ser uma resposta adequada para , então passou a ficar nervosa e a falar mais do que o normal. ― E é claro, você não o conhece, então não tem como saber se ele é realmente irritante, mas acredite, ele é. Por isso que eu disse aquilo, mas fui burra demais para perceber que você talvez não entendesse e...
― Eu entendi, . ― ele riu levemente da personalidade desastrada da garota, achando até um tanto fofa. ― Acho que talvez apareça para esse show, parece que vai ser bom.
― Estaremos esperando por você, então. ― a garota cordialmente disse, mas com a voz ofegante, típico de quando ela se sentia acanhada.
Após alguns segundos encarando os hipnotizantes olhos castanho-esverdeados de e sentindo as bochechas arderem quando o mesmo percebeu, murmurou um breve “até mais” e saiu para pendurar mais panfletos pela rua, mas nunca esquecendo aquela interação.
Nada que se refletia no espelho parecia o suficiente para , que se frustrava com absolutamente qualquer combinação de roupas que usava. Olhou para o lado, onde sua cama se encontrava, mas mal dava para observar que ali havia uma cama, já que a mesma estava consumida pela pilha de roupas recusada pela garota.
― , qual é! Vamos nos atrasar! ― ela ouviu a voz reclamona do irmão mais velho e logo virou seu corpo para a porta, onde ele estava ali com a expressão irritada.
― Sinto muito Phillip, mas eu não consigo achar nada para usar! ― a irmã se justificou, formando um beicinho.
Sem paciência, Phillip caminhou até a pilha de roupas na cama da irmã e pegou aleatoriamente um vestido de veludo preto com mangas compridas e uma bota coturno, entregando para ela.
― Vai ser isso e assim que você se vestir, vá direto para o carro! ― ele mandou, fazendo a garota suspirar.
― Eu ainda tenho que fazer a minha maquiagem! ― com aquela resposta, o rosto do irmão foi se contraindo e indo de irritado para furioso, então cedeu. ― Tudo bem, farei apenas um delineado e colocar um batom, vai ser rápido, eu juro.
Phillip saiu do quarto enquanto ainda encarava a irmã com um olhar desconfiado, sem tirá-los de sua visão até que a garota sumisse de seu campo. riu fraco da reação do irmão, mas logo fez o que ele pediu. Na verdade, ela até gostou do que ele escolheu; o vestido preto deixava quase a metade de suas costas nuas e ressaltava ótimos aspectos do seu corpo, a bota coturno combinava bastante e deixava o estilo um pouco mais descontraído, mais adequado para o ambiente do show.
Embora não fizesse o tipo que se vestisse por homens, ela não podia evitar pensar “será que vai gostar disso?”. Assim que terminou seu delineado, a garota guardou a maquiagem e voltou a se olhar no espelho, alisando seu vestido e borrifando o seu perfume, gostando do resultado que via e mal podendo esperar para que a visse também.
Assim que entrou no carro, Phillip já parecia mais calmo, mas estranhou quando a irmã apareceu com as pernas tremendo e tentando regular a própria respiração.
― Você parece mais nervosa do que eu. ― ele fez a observação. ― O que aconteceu para você estar assim?
― Nada. ― ela tentou o despistar, sem sucesso.
― Eu te vi de fraldas, , então eu sei quando você está mentindo. ― Phillip, mesmo mantendo os olhos na rua, encarou a irmã por alguns segundos com o cenho franzido.
respirou fundo, pensando se deveria falar para ele sobre . Phillip era dois anos mais velho que ela e foi seu primeiro melhor amigo. Na época em que os dois iam para a escola, antes do garoto ir para a faculdade, viviam grudados nos corredores junto com o grupo de amigos do garoto. Ele era mais do que apenas seu irmão e ela lhe contava absolutamente tudo, então por que se sentia nervosa para falar sobre aquilo?
― Tem um garoto... ― ela contou, um tanto quanto hesitante e olhando para os próprios pés. ― E ele vem para o show.
― Ah, que garoto? ― perguntou, curioso para saber quem roubou o coração da irmãzinha, uma tarefa que ele sabia que não era fácil, considerando que um de seus amigos já tinha gostado dela.
― . ― respondeu esperando a reação de Phillip, que na realidade parecia um tanto quanto sem expressão.
― ? O cara que namorou a Celina Hewitt? ― questionou. Celina Hewitt era basicamente a “rainha” do Veep High School, a escola que ambos estudaram. Popular, organizadora de todos os eventos sociais, líder de torcida e rainha de absolutamente todos os bailes de primavera, inverno, boas-vindas e futuramente de formatura.
― Sim, ele mesmo. ― ela confirmou.
― Desde quando vocês estão saindo?
― Desde nunca. ― ela brincou, rindo. ― Eu só... tenho uma quedinha por ele, só isso.
Tudo que ouviu sair da boca de Phillip após aquilo foi um “hum”, o que fez com que ela achasse aquela reação um tanto quanto estranha, vinda do irmão.
― O que houve? Você não gosta dele? ― foi a vez dela de fazer as perguntas.
― Não é isso, nunca falei com esse cara, só ouvi algumas coisas sobre ele. ― Phillip respondeu, dando de ombros.
― Que coisas?
― Ele vive se metendo em brigas com outros garotos, já discutiu com a Celina várias vezes em público nas festas, bateu o carro do pai dele, entre outras coisas. ― o irmão contou, chocando um pouquinho, mesmo que ela mesma já tinha ouvido sobre algumas daquelas situações. Vendo como ela ficou chateada, Phillip suspirou e voltou a falar. ― Mas ei, se você gosta dele, talvez ele tenha mudado. Você não é de gostar de qualquer um, certo?
― Certo. ― ela respondeu quase sussurrando e com a cabeça baixa.
Quando chegaram no clube em que a banda de Phillip tocaria, ajudou ele e aos outros membros a tirar os equipamentos da van que tinha chegado alguns segundos depois. Também foi uma ótima guia para que os garotos se acalmassem, obrigando-os a fazerem alguns exercícios de respiração.
Depois de tudo, antes do começo do show a garota se juntou ao resto da plateia, não deixando de checar a porta a cada cinco segundos para ver se não aparecia. Aquelas checadas foram em vão por pelo menos quinze minutos, quando ele finalmente surgiu em toda a sua glória. Vestindo uma jaqueta jeans por cima de uma camisa preta, calça também jeans azul e com seu cabelo cacheado preso, aquela imagem quase fez a pressão da pobre cair.
olhou para todos os lados, procurando por algo ou alguém, até que pousou seu olhar em e sorriu, acenando e enfrentando a multidão para ir até ela.
― Uau, esse lugar está cheio! ― ele comentou assim que se aproximou dela.
― É. ― ela assentiu e riu fraco. ― Meu irmão e os outros caras da banda estavam hiperventilando no mesmo ritmo de tanto nervosismo, foi bem engraçado.
― Rindo do desespero do seu irmão, hein? Que irmã maravilhosa. ― foi irônico, soltando a sua maravilhosa risada.
― Nós temos os nossos momentos. ― deu de ombros e riu junto. Sem nem perceber, ela já se sentia à vontade ao lado dele. ― Então, você veio sozinho?
― Não, gosto de fazer essas coisas sozinho. ― respondeu, mas logo olhou para ela e sorriu. ― Mas na verdade não estou sozinho, estou com você.
Naquele exato momento, sentiu o seu coração e suas bochechas aquecerem ao mesmo tempo.
― Quanto tempo faz que somos colegas? Quatro, cinco anos? ― perguntou. ― Nós mal vemos um ao outro longe da escola.
― Cinco. ― ela assentiu. ― E a vez do panfleto foi a primeira vez que nos falamos.
― Na verdade, não foi. ― ele revelou, fazendo a boca de formar um perfeito “o”, de tão chocada que ela ficou.
― Sim, foi! ― insistiu, indignada.
― Oitavo ano do Ensino Fundamental. Você joga uma bola de queimada no meu rosto durante a educação física, eu vou parar na enfermaria e você fica desesperada me pedindo desculpa a cada três segundos. Primeiro ano do Ensino Médio, estou prestes a rodar em física, a professora me indica você como tutora e você me salva e eu digo que te deverei algo para sempre. ― a relembrou e a surpreendeu com o tanto de detalhes que se lembrava.
― Ai meu Deus, como que eu não lembrei disso? ― questionou não apenas para ele, mas para si mesma; ela era completamente louca por , como é que tinha deixado acontecimentos daquela magnitude escapar da sua mente?
― Bem, naquelas épocas o meu cabelo era muito estranho, meus dentes eram tortos e meu rosto era preenchido por espinhas... ― ele riu de si mesmo, mas logo se tocou sobre o que falava. ― Não estou dizendo que sou lindo agora e que você me nota por causa disso, na verdade eu nem sei se você me nota, tudo que sei é que você tropeçou e caiu em cima de mim e agora estamos aqui.
― Me sinto tão mal por ter esquecido aquelas coisas, mil desculpas. ― balançava a cabeça negativamente, desaprovando de sua própria atitude.
― Está tudo bem. ― sorriu e sentiu que todo o seu corpo derreteria.
A garota continuaria a falar com ele se não fosse pelo começo do show. Ela se forçou a não rir das expressões nervosas nos rostos dos garotos da banda, mas ficou feliz quando notou o brilho em seus olhos quando eles viram quantas pessoas estavam ali.
parecia estar apreciando o show. Constantemente ela o pegava dançando um pouco e cantando junto com os covers, assim como o pegava olhando para ela, deixando-a intrigada, mas feliz. mal podia acreditar naquilo; estava em um show do seu irmão, com o cara que gostava que, embora pudesse não gostar dela no jeito romântico, parecia pelo menos ter uma certa apreciação por ela. Aquela noite com certeza seria inesquecível.
Algumas semanas tinham se passado após o show, e tudo estava absolutamente maravilhoso; e desenvolveram uma ótima amizade ― se viam nos intervalos entre aulas, no almoço e após a aula sempre achavam alguma atividade para fazerem juntos, seja ir ao cinema ou apenas ao parque para conversarem.
Descobriram que tinham muitas coisas em comum: o mesmo gosto para músicas, mesma opiniões para questões políticas, hobbys parecidos, entre outras. Entretanto, algo sério estava acontecendo; já não sentia mais uma mera paixão platônica por , ela estava se apaixonando por ele, de verdade. A situação estava começando a ficar desesperadora, mas ela também estava muito satisfeita com a amizade.
caminhava calmamente pelo corredor da escola. O professor estava doente, então tinha um período livre, mas não sabia o que fazer além de ficar à toa e esperar pela próxima aula. Um tempo depois, o som de lindos instrumentos sincronizados invadiram seus ouvidos, e ela decidiu segui-lo. Seus passos terminaram quando ela chegou na frente de uma sala de aula que havia uma porta de vidro que deixava todo o lado de dentro visível, e ali estava , concentrado no som de seu violino até que o professor pedisse para que ele e seus colegas parassem. não conseguia tirar os olhos dali, e ficou completamente envergonhada quando seu novo amigo a viu e acenou. Ela acenou de volta, mas não hesitou em sair correndo dali um segundo depois.
O sinal tocou assim que ficou de costas para a sala e, quando ela já tinha dado alguns passos em direção a qualquer lugar que não fosse perto de , ela sentiu uma mão no seu ombro e pulou de susto.
― Calma, , sou eu. ― anunciou, rindo da reação dela.
― Ah, desculpa. ― ela abriu um sorriso amarelado e pôs uma mecha de seu cabelo ondulado para trás da orelha.
― Então, tem uma nova loja de discos antigos incrível na Fifth Avenue, você quer ir lá depois da aula? ― ele sugeriu e, deixando seu coração desacelerar, demorou alguns segundos para responder.
― É, claro, será ótimo. ― ela respondeu quase sem fôlego. ― Bem, tenho que ir para minha aula de Biologia agora. Nos vemos depois?
― Nos vemos depois. ― riu enquanto assistia a amiga ir embora, achando o seu jeito um tanto quanto estranho e engraçado, mas fofo ao mesmo tempo.
A loja de discos antigos podia atacar a rinite de , mas mesmo assim ela se sentia no paraíso. Estar perto de todos aqueles clássicos a inspirava e a deixava mais animada do que o normal, e o seu parceiro não estava muito atrás disso. Os dois pareciam um casal de nerds assistindo e analisando os filmes de Star Wars, mas com música.
― Céus, eu amei essa loja! ― ela expressou assim que fez uma compra, olhando em volta com um sorriso incrível estampado no rosto antes de sair.
― Fico feliz. ― disse, abraçando-a de lado. ― Então, o que houve para você ficar tão agitada quando te convidei para vir aqui?
― Nada. ― ela tentou o cortar e pressionou os lábios ao terminar de falar, mas aquela resposta não foi suficiente para ele.
― , qual é, você pode me contar. ― continuou insistindo. Após muito pensar, finalmente cedeu e decidiu juntar a coragem para dizer a verdade para ele.
― Olhe, , eu não fui completamente honesta com você. ― se desfez do abraço dele e ficou na frente dele, sentindo o suor nas mãos só de pensar no que falaria em seguida.
― Como assim? ― ele pareceu não entender e franziu o cenho.
― Só quero que saiba que eu valorizo muito a nossa amizade, ok? ― ela tentou fazer com que ele se sentisse mais seguro antes de ela jogar uma bomba nele, mas aquilo só fez suspeitar ainda mais.
― Agora estou com medo. ― ele riu nervosamente. ― O que está acontecendo, ?
A garota pressionou os lábios, fechou os olhos e respirou fundo. Nunca tinha feito aquilo antes, nunca admitiu sua atração, tampouco sua paixão por alguém. A amizade de era recente, mas já significava tanto para e ela se sentia tão mal por estar prestes a estragar algo tão precioso em tão pouco tempo, porém ela já tinha certeza que se esperasse mais tempo, poderia explodir.
Os olhos castanho-esverdeados de olhavam-na com curiosidade e expectativa e, vendo a dificuldade que a garota estava tendo para desabafar, ele pegou a sua mão, o que só piorou as coisas. O toque dele era delicado e parecia pertencer ali, e isso fez todos os pelos do corpo de ouriçarem. Por fim, a coragem veio, pois ela sabia que se arrependeria de não dizer o que sentia e perder a possibilidade de ser um sentimento recíproco, afinal, se fosse, ela poderia sentir aquele toque, aquele olhar e aquele sorriso todos os dias.
― Estou apaixonada por você, . Pelo último ano eu comecei a ter uma paixãozinha platônica, uma queda por você, mas agora com a nossa amizade e te conhecendo melhor, essa quedinha se transformou em paixão e... ― suspirou pesadamente, tentando não tropeçar em suas palavras. ― eu sei que a probabilidade de você sentir o mesmo é pequena, mas só queria que você soubesse como realmente me sinto.
Esperando pela resposta dele, ficou nervosa quando parecia que não diria nada. Ele pareceu ficar um tanto quanto chocado, olhou para cima parecendo estar pensando em algo, mas logo baixou sua cabeça e desviou o seu olhar para ela.
― Você quer sair amanhã? ― perguntou.
― O quê? ― ficou extremamente confusa. Ele iria apenas ignorar o que ela disse?
― Hoje. Oito da noite. Eu e você no Alessandro’s. ― abriu um sorriso largo e pôs as mãos no bolso da calça, apenas aguardando aceitar.
― Alessandro’s é um restaurante chique. ― ela franziu o cenho e olhou para ele de maneira curiosa, sorrindo junto com ele. ― Isso significa que você sente o mesmo?
― Te vejo hoje à noite, . ― piscou o olho de uma maneira sedutora e saiu dali, deixando-a perplexa e confusa, mas satisfeita.
sacudiu as mãos e expirou pela boca. Sempre foi um cara confiante com si mesmo, mas, por alguma razão desconhecida por ele, estava nervoso com esse encontro. Assim que ocupou alguns segundos para respirar fundo e se acalmar, tocou na campainha ao lado da porta da casa de .
Ele se sentiu em um filme quando a garota apareceu; ela estava com um vestido azul-céu com um decote que ia até um pouco acima de seu umbigo, maquiagem que, ao invés de esconder sua beleza natural, realçava-a; ela pôs a maioria de seu cabelo para o lado esquerdo e fez com que eles ficassem mais cacheados. sentiu falta de ar ao assistir a imagem dela sorrindo para ele com seu batom rosa, pressentindo que estava prestes a ter uma ótima noite.
― Está pronto? ― ela perguntou enquanto fechava a porta atrás dela.
― Prontíssimo. ― respondeu e ofereceu o braço para a garota, que entrelaçou o dela no dele.
não tinha ideia do que esperar daquele encontro, só sabia que estava feliz que ele estava acontecendo.
Entretanto, assim que entrou na Captur de , as palavras de seu irmão no dia do show martelaram em sua mente sem parar, como se ela mesma estava tentando sabotar o próprio encontro antes mesmo de chegar no restaurante. Ela não queria acabar brigando com ele em público como Celina, ou aguentar seu temperamento difícil, mesmo que não se lembre de vê-lo fazendo tais coisas. Estando concentrado no trânsito, não percebeu o nervosismo e hesitação da garota, o que facilitou para que ela tivesse um tempo para ponderar sobre tudo.
O restaurante realmente a impressionou. Ela nunca tinha estado ali, mas já ouvira falar daquele lugar incrível, com seus lustres, luz baixa, clima romântica e comidas caras porém grandes e gostosas. foi um cavalheiro o tempo inteiro, então se sentiu mal em sentir a necessidade de fazer algumas perguntas para ele.
Assim que ambos terminaram suas saladas e esperavam seu jantar principal, encostou os dois braços na mesma e ficou o encarando, e fez o mesmo.
― Então, você gostou da salada? ― ele perguntou com os olhos semicerrados.
― Amei, e isso está vindo de uma garota que odeia comidas saudáveis. ― ela respondeu, temporariamente rindo, mas alguns segundos depois ela lambeu seus lábios com a ponta da língua e suspirou. ― Olha, tem algumas coisas que preciso te falar.
― Uau, você está muito reveladora hoje. ― ele brincou e sorriu, mas logo se mexeu na cadeira e inclinou-se para o encosto dela. ― Pode falar.
― Meu irmão me disse algumas coisas sobre você. ― começou. ― E eu sei que esse é nosso primeiro encontro e eu nem tenho certeza se você sente o mesmo que eu já que você não falou nada, mas... essas coisas simplesmente não saíram da minha mente no caminho para cá.
― Que coisas? ― pousou a mão em cima da dela, acariciando-a, o que fez com que sentisse uma onda de calma em se corpo.
― Só... algumas coisas sobre sua reputação. As discussões com a Celina Hewitt, as brigas com outros caras, quando você bateu o carro do seu pai e etc. ― naquele momento, se sentiu mal por mencionar todas aquelas coisas. Ela estava lá, num encontro em um restaurante caro onde pagaria nada, com o garoto dos seus sonhos, só sabendo falar de suas inseguranças.
― Ei, eu entendo. ― como um mágico, sentiu o clima de e viu que ela estava se sentindo abalada e ingrata ao dizer aquelas coisas.
Foi naquele momento que ele percebeu a ligação que tinha com ela, mesmo com suas poucas semanas de amizade. Contudo, ao invés de sentir medo daquilo, ele gostou. Melhor e mais estranho ainda: ele amou.
― Olha, sobre eu e a Celina... ― ele voltou a falar. ― Nós éramos terríveis um com o outro. Ela era uma má namorada, mas eu também não era um santo, na verdade, eu era ainda pior, mas nós nos reconciliamos e somos amigos agora. Eu realmente tinha um problema com brigas e raiva, mas fui para um acampamento no verão passado para pessoas como eu, e agora sou controlado. A coisa com o carro do meu pai foi apenas um acidente e, acredite, até hoje eu pago por isso.
― Entendi. Sinto muito por ter tocado nesses assuntos. ― ela se desculpou e mordeu o lábio inferior, lançando um olhar fofo para ele.
― Está tudo bem, se sentir assim é normal. ― abriu um sorriso reconfortante e olhou sedutoramente para ela. ― E sobre sua dúvida se eu sinto o mesmo...
― Sim? ― sentia que seu coração estava prestes a sair pela boca.
― Como você acha que eu me lembro de absolutamente todas as nossas interações, ? ― ele fez a pergunta retórica. ― Eu sempre te notei. Assim como você tinha uma quedinha por mim, eu tinha por você. Mas você era tão tímida e ficava tão retraída quando falava com alguém que eu pensava que estaria te incomodando. E quando eu fiquei mais confiante e mais popular, achei que não seria bom o suficiente, você sempre foi tão inteligente, obediente e educada e eu... Bem, sou eu.
― Mas como você sequer me notou? Quer dizer, eu sou tão... ― ela tentava procurar a palavra certa, mas não conseguia. ― apagada.
― Desde aquela bolada da queimada na educação física, seu pedido desesperado de desculpas e suas bochechas vermelhas nunca saíram da minha mente.
nunca abriu um sorriso tão grande quanto o que abriu após ouvir aquelas palavras de . Eles seguiram o jantar normalmente, conversando sobre outros assuntos, mas nenhum dos dois esqueceu daquela conversa.
Exatamente 22:30h da noite, deixou em sua casa e ele fez questão de caminhar com ela até a porta e ficar de mãos dadas.
No momento em que seus lábios se aproximavam enquanto eles se despediam, todas as dúvidas e inseguranças saíram da mente de e ela apenas se concentrou naquele beijo contagiante maravilhoso.
Fim
Nota da autora: Oi amores, aqui estou eu, NOVAMENTE, COM OUTRO FICSTAPE HAHAHAHAH Claramente meu nível de autocontrole é -100. Espero que tenham gostado desse, eu não tava com muita fé nele, mas eu engatei e acho que ficou bem legal e muito amorzinho. Muito obrigada se você leu até aqui e não deixe de comentar o que achou <3
Outras Fanfics:
Before The Sunset: Originais/Em andamento
The Night We Met: Outros/Em andamento
03. Everybody's Watching Me: Ficstape: The Neighbourhood - I Love You
07. Gonna Get Caught: Ficstape: Demi Lovato - Don't Forget
09. Scars: Ficstape: Miley Cyrus - Can't Be Tamed
10. SOS: Ficstape: Abba Gold - Greatest Hits
14. Everytime: Ficstape: Britney Spears - The Essential
15. She Don't Like The Lights: Ficstape: Justin Bieber - Believe
18. That Should be Me: Ficstape: Justin Bieber - My Worlds
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