Único
“How was I to know that a year ago, I'd need to read between the lines and every lie”— Mcfly, Down goes another one.
20 de janeiro de 2014.
Meu coração acelerou e eu podia jurar que a qualquer momento ele ia sair pelos meus ouvidos, dizem que quanto mais você pensa na dor mais ela te abala, e naquele momento minha mente trabalhava a todo vapor tentando não pensar na dor pulsante que se espalhava por todo meu abdômen conforme eu me esforçava cada vez mais. Mais uma explosão pode ser ouvida a alguns metros para trás e eu agarrei com mais força a mão da garota atrás de mim, o primeiro lugar que meu corpo julgou seguro foi um pequeno vão entre dois prédio que mal cabia meu corpo e o de pressionado contra ele.
— Eles vão nos pegar — a voz melodiosa dela me fez encarar seus olhos assustados e notei como seu queixo tremia, minhas mãos automaticamente a agarraram, tentando passar um pouco de segurança a ela.
— Vai ficar tudo bem, querida — meus lábios trêmulos tocaram sua testa e ela suspirou, encostando a cabeça em meu peito.
— Meus pais vão me mandar pra Suíça — sua voz tremeu e ela se agarrou mais ao meu corpo — Por favor, , não deixa eles me mandarem de volta pra lá!
— Eu não sei o que fazer, ! — seus olhos percorreram todo o espaço livre ao nosso redor e ela suspirou, levando ambas as mãos ao meu rosto.
— Eu vou me esconder ali, e você vai deixar esses policiais te pegarem...
— Que porra você está falando...
— Me deixa terminar — seus dedos gelados tocaram meus lábios e ela fechou os olhos com força — Eu vou até você na delegacia e levar um advogado que vai provar sua inocência, eu te juro, meu amor, que eu vou assumir pelo meu erro, mas eu não posso ser levada daqui assim.
— Eu não posso ser preso, , eu não tenho dinheiro como você! A minha família depende de mim, eu não posso ficar preso — o desespero começou a tomar conta do meu corpo e ela automaticamente se jogou em meus braços, pressionando seus lábios contra os meus.
— Vai ser uma noite, pela manhã eu já vou estar lá e você vai voltar pra casa — seus braços contornaram meus ombros e eu suspirei, ouvindo os gritos dos policiais cada vez mais perto.
— Me promete.
— É uma promessa — seus olhos brilharam quando a primeira lágrima escorreu — Eu amo você, , eu nunca ia deixar você passar por algo assim.
Minhas mãos agarraram seu cabelos e meus lábios atacaram os seus em um beijo brusco, todo ar dos meus pulmões foram esvaziados conforme ela se entregava. Aquele que era um dos mais brutos beijos que nós já tínhamos trocado.
— Vejo você pela manhã — selei mais uma vez nossos lábios e ela sorriu —, agora corre.
atravessou o vão entre os prédios, correndo em direção ao mar, enquanto eu expunha minha localização aos três policiais que não pouparam suas forças quando me jogaram no chão gelado.
10 de fevereiro de 2018.
O sol atingiu meu rosto com tanta força que eu quase chorei de emoção. Meu corpo se arrepiou com o calor e eu abri o que eu tinha certeza ser o sorriso mais sincero nos últimos anos.
— ! — meu rosto virou no instante em que Chae pulou em meus braços.
Suas pernas contornaram minha cintura e ela enfiou o rosto em meu pescoço. O primeiro soluço que saiu de seus lábios me fez soltar um pequeno riso nasalado e depositar um longo beijo em sua testa assim que ela se afastou.
— Eu não acredito que você finalmente está livre! — o sorriso em seu rosto era tão grande que eu nem sequer consegui conter o meu.
— É tão bom poder ver você aqui fora — meus lábios tocaram seu rosto novamente e ela segurou minhas mãos me puxando em direção ao carro estacionado do outro lado da rua. Meu sorriso se alargou quando a imagem de Jay se projetou à minha frente, ele mantinha seus braços cruzados e o sorriso ladino que era a marca de nossa família e iluminava seu rosto coberto pelo óculos de sol.
— Pensei que você não viria — ele rolou os olhos e me puxou pra um abraço demorado, me mantendo preso em seus braços tatuados.
— Como eu ia deixar de vir ver essa sua cara de idiota saindo desse inferno? — eu me soltei dele e baguncei seus cabelos pintados de rosa e ele bufou, me empurrando levemente.
— Você não tinha aula? — Chae riu ao meu lado e Jay revirou os olhos, enfiando os óculos que antes protegiam seus olhos em meu rosto.
— Que se foda a faculdade, meu irmão está finalmente livre, porra! — Chae deu um grito animado assim que Jay deu um pequeno tapa na lataria do carro.
— Eu amo vocês — as palavras saindo dos meus lábios foram tão involuntárias que até eu mesmo me assustei, fazendo Jay gargalhar e Chae enviar dezenas de corações em minha direção.
— Será que podemos ir? Eu quero encher minha cara de bebida e mostrar pro mundo que meu irmãozão está de volta! — Jay se sentou no banco do motorista e ligou o carro enquanto Chae e eu nos acomodávamos junto a ele no carro.
O vento atravessava a janela aberta do carro e eu nunca tinha me sentido tão livre na vida, meus dedos acompanhavam a batida da música que tocava no rádio e minha cabeça descansava no encosto do banco. E, quando eu fechei meus olhos, o sorriso de atravessou minha mente como um foguete e eu senti todo meu corpo se arrepiar. Foi questão de segundos até que meus olhos agora abertos derramassem a primeira lágrima solitária que fez seu caminho calmamente por meu rosto até se perder em meu pescoço.
Maio:
— ! Você precisa vir aqui — o grito de Chae me fez desviar os olhos de meu computador e eu suspirei, me levantando da cama e arrastando meus pés calmamente pelo pequeno apartamento que morávamos. A preguiça mantinha meu corpo lento e Chae gritou mais uma vez, começando a me irritar.
Era meu dia de folga, meu único diazinho de folga na semana e ela continuava gritando como se o mundo estivesse acabando.
Três meses de liberdade e eu ainda não tinha voltado a amar socializar como antigamente, eu usei de toda a solidão do presídio como um escudo contra coisas e pessoas que podiam voltar a me machucar, e ter Chae e Jay 24/7 debaixo do mesmo teto estava me levando um pouco a loucura nos últimos dias.
— Oi? Você deve ser o , eu sou o Erick — um garoto moreno com um piercing enfeitando sua sobrancelha direita e um sorriso largo demais esticou a mão em minha direção e eu desci os olhos de seu rosto, encontrando seu peito nu e sua mão aguardando meu cumprimento.
— Oi, Erick, o que você tá fazendo perdido por aqui? — ele sorriu mais ainda e apontou pro final do corredor
— Eu tô indo me despedir do Jay — o sorriso em seus lábios diminuiu e ele abaixou os olhos, mordendo os lábios timidamente.
— Ah, vai lá, então — dei um pequeno tapinha em seu ombro e voltei a caminhar em direção aos berros de Chae.
Eu a encontrei na cozinha e a mesma encarava um tabuleiro em sua frente como os olhos arregalados.
— O que aconteceu dessa vez?
— Eu consegui fazer um bolo! — ela começou a fazer uma dancinha ridícula e eu gargalhei, encarando o bolo muito suspeito à minha frente.
— O cheiro tá ótimo, Chae! — ela sorriu mais ainda e foi até a geladeira, pegando um tubo de chantilly e um saquinho de confete.
— Eu vou tentar esconder a feiura dele — eu ri e abracei o corpo pequeno dela.
— Me chame quando tiver pronto ou se precisar de ajuda — ela concordou e beijou meu rosto antes de voltar a prestar atenção no bolo.
Eu me arrastei até a sala, encontrando Jay grudado no pescoço de Erick. Os dois sorriram um para o outro e Jay fechou a porta, se virando em minha direção em seguida. Seu rosto perdeu a cor por alguns segundos e eu vi como ele engoliu em seco.
— Chae está fazendo um bolo, a aparência tá horrível mas o cheiro é até agradável — ele concordou com a cabeça e caminhou até o sofá, se jogando ali e suspirando nervosamente.
— Nós precisamos conversar — sua voz tremeu e eu o encarei, implorando para que ele desistisse de conversar e me deixasse voltar pro meu tão amado colchão.
— Nós realmente precisamos? — ele confirmou e eu suspirei, me jogando ao seu lado no sofá — Pode falar então.
— Você conheceu o Erick, não é? — eu assenti e ele passou as mãos pelos cabelos desbotados — E o que você achou dele?
— Como assim? Eu não achei nada — eu ri e puxei uma lufada de ar antes de continuar — ele parece ser bem legal.
— Ele é — Jay se virou em minha direção e segurou minhas mãos entre as suas gordinhas — Nós estamos namorando.
Jay fechou os olhos e eu sorri, sentindo suas mãos tremerem. Meu sorriso aumentou ainda mais quando ele mordeu os lábios e abriu um dos olhos, avaliando meu rosto.
— Você não vai dizer nada?
— Huum, parabéns? — Jay rolou os olhos e se jogou contra o encosto do sofá.
— Eu acabei de te contar que sou gay, !
— E o que que tem? Você ser gay não faz diferença nenhuma pra mim, então eu deveria fazer algo? — ele piscou e sorriu, mostrando a covinha em seu rosto.
— Você realmente não se importa?
— Jay, você gostar de homem ou de mulher não faz diferença pra mim — segurei suas mãos e ele sorriu ainda mais — Eu só ia ficar bravo se você dissesse que prefere a Chae a mim.
— EU OUVI ISSO! — Chae gritou da cozinha e eu ri.
— Eu gosto de ser o irmão preferido — dei de ombros e ele gargalhou, se jogando em meus braços.
— Obrigada por continuar me amando.
— Jay, sua orientação sexual não muda quem você é, e você vai ser sempre meu irmãozinho — Jay deixou uma lágrima escorrer por seu rosto e beijou minha bochecha, me abraçando novamente.
— Você é o melhor irmão do mundo!
— OUVIU ISSO, CHAE?
— EU ODEIO VOCÊS!
— Eu amo você, Jay, e nada vai mudar isso — me levantei do sofá e caminhei até o corredor que levava aos quartos — Jay? — ele se virou em minha direção e eu sorri abertamente para ele — Quanto ao Erick, ele é uma gracinha.
— Ele é não é? — eu concordei e ele suspirou — Eu to muito apaixonado.
— Fico feliz por você, de verdade.
— Obrigada, .
Agosto:
Jay correu e se jogou ao meu lado, o suor escorria por nossos corpos e ele encostou a cabeça em meus ombros, suspirando antes de esticar a mão e pegar a cerveja na mesa.
— Eu não consigo acompanhar eles! — eu ri e concordei com ele.
— Pelo menos o Erick faz companhia a Chae — nós brindamos nossas cervejas e eu deixei o líquido gelado descer por minha garganta aliviando 10% do calor que dominava meu corpo.
Eu estava feliz, finalmente os pesadelos tinham parado, o meu novo trabalho não tirava toda minha energia, meus irmãos estavam bem ao meu lado e eu já não pensava mais nela. Quer dizer, não com a mesma frequência de antes.
— Eu vou ao banheiro — Jay concordou e eu me levantei; achar o banheiro foi um pouco difícil, mas eu queria que pudesse ter sido impossível.
Eu sempre achei que quando a encontrasse novamente eu conseguiria seguir em frente como se não a conhecesse, achava que meu corpo ia obedecer às ordens do meu cérebro sensato e que eu ia deixar ela e tudo que ela me fez passar pra trás. Mas quando olhos focaram no pequeno corpo de pela primeira vez em quase cinco anos eu achei que iria vomitar. Meu estômago revirou e uma pontada aguda na minha cabeça começou a me incomodar. Ela levantou os olhos e seu rosto paralisou ao ver o meu. Ela estava diferente, seu corpo estava mais cheio e seu rosto tinha um ar mais maduro, os cabelos antes gigantescos não passavam dos ombros e estavam tingidos de um preto tão escuro como a noite.
— ... — meu coração acelerou e as imagens dela me largando sozinho naquela maldita noite voltaram, me atingindo em cheio — , eu não sabia que você já tinha sido solto! Meu Deus, eu não sei o que dizer, você tá tão diferente!
Ela começou a falar e eu simplesmente não conseguia desviar os olhos dela, não conseguia parar de pensar que aquela ali era a causa pela qual eu havia perdido quatro anos da minha vida, que por culpa dela meus irmãos ficaram quatro anos sem mim.
— Como você tá? — ela tinha se aproximado de mim, nossa diferença de altura ficando evidente mais uma vez, seus lábios estavam espremidos um contra o outro e eu conseguia enxergar o quão nervosa ela estava.
— Você mentiu pra mim — as palavras fluíram da minha boca em um tom acusatório e ela engoliu em seco.
Seus olhos percorreram o salão atrás de mim e ela segurou meu pulso, me puxando em direção à saída de emergência. Estava frio ali fora e a dor que o ar gelado causou em meus sentidos me fez suspirar aliviado, era bom saber que eu ainda tinha controle do meu corpo.
— Eu sinto muito — sua voz doce me atingiu e ela se virou de frente pra mim, abraçando o próprio corpo contra as rajadas de vento frio.
— Você sente muito? Você me prometeu, ! Você me prometeu que eu passaria no máximo uma noite naquele lugar! — meu corpo tremeu e eu respirei fundo tentando manter a calma — eu fiquei quatro anos lá, , quatro anos naquele inferno por sua culpa!
— Não diz isso — a primeira lágrima desceu pelo seu rosto e eu gargalhei, era hilário ela achar que tinha o direito de chorar por aquilo.
— Por que não? Você me deixou lá sozinho! Eu esperei por você por todo o primeiro mês, eu imaginava que você estava tentando o seu máximo pra me tirar dali! — ela se abraçou mais e eu senti minha garganta arder — no dia do julgamento eu implorei para que você aparecesse, eu chorei pedindo a Deus que você fosse até lá e me tirasse daquele lugar! Mas você não apareceu, nem naquele dia e nem em dia nenhum!
— Eu juro que tentei o máximo que eu pude, — ela tinha a voz falha e eu me xinguei internamente por querer limpar as lágrimas que escorriam por seu rosto.
— Não foi o suficiente.
— Eu não tinha mais o que fazer, eu gastei todos os meus recursos pra tentar te ajudar! — eu ri, incrédulo, e passei as mãos por meu rosto.
— Você podia ter se entregado! Eu não fiz nada! Você foi a culpada por tudo que aconteceu aquela noite!
— EU NÃO PODIA!
— PODIA, SIM! EU TIVE QUE PASSAR POR UM INFERNO POR UMA COISA QUE EU NÃO FIZ! EU FUI OBRIGADO A PRESENCIAR E VIVER COISAS HORRENDAS PORQUE VOCÊ ME LARGOU LÁ! EU ACREDITEI EM VOCÊ E MEUS IRMÃOS TIVERAM QUE SE VIRAR SOZINHOS POR QUATRO ANOS — puxei mais uma lufada de ar e encarei seus olhos molhados por lágrimas — Eu não consigo dormir, , não consigo dormir porque mesmo depois de meses longe daquele lugar eu ainda tenho a sensação de que alguém vai me matar enquanto eu durmo, eu ainda tenho pesadelos com as coisas que eu fui obrigado a fazer para sobreviver naquele inferno. Então não me diz que você não podia ter feito nada, porque você podia! Sua família é rica o suficiente pra você não ter ficado nem um mês dentro da cadeia, mas você foi egoísta!
— Eu não fui…
— VOCÊ FOI, SIM! VOCÊ SABIA QUE EU ERA RESPONSÁVEL PELOS MEUS IRMÃOS, SABIA QUE NÃO PODIA FICAR PRESO ALI, MAS VOCÊ NÃO LIGOU PRA NADA DISSO! — abraçou seu corpo com mais força e desviou os olhos do meu — Eu perdi tudo por sua causa, minha bolsa na faculdade não existe mais, nós estamos morando em um apartamento minúsculo porque Jay não conseguiu um trabalho bom o bastante para bancar a casa e continuar com os estudos, Chae saiu das aulas de dança e passou a estudar em um colégio a duas horas de casa, eu não consigo arrumar um emprego decente porque sou a porra de um ex-presidiário! A minha vida virou uma merda, graças a você e ao seu egoísmo, eu tenho que viver com as consequências dos seus erros, então não venha me dizer que você não pensou apenas em você quando resolveu mentir pra mim!
— Eu sinto muito por tudo que você passou, , mas eu não pude fazer mais nada….
— POR QUÊ? POR QUE VOCÊ NÃO PODE FAZER NADA? ME DÁ UM MOTIVO E EU ESPERO QUE ELE SEJA MUITO BOM!
— Eu estava grávida.
Meu joelho fraquejou por um segundo e eu me apoiei na parede ao meu lado, minha respiração acelerou e eu podia sentir meu coração bater tão rápido que achei estar bem próximo de um colapso.
— O que você disse?
— Eu estava grávida, — ela suspirou e passou as mãos pelo cabelo, nervosa — Eu ia até seu julgamento e assumir toda a culpa, mas acabei passando mal dois dias antes e foi aí que eu descobri — ela se aproximou em passos lentos e parou a menos de um metro de mim — O médico disse que era uma gravidez de risco e que eu precisava passar alguns dias no hospital. Eu nunca chorei tanto como chorei no dia do seu julgamento, , eu me culpo todos os dia desde então.
— Por que você não me contou?
— Eu não tinha coragem de ir até você, a vergonha não me deixou entrar naquele presídio, e olha que eu fui diversas vezes até lá — ela suspirou e me encarou — eu não queria te ver me odiando.
— Você estava grávida, ! Eu nunca te odiaria!
— Você ia ser obrigado a ficar longe dos seus irmãos, ia ser obrigado a ficar naquele lugar por minha culpa!
— Era meu filho! Você realmente acha que eu ia deixar você passar por aquilo sabendo que você estava grávida? Eu teria passado por tudo que passei de cabeça erguida porque estaria protegendo a mãe do meu filho! Mas você me privou disso!
— Eu sinto muito, .
Eu não sabia ao certo o que pensar, tudo estava ridiculamente embaralhado na minha mente e meu corpo não parava de tremer por um minuto sequer. Encarei os olhos vermelhos da mulher à minha frente e suspirei, passando as mãos em meu rosto.
— Como se chama?
— — ela sorriu e puxou o celular do bolso da calça jeans, a tela acendeu e ela a virou em minha direção.
E então eu me apaixonei. era uma cópia fiel minha quando era pequeno, as bochechas rosadas e os cabelos lisos caindo em seu rosto gordinho. Os olhos brilhantes e dentinhos pequenos estavam em evidência enquanto ele sorria abertamente para foto.
— Ele é lindo — concordou e guardou o telefone, suspirando em seguida.
— Eu realmente sinto muito por tudo que aconteceu, , eu moro perto da sua antiga casa agora, em um apartamento em cima de uma lojinha de conveniência — ela pegou um cartão dentro da capa do celular e me entregou — meu telefone está aí, vai gostar de finalmente te conhecer.
— Ele sabe sobre mim? — o tom incrédulo em minha voz a fez sorrir.
— Você é o pai dele, , é claro que ele sabe sobre você.
Chae invadiu meu quarto e quase derrubou a pilha de livros empilhados na mesa atrás da porta, seu rosto estava vermelho e ela suspirou aliviada ao me encontrar sentado no meio da cama. Ela respirou aliviada e se apoiou nos joelhos.
— VOCÊ SAIU SEM FALAR NADA!
— Eu mandei uma mensagem — dei de ombros e ela tacou a almofada que estava perto dela em meu rosto.
— QUEM SE IMPORTA?
— Ela tá bêbada — Erick apareceu na porta e abraçou Chae pelos ombros, ele mandou um beijinho em minha direção e saiu puxando Chae em direção ao quarto dela, deixando eu e um Jay encostado no batente da porta sozinhos.
— Você quer conversar? — ele encostou a porta e se sentou nos pés da cama, tirando a camisa em seguida.
— Sobre o quê? — perguntei e ele sorriu.
— Eu vi você saindo com a — eu suspirei e me recostei na parede fria.
— Nós conversamos.
— E aí?
— Ela me falou os motivos dela ter me abandonado lá? — ele engoliu em seco e se acomodou melhor na cama, passando a mão pelos cabelos
— Espero que tenha sido um motivo muito bom — eu soltei o ar dos meus pulmões e assenti.
— Eu tenho um filho, Jay — ele piscou três vezes, então eu vi o mesmo prender a respiração e soltar tudo de uma vez.
— Caralho, ! Como essa porra toda aconteceu? — eu dei de ombros e escondi meu rosto entre meus joelhos.
— Ela descobriu alguns dias antes do meu julgamento, já estava entrando no terceiro mês e era uma gravidez de risco — ele suspirou e passou a mão pelo rosto — Eu não sei o que pensar, Jay. Eu passei quase 5 anos a odiando e agora eu não sei o que pensar, sabe.
— Eu tô chocado demais — Jay fechou os olhos e então suspirou — Por que ela não te contou antes?
— Ela achou que eu ia a odiar, caralho, eu amava aquela mulher, Jay! Eu faria qualquer coisa por ela e ela não me conhecia nem pra saber que eu nunca ia deixar ela assumir aquilo carregando um filho meu!
— Isso é uma merda muito fodida,
— Eu acho que vou acabar enlouquecendo qualquer hora dessas, sabe? Eu não sei o que fazer, Jay! — meu corpo tremia e minha respiração ficava cada minuto mais irregular, eu podia sentir a crise de ansiedade se aproximando cada vez mais.
— Você falou com ela sobre conhecer o menino?
— Sim, ela disse que a hora que eu quiser ela vai trazer ele até mim — ele concordou e se levantou.
— Então é isso que você tem que fazer, irmão, conheça seu filho e converse com a mãe dele — Jay posicionou sua mão em meu ombro e fez um pequeno carinho ali — A culpa não é sua, , você foi a vítima nessa história toda e talvez essa seja a hora do seu final feliz.
— Obrigado, Jay.
— Eu vou estar sempre aqui por você, Irmão — ele bagunçou meus cabelos e caminhou para fora do quarto, me deixando sozinho enquanto eu encarava aquele pequeno cartão em meus dedos.
E então eu liguei pra ela.
01 de Setembro:
O dia estava estranhamente agradável, o sol estava alto e uma brisa agradável deixava o clima perfeito naquela tarde de sexta-feira. Eu estava terrivelmente nervoso, minhas mãos suavam e meu coração batia tão rápido que eu já estava vendo a hora em que eu daria um treco bem ali.
caminhava devagar de mãos dadas com , eles sorriam em minha direção e eu engoli em seco mais uma vez.
— Oi — eu sorri na direção dela e meus olhos grudaram no pequeno menino sorridente.
— Oi, — se abaixou e fez um pequeno carinho nos cabelos de — Esse é o , diz oi pro seu pai, querido.
Pai.
Eu era a porra de um pai.
— Olá — a voz fina de foi como música pro meu cérebro desesperado, ela me acalmou instantaneamente e eu me abaixei em sua frente.
— Oi, garotão, como você está?
— Tô bem — ele sorriu e olhou pra mãe, que nos analisava em silêncio — ele é muito gande, mamãe.
— Ele é, não é? — assentiu e sorriu mais largamente.
— O Kevin vai querer um pai gandao assim também puque o dele é pequeno — soltou uma risada alta e eu não consegui conter minha risada.
— Então — me levantei e encarei os dois — O que vocês querem fazer?
— Eu tô indo trabalhar, então espero que vocês se divirtam — meus olhos se arregalaram e eu olhei assustado pra .
— Como assim você vai embora?
— Eu trabalho até às 20:00, então você pode me passar o endereço da sua casa? — mesmo tremendo, eu passei o endereço e fiquei parado ao lado de , encarando ela se afastar.
Quando já não estava em nosso campo de visão, se virou e ficou me analisando por um tempo, o que me deixou mais nervoso ainda. Era inacreditável como um garoto de quatro anos podia me assustar tão facilmente
— Eu posso te chama de pai? — Sua voz me assustou e eu concordei rapidamente e então ele sorriu, esticando a mãozinha gordinha até encaixar seus dedos nos meus — Nós podemos toma sovete?
— Você já almoçou? — ele negou e eu fiz um pequeno carinho em seu cabelo — Então vamos almoçar primeiro, o que você quer comer?
— Sovete! — ele pulou enquanto nós caminhávamos um ao lado do outro em direção ao meu carro.
— Sorvete não, ! Escolhe outra coisa — falei, rindo, e ele fez um biquinho, enrugando as sobrancelhas. Eu ri mais ainda, porque eu fazia aquilo quando era contrariado.
— Então eu quero nuggets!
— Então vamos comer nuggets! — ele comemorou e eu o prendi no carro, dando partida logo em seguida.
Eu e meu filho.
Meu filho! Era fodidamente surreal.
29 de Setembro:
Eu acordei com o vibrar do telefone debaixo do meu travesseiro, os rostos de e sorrindo brilhavam na tela anunciando uma ligação.
— Alô — minha voz saiu tão rouca que até eu mesmo me assustei.
— Papai? — a voz infantil de me despertou e eu sorri instantaneamente. Era incrível pra caralho o efeito que ele tinha sobre mim.
— Oi, garotão.
— Tava mimindo? — eu me sentei na cama e estiquei meu corpo, tentando afastar a preguiça
— Já to acordado, meu amor, o que você quer falar com o papai? — essa porra ainda era muito estranha, mas eu cada dia mais amava ser um pai, ainda mais de uma criança tão incrível como .
— Aaaa, é que a mamãe tá cholando — eu me levantei e encarei meu reflexo no espelho do armário.
— Ela tá chorando?
— Sim, eu tô com medo.
— Papai tá indo aí, tá bom? — vesti a camisa preta que estava jogada na cadeira e enfiei o boné branco de Jay na bagunça que estavam meus cabelos.
— Tá bom, não demola.
abriu a porta no meu terceiro toque e eu o peguei no colo, dando um abraço rápido no meu pequeno.
— Cadê a mamãe?
— Tá no quato — ele saiu puxando minha mão assim que o pus no chão.
estava encolhida na cama de madeira e eu consegui ouvir as fungadas que a mesma dava. Me aproximei da cama, vendo escalar a mesma e abraçar a mãe fortemente.
— Eu touxe o papai.
Os olhos de se focaram em mim e ela os arregalou desviando sua atenção pra um visivelmente preocupado.
— Como você falou com o papai?
— Pelo celula, eu falei pa tia Lia o nome do papai e ela me ensinou a ler e escreve ele! — sorriu e deu um beijo na bochecha de .
— O que você tem? — suspirou e se sentou, encostando na parede. pulou da cama e saiu do quarto quando o som de algum desenho animado se fez presente vindo da TV.
— Você não precisava vir até aqui — sua voz ainda estava meio quebrada e eu suspirei, me sentando na beirada da cama.
— O que você tem,? — voltei a perguntar e ela abraçou as pernas, me encarando com os olhos vermelhos.
— Não é nada, , eu só to triste — ela forçou um sorriso e prendeu os cabelos — Você sabe que eu sempre choro quando estou triste.
— É, eu sei — fitei seu rosto e respirei fundo — O que te deixou triste?
— Eu briguei com meu pai…
— Ah, entendi… O que você tá fazendo nessa casa, ? Esse bairro não é confiável e eu sei como a sua família pode te por em um lugar seguro!
— Eu não podia continuar vivendo com meus pais, , não depois de tudo que aconteceu. Eu me sentia mal em estar vivendo naquele conforto enquanto você estava dividindo uma cela com não sei mais quantas pessoas — eu engoli em seco e encarei seus olhos brilhantes — Meus pais queriam que eu desistisse do assim que ele nascesse e eu não podia fazer isso! Ele era a única coisa que eu tinha, era a única coisa que eu tinha de você, ! Eu tentei ao máximo fazer eles mudarem de ideia, mas não foi o suficiente, então resolvi sair de casa — se ajeitou na cama e se inclinou em minha direção — Eu tinha dinheiro guardado, então reuni minhas economias, vendi algumas roupas, jóias e objetos de valor que consegui tirar de casa. Esse apartamento eu comprei com a venda do carro que ganhei do meu avô e fui me sustentando com as minhas economias.
— Você ficou aqui sozinha? Enquanto estava grávida?
— Eu não tinha escolhas, — eu engoli em seco e ela continuou — Mas quando o nasceu as coisas complicaram um pouco, ele não mamou, então o leite e todas as vitaminas que ele precisou tomar levaram todas as minhas economias. Meu pai apareceu aqui e me ofereceu ajuda, ele meio que se importa com o , sabe — eu confirmei e ela suspirou — e então ele começou a ficar responsável pelas despesas do , eu consegui um trabalho bom o bastante pra bancar a casa e nossa alimentação. Eu não sei como ele descobriu que você está de volta em nossas vidas, mas ele veio até aqui e me ameaçou de diversas formas. Ele odeia muito você, , meu pai te culpa por eu não ter sido a filha perfeita dele, mas a culpa não é sua! Você me libertou! — riu e secou as lágrimas que escorriam em seu rosto.
— Eu sinto muito, …
— Tá tudo bem, . Conhecer você foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida, você me fez tão feliz e mesmo quando nós estávamos separados eu estava feliz porque eu tinha uma parte de você comigo. Eu não me arrependo de ter ficado do seu lado, você foi meu escudo, — ela se aproximou e segurou minhas mãos — Você me fez uma pessoa forte, . Você me deu o melhor presente do mundo e me fez incrivelmente feliz, eu te amei tanto — sua mão acariciou meu rosto e meu corpo automaticamente respondeu ao seu carinho — Você mudou tanto, seu cabelo não é mais grande o suficiente pra eu me segurar nele, seu rosto já não é o de um menino, seu corpo mudou completamente, até a sua voz mudou, ! Mas eu ainda me sinto inteiramente ligada quando você está por perto, eu ainda me arrepio quando você sorri e meu coração ainda vira uma gelatina quando você chama meu nome. E o meu pai novamente quer tirar isso de mim, eu não posso perder você de novo, !
Eu não pensei muito no momento em que meus braços rodearam o corpo pequeno de e a acolheram suavemente, a garota se desfez em meus braços e meu coração disparou enlouquecidamente, deixando meu corpo tenso e minha pele arrepiada.
— Seu pai não pode influenciar nossas vidas, — dei um beijo em sua testa e segurei seu rosto em minhas mãos, a fazendo olhar em meus olhos — Nós não somos dois adolescentes, é nosso filho, .
— Eu tenho tanto medo de ficar sozinha….
— Você não está mais sozinha, , eu estou aqui e não pretendo sair do seu lado — beijei seu rosto e ela me abraçou com tanta força que eu achei que fosse quebrar em seus braços a qualquer momento.
— Eu amo você, , eu nunca deixei de te amar — ela beijou meu pescoço e se acomodou melhor em meus braços — Por favor, me perdoe por tudo que eu te fiz passar, eu te juro que, se eu pudesse, tudo teria sido diferente!
— Tá tudo bem, coração — ela fungou e eu a abracei — Eu também.
— O quê?
— Eu também nunca deixei de te amar.
se afastou e encarou meus olhos, piscando lentamente. Eu deixei um pequeno sorriso enfeitar meu rosto e ela acompanhou, me devolvendo um sorriso gigantesco. Eu quebrei a distância entre nós dois e grudei meus lábios aos seus e foi como se nem um diazinho tivesse passado desde o nosso último beijo.
A sensação era mesma só que mil vezes mais intensa, seus lábios macios massagearam os meus até que minha língua pediu passagem para dentro de sua boca. Nós nos encaixamos e o beijo se aprofundou até que não tivesse mais espaço entre nossos corpos.
Ali foram esquecidos toda a dor e sofrimento que passamos nos quase 5 anos que estivemos longe um do outro, ali eu percebi que meu lugar era nos braços daquela mulher que me segurava como se eu pudesse a deixar a qualquer momento.
— Eca — a voz de me assustou e eu me afastei de , vendo o pequeno nos encarando com a mão gordinha na boca.
— O que você ta fazendo? — agarrou a cintura de e o posicionou entre nós dois, o menor se agarrou a nossos pescoços e começou distribuir beijos por nossos rostos enquanto eu e ríamos dele.
— ama muuuuuuuuuuuito mamãe e papai — ele falou e eu sorri, beijando seu rosto.
— Papai também ama você.
— Mamãe também, meu pitoco.
juntou nossos corpos em um abraço e eu sorri, me sentindo completo pela primeira vez em anos. Era minha família ali e eu ia proteger e amar eles com todas as minhas forças.
Para sempre.