11. Remember December

Finalizada em: 29/09/2018

Capítulo 1


Sorri da arquibancada para Romeu, Gael em meu colo com um picolé sujando sua roupa e a minha única preocupação era o atraso de . Assim como o pai Romeu é apaixonado por futebol. Aos oito anos o treinador já nos alertou sobre termos um futuro craque dentro de casa.
— O que houve? — pergunta sem entender. Aponto para Romeu, que olha para os lados, e ela entende na hora.
— Sinceramente — Envio uma mensagem de texto para e continuo: — dá mais importância para aqueles contratos do que para os próprios filhos.
limpa a boca de Gael. Meus olhos focam no meu pequeno de olhos azuis no campo. Meu coração aperta ao ver que o jogo começou e ele já não procura pelo pai, focando toda sua atenção no campo.
— Por isso que sou tão relutante quanto a filhos. — se explica. — tem uma fixação por aquela empresa. Na verdade todos os são assim.
Pego uma toalhinha na bolsa, limpo as mãos de Gael e ele grita para o irmão no campo, que acaba de fazer um gol.
— Conversem bastante — Alerto e minha melhor amiga sorri. — Porque se for como o primo raiva será seu sobrenome.
gargalha e voltamos nossa atenção para o campo: sou apaixonada pelos meus filhos. Em momento algum me arrependo: esperei muito por eles e hoje, aos quarenta, me sinto realizada por tê-los em minha vida. Mas, em certos momentos, me sinto carregando tudo nas costas sozinha.
O juiz apita o fim do jogo.
O time de Romeu corre pelo campo. Ganharam as olimpíadas escolares pelo segundo ano consecutivo. Sorrio da arquibancada e mando um beijo em sua direção.
— Vamos abraçar o irmão? — Seguro na mão de Gael e o pequeno de apenas quatro anos sorri.
Enquanto caminho até o campo, noto muitos pais abraçando os filhos. Meu coração aperta ainda mais e eu tenho pena de quando ele chegar em casa. Apresso o passo e encontro Romeu sentado no gramado, cabisbaixo.
— Filho! — Chamo e ele me encara.
Seus olhos azuis estão vermelhos e suas mãos enxugam seu rosto.
O abraço. Suas mãos envolvem meu corpo e encho sua bochecha de beijos, arrancando sorrisos dele, e Gael se junta a nós dois.
— Mamãe! — Romeu gargalha enquanto o ataco com muitos beijos.
Meu celular toca e vejo pelo visor que é . Respiro fundo e entende meu olhar, pega na mão de Gael e vejo que estão tirando fotos.
! — Escuto a voz de e sinto vontade de socá-lo ainda mais.
— Conseguiu um tempo? — Debocho e ele bufa.
— Por favor — pede, e sorrio do outro lado da linha — não vamos começar.
— Sua família como sempre em último lugar. — Digo e continuo: — Mas não tem problema que, enquanto você esquece de tudo, a supermamãe aqui está em ação. Então pode continuar com seus papéis.
Encerro a chamada e jogo o celular dentro da bolsa. Vejo me lançar um olhar de problema. Respiro fundo e caminho até onde eles estão.
— O que houve? — Digo para apenas ouvir e observo Romeu e Gael correndo pelo campo.
— Um amiguinho perguntou sobre o pai de Romeu. — diz e sacudo a cabeça. — E ele disse: trabalhando.
Observo meus filhos correndo pelo campo.
Vejo pais brincando com seus filhos: muitos deles não tem o dinheiro que tem, mas largaram seus trabalhos e arrumaram tempo, enquanto meu marido tem dinheiro, tem tempo, mas não tem a sensibilidade de participar de coisas “simples” que significam muito para os meninos.
— Ele é foda. — Digo, cansada. — E só esse mês já é a segunda mancada, não preciso nem dizer sobre a apresentação do maternal do Gael.
— Já tentou conversar? — pergunta e assinto que sim.
— “ eu fecho contratos milionários, não tenho tempo para ver uma criança vestida de planta se apresentar.” — Sacudo a cabeça e uma lágrima escorre pelos meus olhos. — E ele prometeu ontem à noite que viria. Pior que ele que se convidou.
! — me encara e vejo preocupação.
— São duas crianças, — Encaro Romeu ensinando Gael a chutar a bola. — E para ele pode ser uma besteira separar algumas horas do dia para ver Gael de planta com sua turma ou ver o filho disputar um campeonato, mas é muito mais do que isso. Só que o meu marido não entende o real significado.
— Precisamos marcar um dia para beber. — enxuga minhas lágrimas. — Cervejas. É isso que precisamos.
Sorrio e chamo os meninos. Romeu vem e segura na mão de Gael. me ajuda com as mochilas dos menino e caminhamos animados até o estacionamento, Gael imitando o irmão mais velho arranca sorrisos meus e de .
— Mamãe! — Romeu me chama. Fecho o cinto da cadeirinha de Gael e o encaro, já sentado no banco com o cinto de segurança.
— Pode falar filho. — Digo e o encaro. Ele olha para a janela e me encara novamente.
— O papai não veio. — Sua voz é triste. — Ele não quis vir?
Respiro fundo, seguro sua mão e minto mais uma vez. Mais uma mentira por amor, apenas por isso.
— Meu amor… — Faço carinho em sua mão — O papai teve um problema no trabalho, mas ele disse que no próximo ele não perde.
Meu filho tem um olhar triste. Fecho a porta do carona e me espera do lado de fora. Sua cara denuncia que escutou tudo e apenas sacudo a cabeça.
— Quando chegar em casa me avisa. — Minha amiga me abraça e sorri em minha direção. — E dirija com cuidado.
— Sempre. — Sorrio.
Entro no carro, travo as portas e pelo espelhinho percebo Romeu quieto e bem cabisbaixo enquanto Gael está adormecido em sua cadeirinha.
— Vamos pra casa? — Digo, e Romeu apenas sacode a cabeça.
Parte meu coração vê-lo triste e não poder fazer nada. Dou partida no carro e, em cada sinal vermelho, olho para Romeu ainda bem triste e percevo que está na hora de uma decisão importante.

As duas da manhã ouço a porta da sala ser aberta. Permaneço sentada no sofá, esperando pela conversa inadiável. caminha até a cozinha e o sigo, encarando-o de costas. A vontade de socar a sua cara aumenta ao perceber que veste roupas de academia.
— Que porra você está pensando da sua vida? — Grito e ele vira para me encarar. Bate o copo na pia e sai com a cara amarrada.
— Você é mesmo um babaca — Continuo e ele me encara.
, você pode parar de gritar? — Parece irritado. — Tive um péssimo dia, perdi um contrato pela incompetência do…
— Que se foda esse contrato. — Olho dentro dos seus olhos azuis e não vejo nada. — Teve um péssimo dia, foi? Saiba que seu filho também teve.
leva as mãos até a cabeça e faz uma careta, provavelmente lembrando do campeonato.
— Caralho! — Ele caminha em direção ao quarto de Romeu, mas puxo seu braço. — O futebol do moleque, eu perdi.
— Amanhã você fala com ele — Enxugo minhas lágrimas. tenta se aproximar, mas dou um passo para trás. — Ele custou a conseguir dormir.
! — Se aproxima e dou mais um passo para trás.
— Eu só avisarei mais uma vez, . — O encaro e minhas lágrimas continuam a rolar pelo meu rosto. — Os seus filhos sentem a sua falta. Minhas desculpas não funcionam mais com o Romeu, ele já tem oito anos e hoje ele me disse que o papai não quis ir vê-lo. E logo Gael crescerá e não funcionará com ele também.
— Meu trabalho exige muito de mim. — me encara e sacudo a cabeça. — São contratos milionários.
— São os seus filhos, ! — Grito, farta de suas desculpas. — Contratos podem esperar, mas eles não. E eu estou cansada de mentir, de prometer que você estará lá porque eu sei que você não vai. E eu também tenho meu trabalho mas eu me viro do avesso por eles, largo tudo para ir até eles sem pensar duas vezes.
— É diferente, . — Me encara e continuo.
— Por quê? — O encaro, curiosa. — É diferente porque não sou uma CEO e sim uma professora universitária?
— Sou o vice-presidente! — me encara como se fosse dar razão a ele. — E esperam de mim um trabalho impecável.
Gargalho, sacudo a cabeça, bato palmas para ele e as minhas lágrimas se intensificam.
— Vai pra puta que pariu seu filho da puta. — O empurro e ele tenta me segurar, mas me solto dos seus braços. — E vou te deixar avisado que, se continuar com essa putaria, eu pego os meus filhos e vou embora, porque eu não quero que eles tenham um pai apenas na certidão de nascimento.
! — Sua mão toca meu braço mas me afasto.
— Seu jantar está no micro-ondas… — Digo, já caminhando em direção ao quarto. Faço uma pequena pausa — Como em todos os outros dias.
Antes de ir até meu quarto dou um beijo em Romeu e em Gael. Caminho devagar até meu quarto e, ao deitar na cama, encaro o outro lado da mesma vazia. As lágrimas vêm com força e eu me sinto sozinha, sem ninguém para abraçar, sem alguém para conversar sobre como foi o meu dia, e me pergunto quando meu casamento se tornou isso.
São dezoito anos de uma vida juntos, e, nos últimos tempos, me sinto um nada em sua vida.

* *


O restante da semana passou bem devagar, com nenhuma mudança.
chegando tarde e não jantando com a família, não conversámos. E enfim, domingo havia chegado. Almoçaríamos na casa dos meus sogros e, para variar, havia ido correr deixando nas minhas costas a tarefa de arrumar os meninos, preparar o café da manhã e arrumar a bolsa, já que são duas horas de viagem.
— Bom dia, mamãe! — Romeu beija minha bochecha e Gael pula em cima de mim.
Dou um beijo na bochecha de cada um, pego Gael no colo, seguro na mão de Romeu e vamos para a cozinha. Sento Gael em sua cadeirinha. Romeu senta na cadeira ao lado e pego as tigelas, colocando cereal com leite para os dois. Coloco uma água no fogo para fazer um café, pego duas xícaras, coloco-as na mesa e faço algumas torradas.
— Gotoso. — Gael diz, e sorrio ao vê-lo todo sujo.
— Gostoso, filho. — O corrijo e ele sorri em minha direção.
— Vamos almoçar na vovó? — Romeu pergunta e assinto que sim, arrancando um sorriso dele.
— E ela disse que mandou limpar a piscina! — Digo animada, e meu filho mais velho corre em direção ao quarto e volta com sua sunga nas mãos.
— Mamãe! — Romeu corre em minha direção com a sunga nas mãos. — Não achei a minha boia.
— Mamãe te ajuda, filho. — Digo. Mordo um pedaço da torrada e sorrio ao vê-lo correr animado para o seu quarto.
O relógio marca nove da manhã.
Deixo a mesa do café da manhã montada, pego Gael em meu colo, mordo sua bochecha e ele gargalha. Encontro Romeu arrumando seus brinquedos em uma mochila. Deixo-o arrumando suas coisas e levo Gael para tomar banho.
— Filho, deixa mamãe passar o sabonete. — Digo.
A criança parece mais interessada nos brinquedos.
Termino de dar banho no Gael, coloco uma roupa confortável nele e o deixo sentado na sala assistindo televisão. E encontro Romeu tentando colocar um dinossauro na mochila. Separo algumas roupas, pego as boias no armário, coloco tudo em uma mochila e pego sua toalha para tomar banho.
— Filho. — Sorrio ao vê-lo determinado a guardar o brinquedo maior que a mochila dentro da mesma. — Da próxima vez levamos ele, mas agora você precisa tomar banho.
Entrego sua toalha e ela pega a mesma. Entra no banheiro e sento na tampa do vaso esperando-o terminar. Romeu completou oito anos recentemente e percebo que é dele ser independente. Mas acho importante supervisionar que ele lavará o cabelo, vai ensaboar o pescoço e algumas partes que notei que ele sempre esquece.
Enxugo seus cabelos, aproveito para limpar seus ouvidos e o enrolo na toalha.
— Mamãe, eu já sou grande. — Romeu pega a camisa da minha mão e apenas sorrio. —Posso me vestir sozinho.
Deixo-o terminar de vestir sua roupa, checo sua mochila e vou até o quarto de Gael e faço uma mochila para ele e coloco roupas extras porque a criança sempre inventa moda. Da última vez ele encontrou carvão e ficou sujo dos pés a cabeça.
— Mamãe vai tomar banho. — Digo e eles assentem que sim, assistindo a um desenho que passa na televisão. — Romeu, vigia o Gael, por favor.
— Pode deixar, mamãe.
A água quente cai pelo meu corpo. Me pego chorando novamente. Conversar com não adianta nada, é domingo e ele não tomou café da manhã com a esposa e os filhos. Nem ao menos avisou onde ia e a que horas voltaria. Apenas deduzi que foi correr ao ver que seu sapato não está no closet. Seco meu corpo e me enrolo na toalha. Pego o secador e rapidamente meus cabelos já estão secos. Prendo-os em um rabo de cavalo, escovo os dentes e passo apenas um protetor labial.
— Bom dia! — Digo ao encontrar sentado na cama.
— Bom dia, amor! — se aproxima e rouba um selinho, mas me afasto rapidamente.
Pego uma blusa qualquer no guarda-roupa, e um short jeans, o mais confortável possível. E deixo-o no quarto sozinho, me juntando aos meninos na sala.

Observo os meninos brincando na piscina com o meu cunhado. arranca sorrisos de Romeu e Gael e noto conversando com provavelmente sobre trabalho. Meu cunhado se irrita com o irmão e o primo. Com a ajuda dos meninos tacam água nos dois, que acabam pulando na piscina dando início a uma “guerra” de quem molha quem. E vejo em Romeu um sorriso que não via há algum tempo, dos dois, ele é o mais apegado ao pai e consequentemente o que mais sofre com o jeito de .
— Não. — me puxa pela mão. Tento relutar, mas ela não me dá hipótese. — Nada de se estressar hoje. Os meninos estão com o pai! Dê responsabilidade a ele.
… — Tento me explicar, mas ela nega com a cabeça.
— Desliga um pouco. — Minha amiga sorri e adentramos a cozinha. Heloísa prepara algo, animada. — E tenta se divertir.
— Heloísa! — Sorrio e minha sogra me abraça, dando um beijo em minha bochecha.
! — Sorri em minha direção e me entrega um copo de limonada. Agradeço, porque hoje o dia está bem quente em Curitiba.
— As carnes! — bate na testa e pega uma vasilha em cima do balcão. — Vim buscar para levar pro Miguel, te encontrei pelo caminho e esqueci totalmente.
— Esquecida. — Brinco e ela mostra a língua.
pega a vasilha em cima do balcão e saí em direção a churrasqueira. Meus sogros amam fazer churrasco em sua casa, e tinha tempos que não fazia um dia tão bonito para encher a piscina e aproveitarmos um momento em família.
— Que carinha é essa? — Minha sogra desliga o fogão e senta na cadeira de frente para mim.
— Nada, não. — Minto e forço um sorriso.
Minha sogra é um verdadeiro presente, uma segunda mãe que ganhei quando me casei com . Sempre faz questão de perguntar como eu estou e inclusive se o filho está sendo rude comigo ou com os filhos.
. — Segura minha mão e sorrio em sua direção. — Eu te conheço há mais de dezoito anos. Você era apenas uma menina quando começou a namorar com meu filho e conheço quando algo está te chateando.
— O meu casamento… — Sou sincera e ela me olha com calma. — Sinto que está escapando das minhas mãos. Nos tornámos praticamente dois estranhos que dividem a mesma cama, e nem preciso dizer que vem falhando feio com os filhos: não vai em apresentações, esquece do campeonato de futebol do filho e nem procura aproveitar os poucos momentos que tem com eles.
Minha sogra me analisa, para, me analisa novamente e sorri para que se junta a nós duas e presta atenção.
— Você é linda. — Heloísa me elogia e retribuo com um sorriso. — Mas desde de que os meninos chegaram, você vive em função deles e eu realmente acho lindo todo o amor e cuidado que tem com os meus netos. Só que a vida, , não é apenas cuidar das crianças e trabalhar.
— Heloísa…
— O que eu quero te dizer, antes de qualquer coisa, pensa um pouco em você. — Novamente segura minha mão. — Uma vez por semana, separa um tempo para cuidar de si mesma. Eu sei que você ama cuidar do cabelo, ama massagem, porém com a correria do dia a dia, talvez por meu filho não ser um bom marido e te ajudar, foi deixando de lado. E o meu conselho pra você é que, antes de qualquer coisa, ame a si mesma. Dê responsabilidades ao seu marido, ele é tão pai quanto você é mãe.
— Concordo com a Heloísa. — sorri e minha sogra abraça ela. — E está mais do que na hora da mulher sobressair. E sabe que tem o nosso apoio. Se vier com desculpas de falta de tempo mostre que você é tão ocupada quanto ele e, que se continuar dessa forma, você vai cansar cada vez mais e o casamento vai por água a baixo.
Sorrio na direção das duas e me preocupo ao ver com Gael em seus braços. Meu filho mais novo chora e vejo um pouco de sangue em seu joelho. Com certeza aprontando alguma acabou se machucando.
— Caiu andando de patinete. — se explica e dou um beijinho na bochecha de Gael. — Mãe, onde a senhora guarda o kit de primeiros socorros?
— No armário do banheiro social tem um, filho. — Heloísa responde e mexe uma panela no fogo.
Acompanho , acho a caixa e ele segura Gael em seu colo. Limpo o machucado, vejo é que algo superficial, passo um remédio em cima, ele acaba chorando um pouco e dá um beijo em sua testa. Colo um band-aid em cima para não deixar exposto e encho o meu pequeno de beijinhos, até ver um sorriso sair dos seus lábios.
— Mamãe eu sou um levado. — Brinco e percebo sorrir. — E com certeza puxei o papai.
— Não, filho. — Meu marido entra na brincadeira. — Sua mãe vivia aprontando por aí quando era criança, deixou seu avô de cabelo branco antes dos quarenta.
Dou um tapa em seu braço e ele começa a rir da minha cara. Com Gael em seu colo saímos do banheiro. Os dois voltam para onde estão os outros e volto para a cozinha.
— O almoço está pronto. — Heloísa sorri em minha direção, e, antes de sair com uma panela de arroz, para e fala algo que mexe comigo: — Vocês ainda se amam, apesar de tudo. Eu vi os sorrisos em seus rostos no banheiro.
Permaneci parada no meio da cozinha por alguns minutos, pensando se realmente ainda existia amor em meu casamento. Da minha parte eu sei que existe porque me preocupo. Me importo da mesma forma desde o início de nosso namoro, mas às vezes penso que algumas atitudes de são uma forma de dizer que não quer mais e só não sabe como me dizer.
— Vamos almoçar. — praticamente gritou e me assustei, fazendo minha amiga rir da minha cara.
— Que susto, caramba! — Sorrio e a ajudo com o restante das panelas.
Para minha surpresa colocou comida para os meninos que almoçavam ao lado do pai e Miguel bajulava os netos a todo momento.
— E o pai que agora serve primeiro os pirralhos? — reclama e todo mundo na mesa ri da cara dele. — E antes era eu no lugar deles.
— Toma vergonha nessa sua cara, . — zoa o irmão e ele faz uma careta.
— Quer voltar a ser criança? — zoa o primo e continua: — bebezão.
mostra o dedo do meio para e Heloísa dá um esporro no filho por fazer um gesto feio na frente das crianças.
— Romeu e Gael são crianças. — Miguel se explica. — E não um marmanjo de quase quarenta anos.
O restante do dia passou depressa: um dia tranquilo, de muitos sorrisos. De facto precisávamos de um dia como esse. Juntei as coisas espalhadas dos meninos, trocou as roupas molhadas por secas e, na hora de ir embora, Gael já dormia em meus braços. Nos despedimos de todo mundo, coloquei Gael na cadeirinha e verifiquei se Romeu estava com o cinto.
— Mamãe. — Romeu chamou minha atenção e me virei para encará-lo. — O papai disse que no próximo jogo irá.
Olho para meu marido, atento no volante, que sorri na direção do filho e logo volta sua atenção para estrada. Apenas sorrio na direção de Romeu.
— Fico muito feliz por você, filho — Digo e ele sorri.
Romeu continua contando do seu dia animado, arrancando sorrisos meu e do pai, Gael dorme tranquilamente em sua cadeirinha, e meu celular toca. Escuto com atenção as notícias nada boas sobre um sumiço de parte das provas aplicadas. Teríamos que reaplicar a prova e os alunos surtariam com a notícia. Anotava algumas coisas em minha agenda e percebi que me encarava com uma cara feia cujo motivo não entendia. E olhei pra trás. Romeu olhava pela janela e estava quieto.
estaciona o carro na garagem de casa, sai, abre a porta e Romeu sai na frente. Pega Gael com cuidado e acompanha o filho, mas para na metade do caminho e me fuzila com um olhar.
— Domingo não é o dia da família? — pergunta e assinto que sim. — Então porque não deixou o seu trabalho para amanhã?
— Um problema surgiu e não tinha como deixar pra amanhã. — Explico e ele sacode a cabeça.
— Deixou seu filho falando sozinho. — Diz. — E perdeu ele explicando sobre a redação dele sobre a pessoa mais importante da vida dele, a mãe.
me deixa plantada na garagem e abre a porta. Romeu entra e ele o acompanha com Gael em seus braços. E me sinto culpada porque hoje mesmo me chateei ao vê-lo falando de trabalho e deixando os filhos de lado. Por mais que fosse algo importante poderia ter pedido para retornar depois ou simplesmente pedido meu filho para esperar por alguns minutos enquanto resolvia algo.
Vejo Gael dormindo em sua cama, fecho a porta com cuidado e escuto conversar com Romeu. Aproveito para ir até o quarto e tomo um banho relaxante. Visto um moletom e pego meias na gaveta, calçando-as. E sorrio ao ver assistindo televisão com Romeu. Vou até a cozinha, faço uma pipoca e coloco em uma vasilha.
— Pipoca? — Pergunto e Romeu sorri.
Pega a vasilha com a pipoca e me sento ao seu lado e sorri como se nada tivesse acontecido, mas, mesmo assim, decido me desculpar.
— Filho. — Chamo a sua atenção, me encara com seus olhos azuis iguais ao do pai. — Desculpa a mamãe por hoje mais cedo?
— Desculpo, mamãe. — Beija minha bochecha e o aperto forte contra meu corpo.
— Eu te amo muito. — Sorrio e ele assente que sim.
O filme terminou. Já passava das sete, por isso ajudei Romeu a escovar os dentes, o coloquei na cama e dei um beijo em sua bochecha antes de ir para meu quarto.
— Amanhã tenho problemas para resolver na universidade — Digo ao deitar na cama. — Então você que buscará os meninos na escola.
— Tudo bem. — responde e vira para o lado contrário.
Agarro o cobertor contra o corpo. Lágrimas insistem em cair e a distância entre nós dois me destrói. Nos últimos tempos mal nos tocamos, trocamos poucas palavras e isso me entristece.


Capítulo 2


Dou mais um gole na xícara de café.
Parei de contar na quarta. A sala de professores está mais cheia que de costume, já passa das seis e, com o sumiço das provas, foi preciso reaplicar uma nova. Pelo imprevisto, os alunos puderam consultar o caderno com as anotações da matéria. E como as notas precisam ser lançadas, lutamos contra o tempo para entregar tudo pronto ainda hoje porque o semestre está no final e, assim como os alunos, estou ansiosa pelas férias.
— Meus filhos foram pra casa da avó. — Uma das professoras diz, enquanto corrige um bolo de provas. — Saindo daqui vou buscá-los.
— Nem me fale. — Digo. Cansada, tiro as lentes guardando-a na bolsa e pego o óculos de grau na bolsa. — Os meus, meu marido vai buscá-los e provavelmente ele entupirá as crianças de comida pronta.
— Nessas horas é bom ser solteiro. — Um outro professor brinca e arranca sorrisos de todos.
Lacro os envelopes e sorrio, animada para ir para casa. Meu corpo precisa de um bom banho quente e de relaxar para enfrentar o dia de amanhã.

Desativo o alarme do carro, jogo minha bolsa e as pastas em cima do banco do carona. Meu celular não para de tocar na bolsa, e, antes de ir embora, decido atender e me assusto ao ver o nome da escola dos meninos na tela.
— Boa noite, senhora ! — Reconheço a voz da diretora e tenho um pressentimento ruim.
Respiro fundo e crio coragem para responder.
— Boa noite, diretora. — Digo, minhas mãos tremem e prevejo o pior. — Aconteceu alguma coisa?
— Desculpa incomodá-la mas já são quase oito da noite e precisamos fechar a escola e os meninos ainda estão aqui. — Soco o volante do carro e a mulher continua: — A senhora deixou avisado que o seu marido buscaria Romeu e Gael hoje.
— E ele não apareceu. — Digo. Cansada, bato mais forte no volante e uma lágrima ameaça cair. — Estou indo imediatamente para aí.
Dou partida no carro e acelero o mais rápido que posso, ultrapassando sinais vermelhos. Multas são a minha última preocupação no momento: passou de todos os limites dessa vez e no caminho tento falar com ele, mas cai direto na caixa postal. Solto todos os palavrões existentes enquanto dirijo. Soco o volante do carro e uma senhora no carro ao lado me olha preocupada. Respiro fundo e ignoro a vontade de mandá-la tomar conta de sua própria vida.
— Eu sinto muito. — Me desculpo pela milésima vez e a diretora apenas me encara. Vejo que tem pena em seu olhar. — Eu não sei o que aconteceu, fiquei presa no trabalho, mas vou cuidar pessoalmente para que algo assim jamais se repita.
— Tudo bem, senhora . — A mulher aparenta preocupação comigo. — E apenas dirija com cuidado e com certeza, seu marido terá uma explicação.
— Obrigada. — Agradeço.
Corro pelos corredores da escola e passo pela porta da sala do maternal e vou de encontro a Gael, que chora alto enquanto o irmão mais velho tenta acalmá-lo, e me sinto uma péssima mãe fazendo meu filho fazer o papel que cabe a mim e ao seu pai. E me ajoelho entre os dois, puxando-os para meus braços e apertando forte contra meu corpo.
— Mamãe chegou. — Digo, acariciando os cabelos de Gael e Romeu me encara triste. — E muito obrigada por cuidar do seu irmão, filho.
— Não precisa agradecer, mamãe. — Romeu sorri e deixo um beijo em sua bochecha.
Levanto com Gael em meus braços, um pouco mais calmo, e Romeu pega a mochila do irmão e a sua. E seguro em sua mão enquanto caminhamos até o estacionamento. Meus olhos estão pesados, a qualquer momento posso desabar, mas preciso me manter forte na frente deles. Não quero deixar as coisas mais confusas do que já estão.
Prendo o cinto de Romeu e coloco Gael na cadeirinha e fecho o cinto da mesma. Uma lágrima escapa pelo meu rosto e sinto as mãozinhas de Romeu enxugando-as. Fecho os olhos, e ele continua tocando meu rosto.
— Mamãe. — O encaro e ele sorri em minha direção. — Eu te amo.
— Eu também filho. — Beijo sua bochecha. — Muito.
Não sei explicar como consegui dirigir com calma. Minhas mãos tremiam, mas pensar nos meus filhos no banco de trás foi o suficiente para ser cuidadosa. Ao chegar em casa dei um banho em Gael. Pelo horário a diretora me explicou que eles jantaram na escola. Vesti um pijama em Gael e ele não demorou a pegar no sono. E encontrei Romeu no quarto procurando algo na gaveta. O ajudei a pegar um pijama e um par de meias limpas, e, como de costume, sentei na tampa do vaso. Ele terminou de tomar seu banho, o ajudei para escovar os dentes e o deitei na cama.
— Mamãe. — Romeu segura minha mão e me encara.
— Sim, filho. — Faço carinho em seus cabelos.
— Não chora. — Pede e sorrio em sua direção. — Gosto mais quando sorri.
— Pode deixar, meu amor. — Beijo sua bochecha e cubro seu corpo. — Mamãe vai lembrar disso.
— Boa noite, mamãe! — Seus olhos azuis brilham e sorrio para ele.
— Boa noite, amor da minha vida. — Digo e ele sorri.
Apago as luzes, fecho a porta com cuidado e, apoiada na parede do corredor, as lágrimas descem com intensidade sentada no chão frio. Me pergunto onde errei para viver como vivo hoje e, com o resto das minhas forças, levanto devagar, vou até meu quarto e pego um pijama qualquer.
— Força, . — As lágrimas caem enquanto a água quente bate em meu corpo. — Força.
Desembaraço os cabelos sem vontade e olho para a cama vazia, sorrindo da minha própria vida que, no momento, parece uma piada. E sento no sofá para esperar chegar e mostrar sua tamanha irresponsabilidade.
Ouço o barulho da porta. É praticamente meia-noite e respiro fundo. Já de pé espero ele chegar na sala, jogar o paletó na poltrona, afrouxar a gravata e ir pra cozinha ou, pra ser mais específica, o micro-ondas, pegar o seu jantar.
Seus olhos azuis me encaram, controlo a vontade de partir para a agressão física e ele ameaça se aproximar mas dou um passo para trás.
— Aonde você estava? — Pergunto e ele me olha sem entender.
— Na empresa? — Responde como se fosse óbvio e sacudo a cabeça.
— E os seus filhos, ? — Explodo a raiva dentro de mim. — Você esqueceu de buscá-los na escola, de novo! Já eram oito horas da noites e as professoras ainda não tinham ido embora, nem a diretora. Tiveram que dar janta a eles e não conseguiram falar com você porque a porra do seu celular é de enfeite!
, eu… — Não deixo que termine.
— Eu o caralho — Grito e taco a almofada na cara dele. — São os seus filhos, seu merda.
— Se acalma! — Aumenta a voz e não me intimido diante dele. — Tudo você quer resolver com grito.
— Você é impressionante. — Passo a mão pelo meu rosto e me recuso a chorar. — Por todos os dias levo e busco os meninos na escola, dou banho, preparo o jantar, ajudo com a tarefa de casa e coloco pra dormir, mesmo depois de um dia de trabalho. Todos os finais de semana você vai correr, vai pro quinto dos infernos, e eu seguro a barra sozinha.
— Você quer dizer o que com seguro a barra sozinha? — me encara e não seguro o meu riso.
— Você não tem a capacidade lembrar de buscá-los na escola! — Grito e me aproximo mais dele. — Estou sendo exigente demais com você, ?
— O meu trabalho na empresa….
— Exige muito de mim e blá blá… — Debocho e ele se irrita. — Eu queria que você pudesse se escutar para perceber os absurdos que saí dessa sua boca. Não é possível que você só pense em trabalho e também não acredito que se tornou uma dessas pessoas que dinheiro nunca é o suficiente, que pisa em tudo para ter mais e mais. Mesmo que essas pessoas sejam sua própria família, sangue do seu sangue.
— Eu esqueci, ! — Ele aproxima, mas o empurro para longe. — Eu errei. Pronto, eu admito! Mas é muita coisa, meu pai vai deixar a presidência no ano que vem e eu assumirei. Preciso passar as coisas da vice-presidência para . Todos os dias eu preciso mostrar que sou capaz porque infelizmente a merda que fiz aos vinte anos, antes de conhecê-la, me queimou pra sempre.
— Os seus filhos são crianças. — Dou ênfase na última palavra. — Eles precisam de nós dois e contam com isso. Se você sabe que vai esquecer coloca um lembrete no celular, atende as minhas ligações, pede à secretária pra te lembrar, mas não faz o que aconteceu hoje porque você não imagina o quanto isso pode te afastar deles. Seus filhos vão crescer sem contar com você e nos momentos que precisarem não pedirão sua ajuda porque você não representará alguém de confiança e eu não quero presenciar isso.
— Reconheço que posso ser um pai bem melhor do que sou e vou correr atrás disso. — Admite e me sinto um pouco aliviada, mas continua: — Mas eu queria que você me enxergasse mais, . Você não sabe nada da minha vida nos últimos meses e todo dia praticamente são brigas.
— Eu não sei nada sua vida porque você não conversa comigo. — As lágrimas rolam pelo meu rosto. — Eu fui deixada de lado, parece que não sou mais suficiente como mulher pra você. Mal me toca, não me elogia, não me beija de verdade e são sempre beijos frios e rápidos que parecem mais ser por costume do que por vontade.
— Quando nos tornamos assim? — pergunta e sacudo a cabeça.
— No dia em que colocou o trabalho no patamar acima da sua família. — Digo e permanece me encarando. — Mas a conversa de hoje ainda não é sobre nos dois e sim, sobre responsabilidades como pais e eu espero que depois de hoje tenha sido a última vez que deixou os seus filhos na mão.
— E nos dois? — toca meu rosto, mas tiro sua mão.
— Uma parte de cada vez. — Sou sincera. — A prioridade no momento é Romeu e Gael.
— E quando será nos dois a prioridade? — Sua voz está irritada.
— O dia que como pais estivermos em sincronia nas responsabilidades e aí sim poderemos pensar em nós dois antes dos nossos filhos.
Pego minha pasta em cima da mesa, vou até meu quarto e aproveito para focar no trabalho. Não quero chorar, pelo menos, não por hoje. E ele adentra o quarto, olha para os papéis na cama, sacode a cabeça e entra no banheiro.
— Trazer trabalho pra cama pode. — Debocha e não me dou ao trabalho de encará-lo. — E depois vem dizer que eu não conto sobre meu dia ou da minha vida. Como quando você usa o pouco tempo que temos juntos para nos afastar?
— Essa é boa. — Gargalho. — Eu não afasto ninguém de mim, quem faz isso é você sempre chegando tarde e dando a miníma para mim. Com certeza me traindo por aí porque não coloco mais a minha mão no fogo por você.
— Você sabe muito bem que odeio traição! — Grita. — Eu jamais faria algo assim com você, ou comigo mesmo.
— De verdade? — Ele assente que sim e continuo: — Eu não sei de mais nada, .
se aproxima, sua mão toca meu rosto. Seu rosto está próximo do meu mas não consigo sentir nada com sua proximidade. Viro o rosto e ele soca o travesseiro.

— Prefiro continuar com meu trabalho. — Aponto para os papéis e ele se irrita.
O observo pegar seu travesseiro e um cobertor no armário, sair do quarto sem olhar pra trás e eu choro colocando toda a dor pra fora. O meu corpo quer estar perto do dele, mas, ao mesmo tempo, não sinto vontade e não vejo motivos para estar em seus braços e sofrer com seu humor incerto na manhã seguinte.


Capítulo 3


A minha cabeça explodirá a qualquer momento. Romeu puxa um dos seus bonecos colecionáveis da mão do irmão mais novo e Gael chora e grita pedindo o brinquedo mas meu filho puxa de suas mãos. E, para variar, estou sozinha em casa.
— Gael, não pode… — Digo e ele continua chorando. — Os brinquedos são do seu irmão e você tem os seus.
— Mas eu quero! — Força o choro e minha dor de cabeça só aumentava. — Eu quero.
— Para de ser chato, Gael! — Romeu diz e puxa o brinquedo da mão do mais novo. — E mamãe já disse não.
O mais novo, mesmo contrariado, saiu correndo do quarto do irmão. Respirei fundo e saí do quarto de Romeu. E percebi que estava em casa e o acompanhava, mas não parecia se importar com a loucura da nossa casa. Já meu marido… Não posso dizer o mesmo.
! — Sorrio para meu cunhado e ele retribui.
! — Sorrio de volta.
. — Chamo sua atenção e ele me encara, impaciente. — Amanhã Romeu vai embora da escola com a mãe de um amiguinho, vou levar Gael ao pediatra então preciso que vá buscá-lo na casa do amiguinho dele.
— Tudo bem. — Responde cansado e entrega uma cerveja para .
— Vê se não esquece a criança na casa dos outros. — Digo e ele dá um gole na cerveja.
Corro até Gael, tiro o giz de cera da sua mão e percebo que ele rabiscou boa parte da parede. Respiro fundo e o coloco em meu colo. Caminho em direção a cozinha, mas paro na metade do caminho e me vejo ouvindo a conversa do meu marido com o irmão.
— Cara… — fala com calma. — Pensa direito antes de se decidir.
— Eu não aguento mais essa confusão, gritos, choros, brigas… — dá um gole em sua cerveja. — Eu vou pedir o divórcio.
As minhas pernas travam e escondida escuto o restante da conversa. Me vejo chorando e só então percebo que Gael ainda está em meu colo. Deixo ele no quarto com Romeu e corro até o banheiro e me tranco no mesmo. Sentada na tampa do vaso, desabo, abafo meu grito com a toalha, e, com as mãos tremendo, pego celular do meu bolso e disco o número de que atende no segundo toque.
?
Não respondo, apenas choro, as palavras estão presas em minha garganta.
— Eu amo o . — Digo em meio às lágrimas. — Os nossos erros estão destruindo tudo.
— O que aconteceu? — Pergunta preocupada.
Não consigo parar de chorar, na minha cabeça passa um filme de todos os anos que estamos juntos e não consigo aceitar que tudo acabará dessa forma.
— Eu escutei uma conversa dele com . — Enxugo meu rosto. — Ele cansou, simplesmente cansou.
— Isso é uma crise, . — tenta me acalmar. — Eu vou marcar uma consulta com a terapeuta que me ajudou com o .
— Não é uma crise, ! — Praticamente grito e minhas lágrimas respondem por mim. — Meu casamento acabou.
— Vocês brigaram? — Pergunta.
— Não.
— Então o que aconteceu?
— Eu ouvi ele conversando com o … — Digo e continuo: — Ele disse que cansou, que vai pedir o divórcio.
A linha fica em silêncio. Coloco o celular em cima da pia, abro a torneira e deixo a água gelada cair no meu rosto e seco meu rosto.
— No final de semana deixa os meninos com a Heloísa e nos duas sairemos.
— Não posso dar trabalho para minha sogra. — Reluto.
— Não vai me enrolar, . — é firme. — E garanto que não se arrependerá.

— Toma um banho, chora o que tiver pra chorar e depois apenas vá dormir — Minha amiga sorri. — E nada de discutir isso hoje, de cabeça quente não vai adiantar nada.
— Tudo bem. — Concordo. — Obrigada e boa noite.
— Se cuida. — sorri e encerro a chamada.
Chorei tudo que tinha para chorar e mais um pouco e aproveitei para lavar meus cabelos. A água quente fez bem para meu corpo. Consegui relaxar um pouco. E vesti um pijama qualquer, sequei os cabelos e fui até o quarto de Romeu. Os irmãos dormiam abraçados, nem parecia que tinham brigado. Com cuidado pego Gael no colo. Ele se remexe em meu colo e abro a porta com cuidado. Já no corredor caminho até o seu quarto.
— Quer ajuda? — pergunta e apenas respondo sem encará-lo.
— Pode abrir a porta. — Digo. — E ligar o ar-condicionado.
Deito Gael com cuidado na cama e passo repelente para evitar qualquer picada, já que o mesmo tem alergia, e se deixar uma simples mordidinha vira um machucado. Cubro seu corpo e, como de costume, faço o sinal da cruz em sua testa e dou um beijinho em sua bochecha.
E volto para o quarto de Romeu, passo repelente no mesmo, ajusto o ar-condicionado e ajeito o cobertor que estava caído no chão. E faço o mesmo que fiz com o seu irmão, deixo o abajur ligado e fecho a porta com cuidado.
— Posso apagar a luz? — Pergunto ao entrar no quarto e já encontrar de banho tomado e ele assente que sim.
Apago as luzes, deito na cama de costas para ele, cubro meu corpo e fecho meus olhos.
— Boa noite, ! — Escuto a voz de e sorrio fraco.
— Boa noite. — Respondo e deixo o cansaço do dia vencer.



* *




dirigia animada e uma música tocava na rádio.
Minha melhor amiga cantarolava, mas diferente dela não conseguia me animar. Há que tempos que não sabia o que era um final de semana sem os meninos, e, mesmo tendo uma sogra maravilhosa, não achava justo Heloísa cuidar de Romeu e Gael em pleno final de semana.
— Ah, não. — disse ao pararmos em um sinal vermelho. — Que carinha triste é essa?
— Meus filhos não são fáceis. — Digo e minha amiga sorri concordando. — E não quero dar trabalho a Heloísa.
… — Minha amiga dá partida no carro quando o sinal abre, e continua: — Hoje é dia de se divertir então coloca um sorriso nesse rosto e pensa em você porque as pestinhas estão sob os melhores cuidados possíveis. E dona Heloísa não é marinheira de primeira viagem, mãe de dois perturbados e, de quebra, um sobrinho idêntico.
Não consigo segurar minhas risadas: minha melhor amiga é a melhor pessoa desse mundo e decido escutá-la. Até que não seria ruim pensar um pouco em mim. Pelo menos por um dia.
Adentramos o elevador do estacionamento do shopping. As portas se abrem e agarra meu braço, sorrindo animada e percebo o quanto aquilo era importante, adiando dia após dia um momento meu, sem filhos, sem hora de colocá-los pra dormir ou qualquer outra responsabilidade.
— Roupas. — aponta para a sua loja preferida. Costumávamos vir sempre e até foi a mesma que me ajudou com meu estilo, ainda mais quando casei com e passei a frequentar jantares importantes. — Vou te ensinar a valorizar tudo isso aí que você esconde.
E me rendo, desistindo de tentar lutar contra. Apenas deixo que faça seu trabalho. E me vejo dentro do provador com uma pilha de roupas, bem diferentes das peças largas que usava nos últimos tempos.
Pego uma blusa mais justa e sorrio ao ver meus seios de uma forma que jamais pensei ver depois de dois filhos. Visto uma saia de cintura alta e dou uma volta. Sorrio feliz e mesmo envergonhada, abro a porta do provador. conversa com uma vendedora, segura uma taça de champanhe na mão e pigarreio, fazendo minha melhor amiga me encarar.
— Então? — Pergunto envergonhada, e minha amiga faz um sinal positivo. As vendedoras sorriem e elogiam, me fazendo sentir ainda mais envergonhada.
— Gata demais. — Minha melhor amiga diz e agradeço com um sorriso.
A vendedora separa as roupas que me ajudou a escolher, e percebo que tenho o suficiente para renovar meu guarda-roupa e minha amiga não deixa que troque de roupa, mesmo me sentindo um pouco estranha permaneço com a roupa que coloquei no provador.
— E agora? — Pergunto e minha amiga aponta para onde costumávamos fazer massagem.
— Massagem. — diz animada e sorrio.
Não preciso dizer que eu precisava de um dia como esse. Poder cuidar de mim mesma é maravilhoso e libertador. Há tempos que não me sentia tão relaxada, saio uma nova mulher e com a promessa de voltar mais vezes.
— A roupa certa, valorizando seu corpo. Uma massagem para relaxar… — Minha amiga aponta para a fachada do salão a nossa frente. — E um cabelo acompanhado por uma maquiagem para enfim irmos nos divertir.
Uma mulher lava meus cabelos. Fecho os olhos. A água caindo pelo meu couro cabeludo é relaxante e vejo sorrindo em minha direção. A mesma está sentada em uma poltrona cuidando das unhas. E a mulher me direciona a uma cadeira. Um cabeleireiro se aproxima e analisa com calma meus cabelos.
— Sou apaixonado por morenas! — O homem sorri e me encara através do espelho. — E, modéstia à parte, faço uma iluminação em morenas como ninguém.
Fecho os olhos e não penso muito, apenas me deixo levar pelo calor do momento.
— Então, me ilumine. — Sorrio e ele parece gostar. — E quero um corte, cansei dos fios longos.
— Decidida! — O homem sorri. — Gosto disso.
O homem dá início para a maior mudança que já diz em meus cabelos. São castanhos escuros naturais. Gosto da cor e nunca tive vontade de mudar. Mas confesso que iluminá-los um pouco com certeza será algo que combine com esse momento. E fecho os olhos ao ver a tesoura em suas mãos, meus cabelos estão abaixo dos seios, e ele vai cortando, sinto os fios diminuindo e é algo libertador.
O cabeleireiro gostou da brincadeira de fechar olhos, virada de costas para o espelho não consigo ver meu cabelo já finalizado, o mesmo me maquia com calma e sorrio ao lembrar que faz muito tempo que sequer passo um hidratante do rosto.
… — O homem sorri em minha direção, com calma vira a cadeira de frente para o espelho e permaneço de olhos fechados. — Eis que surge uma nova mulher.
Abro meus olhos com calma e me encaro no espelho, coisa que não fazia a muito tempo. Meus cabelos batem um pouco acima dos ombros, retos do jeito que eu gosto, mas com movimento e totalmente iluminado. E toco meu rosto. Uma maquiagem leve, mas com os lábios marcados em um tom vermelho e sorrio ao lembrar que costumava ser minha cor de batom preferida. E uma lágrima cai pelo meu rosto, Mas não é tristeza, longe disso. Pelo contrário: me vejo bonita. Ou melhor, me sinto dessa forma. E, por mais simples que seja, é apenas roupas novas, um novo corte de cabelo e arrisquei mudar um pouco a cor, porém eu me sinto liberta de uma época não tão feliz da minha vida onde me coloquei em último lugar, vivendo em função de todos menos de mim mesma. E percebo que, além de mãe ou esposa, eu posso ser a , apenas .
— Obrigada. — Agradeço e o homem sorri. — De verdade, obrigada.
— Seu agradecimento será vir com frequência para retocar essa cor maravilhosa e deixar seus cabelos ainda mais bonitos. — O homem sorri e assinto que sim.
Levanto-me e caminho pelo salão, de cabeça erguida e me sentindo poderosa. E encontro boquiaberta com seu cartão em mãos. Dou uma volta e sacudo os cabelos e minha amiga bate palmas, animada. E me surpreende com um abraço apertado e pega o celular para tirarmos uma foto.
— Conseguiu entender porque te trouxe hoje? — Minha amiga pergunta quando adentramos o elevador e assinto que sim.
— Eu me libertei de algo que me impedia de ser eu mesma — Digo e minha amiga sorri. — E me sinto mais forte para lutar pela minha felicidade.
— Essa é a ! — sorri animada e passamos pela porta do elevador, indo direto até seu carro. — E a última parte do dia é a melhor de todas.
— Aonde iremos? — Pergunto curiosa e minha melhor amiga sorri.
— Surpresa! — Desativa o alarme do carro, adentro o mesmo e coloco o cinto de segurança.

E me animo ao perceber que me trouxe para o bar que costumávamos frequentar na época da faculdade. Estaciona o carro e descemos já animadas. Minha amiga sorri e cochicha no meu ouvido que atraímos alguns olhares e me sinto com vinte anos novamente. Nos sentamos no balcão e somos atendidas por um rapaz jovem e muito bonito.
— Cerveja. — Sorrio apaixonada para o copo e me permito virar de uma só vez.
— Vamos nos permitir, ! — sorri animada e uma segunda rodada é pedida.
Desde de nova dançar era uma das coisas que mais gostava de fazer, e, sempre acompanhada por , nos divertíamos horrores quando saíamos. E nessa noite relembrar um pouco de tudo isso fez com que me sentisse viva novamente.
— A última… — Sento com um pouco de dificuldade. Perdi a conta de quantas rodadas foram. — E aí vamos embora.
— Tomamos quantas rodadas? — sorrindo, já alterada, pergunta e nego com a cabeça.
— Aí que está a graça. — Digo e me encara sem entender e me explico: — Não conseguir contar quantas rodadas foram, mas se sentir feliz no final da noite.
— E com uma ressaca para o dia seguinte. — sorri e concordo.
Caminho com cuidado até o banheiro. A fila está grande e agradeço quando chega a minha vez. Cerveja gelada é a melhor coisa que inventaram, mas saiba que você fará xixi pelo restante da noite. E retoco meu batom. Gosto de ver o tom vermelho de volta e ajeito os cabelos.
? — Ouço meu nome e vejo ao lado de .
! — Digo e ele sorri na minha direção.
— Minha amiga não está gostosa? — sorri, e vem até aonde estou e me abraça pela cintura.
— Ficou bonita mesmo. — diz e tenta me puxar para dançar, mas somos impedidas por .
E sentadas no banco nós caímos em uma crise de risos, e me sinto muito melhor do que quando saí de casa.
— Levarei as senhoras gostosas para casa. — Brinca e fazemos bico, mas ele paga a conta e nos guia até a saída. — E me agradeçam porque a ressaca será menos pior.
Com cuidado abro a porta da sala, sorrio ao lembrar do dia de hoje. Vejo as sacolas das lojas no canto da sala, são sempre bem rápidos na hora de entregar. E escuto vozes vindo da sala de jogos de , sem saber porquê desço as escadas, bagunço os cabelos, abro a porta com força e ele me encara com os olhos arregalados. Caminho, olhando dentro dos seus olhos, não desvio por um só momento e o puxo pela camisa, beijando-o intensamente. Sou correspondida da mesma forma mas corto o beijo. E viro as costas, sorrio para e alguns amigos que me olham sem entender o que de fato aconteceu e subo as escadas.
Abro o chuveiro. A água quente caí pelo meu corpo, sorrio e aproveito para lavar o rosto, tirando grosso da maquiagem. E me enrolo em meu roupão e pego os lenços demaquilantes, tirando o que sobrara da maquiagem e escovo os meus dentes. E não penso duas vezes vestindo a camisola que comprei com a ajuda de e encontro sentado na cama quando saio do banheiro. E pensei que jamais teria um olhar como esse novamente direcionado a mim porém não me renderei. Será preciso muito mais que isso pra ele me ter novamente em seus braços.
e os caras foram embora. — diz e já está de pé. — E você está muito bonita.
— Obrigada. — Sorrio e me ajeito entre os lençóis. — E uma boa noite.
Sinto o seu corpo ao lado do meu, mais próximo que de todas as outras noites. A vontade de me render e estar em seus braços aumenta gradativamente. E travo uma luta contra a vontade e a razão mas opto pela segunda opção porque é o certo a ser feito. E mesmo querendo, muito, muito mesmo, fecho os olhos e me permito descansar.


Capítulo 4


Desperto.
O quarto está escuro e percebo que as cortinas ainda estão fechadas e noto que já é tarde. Caminho até o banheiro, faço minha higiene matinal e coloco uma roupa confortável, não me sentiria bem perto dos meus filhos vestindo algo tão sexy. E sorrio ao lembrar da cara de e do mesmo soltando vários palavrões e inclusive ouvi o mesmo dizer que meu beijo o deixara louco.
Sinto cheiro de café vindo da cozinha, vozes animadas e muitos sorrisos. Caminho apressada até a cozinha e paro na porta. Observo preparando ovos mexidos enquanto Romeu e Gael o ajudam. E não digo nada, apenas aproveito uma das melhores cenas do mundo, e ver os filhos que sempre sonhámos tão próximos do pai como deveria ser todos os dias mexeu comigo demais.



Aguardava o médico e tive uma queda de pressão enquanto dava aula e acabaram ligando para , que correu comigo para o hospital. E nem preciso dizer que fez um escândalo até que eu fosse atendida, paguei um mico com todos os olhares direcionados a nós dois, e só consegui sorrir por saber que essa era a forma que ele achou de cuidar de mim.
O médico adentra o seu consultório. Noto um envelope branco em suas mãos e se senta em sua cadeira entregando-me o envelope.
— Solicitei alguns exames. — O médico se explica e abro o envelope . — E minha suspeita estava certa.
— Suspeita? — Pergunto e ele assenti que sim, aponta para o envelope e aproveito para ler o que estava escrito.
Minhas mãos tremem, as palavras embolam diante dos meus olhos e me vejo chorando sem entender tamanho presente.
— Senhora , você está grávida de oito semanas. — O médico explica e não consigo acreditar.
— Doutor… — Praticamente imploro. — Por favor, não brinca comigo dessa forma. Os médicos disseram ser um milagre um dia vir a engravidar e desisti depois de dois anos de decepção a cada negativo.
— Não estou brincando, Senhora . — O homem diz e sorri. — E talvez por estar relaxada, sem expectativa em engravidar aconteceu que nem percebeu.
— Caralho! — Grito e levo minha mão até a boca: — Peço desculpas, mas é que eu estou muito feliz.
— Sem problemas, Senhora Lafaeitte. — O homem simpático sorri.
— O meu marido já sabe? — Pergunto.
— Não, achei que gostaria de dar a notícia pessoalmente.
— Com licença, doutor. — Digo, pego minha bolsa e já de pé concluo. — Mas eu preciso contar para o pai desse bebê.
Não deixo o homem concluir saio apressada do consultório e procuro por , mas não o encontro. Pergunto a uma enfermeira e a mesma me avisa que o viu na sala de espera falando ao telefone. Corro o mais rápido que posso, sorrio animada e o vejo de costas com um copo de água em mãos.
! — Grito e ele rapidamente vira para me encarar.
! — Ele me encara sem entender.
E as lágrimas rolam pelo meu rosto. Noto algumas pessoas nos encarando e ele dá um passo em minha direção e grito as palavras presas em minha garganta.
— Eu estou grávida! — Grito emocionada e ele paralisa na metade do caminho. — Grávida, meu amor.
— Mentira. — Noto lágrimas em seus olhos e nego com a cabeça. — Um bebê nosso?
Assinto que sim e corro em sua direção, pulo em seus braços e ele me aperta contra si. Juntos choramos por uma notícia que jamais pensamos ouvir. Foi duro ter nossas esperanças tiradas de nós e não poderíamos pedir presente melhor para dez anos de casamento.
me encara. Seus olhos azuis estão vermelhos e apenas sorrio emocionada para ele. Sua boca procura pela minha, esqueço que estou em uma sala de espera de emergência, me rendo ao seu beijo.
— Posso? — acaricia minha barriga e assinto que sim. E, com cuidado, me coloca no chão, se ajoelha diante de mim e abraça a minha barriga. Posso ouvir suas lágrimas que se misturam com as minhas e esse era o nosso maior presente.
— Eu amo a sua mãe. — diz ainda ajoelhado, sorrio para a cena. — E agora você, meu bebê.
— E eu amo vocês! — Digo e levanta, toca meu rosto e o abraço apertado. — Nosso milagre, meu amor.
E ouvimos algumas palmas, escondo meu rosto nos braços de que apenas sorri e agradece. E me lembro que estamos em um hospital, mas não poderia esperar chegarmos em casa para contar e queria que o mundo soubesse que sou a mulher mais feliz do mundo.
— Prepare-se para ser mimada ainda mais. — brinca e me pega no colo. — Começando desse exato momento.
. — Sorrio e ele continua caminhando comigo em seus braços. — Não precisa me carregar, amor.
— Deixa eu te mimar, vai amor. — Sorri e selo nossos lábios.




E noto me encarando. Gael está em seus braços e Romeu já sentado tomando sua vitamina e ele sorri para mim exatamente da mesma forma de um dos dias mais felizes do mundo. E caminho até a ele, selo nossos lábios e pego Gael no colo, enchendo-o de beijos, faço o mesmo com Romeu que começa a rir.
— Bom dia, amor. — segura minha mão quando já estamos sentados na mesa — Dormiu bem?
— Bom dia, meu amor. — Sorrio em sua direção, noto seus olhos azuis fixos em mim. — Dormi bem e você?
— Como há muito tempo não conseguia. — Sorri e me entrega uma xícara de café. — E tenho certeza que a partir de agora serão todos os dias dessa forma.
Sorrio e ele acaricia minha mão. E dou atenção a Romeu, que conta sobre o dia com seus avós. Sorrio das suas histórias e Gael mostra um machucado no joelho. Dou um beijinho e o irmão mais velho já explica que ele caiu jogando futebol com ele e Miguel.
— Mamãe, o Gael é um perna de pau. — Romeu brinca e o irmão faz cara feia. — E acho que não terá dois filhos jogadores.
— Filho! — Não consigo segurar a risada e Gael faz bico, mas completo. — Mas tenho certeza que o Gael encontrará algo que ele goste bastante de fazer.
— Quem sabe um tipo de luta. — diz animado e a criança sorri deixando-me preocupada com a possibilidade.
— Mamãe! — Gael fala e presto atenção. — Gosto de dançar.
— Meu filho não vai…— Dou uma cotovelada em e ele reclama de dor.
— Sério filho? — Ele assenti com a cabeça que sim e sorrio em sua direção. — Mamãe promete que te ajudará.
— Oba! — O pequeno comemora, me olha de rabo de olho e ameaço dar outra cotovelada.
— Papai vai te ajudar também. — diz e sorrio para ele — E o importante é que cada um faça aquilo que goste desde de que não faça mal a alguém.
E o que tinha para ser mais uma manhã de estresse em pleno domingo, foi um dos dias mais felizes da minha vida e me senti grata por ver minha família reunida.

Os meninos brincavam animados no quarto de Romeu, estava acariciando meus cabelos e uma ideia surgiu em minha mente e levantei-me para encará-lo.
— O que acha de irmos ao cinema? — Pergunto e ele sorri animado.
— Hoje, amor? — Pega o celular e parece procurar algo.
— Não. — Digo e me explico: — Os meninos têm aula cedo, pensei em irmos na sexta-feira depois do trabalho. Vai estrear a sequência de um filme que as crianças gostam.
— Combinado. — me dá um selinho. — Uma sessão pipoca em família.
— Fico muito feliz em vê-lo lutar pela nossa família. — Digo e ele deixa o celular em cima da mesa, me encara e continuo: — Eu escutei sua conversa com , ou melhor, parte dela. A que você disse que pediria o divórcio. E eu fiquei triste, pensei que havia desistido de nós, da família que lutamos tanto para ter.
me encara e segura minhas mãos.
— Eu me sinto um idiota por ter sequer cogitado essa possibilidade. — Se explica. — Fui egoísta ao dizer isso. Não pensei que pra você é difícil, porém conversou bastante comigo e disse que você, no meu lugar, jamais faria algo desse tipo. E as palavras dele ecoaram na minha cabeça, eu percebi, no dia que esqueci dos meninos, que você sempre estava presente, era mãe e muito mais pai que eu mesmo. E quando me beijou daquele jeito, entrou naquela sala, atraiu todos os olhares e me deixou plantado como um idiota percebi a mulher que eu tenho dentro de casa. A esposa, mãe, amiga e vi que nossa família não é substituível ou qualquer coisa para abandoná-la por uma crise.
Não digo nada. Apenas deixo minha boca encontrar a sua, suas mãos puxam-me para sentar em seu colo e suas mãos apertam firmes em minha cintura. Nossas bocas chocam-se uma contra a outra com intensidade.
— Mamãe! — Escuto a voz de Romeu e saio do colo de .
Meu marido gargalha ao meu lado. Ajeito meus cabelos e meu filho adentra a sala com sua agenda da escola na mão e, ainda ofegante, pego a mesma em minha mão.
— Sua mãe olhará com calma, filho. — é mais rápido que eu. — E pode voltar pra brincar com seu irmão.
— Tá bom, papai. — Romeu sai da sala e cai em uma crise de risos. Bato no mesmo com a almofada e ele começa a rir ainda mais.
— Não tem graça, ridículo. — Digo e ele está vermelho de tanto que ri.
— Sua cara te entregou, . — respira, e continua gargalhando. — E a criança não entendeu nada.
— Temos que ser cuidadosos. — Digo e dou um tapa em seu braço, não para de rir mesmo assim. — Porque Romeu é inteligente e percebe as coisas.
— Filho de dois nerds! — brinca. — Não podia ser diferente, não é mesmo?
, cala a boquinha! — Brinco e ele me beija.
Leio com calma o bilhete da professora.
Com a proximidade do dias dos pais, acontecerá uma festa na escola para a entrega dos presentes confeccionados pelos próprios alunos.
— O que foi? — pergunta e tenta olhar a agendar — Romeu brigou na escola ou aprontou alguma?
— Não. — Digo e o encaro já preocupada. — Acontecerá na próxima semana a festinha de dia dos pais e os alunos entregarão presentes para seus pais e aqui pede para que compareça.
O silêncio se faz presente e encaro o céu através da janela da varanda.
— Eu estarei na primeira fila. — continua: — E vou ser o pai mais animado daquela festa.
… — O encaro e ele beija minha mão. — Por favor, não deixa de ir, dessa vez não terá desculpa que resolva se você não for.
— Confia em mim, amor. — Sorri e rouba um selinho. — Família em primeiro lugar, certo?
— Certo. — Bagunço seus cabelos e ele me joga no sofá. Me ataca e suas mãos me fazem cócegas.
Romeu e Gael brincavam animados na piscina de bolinhas. abraçava meu corpo e sorríamos animados após uma noite maravilhosa. Algo tão simples como vir ao shopping assistir um filme e brincar na piscina de bolinhas, mas de grande valor para eles e para nós dois.
— A noite inteira só consegui pensar em uma coisa. — sorri e não entendo nada até sentir a sua boca tocar a minha e retribuo. Sinto os seus lábios aos meus, bem devagar, sem pressa e me apaixono ainda mais por ele. Suas mãos apertam firme em minha cintura e as minhas em seus ombros mas duas risadas nos faz lembrar de onde estamos.
— Eca! — Gael faz uma cara de nojo e começo a rir.
— Gael… — Romeu chama a atenção do mais novo. — Tio disse que quando formos mais velhos não será nojento.
— Nem um pouco. — resmunga e o empurro para o canto.
segura na mão de Romeu, Gael segura a mão do irmão e estende a outra para mim. E caminhamos animados pelo shopping e sorrio ao ver a minha família completa e feliz.


Capítulo 5


Romeu e Gael me acorda com pulos em cima da minha cama. Sorrio para os meus presentes e deixo um beijo na bochecha de cada um. E olho a notificação em meu celular, meus sogros, e confirmam presença na festa de dia dos pais da escola dos meninos.
! — sorri e escuto os meninos enquanto brincam na sala.
— Vaca! — Brinco e a escuto sorrir do outro lado da linha.
— Tudo certo pra hoje? — pergunta animada e tento disfarçar meu desânimo mas em vão.
— Hoje é sábado. — Digo. — E está no escritório, mas quero acreditar que ele vai cumprir a sua promessa aos meninos.
— Calma… — me acalma. — Pensa nas mudanças dos últimos dias.
— Tá bom. — Digo, e a mesma se despede.
Passo o horário por mensagem e encontro os meninos na sala.
Aproveito a atenção dos meninos na televisão, preparo um café da manhã reforçado, coloco tudo em uma bandeja e levo até a sala. E comemos juntos em meio a sorrisos e animação para a festa de mais tarde.

Já sentada no auditório olho nervosa para o relógio. Faltam apenas dez minutos para a apresentação do musical de dia dos pais e nenhum sinal de . Mando outra mensagem. Nem sequer visualiza e as ligações não atende.
! — Heloísa chama a minha atenção e a encaro. — E o ?
— Não responde, não atende. — Tento disfarçar minha tristeza. — Romeu e Gael estão tristes porque ano passado estava em uma viagem.
— Algo de importante na empresa hoje, ? — Miguel pergunta e o sobrinho nega com a cabeça.
Os minutos passam depressa, o lugar de ao meu lado vazio. Não desisto de esperar por ele porém a cortina abre, o musical começa e a certeza que não cumprirá com o combinado me decepciona. E as turmas se apresentam uma a uma, seguro as minhas lágrimas por Romeu e Gael. Preciso apoiá-los.
— Meu pai é… — A voz de Romeu falha, olha para os lados, algumas risadas. — Meu pai é…
Encaro meu filho, vejo que tem lágrimas em seus olhos, mas ele continua com o texto, suas palavras me emocionam e noto seus avôs da mesma forma que eu estou.
A turma de Gael entra, cada um vestido da profissão do pai. Meu pequeno executivo está tão lindo e meus olhos enchem de lágrimas ao vê-lo tão animado. Procura por algo na plateia, sorrio para ele, mas vejo o seu sorriso mudar, dá lugar a lágrimas e meu coração aperta.
! — tenta me acalmar, mas é impossível estar bem diante da dor de um filho.
Corro o mais rápido que posso e quase caio na escada. A apresentação parou diante do choro da criança de apenas quatro anos em cima de um palco, decepcionado com o pai, a figura que tem como um super-herói.
— Filho! — Chamo, porém Gael continua a chorar e olha para a família na plateia.
— Papai! — Gael chama pelo pai, vejo lágrimas pelo seu rosto já vermelho e pede por . — Papai!
Não vejo alternativa. Subo no palco e me ajoelho diante dele, puxo para meus braços e ele chora como nunca vi antes. Com cuidado pego-o em meu colo, peço desculpas à professora que encara tudo preocupada e saio o mais rápido do auditório.
— Filho… — Gael chora em meus braços e seu rosto está encostado em meu peito. — Eu te amo muito.
corre pelo corredor e me encara assustada ao notar o estado de Gael, seu choro é alto e se aperta contra meu corpo.
— E o Romeu? — Pergunto e enxugo as lágrimas.
— Está com Heloísa e Miguel. — se explica. — E conseguiu falar com o e ele…
— Que ele se foda! — Digo com raiva. — E que seja bem longe da minha casa.
Entro no banheiro com Gael ainda em meus braços, lavo seu rosto, encho-o de beijos e seco seu rosto. Mas em vão, porque lágrimas surgem novamente em seu rosto. O coloco em meus braços. Os seus olhos estão pesados, com certeza, do sono. E o nino em meus braços, por minutos. Vejo seus olhos fechados e ele dorme tranquilo.
Caminho devagar, quieta. Minha melhor amiga permanece da mesma forma que estou e encontro Romeu sentado entre os avôs e aproximo, corre até a mim e seus braços me apertam. Fecho meus olhos, lágrimas descem, seguro em meus braços o meu mundo inteiro e me machuca vê-los sofrer.
… — Heloísa tenta falar algo, mas a interrompo.
— Eu amo você — digo e a mulher me olha — e é seu filho, mas dessa vez sem desculpas para ele.
Levanto com cuidado, forço um sorriso para todos e aperto Gael em meus braços, olho para Romeu que aperta minha mão. E caminho até o estacionamento, coloco os meninos no carro, bato a porta com força e encosto na mesma, deixo por apenas alguns minutos a minha dor escorrer pelos meus olhos. O celular toca sem parar, o desligo na mesma hora e enxugo o rosto na barra da blusa. Respiro fundo, antes de dar partida percebo que Romeu e Gael dormem no banco de trás e me acalmo um pouco.
Dirijo com calma, passo os sinais vermelhos e chego em casa mais rápido de que costume. Noto o carro de parado na garagem, pego Gael com cuidado, o levo até seu quarto e faço o mesmo com Romeu, apesar do seu tamanho continua sendo meu bebê. Deixo os dois no mesmo quarto, vou até o meu quarto e de e olho decidida para a mala no closet.
— Filho da puta! — Grito e jogo roupas e mais roupas dentro da mala.
Fecho a mala, minhas lágrimas tomam conta do meu rosto e meu coração parece ser rasgado ao meio, mas é o melhor a ser feito. Abro a porta, arrasto a mala até a sala e encontro que anda de um lado para o outro com seu celular em mãos. E tenta correr até a mim, paralisando ao perceber a mala.
— Que mala é essa? — pergunta e está assustado.
— A sua. — Digo e empurro a mesma em sua direção. — E quando for deixa a chave em cima da mesa.
Viro as costas. A sensação de que vou desabar me atinge, mas me mantenho forte mesmo sem forças. Caminho devagar, meu coração nesse momento está mais quebrado do que nunca.
, não faz isso. — pede e me encosto na parede. — É a nossa família, nosso sonho.
Fecho meus olhos, aperto forte a parede e as lágrimas molham todo meu rosto.
— Não fiz nada. — Respondo com a voz fraca. — Você sozinho destruiu nosso sonho.
— Eu prometo que… — Não deixo que termine.
— Chega! — Grito e o encaro. — Não aguento mais ouvir o que não cumpre, não aguento mais ouvir sua voz, olhar pra sua cara.
. — me encara e faz menção em se aproximar, mas nego. — Eu…
— Eu. — Debocho. — Eu. — Ele me encara triste. — Sua vida se resume a isso, a si mesmo. É sempre você, o seu trabalho, seus contratos… Sua vida nos últimos meses não envolve a mim ou as crianças, trata a nossa casa como hotel que come, toma banho e dorme. Somos tudo menos uma família, . Não tem amor entre nós dois, apenas brigas, pelo mesmo motivo, sempre. E por mais chato e repetitivo que seja, eu brigo com você, eu abro seus olhos porque eu não quero que seus filhos sintam raiva de você mas você não entende não é mesmo? Eu peço atenção, para não deixar esse sentimento morrer, eu peço tantas coisas e você não percebe. Eu peço tantas vezes abraços, mas não enxerga assim como seus filhos pedem amor, apenas amor que não consegue dar.
senta no sofá, leva sua mão até seu rosto e arrasto meu corpo até a parede, caio sentada ao chão.
— Nos últimos meses o trabalho exige mais de mim, no início do ano assumo como presidente e em todas as reuniões aquela noite de bebedeira e confusão que estampou os jornais por semanas, sempre entra na pauta. — se explica, permaneço de cabeça baixa e lágrimas caem. — E é cansativo, provar uma, duas, três vezes quem eu sou. E isso não é uma justificativa, mas é isso que eu venho fazendo. Trabalho duro, o primeiro a chegar, o último a sair, aquele que busca a perfeição no que faz porque pessoas esperam minha derrota, meu fracasso, meu pior, e eu não quero nada disso.
— Vai embora. — Peço sem forças. — Por favor, faz isso por mim.
, por favor… — Pede e meu coração parece rasgar ao meio. — Quantas coisas passamos para estarmos juntos, você com dezesseis anos, enfrentou tudo para viver ao lado de um cara de vinte anos conhecido como o filho problema de Miguel , namoramos, casamos novos, quando eu assumi o cargo na empresa você me abraçou e disse que não estava sozinho.
— Se você lembra disso tudo porque você suportou tudo sozinho? — Minha voz sai mais alta. — Eu sou a sua esposa, eu sou aquela que jurou na alegria ou na tristeza e mesmo assim tratou tudo do seu jeito, não me procurou, não desabou. Fez tudo do seu jeito, foi ferindo aqui, ali, se ferindo e destruindo tudo.
— Eu não queria que nada afetasse vocês. — grita e dá um soco na mala. — Porque tudo é apenas uma consequência de atitudes erradas, do meu eu do passado.
Nego com a cabeça e soco o seu peitoral. Ambos choramos e eu vejo o fim diante de mim.
— Afetou. — Digo decepcionada. — Todas as noites esperamos por você pra jantar, todos os jogos de futebol Romeu procurou por você na plateia, todas as noites Gael esperou por suas histórias antes de dormir todos os dias, sua esposa todas as noites esperou por alguém em quem contar como foi seu dia, dividir suas conquistas e derrotas, mas não aconteceu isso assim. Como não pude ouvir como foi seu dia, saber das suas conquistas e te abraçar forte em cada derrota. E hoje você deixou marcado na vida dos seus filhos, algo que nem em mil anos conseguirá apagar e eu só quero que você lembre de dezembro, da nossa paixão, do nosso casamento, do tanto que choramos para ter tudo que temos hoje que pra mim é o suficiente.
— Eu lembro de dezembro! — grita, abraça meu corpo por trás. — Você em seu vestido de noiva, aquela capela pequena apenas nos dois e o Padre, mas um amor verdadeiro. E todos nos chamaram de loucos, mas, antes de aceitar a vaga na empresa, eu te pedi em casamento porque não suportaria tudo sem você. E já tem dezoito anos, dois filhos, somos formados e temos tudo, mas porque parece ser nada?
— Vai embora! — Tiro a aliança com dificuldade e, com os olhos cheios de lágrimas, o encaro: — E eu sinto muito por acabar assim.
Pego sua mão, abro, coloco a aliança e a fecho. Solto as nossas mãos, faço o caminho até o quarto, tranco a porta e me encosto na mesma.


Papai sempre me trouxe a coquetéis de lançamento. Aos dezesseis anos, não entendeu quando o procurei na empresa da família, disse que lecionar era o meu futuro. O mesmo ficou furioso e não entendeu o motivo de não aceitar assumir a empresa da nossa família.
— Caramba. — Uma taça de vinho caiu em cima de mim.
— Desculpa. — Encarei o dono da voz. Seus olhos são azuis intensos. — De verdade.
E comecei a rir ao notar sua cara preocupada. O mesmo não entendeu nada e me acompanhou nas risadas.
— Você me ajudou. — Apontei para o vestido. — E me deu o motivo para ir embora, procurei a noite inteira uma desculpa boa.
— Ajudei então? — Sorriu.
— Sim. — Brinquei com ele, que continuou a sorrir. — E qual o seu nome?
! — Se apresentou e estendeu sua mão para mim.
Torres! — Apertei sua mão e o mesmo beijou a minha.



Soco o travesseiro, as lágrimas caem pelo meu rosto e sinto meu mundo desabar. A marca da aliança no meu dedo, são dezoito anos carregando-a comigo, com orgulho ao saber o seu significado. E aceitar o fim não é fácil, ser quem coloca o ponto final menos ainda. Eu amo , muito mesmo, mas alguém precisa dar o primeiro passo, a aceitar a realidade por mais cruel que seja.
Um filme passa em minha cabeça, durante todo os últimos meses, erramos muito. ao chegar tarde em casa todos os dias, corrigir provas na cama, reclamar pela casa bagunçada, sua falta de responsabilidade com a família.
— Afastámos um da vida do outro, um pouco a cada dia. — Digo a mim mesma.


* *


Estaciono o carro na minha vaga na universidade, encosto a cabeça no volante e sinto a lágrima escorrer pelo rosto. Enxugo o rosto, forço-me a sorrir até parecer com vicente. Desço do carro, caminho devagar pelo campus mesmo atrasada e escuto algumas pessoas chamar pelo meu nome. Entro na sala. Os alunos me encaram e com certeza, percebem, meu estado arrasada.
— Bom dia! — Forço um sorriso que me custa muito do que resta das minhas forças.
Uma semana… E todo dia a dor aumenta mais um pouco, ignoro as ligações ou mensagens relacionadas ao nós dois, apenas passo informações de Romeu e Gael. Adentro a sala de professores, aproveito para beber um café já que não sinto fome e sento para aguardar a próxima aula.



“Como você está?”

“Nem melhor que ontem ou pior que amanhã.”

, por favor, se cuida e, se precisar, deixa Romeu e Gael comigo.”

“Obrigada por tudo.”





! — Uma das professoras adentra a sala dos professores e a encaro.
— Sim? — Pergunto e a mesma responde animada.
— O seu marido está na faculdade — Responde animada. — E veio com flores.
— Aonde ele está? — Pergunto e a mesma me guia até o pátio.
O observo de longe, sorri em minha direção, porém permaneço sem qualquer reação.
? — Pergunto sem entender o motivo da sua visita e muitos olhares estão direcionados a nós dois.
E ele não pensa duas vezes, grita com força e luto contra as minhas lágrimas.
— Eu te amo. — Grita e noto seus olhos vermelhos.
— O que é isso, ? — Pergunto.
— Eu errei com você, muito. Tanto que eu acho que não tem volta. — Sua voz é alta, todos podem ouvir. — Eu desmereci todas as suas qualidades como mulher, eu te deixei de lado quando tudo que eu deveria fazer era cuidar de você. Quantas vezes você precisou e eu não estive do seu lado?
O observo. Meus olhos ardem. Não quero chorar, não depois de tudo.
— Eu, … — Bate no peito e respiro fundo. — Fecho contratos milionários, mas eu não cumpri a promessa de te amar todos os dias da minha vida. Eu te amei sim, mas na maioria dos dias eu não te amei do jeito que você merece ser amada. Você foi a primeira mulher que eu me apaixonei e eu te prometi que jamais a machucaria, mas eu fiz isso. Eu sou um merda, eu sei disso e também sei que você erra sim mas não pode ser comparado aos meus erros. Eu joguei nas suas costas filhos, responsabilidades. E como sempre diz, você é a supermãe. Você não os esquece na escola, dá atenção a eles, você não se abate, você faz tudo por eles e para eles e me diz o que eu faço por vocês? Nada. Eu não mereço o amor de vocês assim como não mereço ver os meus filhos sorrindo pra mim, não mereço que cuide de mim quando eu estou doente, não mereço que você deixe meu jantar no micro-ondas todos os dias, não mereço nosso casamento, mas, mesmo assim, você está lá.
, para. — Praticamente imploro e ele continua.
— Eu reconheço que eu errei. — Grita e vejo lágrimas em seus olhos. — Eu reconheço que eu só pensei em mim, reconheço não ser um bom marido, não ser um bom pai. Eu reconheço que eu não te abracei quando precisou de mim. E seu pudesse fazer tudo diferente eu faria, tudo, tudo.
O silêncio se instalada, vejo enxugar suas lágrimas e me encarar. O pátio está cheio, respiro fundo e luto para conseguir falar.
— Acabou? — Pergunto, minha voz ameça a falhar e os olhos queimam pelas lágrimas que não deixo escapar. — Achou mesmo que meia dúzia de palavras bonitas me faria correr para seus braços e te dar um beijo apaixonado? Não, não funciona assim comigo. Eu sou uma pessoa, cheia de sentimentos confusos dentro dela, eu não sei mais o que eu sinto quando eu olho pra você, se é amor ou se é dor por todo desamparo, por todas as vezes que me deixou sozinha, por todas as vezes que achou que não era importante participar da vida dos seus filhos e da minha vida. Então, eu não sei te dizer hoje se é tarde demais ou se ainda dá tempo, sei dizer que agora tudo que eu não quero é olhar pra você. Eu enjoei da sua cara, da sua voz, sabe a gota d’água ela aconteceu e não posso fechar os olhos pra isso. Preciso sentir toda essa confusão, pra ver se terei força de tentar lutar por isso. E vou te pedir uma vez, pra você ir embora e me mostrar que você realmente está disposto lutar pela sua família, mas independente da minha resposta eu espero que mude a sua postura com os seus filhos porque estando juntos ou não, jamais deixaremos de ser a , mãe ou , pai. E espero de coração que a partir de agora aproveite a segunda chance com seus filhos já que com sua esposa eu não sei te responder hoje se eu quero te dar uma chance.
. — tenta se aproximar e concluo.
— Porque antes pensar em dezembro, há dezoito anos, era o suficiente para me dar forças. — O encaro. — Hoje eu penso em dezembro apenas como uma lembrança que ficou no passado, sem vontade alguma de manter ela no meu presente. Porque hoje mesmo você vindo aqui, dizendo tudo que disse, não consigo acreditar em uma palavra assim como não consigo acreditar que dezembro pra você seja o que ele é ou foi pra mim.
Dou as costas para ele, caminho apressada, adentro o banheiro da sala dos professores e depois de trancar a porta eu desabado. As lágrimas rolam pelo meu rosto, sinto vontade de correr, de dizer que acredito, mas não posso fazer isso comigo.
Lavo o rosto, abro a porta e percebo que algumas pessoas me encaram, mas voltam para seus afazeres e agradeço, porém a mulher que me avisou da visita de , me encara com uma cara de poucos amigos. Passo pela mesma, junto minhas coisas, pego as pastas e coloco minha bolsa pendurada em meu ombro, não tenho mais paciência para ficar aqui.
— Você é uma insensível! — A mulher praticamente grita e sorrio da sua atitude. — Um homem que admite que errou, além de ser lindo!
— Cuida da sua vida. — Sou curta e grossa. — E não se dê tamanha importância, não te dou e nem darei liberdade para se envolver em meus assuntos pessoais.
— Mas… — a corto na hora, antes que diga mais alguma coisa e me descontrole.
— Sem mas. — Digo, já estressada — Minha vida pessoal é a minha vida pessoal, diz respeito apenas a mim e as pessoas envolvidas, por favor coloque-se em seu lugar, entenda que não se deve se intrometer em assuntos que sequer sabe da missa a metade.


A semana passou mais lenta que o normal. Na segunda-feira cheguei em casa cansada, pedi e buscou os meninos na escola e senti o cheiro de comida e fui direto para a cozinha. Para a minha surpresa, não vi e sim .
— Boa noite, ! — disse e o encarei sem vontade alguma de responder, mas Romeu me olhou e me esforcei por ele.
— Boa noite! — Disse e ele sorriu.
— Busquei os meninos na casa de , aproveitei e fiz uma janta. — disse e apenas assenti que sim. — E pode descansar que os coloco na cama antes de ir embora.
Não respondi, apenas deixei a cozinha, sem fome e vontade de estar ali.

Na terça-feira, liguei para a secretária de e pedi para lembrar de buscar os meninos na escola, sempre educada a mulher disse que faria o que pedi.
— Chegou em casa cedo? — perguntou e tampei a panela do arroz.
— Não. — Disse e sentei no sofá. — Sem aulas nas terças nesse semestre.
Meu celular apitou. Uma foto de com os meninos em seu carro e os meninos sorriam o que acalmou meu coração pelo menos um pouco.
passou pela porta com os meninos, o convidei para jantar, ele aceitou e depois me ajudou com os meninos.
— Boa noite, ! — Disse ao passar pela porta.
— Boa noite! — Disse e fechei a porta, tranquei a mesma e fui dormir.

Na quarta-feira ainda quando preparava o jantar chegou. A felicidade dos meus filhos foi o combustível para tentar ter forças, por eles. E meus olhos quase me entregaram ao olhar a embalagem da padaria que frequentei por anos. Os melhores doces de Curitiba só se encontra lá.
— A mãe de vocês comia esse mesmo doce todos os dias quando ia para a faculdade. — Sua lembrança mexeu comigo, um filme passou em minha cabeça e ele esteve presente nele.
ajudou os meninos com a lição de casa, ajudou a colocá-los na cama e foi embora.
? — Perguntei, e era bem tarde.
— Aconteceu alguma coisa, amiga? — Perguntou preocupada.
— Sim. — Respondi e chorei por minutos até conseguir responder. — tirou a semana para mostrar o que nos últimos dois anos não mostrou.
— E isso é ruim? — Perguntou.
— Muito. — Enxuguei as lágrimas. — Uma pessoa não pode mudar de uma hora pra outra, esquecer que magoou as outras com seu jeito… Me deixou confusa com tudo isso.
— Não contei, mas ele esteve aqui em casa — se explicou. — E escutei a conversa dele com o e posso estar errada, porém ele se arrependeu de verdade, .
— Quer que eu perdoe? — Praticamente gritei e ela sorriu.
— Não, Maluca! — Minha amiga riu do outro lado da linha. — O que eu quis dizer com isso é que se arrependeu pelas bobagens o que explica uma mudança, esperou uma semana para procurar por você e nessa semana te surpreendeu com atitudes nada comuns.

— Assim como você deu o primeiro passo ao decidir o fim, — conclui. — ele fez o mesmo em relação a lutar pela família. Isso demonstrou que ainda existe amor mesmo com toda a mágoa. E eu sei que aí dentro desse coração não morreu todo o sentimento, não se force a nada apenas viva um dia de cada vez. E aproveite para refletir se quer continuar da forma que está ou se vale a pena a segunda chance.
— Obrigada. — Sorri. — De verdade.
— Eu te amo e estou sempre do seu lado. — sorri e despedi da mesma.
Nesta noite foi a primeira vez que olhei para a cama vazia e cogitei a possibilidade de uma segunda chance.

Na quinta-feira, Romeu jogou em um campeonato e fomos comer pizza com a turma dele para comemorar a partida. Foi maravilhoso ver Romeu nos braços do pai, correram pelo campo com sorrisos em seus lábios e Gael os acompanhou na comemoração.
— Filho, você quer realmente mais um pedaço? — Perguntei ao Gael já com as mãozinhas na fatia. — Mamãe disse isso apenas pra lembrar da conversa que tivemos, comer apenas o que tem vontade e não jogar comida fora.
— Sim, mamãe. — Respondeu e deu uma mordida.
— Mãe? — Romeu me puxou pela blusa e disse baixo apenas pra mim: — O papai ficou orgulhoso você viu?
O abracei forte contra meu peito e o enchi de beijos em sua bochecha.
— Eu vi, meu amor. — Acariciei seu rosto e seus olhos azuis brilhavam. — E sempre foi o meu campeão, que só me enche de orgulho.
— Você não conta, mamãe. — Brinca. — É minha maior fã e sempre vai me achar bom.
— Sou mesmo. — Mostrei a língua e ele sorriu. — E você tem talento, meu amor.
— Mamãe eu te amo. — Disse e meus olhos se encheram de lágrimas.
— Repete pra mamãe gravar. — Brinquei e ele sorriu. — E eu te amo muito.
Gael dormiu nos braços de e Romeu pegou no sono na cadeira apoiado com a cabeça no colo do pai e sorri para o homem que pediu para fotografar o momento. E nos despedimos dos pais dos amiguinhos de Romeu e ignorei alguns olhares femininos direcionados a .
— Vamos? — Perguntei e ele sorriu na minha direção. — Seu fã clube gostou da sua presença.
gargalhou com Gael em seu colo e o encarei sem entender a graça.
— Ciúmes, ? — Perguntou e ignorei sua pergunta idiota.
com ciúmes? Nunca. — Respondi e ele fingiu acreditar.
Peguei Gael em seu colo e ele pegou Romeu em seu colo. E segurou na minha mão na hora de ir embora e não entendi, mas não soltei nossas mãos.

— Você o quê? — praticamente gritou do outro lado da linha.
— Deixei ele segurar a minha mão na hora de ir embora. — Me irritei por ter que repetir.
— E aí como foi? — Perguntou animada.
— Normal ué. — Disse. — Segurar mão é apenas segurar mão.
— Você me entendeu muito bem! — me cutucou. — Não é nenhuma mão ou qualquer pessoa.
— Foi bom. — Admiti e ouvi sua risada. — E, para minha defesa, não foi nenhuma mão, é o pai dos meus filhos, o cara com quem sou casada há dezoito anos.
— Calma. — sorriu. — E que história de ciúmes é essa?
— Ciúmes? — Perguntei sem entender.
— Soube que se incomodou com os olhares direcionados a .
é um filha da puta mentiroso. — Gritei e sorriu do outro lado da linha. — Não ri porque não existiu nada de ciúmes, apenas foi desnecessário todos os olhares direcionados a um velho de quarenta e quatro anos.
gargalhou do outro lado da linha, tentou falar, mas não conseguiu e sacudi a cabeça.
! — me repreendeu. — é um homem bonito e você mais que ninguém sabe disso.
— Não! – Disse. – Não tem nada de bonito, já foi, não mais.
! — continuo e decidi que era hora de dormir.
— Boa noite, ! — Disse e ela riu ainda mais do outro lado da linha.
— Boa noite, Ciumenta! — respondeu e encerrou a chamada antes de dar tempo de xingá-la.
Ciúmes? Nunca.

Na sexta-feira meu carro quebrou.
Pensei duas vezes antes de pedir a para me dar uma carona, choveu o dia inteiro e deixei o orgulho de lado pelos meninos. E sentada na cadeira da sala de professores, recebi uma mensagem de áudio de com os meninos e saí da sala animada mais que o normal.
— Boa noite! — Disse e sorriu na minha direção.
— Boa noite! — Respondeu e tentou segurar minha mão, mas não deixei.
— Mamãe! — Romeu chamou minha atenção e o encarei no banco de trás. — O papai comprou comida no restaurante que você gosta.
— Você que contou pra ele, não foi? — Perguntei e Romeu negou com a cabeça.
— Papai disse: “sua mamãe ama esse restaurante”. — Meu filho se explicou e uma sensação estranha me atingiu. — E ouvi ele falar baixo que o elevador do restaurante tem lembranças de vocês.
Olhei nervosa para que me olhou assustado, com certeza, lembrou do dia em que transamos dentro do elevador depois de algumas taças de vinho além da conta.
— Filho… — Não soube o que responder e ele completou.
— Mamãe tem fotos de vocês no elevador? — Romeu perguntou e me encarou sem entender. — E que o papai disse ter lembranças de vocês e temos muitas fotos.
— Sua mãe ama tirar fotos filhos. — respondeu e dei uma cotovelada em sua barriga. — E tinha muitas fotos no elevador.
— Que legal, mamãe. — Romeu responde. — E um dia com uma garota tão legal quanto você vou fazer o mesmo.
gargalhou, seu rosto vermelho, e dei outra cotovelada na barriga dele. E apenas sorri para meu filho e deu partida no carro. Riu o caminho inteiro, pareceu uma hiena.
Colocamos um de cada vez para dormir, com cuidado fechei a porta do quarto de Romeu e caminhei até a cozinha para beber água. Senti dois braços que circularam minha cintura, um corpo quente muito próximo ao meu e fechei os olhos.
— Me perdoa, . — pediu, ainda colado ao meu corpo. — Por favor.
Usei todas as minhas forças, retirei suas mãos de minha cintura e afastei nossos corpos. Não consegui dizer nenhuma palavra. O deixei na cozinha e me tranquei em meu quarto com o coração acelerado, respiração ofegante e, por maior a vontade de me jogar em seus braços, não deixei a minha razão de lado.
Não enquanto a dúvida de sua mudança estiver no ar.


Sábado a noite e me vejo sozinha em casa. Romeu e Gael foram passear com os avôs e fico feliz que, pior que seja a situação entre eu e , não foram afetados. Acredito que em tempos o pai nunca se demonstrou tão presente como nas últimas duas semanas.
, para com isso! — Praticamente imploro. — Vamos ao bar tomar umas cervejas.
, realmente hoje não dá. — se explica, mas acho sua voz estranha. — desculpa amiga.
— Tá bom. — Decido não insistir mais e encerro a chamada.
Ligo a televisão, troco de canal sem parar por não encontrar nada de interessante. Acabo desistindo, pego o celular em cima da mesa de centro, e no instagram me deparo com fotos das colegas de trabalho em momentos em família e muitas festas. Jogo o celular em cima do sofá, completamente frustrada.

“Me encontre as 20:00 no portão de casa.” -


Não entendo a sua mensagem. Respondo mas, como sempre, sou ignorada nas mensagens não visualizadas ou respondidas, sem contar nas ligações não atendidas. E vejo no visor do celular que já passa das seis, dentro de mim indecisa entre ir ou não, porém soube atacar meu ponto fraco. Sou uma pessoa curiosa que não sossega até descobrir do que se trata.
Disco o número de que atende no segundo toque, mesmo tendo a certeza de me arrepender no segundo seguinte, peço a sua ajuda.
— O que você vestiria para jantar com seu praticamente ex-marido? — Despejo e ouço sua risada.
O que eu disse anteriormente mesmo? Me arrependi.
— Algo que te valorize. — se explica. — Um dos vestidos que comprámos combina bem com a ocasião. Fica ainda mais linda, faça ele se arrepender de ter te perdido.
— Obrigada! — Agradeço e encerro a chamada.
Corro até o quarto, abro o closet em busca do vestido e o coloco em cima da cama. Tomo um banho relaxante, visto um conjunto de lingirie que compramos no shopping e observo o vestido vermelho em cima da cama, seu decote deixa bem evidente o meu colo e sorrio animada enquanto calço meus saltos.
Faltando cinco minutos para as oito, pego a bolsa em cima da cama, dou uma última olhada no espelho e gosto do que vejo realmente gosto. Ás oito em ponto ouço a buzina do carro de , penso em sair na hora, mas o deixo esperando alguns minutos. Fecho o portão, já se encontra ao lado da porta do carona e sorri na minha direção.
— Você está maravilhosa. — beija a minha mão e me lança um sorriso. — Ou melhor, você é.
— Obrigada. — Agradeço e ajeito a sua gravata arrancando um sorriso do mesmo.
Abre a porta do carro, entro e já coloco o cinto de segurança. bate a porta do carro e dá a volta no mesmo, entrando pela porta do motorista. E, antes de dar partida no carro, pega uma venda preta tapando meus olhos. Decido entrar na brincadeira e o mesmo pisa fundo.
As mãos de seguram firmes as minhas e sorrio pela situação. Sua risada é alta ao me ver nervosa por não conseguir ver nada. Com cuidado me ajuda a subir um a um dos degraus da escada.
— Vou contar até três e pode abrir os olhos. — tira a fenda e permaneço de olhos fechados.
— Ok! — Respondo já nervosa.
— Um — Sua voz rouca me faz imaginar mil coisas. — Dois. — Continua. — Três.
Abro os meus olhos lentamente e o encontro em minha frente, apenas um pouco afastado, com um buquê de rosas vermelhas. Ouço o som do violino tocando a música que dançamos após o nosso casamento. Meus olhos se enchem de lágrimas, se aproxima, me entrega as flores e sorrio em sua direção.
— Eu lembro de dezembro, como se fosse hoje. — segura a minha mão livre. — Um dia perdido, sem saber como guiar a minha vida, eu te encontrei e, nas últimas semanas, por dias pensei no principal motivo de lutar. Muitas respostas vinham em minha mente, mas faltava algo. E me dei conta que a razão está diante de mim, eu a amo ainda mais do que quando nos casamos porque, ao longo de todos esses anos, esteve ao meu lado. Quando assumi o cargo na empresa, quando as viagens eram cansativas… Parou a sua vida por meses para estar ao meu lado, e, se isso não é amor, não sei responder o que seja tal sentimento. Errámos, cada um da sua força, mas juntos podemos consertar isso.
! — Digo preocupada e ele se ajoelha diante de mim, abre a caixa vejo as nossas alianças e meu coração parece que a qualquer momento sairá pela boca.
— Eu, , estou disposto a lutar todos os dias por nós. — Pega a minha aliança em sua mão. — Você aceita lutar ao meu lado?
Em poucos minutos um filme passa em minha cabeça.
Vejo nosso primeiro encontro, das vezes que saíamos escondidos, dos dias na universidade, dos momentos tempestuosos porém me vem tantos sorrisos, a alegria em descobrir que seríamos pais uma vez, quatro anos depois a mesma alegria. E com motivos suficientes para manter o meu “fim”, olho dentro dos olhos azuis intensos do homem que eu amo, diante de mim, de joelhos, propondo um início de uma luta por algo que sempre sonhei em constituir: a minha família.
— Eu aceito. — Digo emocionada. coloca a aliança em minha mão e faço o mesmo com a sua. — E prometo dar o meu melhor por nós.
— O melhor de mim é seu. — beija minha mão. — E farei com que sinta isso todos os dias.
Sua boca toca a minha, e, com calma, fecho meus olhos. Aos poucos os lábios buscam uns pelo outros. As suas mãos apertam firme em minha cintura e minhas mãos apertam seus ombros, porém as levo de encontro aos seus cabelos. Com beijar nunca foi apenas um toque de lábios, é como me entregar a ele por completo sem tirar qualquer peça de roupa.
— Eu te amo. — Consigo dizer, e toco o seu rosto e, ainda de olhos fechados, sinto seus lábios descendo por toda extensão do meu pescoço e as mãos brincam no decote das costas do vestido.
— Eu te amo, Senhora . — A boca de toca minha orelha, sinto uma leve mordida e aperto forte seu ombro.
Não sei dizer o que mais me impressionou nessa noite, mas ser surpreendida dessa forma avivou dentro de mim a vontade de lutar. Há algum tempo não pudemos apenas desfrutar da companhia um do outro, dançar a nossa música preferida com os corpos colados, em meio a beijos quentes de uma intimidade adquirida por dezoito anos. E a verdade: consegui enxergar no olhar de a verdade que tanto buscava, suas atitudes eram sinceras assim como a minha vontade de lutar por nossa família.


Capítulo 6


Meses depois…

Os braços de estão envoltos ao meu corpo.
Romeu e Gael correm pela areia da praia, animados e felizes. E, programando ao longo do ano, me deixa feliz perceber que conseguimos as nossas primeiras férias em família.
— A primeira vez que ouvi sobre terapia para casais não imaginei que fosse tão maravilhoso. — quebra o silêncio e beija meu pescoço.
— Verdade, meu amor. — Afirmo e sorrio para ele — Nos tornámos pessoas melhores um com o outro, nossas conquistas deixaram de ser cargos ou carreira porque enxergamos o que está diante dos nossos olhos, Romeu, Gael e a família que começamos há dezanove anos, apenas eu e você.
sela os nossos lábios e o abraço forte, deito a cabeça em seu peito e suas mãos tocam meus cabelos.
— Mamãe! Papai! — Ouço Romeu e Gael nos chamando e olho com um sorriso para .
Entrelaço nossas mãos e corremos até onde os meninos estão, mas eles continuam correndo. Por minutos eles conseguem fugir, mas os cercamos, apertamos nossos filhos contra nosso corpo em um grande abraço.
E em meio aos nossos sorrisos agradeço a dezembro de 1999.


Fim



Nota da autora: Essa história surgiu em minha cabeça. Me vi escrevendo e não conseguia parar. Confesso que não ultrapassar a quantidade de páginas foi uma tarefa um pouco difícil, porque esse casal ainda rendia muitos outros momentos. Gosto de escrever sobre as coisas que acontecem dentro de um relacionamento: nem sempre serão flores, muitos espinhos surgirão e amei escrever um pouco de algo que realmente amei. Agradeço pela oportunidade em estar nesse projeto: sou apaixonada por ficstapes. E meu agradecimento a cada pessoa envolvida nessa organização: a beta, a capista, as meninas que escreveram suas histórias e a você, que está lendo. Beijos. <3 <3 <3 <3



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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