I
- Pai, mandou me chamar? – Perguntei, apoiando-me à porta de seu escritório.
- Sim, entre. Entre, . – Chamou, fazendo um sinal com uma das mãos para que eu entrasse, sem nem ao menos levantar o olhar do bolo de papéis a sua frente.
Até hoje não sei como meu pai consegue se encontrar no meio de toda aquela bagunça. “Bagunça organizada, . Bagunça organizada.” Ao menos era isso que ele me dizia, seguido de um “Eu consigo me encontrar na minha desordem! Deixe isso aí!”, quando eu tentava ajudá-lo. A questão era que eu tinha um TOC, dos mais pesados em relação a organização. Basicamente morar com meu pai se tornava uma tortura diária. Não havia ninguém mais teimoso que Julio , senão eu, provavelmente. Pensando bem, talvez fosse isso que nos tornasse tubarões do mundo coorporativo. A faculdade fora pior ainda, mas enfim eu me encontrara feliz e estabelecida em sua empresa e trabalhando muito bem junto a , um dos homens mais intrigantes que eu já tivera o prazer, literalmente, de conhecer.
Em todos os sentidos da palavra.
- Pai, o e eu estávamos trabalhando na transação com a sede de Xangai, vai demorar muito? Tem tanta coisa pra fazer que eu nem sei como...
- Feche a porta e sente-se, filha. – Cortou-me com um tom de seriedade, finalmente se dignando a parar o que estava fazendo.
Eu obedeci um pouco no automático me perguntando qual era o problema. Será que alguma das fornecedoras tinha quebrado o contrato? Aquilo sim seria uma dor de cabeça, além do que recorrer à arbitragem, por mais célere que fosse, ainda era uma grande perda de dinheiro.
Tinha certeza, porém que não seria nada relacionado a meu trabalho com . Nós trabalhávamos muito bem juntos. Bem demais. Éramos uma combinação tão eficaz que eu tinha a mais completa confiança em nossa produção. Tudo bem que nem sempre fora assim...
FLASHBACK ON
- Pode esquecer. – Falei cruzando os braços, contrariada.
- ... – Suspirou meu pai, dando um aperto em meu ombro para que eu voltasse a encarar seu rosto.
- Eu trabalho melhor sozinha. Você sabe disso!
- VOCÊ VAI HERDAR ESSA EMPRESA! – Berrou, com o pescoço ficando vermelho e a veia em sua testa saltando perigosamente.
Sempre pensei que eu fosse a causa mortis de meu pai, por um ataque cardíaco ou algo assim. Só nunca imaginei que fosse ser tão cedo. Acho que eu subestimei minhas habilidades de enlouquecê-lo.
- Por que tem que ser tão teimosa?! Você acabou de entrar na empresa, é um dos nossos melhores empregados. Tenho certeza de que se dará muito bem com ele!
Minha eu do futuro nessa parte provavelmente cuspiria seu drink de tanto rir. Ah, pai, você não sabe o quanto iremos nos dar bem.
- Só não entendo o porquê de eu precisar fazer isso agora! Eu sempre te ajudei, fui uma das melhores em quase tudo na faculdade...
- Eu sei, filha! E tenho muito orgulho disso.
- Então por quê, pai? Por quê?
- A prática do que você aprendeu... Vivemos em um mundo de cobras, . Os advogados vampiros sugadores de sangue das outras empresas, toda a tentativa de contrapropaganda de nossa empresa rival, tentando sempre denegrir nossa imagem. Isso enlouquece nosso setor de Relações Públicas. E ainda temos os encarregados das negociações no meio disso tudo, tentando trazer algum financiamento e clientes de alto padrão para requisitar nossas construções. O que quero dizer é que nem tudo é como seu professor te disse na faculdade.
- Tudo bem. – Suspirei, fazendo uma careta.
- E o tem muitas referências e experiência na área, então... – Continuou, como se não houvesse me escutado. – Espera, você concordou?! Mesmo? Sem reclamar mais?
- Julio ! Posso ter te puxado em relação à implicância, mas também peguei o gene da racionalidade. Sei o quanto ainda preciso aprender, ainda mais se eu for assumir isso tudo quando você bater as botas. – Dei de ombros com um meio sorriso.
- Está toda ansiosa pra me ver no túmulo, não é, sua ingrata?!
- Ah, pai, claro que não. – Balancei a cabeça, rindo divertida, mas mantendo um tom irônico. – Onde está o tal do seu pupilo? – Completei, antes que ele voltasse a dar sinais de ter uma síncope por causa de minhas provocações.
- Ah, sim. – Bufou, clicando no botão comunicador de sua secretária. – Pode manda-lo entrar, por favor, Amber.
“Sim, senhor !”
Ouvimos uma voz replicando e segundos depois, um homem apareceu à porta. Digo, um homem mesmo. Não os moleques que eu estava acostumada a ter que aguentar na faculdade. Alguns se tornaram bons amigos. Outros eram somente mais daqueles inúteis machistas que viviam me subestimando para depois serem atropelados por minhas notas, meu conhecimento e minha classe. Leia-se: toda a classe que eu poderia ter, após socar um deles por ter dito algo contra minha humilde pessoa.
Mas não o homem que agora estendia sua mão para apertar a minha. Acho que em minhas divagações perdi alguma parte da conversa. Então, retomando minha compostura, endireitei meus ombros, vesti minha melhor expressão de poder e apertei sua mão, limpando a garganta.
- .
- . – Replicou, com um olhar curioso.
- Bem, agora que estão juntos, espero que se habituem um como outro. Trabalharão juntos por um bom tempo. – Falou meu pai, com um olhar de admiração.
Meu deus, pai, não vamos nos casar. Pensei, revirando os olhos. Nossa, que exagero. Teremos uma relação estritamente profissional!
FLASHBACK OFF
Em retrospecto eu fora bem ingênua em acreditar que não acabaria me envolvendo com aquele homem sexy e intrigante. Mesmo ali, naquele primeiro encontro, seu olhar parecia me despir por completo. Eu não entendera a frieza que ele passara a usar após isso, até o momento em que descobrira que não só ele tinha uma esposa, como uma pequena filha. Sim, eu tirara na loteria dos homens comprometidos.
estava tão enlaçado quanto um homem poderia ficar, mas eu não conseguia tirá-lo de minha cabeça. Como poderia ser errada a forma como sua boca encaixava na minha, o quanto seu olhar podia me pôr em fogo em poucos segundos? Por que seus pequenos sorrisos tinham o poder de iluminar meu próprio rosto, e sua presença de me envolver de forma tão intensa se não fosse algo certo?
- Sim, entre. Entre, . – Chamou, fazendo um sinal com uma das mãos para que eu entrasse, sem nem ao menos levantar o olhar do bolo de papéis a sua frente.
Até hoje não sei como meu pai consegue se encontrar no meio de toda aquela bagunça. “Bagunça organizada, . Bagunça organizada.” Ao menos era isso que ele me dizia, seguido de um “Eu consigo me encontrar na minha desordem! Deixe isso aí!”, quando eu tentava ajudá-lo. A questão era que eu tinha um TOC, dos mais pesados em relação a organização. Basicamente morar com meu pai se tornava uma tortura diária. Não havia ninguém mais teimoso que Julio , senão eu, provavelmente. Pensando bem, talvez fosse isso que nos tornasse tubarões do mundo coorporativo. A faculdade fora pior ainda, mas enfim eu me encontrara feliz e estabelecida em sua empresa e trabalhando muito bem junto a , um dos homens mais intrigantes que eu já tivera o prazer, literalmente, de conhecer.
Em todos os sentidos da palavra.
- Pai, o e eu estávamos trabalhando na transação com a sede de Xangai, vai demorar muito? Tem tanta coisa pra fazer que eu nem sei como...
- Feche a porta e sente-se, filha. – Cortou-me com um tom de seriedade, finalmente se dignando a parar o que estava fazendo.
Eu obedeci um pouco no automático me perguntando qual era o problema. Será que alguma das fornecedoras tinha quebrado o contrato? Aquilo sim seria uma dor de cabeça, além do que recorrer à arbitragem, por mais célere que fosse, ainda era uma grande perda de dinheiro.
Tinha certeza, porém que não seria nada relacionado a meu trabalho com . Nós trabalhávamos muito bem juntos. Bem demais. Éramos uma combinação tão eficaz que eu tinha a mais completa confiança em nossa produção. Tudo bem que nem sempre fora assim...
FLASHBACK ON
- Pode esquecer. – Falei cruzando os braços, contrariada.
- ... – Suspirou meu pai, dando um aperto em meu ombro para que eu voltasse a encarar seu rosto.
- Eu trabalho melhor sozinha. Você sabe disso!
- VOCÊ VAI HERDAR ESSA EMPRESA! – Berrou, com o pescoço ficando vermelho e a veia em sua testa saltando perigosamente.
Sempre pensei que eu fosse a causa mortis de meu pai, por um ataque cardíaco ou algo assim. Só nunca imaginei que fosse ser tão cedo. Acho que eu subestimei minhas habilidades de enlouquecê-lo.
- Por que tem que ser tão teimosa?! Você acabou de entrar na empresa, é um dos nossos melhores empregados. Tenho certeza de que se dará muito bem com ele!
Minha eu do futuro nessa parte provavelmente cuspiria seu drink de tanto rir. Ah, pai, você não sabe o quanto iremos nos dar bem.
- Só não entendo o porquê de eu precisar fazer isso agora! Eu sempre te ajudei, fui uma das melhores em quase tudo na faculdade...
- Eu sei, filha! E tenho muito orgulho disso.
- Então por quê, pai? Por quê?
- A prática do que você aprendeu... Vivemos em um mundo de cobras, . Os advogados vampiros sugadores de sangue das outras empresas, toda a tentativa de contrapropaganda de nossa empresa rival, tentando sempre denegrir nossa imagem. Isso enlouquece nosso setor de Relações Públicas. E ainda temos os encarregados das negociações no meio disso tudo, tentando trazer algum financiamento e clientes de alto padrão para requisitar nossas construções. O que quero dizer é que nem tudo é como seu professor te disse na faculdade.
- Tudo bem. – Suspirei, fazendo uma careta.
- E o tem muitas referências e experiência na área, então... – Continuou, como se não houvesse me escutado. – Espera, você concordou?! Mesmo? Sem reclamar mais?
- Julio ! Posso ter te puxado em relação à implicância, mas também peguei o gene da racionalidade. Sei o quanto ainda preciso aprender, ainda mais se eu for assumir isso tudo quando você bater as botas. – Dei de ombros com um meio sorriso.
- Está toda ansiosa pra me ver no túmulo, não é, sua ingrata?!
- Ah, pai, claro que não. – Balancei a cabeça, rindo divertida, mas mantendo um tom irônico. – Onde está o tal do seu pupilo? – Completei, antes que ele voltasse a dar sinais de ter uma síncope por causa de minhas provocações.
- Ah, sim. – Bufou, clicando no botão comunicador de sua secretária. – Pode manda-lo entrar, por favor, Amber.
“Sim, senhor !”
Ouvimos uma voz replicando e segundos depois, um homem apareceu à porta. Digo, um homem mesmo. Não os moleques que eu estava acostumada a ter que aguentar na faculdade. Alguns se tornaram bons amigos. Outros eram somente mais daqueles inúteis machistas que viviam me subestimando para depois serem atropelados por minhas notas, meu conhecimento e minha classe. Leia-se: toda a classe que eu poderia ter, após socar um deles por ter dito algo contra minha humilde pessoa.
Mas não o homem que agora estendia sua mão para apertar a minha. Acho que em minhas divagações perdi alguma parte da conversa. Então, retomando minha compostura, endireitei meus ombros, vesti minha melhor expressão de poder e apertei sua mão, limpando a garganta.
- .
- . – Replicou, com um olhar curioso.
- Bem, agora que estão juntos, espero que se habituem um como outro. Trabalharão juntos por um bom tempo. – Falou meu pai, com um olhar de admiração.
Meu deus, pai, não vamos nos casar. Pensei, revirando os olhos. Nossa, que exagero. Teremos uma relação estritamente profissional!
FLASHBACK OFF
Em retrospecto eu fora bem ingênua em acreditar que não acabaria me envolvendo com aquele homem sexy e intrigante. Mesmo ali, naquele primeiro encontro, seu olhar parecia me despir por completo. Eu não entendera a frieza que ele passara a usar após isso, até o momento em que descobrira que não só ele tinha uma esposa, como uma pequena filha. Sim, eu tirara na loteria dos homens comprometidos.
estava tão enlaçado quanto um homem poderia ficar, mas eu não conseguia tirá-lo de minha cabeça. Como poderia ser errada a forma como sua boca encaixava na minha, o quanto seu olhar podia me pôr em fogo em poucos segundos? Por que seus pequenos sorrisos tinham o poder de iluminar meu próprio rosto, e sua presença de me envolver de forma tão intensa se não fosse algo certo?
II
- Com licença, o senhor mandou me chamar? – Perguntou ao abrir a porta e nos encarar com uma expressão tranquila, como se fosse super normal o meu pai nos reunir em pleno expediente.
- Sente-se aqui, . – Ordenou meu pai seriamente enquanto unia suas mãos sobre a mesa, apoiando os cotovelos. Sua expressão era muito enigmática, me impedindo de conseguir ter uma noção sobre o que estava por vir.
- E então...? – Perguntei o incitando a começar a dizer qual era o motivo de estarmos ali, ao invés de estarmos reunidos com algum cliente famoso disposto a gastar milhões com nossas obras.
Meu pai suspirou inquieto enquanto esfregava as mãos pelo rosto, nos encarando em seguida. Nos encarou preocupadamente até que pigarreou, parecendo escolher as palavras.
As batidas do meu coração se aceleraram por nervosismo, as reações do meu pai eram um alerta de que vinha confusão por aí. Desde o ventre da minha mãe já sabia que ele não é do tipo de pessoa que hesita em dizer algo. Ele é o homem que vai direto ao ponto, doa a quem doer, quer dizer, menos com os clientes.
- Eu estou extremamente desapontado com vocês – Revelou demonstrando em sua feição cansada a decepção estampada.
- Como assim? Perdemos algum cliente? O Neymar não gostou do projeto? – Questionei confusa enquanto não era capaz de considerar qualquer possibilidade recente de erro que possa causar esse tipo de reação nele... a não ser que...
Seria possível? A única coisa que poderia fazer isso com ele é o fato de ter me envolvido emocionalmente com o e principalmente, por ter sido a única coisa que ele me pediu para não fazer.
Merda! Que não seja isso...
- Desde quando vocês estão juntos? – Perguntou secamente enquanto nos encarava.
Olhei para em um pedido de ajuda silencioso. Tinha quase certeza que meus olhos poderiam pular da minha cara a qualquer momento. E o dito cujo nem sequer estava me olhando. O covarde estava encarando seus próprios pés em silêncio.
- Vão me responder ou terei que demitir os dois? – Ameaçou meu pai irritado, começando a aumentar o tom de voz.
Respirei fundo, tentando manter a calma para não pirar. Enquanto me lembrava do nosso primeiro beijo.
FLASHBACK ON
- O que me diz, sabe-tudo? – Perguntou , recostado próximo à impressora.
- Eu digo não. Sem chance.
O homem riu, incrédulo, balançando a cabeça em negação com minha teimosia. Estávamos matando o tempo, conversando na salinha de impressão, aguardando os documentos da Global Tech chegarem pelo FAX. Poderíamos ter mandado um estagiário qualquer fazê-lo. A maioria dos figurões da construtora amavam fazê-lo para demonstrar sua superioridade perante os futuros carreiristas. Porém, não fazia meu estilo, nem o de , confiar a guarda de documentos tão importantes a meros iniciantes. Éramos desconfiados demais para isso, o que nos tornava o par perfeito. Ao menos no trabalho, é claro.
- E eu digo que sim!
- Então onde isso nos deixa, gênia?
Fitei o homem, avaliando-lhe de cima a baixo, como que incerta se ele aguentaria o tranco. Se tinha algo sobre os , era que eles confiam demais no seu taco para fraquejar.
- O que me diz de uma aposta, grandão?
- Aposta? – Perguntou ele, curioso, abrindo um meio sorriso sexy de competitividade.
Essa certamente era uma característica que nos unia, fosse para o bem ou para o mal. Porém, nunca chegando a afetar nosso trabalho. Tínhamos uma sincronia forte demais para que isso chegasse a ocorrer.
- Sim. – Dei de ombros. – Se acredita tanto assim no que diz, então prove.
- Ok, então. Apostado, . Mas não vem choramingar quando perder!
Qualquer um que nos olhasse de longe, poderia pensar que nossa conversa envolvesse trabalho. Ou até que estivéssemos apostando sobre alguma aquisição, ou o valor de oferta para construção de nosso próximo projeto.
Porém, isso estava longe da verdade. Prova disso foi nosso encontro marcado em um bar do centro da cidade, para mais tarde naquele mesmo dia. Quem conseguia virar mais shots era a questão do dia. E eu tinha certeza de que por mais que fosse grande, não chegaria nem na terceira.
Percebi que me ferrei quando a famosa expressão “tamanho não é documento” falhou comigo. No fim das contas ele se demonstrou um adversário a altura, o que eu certamente nunca admitiria em voz alta. E deus me livre de perder a aposta.
- Me diz, . Quão alto quer chegar?
- O quão alto se dá para chegar.
- Diretoria? – Questionou ele, arregalando seus olhos. – Nunca te levei por uma engravatada.
O homem deu de ombros, enquanto eu virei meu terceiro shot.
- Uma das filiais será minha. – Falei, com determinação.
me avaliou, levantando uma sobrancelha, surpreso com o quanto eu devia parecer querer aquilo.
- De uma forma ou de outra, um dia isso tudo será seu. – Replicou, virando seu terceiro.
- Sim... Mas não é a mesma coisa. – Balancei a cabeça em negativa.
- Como assim? – Perguntou, indicando ao garçom para trazer mais uma bandeja.
- Eu quero que seja por mérito, entende? Se eu conseguir isso, não vai ser só por ser a “herdeira do trono” – Fiz aspas no ar com uma careta. – Vão duvidar de minha capacidade de qualquer forma. Eu sei. Mas não quero ganhar isso de mão beijada.
Olhei para meu colo quando o garçom trouxe outras doses e entregou-me mais uma. Levantou seu copinho, fazendo-me olhar para cima e berrou.
- À seu futuro!
- Ao nosso. – Gargalhei, virando o shot, que desceu queimando minha garganta, sem piedade.
Após a quinta dose de tequila, eu já nem lembrava mais o que havia nos trazido àquele bar. A sexta deve ter tido o mesmo efeito em , já que ele começou a falar incoerências assim como eu. A sétima foi a perdição, tanto para mim, quanto para ele.
- Eu amo o meu trabalho! – Berrou ele, levantando outro copinho, derramando metade do líquido âmbar.
- Chega disso, Grandão! – Sorri, me aproximando. – Acho que você já bateu sua quota!
- Nu-uh. – Falou balançando a cabeça. – Não me diz que você é do tipo bêbada consciente.
- EI! Eu tenho maior resistência só. Não é culpa minha você ser tão fracote.
- Ah, sim. Agora tudo fez sentido, . – Riu ele, se aproximando de meu rosto, fazendo-me perder o ar.
- Até você reconhece. Sou a vencedora aqui. – Soltei, tentando ignorar o efeito que sua proximidade tinha em mim. Mas juro que foi a embriaguez que fez com que minha mão subisse a seu rosto para acariciar àquela barba provocante.
fechou os olhos por uns segundos. Quando os abriu, eu já estava mais próxima de seu rosto, o que deixou suas íris ainda mais em brasas.
- O que vou fazer com você, ?!
Mordi meu lábio, hipnotizada, sem mais barreiras de sobriedade - ou racionalidade, devo acrescentar – para me impedir de fazer o que sabia que ambos queríamos, mas que nunca poderíamos ter, ao menos não sóbrios. E não pela primeira vez, em que a culpa seria a rainha de tudo.
- Isso. – Finalmente respondi, dando um impulso para selar o caminho até seus lábios carnudos e macios nos meus.
Se tínhamos sincronia no trabalho, nosso beijo era pura sinfonia. Mesmo em nossos delírios bêbados, com fogos de artifício explodindo minha mente e suas certezas. Ainda sim, era como se nossas línguas dançassem uma valsa excitante sem perder o passo, nenhuma vez.
FLASHBACK OFF
- Senhor , eu...
- Pai, eu...
Disse, ao mesmo tempo em que . Olhei feio para o homem, querendo explicar para meu pai como foi que me meti nessa confusão. De preferência sem os olhos do homem com quem eu vinha tendo um caso queimando em minha nuca.
- Isso é inadmissível e completamente contra a moral e os regulamentos da empresa! – Bufou dando um tapa na mesa.
- Pai, tem como eu consertar isso. Só me deixe...
- , a única forma de você sair desse buraco em que se meteu, é aceitando dirigir a filial de Dubai.
Meus olhos e provavelmente os de também, se esbugalharam diante da proposta. Aquele era meu sonho, por mais que tenha vindo de uma forma completamente diferente da que eu esperara, ali estava minha oportunidade.
Mas eu hesitei. Sei que hesitei, meu pai percebeu, até percebeu. Porém, eu sabia que meu romance com o homem não era certo. Aquela não era a hora e nem o lugar para ocorrer. Então sim, eu partiria. Aceitaria a proposta de meu pai e provaria para ele que posso dirigir a empresa como um todo no futuro.
Quando a oportunidade bate à sua porta, não a deixe escapar, . Isso sempre dizia minha mãe. Somente mais uma voz racional em minha mente. E foi seguindo essa voz, ignorando todo o estado emocional conturbado em que estava que eu disse o que meu pai tanto esperava ouvir.
- Tudo bem. Eu aceito.
Levantei-me da cadeira, sem poder mais aguentar o olhar pesado de em minhas costas e parti. Parti sem saber se o veria novamente. Mas o que mais importava, era que eu não estava abrindo mão de meu sonho.
- Sente-se aqui, . – Ordenou meu pai seriamente enquanto unia suas mãos sobre a mesa, apoiando os cotovelos. Sua expressão era muito enigmática, me impedindo de conseguir ter uma noção sobre o que estava por vir.
- E então...? – Perguntei o incitando a começar a dizer qual era o motivo de estarmos ali, ao invés de estarmos reunidos com algum cliente famoso disposto a gastar milhões com nossas obras.
Meu pai suspirou inquieto enquanto esfregava as mãos pelo rosto, nos encarando em seguida. Nos encarou preocupadamente até que pigarreou, parecendo escolher as palavras.
As batidas do meu coração se aceleraram por nervosismo, as reações do meu pai eram um alerta de que vinha confusão por aí. Desde o ventre da minha mãe já sabia que ele não é do tipo de pessoa que hesita em dizer algo. Ele é o homem que vai direto ao ponto, doa a quem doer, quer dizer, menos com os clientes.
- Eu estou extremamente desapontado com vocês – Revelou demonstrando em sua feição cansada a decepção estampada.
- Como assim? Perdemos algum cliente? O Neymar não gostou do projeto? – Questionei confusa enquanto não era capaz de considerar qualquer possibilidade recente de erro que possa causar esse tipo de reação nele... a não ser que...
Seria possível? A única coisa que poderia fazer isso com ele é o fato de ter me envolvido emocionalmente com o e principalmente, por ter sido a única coisa que ele me pediu para não fazer.
Merda! Que não seja isso...
- Desde quando vocês estão juntos? – Perguntou secamente enquanto nos encarava.
Olhei para em um pedido de ajuda silencioso. Tinha quase certeza que meus olhos poderiam pular da minha cara a qualquer momento. E o dito cujo nem sequer estava me olhando. O covarde estava encarando seus próprios pés em silêncio.
- Vão me responder ou terei que demitir os dois? – Ameaçou meu pai irritado, começando a aumentar o tom de voz.
Respirei fundo, tentando manter a calma para não pirar. Enquanto me lembrava do nosso primeiro beijo.
FLASHBACK ON
- O que me diz, sabe-tudo? – Perguntou , recostado próximo à impressora.
- Eu digo não. Sem chance.
O homem riu, incrédulo, balançando a cabeça em negação com minha teimosia. Estávamos matando o tempo, conversando na salinha de impressão, aguardando os documentos da Global Tech chegarem pelo FAX. Poderíamos ter mandado um estagiário qualquer fazê-lo. A maioria dos figurões da construtora amavam fazê-lo para demonstrar sua superioridade perante os futuros carreiristas. Porém, não fazia meu estilo, nem o de , confiar a guarda de documentos tão importantes a meros iniciantes. Éramos desconfiados demais para isso, o que nos tornava o par perfeito. Ao menos no trabalho, é claro.
- E eu digo que sim!
- Então onde isso nos deixa, gênia?
Fitei o homem, avaliando-lhe de cima a baixo, como que incerta se ele aguentaria o tranco. Se tinha algo sobre os , era que eles confiam demais no seu taco para fraquejar.
- O que me diz de uma aposta, grandão?
- Aposta? – Perguntou ele, curioso, abrindo um meio sorriso sexy de competitividade.
Essa certamente era uma característica que nos unia, fosse para o bem ou para o mal. Porém, nunca chegando a afetar nosso trabalho. Tínhamos uma sincronia forte demais para que isso chegasse a ocorrer.
- Sim. – Dei de ombros. – Se acredita tanto assim no que diz, então prove.
- Ok, então. Apostado, . Mas não vem choramingar quando perder!
Qualquer um que nos olhasse de longe, poderia pensar que nossa conversa envolvesse trabalho. Ou até que estivéssemos apostando sobre alguma aquisição, ou o valor de oferta para construção de nosso próximo projeto.
Porém, isso estava longe da verdade. Prova disso foi nosso encontro marcado em um bar do centro da cidade, para mais tarde naquele mesmo dia. Quem conseguia virar mais shots era a questão do dia. E eu tinha certeza de que por mais que fosse grande, não chegaria nem na terceira.
Percebi que me ferrei quando a famosa expressão “tamanho não é documento” falhou comigo. No fim das contas ele se demonstrou um adversário a altura, o que eu certamente nunca admitiria em voz alta. E deus me livre de perder a aposta.
- Me diz, . Quão alto quer chegar?
- O quão alto se dá para chegar.
- Diretoria? – Questionou ele, arregalando seus olhos. – Nunca te levei por uma engravatada.
O homem deu de ombros, enquanto eu virei meu terceiro shot.
- Uma das filiais será minha. – Falei, com determinação.
me avaliou, levantando uma sobrancelha, surpreso com o quanto eu devia parecer querer aquilo.
- De uma forma ou de outra, um dia isso tudo será seu. – Replicou, virando seu terceiro.
- Sim... Mas não é a mesma coisa. – Balancei a cabeça em negativa.
- Como assim? – Perguntou, indicando ao garçom para trazer mais uma bandeja.
- Eu quero que seja por mérito, entende? Se eu conseguir isso, não vai ser só por ser a “herdeira do trono” – Fiz aspas no ar com uma careta. – Vão duvidar de minha capacidade de qualquer forma. Eu sei. Mas não quero ganhar isso de mão beijada.
Olhei para meu colo quando o garçom trouxe outras doses e entregou-me mais uma. Levantou seu copinho, fazendo-me olhar para cima e berrou.
- À seu futuro!
- Ao nosso. – Gargalhei, virando o shot, que desceu queimando minha garganta, sem piedade.
Após a quinta dose de tequila, eu já nem lembrava mais o que havia nos trazido àquele bar. A sexta deve ter tido o mesmo efeito em , já que ele começou a falar incoerências assim como eu. A sétima foi a perdição, tanto para mim, quanto para ele.
- Eu amo o meu trabalho! – Berrou ele, levantando outro copinho, derramando metade do líquido âmbar.
- Chega disso, Grandão! – Sorri, me aproximando. – Acho que você já bateu sua quota!
- Nu-uh. – Falou balançando a cabeça. – Não me diz que você é do tipo bêbada consciente.
- EI! Eu tenho maior resistência só. Não é culpa minha você ser tão fracote.
- Ah, sim. Agora tudo fez sentido, . – Riu ele, se aproximando de meu rosto, fazendo-me perder o ar.
- Até você reconhece. Sou a vencedora aqui. – Soltei, tentando ignorar o efeito que sua proximidade tinha em mim. Mas juro que foi a embriaguez que fez com que minha mão subisse a seu rosto para acariciar àquela barba provocante.
fechou os olhos por uns segundos. Quando os abriu, eu já estava mais próxima de seu rosto, o que deixou suas íris ainda mais em brasas.
- O que vou fazer com você, ?!
Mordi meu lábio, hipnotizada, sem mais barreiras de sobriedade - ou racionalidade, devo acrescentar – para me impedir de fazer o que sabia que ambos queríamos, mas que nunca poderíamos ter, ao menos não sóbrios. E não pela primeira vez, em que a culpa seria a rainha de tudo.
- Isso. – Finalmente respondi, dando um impulso para selar o caminho até seus lábios carnudos e macios nos meus.
Se tínhamos sincronia no trabalho, nosso beijo era pura sinfonia. Mesmo em nossos delírios bêbados, com fogos de artifício explodindo minha mente e suas certezas. Ainda sim, era como se nossas línguas dançassem uma valsa excitante sem perder o passo, nenhuma vez.
FLASHBACK OFF
- Senhor , eu...
- Pai, eu...
Disse, ao mesmo tempo em que . Olhei feio para o homem, querendo explicar para meu pai como foi que me meti nessa confusão. De preferência sem os olhos do homem com quem eu vinha tendo um caso queimando em minha nuca.
- Isso é inadmissível e completamente contra a moral e os regulamentos da empresa! – Bufou dando um tapa na mesa.
- Pai, tem como eu consertar isso. Só me deixe...
- , a única forma de você sair desse buraco em que se meteu, é aceitando dirigir a filial de Dubai.
Meus olhos e provavelmente os de também, se esbugalharam diante da proposta. Aquele era meu sonho, por mais que tenha vindo de uma forma completamente diferente da que eu esperara, ali estava minha oportunidade.
Mas eu hesitei. Sei que hesitei, meu pai percebeu, até percebeu. Porém, eu sabia que meu romance com o homem não era certo. Aquela não era a hora e nem o lugar para ocorrer. Então sim, eu partiria. Aceitaria a proposta de meu pai e provaria para ele que posso dirigir a empresa como um todo no futuro.
Quando a oportunidade bate à sua porta, não a deixe escapar, . Isso sempre dizia minha mãe. Somente mais uma voz racional em minha mente. E foi seguindo essa voz, ignorando todo o estado emocional conturbado em que estava que eu disse o que meu pai tanto esperava ouvir.
- Tudo bem. Eu aceito.
Levantei-me da cadeira, sem poder mais aguentar o olhar pesado de em minhas costas e parti. Parti sem saber se o veria novamente. Mas o que mais importava, era que eu não estava abrindo mão de meu sonho.
Fim.
Nota da autora: Oi pessoal! Aqui é a Gabi, e em nome de mim e da Thay agradeço muito mesmo por terem lido! Espero que tenham gostado de Stuck in The Moment, a primeira de muitas parcerias com a Thay <3. Amaremos ler seus comentários sobre o que acharam ;)
Beijos e até a próxima!
Fics da Gabi Heyes | Fics da Thaay Marques
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijos e até a próxima!