Prólogo
“Sabem, não é fácil se manter no topo. Porque o topo tem vários pilares: vida pessoal, financeira, profissional, amorosa… O topo é a vida. E não é sempre que conseguimos nos manter firmes, ao mesmo tempo, em todos os pilares. Às vezes a gente cai de um lado, mas conseguimos nos erguer de outro. Às vezes a queda é tão profunda, que dificilmente conseguimos nos levantar. Outras vezes damos apenas um tropeço, e logo estamos seguindo nosso caminho como se nada tivesse acontecido”.
se remexeu na cadeira em que estava e jogou os cabelos para os lados, deixando-os sobre um dos ombros. Pensou no que acabara de falar, engoliu em seco, respirou fundo, e voltou a colocar em palavras tudo o que vinha sentindo nos últimos meses.
“A verdade é que ninguém é perfeito. Mesmo tentando, a todo custo, a todo momento, nós não somos perfeitos. E é por isso que demoramos para entender o que está acontecendo ao nosso redor. Porque nós preferimos negar a verdade a aceitar que aquilo que tentamos manter, a tanto custo, acabou. Porque algumas quedas nos levam ao fim, e nem sempre temos a chance de ter um recomeço. E insistir na ideia de que o fim é apenas um sonho é sempre a pior decisão”.
se remexeu na cadeira em que estava e jogou os cabelos para os lados, deixando-os sobre um dos ombros. Pensou no que acabara de falar, engoliu em seco, respirou fundo, e voltou a colocar em palavras tudo o que vinha sentindo nos últimos meses.
“A verdade é que ninguém é perfeito. Mesmo tentando, a todo custo, a todo momento, nós não somos perfeitos. E é por isso que demoramos para entender o que está acontecendo ao nosso redor. Porque nós preferimos negar a verdade a aceitar que aquilo que tentamos manter, a tanto custo, acabou. Porque algumas quedas nos levam ao fim, e nem sempre temos a chance de ter um recomeço. E insistir na ideia de que o fim é apenas um sonho é sempre a pior decisão”.
Capítulo Único
colocou os pés no aeroporto sentindo como se todas as pessoas ali a encarassem.
Isso é impossível, tentou se convencer. Até mesmo porque, o motivo por ter escolhido viajar para o outro lado do mundo era exatamente porque ali, no Japão, ninguém a reconheceria.
Ignorando a sua intuição, que gritava para ela não fazer isso, a mulher pegou o celular na bolsa. Como já imaginava, o número de ligações perdidas era o maior que ela já vira na vida, e o número de mensagens não lidas chegava a quatro dígitos. Suspirou pesadamente.
Como foi que as coisas chegaram a esse ponto?
Abriu a conversa com uma de suas melhores amigas. A mensagem “, que merda você está fazendo? Fugir nunca é a melhor opção!” era só a primeira das outras dez.
Mas sabia que fugir, naquele caso, era a única opção.
Ainda receosa, e sabendo que iria se arrepender depois, ela abriu o site de pesquisa do Google. Não se surpreendeu ao ver seu nome, e até mesmo fotos suas, em todas as matérias na primeira página.
Abriu uma de suas redes sociais, a primeira notícia que viu e fez fechar os olhos com força, se arrependendo por estar se torturando daquela forma. Já a segunda manchete que viu, foi o suficiente para que ela desligasse o aparelho, fosse buscar a sua mala, e partisse rumo ao hotel em que iria ficar hospedada pelos próximos dias.
Não quero ler nada disso. Não agora, pensou. Até mesmo porque, ela havia fugido porque não queria mais saber de nada daquilo.
precisou de longos oito anos para conseguir ser reconhecida como , jornalista. Se destacar no mundo da mídia não era fácil, especialmente quando se era mulher. Ela perdeu as contas de quantas “propostas” indecentes havia recebido ao longo da sua carreira, sempre com a promessa de que ela receberia um programa só para ela em algum canal de televisão, ou uma coluna importante em um jornal ou revista de grande circulação. Mas ela não queria nada daquilo. acreditava em um jornalismo diferente daquele que ofereciam para ela. E foi pensando nisso que ela tomou a decisão mais corajosa — alguns diriam estúpida — da sua vida: largou o trabalho mal remunerado que tinha na televisão e o bico que fazia no jornal local, e abriu um blog pessoal. Juntamente com o blog, a garota criou um canal no Youtube quando ninguém, na época, conhecia o site, e lá ela começou a construir a sua carreira.
Não foi fácil. Ainda não era, na verdade. Mas atualmente ela já conseguia se manter muito bem, graças aos alcances de seus vídeos e dos patrocínios que ela recebia mensalmente. Oito anos depois, passou a ser conhecida como uma jornalista independente, empreendedora e muito à frente do seu tempo. Com uma vida recatada e pouco mostrada ao público, ela construiu um império ao redor do seu nome e da sua imagem pública.
Uma foto, uma única foto, contudo, foi responsável por rebaixar o seu nome, que até então se encontrava no topo da lista dos nomes mais influentes do país, para, simplesmente, a namorada de .
sentiu a garganta fechar ao se lembrar.
Tudo aconteceu rápido demais. Não uma, mas uma chuva de matérias jornalísticas, a maioria presumindo coisas que não existiam, somadas com os surtos dos fãs clubes do ator, começaram a tomar as redes sociais. As pessoas começaram a apontar para ela na rua, não por admiração, mas por curiosidade — e sabia que essa curiosidade recém adquirida não era pelo seu trabalho árduo, nem mesmo pelos prêmios jornalísticos que já havia recebido, mas sim pelo seu novo título, que a reduzia à companheira de um homem.
As ligações deixaram de para marcar uma nova entrevista com a famosa , e passaram a ser de especulações.
precisava colocar um fim nisso. Precisava cortar o mal pela raiz, antes que sua carreira fosse jogada ladeira abaixo. Ela não poderia ser transformada em mais uma mulher que era definida pelo homem ao seu lado. jamais aceitaria isso.
E foi por esse motivo que, completamente tomada pelo medo e pela surpresa, que a mulher terminou o seu relacionamento com , sem dar tempo para que o homem argumentasse ou tentasse fazê-la mudar de ideia, porque ela sabia que não seria fácil se manter firme na sua decisão se tivesse tempo de conversar com ela.
Ela tinha que ser firme. Tinha que ser forte. A decisão pode ter sido repentina — seus amigos diriam que foi impensada — mas, naquele momento, foi a única saída que a mulher encontrou.
“EX-NAMORADA DE NÃO AGUENTA A PRESSÃO DA FAMA E TERMINA RELACIONAMENTO COM O ATOR”
já era bastante famosa, e por mérito próprio dela, muito obrigada.
Decidiu, então, se afastar daquilo. Se distanciar das notícias falsas, das especulações que manchavam o seu nome, e também dele. Ela precisava se afastar de , ou então tudo iria por água abaixo.
Ir para Tóquio não era o plano original. Na verdade, ela nem tinha um plano muito exato. Mas ao ver os preços das passagens — e, principalmente, a distância que ficava Tóquio — não teve dúvidas. Ir para o outro lado do mundo lhe pareceu uma excelente ideia.
— Eu fiz a coisa certa.
Prova disso foi a forma como se sentiu livre novamente ao andar pelas ruas. Nenhum olhar curioso, nenhum dedo apontado para ela, nenhum fotógrafo escondido… Ali eram apenas ela e as flores de cerejeira.
Ainda assim, mesmo respirando o ar de Tóquio, caminhando sobre as flores no chão da calçada, a mulher não conseguia deixar de pensar nas notícias que ela havia lido antes de embarcar rumo ao Japão.
O fim do relacionamento entre ela e nunca foi confirmado pela assessoria do ator. , por outro lado, foi embora antes que pudessem encontrá-la. Mas ela sabia que sua assessoria também permaneceria em silêncio.
“Fãs de alegam que o ator terminou com a jornalista, , por não querer ter o seu nome associado ao de uma jornalista de internet.
— Quem quer ser conhecido como o namorado de uma jornalista que tem canal no YouTube?, uma internauta comentou.
— Ela não é uma jornalista de verdade. Ela nem aparece na televisão!, outra fã comentou nas suas redes sociais.
Infelizmente, a assessoria de imprensa do ator ainda não se pronunciou. , por outro lado, foi vista no aeroporto, na manhã deste sábado. Desde então, a jornalista não foi mais vista”.
— Nada mais de rede social para mim. Está decidido.
estava sentada em uma cafeteria, esperando pelo chá que pedira mais cedo. Esperava que o aplicativo de tradução do celular funcionasse sem internet, pois ela não poderia deixar o Wi-Fi ligado, correndo o risco de ler qualquer outra notícia sobre ela.
Era bem verdade que também era uma jornalista que ganhava a vida noticiando sobre a vida de outras pessoas. Mas sempre tomara o cuidado de não depreciar ninguém, de não criar manchetes falaciosas apenas para atrair o público. A mulher tinha fontes seguras que lhe davam as notícias mais quentes, especialmente em se tratando do mundo dos famosos, e ela tomava o cuidado de sempre confirmar a notícia com, pelo menos, mais de uma fonte. Além disso, a mulher tinha como foco noticiar os feitos dos artistas, seus filmes, suas séries, suas campanhas publicitárias… tentava deixar a vida pessoal deles longe das suas notícias, exatamente porque não queria ser o tipo de jornalista que ganha dinheiro em cima da vida privada dos outros.
— E veja onde você está agora, .
A mulher riu com a ironia da sua própria fala.
Graças aos deuses o Japão não se importava muito com os escândalos ocidentais, motivo pelo qual poderia ter um pouco de paz por algum tempo. Pelos próximos dias, ela havia decidido, iria sumir das redes sociais. Primeiro, porque não queria continuar se torturando com as notícias ridículas que estavam fazendo sobre ela; e segundo, porque ela não queria que descobrissem onde ela estava.
Sim, ela havia fugido. Sim, essa foi a única alternativa que a mulher tinha encontrado. Mas isso não significava que iria permitir que todos soubessem o quão abalada ela ficara com aquele escândalo.
Se antes suas redes sociais eram voltadas inteiramente para o trabalho — desde o seu trabalho como jornalista, até as publicidades para as quais ela era contratada — após o vazamento de foto dela com , a mulher passou a receber mensagens do tipo “vocês precisam ficar juntos!” e “a gente shippa vocês!”.
não queria ser shippada com ninguém. Ela não era um maldito personagem de uma comédia romântica. Ela era uma pessoa real, com sentimentos reais e uma vida real para se preocupar.
— Férias sabáticas… É isso. — ela pensou em voz alta, após agradecer pelo chá deixado em cima da mesa. — Eu não fugi, apenas me dei um período de férias sabáticas.
E foi com esse pensamento que a mulher passou a curtir o seu período de férias em Tóquio, aproveitando para provar alguns pratos típicos, tirar fotos de paisagens e arquiteturas que não existiam no seu país e, realmente, focar nela e somente nela. Tentou não se preocupar com seu trabalho e os vídeos do canal, nem com as matérias do seu site. Por sorte, tinha uma tinha equipe muito bem estruturada e competente, na qual ela confiava cem por cento das vezes. Sabia que seu trabalho estaria sendo bem cuidado na sua ausência.
Mas isso não significava que ela havia ficado completamente desaparecida. Quer dizer, seus espectadores e leitores talvez estivessem sem notícias dela, mas , seu melhor amigo e empresário, teria colocado a Interpol atrás dela se não atendesse suas ligações.
— Você precisa voltar.
suspirou. “Você precisa voltar” tinha sido a frase mais ouvida por ela nos últimos dias.
— Ainda não estou pronta.
— Já faz uma semana!
— Ainda não estou pronta, caramba!
Foi a vez de suspirar. sabia que, do outro lado, o amigo, muito provavelmente, estaria mordendo o lábio inferior, tentando se controlar para não xingá-la de alguns nomes feios. odiava ser contrariado, mas estava tentando respeitar o espaço de .
— Então me mande algum material novo, pelo menos. Não posso continuar colocando Paola e Rupert para gravar os seus vídeos. O público está questionando demais, e as nossas desculpas estão acabando.
revirou os olhos. Paola e Rupert sempre faziam os vídeos semanais quando ela saía para realizar algum trabalho fora, em outra cidade ou país, e o público nunca questionava isso. Por que tinha que ser diferente agora?
— Beleza, mas vou fazer os vídeos aqui do hotel. — ela disse. — Me manda o material por e-mail que vou estudar antes de criar a pauta.
, então, passou a fazer vídeos diários sobre críticas de filmes, noticiando o mundo das celebridades, comentando sobre os novos lançamentos das músicas e o que mais sua equipe mandasse para ela. Tomou o cuidado de gravar todos os seus vídeos de dentro do seu quarto de hotel, ou no café, longe de janelas que pudessem dar dicas para o público de onde ela estaria.
Também se recusou a ler os comentários. O que antes era a parte divertida do seu trabalho — receber o feedback sempre a deixava animada — passou a ser visto como auto sabotagem, pois ela sabia que grande parte dos comentários seriam sobre o seu paradeiro desconhecido e o seu romance/fim de romance com .
Parecia que as coisas estavam finalmente voltando ao normal. garantiu à que o seu nome já não fazia parte das principais matérias jornalísticas, e que os comentários nos seus vídeos já não mencionavam o nome de . Pelo contrário, as pessoas pareciam bastante satisfeitas por ela ter voltado a fazer o seu trabalho, como se nada tivesse acontecido, especialmente quando cada um dos seus novos vídeos tinha um cenário diferente.
— Precisamos repensar o cenário do canal quando eu voltar. — ela comentou em uma das ligações que tivera com .
— Uhum…
— Podemos pensar em fazer alguns cenários alternativos, um para cada semana…
— Sim, claro…
— Talvez algo temático relacionado com a natureza das notícias da semana…
— Aham…
bufou. Conhecia há tempo suficiente para saber quando suas respostas significavam que ele não estava prestando atenção nela ou, simplesmente, não estava dando a mínima para o que ela falava.
E, naquele momento, sabia que que só queria que ela parasse de falar logo para que ele pudesse soltar alguma bomba.
— Ok, , desembucha.
nem tentou se fazer de desentendido.
— Tudo bem, antes de qualquer coisa, prometa que você vai me ouvir antes de falar não ou, simplesmente, surtar.
ficou sem palavras. Que tipo de notícia bombástica ele tinha para contar a ela?
— Não prometo nada, você sabe.
não viu, mas rolou os olhos do outro lado da linha. E antes que a jornalista começasse a surtar antes de ouvir o que ele tinha a dizer, o rapaz tomou ar e soltou:
— e todo o elenco vão para Tóquio no final de semana para fazer a pré-estreia do novo filme dele. E antes que você fale alguma coisa, nossas fontes confirmaram que nenhum jornalista norte americano confirmou presença no evento. E então eu pensei que seria incrível se você pudesse comparecer no tapete vermelho, tirar algumas fotos, entrevistar alguns atores, fazer uma matéria sobre isso e pronto: você será a dona de mais uma exclusiva.
ficou em silêncio por um tempo. Não, a verdade é que ela ficou em silêncio por muito tempo. Tempo demais. Digerindo o que acabara de ouvir.
— Fala alguma coisa…
— O que você quer que eu fale? — Ela soltou exasperada. — Que o universo adora tirar onda com a minha cara? Que, de todos os lugares DO MUNDO que esse maldito elenco poderia ir para divulgar o filme novo, eles decidiram vir para o mesmo país que eu estou? Na mesma cidade?
— Segundo nossas fontes, o elenco irá se hospedar no mesmo hotel que você está…
E então começou a rir. Riu de descrença, riu de nervosismo e, principalmente, riu da ironia que a sua vida havia se tornado nas últimas semanas.
— Eu não quero falar com , . Não dá. Eu não posso.
Até porque, o que ela diria para ele? A mulher havia, literalmente, fugido de perto dele. Terminou com o homem, sem dar chances de ele falar sobre o que achava a respeito e foi embora, assim, do nada. Ela sempre havia sido uma pessoa espontânea, e se orgulhava disso, mas nunca havia agido por impulso sem pensar nas consequências. E, bem, depois da sua fuga, tudo o que ela menos queria era pensar nas consequências dos seus atos.
— Então não fale com ele. Tem mais umas dez pessoas no elenco, fale com qualquer uma delas, consiga uma entrevista com o diretor, tire fotos com os produtores, faça uma matéria completa e divulgue no seu site e no seu canal novidades do filme antes da estreia nos Estados Unidos. Esteja à frente de qualquer outro jornalista.
não havia ganhado o cargo de empresário de apenas por ser seu melhor amigo de longa data. Não… O rapaz ganhou o título porque sabia muito bem como convencer a mulher a fazer algo e, mais do que isso, ele sabia como incentivar . E, bem, ele tinha acabado de fazê-lo.
🎥
Quer dizer, é claro que sabia que aquilo era uma péssima ideia.
— Não, não, é mais do que péssima, é super péssima!
Mas ela precisava daquele material, precisava retornar ao topo, mostrar quem ela era, voltar a fazer o seu trabalho e agir como uma verdadeira jornalista. E qual a melhor forma de provar o seu verdadeiro valor, o quão profissional era, senão indo fazer um trabalho do qual ela não queria, mas sabia que era importante para o seu canal?
Por esse motivo, deixou em cima da cama o seu crachá de imprensa — o qual foi devidamente providenciado por — e passou a se arrumar. Colocou o vestido que ela havia comprado na noite anterior, no tom de azul que, coincidentemente, era a cor favorita de , calçou um salto baixo, afinal, ela ficaria em pé por algumas horas, terminou de arrumar o cabelo e desceu para o saguão, dirigindo-se ao salão de conferências onde ocorreria a pré-estreia, o famoso tapete vermelho de Tóquio.
A cada passo que dava, apenas tinha mais certeza de que não queria falar com . Não ali, não naquele momento.
— Eu não preciso falar com ele. — Disse firme. — Ele nem é o principal do filme!
Pegou o celular e passou a ler o e-mail enviado por , no qual continha um pequeno resumo sobre o filme. E, então, com a câmera na mão e o microfone ligado, se apressou por entre os jornalistas. Montou o seu tripé em um ponto estratégico, posicionou a câmera, arrumou o foco e ligou o microfone. Estava pronta para receber o elenco exatamente da forma como quando começou a trabalhar como uma jornalista independente: sozinha, com praticidade e eficiência.
Lembrava-se de quando pediu para sair da televisão. “Louca” foi o melhor dos adjetivos que dirigiram a ela. Mas só disse uma coisa a todos eles:
— Vocês ainda vão ouvir falar de mim.
E eles ouviram. Toda a internet ouviu. Ela tinha um nome a zelar, afinal, foi difícil construir esse nome, não apenas por ser uma jornalista independente, que começou do zero, com nenhum recurso, mas por também ser mulher.
E só de pensar que por conta de um relacionamento, um amor, uma foto, tudo poderia ir por água abaixo, lhe gelava a barriga.
É claro que ela amava . Como poderia não amar? Ele era a pessoa mais amável que conhecia, de todas as formas possíveis, e nem precisava se esforçar para isso. Mas ela nunca, jamais, poderia deixar-se ser reduzida à companheira de um homem. Nem que para isso ela precisasse tomar decisões drásticas, como as que tomou.
Por ter mais desenvoltura e falar fluentemente a língua inglesa, conseguiu ser a primeira a entrevistar o primeiro ator que chegou. Daniel Craig a cumprimentou com um beijo no rosto, respondeu suas perguntas com um largo sorriso, e não recusou tirar uma foto com . O mesmo se repetiu quando Keith Stanfield chegou, tendo ele mesmo segurado o celular da garota para tirarem uma selfie.
ainda conversou com os roteiristas do filme, os quais tomaram bastante cuidado para não soltarem nenhum detalhe importante, e quando a mulher conversou com o diretor, se sentiu muito orgulhosa da entrevista que conseguira.
As coisas estavam saindo realmente bem. Os atores a cumprimentavam como velhos conhecidos, exatamente como Ana Celia de Armas o fez quando abraçou e deu um beijo no seu rosto. Dentre todos do elenco, a única que tratava como se fosse uma boa amiga era Ana Celia — já que acabaram ficando mais próximas quando dividiram uma mesa em um restaurante muito cheio, acabando por terem um jantar de casais não planejado. Naquela época, estava começando a sair com , e Ana Celia foi uma das pessoas que ajudou o casal a se esconder a mídia.
— Ah, então era aqui que você estava se escondendo. — Ela disse em tom de brincadeira, fazendo com que corasse involuntariamente. — sabe?
iria inventar alguma forma de mudar o rumo da conversa, mas ela não teve tempo de responder. No instante em que puxou o ar para falar alguma coisa, ela ouviu a voz dele. Alta e clara. Grossa e firme. Impossível de não ser reconhecida. E aquilo foi o bastante para que sentisse todos os pelos dos seus braços se arrepiarem.
— Hm… A imprensa está sendo chamada. Preciso ir.
É claro que ninguém estava chamando a imprensa para lugar nenhum. A consciência de , por outro lado, gritava para que ela fugisse de lá, como uma perfeita covarde.
Segurando o celular em uma mão, o microfone embaixo do braço a câmera e o tripé com a outra mão, a mulher correu para atrás de alguma porta, dando para o interior de uma sala escura.
O que ela estava pensando? Como poderia encará-lo ali?
percebeu que suas pernas tremiam e, por um momento, ficou com medo da gravação ter ficado ruim por ter sido interrompida em meio a uma entrevista. Olhou o celular e conferiu as fotos que tinha conseguido tirar — fotos estas, inclusive, que já se encontravam com , o qual estava cuidando de alimentar as redes sociais dela. Olhou a gravação que fizera, e ficou aliviada por perceber que havia ficado ótima, e que ficaria ainda melhor depois de passar por uma boa edição.
Pensou em sair, mas no momento em que abriu a porta viu os atores do elenco passarem por ela. Fechou a porta com força e se apoiou na madeira.
Patética.
Tentou ficar com a atenção focada nos sons do lado de fora, tentando entender o que estava acontecendo. Quando percebeu que a divulgação do filme havia acabado, e que a imprensa foi dispensada, tratou de se esgueirar por entre os vários jornalistas, tentando passar despercebida. Não conseguiu, contudo. notou alguns flashes em sua direção, mas não se abalou por isso. Quando estava chegando no elevador, ela sentiu o celular começar a tocar a vibrar sem parar. As mensagens entravam uma atrás da outra, e as ligações foram aos montes. Foi nesse momento que ela entendeu que suas fotos na divulgação do novo filme de já estavam nas suas redes sociais, o que significa que as pessoas passaram a saber onde ela estava. Seu anonimato tinha chegado ao fim.
🎥
De volta ao seu quarto, baixou a filmagem no seu notebook. Não conferiu como havia ficado o seu trabalho, mas apenas mandou para , sabendo que o amigo estaria ansioso para isso. Seu dedo foi automaticamente até o ícone do Twitter, no seu celular. Não clicou ali, contudo. Abriu o aplicativo do Instagram, mas não teve coragem de colocar a sua senha. Sabia que as pessoas já sabiam onde ela estava e, mais do que isso, que estava cobrindo a divulgação do novo filme do seu ex-namorado, mas não tinha ideia do que essas mesmas pessoas poderiam estar comentando sobre ela. E não estava pronta para descobrir.
Jogou o aparelho em cima da cama e foi até o banheiro retocar a maquiagem, afinal, a noite ainda não havia acabado.
Quer dizer, se ir até à divulgação do novo filme de já havia sido uma má ideia, quem dirá ir à festa de estreia do filme. A ideia não só era péssima, mas também reprovável. não deveria estar ali. Deveria estar no seu quarto, descansando, tomando um bom chá de camomila, e se preocupando apenas em comprar sua passagem de volta para a sua cidade, já que não havia mais motivos para ela se esconder em Tóquio.
Talvez eu possa continuar minhas férias sabáticas em outra cidade, em outro país… A ideia seria excelente, se não fosse o fato de que iria matá-la e jogar seus pedacinhos ao redor dos cinco continentes.
— A vida precisa continuar, . Pode precisa voltar para o lugar que te pertence.
E com esse pensamento em mente, a mulher voltou a entrar no elevador. Apertou o botão do último andar, estalou os dedos de nervosismo, conferiu seu batom no espelho, pelo menos, quatro vezes, e saiu a passos largos em direção ao salão de festas do hotel. A confiança no seu andar, contudo, acabou no momento em que ela parou em frente às grandes portas do salão.
Algumas pessoas passaram por ela, tiveram seu nome conferido na lista dos seguranças, e entraram. continuou parada com o celular nas mãos, perguntando-se o que ela estava fazendo ali.
Fala sério, , de onde surgiu essa ideia…?
Olhou em volta, sentindo-se estranha por estar parada na frente do salão de festas, atrapalhando a passagem.
Talvez ele nem esteja aqui. Talvez tenha ido dormir cedo.
Claro! Como não havia pensado nisso?! estava se preocupando tanto em encontrar , que nem havia pensado na possibilidade de ele não estar presente na festa. Assim, ela poderia, simplesmente, fazer o seu trabalho, tirar mais algumas fotos, gravar alguns vídeos curtos com o seu celular, e completar o seu trabalho como jornalista independente. Tudo iria dar certo.
— ?
Ou talvez nem tudo.
endireitou a postura e sentiu os pelos arrepiarem. Prendeu o ar e, por um momento, se esqueceu de como se mexer.
Não pode ser, não pode ser…
Mas era. E ao se virar para trás, apenas para confirmar o que a sua audição e olfato já haviam constatado — afinal, nenhuma outra voz era tão grossa quanto a dele e nenhum outro perfume a embriagava daquele jeito — apenas uma coisa passou pela sua cabeça: fugir.
Nem mesmo esperou que seu nome fosse confirmado na lista dos seguranças. Forçou a abertura das portas e saiu, literalmente, correndo sobre os saltos altos.
— , espera!
Mas ela não esperou. Como uma perfeita covarde, a mulher apenas apressou os seus passos, porque sabia que a proximidade da voz de só podia significar uma coisa: ele estava indo atrás dela.
Encontrou uma rodinha de jornalistas, alguns ela já conhecia pessoalmente, outros ela pretendia conhecer ali, naquele momento. Torceu para que todos eles falassem inglês, já que seu vocabulário japonês se reduzia a arigato e sushi. Para sua sorte — ou, talvez, não tão sorte assim — encontrou Paolo, um jornalista mexicano que a mulher bem que conhecia…
— Droga!
Tentou jogar os cabelos na frente do rosto para passar despercebida, mas é claro que o seu método não funcionou.
— ! — Ele falou alto, chamando a atenção de todos os presentes na rodinha. — De todos os lugares do mundo, esse era o que eu menos esperava te encontrar… Como você está, minha querida?
Já sem ter como se esconder, ou fugir de novo, arrumou a postura, jogou os cabelos para trás e deu o melhor sorriso falso, porém muito educado, que pôde. Ela não se deixaria abalar por causa dele. Quer dizer, não é porque Paolo e haviam tido um pequeno desentendimento após o término do namoro entre ele e o seu melhor amigo, , que seria deselegante, não é?
— Estou bem, querido. E você, como está?
— Ah, estou muito bem… considerando que o meu nome foi jogado na lama, como você bem se lembra… afinal, você foi a responsável por quase colocar fim na minha carreira, querida.
precisou engolir em seco. Com o canto dos olhos, viu se aproximando dela.
Automaticamente, e sem pensar nas consequências que isso poderia lhe trazer mais tarde, pegou uma taça das taças de champagne oferecidas pelos garçons e virou de uma só vez.
— Ora, Paolo… exagerar não é do seu feitio… além disso, pensei que tínhamos combinado que não haveria ressentimento entre nós… afinal, era só um trabalho, como você nem sabe.
Paolo já não tinha o sorriso falso no rosto. No lugar, o rapaz fechou a cara, mostrando que sim, havia muito ressentimento entre eles.
— Informar para a internet do mundo inteiro que eu tenho disfunção erétil não era só um
trabalho. Você queria se vingar de mim!
E por mais que Paolo tentasse manter o tom de voz baixo, o fato dele falar com os dentes cerrados apenas tornava tudo aquilo mais engraçado.
não perdeu a pose, tampouco o sorriso nos lábios, o qual acabou se tornando uma bela expressão irônica.
— E por que eu teria motivos para me vingar de você? Só porque você é uma vadia sem coração que traiu o meu melhor amigo no dia dos namorados?
Diferentemente de Paolo, não se esforçou para manter o tom de voz baixo. Pelo contrário, falou pausadamente e em alto e bom som, de forma que todos os jornalistas ali presentes pudessem ouvir cada uma das palavras dela. Como se eles tivessem combinado, cada um dos jornalistas da rodinha abriram a boca, chocados, e passaram a olhar para Paolo com o julgamento nos olhos.
Se um olhar pudesse matar, estaria mortinha. Paolo a fuzilou com os olhos e saiu dali, esbarrando em algumas pessoas no caminho.
Com um riso de deboche, aceitou a segunda taça da noite.
Não, ela não gostava de falar da vida privada das pessoas, esse definitivamente não era o foco do seu trabalho. Mas ela não teve dúvidas de que usaria de todas as suas armas, por mais vis que pudesse ser, para defender o vingar . Afinal, mais do que empresário e melhor amigo, era o irmão que ela nunca tivera.
— Uau… Você não aprende, não é? Pensa que palavras não têm consequências, mas elas têm.
estava no último gole do champanhe quando se engasgou. Sem condições de tentar manter a pose de mulher fina e elegante que ela tinha, começou a tossir, o que acabou preocupando . Ainda atrás dela, ele deu algumas batidinhas nas costas da mulher, até que ela voltasse a respirar normalmente.
— Estou bem, estou bem.
Com a garganta ardendo, ela aceitou mais uma taça de champanhe, bebendo-a toda. E ao virar o corpo e ficar de frente para , acabou bebendo o champanhe dele também.
— Você deveria ir com calma. — Comentou.
Mesmo que tivesse acabado de beber duas taças, ainda sentia a garganta seca.
— Estou bem, já disse.
— É, dá para ver. Você está ótima. — e então, com o tom de voz mais doce, ele disse — Você sempre ficou bem de azul.
Foi involuntário corar. Eu devia ter usado outra cor.
— Como você está? — ela perguntou, olhando para ele pela primeira vez naquela noite.
— Estou ótimo. E você?
— Estou bem, eu…
— É, você acabou de falar isso.
mordeu o lábio, sem saber o que responder. O clima, que já estava pesado, acabou deixando-a desconfortável. Meio constrangida, e sem saber para onde olhar, a mulher observou o ambiente, as pessoas, e até mesmo tentou identificar quais eram os aperitivos servidos naquela noite. , por outro lado, tinha o olhar fixo nela.
Sem ter para onde fugir, de novo, olhou para ele. A visão de usando terno a deixou sem ar. Como se estivesse se afogando na beleza do homem, a jornalista precisou se forçar a respirar fundo algumas vezes. Piscou os olhos com força. Era como se ela tivesse se esquecido do quão belo era. Isso é impossível… Não, ela havia se esquecido do quão abalada ela ficava na presença dele. Como se estivesse imersa em um mundo paralelo que pertencia apenas a eles dois. E, inferno!, ela queria continuar presa nesse mundo com ele. Se pudesse escolher onde morar, ela escolheria . Porque, ao lado dele, ela se sentia bem, se sentia em casa.
Querendo quebrar o momento constrangedor e silencioso entre eles, ela tentou iniciar uma conversa com a primeira coisa que lhe veio em mente:
— Não sabia que você estaria hospedado neste hotel.
— Eu sei.
— Também não sabia que a divulgação do filme seria neste final de semana.
— Eu também sei disso.
franziu a testa.
— Sabe? Como?
soltou uma risadinha.
— Levando em consideração que depois que você terminou comigo, não atendeu as minhas ligações e sumiu do mapa, vindo para o outro lado do mundo, acabou ficando meio óbvio que você queria manter a maior distância possível de mim. Tóquio teria sido uma boa escolha, se o destino não fosse tão irônico.
ficou completamente muda. As palavras de foram como um soco no estômago, uma enxurrada de água fria sobre a sua cabeça.
acha que fui embora porque queria me afastar dele... Acha que é o culpado pelo meu sumiço…
Foi essa a imagem que ela passou?
— , eu nunca quis me afastar de você.
Apesar do tom de voz sério dela, riu da sua fala.
— Ir para outro continente não passa exatamente a mensagem de que você queria ficar ao meu lado. Ah, claro, como pude me esquecer? — ele fez uma careta, batendo o dedo na testa. — Teve também o fato de você ter dito que não queria mais ficar comigo. Como pude esquecer desse detalhe?
estava sendo irônico, mas a tristeza e o ressentimento eram claras na sua voz. E aquilo doeu. Doeu como o inferno. Tanto, que pensou que poderia, a qualquer momento, devolver todo o champanhe que havia bebido mais cedo.
É claro que estava magoado com ela — agiria da mesma forma se ele tivesse terminado com ela, sem lhe dar chances de conversar a respeito. Mas, naquele momento, enquanto a mulher via sua vida se despedaçar, sua carreira ir por água abaixo, e tudo o que ela construiu, ir pelo ralo, não enxergou qualquer outra saída. E mesmo se sentindo a pior vilã de todos os filmes de romance da Disney, ela não se arrependia da decisão que havia tomado.
— Você nunca vai entender o que eu passei.
A reação de foi a de revirar os olhos. Mas antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, ela continuou:
— Não… Você nunca vai saber o que eu passei e o que eu passo todos os dias, e sabe por quê? Porque você é homem. Você nunca vai ser mencionado como o “namorado” de alguém, por mais famosa que essa pessoa seja. Mesmo que você esteja ao lado da Beyoncé, as pessoas vão se lembrar do seu nome. Simplesmente porque você é homem, .
E ainda mantendo a voz bastante sóbria, tomou ar e continuou.
— Eu demorei para construir a minha carreira. Eu precisei fazer tudo sozinha, começar do zero, ser a minha própria empresária, minha produtora, a minha editora e a minha própria patrocinadora. Eu demorei muito para chegar onde cheguei para, com apena uma foto, uma foto, , eu ser reduzida à namorada de . Eu não sou apenas a namorada de , eu sou muito mais do que isso. Eu sou uma jornalista que leva muito a sério o trabalho, e só de pensar em ser reduzida à companheira de um cara famoso… Não, isso foi demais para mim. Especialmente quando as pessoas começaram a comentar que o nosso relacionamento era apenas para impulsionar a minha carreira. — ela riu irônica.
— Você sabe que isso não era verdade. Nunca houve nenhum tipo de interesse no nosso relacionamento.
— Eu sei. EU sei! Mas o meu público começou a duvidar de mim. Os meus patrocinadores começaram a duvidar de mim. Eu comecei a ser questionada por ser mulher e estar em um relacionamento com alguém mais famoso que eu. E sim, eu admito que talvez eu tenha agido por impulso e de forma impensada. E que sim, talvez, eu pudesse ter encontrado outra saída, esperado as coisas se acalmarem, esfriarem… Mas naquele momento, quando todas as notícias estavam focadas em mim e no meu “suposto relacionamento fake para crescer na carreira”, eu não consegui. Não consegui pensar em mais nada.
estava em silêncio. Não havia mais ironia ou ressentimento na sua expressão, mas apenas atenção. Ele absorvia cada uma das palavras de quase sem piscar.
— Você deveria ter me falado tudo isso antes.
começou a rir. Não porque achava graça na situação, mas apenas porque foi a única reação que ela pôde ter no momento.
— Pois é… Eu deveria ter feito muita coisa, mas não fiz. Eu deveria não ter surtado, mas surtei. Acontece. Mas sabe de uma coisa? Deu certo. Sumir do mapa funcionou. Meu nome foi esquecido, o foco mudou, e agora eu posso, finalmente, voltar para a minha vida. Então, se quer saber, eu não me arrependo. E se você não consegue entender a minha posição nisso tudo e os motivos pelos quais eu fugi, bem, então eu acho que acabei tomando a decisão certa de vir para o outro lado do mundo.
Ainda sem saber o que falar sobre isso, apenas permaneceu mudo. E também sem reação nenhuma quanto ao que acabara de ouvir, apenas observou pegar outra taça de champagne, dar-lhe as costas, e se afastar dele. De novo.
🎥
Pela primeira vez nas últimas semanas, estava, finalmente, se divertindo. Talvez fossem as luzes de néon coloridas, talvez fossem os desenhos engraçados que as cortinas formavam ou, talvez, fosse apenas a quantidade absurda de álcool que a mulher havia ingerido.
— Pa-o-looo. — ela cantarolou. Foi até onde o homem estava conversando com outro jornalista, provavelmente flertando com ele, e abraçou pelos ombros. — Eu sei que você não presta, mas eu preciso dizer: esse seu terno é fabuloso!
apenas esperava que sua voz não estivesse saindo como se estivesse em câmera lenta como soava em sua mente.
Eu estou falando muito engraçado, pensou. E então começou rindo sozinha.
— E olha, para provar que não existe ressentimento entre nós, vou te dar uma dica. — ela continuou falando para um Paolo que, definitivamente, não queria ouvi-la. — Mesmo que você seja o demônio em pessoa, você precisa saber que esse cara aí com quem você está conversando. — apontou “discretamente” para o jornalista que observava tudo, atentamente. — Tem fama de ter pinto pequeno. — fez careta. — Então, meu amigo, você que já tem probleminhas aí embaixo, deveria pensar melhor antes de investir toda a sua noite nele.
E com um sorrisão no rosto, como se tivesse acabado de fazer a sua boa ação da noite, seguiu por entre as pessoas, cumprimentando alguns conhecidos. A maioria ali era jornalista local, mas havia também vários internacionais. Os próprios atores do elenco foram conversar com ela várias vezes, o que acabou rendendo várias boas fotos.
Já sem se preocupar com os comentários que poderia encontrar nas suas redes sociais, passou a fazer stories e a postar algumas boas fotos com seus colegas de profissão e seus outros colegas famosos.
— I’m back, bitches!
E como se para provar o que havia dito, aceitou outra taça de champanhe — caramba, aquele champanhe era muito melhor do que o comprado por no último ano novo — e fez um brinde com algumas pessoas desconhecidas.
Ela finalmente se sentia bem. Não se preocupava com a sua carreira, afinal, não tinha motivos para isso. Ela era uma profissional maravilhosa, que havia conquistado o topo e pretendia continuar lá. Tinha uma audiência enorme, fãs que a apoiavam, patrocinadores com contratos vitalícios, e uma talento natural para ser criativa e autêntica.
Já nem se lembrava do motivo de ter ficado tão preocupada.
Quer dizer, sim, alguns jornais, e muitas pessoas, estavam questionando o comprometimento dela. Questionaram o profissionalismo e o talento dela… Também deixaram de lado o fato dela ter se formado bem jovem, feito pós graduação e mestrado. É bem verdade que preferiram ignorar toda a sua carreira, e as dificuldades que precisou passar para construí-la.
Mas e daí?
sempre foi, e continuará sendo, muito maior do que qualquer fofoca de tablóide. Nada daquilo poderia diminuí-la.
E foi pensando nisso, que a mulher seguiu para o bar. Meio cambaleando, mas ainda se mantendo em cima do salto, com a postura reta e elegante.
— Olá, boa noite. — cumprimentou o bartender com um sorriso matador. — Me vê um… Um… — como era o nome daquilo mesmo? — Essa bebida cor de rosa que você está segurando. Por favor.
O garoto concordou com o pedido, e foi buscar uma taça.
A noite de estava sendo muito divertida. Muito mesmo. Estava relaxada e feliz, e já até pensava em comprar a passagem de volta para casa no dia seguinte. Mas então aconteceu.
A mulher sentiu o seu perfume antes de ouvir a sua voz. Sentiu a sua presença — com todos os pelos do corpo arrepiados — antes de vê-lo ao seu lado. tinha uma expressão leve, quase preocupada, totalmente diferente do olhar acusador e machucado com que ele a recebeu.
— Tem certeza que é uma boa ideia beber essa taça?
estava ao lado de . A mulher não virou o corpo para olhá-lo. Se já sentia as pernas bambas — com certeza por conta do efeito do álcool — nem imaginava como ficaria se olhasse para ele. Só de pensar na possibilidade de se perder, novamente, no mar azul dos seus olhos, já era suficiente para hiperventilar.
— Não vejo porque não seria.
encostou o corpo na bancada do bar, as mãos nos bolsos da calça do terno, encarando de frente. Ao receber a sua bebida, a mulher tomou apenas um pequeno gole, não porque ela não queria, mas porque sentiu a garganta fechar.
Por que está tão próximo, ?
— Você quer que eu me afaste?
— O quê?
— O quê? — ele repetiu a pergunta. — Acha ruim que eu esteja perto de você?
— Não acho, eu só…
Caramba, eu estou pensando em voz alta agora?
soltou uma risadinha.
— Acho que sim. — respondeu à sua pergunta. — É… Talvez não seja uma ideia tão boa assim continuar bebendo.
Foi quando ela se deu conta da situação em que se encontrava: o cabelo já não tinha os cachos definidos de outrora; a maquiagem, provavelmente, estava arruinada, levando-se em conta a quantidade de suor que escorria nas costas. Perguntou-se a quanto tempo ela estaria ali… Minutos? Horas? Com certeza a algumas horas.
— Acho que está na hora de ir embora. — ela pensou. Ou falou. Já não sabia mais.
Virou o corpo, ficando frente a frente com .
Deus, como ele é lindo…
Ops…
Olhou para ele com os olhos meio arregalados, sem saber ao certo se tinha ouvido o que ela pensou. Ou falou. Meu deus, estou tão confusa…
Se ouviu de o quão lindo ele era, não comentou nada. Seu olhar, contudo, se dividia entre a preocupação com o bem estar da mulher e o divertimento em vê-la tão leve, solta… Como a que ele conhecera. Tão diferente da mulher nervosa e desesperada que terminou com ele, semanas atrás.
deu alguns longos goles, e terminou com o conteúdo da sua taça. Passou a língua nos lábios, lamentando ter que ir embora. , ao seu lado, imitou o seu gesto: lambeu os lábios em uma lentidão ridícula, que fez a garganta de secar imediatamente.
Eu preciso sair daqui.
Levantou a palma da mão como se dissesse adeus a . Falou alguma coisa sobre ele ter uma boa noite, e talvez tenha comentado algo sobre se verem outro dia. Mas ela não tinha tanta certeza.
Ao virar-se para ir embora, aceitou outro copo servido a ela, dessa vez com água. O frescor do líquido foi revigorante. E ao sair porta afora, quase se sentiu sóbria. O ar fora do salão de festas foi essencial. As luzes claras, tão diferentes das luzes de neón lá de dentro, ajudaram a mulher a ter a visão desembaçada. Poder respirar o ar puro, longe da presença de , foi bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque finalmente conseguia pensar direito. E ruim, porque ela já sentia falta do seu cheiro.
Respirou fundo algumas vezes antes de andar até o elevador. Apesar de ainda se sentir meio tonta, já conseguia dar os passos sem medo de cair.
Levou a mão ao botão para chamar o elevador. Levou um choque, mas não porque a fiação do hotel estava com problemas, ah não… Mas porque, mesmo depois sem tocá-lo por algum tempo, ainda sentia todo o corpo se arrepiar ao simples toque de .
tinha a mão em cima do botão do elevador, e ainda mantinha os seus dedos sobre os do homem. Estava paralisada. Ali, do lado de fora, e com as luzes claras, podia vê-lo melhor. Os cabelos penteados para trás, os olhos mais azuis do que nunca, a barba perfeitamente alinhada… E o seu perfume… precisou fechar os olhos para buscar algum controle dentro de si. E apesar de a temperatura estar abaixo dos vinte graus, ela sentia todo o seu corpo queimar, como se fosse fogo e ela uma simples fogueira que respondia a qualquer estímulo dele.
De onde veio isso?!
Quer dizer, é bem verdade que ela tinha várias preocupações na cabeça nos últimos dias. Mas isso não significava que não havia sentindo saudade de cada dia que passou longe dele, que não havia pensado nele cada minuto presa dentro daquele hotel. Então de onde vinha essa onda de… Saudade?
— Hm… Já está encerrando a noite? — ela perguntou em uma tentativa ridícula de controlar seus pensamentos.
Você nunca tinha usado branco antes, , por que justo hoje…? Não há controle que se sustente com você vestido assim!
Meu deus, será que ainda estou pensando em voz alta?
Olhou para ele, que tinha um sorriso leve nos lábios.
— Está tarde. — disse simplesmente.
Por que está sorrindo assim, ? Você sabe que sou apaixonada pelo seu sorriso…
Por favor, que eu não tenha dito isso em voz alta.
O elevador parou, e o som das portas se abrindo foi o que trouxe de volta à realidade. Porque foi nesse momento que ela percebeu o que se daria pelos próximos segundos: , ela e seus pensamentos descontrolados (talvez pelo álcool, talvez por outro motivo) juntos, dentro de uma caixa de metal. Sozinhos.
Há quanto tempo não ficamos sozinhos em um espaço pequeno, ?
Ela já nem se lembrava. Poderia ser dias, talvez semanas, mas sentia como se fossem anos.
— Você primeiro.
Como um perfeito cavalheiro, estendeu a mão, indicando que deveria entrar antes dele. Ela ainda olhou envolta, na esperança de ver mais alguém que também estaria interessada em adentrar naquele cubículo que a deixaria presa com pelos próximos instantes.
Merda.
— Obrigada.
Apertou o botão do quinto andar, enquanto apertou o do terceiro. Foi até o espelho e encostou as costas. As pernas, que haviam recobrado a firmeza depois que saíra da festa, estavam como gelatina. A respiração, mais descompassada do que nunca. Os pelos dos braços já nem sabiam mais como ficar abaixados, e em sua barriga, uma festa maior do que a que acontecia no último andar.
As portas do elevador se fecharam. E então, tendo a meio metro de si, entendeu o que aquele mar de sensações e descontrole repentino queriam dizer: desejo.
Desejo misturado com saudade. Saudade misturada com amor.
nunca havia o querido tanto como naquele momento. Sabia, contudo, que não tomaria a iniciativa, pelo menos não pela situação em que se encontravam — brigados, terminados, sem se falar por semanas — se não tivesse bebido tantas taças de champanhe mais cedo. Mas ali estava ela, desinibida, como sempre fora, e com uma coragem extra concedida pelo álcool.
— …
Quase não ouviu o próprio sussurro.
Tomada por puro instinto, aproximou o corpo do dele e tocou o seu braço. levou seus olhos para ela. O azul, sempre claro como o mar banhado pela luz do sol, estava negro como o céu noturno. Desejosos. Famintos. Famintos por ela. Foi impossível para não prender o lábio inferior entre os dentes. Mas ela sabia que o que ela desejava morder, naquele momento, era outra parte do corpo. Do corpo dele.
Ficou de frente para . Ambas as mãos tocavam o corpo do homem, que ainda tinha os braços caídos ao lado do corpo. levou os lábios no pescoço do homem e, antes mesmo de sentir seu gosto, viu-o se arrepiar.
Era o sinal que ela precisava.
Passou a língua de baixo para cima, até alcançar a orelha dele. Deu uma leve mordidinha, que acabou se intensificando quando levou ambas as mãos para a cintura de . Os dedos dele a apertaram com tanta força, que as juntas ficaram brancas. Não que eles ligassem para isso.
levou seu rosto tão próximo do dele que as pontas dos narizes se tocaram. Ele respirava com a boca aberta, e ela já nem lembrava de como respirar. Umedeceu os lábios, pronta para beijar o outro lado do pescoço de , quando ele emaranhou os dedos por entre os fios de cabelos dela e puxou sua cabeça para perto da dele de novo.
— O que você está fazendo comigo, ?
A cada palavra, os lábios dele tocavam os dela.
A verdade é que não sabia o que estava fazendo. Tampouco queria pensar sobre o assunto. Os lábios dele estavam vermelhos demais, úmidos demais, convidativos demais. E foi por esses motivos — e por mais tantos outros que ela nem conseguiria colocar em ordem — que o beijou.
Quer dizer, a iniciativa foi de , mas o beijo foi dos dois. Pois a queria na mesma intensidade que a mulher, o que acabou deixando claro quando a puxou para si com força, como se quisesse desafiar Newton e provar que sim, dois corpos podiam ocupar o mesmo espaço.
tinha uma das mãos na nuca dele e a outra nos seus cabelos outrora tão bem arrumados. Pente nenhum poderia arrumar aqueles fios depois do estrago que seus dedos estavam causando. E se antes a mulher já estava com dificuldades para respirar, naquele momento ela já nem se lembrava de como o fazia.
Puxou a cabeça dele para trás, apenas para morder e puxar o seu lábio. gemeu com o gesto, apenas para puxá-la para si novamente e retomar o beijo que eles nunca dariam em um lugar público, onde tantas pessoas poderiam vê-los, se não estivessem completamente tomados por desejo cedo e saudades imensas.
A mão dele, que nunca foi comportada, seguravam a mulher contra si, pelas costas, enquanto a outra havia descido para o bumbum de . Ainda encostado na parede, com sobre ele, pensou que o ambiente estava demasiado quente e que ambos estavam vestindo roupas demais. Já nem se preocupava em onde estavam. Na verdade, ele nem se lembrava de onde estavam.
Mas o solavanco que o elevador deu ao parar, somado com o som das portas de abrindo, foi o suficiente para que ele recuperasse sua razão.
O que eu estou fazendo?
Olhou para a situação em que se encontravam. tinha os lábios vermelhos, em parte pelo batom borrado, em parte por culpa dele próprio. Os fios estavam desalinhados, e barra do vestido estava quase na sua cintura. , por outro lado, respirava como se não o fizesse a séculos, a gravata jogada no chão — como aquilo foi parar ali? — a camisa parcialmente desabotoada e a calça muitíssimo mais apertada do que mais cedo.
— É o andar em que estou hospedada. — ela disse ofegante. — Vem.
Aquele convite era irrecusável. Em qualquer outra circunstância, em qualquer outro momento, não ousaria dizer não à ela. Mas eles não se encontravam em uma situação qualquer.
— Acho… Acho melhor não. — ele disse meio ofegante, meio gaguejando. Nem podia colocar em palavras o controle que precisava manter para dar aquela resposta. — Você vai para o seu quarto e eu… Eu vou para o meu.
Apontou para o painel de controle, onde o número “3” estava aceso.
— Estou hospedado em outro andar, então… É melhor ficarmos… Hm…
— Longe? — ela perguntou com a voz mais sensual do que pretendia. — É isso que você quer, ? Ficar longe de mim essa noite?
fechou os olhos com força, e os apertou com os dedos.
Mantenha o controle, !
— Não acha que já passamos tempo demais longe um do outro?
Sim. Tempo demais. Muito tempo.
— Sim, mas por decisão sua.
Foi como se o inferno tivesse congelado. Um balde de gelo em cima do fogo que consumia .
— Eu sei que você teve os seus motivos e, mesmo que eu não os entenda, eu sei que você só está assim agora porque bebeu.
franziu a testa.
— Como é que… Ai!
esfregou o braço onde a porta do elevador bateu. Abriu os braços, e com as mãos segurou ambas as portas abertas. E com o semblante sério e sem nenhum resquício de todo o álcool que havia ingerido mais cedo — com exceção da visão meio embaçada, talvez — disse firme:
— Como é que é?
suspirou, e apertou o botão que mantinha as portas abertas quando estas ameaçaram se fechar novamente, mesmo com as segurando.
— Você terminou comigo por um motivo. Fugiu para o outro lado do mundo para ficar longe de mim e agora, depois de algumas, bem, talvez muitas taças de champanhe, me atraca no elevador...
— Eu não te atraquei...
— … E eu sei, eu sei que você só fez isso porque está bêbada. Porque se estivesse consciente das suas ações, jamais o teria feito. Ainda mais em um local público, onde podemos ser flagrados a qualquer momento.
estava ainda mais confusa, se é que isso era possível. Sim, ela estava bêbada, mas sim, ela queria se atracar com . Em qualquer lugar, a qualquer momento. Assim como ele o queria. Então qual era o problema?
— Então… Por mais que isso seja difícil, muito difícil, você deve ir para o seu quarto e eu para o meu.
Ainda com a boca levemente aberta pela surpresa de ter levado um fora, se afastou lentamente, andando de costas, mantendo os olhos fixos em . Seus pensamento confusos, contudo, foram mais rápidos do que o fechamento automático das portas, motivo pelo qual ela conseguiu impedir que as portas de tocassem.
— Ai! Fala sério!
Esfregou novamente o local em que foi atingida pelas portas automáticas, mas não perdeu tempo reclamando das marcas que ficariam ali mais tarde.
Ela, finalmente, havia entendido o motivo de ter acabado de levar um fora.
— , se você quer bancar o cavalheiro comigo, pode parar. Talvez eu tenha bebido um pouco além do recomendável, mas eu estou completamente consciente das minhas ações. E você sabe disso.
não falou nada.
— Se você não quer continuar com isso tudo bem. Mas não jogue a culpa em mim. Sei que não errei fugindo, mas talvez tenha errado em fugir sem dar nenhuma explicação. — ela balançou a cabeça. — Mas tenha certeza de uma coisa: o que acabou de acontecer entre a gente, aqui, no elevador, não foi um erro.
E como se estivesse em um filme de romance, viu as portas automáticas fecharem, dessa vez sem a interrupção de .
O curto tempo que ficou dentro do elevador, até chegar no terceiro andar, lhe pareceu uma eternidade. Mergulhou em pensamentos que envolviam e o relacionamento deles. Se ele sentia saudades? Sim. Se havia ficado devastado quando a mulher terminara com ele, sem mais nem menos, e sem lhe dar tempo para tentar a convencer do contrário? Com certeza.
Se ele estava disposto a deixar tudo para trás e recomeçar com ? Não tinha dúvidas. Mas não daquele jeito. Não com ela agindo por impulsividade, sem pensar nas consequências, apenas para, depois, se arrepender e fugir de novo.
Se continuar pensando assim talvez você acabe se convencendo disso, , pensou com ironia.
O elevador parou de novo, agora no terceiro andar. Andou até o final do corredor, com o cartão do do quarto “304” em mãos. Parou em frente à porta do seu quarto, mas não entrou.
O que eu estou fazendo?
não queria estar ali. Não sozinho, pelo menos.
Por que você precisa ser sempre tão racional?
Ele queria apenas agir impulsivamente, como .
…
A passos decididos dessa vez, e se dar tempo para pensar no assunto, ele deu meia volta e caminhou até o elevador. Apertou o botão o chamando, mas o elevador não estava no seu andar. Tudo bem, eram apenas dois andares de diferença, ele iria andando até o quarto de .
Mas não sei em que quarto ela está…
Bem, ele iria bater de porta em porta até encontrá-la do outro lado. Nem que para isso ele precisasse levar alguns xingamentos de pessoas que seriam acordadas às três da manhã.
No instante em que dera o primeiro passo rumo às escadas, o elevador parou no seu andar. As portas automáticas se abriram, e de trás delas ele encontrou a única pessoa que ele deseja ver naquele momento. A única pessoa que ele desejava, de todas as formas, naquela noite.
se assustou mais do que ele. Não esperava encontrá-lo tão facilmente.
— Pensei que teria que bater de porta em porta até descobrir onde você est…
Não pôde terminar a sua frase, contudo.
Impulsionado unicamente pelo desejo, não pensou nas consequências, tampouco se preocupou com o amanhã. Ele queria viver o agora, e agora ele tinha ela. não mostrou nenhuma resistência. Ela o queria tanto quanto precisava de ar para viver. Todos os dias que ficou longe dele por culpa, principalmente, sua, culminaram em uma saudade avassaladora que tinha que chegar ao fim. E o fim era ali, naquele momento.
— Você tem certeza disso? Não vai de novo, não é? — ele perguntou meio ofegante, meio rápido demais, ansioso para voltar a beijar os lábios de .
— Eu nunca tive dúvidas sobre você, .
E aquela foi a melhor resposta que ele poderia receber. Se aproximou da mulher novamente, pronto para voltar a beijá-la quando foram interrompidos por um som de pancada e uma nova reclamação de .
— Ok, qual é o problema desse elevador? As portas não devem fechar quando há alguém entre elas!
E mesmo em meio àquele momento em que se encontravam — quando os dois se atracavam no meio do hotel, quase tirando as roupas para quem quisesse ver — começou a rir. Começou a rir porque nem em um milhão de anos ele poderia se imaginar ali: em Tóquio, com a mulher que ele amava e que havia sumido do mapa, às três da manhã, fazendo as pazes com ela por meio de gestos, e não palavras. Aquele momento não era propício para palavras, pelo menos não ainda. O desejo carnal falava mais alto, e ambos sabiam que a conversa poderia se dar mais tarde.
acompanhou a risada de e saiu de dentro do elevador para não correr o risco de se machucar novamente. Caminhou ao lado dele até o final do corredor. Apesar de ter acordado naquela manhã se sentindo meio para baixo, meio solitária, a noite havia compensado tudo. A mulher se sentia bem, completa. A noite nem havia acabado, mas já sentia como se fosse uma das melhores da sua vida.
Lado a lado, e pararam em frente à porta da entrada. Como se fossem dois adolescentes inexperientes que se conheciam naquele momento, eles sentiram o coração pulsar rapidamente.
destrancou a porta e deu passagem para . A mulher tinha um sorriso travesso nos lábios, sempre se divertindo com o cavalherismo exagerado dele.
— Espero que os hóspedes não reclamem. — ela comentou.
— E por que eles reclamariam?
não respondeu à pergunta dele. Afinal, estava mais preocupada em provar que suas memórias não faziam jus ao o beijo dele, ao cheiro dele e, principalmente, aos toques de .
Naquela noite, com as luzes do quarto deslizando pela cortinas, eles se ocuparam unicamente em matar as saudades. Houve queixa de barulho no quarto “304”, mas eles não se importaram com isso. E na manhã seguinte, quando acordaram, as notícias que envolviam os seus nomes não poderiam ter sido mais bem ignoradas.
🎥
6 SEMANAS DEPOIS
“Bom dia, pessoal! Tudo bem com vocês? Eu sou , e hoje vou fazer um vídeo, digamos, diferente do conteúdo que costumo apresentar aqui no canal”.
arrumou a postura na cadeira e voltou a atenção para a câmera à sua frente.
“Sim, eu sei, eu sei… Eu já fiz alguns vídeos respondendo a perguntas. Mas eu nunca respondi perguntas sobre mim. E como vocês lotaram as minhas caixas de comentários com as mesmas perguntas, decidi abrir uma exceção e fazer esse vídeo respondendo elas. Lembrando que esse será o primeiro e o último vídeo com esse tipo de conteúdo, afinal, vocês sabem que o esse canal é jornalístico”.
Fez outra pausa apenas para pegar o celular e olhar as perguntas que havia separado.
“Bem, vamos começar então… A Bia Fernandes perguntou se eu estou namorando o ”. fez uma careta de confusão ao ler, respondendo para a câmera logo em seguida, “Acho que as revistas de fofoca já respondem isso por mim”, deu uma risadinha irônica. “A Flavia Carvalho perguntou se o meu encontro com no Japão estava planejado ou se foi uma coincidência”. Ela suspirou antes de responder, “Uma incrível, e muito bem vinda, coincidência”. Procurou por outra pergunta. “O Cassiano Chavez quer saber se as minhas férias nos Japão realmente foram umas boas e merecidas férias ou se eu só estava fugindo do ”. precisou revirar os olhos antes de responder. “Meu deus, gente, minha vida não gira em torno do , vocês podem perguntar coisas que não envolvam ele, ok? Mas respondendo à pergunta do Cassiano, as duas coisas. Eu precisava de um tempo só para mim e, ao mesmo tempo, me afastar de toda a loucura que envolveu o meu nome.”
Pegou um copo de água que havia deixado no chão, tomou alguns goles, e então voltou a olhar as perguntas que seus telespectadores haviam mandado.
“A Luci Sanches perguntou porque eu escolhi ir para o Japão”. ficou alguns segundos pensando na resposta. “Porque era a passagem mais barata”, respondeu dando de ombros. “Já a Monica Paul quer saber se eu estou bem, se minha carreira está bem, e se vou continuar com o meu canal jornalístico aqui no Youtube”.
fez uma pausa para. Respirou fundo, tomou mais alguns goles de água, apenas para tentar se preparar para voltar a falar com seu público. Foi por causa daquela pergunta que resolveu, de uma vez por todas, esclarecer as coisas para o seu público e colocar um ponto final naquela história.
“Antes de responder à essas perguntas eu gostaria de fazer algumas reflexões… Sabem, não é fácil se manter no topo. Porque o topo tem vários pilares: vida pessoal, financeira, profissional, amorosa… O topo é a vida. E não é sempre que conseguimos manter firmes, ao mesmo tempo, todos os pilares. Às vezes a gente cai de um lado, mas conseguimos nos erguer de outro. Às vezes a queda é tão profunda, que dificilmente conseguimos nos levantar. Outras vezes damos apenas um tropeço, e logo estamos seguindo nosso caminho, como se nada tivesse acontecido”.
se remexeu na cadeira em que estava e jogou os cabelos para os lados, deixando-os sobre um dos ombros. Pensou no que acabara de falar, engoliu em seco, respirou fundo, e voltou a colocar em palavras tudo o que vinha sentindo nos últimos meses.
“A verdade é que ninguém é perfeito. Mesmo tentando, a todo custo, a todo momento, nós não somos perfeitos. E é por isso que demoramos para entender o que está acontecendo ao nosso redor. Porque nós preferimos negar a verdade à aceitar que aquilo que tentamos manter, a tanto custo, acabou. Porque algumas quedas nos levam ao fim, e nem sempre temos a chance de ter um recomeço. E insistir na ideia de que o fim é apenas um sonho é sempre a pior decisão”.
Ela se esforçou para continuar com o tom de voz conciso. Agradeceu por estar falando aquilo no conforto do seu apartamento, para a sua câmera, e não em frente a centenas de pessoas — o que teria acontecido se ela tivesse aceitado as dezenas de convites para dar entrevista em programas de televisão.
“Confesso que fiquei tempo demais tentando me convencer de que tudo não passou de um sonho, um daqueles bem ruins, que você se contorce no colchão, querendo acordar, mas sua mente continua te prendendo naquelas imagens horríveis. E é nesse momento que a verdade cai sobre os seus ombros, pesada, como um saco de cimento: aquelas imagens não são um sonho. São a mais pura realidade”.
Pegou sua copo de água e tomou mais alguns boles. Alongou a coluna, mexeu o pescoço e então voltou a falar.
“Vocês devem estar se pergunta, ‘mas , o que esse momento filosófico tem a ver com a pergunta da Monica Paul?’, e eu lhes respondo: tudo. Vejam bem, se vocês me acompanham desde o início da carreira, sabem que eu sempre fui muito discreta com relação à minha vida pessoal. Não porque eu quero esconder alguma coisa, mas simplesmente porque não gosto de misturar trabalho com vida pessoal. E, bem, desde que comecei esse canal, a minha vida tem sido única e exclusivamente isso. Meus interesses, minhas conversas, meus compromissos… Tudo sempre girou em torno do canal. E quando me vi exposta não por algo do canal, mas por algo da minha vida privada, por algo íntimo, pessoal… Quando vi tantos questionamentos, comentários maldosos de pessoas que eu nem mesmo conheço, vi meu mundo desabar. Foi como se eu não pudesse lidar com aquilo, com as fotos, com as especulações, com o meu nome ao lado do nome do meu namorado, simplesmente porque isso nunca aconteceu antes. Mais do que isso, um dos pilares da minha vida, o pilar profissional, foi completamente deixado de lado para dar lugar ao pilar amoroso. E, gente, sério, a vida não se resume apenas a romances. A minha vida, definitivamente, não se resume à minha vida amorosa, tampouco a vida de ”.
Estalou os dedos, tomou o restante da água que pego mais cedo, respirou algumas vezes antes de continuar e, com um sorriso orgulhoso, voltou a falar.
“Então, pessoal, sim, eu e estamos namorando. O pilar que sustenta a minha vida amorosa está, finalmente, erguido. Sobre o canal e a minha profissão… Bem, se tem alguma coisa certa na minha vida é que o canal, as notícias, o blog, tudo continua firme e forte. Este pilar da minha vida, o pilar profissional, nunca esteve mais firme. E sobre o pesadelo que eu vivi alguns meses atrás, bem… O que posso falar sobre ele?”
Colocou a mão embaixo do queixo, pensativa. Procurou alguma frase que pudesse resumir o que ela estava sentindo, alguma frase que não soasse tão clichê.
Dane-se o clichê.
“Acho que posso dizer que hoje eu consigo enxergar os últimos acontecimentos com outros olhos. Porque hoje eu sei que, às vezes, os nossos sonhos podem se tornar realidade, e como prova disso posso afirmar que eu, finalmente, encontrei a minha realidade. Sim, eu estou bem. Estou mais do que bem. Estou feliz. E vou continuar mantendo a minha felicidade longe dos olhos do público porque a minha felicidade não merece ser noticiada. Mas se for…”, deu de ombros.
arrumou a postura, bateu as mãos e aproximou o rosto da câmera. A expressão já não era mais séria, mas leve e aliviada, afinal, aquele desabafo não foi direcionado unicamente para o seu público, mas também para ela. A mulher precisava dizer aquelas palavras para si mesma.
“Bem, como vocês puderam perceber, eu sou muito boa escrever uma matéria jornalística ou dando uma notícia, mas não sou grande coisa quando o assunto sou eu mesma”, disse rindo. “Eu espero que, se você chegou até o final desse vídeo, consiga tirar uma lição disso: a vida não é uma constante. Coisas que não estão nos seus planos vão acontecer, e como lidar com isso é uma decisão unicamente sua. Por isso ame, viva e se permita. Não tenha medo, não fuja. Acredite sempre em você. É isso aí, pessoal, obrigada por assistirem, e até o próximo vídeo!”.
Isso é impossível, tentou se convencer. Até mesmo porque, o motivo por ter escolhido viajar para o outro lado do mundo era exatamente porque ali, no Japão, ninguém a reconheceria.
Ignorando a sua intuição, que gritava para ela não fazer isso, a mulher pegou o celular na bolsa. Como já imaginava, o número de ligações perdidas era o maior que ela já vira na vida, e o número de mensagens não lidas chegava a quatro dígitos. Suspirou pesadamente.
Como foi que as coisas chegaram a esse ponto?
Abriu a conversa com uma de suas melhores amigas. A mensagem “, que merda você está fazendo? Fugir nunca é a melhor opção!” era só a primeira das outras dez.
Mas sabia que fugir, naquele caso, era a única opção.
Ainda receosa, e sabendo que iria se arrepender depois, ela abriu o site de pesquisa do Google. Não se surpreendeu ao ver seu nome, e até mesmo fotos suas, em todas as matérias na primeira página.
Abriu uma de suas redes sociais, a primeira notícia que viu e fez fechar os olhos com força, se arrependendo por estar se torturando daquela forma. Já a segunda manchete que viu, foi o suficiente para que ela desligasse o aparelho, fosse buscar a sua mala, e partisse rumo ao hotel em que iria ficar hospedada pelos próximos dias.
Não quero ler nada disso. Não agora, pensou. Até mesmo porque, ela havia fugido porque não queria mais saber de nada daquilo.
precisou de longos oito anos para conseguir ser reconhecida como , jornalista. Se destacar no mundo da mídia não era fácil, especialmente quando se era mulher. Ela perdeu as contas de quantas “propostas” indecentes havia recebido ao longo da sua carreira, sempre com a promessa de que ela receberia um programa só para ela em algum canal de televisão, ou uma coluna importante em um jornal ou revista de grande circulação. Mas ela não queria nada daquilo. acreditava em um jornalismo diferente daquele que ofereciam para ela. E foi pensando nisso que ela tomou a decisão mais corajosa — alguns diriam estúpida — da sua vida: largou o trabalho mal remunerado que tinha na televisão e o bico que fazia no jornal local, e abriu um blog pessoal. Juntamente com o blog, a garota criou um canal no Youtube quando ninguém, na época, conhecia o site, e lá ela começou a construir a sua carreira.
Não foi fácil. Ainda não era, na verdade. Mas atualmente ela já conseguia se manter muito bem, graças aos alcances de seus vídeos e dos patrocínios que ela recebia mensalmente. Oito anos depois, passou a ser conhecida como uma jornalista independente, empreendedora e muito à frente do seu tempo. Com uma vida recatada e pouco mostrada ao público, ela construiu um império ao redor do seu nome e da sua imagem pública.
Uma foto, uma única foto, contudo, foi responsável por rebaixar o seu nome, que até então se encontrava no topo da lista dos nomes mais influentes do país, para, simplesmente, a namorada de .
sentiu a garganta fechar ao se lembrar.
Tudo aconteceu rápido demais. Não uma, mas uma chuva de matérias jornalísticas, a maioria presumindo coisas que não existiam, somadas com os surtos dos fãs clubes do ator, começaram a tomar as redes sociais. As pessoas começaram a apontar para ela na rua, não por admiração, mas por curiosidade — e sabia que essa curiosidade recém adquirida não era pelo seu trabalho árduo, nem mesmo pelos prêmios jornalísticos que já havia recebido, mas sim pelo seu novo título, que a reduzia à companheira de um homem.
As ligações deixaram de para marcar uma nova entrevista com a famosa , e passaram a ser de especulações.
precisava colocar um fim nisso. Precisava cortar o mal pela raiz, antes que sua carreira fosse jogada ladeira abaixo. Ela não poderia ser transformada em mais uma mulher que era definida pelo homem ao seu lado. jamais aceitaria isso.
E foi por esse motivo que, completamente tomada pelo medo e pela surpresa, que a mulher terminou o seu relacionamento com , sem dar tempo para que o homem argumentasse ou tentasse fazê-la mudar de ideia, porque ela sabia que não seria fácil se manter firme na sua decisão se tivesse tempo de conversar com ela.
Ela tinha que ser firme. Tinha que ser forte. A decisão pode ter sido repentina — seus amigos diriam que foi impensada — mas, naquele momento, foi a única saída que a mulher encontrou.
“EX-NAMORADA DE NÃO AGUENTA A PRESSÃO DA FAMA E TERMINA RELACIONAMENTO COM O ATOR”
já era bastante famosa, e por mérito próprio dela, muito obrigada.
Decidiu, então, se afastar daquilo. Se distanciar das notícias falsas, das especulações que manchavam o seu nome, e também dele. Ela precisava se afastar de , ou então tudo iria por água abaixo.
Ir para Tóquio não era o plano original. Na verdade, ela nem tinha um plano muito exato. Mas ao ver os preços das passagens — e, principalmente, a distância que ficava Tóquio — não teve dúvidas. Ir para o outro lado do mundo lhe pareceu uma excelente ideia.
— Eu fiz a coisa certa.
Prova disso foi a forma como se sentiu livre novamente ao andar pelas ruas. Nenhum olhar curioso, nenhum dedo apontado para ela, nenhum fotógrafo escondido… Ali eram apenas ela e as flores de cerejeira.
Ainda assim, mesmo respirando o ar de Tóquio, caminhando sobre as flores no chão da calçada, a mulher não conseguia deixar de pensar nas notícias que ela havia lido antes de embarcar rumo ao Japão.
O fim do relacionamento entre ela e nunca foi confirmado pela assessoria do ator. , por outro lado, foi embora antes que pudessem encontrá-la. Mas ela sabia que sua assessoria também permaneceria em silêncio.
“Fãs de alegam que o ator terminou com a jornalista, , por não querer ter o seu nome associado ao de uma jornalista de internet.
— Quem quer ser conhecido como o namorado de uma jornalista que tem canal no YouTube?, uma internauta comentou.
— Ela não é uma jornalista de verdade. Ela nem aparece na televisão!, outra fã comentou nas suas redes sociais.
Infelizmente, a assessoria de imprensa do ator ainda não se pronunciou. , por outro lado, foi vista no aeroporto, na manhã deste sábado. Desde então, a jornalista não foi mais vista”.
— Nada mais de rede social para mim. Está decidido.
estava sentada em uma cafeteria, esperando pelo chá que pedira mais cedo. Esperava que o aplicativo de tradução do celular funcionasse sem internet, pois ela não poderia deixar o Wi-Fi ligado, correndo o risco de ler qualquer outra notícia sobre ela.
Era bem verdade que também era uma jornalista que ganhava a vida noticiando sobre a vida de outras pessoas. Mas sempre tomara o cuidado de não depreciar ninguém, de não criar manchetes falaciosas apenas para atrair o público. A mulher tinha fontes seguras que lhe davam as notícias mais quentes, especialmente em se tratando do mundo dos famosos, e ela tomava o cuidado de sempre confirmar a notícia com, pelo menos, mais de uma fonte. Além disso, a mulher tinha como foco noticiar os feitos dos artistas, seus filmes, suas séries, suas campanhas publicitárias… tentava deixar a vida pessoal deles longe das suas notícias, exatamente porque não queria ser o tipo de jornalista que ganha dinheiro em cima da vida privada dos outros.
— E veja onde você está agora, .
A mulher riu com a ironia da sua própria fala.
Graças aos deuses o Japão não se importava muito com os escândalos ocidentais, motivo pelo qual poderia ter um pouco de paz por algum tempo. Pelos próximos dias, ela havia decidido, iria sumir das redes sociais. Primeiro, porque não queria continuar se torturando com as notícias ridículas que estavam fazendo sobre ela; e segundo, porque ela não queria que descobrissem onde ela estava.
Sim, ela havia fugido. Sim, essa foi a única alternativa que a mulher tinha encontrado. Mas isso não significava que iria permitir que todos soubessem o quão abalada ela ficara com aquele escândalo.
Se antes suas redes sociais eram voltadas inteiramente para o trabalho — desde o seu trabalho como jornalista, até as publicidades para as quais ela era contratada — após o vazamento de foto dela com , a mulher passou a receber mensagens do tipo “vocês precisam ficar juntos!” e “a gente shippa vocês!”.
não queria ser shippada com ninguém. Ela não era um maldito personagem de uma comédia romântica. Ela era uma pessoa real, com sentimentos reais e uma vida real para se preocupar.
— Férias sabáticas… É isso. — ela pensou em voz alta, após agradecer pelo chá deixado em cima da mesa. — Eu não fugi, apenas me dei um período de férias sabáticas.
E foi com esse pensamento que a mulher passou a curtir o seu período de férias em Tóquio, aproveitando para provar alguns pratos típicos, tirar fotos de paisagens e arquiteturas que não existiam no seu país e, realmente, focar nela e somente nela. Tentou não se preocupar com seu trabalho e os vídeos do canal, nem com as matérias do seu site. Por sorte, tinha uma tinha equipe muito bem estruturada e competente, na qual ela confiava cem por cento das vezes. Sabia que seu trabalho estaria sendo bem cuidado na sua ausência.
Mas isso não significava que ela havia ficado completamente desaparecida. Quer dizer, seus espectadores e leitores talvez estivessem sem notícias dela, mas , seu melhor amigo e empresário, teria colocado a Interpol atrás dela se não atendesse suas ligações.
— Você precisa voltar.
suspirou. “Você precisa voltar” tinha sido a frase mais ouvida por ela nos últimos dias.
— Ainda não estou pronta.
— Já faz uma semana!
— Ainda não estou pronta, caramba!
Foi a vez de suspirar. sabia que, do outro lado, o amigo, muito provavelmente, estaria mordendo o lábio inferior, tentando se controlar para não xingá-la de alguns nomes feios. odiava ser contrariado, mas estava tentando respeitar o espaço de .
— Então me mande algum material novo, pelo menos. Não posso continuar colocando Paola e Rupert para gravar os seus vídeos. O público está questionando demais, e as nossas desculpas estão acabando.
revirou os olhos. Paola e Rupert sempre faziam os vídeos semanais quando ela saía para realizar algum trabalho fora, em outra cidade ou país, e o público nunca questionava isso. Por que tinha que ser diferente agora?
— Beleza, mas vou fazer os vídeos aqui do hotel. — ela disse. — Me manda o material por e-mail que vou estudar antes de criar a pauta.
, então, passou a fazer vídeos diários sobre críticas de filmes, noticiando o mundo das celebridades, comentando sobre os novos lançamentos das músicas e o que mais sua equipe mandasse para ela. Tomou o cuidado de gravar todos os seus vídeos de dentro do seu quarto de hotel, ou no café, longe de janelas que pudessem dar dicas para o público de onde ela estaria.
Também se recusou a ler os comentários. O que antes era a parte divertida do seu trabalho — receber o feedback sempre a deixava animada — passou a ser visto como auto sabotagem, pois ela sabia que grande parte dos comentários seriam sobre o seu paradeiro desconhecido e o seu romance/fim de romance com .
Parecia que as coisas estavam finalmente voltando ao normal. garantiu à que o seu nome já não fazia parte das principais matérias jornalísticas, e que os comentários nos seus vídeos já não mencionavam o nome de . Pelo contrário, as pessoas pareciam bastante satisfeitas por ela ter voltado a fazer o seu trabalho, como se nada tivesse acontecido, especialmente quando cada um dos seus novos vídeos tinha um cenário diferente.
— Precisamos repensar o cenário do canal quando eu voltar. — ela comentou em uma das ligações que tivera com .
— Uhum…
— Podemos pensar em fazer alguns cenários alternativos, um para cada semana…
— Sim, claro…
— Talvez algo temático relacionado com a natureza das notícias da semana…
— Aham…
bufou. Conhecia há tempo suficiente para saber quando suas respostas significavam que ele não estava prestando atenção nela ou, simplesmente, não estava dando a mínima para o que ela falava.
E, naquele momento, sabia que que só queria que ela parasse de falar logo para que ele pudesse soltar alguma bomba.
— Ok, , desembucha.
nem tentou se fazer de desentendido.
— Tudo bem, antes de qualquer coisa, prometa que você vai me ouvir antes de falar não ou, simplesmente, surtar.
ficou sem palavras. Que tipo de notícia bombástica ele tinha para contar a ela?
— Não prometo nada, você sabe.
não viu, mas rolou os olhos do outro lado da linha. E antes que a jornalista começasse a surtar antes de ouvir o que ele tinha a dizer, o rapaz tomou ar e soltou:
— e todo o elenco vão para Tóquio no final de semana para fazer a pré-estreia do novo filme dele. E antes que você fale alguma coisa, nossas fontes confirmaram que nenhum jornalista norte americano confirmou presença no evento. E então eu pensei que seria incrível se você pudesse comparecer no tapete vermelho, tirar algumas fotos, entrevistar alguns atores, fazer uma matéria sobre isso e pronto: você será a dona de mais uma exclusiva.
ficou em silêncio por um tempo. Não, a verdade é que ela ficou em silêncio por muito tempo. Tempo demais. Digerindo o que acabara de ouvir.
— Fala alguma coisa…
— O que você quer que eu fale? — Ela soltou exasperada. — Que o universo adora tirar onda com a minha cara? Que, de todos os lugares DO MUNDO que esse maldito elenco poderia ir para divulgar o filme novo, eles decidiram vir para o mesmo país que eu estou? Na mesma cidade?
— Segundo nossas fontes, o elenco irá se hospedar no mesmo hotel que você está…
E então começou a rir. Riu de descrença, riu de nervosismo e, principalmente, riu da ironia que a sua vida havia se tornado nas últimas semanas.
— Eu não quero falar com , . Não dá. Eu não posso.
Até porque, o que ela diria para ele? A mulher havia, literalmente, fugido de perto dele. Terminou com o homem, sem dar chances de ele falar sobre o que achava a respeito e foi embora, assim, do nada. Ela sempre havia sido uma pessoa espontânea, e se orgulhava disso, mas nunca havia agido por impulso sem pensar nas consequências. E, bem, depois da sua fuga, tudo o que ela menos queria era pensar nas consequências dos seus atos.
— Então não fale com ele. Tem mais umas dez pessoas no elenco, fale com qualquer uma delas, consiga uma entrevista com o diretor, tire fotos com os produtores, faça uma matéria completa e divulgue no seu site e no seu canal novidades do filme antes da estreia nos Estados Unidos. Esteja à frente de qualquer outro jornalista.
não havia ganhado o cargo de empresário de apenas por ser seu melhor amigo de longa data. Não… O rapaz ganhou o título porque sabia muito bem como convencer a mulher a fazer algo e, mais do que isso, ele sabia como incentivar . E, bem, ele tinha acabado de fazê-lo.
Quer dizer, é claro que sabia que aquilo era uma péssima ideia.
— Não, não, é mais do que péssima, é super péssima!
Mas ela precisava daquele material, precisava retornar ao topo, mostrar quem ela era, voltar a fazer o seu trabalho e agir como uma verdadeira jornalista. E qual a melhor forma de provar o seu verdadeiro valor, o quão profissional era, senão indo fazer um trabalho do qual ela não queria, mas sabia que era importante para o seu canal?
Por esse motivo, deixou em cima da cama o seu crachá de imprensa — o qual foi devidamente providenciado por — e passou a se arrumar. Colocou o vestido que ela havia comprado na noite anterior, no tom de azul que, coincidentemente, era a cor favorita de , calçou um salto baixo, afinal, ela ficaria em pé por algumas horas, terminou de arrumar o cabelo e desceu para o saguão, dirigindo-se ao salão de conferências onde ocorreria a pré-estreia, o famoso tapete vermelho de Tóquio.
A cada passo que dava, apenas tinha mais certeza de que não queria falar com . Não ali, não naquele momento.
— Eu não preciso falar com ele. — Disse firme. — Ele nem é o principal do filme!
Pegou o celular e passou a ler o e-mail enviado por , no qual continha um pequeno resumo sobre o filme. E, então, com a câmera na mão e o microfone ligado, se apressou por entre os jornalistas. Montou o seu tripé em um ponto estratégico, posicionou a câmera, arrumou o foco e ligou o microfone. Estava pronta para receber o elenco exatamente da forma como quando começou a trabalhar como uma jornalista independente: sozinha, com praticidade e eficiência.
Lembrava-se de quando pediu para sair da televisão. “Louca” foi o melhor dos adjetivos que dirigiram a ela. Mas só disse uma coisa a todos eles:
— Vocês ainda vão ouvir falar de mim.
E eles ouviram. Toda a internet ouviu. Ela tinha um nome a zelar, afinal, foi difícil construir esse nome, não apenas por ser uma jornalista independente, que começou do zero, com nenhum recurso, mas por também ser mulher.
E só de pensar que por conta de um relacionamento, um amor, uma foto, tudo poderia ir por água abaixo, lhe gelava a barriga.
É claro que ela amava . Como poderia não amar? Ele era a pessoa mais amável que conhecia, de todas as formas possíveis, e nem precisava se esforçar para isso. Mas ela nunca, jamais, poderia deixar-se ser reduzida à companheira de um homem. Nem que para isso ela precisasse tomar decisões drásticas, como as que tomou.
Por ter mais desenvoltura e falar fluentemente a língua inglesa, conseguiu ser a primeira a entrevistar o primeiro ator que chegou. Daniel Craig a cumprimentou com um beijo no rosto, respondeu suas perguntas com um largo sorriso, e não recusou tirar uma foto com . O mesmo se repetiu quando Keith Stanfield chegou, tendo ele mesmo segurado o celular da garota para tirarem uma selfie.
ainda conversou com os roteiristas do filme, os quais tomaram bastante cuidado para não soltarem nenhum detalhe importante, e quando a mulher conversou com o diretor, se sentiu muito orgulhosa da entrevista que conseguira.
As coisas estavam saindo realmente bem. Os atores a cumprimentavam como velhos conhecidos, exatamente como Ana Celia de Armas o fez quando abraçou e deu um beijo no seu rosto. Dentre todos do elenco, a única que tratava como se fosse uma boa amiga era Ana Celia — já que acabaram ficando mais próximas quando dividiram uma mesa em um restaurante muito cheio, acabando por terem um jantar de casais não planejado. Naquela época, estava começando a sair com , e Ana Celia foi uma das pessoas que ajudou o casal a se esconder a mídia.
— Ah, então era aqui que você estava se escondendo. — Ela disse em tom de brincadeira, fazendo com que corasse involuntariamente. — sabe?
iria inventar alguma forma de mudar o rumo da conversa, mas ela não teve tempo de responder. No instante em que puxou o ar para falar alguma coisa, ela ouviu a voz dele. Alta e clara. Grossa e firme. Impossível de não ser reconhecida. E aquilo foi o bastante para que sentisse todos os pelos dos seus braços se arrepiarem.
— Hm… A imprensa está sendo chamada. Preciso ir.
É claro que ninguém estava chamando a imprensa para lugar nenhum. A consciência de , por outro lado, gritava para que ela fugisse de lá, como uma perfeita covarde.
Segurando o celular em uma mão, o microfone embaixo do braço a câmera e o tripé com a outra mão, a mulher correu para atrás de alguma porta, dando para o interior de uma sala escura.
O que ela estava pensando? Como poderia encará-lo ali?
percebeu que suas pernas tremiam e, por um momento, ficou com medo da gravação ter ficado ruim por ter sido interrompida em meio a uma entrevista. Olhou o celular e conferiu as fotos que tinha conseguido tirar — fotos estas, inclusive, que já se encontravam com , o qual estava cuidando de alimentar as redes sociais dela. Olhou a gravação que fizera, e ficou aliviada por perceber que havia ficado ótima, e que ficaria ainda melhor depois de passar por uma boa edição.
Pensou em sair, mas no momento em que abriu a porta viu os atores do elenco passarem por ela. Fechou a porta com força e se apoiou na madeira.
Patética.
Tentou ficar com a atenção focada nos sons do lado de fora, tentando entender o que estava acontecendo. Quando percebeu que a divulgação do filme havia acabado, e que a imprensa foi dispensada, tratou de se esgueirar por entre os vários jornalistas, tentando passar despercebida. Não conseguiu, contudo. notou alguns flashes em sua direção, mas não se abalou por isso. Quando estava chegando no elevador, ela sentiu o celular começar a tocar a vibrar sem parar. As mensagens entravam uma atrás da outra, e as ligações foram aos montes. Foi nesse momento que ela entendeu que suas fotos na divulgação do novo filme de já estavam nas suas redes sociais, o que significa que as pessoas passaram a saber onde ela estava. Seu anonimato tinha chegado ao fim.
De volta ao seu quarto, baixou a filmagem no seu notebook. Não conferiu como havia ficado o seu trabalho, mas apenas mandou para , sabendo que o amigo estaria ansioso para isso. Seu dedo foi automaticamente até o ícone do Twitter, no seu celular. Não clicou ali, contudo. Abriu o aplicativo do Instagram, mas não teve coragem de colocar a sua senha. Sabia que as pessoas já sabiam onde ela estava e, mais do que isso, que estava cobrindo a divulgação do novo filme do seu ex-namorado, mas não tinha ideia do que essas mesmas pessoas poderiam estar comentando sobre ela. E não estava pronta para descobrir.
Jogou o aparelho em cima da cama e foi até o banheiro retocar a maquiagem, afinal, a noite ainda não havia acabado.
Quer dizer, se ir até à divulgação do novo filme de já havia sido uma má ideia, quem dirá ir à festa de estreia do filme. A ideia não só era péssima, mas também reprovável. não deveria estar ali. Deveria estar no seu quarto, descansando, tomando um bom chá de camomila, e se preocupando apenas em comprar sua passagem de volta para a sua cidade, já que não havia mais motivos para ela se esconder em Tóquio.
Talvez eu possa continuar minhas férias sabáticas em outra cidade, em outro país… A ideia seria excelente, se não fosse o fato de que iria matá-la e jogar seus pedacinhos ao redor dos cinco continentes.
— A vida precisa continuar, . Pode precisa voltar para o lugar que te pertence.
E com esse pensamento em mente, a mulher voltou a entrar no elevador. Apertou o botão do último andar, estalou os dedos de nervosismo, conferiu seu batom no espelho, pelo menos, quatro vezes, e saiu a passos largos em direção ao salão de festas do hotel. A confiança no seu andar, contudo, acabou no momento em que ela parou em frente às grandes portas do salão.
Algumas pessoas passaram por ela, tiveram seu nome conferido na lista dos seguranças, e entraram. continuou parada com o celular nas mãos, perguntando-se o que ela estava fazendo ali.
Fala sério, , de onde surgiu essa ideia…?
Olhou em volta, sentindo-se estranha por estar parada na frente do salão de festas, atrapalhando a passagem.
Talvez ele nem esteja aqui. Talvez tenha ido dormir cedo.
Claro! Como não havia pensado nisso?! estava se preocupando tanto em encontrar , que nem havia pensado na possibilidade de ele não estar presente na festa. Assim, ela poderia, simplesmente, fazer o seu trabalho, tirar mais algumas fotos, gravar alguns vídeos curtos com o seu celular, e completar o seu trabalho como jornalista independente. Tudo iria dar certo.
— ?
Ou talvez nem tudo.
endireitou a postura e sentiu os pelos arrepiarem. Prendeu o ar e, por um momento, se esqueceu de como se mexer.
Não pode ser, não pode ser…
Mas era. E ao se virar para trás, apenas para confirmar o que a sua audição e olfato já haviam constatado — afinal, nenhuma outra voz era tão grossa quanto a dele e nenhum outro perfume a embriagava daquele jeito — apenas uma coisa passou pela sua cabeça: fugir.
Nem mesmo esperou que seu nome fosse confirmado na lista dos seguranças. Forçou a abertura das portas e saiu, literalmente, correndo sobre os saltos altos.
— , espera!
Mas ela não esperou. Como uma perfeita covarde, a mulher apenas apressou os seus passos, porque sabia que a proximidade da voz de só podia significar uma coisa: ele estava indo atrás dela.
Encontrou uma rodinha de jornalistas, alguns ela já conhecia pessoalmente, outros ela pretendia conhecer ali, naquele momento. Torceu para que todos eles falassem inglês, já que seu vocabulário japonês se reduzia a arigato e sushi. Para sua sorte — ou, talvez, não tão sorte assim — encontrou Paolo, um jornalista mexicano que a mulher bem que conhecia…
— Droga!
Tentou jogar os cabelos na frente do rosto para passar despercebida, mas é claro que o seu método não funcionou.
— ! — Ele falou alto, chamando a atenção de todos os presentes na rodinha. — De todos os lugares do mundo, esse era o que eu menos esperava te encontrar… Como você está, minha querida?
Já sem ter como se esconder, ou fugir de novo, arrumou a postura, jogou os cabelos para trás e deu o melhor sorriso falso, porém muito educado, que pôde. Ela não se deixaria abalar por causa dele. Quer dizer, não é porque Paolo e haviam tido um pequeno desentendimento após o término do namoro entre ele e o seu melhor amigo, , que seria deselegante, não é?
— Estou bem, querido. E você, como está?
— Ah, estou muito bem… considerando que o meu nome foi jogado na lama, como você bem se lembra… afinal, você foi a responsável por quase colocar fim na minha carreira, querida.
precisou engolir em seco. Com o canto dos olhos, viu se aproximando dela.
Automaticamente, e sem pensar nas consequências que isso poderia lhe trazer mais tarde, pegou uma taça das taças de champagne oferecidas pelos garçons e virou de uma só vez.
— Ora, Paolo… exagerar não é do seu feitio… além disso, pensei que tínhamos combinado que não haveria ressentimento entre nós… afinal, era só um trabalho, como você nem sabe.
Paolo já não tinha o sorriso falso no rosto. No lugar, o rapaz fechou a cara, mostrando que sim, havia muito ressentimento entre eles.
— Informar para a internet do mundo inteiro que eu tenho disfunção erétil não era só um
trabalho. Você queria se vingar de mim!
E por mais que Paolo tentasse manter o tom de voz baixo, o fato dele falar com os dentes cerrados apenas tornava tudo aquilo mais engraçado.
não perdeu a pose, tampouco o sorriso nos lábios, o qual acabou se tornando uma bela expressão irônica.
— E por que eu teria motivos para me vingar de você? Só porque você é uma vadia sem coração que traiu o meu melhor amigo no dia dos namorados?
Diferentemente de Paolo, não se esforçou para manter o tom de voz baixo. Pelo contrário, falou pausadamente e em alto e bom som, de forma que todos os jornalistas ali presentes pudessem ouvir cada uma das palavras dela. Como se eles tivessem combinado, cada um dos jornalistas da rodinha abriram a boca, chocados, e passaram a olhar para Paolo com o julgamento nos olhos.
Se um olhar pudesse matar, estaria mortinha. Paolo a fuzilou com os olhos e saiu dali, esbarrando em algumas pessoas no caminho.
Com um riso de deboche, aceitou a segunda taça da noite.
Não, ela não gostava de falar da vida privada das pessoas, esse definitivamente não era o foco do seu trabalho. Mas ela não teve dúvidas de que usaria de todas as suas armas, por mais vis que pudesse ser, para defender o vingar . Afinal, mais do que empresário e melhor amigo, era o irmão que ela nunca tivera.
— Uau… Você não aprende, não é? Pensa que palavras não têm consequências, mas elas têm.
estava no último gole do champanhe quando se engasgou. Sem condições de tentar manter a pose de mulher fina e elegante que ela tinha, começou a tossir, o que acabou preocupando . Ainda atrás dela, ele deu algumas batidinhas nas costas da mulher, até que ela voltasse a respirar normalmente.
— Estou bem, estou bem.
Com a garganta ardendo, ela aceitou mais uma taça de champanhe, bebendo-a toda. E ao virar o corpo e ficar de frente para , acabou bebendo o champanhe dele também.
— Você deveria ir com calma. — Comentou.
Mesmo que tivesse acabado de beber duas taças, ainda sentia a garganta seca.
— Estou bem, já disse.
— É, dá para ver. Você está ótima. — e então, com o tom de voz mais doce, ele disse — Você sempre ficou bem de azul.
Foi involuntário corar. Eu devia ter usado outra cor.
— Como você está? — ela perguntou, olhando para ele pela primeira vez naquela noite.
— Estou ótimo. E você?
— Estou bem, eu…
— É, você acabou de falar isso.
mordeu o lábio, sem saber o que responder. O clima, que já estava pesado, acabou deixando-a desconfortável. Meio constrangida, e sem saber para onde olhar, a mulher observou o ambiente, as pessoas, e até mesmo tentou identificar quais eram os aperitivos servidos naquela noite. , por outro lado, tinha o olhar fixo nela.
Sem ter para onde fugir, de novo, olhou para ele. A visão de usando terno a deixou sem ar. Como se estivesse se afogando na beleza do homem, a jornalista precisou se forçar a respirar fundo algumas vezes. Piscou os olhos com força. Era como se ela tivesse se esquecido do quão belo era. Isso é impossível… Não, ela havia se esquecido do quão abalada ela ficava na presença dele. Como se estivesse imersa em um mundo paralelo que pertencia apenas a eles dois. E, inferno!, ela queria continuar presa nesse mundo com ele. Se pudesse escolher onde morar, ela escolheria . Porque, ao lado dele, ela se sentia bem, se sentia em casa.
Querendo quebrar o momento constrangedor e silencioso entre eles, ela tentou iniciar uma conversa com a primeira coisa que lhe veio em mente:
— Não sabia que você estaria hospedado neste hotel.
— Eu sei.
— Também não sabia que a divulgação do filme seria neste final de semana.
— Eu também sei disso.
franziu a testa.
— Sabe? Como?
soltou uma risadinha.
— Levando em consideração que depois que você terminou comigo, não atendeu as minhas ligações e sumiu do mapa, vindo para o outro lado do mundo, acabou ficando meio óbvio que você queria manter a maior distância possível de mim. Tóquio teria sido uma boa escolha, se o destino não fosse tão irônico.
ficou completamente muda. As palavras de foram como um soco no estômago, uma enxurrada de água fria sobre a sua cabeça.
acha que fui embora porque queria me afastar dele... Acha que é o culpado pelo meu sumiço…
Foi essa a imagem que ela passou?
— , eu nunca quis me afastar de você.
Apesar do tom de voz sério dela, riu da sua fala.
— Ir para outro continente não passa exatamente a mensagem de que você queria ficar ao meu lado. Ah, claro, como pude me esquecer? — ele fez uma careta, batendo o dedo na testa. — Teve também o fato de você ter dito que não queria mais ficar comigo. Como pude esquecer desse detalhe?
estava sendo irônico, mas a tristeza e o ressentimento eram claras na sua voz. E aquilo doeu. Doeu como o inferno. Tanto, que pensou que poderia, a qualquer momento, devolver todo o champanhe que havia bebido mais cedo.
É claro que estava magoado com ela — agiria da mesma forma se ele tivesse terminado com ela, sem lhe dar chances de conversar a respeito. Mas, naquele momento, enquanto a mulher via sua vida se despedaçar, sua carreira ir por água abaixo, e tudo o que ela construiu, ir pelo ralo, não enxergou qualquer outra saída. E mesmo se sentindo a pior vilã de todos os filmes de romance da Disney, ela não se arrependia da decisão que havia tomado.
— Você nunca vai entender o que eu passei.
A reação de foi a de revirar os olhos. Mas antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, ela continuou:
— Não… Você nunca vai saber o que eu passei e o que eu passo todos os dias, e sabe por quê? Porque você é homem. Você nunca vai ser mencionado como o “namorado” de alguém, por mais famosa que essa pessoa seja. Mesmo que você esteja ao lado da Beyoncé, as pessoas vão se lembrar do seu nome. Simplesmente porque você é homem, .
E ainda mantendo a voz bastante sóbria, tomou ar e continuou.
— Eu demorei para construir a minha carreira. Eu precisei fazer tudo sozinha, começar do zero, ser a minha própria empresária, minha produtora, a minha editora e a minha própria patrocinadora. Eu demorei muito para chegar onde cheguei para, com apena uma foto, uma foto, , eu ser reduzida à namorada de . Eu não sou apenas a namorada de , eu sou muito mais do que isso. Eu sou uma jornalista que leva muito a sério o trabalho, e só de pensar em ser reduzida à companheira de um cara famoso… Não, isso foi demais para mim. Especialmente quando as pessoas começaram a comentar que o nosso relacionamento era apenas para impulsionar a minha carreira. — ela riu irônica.
— Você sabe que isso não era verdade. Nunca houve nenhum tipo de interesse no nosso relacionamento.
— Eu sei. EU sei! Mas o meu público começou a duvidar de mim. Os meus patrocinadores começaram a duvidar de mim. Eu comecei a ser questionada por ser mulher e estar em um relacionamento com alguém mais famoso que eu. E sim, eu admito que talvez eu tenha agido por impulso e de forma impensada. E que sim, talvez, eu pudesse ter encontrado outra saída, esperado as coisas se acalmarem, esfriarem… Mas naquele momento, quando todas as notícias estavam focadas em mim e no meu “suposto relacionamento fake para crescer na carreira”, eu não consegui. Não consegui pensar em mais nada.
estava em silêncio. Não havia mais ironia ou ressentimento na sua expressão, mas apenas atenção. Ele absorvia cada uma das palavras de quase sem piscar.
— Você deveria ter me falado tudo isso antes.
começou a rir. Não porque achava graça na situação, mas apenas porque foi a única reação que ela pôde ter no momento.
— Pois é… Eu deveria ter feito muita coisa, mas não fiz. Eu deveria não ter surtado, mas surtei. Acontece. Mas sabe de uma coisa? Deu certo. Sumir do mapa funcionou. Meu nome foi esquecido, o foco mudou, e agora eu posso, finalmente, voltar para a minha vida. Então, se quer saber, eu não me arrependo. E se você não consegue entender a minha posição nisso tudo e os motivos pelos quais eu fugi, bem, então eu acho que acabei tomando a decisão certa de vir para o outro lado do mundo.
Ainda sem saber o que falar sobre isso, apenas permaneceu mudo. E também sem reação nenhuma quanto ao que acabara de ouvir, apenas observou pegar outra taça de champagne, dar-lhe as costas, e se afastar dele. De novo.
Pela primeira vez nas últimas semanas, estava, finalmente, se divertindo. Talvez fossem as luzes de néon coloridas, talvez fossem os desenhos engraçados que as cortinas formavam ou, talvez, fosse apenas a quantidade absurda de álcool que a mulher havia ingerido.
— Pa-o-looo. — ela cantarolou. Foi até onde o homem estava conversando com outro jornalista, provavelmente flertando com ele, e abraçou pelos ombros. — Eu sei que você não presta, mas eu preciso dizer: esse seu terno é fabuloso!
apenas esperava que sua voz não estivesse saindo como se estivesse em câmera lenta como soava em sua mente.
Eu estou falando muito engraçado, pensou. E então começou rindo sozinha.
— E olha, para provar que não existe ressentimento entre nós, vou te dar uma dica. — ela continuou falando para um Paolo que, definitivamente, não queria ouvi-la. — Mesmo que você seja o demônio em pessoa, você precisa saber que esse cara aí com quem você está conversando. — apontou “discretamente” para o jornalista que observava tudo, atentamente. — Tem fama de ter pinto pequeno. — fez careta. — Então, meu amigo, você que já tem probleminhas aí embaixo, deveria pensar melhor antes de investir toda a sua noite nele.
E com um sorrisão no rosto, como se tivesse acabado de fazer a sua boa ação da noite, seguiu por entre as pessoas, cumprimentando alguns conhecidos. A maioria ali era jornalista local, mas havia também vários internacionais. Os próprios atores do elenco foram conversar com ela várias vezes, o que acabou rendendo várias boas fotos.
Já sem se preocupar com os comentários que poderia encontrar nas suas redes sociais, passou a fazer stories e a postar algumas boas fotos com seus colegas de profissão e seus outros colegas famosos.
— I’m back, bitches!
E como se para provar o que havia dito, aceitou outra taça de champanhe — caramba, aquele champanhe era muito melhor do que o comprado por no último ano novo — e fez um brinde com algumas pessoas desconhecidas.
Ela finalmente se sentia bem. Não se preocupava com a sua carreira, afinal, não tinha motivos para isso. Ela era uma profissional maravilhosa, que havia conquistado o topo e pretendia continuar lá. Tinha uma audiência enorme, fãs que a apoiavam, patrocinadores com contratos vitalícios, e uma talento natural para ser criativa e autêntica.
Já nem se lembrava do motivo de ter ficado tão preocupada.
Quer dizer, sim, alguns jornais, e muitas pessoas, estavam questionando o comprometimento dela. Questionaram o profissionalismo e o talento dela… Também deixaram de lado o fato dela ter se formado bem jovem, feito pós graduação e mestrado. É bem verdade que preferiram ignorar toda a sua carreira, e as dificuldades que precisou passar para construí-la.
Mas e daí?
sempre foi, e continuará sendo, muito maior do que qualquer fofoca de tablóide. Nada daquilo poderia diminuí-la.
E foi pensando nisso, que a mulher seguiu para o bar. Meio cambaleando, mas ainda se mantendo em cima do salto, com a postura reta e elegante.
— Olá, boa noite. — cumprimentou o bartender com um sorriso matador. — Me vê um… Um… — como era o nome daquilo mesmo? — Essa bebida cor de rosa que você está segurando. Por favor.
O garoto concordou com o pedido, e foi buscar uma taça.
A noite de estava sendo muito divertida. Muito mesmo. Estava relaxada e feliz, e já até pensava em comprar a passagem de volta para casa no dia seguinte. Mas então aconteceu.
A mulher sentiu o seu perfume antes de ouvir a sua voz. Sentiu a sua presença — com todos os pelos do corpo arrepiados — antes de vê-lo ao seu lado. tinha uma expressão leve, quase preocupada, totalmente diferente do olhar acusador e machucado com que ele a recebeu.
— Tem certeza que é uma boa ideia beber essa taça?
estava ao lado de . A mulher não virou o corpo para olhá-lo. Se já sentia as pernas bambas — com certeza por conta do efeito do álcool — nem imaginava como ficaria se olhasse para ele. Só de pensar na possibilidade de se perder, novamente, no mar azul dos seus olhos, já era suficiente para hiperventilar.
— Não vejo porque não seria.
encostou o corpo na bancada do bar, as mãos nos bolsos da calça do terno, encarando de frente. Ao receber a sua bebida, a mulher tomou apenas um pequeno gole, não porque ela não queria, mas porque sentiu a garganta fechar.
Por que está tão próximo, ?
— Você quer que eu me afaste?
— O quê?
— O quê? — ele repetiu a pergunta. — Acha ruim que eu esteja perto de você?
— Não acho, eu só…
Caramba, eu estou pensando em voz alta agora?
soltou uma risadinha.
— Acho que sim. — respondeu à sua pergunta. — É… Talvez não seja uma ideia tão boa assim continuar bebendo.
Foi quando ela se deu conta da situação em que se encontrava: o cabelo já não tinha os cachos definidos de outrora; a maquiagem, provavelmente, estava arruinada, levando-se em conta a quantidade de suor que escorria nas costas. Perguntou-se a quanto tempo ela estaria ali… Minutos? Horas? Com certeza a algumas horas.
— Acho que está na hora de ir embora. — ela pensou. Ou falou. Já não sabia mais.
Virou o corpo, ficando frente a frente com .
Deus, como ele é lindo…
Ops…
Olhou para ele com os olhos meio arregalados, sem saber ao certo se tinha ouvido o que ela pensou. Ou falou. Meu deus, estou tão confusa…
Se ouviu de o quão lindo ele era, não comentou nada. Seu olhar, contudo, se dividia entre a preocupação com o bem estar da mulher e o divertimento em vê-la tão leve, solta… Como a que ele conhecera. Tão diferente da mulher nervosa e desesperada que terminou com ele, semanas atrás.
deu alguns longos goles, e terminou com o conteúdo da sua taça. Passou a língua nos lábios, lamentando ter que ir embora. , ao seu lado, imitou o seu gesto: lambeu os lábios em uma lentidão ridícula, que fez a garganta de secar imediatamente.
Eu preciso sair daqui.
Levantou a palma da mão como se dissesse adeus a . Falou alguma coisa sobre ele ter uma boa noite, e talvez tenha comentado algo sobre se verem outro dia. Mas ela não tinha tanta certeza.
Ao virar-se para ir embora, aceitou outro copo servido a ela, dessa vez com água. O frescor do líquido foi revigorante. E ao sair porta afora, quase se sentiu sóbria. O ar fora do salão de festas foi essencial. As luzes claras, tão diferentes das luzes de neón lá de dentro, ajudaram a mulher a ter a visão desembaçada. Poder respirar o ar puro, longe da presença de , foi bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque finalmente conseguia pensar direito. E ruim, porque ela já sentia falta do seu cheiro.
Respirou fundo algumas vezes antes de andar até o elevador. Apesar de ainda se sentir meio tonta, já conseguia dar os passos sem medo de cair.
Levou a mão ao botão para chamar o elevador. Levou um choque, mas não porque a fiação do hotel estava com problemas, ah não… Mas porque, mesmo depois sem tocá-lo por algum tempo, ainda sentia todo o corpo se arrepiar ao simples toque de .
tinha a mão em cima do botão do elevador, e ainda mantinha os seus dedos sobre os do homem. Estava paralisada. Ali, do lado de fora, e com as luzes claras, podia vê-lo melhor. Os cabelos penteados para trás, os olhos mais azuis do que nunca, a barba perfeitamente alinhada… E o seu perfume… precisou fechar os olhos para buscar algum controle dentro de si. E apesar de a temperatura estar abaixo dos vinte graus, ela sentia todo o seu corpo queimar, como se fosse fogo e ela uma simples fogueira que respondia a qualquer estímulo dele.
De onde veio isso?!
Quer dizer, é bem verdade que ela tinha várias preocupações na cabeça nos últimos dias. Mas isso não significava que não havia sentindo saudade de cada dia que passou longe dele, que não havia pensado nele cada minuto presa dentro daquele hotel. Então de onde vinha essa onda de… Saudade?
— Hm… Já está encerrando a noite? — ela perguntou em uma tentativa ridícula de controlar seus pensamentos.
Você nunca tinha usado branco antes, , por que justo hoje…? Não há controle que se sustente com você vestido assim!
Meu deus, será que ainda estou pensando em voz alta?
Olhou para ele, que tinha um sorriso leve nos lábios.
— Está tarde. — disse simplesmente.
Por que está sorrindo assim, ? Você sabe que sou apaixonada pelo seu sorriso…
Por favor, que eu não tenha dito isso em voz alta.
O elevador parou, e o som das portas se abrindo foi o que trouxe de volta à realidade. Porque foi nesse momento que ela percebeu o que se daria pelos próximos segundos: , ela e seus pensamentos descontrolados (talvez pelo álcool, talvez por outro motivo) juntos, dentro de uma caixa de metal. Sozinhos.
Há quanto tempo não ficamos sozinhos em um espaço pequeno, ?
Ela já nem se lembrava. Poderia ser dias, talvez semanas, mas sentia como se fossem anos.
— Você primeiro.
Como um perfeito cavalheiro, estendeu a mão, indicando que deveria entrar antes dele. Ela ainda olhou envolta, na esperança de ver mais alguém que também estaria interessada em adentrar naquele cubículo que a deixaria presa com pelos próximos instantes.
Merda.
— Obrigada.
Apertou o botão do quinto andar, enquanto apertou o do terceiro. Foi até o espelho e encostou as costas. As pernas, que haviam recobrado a firmeza depois que saíra da festa, estavam como gelatina. A respiração, mais descompassada do que nunca. Os pelos dos braços já nem sabiam mais como ficar abaixados, e em sua barriga, uma festa maior do que a que acontecia no último andar.
As portas do elevador se fecharam. E então, tendo a meio metro de si, entendeu o que aquele mar de sensações e descontrole repentino queriam dizer: desejo.
Desejo misturado com saudade. Saudade misturada com amor.
nunca havia o querido tanto como naquele momento. Sabia, contudo, que não tomaria a iniciativa, pelo menos não pela situação em que se encontravam — brigados, terminados, sem se falar por semanas — se não tivesse bebido tantas taças de champanhe mais cedo. Mas ali estava ela, desinibida, como sempre fora, e com uma coragem extra concedida pelo álcool.
— …
Quase não ouviu o próprio sussurro.
Tomada por puro instinto, aproximou o corpo do dele e tocou o seu braço. levou seus olhos para ela. O azul, sempre claro como o mar banhado pela luz do sol, estava negro como o céu noturno. Desejosos. Famintos. Famintos por ela. Foi impossível para não prender o lábio inferior entre os dentes. Mas ela sabia que o que ela desejava morder, naquele momento, era outra parte do corpo. Do corpo dele.
Ficou de frente para . Ambas as mãos tocavam o corpo do homem, que ainda tinha os braços caídos ao lado do corpo. levou os lábios no pescoço do homem e, antes mesmo de sentir seu gosto, viu-o se arrepiar.
Era o sinal que ela precisava.
Passou a língua de baixo para cima, até alcançar a orelha dele. Deu uma leve mordidinha, que acabou se intensificando quando levou ambas as mãos para a cintura de . Os dedos dele a apertaram com tanta força, que as juntas ficaram brancas. Não que eles ligassem para isso.
levou seu rosto tão próximo do dele que as pontas dos narizes se tocaram. Ele respirava com a boca aberta, e ela já nem lembrava de como respirar. Umedeceu os lábios, pronta para beijar o outro lado do pescoço de , quando ele emaranhou os dedos por entre os fios de cabelos dela e puxou sua cabeça para perto da dele de novo.
— O que você está fazendo comigo, ?
A cada palavra, os lábios dele tocavam os dela.
A verdade é que não sabia o que estava fazendo. Tampouco queria pensar sobre o assunto. Os lábios dele estavam vermelhos demais, úmidos demais, convidativos demais. E foi por esses motivos — e por mais tantos outros que ela nem conseguiria colocar em ordem — que o beijou.
Quer dizer, a iniciativa foi de , mas o beijo foi dos dois. Pois a queria na mesma intensidade que a mulher, o que acabou deixando claro quando a puxou para si com força, como se quisesse desafiar Newton e provar que sim, dois corpos podiam ocupar o mesmo espaço.
tinha uma das mãos na nuca dele e a outra nos seus cabelos outrora tão bem arrumados. Pente nenhum poderia arrumar aqueles fios depois do estrago que seus dedos estavam causando. E se antes a mulher já estava com dificuldades para respirar, naquele momento ela já nem se lembrava de como o fazia.
Puxou a cabeça dele para trás, apenas para morder e puxar o seu lábio. gemeu com o gesto, apenas para puxá-la para si novamente e retomar o beijo que eles nunca dariam em um lugar público, onde tantas pessoas poderiam vê-los, se não estivessem completamente tomados por desejo cedo e saudades imensas.
A mão dele, que nunca foi comportada, seguravam a mulher contra si, pelas costas, enquanto a outra havia descido para o bumbum de . Ainda encostado na parede, com sobre ele, pensou que o ambiente estava demasiado quente e que ambos estavam vestindo roupas demais. Já nem se preocupava em onde estavam. Na verdade, ele nem se lembrava de onde estavam.
Mas o solavanco que o elevador deu ao parar, somado com o som das portas de abrindo, foi o suficiente para que ele recuperasse sua razão.
O que eu estou fazendo?
Olhou para a situação em que se encontravam. tinha os lábios vermelhos, em parte pelo batom borrado, em parte por culpa dele próprio. Os fios estavam desalinhados, e barra do vestido estava quase na sua cintura. , por outro lado, respirava como se não o fizesse a séculos, a gravata jogada no chão — como aquilo foi parar ali? — a camisa parcialmente desabotoada e a calça muitíssimo mais apertada do que mais cedo.
— É o andar em que estou hospedada. — ela disse ofegante. — Vem.
Aquele convite era irrecusável. Em qualquer outra circunstância, em qualquer outro momento, não ousaria dizer não à ela. Mas eles não se encontravam em uma situação qualquer.
— Acho… Acho melhor não. — ele disse meio ofegante, meio gaguejando. Nem podia colocar em palavras o controle que precisava manter para dar aquela resposta. — Você vai para o seu quarto e eu… Eu vou para o meu.
Apontou para o painel de controle, onde o número “3” estava aceso.
— Estou hospedado em outro andar, então… É melhor ficarmos… Hm…
— Longe? — ela perguntou com a voz mais sensual do que pretendia. — É isso que você quer, ? Ficar longe de mim essa noite?
fechou os olhos com força, e os apertou com os dedos.
Mantenha o controle, !
— Não acha que já passamos tempo demais longe um do outro?
Sim. Tempo demais. Muito tempo.
— Sim, mas por decisão sua.
Foi como se o inferno tivesse congelado. Um balde de gelo em cima do fogo que consumia .
— Eu sei que você teve os seus motivos e, mesmo que eu não os entenda, eu sei que você só está assim agora porque bebeu.
franziu a testa.
— Como é que… Ai!
esfregou o braço onde a porta do elevador bateu. Abriu os braços, e com as mãos segurou ambas as portas abertas. E com o semblante sério e sem nenhum resquício de todo o álcool que havia ingerido mais cedo — com exceção da visão meio embaçada, talvez — disse firme:
— Como é que é?
suspirou, e apertou o botão que mantinha as portas abertas quando estas ameaçaram se fechar novamente, mesmo com as segurando.
— Você terminou comigo por um motivo. Fugiu para o outro lado do mundo para ficar longe de mim e agora, depois de algumas, bem, talvez muitas taças de champanhe, me atraca no elevador...
— Eu não te atraquei...
— … E eu sei, eu sei que você só fez isso porque está bêbada. Porque se estivesse consciente das suas ações, jamais o teria feito. Ainda mais em um local público, onde podemos ser flagrados a qualquer momento.
estava ainda mais confusa, se é que isso era possível. Sim, ela estava bêbada, mas sim, ela queria se atracar com . Em qualquer lugar, a qualquer momento. Assim como ele o queria. Então qual era o problema?
— Então… Por mais que isso seja difícil, muito difícil, você deve ir para o seu quarto e eu para o meu.
Ainda com a boca levemente aberta pela surpresa de ter levado um fora, se afastou lentamente, andando de costas, mantendo os olhos fixos em . Seus pensamento confusos, contudo, foram mais rápidos do que o fechamento automático das portas, motivo pelo qual ela conseguiu impedir que as portas de tocassem.
— Ai! Fala sério!
Esfregou novamente o local em que foi atingida pelas portas automáticas, mas não perdeu tempo reclamando das marcas que ficariam ali mais tarde.
Ela, finalmente, havia entendido o motivo de ter acabado de levar um fora.
— , se você quer bancar o cavalheiro comigo, pode parar. Talvez eu tenha bebido um pouco além do recomendável, mas eu estou completamente consciente das minhas ações. E você sabe disso.
não falou nada.
— Se você não quer continuar com isso tudo bem. Mas não jogue a culpa em mim. Sei que não errei fugindo, mas talvez tenha errado em fugir sem dar nenhuma explicação. — ela balançou a cabeça. — Mas tenha certeza de uma coisa: o que acabou de acontecer entre a gente, aqui, no elevador, não foi um erro.
E como se estivesse em um filme de romance, viu as portas automáticas fecharem, dessa vez sem a interrupção de .
O curto tempo que ficou dentro do elevador, até chegar no terceiro andar, lhe pareceu uma eternidade. Mergulhou em pensamentos que envolviam e o relacionamento deles. Se ele sentia saudades? Sim. Se havia ficado devastado quando a mulher terminara com ele, sem mais nem menos, e sem lhe dar tempo para tentar a convencer do contrário? Com certeza.
Se ele estava disposto a deixar tudo para trás e recomeçar com ? Não tinha dúvidas. Mas não daquele jeito. Não com ela agindo por impulsividade, sem pensar nas consequências, apenas para, depois, se arrepender e fugir de novo.
Se continuar pensando assim talvez você acabe se convencendo disso, , pensou com ironia.
O elevador parou de novo, agora no terceiro andar. Andou até o final do corredor, com o cartão do do quarto “304” em mãos. Parou em frente à porta do seu quarto, mas não entrou.
O que eu estou fazendo?
não queria estar ali. Não sozinho, pelo menos.
Por que você precisa ser sempre tão racional?
Ele queria apenas agir impulsivamente, como .
…
A passos decididos dessa vez, e se dar tempo para pensar no assunto, ele deu meia volta e caminhou até o elevador. Apertou o botão o chamando, mas o elevador não estava no seu andar. Tudo bem, eram apenas dois andares de diferença, ele iria andando até o quarto de .
Mas não sei em que quarto ela está…
Bem, ele iria bater de porta em porta até encontrá-la do outro lado. Nem que para isso ele precisasse levar alguns xingamentos de pessoas que seriam acordadas às três da manhã.
No instante em que dera o primeiro passo rumo às escadas, o elevador parou no seu andar. As portas automáticas se abriram, e de trás delas ele encontrou a única pessoa que ele deseja ver naquele momento. A única pessoa que ele desejava, de todas as formas, naquela noite.
se assustou mais do que ele. Não esperava encontrá-lo tão facilmente.
— Pensei que teria que bater de porta em porta até descobrir onde você est…
Não pôde terminar a sua frase, contudo.
Impulsionado unicamente pelo desejo, não pensou nas consequências, tampouco se preocupou com o amanhã. Ele queria viver o agora, e agora ele tinha ela. não mostrou nenhuma resistência. Ela o queria tanto quanto precisava de ar para viver. Todos os dias que ficou longe dele por culpa, principalmente, sua, culminaram em uma saudade avassaladora que tinha que chegar ao fim. E o fim era ali, naquele momento.
— Você tem certeza disso? Não vai de novo, não é? — ele perguntou meio ofegante, meio rápido demais, ansioso para voltar a beijar os lábios de .
— Eu nunca tive dúvidas sobre você, .
E aquela foi a melhor resposta que ele poderia receber. Se aproximou da mulher novamente, pronto para voltar a beijá-la quando foram interrompidos por um som de pancada e uma nova reclamação de .
— Ok, qual é o problema desse elevador? As portas não devem fechar quando há alguém entre elas!
E mesmo em meio àquele momento em que se encontravam — quando os dois se atracavam no meio do hotel, quase tirando as roupas para quem quisesse ver — começou a rir. Começou a rir porque nem em um milhão de anos ele poderia se imaginar ali: em Tóquio, com a mulher que ele amava e que havia sumido do mapa, às três da manhã, fazendo as pazes com ela por meio de gestos, e não palavras. Aquele momento não era propício para palavras, pelo menos não ainda. O desejo carnal falava mais alto, e ambos sabiam que a conversa poderia se dar mais tarde.
acompanhou a risada de e saiu de dentro do elevador para não correr o risco de se machucar novamente. Caminhou ao lado dele até o final do corredor. Apesar de ter acordado naquela manhã se sentindo meio para baixo, meio solitária, a noite havia compensado tudo. A mulher se sentia bem, completa. A noite nem havia acabado, mas já sentia como se fosse uma das melhores da sua vida.
Lado a lado, e pararam em frente à porta da entrada. Como se fossem dois adolescentes inexperientes que se conheciam naquele momento, eles sentiram o coração pulsar rapidamente.
destrancou a porta e deu passagem para . A mulher tinha um sorriso travesso nos lábios, sempre se divertindo com o cavalherismo exagerado dele.
— Espero que os hóspedes não reclamem. — ela comentou.
— E por que eles reclamariam?
não respondeu à pergunta dele. Afinal, estava mais preocupada em provar que suas memórias não faziam jus ao o beijo dele, ao cheiro dele e, principalmente, aos toques de .
Naquela noite, com as luzes do quarto deslizando pela cortinas, eles se ocuparam unicamente em matar as saudades. Houve queixa de barulho no quarto “304”, mas eles não se importaram com isso. E na manhã seguinte, quando acordaram, as notícias que envolviam os seus nomes não poderiam ter sido mais bem ignoradas.
6 SEMANAS DEPOIS
“Bom dia, pessoal! Tudo bem com vocês? Eu sou , e hoje vou fazer um vídeo, digamos, diferente do conteúdo que costumo apresentar aqui no canal”.
arrumou a postura na cadeira e voltou a atenção para a câmera à sua frente.
“Sim, eu sei, eu sei… Eu já fiz alguns vídeos respondendo a perguntas. Mas eu nunca respondi perguntas sobre mim. E como vocês lotaram as minhas caixas de comentários com as mesmas perguntas, decidi abrir uma exceção e fazer esse vídeo respondendo elas. Lembrando que esse será o primeiro e o último vídeo com esse tipo de conteúdo, afinal, vocês sabem que o esse canal é jornalístico”.
Fez outra pausa apenas para pegar o celular e olhar as perguntas que havia separado.
“Bem, vamos começar então… A Bia Fernandes perguntou se eu estou namorando o ”. fez uma careta de confusão ao ler, respondendo para a câmera logo em seguida, “Acho que as revistas de fofoca já respondem isso por mim”, deu uma risadinha irônica. “A Flavia Carvalho perguntou se o meu encontro com no Japão estava planejado ou se foi uma coincidência”. Ela suspirou antes de responder, “Uma incrível, e muito bem vinda, coincidência”. Procurou por outra pergunta. “O Cassiano Chavez quer saber se as minhas férias nos Japão realmente foram umas boas e merecidas férias ou se eu só estava fugindo do ”. precisou revirar os olhos antes de responder. “Meu deus, gente, minha vida não gira em torno do , vocês podem perguntar coisas que não envolvam ele, ok? Mas respondendo à pergunta do Cassiano, as duas coisas. Eu precisava de um tempo só para mim e, ao mesmo tempo, me afastar de toda a loucura que envolveu o meu nome.”
Pegou um copo de água que havia deixado no chão, tomou alguns goles, e então voltou a olhar as perguntas que seus telespectadores haviam mandado.
“A Luci Sanches perguntou porque eu escolhi ir para o Japão”. ficou alguns segundos pensando na resposta. “Porque era a passagem mais barata”, respondeu dando de ombros. “Já a Monica Paul quer saber se eu estou bem, se minha carreira está bem, e se vou continuar com o meu canal jornalístico aqui no Youtube”.
fez uma pausa para. Respirou fundo, tomou mais alguns goles de água, apenas para tentar se preparar para voltar a falar com seu público. Foi por causa daquela pergunta que resolveu, de uma vez por todas, esclarecer as coisas para o seu público e colocar um ponto final naquela história.
“Antes de responder à essas perguntas eu gostaria de fazer algumas reflexões… Sabem, não é fácil se manter no topo. Porque o topo tem vários pilares: vida pessoal, financeira, profissional, amorosa… O topo é a vida. E não é sempre que conseguimos manter firmes, ao mesmo tempo, todos os pilares. Às vezes a gente cai de um lado, mas conseguimos nos erguer de outro. Às vezes a queda é tão profunda, que dificilmente conseguimos nos levantar. Outras vezes damos apenas um tropeço, e logo estamos seguindo nosso caminho, como se nada tivesse acontecido”.
se remexeu na cadeira em que estava e jogou os cabelos para os lados, deixando-os sobre um dos ombros. Pensou no que acabara de falar, engoliu em seco, respirou fundo, e voltou a colocar em palavras tudo o que vinha sentindo nos últimos meses.
“A verdade é que ninguém é perfeito. Mesmo tentando, a todo custo, a todo momento, nós não somos perfeitos. E é por isso que demoramos para entender o que está acontecendo ao nosso redor. Porque nós preferimos negar a verdade à aceitar que aquilo que tentamos manter, a tanto custo, acabou. Porque algumas quedas nos levam ao fim, e nem sempre temos a chance de ter um recomeço. E insistir na ideia de que o fim é apenas um sonho é sempre a pior decisão”.
Ela se esforçou para continuar com o tom de voz conciso. Agradeceu por estar falando aquilo no conforto do seu apartamento, para a sua câmera, e não em frente a centenas de pessoas — o que teria acontecido se ela tivesse aceitado as dezenas de convites para dar entrevista em programas de televisão.
“Confesso que fiquei tempo demais tentando me convencer de que tudo não passou de um sonho, um daqueles bem ruins, que você se contorce no colchão, querendo acordar, mas sua mente continua te prendendo naquelas imagens horríveis. E é nesse momento que a verdade cai sobre os seus ombros, pesada, como um saco de cimento: aquelas imagens não são um sonho. São a mais pura realidade”.
Pegou sua copo de água e tomou mais alguns boles. Alongou a coluna, mexeu o pescoço e então voltou a falar.
“Vocês devem estar se pergunta, ‘mas , o que esse momento filosófico tem a ver com a pergunta da Monica Paul?’, e eu lhes respondo: tudo. Vejam bem, se vocês me acompanham desde o início da carreira, sabem que eu sempre fui muito discreta com relação à minha vida pessoal. Não porque eu quero esconder alguma coisa, mas simplesmente porque não gosto de misturar trabalho com vida pessoal. E, bem, desde que comecei esse canal, a minha vida tem sido única e exclusivamente isso. Meus interesses, minhas conversas, meus compromissos… Tudo sempre girou em torno do canal. E quando me vi exposta não por algo do canal, mas por algo da minha vida privada, por algo íntimo, pessoal… Quando vi tantos questionamentos, comentários maldosos de pessoas que eu nem mesmo conheço, vi meu mundo desabar. Foi como se eu não pudesse lidar com aquilo, com as fotos, com as especulações, com o meu nome ao lado do nome do meu namorado, simplesmente porque isso nunca aconteceu antes. Mais do que isso, um dos pilares da minha vida, o pilar profissional, foi completamente deixado de lado para dar lugar ao pilar amoroso. E, gente, sério, a vida não se resume apenas a romances. A minha vida, definitivamente, não se resume à minha vida amorosa, tampouco a vida de ”.
Estalou os dedos, tomou o restante da água que pego mais cedo, respirou algumas vezes antes de continuar e, com um sorriso orgulhoso, voltou a falar.
“Então, pessoal, sim, eu e estamos namorando. O pilar que sustenta a minha vida amorosa está, finalmente, erguido. Sobre o canal e a minha profissão… Bem, se tem alguma coisa certa na minha vida é que o canal, as notícias, o blog, tudo continua firme e forte. Este pilar da minha vida, o pilar profissional, nunca esteve mais firme. E sobre o pesadelo que eu vivi alguns meses atrás, bem… O que posso falar sobre ele?”
Colocou a mão embaixo do queixo, pensativa. Procurou alguma frase que pudesse resumir o que ela estava sentindo, alguma frase que não soasse tão clichê.
Dane-se o clichê.
“Acho que posso dizer que hoje eu consigo enxergar os últimos acontecimentos com outros olhos. Porque hoje eu sei que, às vezes, os nossos sonhos podem se tornar realidade, e como prova disso posso afirmar que eu, finalmente, encontrei a minha realidade. Sim, eu estou bem. Estou mais do que bem. Estou feliz. E vou continuar mantendo a minha felicidade longe dos olhos do público porque a minha felicidade não merece ser noticiada. Mas se for…”, deu de ombros.
arrumou a postura, bateu as mãos e aproximou o rosto da câmera. A expressão já não era mais séria, mas leve e aliviada, afinal, aquele desabafo não foi direcionado unicamente para o seu público, mas também para ela. A mulher precisava dizer aquelas palavras para si mesma.
“Bem, como vocês puderam perceber, eu sou muito boa escrever uma matéria jornalística ou dando uma notícia, mas não sou grande coisa quando o assunto sou eu mesma”, disse rindo. “Eu espero que, se você chegou até o final desse vídeo, consiga tirar uma lição disso: a vida não é uma constante. Coisas que não estão nos seus planos vão acontecer, e como lidar com isso é uma decisão unicamente sua. Por isso ame, viva e se permita. Não tenha medo, não fuja. Acredite sempre em você. É isso aí, pessoal, obrigada por assistirem, e até o próximo vídeo!”.
Fim
Nota da autora: Mais um ficstape, sim, senhoras! Me digam, o que vocês acharam da história? O que acharam da pp? E do pp ,também conhecido como Chris Evans (ou não, haha)?Espero, de verdade, que vocês tenham gostado! Não se esqueçam de deixar um comentário cheio de amor e de recomendarem a fanfic para as amigas. ❤️
Outras Fanfics:
Longfic:
Ainda Lembro de Você ● It’s Always Been You
Shortfics:
21 Months ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
05. Paradise ● 06. Every Road ● 07. Face ● 10. What If I ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola
Como não gostar de qualquer história que você escreve, amiga? Escrevendo sempre maravilhosamente bem, fica difícil, né?
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Outras Fanfics:
Longfic:
Ainda Lembro de Você ● It’s Always Been You
Shortfics:
21 Months ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
05. Paradise ● 06. Every Road ● 07. Face ● 10. What If I ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.