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Capítulo Único

Dias de terça-feira eram extremamente vazias e normais demais para que terminava de secar o balcão do bar pela milésima vez, já que nem ele mesmo conseguia contar quantas vezes tinha feito aquele mesmo movimento por puro tédio - de fato que era para fingir trabalhar enquanto seu chefe olhava -, porém sabia que logo o homem já iria embora. Afinal, terças-feiras não eram dias de movimentos.
não via a hora de chegar onze horas e não ter cliente nenhum para poder finalmente fechar o bar e ele poder ir para casa dormir um pouco, afinal estudar e trabalhar era uma tarefa extremamente complicada, a qual ele descobriu recentemente, mas precisava do emprego para pagar pagar o aluguel e a mensalidade da faculdade. Estava lhe custando o sono de muitas noites, porém era um sacrifício que o rapaz estava disposto a pagar.
O barulho da porta se abrindo o fez despertar de seus pensamentos, principalmente porque toda sua atenção foi roubada pela pessoa que tinha acabado de entrar. Não por ser o primeiro e único cliente da noite, mas também por ser um verdadeiro colírio para os olhos. Não somente os de , mas de todos que olhassem o belo homem que tinha acabado de entrar naquele bar, em plena terça-feira às nove e trinta sete da noite.
O cliente se aproximou, tirando sua jaqueta jeans e ajeitando a camisa estampada, depois seu cabelo levemente bagunçado pelo vento, o que só o deixava mais charmoso de acordo com os pensamentos de que o olhava disfarçadamente. olhava o quanto o cliente era jovem, extremamente atraente, aparentando ter mais ou menos sua idade. Porém, o semblante dele não era um dos melhores, o que basicamente já explicava sua ida a um bar naquela terça-feira.
— Boa noite — decidiu quebrar o silêncio.
O rapaz ergueu seu belo rosto e encarou os olhos do barman, dando um pequeno sorriso cordial.
— Não está sendo boa — respondeu suspirando. — Aceito sugestões de bebidas que possam ajudar minha noite melhorar.
riu nasalado e mordiscou seu lábio inferior, encarando os olhos daquele homem a sua frente e então olhou para as garrafas de bebidas atrás de si.
— Hm, geralmente bebidas doces ajudam a melhorar o humor, mas amanhã seu corpo vai reclamar — sugeriu com um breve aviso, sendo gentil ao voltar olhar o tal cliente.
— Não estou me importando com o amanhã — confessou soltando um longo suspiro.
O barman ficou intrigado com o que estava acontecendo na vida daquele belo homem, porque nada se passava na cabeça dele. Um homem como aquele estar sofrendo por algo… só conseguia imaginar que seria por emprego porque se fosse por amor, ele definitivamente não tentaria mais entender sobre esse sentimento tão peculiar.
— Posso saber seu nome? — decidiu perguntar.
— respondeu estendendo sua mão por cima do balcão.
— o barman se apresentou de volta, segurando a mão de , verificando que sua pele era macia como já tinha imaginado.
Ele não se sentia culpado de reparar tanto nas pessoas, afinal era o que ele fazia, era parte de seu trabalho de todas as noites. Servir e conversar com estranhos, tentar deixá-los confortáveis para desabafarem e beberem mais, para também se sentirem motivados a voltar sempre.
— Vou preparar algo especial para você então — o barman comentou, deixando um sorriso gracioso aparecer em seus lábios.
— Gostei — respondeu parecendo ter se animado. — Estou me sentindo tão merda ultimamente que estou quase chorando por receber uma bebida especial — choramingou de um jeito manhoso.
sorriu um pouco mais, achando até mesmo extremamente fofo além de ter achado o tal cliente muito bonito. Mas ainda assim ele se sentia na zona segura, era normal achar clientes bonitos e até mesmo passar seu telefone para eles. Que mal tinha se divertir um pouco com as consequências do trabalho?
— Por que está se sentindo assim? — questionou curioso porque de “merda” aquele homem aparentemente não tinha nada.
— Preciso começar a beber para desabafar sem começar a chorar — afirmou suspirando.
— Você é desses bêbados alegres que não choram então… — mordeu seus lábios carnudos.
— Sim, gosto do meu astral alcoolizado. Mas esses momentos são bem raros — confessou.
— O que torna ainda mais especial a sua bebida — piscou um de seus olhos para ele.
sorriu de um jeito que agradou ainda mais, fazendo com que ele perdesse mais alguns instantes enquanto encarava aquele sorriso. Pensou consigo mesmo que com certeza ele se lembraria daquele sorriso. Quis rir com o pensamento, mas apenas voltou a preparar a bebida, usando frutas, vodka, açúcar e um pouco de leite condensado. Após ter batido e misturado perfeitamente, ele adicionou os gelos e então serviu ao rapaz.
— Espero que seja aprovada — disse e apoiou seus braços no balcão,
sorriu de lado e deu uma boa provada em sua bebida, soltando um gemidinho baixo e rouco em total aprovação enquanto balançava a cabeça afirmativamente. Não reparou em como estava arrepiado pelo barulho que tinha soltado, na verdade era quem achava isso, afinal pareceu bem entretido com sua bebida porque não parava nem para respirar e só parou quando realmente terminou tudo que tinha no copo.
— Aceito mais uma dessas — pediu lambendo seus lábios.
O barman sorriu e pensou em comentar dizendo que deveria tomar cuidado com bebidas doces, mas ele sabia que qualquer cliente que chegasse demonstrando que estava querendo se acabar em bebidas odiaria ouvir algo do tipo. Então ele se limitou em apenas sorrir e lhe preparar mais uma bebida.
Após mais algumas bebidas, percebeu que a sobriedade do cliente já era bem nula. Ele puxava mais assuntos, perguntava sobre a vida do barman, também sobre as bebidas, alguns assuntos bem engraçados que demonstravam que era apenas para puxar assunto de fato.
— Agora você vai me contar porque um homem tão bonito está aqui bebendo dessa forma em plena terça-feira? — decidiu perguntar enquanto passava o pano no balcão para secar a madeira mais uma vez.
Ele riu nasalado.
— Estou em uma sinuca de bico — comentou. — Preso em um relacionamento por tanto tempo que já até esqueci como é viver sem ele.
O barman disfarçou o fato de que ouviu “ele”.
— Preso, hmm… — O que estava terminando de secar o balcão respondeu e olhou atentamente para o que estava sentado. — Porque você o ama — deduziu.
— Deve ser, mas estou com tanta raiva, ! — grunhiu.
— Porque ele não te ama de volta — concluiu.
— Ele diz que sim.
— Dizem que todas as pessoas amam de suas formas, cada uma com a sua… — O barman lambeu os lábios. — Mas eu não acredito nisso e discordo dessa frase.
— No que você acredita então? — Os olhos verdes do cliente ficaram presos no rosto do outro.
— Acredito que quando amamos de verdade queremos cuidar da pessoa, quando amamos um objeto, um carro, uma casa ou um animal não maltratamos, cuidamos bem — comentou. — Por que tem que ser diferente com uma pessoa?
ponderou com a cabeça, assentindo logo em seguida e soltou um suspiro frustrado com uma mistura de tristeza.
— Ele realmente não me ama, — murmurou com os olhos cheios d’água.
— Não posso falar nada por alguém que não conheço, mas se você está sofrendo pela forma como ele anda te tratando é um sinal de que está errado mesmo. Um relacionamento tem que partir dos dois lados da moeda.
— Você é um ótimo ouvinte — disse dando um sorriso fechado. — Sua namorada tem sorte — seus olhos procuraram uma aliança na mão do barman, mas não acharam.
— Por que tem que ser uma namorada? — ergueu as sobrancelhas com um sorriso ladino.
— Wow — riu sem graça. — Namorado então… perdão… ele é um homem de sorte.
riu também e negou com a cabeça.
— Não existe nem um namorado ou namorada — respondeu sinceramente.
— Aposto que é porque você não quer — alegou o cliente contrariado. — Bonito demais ao ponto que parece um personagem de livro, engraçado, gente boa, bom ouvinte, tem uma voz tremendamente sexy que faz os pelos da minha nuca se arrepiarem toda vez que pronuncia uma sílaba mais baixa e mais rouca, além de preparar drinks divinos!
— Meu Deus! — exclamou surpreso. — Não esperava ouvir que sou tudo isso.
— Só disse a verdade, a qual com certeza a maioria desse bar concorda — alegou.
— Vou acreditar em você — respondeu sorrindo.
— Eu não costumo mentir — prontificou-se.
Os dois riram em seguida com os olhares conectados.
— Você já teve um relacionamento assim? — decidiu perguntar para quebrar o clima que o deixou com as bochechas avermelhadas.
riu nasalado e começou preparar outro drink para o mesmo cliente.
— Acredito que todo nós tivemos e quando não éramos um lado, éramos o outro — afirmou espremendo laranja no copo.
— Você quem fez a pessoa sofrer então — concluiu .
— Sim, essa é a parte que me machuca. Porque muitas vezes não é a nossa intenção, mas a partir do momento que surge a dúvida já é um motivo suficiente para libertar a outra pessoa para que ela vá em busca de mais certezas — dizia enquanto chacoalhava os ingredientes dentro da coqueteleira.
— Você a deixou ir? — ergueu a sobrancelha.
— Ela que encerrou esse ciclo vicioso que estava machucando nós dois. — Mordeu meu lábio inferior.
ficou em silêncio, pensativo sobre aquilo enquanto olhava suas mãos em cima daquele balcão de madeira. imaginava que estava pensando que ele poderia dar o fim naquilo que estava o fazendo sofrer tanto assim.
— Seu drink — o barman anunciou fazendo o outro despertar de seus pensamentos.
— Obrigado — ciciou. — Não sei se tenho forças para encerrar esse ciclo. Estou viciado nele como se estivesse viciado em cocaína.
respirou fundo e manteve seus tons misteriosos naquele belo homem.
— Para tudo há uma reabilitação, — contou com um sorriso suave nos lábios. — Você só precisa dar o primeiro passo para começar a se desintoxicar.
— Vai ser difícil e doloroso, não é? — crispou seus lábios.
— No começo sim — afirmou. — Mas depois virão os dias em que você se sentirá completo amando a si mesmo. Você vai se sentir livre e o sentimento de liberdade é indescritível.
sorriu para o barman tirando um sorriso do outro também.
— Acho que vir aqui nesse bar foi uma das melhores escolhas que fiz — comentou um tanto envergonhado.
— Claro que sim, somos o melhor da cidade. Meus drinks são incríveis — gabou-se, rindo baixo.
— Não só o bar ou os drinks — sussurrou mordendo o canto de seus lábios.
— Já está flertando? — brincou, vendo como deixou o cliente sem graça.
— Não! Céus! — riu mais sem jeito ainda. — Eu nem sei mais como fazer isso — confessou.
— Se soubesse flertaria comigo? — o barman falou mais baixo, mais roucamente e fez o homem à sua frente respirar fundo.
— Se eu estivesse realmente solteiro eu iria flertar contigo — respondeu olhando para os lábios extremamente beijáveis daquele barman e depois para seus olhos.
sorriu de lado e se afastou por alguns instantes, assim que retornou entregou a um cartãozinho que continha seu telefone.
— Caso você fique solteiro… — piscou um de seus olhos.
ficou um pouco mais vermelho e riu sem graça de novo.
— Não vai ser dessas histórias de que quando existe uma aliança deixa tudo mais atraente, mas quando não existe mais o encanto acaba? — cruzou seus braços em frente ao peito para o questionamento sair mais sério.
— Você terá que fazer o teste para isso — respondeu, erguendo seu ombro.
riu disso e mordeu seu lábio inferior, olhando o cartão em sua mão. Conseguinte o homem guardou o cartão no bolso. Mais drinks rolaram pela noite que não terminava nem para quanto para Zaffrre que nem sentia que estava trabalhando naquele momento. tinha conseguido pegar sua atenção toda para si, era difícil que coisas daquele tipo acontecesse quando o mesmo já tinha ouvido e visto de tudo naquele bar.
Algo naquele homem lhe chamava atenção, com certeza sua aparência o agradava demais pois se sentiu hipnotizado pelo cliente assim que entrou no estabelecimento. No entanto, a forma como falava de si mesmo, da sua vida, mesmo que lamentasse sobre outro. sentia uma doçura, era algo novo para ele, tinha melancolia com açúcar, como um bom drink deveria ser. Nem tão doce, nem tão ácido e nem tão amargo. Tudo na dosagem certa e era o drink perfeito que tinha conhecido.
Às quatro da manhã, eles tiveram que fechar o bar e mesmo depois de ter pago tudo que consumiu, ainda ficou conversando com até acompanhá-lo em seu carro e a moto do barman que estava parado bem a frente. Ambos deram um sorriso sem graça quando pararam um de frente para o outro. balançava as chaves do carro e sabia que aquele sinal era de que o outro não queria encerrar a noite ou tinha segundas intenções. Era uma regra clara.
— Foi uma ótima noite, — disse mordendo seu lábio inferior.
— A melhor terça-feira — confessou o barman ao se aproximar um pouco mais.
Viu como estava tenso, prendendo a respiração, mas ao mesmo tempo não fazia menção de se afastar ou entrar no carro. se aproveitou disso e o segurou pela cintura, o puxando para colar em seu corpo, tirando um suspiro involuntário de . levou seus lábios para perto da boca dele, mas não a tocou, apenas seguiu o caminho da mandíbula até chegar em seu ouvido.
— Boa noite, — sussurrou.
Então o barman deixou um beijo suave e lento na bochecha do homem que estava com as pernas bambas e a respiração completamente presa. Seus olhos se fecharam por alguns segundos ao sentir os lábios macios de e pela primeira vez ele sentiu que tinha esquecido do seu namorado ou ex namorado por pelo menos uma noite. Quando se afastaram, abriu os olhos e soltou o ar, umedecendo seus lábios.
— Boa noite, — desejou de volta com a voz alterada.
sorriu e se encaminhou para sua moto, controlando a vontade de voltar lá e beijar aquele homem pelo menos uma vez. Mas tinha sua conduta moral de que se recusava a beijar ou ficar com pessoas comprometidas. Ele não era santo, mas isso era algo que ele não violava por mais que estivesse morrendo de vontade naquele exato momento.
***
Depois daquela noite não viu mais , ficou esperando pelo menos alguma mensagem, mas também não recebeu nenhuma. Uma parte dele se frustrou bastante por conta disso porque ele realmente estava esperando que fosse conseguir se livrar do homem que o fazia sofrer constantemente. No entanto, ele também entendia o quanto era difícil se livrar de relacionamentos assim, ainda mais quando já eram anos.
Era mais uma terça-feira entediante para que só conseguia pensar nas provas finais de sua faculdade. Seus olhos estavam fixos no relógio do bar para que pudesse ir embora de uma vez. Seus dedos tatuados e desenhados de uma forma que enfeitavam suas mãos de uma forma extremamente sexy batiam lentamente na madeira do balcão.
— Você está disponível para preparar um drink para um desesperado de terça-feira? — ouviu uma voz que achou que nunca fosse escutar novamente.
Seus olhos saíram do relógio para o homem parado à sua frente, ele continha um sorriso bonito em seus lábios assim como seus olhos o encaravam de uma forma graciosa.
— Desesperado na terça-feira de novo? Por quê? — perguntou sorrindo de volta.
— Primeiramente porque não achei o cartão com o telefone de um barman super gato e incrível que conheci um tempinho atrás, segundo porque minha vida virou de cabeça para baixo quando finalmente mudei, dei um basta para sempre — começou a confessar. — No entanto, esse barman não saiu mais da minha cabeça e só consigo pensar no quanto eu queria ter mais uma oportunidade de conhecê-lo melhor.
abriu mais seu sorriso e mordeu seu lábio inferior sem deixar de encarar aqueles olhos que também andou pensando bastante.
— Ele vai sair daqui a pouco se não tiver nenhum cliente — respondeu sorrindo de lado e apontando o relógio.
riu nasalado e colocou suas mãos nos bolsos da jaqueta jeans.
— Você vai me fazer um drink para onde formos pelo menos? — brincou.
— Te faço quantos vocês quiser — respondeu ao encarar aquele homem todo.
— Não muitos, quero manter minha sobriedade essa noite — confessou sorrindo de lado e então foi se afastando para sair. — Te espero lá fora.
sorriu um pouco mais e soltou o ar preso em seus pulmões. Seu chefe acabou o liberando mais cedo porque realmente não tinha nenhum movimento ali. Assim que pegou suas coisas, vestiu sua jaqueta de couro ao sair do bar e encarou o homem que andou tomando conta dos seus pensamentos parado em frente ao carro, realmente o aguardando.
O barman sorriu e viu sorrir de volta.
Sabia que naquela noite seria o início de mais um capítulo na vida de ambos.
Talvez futuramente eles seriam os… Namorados.


FIM



Nota da autora: Sem nota.



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