Postada em: 09/08/2020

I

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break up with your girlfriend yeah, yeah, 'cause I'm bored


Gravar um álbum de estúdio não era uma tarefa fácil, muito menos rápida. Levava tempo e concentração. havia aprendido aquilo quando lançou o primeiro álbum da sua carreira, o seu maior orgulho. Ela sentia extrema euforia por ter escrito todas as músicas e, agora, no auge dos seus 20 anos, pretendia concluir o segundo da mesma forma.
Estava dentro do estúdio, sentada em um dos sofás que ficavam encostados na parede de frente para superfície de controle e som. Ela havia se adiantado um pouco, chegando ali antes do horário combinado com os produtores e a sua agente, Nala, para iniciar as gravações. Estava entediada, mexia no celular esperando que o tempo passasse rápido, mas ele só parecia ficar mais devagar. Ficou animada quando, através do vidro, viu passando pelo corredor, segurando alguns papéis, certamente fazendo o trabalho dele. ajeitou a postura no mesmo segundo e levantou.
Ela tinha que encontrar Eddie e deu a sorte de bater de frente com ele quando seguiu o mesmo caminho que fez. Eddie era o produtor executivo e , um mero estagiário na renomada Hollywood Records. Estagiários não faziam parte da produção de grandes álbuns, eles sequer participavam de álbum algum, mas queria que participasse do dela. Coisa impossível para qualquer um de se pedir a Eddie, contudo, ser a filha do dono da gravadora tinha lá seus privilégios.
Eddie nunca diria ‘não’ para ela, e assim aconteceu. O homem concordou, mesmo achando aquele pedido precipitado e sem sentido, já que o estagiário recém-contratado não entendia de música, sequer era da aérea. Ele saiu para falar com , como previu, e ela aproveitou para ir até o banheiro.
Saiu minutos depois e caminhou em direção ao estúdio de gravação que estava antes e, através do vidro, conseguiu ver que estava lá dentro, sozinho, sentado em frente à superfície de controle, entretido com o Master Clock.
Foi até à mesa, encostando seu quadril ali e ficando de frente para , que continuava sentado na cadeira. Ele subiu os olhos para o rosto dela, notando a sua presença e deixando passar despercebido o fato de usar uma saia curtíssima. Não lançou nem um olhar descarado para as coxas dela, como a maioria dos caras com quem ela saiu costumava fazer. era diferente.
Ele era o ‘nerd’ mais lindo que ela já havia visto. Tão educado e certinho, que, às vezes, a sua boa conduta a irritava, ao mesmo tempo que lhe atraía mais e mais. tinha 18 anos, e ela duvidava que, antes disso, ele tivesse colocado sequer uma gota de álcool na boca. Extremamente inteligente e conseguia facilmente fugir dos estereótipos.
– Oi, ! – disse devagar, percebendo o modo que ele alterava o olhar entre ela e a porta.
– Oi, . – respondeu, dando um sorriso de lado. Não gostava de ficar sozinho com . – Você não tem um álbum pra gravar agora?
– Tenho, bem aqui, inclusive. – Lascivou aquelas palavras, se desencostando da mesa, e se aproximou de . Sem convite, sentou no seu colo, dando a volta no pescoço dele com os braços. – Mas acho que nós dois estamos adiantados do resto do pessoal, podíamos aproveitar.
, não faz isso. – Ele murmurou logo após virar o rosto quando a garota tentou beijá-lo. – Eu gosto de você, mas não desse jeito. Eu tenho namorada. – sentiu as mãos dele lhe afastar gentilmente e rolou os olhos para todo aquele discurso pronto.
– E daí?
– Eu não vou trai-la! – respondeu, como se fosse óbvio. A outra bufou.
– Então, termine com aquela sonsa! – Esbravejou. Namorada. Odiava quando aquela palavra saía da boca dele.
– Não fale assim dela, e eu não vou terminar com a Claire.
– E por que não?
– Porque eu gosto dela! Agora sai de cima de mim, por favor.
– Olha, eu sei que o seu aniversário é amanhã e não faço ideia do que ela vai te dar de presente. – Disse , ignorando por total o pedido dele, e inclinou o tronco até que seus lábios estivessem perto do ouvido dele. – Mas te garanto que posso te dar uma coisa melhor.
– Você achar que pode me comprar me ofende. – a empurrou de leve, a afastando mais uma vez e se remexendo na poltrona. Ele se sentia bastante desconfortável com sentada em cima dele.
– Não! Não é nesse sentido.
não disse nada, e bufou. Ele usou as mãos para tirar as dela, que ainda rodeavam o seu pescoço.
– Sai, por favor. Eu não me sinto bem com você em cima de mim.
Ela rangeu os dentes e, de má vontade, fez o que ele pediu. marchou até a porta e, antes de sair, olhou na direção dele uma última vez.
– Você não cansa de ser certinho?
Ele sorriu de lado, dando de ombros, e finalmente lhe deu as costas.
Maldito . Parecia ser perfeito, mas, infelizmente, ele tinha que ter algum defeito – o pior de todos, na visão dela: tinha uma namorada e gostava muito dessa garota. Nunca iria esquecer a tamanha decepção que sentiu no dia em que se conheceram, há três semanas.

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took one fuckin look at your face now I wanna now how you taste


– Você ficou doido, Tyler? Não é isso que está no contrato!
– Mas é isso que eu quero fazer. Me surpreende você querer levar essa palhaçada até o fim, . Achei que tivesse mais atitude.
O rapper disparou, saindo da sala sem esperar uma resposta. Isso porque não tinha uma resposta, já que ele estava certo, e ela pareceu só se dar conta naquele momento. Onde estava com a cabeça, querendo continuar com aquela loucura de relacionamento falso por uma jogada marketing? Talvez não estivesse raciocinando quando concordou com aquilo, talvez tivesse feito mais para ajudar um amigo, mas daria um jeito de não se prestar mais àquele papel.
A garota suspirou quando se jogou no sofá da sala de espera da gravadora, ao lado de sua melhor amiga, .
– Às vezes, eu odeio ser famosa.
– Que nada, você ama essa vida. – olhou para a garota, que tinha um tablet nas mãos. era estudante de designer de moda e vivia com aquele aparelho em mãos, desenhando modelos.
– Amo, mas não vou mais deixar de fazer as minhas vontades para atender o que essa indústria tóxica quer. – apoiou os cotovelos no estofado, entediada, quando lhe perguntou o que havia acontecido. Iniciou um discurso cansativo sobre toda aquela merda, sobre sempre fazer o que os outros queriam e deixar as suas vontades em segundo plano. Mas não daquela vez, quando uma nova era estava prestes a começar.
Ela jurava que poderia ministrar palestras sobre aquilo, tamanho era o entusiasmo que ela usava para apoiar a amiga. adorava os seus discursos, mas, daquela vez, não conseguiu focar neles por muito tempo. Outra coisa lhe chamou a atenção – a voz de uma pessoa entrando na gravadora.
foi até o corrimão, apoiando os braços nele, e olhou para baixo, tendo plena visão do rapaz, que aguardava pacientemente. Abriu a boca quando o viu.
– Puta que pariu, , quem infernos é esse cara? – Perguntou, em êxtase, e se juntou a ela para entender ao que a amiga se referia.
– Ah, deve ser o novo estagiário. Ouvi a Natalie comentando a respeito com o Eddie. O nome dele é .
sentiu seus olhos brilharem, mas que droga. Desconfiou, porque às vezes os olhos enganavam. Por que estavam brilhando? Confundiu aquele cara com uma estrela, mas ele estava longe de ser famoso. As roupas eram simples, mas ele era tão bonito quanto um astro de Hollywood. Mas não apenas a beleza a encantava, havia algo mais. adorava astronomia, adorava observar o céu, e olhar para ele era como observar Saturno nas suas cores mais cintilantes, com seus esplêndidos anéis e as suas 82 luas.
Ele parecia ser uma bagunça boa e uma incógnita gostosa de desvendar, sem perceber que a sua existência era poesia.
Ela deduziu que ele esperava para falar com Eddie, já que ninguém trabalhava na Hollywood Records sem antes falar com ele. Ficou encarando profundamente, crendo que, em alguma hora, ele a notaria ali.
Aconteceu alguns minutos depois. olhou para cima, se assustando um pouco com a figura angelical lhe observando. De primeira, achou que fosse coisa de momento, ninguém ficava o encarando assim. Mas todas as vezes que olhava para cima para checar novamente, estava ali, imóvel. Ele sorriu sem graça por receber aquela atenção toda.
Isso fez com que o achasse a coisa mais fofa do mundo. Lindo feito uma divindade, rodeado de nuances de timidez e vaidade, azul e dourado.
, que é que você vai fazer?
A cantora ignorou a pergunta de e desceu a escada, que levava até à recepção. Estampou o seu melhor sorriso no rosto, esperando que tivesse entendido quais eram as suas opções. Chegou ao último degrau no mesmo momento que e Natalie estavam prestes a subir.
– Tudo bem, Nat. Eu o levo até a sala do Eddie. – Pediu, e a mulher deu de ombros, não querendo contrariar a filha do dono de todo aquele lugar. sorriu, se colocando ao lado de e segurando o seu braço, começando a guiá-lo pela escada. – , né? Eu sou a .
– É, eu sei quem você é. – sorriu simpático.
– Ótimo.
deu um sorriso satisfeito, segurando mais firmemente o braço dele, que não esperava o contato tão próximo. encarou o perfil daquela garota que o guiava por todos aqueles corredores iluminados, com as paredes inteiramente decoradas com pôsteres de bandas e cantores solos, sem falar dos discos de platina, que reluziam à luz das lâmpadas. Ele não se lembrava de estrelas do pop serem tão simpáticas e receptivas, ainda mais quando estavam saindo da adolescência. Mas não era nenhum idiota. Ele tinha plena consciência das intenções de , e ela nem mesmo precisava acariciar o seu braço com tanta delicadeza e precisão dos dedos.
Eles pararam em frente a uma enorme porta de madeira de duas partes. Na placa, logo acima do pé direito, estava escrito: Estúdio 1.
– Essa não é a sala do Eddie, mas ele certamente está aí dentro. Todos os novos funcionários têm que falar com ele primeiro antes de iniciarem. Mas, sabe... – falou baixo, mantendo a pose sedutora na sua proposta, que era, para muitos, indecente. – Você pode trocar todo esse blá blá blá com o Eddie por uma hora comigo no estúdio de cima. Ou até mais, quem sabe...
ficou de frente para ele, sua mão mantendo contato com o tecido da sua camisa. Os olhos dela estavam bem abertos e confiantes, a pele macia e os lábios vermelhos, os quais ponderava terem sabor de cereja. Ele conseguia sentir o cheiro daquela distância. Demorou alguns instantes para que percebesse o incrível poder de persuasão que aquela garota tinha unido ao rosto formoso de aparência imaculada. Uma armadilha. Aquilo era uma armadilha em forma de mulher, pronta para testar até o seu último nível de fidelidade.
Ele nem mesmo deveria estar ali. Gravadoras, bandas, música, cantoras pop super bonitas dispostas a corromper a sua índole.... Nada daquilo fazia parte dos principais interesses que tinha. Ele gostava de números, de física quântica e de quadrinhos. De arte, de desenhar, pintar. Gostava de ouvir música, mas não se imaginava trabalhando na área, só não pôde deixar a oportunidade passar quando a vaga de emprego surgiu. Se quisesse finalmente começar a faculdade em alguma das áreas de seu interesse, ele ia precisar de dinheiro. Principalmente depois de recusar uma bolsa de estudos.
deu um passo para trás, vendo que pretendia se aproximar.
– Você não acha que esse tipo de proposta é muito antiprofissional? – franziu o cenho na sua direção, confusa. Por acaso ela estava sendo... rejeitada? Confirmou que sim quando se deu conta de que aquele parvo estagiário não fazia a mínima questão de ficar perto dela. Mas, ao contrário do que pensava, não desistiria facilmente.
– Quem liga pra profissionalismo quando a mesa do estúdio 2 é tão boa pra transar? E ainda podemos ouvir ‘channel ORANGE’ do Frank Ocean enquanto isso. Ele gravou esse disco aqui. – Disse espontaneamente, de forma tão natural, que ponderou se ela saía fazendo convites sexuais com tanta frequência. Não que ele visse problema daquilo, mas achou engraçada a falta de pudor da garota, ao mesmo tempo que apreciava. Nem todo mundo tinha coragem de ser tão direto assim. Ele acharia a proposta tentadora em outra ocasião e se divertiria com a ousadia e atrevimento, mas não naquele dia.
– Você ficou doida? Nem me conhece direito. – Perguntou, num misto de surpresa e curiosidade. deu um sorrisinho, vendo que ele não tinha a mínima intenção de ofendê-la, mas ainda precisava descobrir o motivo de rejeitá-la.
– Eu não preciso te conhecer direito pra te querer, preciso? – Ela deu dois passos para frente e lhe abraçou pelo pescoço. foi pego de surpresa e olhou para os braços dela ao redor de si, depois para o seu rosto, em que não havia nenhum sinal de constrangimento, ao contrário dele, que havia ficado meio encabulado com a revelação. As garotas não costumavam se jogar em cima dele daquele jeito. O que só serviu para que o achasse cada vez mais fofo.
– Olha, , você é bonita, simpática, parece ser muito engraçada e faz um trabalho fantástico. Eu te acho incrível. – Disse, sincero, e os olhos dela brilharam, mas logo o brilho foi se apagando quando ele usou as mãos delicadamente para tirar os braços dela dali. – Mas não posso fazer isso, sinto muito.
– Mas por quê?
– Porque eu tenho namorada.
Aquelas malditas palavras fariam com que desse um passo para trás e se afastasse de imediato, mas ela não o fez. Passou alguns segundos refletindo a respeito das suas próprias vontades. Ela não se envolvia com pessoas comprometidas, achava aquilo antiético, mas algo em não permitiu que ela se afastasse com rapidez. Ficou assustada com aquele sentimento, pois, apesar dele dizer que tinha uma namorada, ela não queria se afastar. Mas o susto de se sentir daquele jeito foi maior, e ela acabou fazendo com que a sua razão tomasse as rédeas da situação e deu a volta em passos rápidos para onde estava antes com . Balançando a cabeça para os lados, se negando a admitir que estivesse mesmo disposta a ter aquele tipo de conduta.
Não, ela não faria aquilo!
Mas queria tanto...
Foda-se! Ela daria um jeito de tirar da cabeça aquele estagiário bonitinho, que havia conseguido estremecer os seus sentidos com tão pouco.

you can call me crazy 'cause I want you and I never even never fuckin' met you


II

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you got me some type of way ain't used to feelin' this way
I do not know what to say, but I know I shouldn't think about it


A tentativa havia durado uma semana. Que fosse para o inferno o anjinho pousado no seu ombro direito, lhe enchendo o saco, pedindo para não fazer a coisa errada. Gostava de colocar a culpa na sua determinação inconcebível em conquistar as coisas. O que queria, ela corria atrás.
Às 19h, o sol daquele dia já havia ido embora, e estava em casa. Convites de festas e eventos se encontravam em cima da sua cômoda, mas ela preferia os ignorar. Ainda mais quando, naquele meio, havia um convite específico de uma pessoa específica. entendia que não queria nada com ela por já ser comprometido, mas ela não sabia explicar o que a fazia se sentir tão atraída por ele. Por um lado, entendia que aquilo era errado, e ela devia partir para outra. Nunca colocou nenhum cara num pedestal, mas alguma coisa naquele banal estagiário lhe despertava aquela vontade.
Ela gostava de vê-lo fazer as tarefas que Eddie lhe pedia, quando parava em algum estúdio vago e procurava por discos de alguma banda dos anos 1980, da pose que ele fazia nos seus intervalos – uma perna apoiada na outra para que conseguisse sustentar o caderno e criar os seus desenhos. Gostava do seu modo de vestir e da sua educação. tinha uma áurea boa e engraçada, e ela adorava os momentos em que ficavam conversando, até ele cortar o contato antes que ela pudesse demonstrar as suas segundas intenções.
Pensar naquilo era difícil, mas ela não conseguiu evitar. Havia passado metade da tarde resmungando nos ouvidos de .
, eu nunca conheci ninguém assim. – Disse quando terminaram de almoçar no Chez Panisse, prontas para ir para o apartamento de .
– Você o conhece tem nem um mês!
– Não importa, ele é perfeito.
Aquilo havia ficado na sua cabeça. Dava para se apaixonar por alguém em menos de um mês? Porra! Ela estava apaixonada? Impossível, a armadilha da paixão não costumava lhe pegar tão facilmente e de forma tão rápida, apesar de amar a sensação. Talvez se recusasse a aceitar aquilo por saber que não era recíproco.
recolheu as botas de , que estavam jogadas no canto do quarto, para que ela pudesse usar. Sentou na ponta da cama da cantora e começou a calçá-las. As duas costumavam dividir tudo desde quando se conheciam, ainda crianças.
– Aonde você vai? – Perguntou , vendo que a melhor amiga estava toda arrumada.
– Sair com o Jake.
– E vai me deixar aqui sozinha?
– Eu volto para dormir aqui, ok? – parou de arrumar os cadarços da bota e a olhou por um instante. concordou, fingindo estar descontente. – Você não ia no aniversário do hoje? Achei que ele tinha te convidado.
– E convidou, mas, depois de hoje cedo, eu não quero mais rir. – bufou no travesseiro lembrando da situação e do quanto aborrecida estava. até pensou em perguntar o que havia acontecido, mas teve medo de aquilo acabar se prolongando num imenso resmungo, coisa pela qual já havia passado naquela tarde.
– Ótimo, assim eu não preciso aguentar te ouvir falando da Claire o tempo todo.
Claire.
arregalou os olhos ao ouvir o nome da garota. Saltou para fora da cama tão rápido que o movimento quase fez cair dali.
– Que droga, ! Isso não é justo! – Praguejou, abrindo o armário e deixando Sinclair totalmente confusa.
A cantora começou a se despir depressa, jogando as roupas pelo quarto, e assistia à cena toda com os olhos bem abertos, analisando cada movimento. E alguma coisa lhe dizia que faria tudo, menos ficar em casa naquela noite.

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O lugar era bonitinho, bem arrumado e iluminado, mesmo que fosse localizado numa área nem tão nobre da cidade.
Aquela sonsa tinha mesmo bom gosto.
abriu a porta do estabelecimento e recebeu alguns olhares de curiosos, mas não se importou, já estava bem acostumada. Avistou ali, de pé no meio de várias pessoas, que o cumprimentavam e o parabenizavam. E o melhor de tudo era que, naquele meio, não havia um sinal de Claire.
Eles tinham escolhido uma mesa próxima da entrada, logo não foi difícil para a ver ali quando ela começou a acenar para ele. levantou os olhos na direção dela e caminhou para cumprimentá-la. cruzou as pernas, passando o peso de uma perna para outra enquanto aguardava. Ela não tinha intenção nenhuma de ficar ali com aquelas pessoas, logo não viu necessidade de ir até lá cumprimentá-los. Talvez fosse falta de educação da sua parte, mas ela não ligava, só importava.
Ainda mais se ele estava ‘sozinho’.
– Feliz aniversário! – Ela exclamou, sorridente. agradeceu, lhe retribuindo o abraço, que durou mais tempo do que ele achou que duraria.
– Obrigado, . – Sorriu de lado, e ela lhe estendeu um envelope que tirou da bolsa. Ele levantou as sobrancelhas, surpreso, e deduziu que aquele deveria ser o seu presente. – O que é isso, ?
– Passagens para um fim de semana em Nova Iorque para a NYCC. Você disse uma vez que gostava dos quadrinhos de Deadly Class e vai ter um stand lá onde vão transmitir o primeiro episódio da série, no sábado à tarde. Podemos ir amanhã mesmo! – ficou surpreso por ela, de fato, ter se lembrado daquele comentário feito a tantos dias atrás e também ao ver a satisfação em seu rosto pelo presente escolhido. Ela parecia orgulhosa. Por isso, quase hesitou em tirar aquele sorriso do rosto dela. não iria para lugar algum com , não do modo que ela queria. Logo, achou mais justo recusá-lo.
– Você não vai desistir, não é mesmo?
– Não. – piscou os cílios. suspirou, lhe devolvendo o envelope. – Você não quer que eu desista, .
– O que quer dizer?
– Você não me repele do jeito que deveria.
Ele ficava se perguntando às vezes se se esquecia ou ignorava de propósito as coisas, como o que aconteceu naquela manhã no estúdio, como também as diversas vezes que ele frisava que namorava. era uma pessoa muito paciente e, apesar da insistência dela, jamais agiria de forma grosseira.
Eu sei que isso não ‘tá certo, mas eu não ligo. – A cantora deu de ombros, e balançou a cabeça para os lados.
– Mas eu ligo. Eu gosto da Claire. Ela é importante pra mim, e eu sei que eu também sou importante pra ela. Não quero magoá-la, por mais que eu goste da sua companhia.
– Você é importante pra ela?
– Sou.
– Não parece.
– Mas é.
– Então por que ela não ‘tá aqui? – o encarou bem, e o gesto fez olhar para os lados e ao seu redor. De fato, Claire não estava ali, e ele não fazia ideia de onde, visto que a garota não respondia suas mensagens. – Ela nunca está, não é verdade? Você se doa muito por ela, .
Por um momento, achou que havia deixado sem palavras, como se jogasse a verdade na sua cara, que outras pessoas não tinham coragem de fazer. Porém, em vez disso, ele a encarou sério. O comentário havia o irritado um pouco.
– Não acho justo você opinar em algo que você não sabe direito.
– E eu não acho justo que você não me fale a verdade. – Ela cruzou os braços, firme.
– Que verdade?
– O verdadeiro motivo pra não ficar comigo. Está com medo de dizer? De admitir, achando que vai me magoar? – proferiu com todo o ar que tinha nos pulmões, e franziu o cenho, intrigado com o jeito dela de pensar dele, que ele tinha outras razões para não ficar com ela. Aquele foi o combustível necessário para que fosse atrás dela quando saiu do recinto enquanto xingava. – Foda-se isso também! Essa merda sempre acontece comigo mesmo!
Os saltos batiam na calçada movimentada, e ela não estava ligando para câmeras, multidões e muito menos em ser educada. Ela não se importava muito com as coisas que a mídia costumava publicar ao seu respeito, tampouco o que as pessoas achariam do seu estado emocional, pois, naquele momento, ela só queria extravasar. Chorar, mas não de tristeza, de cansaço. Andou uma quadra com ao seu encalço, até sentar no chão frio da calçada com as pernas encolhidas.
– O quê? – Ele perguntou após sentar ao seu lado. olhou para ele e fungou. – O que sempre acontece com você?
– Você acha que eu sou uma garota mimada que tem tudo o que quer? Talvez eu tenha mesmo, , só que a diferença é que eu não faço os outros conseguirem por mim. Eu mesma vou atrás do que quero até eu conseguir. Está me julgando e nem me conhece.

this shit always happens to me, why can't we just play for keeps?
practically on my knees, but I know I shouldn't think about it


O silêncio dele a fez parar de olhá-lo direcionando o rosto para a rua, desejando que o céu chorasse e que a chuva fosse forte e lhe encharcasse, para acabar logo com aquele dia de merda. Ela fazia de tudo para não passar aquela impressão para as pessoas, mas tinha sempre a sensação que era exatamente aquilo que todos pensavam dela. Fez o possível para que pelo menos não tivesse aquela imagem dela, como não tinha, mas os padrões sociais tinham um poder muito maior do que o dela.
– Nem a porra de um namoro falso eu consigo! – Resmungou mais para si mesma, lembrando do ‘término’ contundente com o seu suposto namorado Tyler, ignorando completamente a presença de ali.
Por que aquele idiota não ia embora e lhe deixava sozinha com os seus pensamentos de revés?
A resposta era simples:
Porque não era um idiota.
– Um namoro falso? – Ele questionou, se aproximando, até que os ombros de ambos se encostassem.
– Porque toda a equipe de produção acha que o meu próximo single teria um melhor desempenho, views, charts, colocações nas paradas se eu estivesse namorando, sei lá, o George Ezra.
– Mas você não precisa disso.
– Eu sei! – Exclamou, quase que de imediato, sabia daquilo mais do que ninguém. – Mas fale isso para o pessoal da indústria musical e toda a essa sociedade machista que insistem em dizer que as mulheres não conseguem alcançar o topo de forma independente.
Ele segurou o seu rosto, mas não encarou os seus olhos. não se lembrava de momento algum ter ficado tão próxima de por uma iniciativa dele.
– Não tenha pena de mim! – Exclamou, o empurrado pelo ombro com certa brutalidade. Se tinha uma coisa que não suportava, era que sentissem pena dela.
. – a chamou, tentando mostrar que não havia sentimento algum de pena ali. Ele só queria fazê-la se sentir melhor.
Ele não a olhou e foi tão rápido que ela poderia dizer que não aconteceu, mas ela sentiu. Sentiu tudo quando encostou a sua boca na dela, em meio ao seu surto pessoal e profissional. Não teve língua, sequer chegou a ser um beijo de cinema, mas, para , nunca fora tão bom só encostar a boca na de alguém. Ele se importava com ela.
– Eu não acho que você é uma garota mimada que se aproveita dos outros para conseguir as coisas, não sei de onde você tirou isso. Na verdade, eu te acho muito empática e esforçada e não gosto de te ver triste. Então, se você puder levantar essa bunda desse chão sujo e me acompanhar...?
não entendia nada.
Em um minuto, a beijava e, no outro, estava de pé, lhe estendendo a mão e transmitindo o olhar mais acolhedor que ela já recebeu na vida.
Não entendia nada, mas não queria perguntar. Ela queria descobrir.
Pegou na mão dele, e começou a guiá-los.
– Pra onde estamos indo?
– Um lugar, acho que você vai gostar.
– E a sua festa?
– Não estou dando a mínima pra essa festa.

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– Então por quê?
– Por que o quê?
– Está fazendo isso comigo? Por mim?
– Te ajudar?
– É.
– Você acha que não é digna de ajuda?
– Mas e a Claire?
– A gente não precisa falar disso agora.
– Tudo bem então.

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– Eu sou um péssimo namorado.
– Não estamos fazendo nada .
– Mas eu te beijei. Uma vez só, mas beijei.
– Você chama aquilo de beijo?
– Não importa, não foi certo.
– Achei que não precisássemos falar disso agora.
– É, tem razão.

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– Olha, se serve de alguma coisa, você é um ótimo amigo. – sussurrou na direção dele, esperando que o fizesse se sentir melhor. Ele parecia carregar um planeta inteiro de culpa nas costas.
Eles estavam na praia, sentados na areia de frente para as ondas do mar se quebrando. A cinco metros, era possível escutar o barulho do time de futebol.
havia levado ao píer de Santa Mônica, seu lugar preferido em toda Califórnia. O parque estava aberto, mas o seu interesse era com que conhecesse os caras sem camisa que rolavam de um lado para o outro uma bola na areia.
O Random Team havia sido montado quando tinha apenas sete anos, e sempre fora tradição dos melhores amigos de infância jogar uma partida na praia nas noites de quinta-feira. Ele não tinha certeza se gostava da modalidade, mas ela pareceu animada. Hesitou alguns segundos quando a convidaram para jogar, mas logo deixou os sapatos na areia e entrou em um dos times.
Eram rapazes legais, sempre garantindo para que ela participasse das jogadas. tinha um amigo chamado Caleb, um magricelo, que possuía os cabelos acobreados. Caleb sempre lhe tocava a bola, fazendo perceber outra habilidade que ela possuía com os pés além da dança.
Depois do primeiro tempo, ela cansou, e os garotos alegaram ter sido a melhor em campo. Ela negou enquanto tinha ido até o parque comprar dois cachorros-quentes.
Há vinte minutos estavam sentados lado a lado, de frente para o mar, imersos num diálogo aleatório e cheio de pausas silenciosas.
– Um amigo?
– É. – Ela respondeu, sem olhar para ele. Doía dizer aquela palavra. era muito para ser só um amigo. – Os seus amigos também. Eles que foram a sua boa influência?
, por favor, eu que fui a boa influência deles.
– Aham, sei. – Apesar da ironia, acreditava naquilo.
– Os pais deles me agradecem até hoje por eles fazerem faculdade.
– Mas e você, por que não faz também?
– Ah, eu ganhei uma bolsa na NYU no ano retrasado.
– E por que não foi?
– Tive outros planos.
Aquela era mentira mais descarada que havia contado. Ele tinha apenas um plano, um plano perfeito. Iria para NY assim que terminasse o colegial, com uma bolsa integral, e Claire iria junto com ele, mas tudo foi pelos ares quando ele havia sido aprovado e ela, não. Apesar de não querer, as palavras de haviam ficado na sua cabeça, ainda mais naquele momento inoportuno.
Você se doa demais por ela.
– Relacionados com música? – negou, balançando a cabeça para os lados. Ele não queria contar para o que de fato aconteceu.
– Eu gosto de música, mas não é o meu ramo profissional.
– Não entendi por que você trabalha na gravadora, então.
– Porque preciso de dinheiro pra faculdade. – o olhou, como se não entendesse aquilo. Não fazia sentido ele ter ganhado uma bolsa e trabalhar para pagar, e não sentia que ele tinha vontade de lhe explicar o porquê. A troca de assunto inesperada lhe confirmou aquilo quando lhe perguntou: – Mas já que estamos falando de música, quem é Tyler Durden?
ergueu uma sobrancelha na direção dele. Naquela manhã, havia gravado uma das músicas do seu novo álbum, e, pelo visto, havia prestado atenção em uma das faixas.
– Você nunca assistiu Clube da Luta?
– Espera, então... I'm in love with Tyler Durden, that's why this shit ain't never working for me. I'm in love with a fantasy. – Ele cantarolou enquanto os dois andavam pela areia. – É sobre o personagem Tyler Durden?
assentiu.
– Isso mesmo. Não acredito que você sabe cantar as minhas músicas.
Ele assentiu, cantando mais um pedaço enquanto caminhava na frente. o seguia e observava, extasiada pelo som.

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actin' all innocent, please, when I know you're out here thinkin' 'bout it


– Então por quê? Por que fez uma música com o nome dele?
perguntou quando parou o carro em frente ao condomínio que morava. Eles haviam passado horas naquela noite, mas tudo pareceu ter passado tão rápido. Olhou para o perfil de , sentindo que não podia deixá-la sair dali sem antes responder aquilo.
– Por que eu não faria? Tyler Durden se veste com qualquer trapo sujo, mas está sempre incrivelmente à frente no quesito moda masculina. Eu falo dos óculos de lentes vermelhas, das jaquetas e dos casacos que ele usa no filme. Ele consegue sobreviver em um dos berços do capitalismo moderno com empregos absolutamente banais, como projecionista cinematográfico e garçom de alguns buffets. Ele é um anarquista. Sabe o que é ser um anarquista hoje em dia, ? – o olhou, e não teve tempo de dizer nada, já que ela continuou. – É seguir uma ideologia política que se opõe a todo tipo de hierarquia e dominação, seja ela política, econômica, social ou cultural, como o Estado, o capitalismo, as instituições religiosas, o racismo e a merda seca que é o patriarcado.
Ele apreciou cada palavra, mas não conseguiu dizer nada. esperou alguns momentos, mas ela também não disse nada. Não se incomodou com o silêncio, até se acomodou no banco para conseguir ficar de frente para o seu perfil sereno com um sorriso singelo.
Foi naquele momento que percebeu que nunca aceitaria ser só amiga de .
– Não faça isso. – Ele pediu quando ela se aproximou, querendo lhe beijar, e grunhiu em frustração, percebendo que não tinha mesmo mudado de ideia.
– Estou cansada de te perguntar por que não. – Ela olhou para tudo que não fosse ele enquanto parecia bem atento ao seu rosto. – Você age como inocente, mas eu sei que você já deve ter pensado nisso.
Nisso o quê?
– Nisso. Em mim. Em nós.
Os olhos dela estavam marcados por um delineador forte no formato gatinho e eram uma perfeita representação do mínimo que precisava para ser fatal. Uma gata. conseguia se fantasiar do felino sem usar uma fantasia, e não só em razão do delineado perfeito. lembrou de Ártemis, sua gata, e de toda a associação que aquelas duas tinham. Ou, pelo menos, ele achava que tinham, depois de ler uma seção de crônicas de um colunista no jornal da manhã sobre a misteriosa afinidade entre o sexo feminino e os felinos.
Ele conseguia listar tudo que emanava com aquela postura, sentada totalmente à vontade no banco do passageiro do seu carro. Curiosidade, independência, solidão, ternura e selvageria ao mesmo tempo.
Ela inclinou o corpo na sua direção, tocando os seus ombros e braços, e engoliu em seco, mas ela não fez nada, apenas falou.
– Pensado nas suas mãos geladas desenhando curvas inexistentes dentro da minha coxa, seus cabelos espalhados sobre o meu peito e os seus olhos me fitando. Seu sorriso desenhado sobre os meus lábios sem cor. Você me tocando. As falanges dos seus dedos me tocando. Me tocando com a sua clavícula exposta, me tocando com as pontas secas do seu cabelo. Me tocando. Uma única vez, com os dentes da boca, com os cílios do seu olho. Um toque. Cada uma das suas falanges dançando derme com derme, e você falando e falando e falando...
Ela piscou e abriu bem seus olhos de Cleópatra com um sorriso gostoso, que foi impossível que ele não admirasse por algum tempo, comedida nos seus afetos e margeando, com tato e delicadeza, cada palavra que disse. Não era o que esperava. Ele esperava que uma baixaria sem tamanho saísse da boca dela, uma verdadeira pornografia audível. Mas o que ela disse foi tão reservado e cativante que o fez lembrar de Ártemis novamente, e o seu jeito de nunca ser óbvia e evidente e possuir um toque de indiferença. Como escreveu Marguerite Yourcenar uma vez: os gatos não precisam de nome, não adianta chamá-los. Eles vêm quando querem, decidem o que querem fazer.
voltou para realidade quando , num ímpeto, pulou em cima dele.
?
– O que foi?
– Sai de cima de mim!
– Tudo bem, então diga que eu estou viajando e que você não está sentindo isso também?
– Isso o quê?
– Isso, todo esse clima!
Ele olhou para a janela. não gostava de mentir e, de fato, estava sentindo tudo aquilo e se sentia péssimo por isso. Franziu o cenho na direção da careta engraçada que fazia enquanto fechava os punhos.
– O que está fazendo?
– Xingando a Claire mentalmente. – Bufou, cruzando os braços.
– Escuta, eu sei que você odeia isso, eu também odeio...
– É, eu odeio! Odeio essa situação a qual eu estou me submetendo. – Exclamou num tom mais alto do que estava esperando, mas uma parca raiva imperava no seu corpo, lhe dando a necessidade de falar mais alto. – E a odeio, e odeio odiá-la porque eu não tenho motivo para isso, quer dizer.... Só um. – Disse a última frase, passeando o dedo indicador na bochecha dele. – É ódio gratuito por uma mulher a troco de... nada.
lamentou, olhando para baixo. Saiu de cima de e nem o olhou quando bateu a porta do carro dele. Os passos até o seu apartamento foram chatos. Na cabeça dela, os dois separados não era certo, mas, pelo visto, o certo nem sempre era o melhor para todo mundo.

say I'm trippin' if you feel that, but you without me ain't right


III

💋

then you realize she's right there, and you're at home like: damn, she can't compare


estava deitado de barriga para cima, com as pernas para fora da cama. Era o quarto de Claire. Ele tinha ido para lá na esperança de encontrá-la, mas não havia sinal da garota. Se perguntava onde teria se metido, mas não conseguia pensar naquilo por muito tempo. A única coisa que vinha na cabeça era e todas aquelas palavras dela, daquele momento, daquela noite. Ele se sentia péssimo. Precisava falar com a namorada, mas não para questionar o seu sumiço. Precisava ser sincero e falar sobre aquilo tudo. Sobre todo aquele sentimento errado. Não achava justo sentir aquilo e ficar com ela. E não sabia o que fazer.
A garota entrou no quarto no ápice da sua dúvida e, diferente dele, parecia extremamente animada, ao ponto de saltitar. Os tênis brancos não paravam no chão e o moletom que usava cobria os shorts curtos, mas havia um detalhe naquele moletom: ele pertencia a uma universidade conhecida. Claire desmanchou o seu sorriso quando o viu ali. Não que estivesse triste em vê-lo, mas definitivamente não esperava.
?
– Oi? – Ele disse, se levantando, e a sua única vontade era lhe cobrar uma explicação.
– Não sabia que você estava aqui, podia ter avisado que vinha. – Ela disse, tranquila, começando a tirar os tênis.
– É, eu bem que tentei. Você não me atendeu.
– Ah, é que eu fiquei meio ocupada.
– É? Deve ter sido muito importante pra você não ir ao meu aniversário. – Ele ironizou, dando uma risada forçada e se virando para a varanda. A garota ficou estática, levando as mãos à boca. Ela correu na sua direção, lhe abraçando por trás. pouco se importou em retribuir, apenas apoiou os braços no vidro do corrimão.
– Oh, meu Deus, , eu esqueci completamente. – Lamentou, com o rosto rente às costas dele.
– Esqueceu? – Ele perguntou, se virando e, consequentemente, se desvencilhando dos braços dela. – Foi você que organizou aquela festa toda.
– Eu sei disso, sinto muito mesmo, mas é que hoje eu tive uma oportunidade única.
– Oportunidade de...?
– Nova York! – Exclamou com um brilho nos olhos que só lembrava de ter visto em... Droga. Ele oscilou o olhar entre o rosto dela e o moletom da Universidade de Nova York. não era bobo, tirou suas próprias conclusões.
Claire começou a explicar, animada, sobre a possibilidade de ser mudar no mês que vem ou até antes. A garota havia percorrido a cidade inteira naquele dia, atrás de uma possível possibilidade de ingressar naquela universidade sem pensar em mais nada. Nem nas consequências de ir embora.
E aquilo foi um balde de água fria.
ouviu a tudo aquilo sem acreditar. Seu sangue queria ferver de raiva, mas ele estava mais para triste do que com raiva. Decepcionado. O seu problema não era que Claire se mudasse para que realizasse os seus sonhos, o problema era ele ter desistido dos dele por alguém que não tinha valorizado o suficiente.
Aquela universidade era o sonho deles, e pareceu descobrir da pior forma, que pelo visto, eles não estavam no mesmo timing. Quisera ele ter percebido a algum tempo atrás, que, às vezes, as pessoas precisam mudar os seus caminhos e que nem sempre funciona levar todos consigo. E, apesar de tudo, estava feliz por ela. Ele não precisava questionar, porque sabia que ela ia, nem queria obrigá-la a fazer o mesmo que ele tinha por ela. Ia contra os seus princípios de liberdade, mesmo que ele tivesse quebrado os seus princípios por ela.
E ele esperava que ela entendesse a sua vontade de acabar com aquilo. não estava com paciência para aquela discussão. Apesar de estar calmo, ele queria resolver as coisas de modo simples e rápido e, por mais que doesse um pouco, sentia que estava pronto para deixá-la ir, sem muito diálogo ou qualquer outro jeito que fizesse aquela relação durar.

💋


A mesa de som era desconfortável, mas era ali mesmo que repousava os braços, servindo de apoio para a sua cabeça. Estava em um dos estúdios da gravadora, repetindo sem parar Tyler Durden, a música que tinha gravado naquela manhã. A música acabava, e ela rebobinava a fita enquanto ignorava as ligações de . Era madrugada do dia seguinte.
Aquele dia havia sido esquisito e difícil, muita coisa para um dia só. Quando pisou os pés no apartamento assim que saiu do carro de , dormir era a última coisa que conseguia fazer. Nem mesmo ficar na sala assistindo algum sitcom ajudaria, e foi nesse momento que decidiu ir até a gravadora, para pensar. Quem sabe tivesse algum surto de criatividade para compor o próximo sucesso #1 na Hot100?
Hesitou em olhar quando a porta de vidro fez um barulho, indicando que alguém estava entrando. Passava das três da manhã, quem em sã consciência estaria na gravadora naquele horário? Alguém que tivesse a chave, pensou.
– O grande Leonardo da Vinci uma vez chegou a considerar o gato como a “melhor obra de arte”. A mais bela. – disse depois de entrar. Ele se encostou na mesa de som a três passos da cadeira que estava sentada tão desleixadamente, que nem se importava se o seu vestido ficaria engomado depois.
– Mas o quê..? – Ela disse quando virou a cabeça devagar para olhar para ele.
– Seus olhos. – respondeu de imediato, sem pensar muito. – São bonitos, combinam com esse desenho. Fiquei admirando isso a noite toda sem você saber.
– Fala sério, já deve estar tudo borrado. – passou a mão no rosto, tentando se livrar dos vestígios do delineador, e apertou os olhos quando olhou para ela. – Achou que eu estava chorando, é?
– Jamais. – Defendeu-se. – Você é difícil de dominar, , como um gato, apesar de ser bastante sensível. – Ele disse, sorrindo, e ela não quis rebater, talvez até concordasse com aquilo.
– O que está fazendo aqui?
– Eu fui na sua casa, mas disseram que você tinha saído.
– E achou que eu estaria aqui?
– É, e, pelo visto, eu tava certo.
teimava em retribuir o sorriso tímido dele. Estava extremamente fofo, ela só conseguia suspirar. Tentou pensar na forma menos grossa que encontrou para lhe fazer uma pergunta. – E no que eu posso te ajudar?
– Queria te perguntar se aquela viagem ainda ‘tá de pé?
– É sua se você quiser, é o seu presente.
– E, com essa sua desanimação, posso presumir que a sua companhia não está mais inclusa?
– Não. – Silabou . Levantou-se, dando uma risadinha, e, logo em seguida, bufou, ficando de frente para ele.
– O que foi?
– Argh, esse seu jeito aristocrático de falar é tão voluptuoso e cativante que chega a ser irritante. – riu, tentando disfarçar a vergonha que sentia quando o elogiavam.
– Então você não quer mais ficar comigo? – Ele deduziu quando abaixou a cabeça. Ela parecia tão incomodada, parecendo se sentir impotente, e não gostou nem um pouco de vê-la assim.
– Eu não sei mais o que eu quero.
– Eu tô meio confuso. – franziu o cenho. Na cabeça dele, ela não hesitaria em aceitar, apesar do que aconteceu no carro dele poucas horas atrás. tinha perfeita noção de toda aquela situação. Ele não queria buscar consolo em após romper com a ex, porque ele não precisava ser consolado. Términos são difíceis, mas, quando ele sentiu que, para, Claire ficar ou não com ele não fazia diferença, não se permitiu sofrer tanto quanto ele achava que sofreria. Só não queria que pensasse que ele a usaria como um “tapa buraco”, um passatempo. jamais faria aquilo.
, eu não quero que você fique comigo só porque acabou de terminar. Eu quero que você fique comigo porque você gosta de mim...
– Como sabe o que aconteceu?
– Depois de você me rejeitar no seu carro e, horas depois, aceitar a minha proposta da viagem, ficou meio óbvio. – Ela deu de ombros, e ele coçou a nuca, desconfortável em ter deixado escapar aquele detalhe. – Escuta... Eu parei pra pensar. Eu sabia que o que estava fazendo era errado, mas isso não estava influenciando nas minhas atitudes. Eu não estava tendo o mínimo de sororidade com a Clarie, odiando-a sem motivo, e eu devia ter respeitado o relacionamento de vocês.
– É, realmente, não tem mais relacionamento. Hoje, você me disse uma verdade que eu me recusava a acreditar já faz um tempo, e eu tive que enfrentar a prova.
– O que aconteceu?
– Ela vai embora, . Eu não me sentia no direito de cobrar que ela fizesse o mesmo que eu fiz por ela, mas é que a gente sempre fica esperando, né? É inevitável. – Foi a vez de suspirar, e lhe lançou um sorriso, na esperança que o confortasse.
– Hoje, você me disse que não achava justo eu opinar em algo que não sei direito, por isso não vou fazer isso dessa vez, mas, mesmo assim, ela não merecia ser traída. Me desculpa ser tão mala e ficar te provocando. Você é tão bom que, mesmo sendo essa pessoa insuportavelmente insistente, nunca me tratou mal por isso ou foi grosso. Na verdade, foi um bom amigo quando eu precisei, por mais que não me conhecesse tão bem.
– Eu não queria te deixar triste. Você é uma boa pessoa, , e boas pessoas também cometem erros.
Ela não quis agradecer, mas sorriu como se tivesse. tinha mania de encarar as pessoas, e se sentiu como no dia em que se conheceram. Ela o observou da mesmíssima forma, com aquele olhar misterioso, acobertando o seu instinto selvagem, ao mesmo tempo que era intimidador. Era uma incógnita que o obrigava a lhe perguntar o porquê daquilo. ficava meio sem graça, com as suas bochechas esquentando, porque aquele olhar poderia significar qualquer coisa.
– O que foi?
– É que você ‘tá muito bonito, e eu queria muito te beijar agora, sabendo que não vou ser rejeitada. – Disse sem delongas, e encarou o chão, ainda um pouco sem graça. Ele levaria um tempo para se acostumar com aquele jeito que tinha de ser direta, ainda mais quando se tratava dele.
– Quer? – Perguntou, tentando deixar a timidez de lado. Ela assentiu, dando dois passos na direção dele e ficando mais próxima.
– Sim, mas não posso.
– Por quê?
Àquela altura, já havia voltado a encará-la, mantendo o contato visual, que não o intimidava mais. Na verdade, ele gostava de ficar admirando.
– Porque eu queria fazer isso do jeito certo. Acho que hoje foi um dia significativo na minha vida. Eu pensei bastante, e acho que você deveria fazer o mesmo. – As mãos delas seguiram por toda a extensão do braço dele até alcançarem os ombros e subirem até o maxilar.
– Como assim, ?
– Amanhã, você vai viajar, usufruir ao máximo o presente que eu te dei. E, quando você voltar, vai me contar tudo na varanda do Chez Panisse, no qual eu vou fazer a reserva uma semana antes. Vai ser às 20h, e não se atrase, por favor. – Ela falou, sem deixar que ele a interrompesse.
Os lábios de atingiram o seu rosto, mas não no lugar em que ele esperava. Estalaram um beijo doce na sua bochecha direita. Ela sorriu quando se afastou dele e começou a andar em passos curtos até a saída.
– Boa noite, . – Disse, da porta. Deu uma última olhada naquele banal estagiário de camisa de botões xadrez e um rosto vermelho, tímido, antes de sair dali, sentindo tudo ficar mais leve.
– Boa noite, . – disse quando ela não se encontrava mais na sala.


Fim?



Nota da autora: Pra quem achou que não ia conseguir entregar nem uma música desse ficstape acabei entregando duas hehe primeiro que BUWYGIB caiu de paraquedas nos meus braços, e mesmo extrapolando beeemm o prazo espero ter conseguido dar conta dela porque gostei muito de escrever e participar desse ficstape apesar de todos os bloqueios então me conta aí se você gostou, além de que: sim estou pensando seriamente em dar uma continuação pra esse casal aí que aos poucos eu fui me apaixonando.



Outras fanfics:
Best Mistake (Originais/Em Andamento)

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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