Fiquei parada na portaria do prédio até o carro de virar a esquina e eu não poder mais acompanhar o seu trajeto com os olhos. O sol já brilhava forte e as pessoas começavam a sair de suas casas para irem trabalhar.
Eu ainda estava bêbada. Não tanto quanto antes, mas ainda estava bem alterada.
Dentro do elevador, em frente ao espelho, observei o meu próprio reflexo. Minha maquiagem estava completamente borrada e meu cabelo desgrenhado. Lembrei da noite anterior e não consegui conter o sorriso que brotou em meu rosto.
Passei a mão em meus cabelos, fiz uma trança para dar uma amenizada na situação e, em seguida, passei o dedo nos olhos para tirar um pouco da maquiagem de meus olhos.
Assim que o elevador parou no 17º andar, eu respirei fundo antes de abrir a porta para sair.
Eu sabia que precisava tirar todo esse peso que vinha carregando. Estive empurrando isso por 1460 dias ou mais. Já havia perdido as contas de quando realmente havíamos começado a namorar. Não tinha como adiar ainda mais. Não era justo, não depois da noite anterior.
Eu só precisava dormir um pouco para passar o efeito do álcool, não queria fazer isso bêbada. merecia mais do que isso e eu já havia feito coisas erradas demais.
Abri a porta com o maior cuidado, para não fazer barulho, e tirei os sapatos antes de entrar. As luzes estavam apagadas e tudo sob controle, num primeiro momento.
Caminhei até a cozinha para pegar uma garrafa de água na geladeira antes de deitar e não pude deixar de notar o bilhete colado em sua porta.

"Tive uma emergência na fazenda e não pude te esperar. Volto assim que possível, precisamos conversar. Espero que esteja bem e que responda as minhas mensagens. Se possível, me ligue assim que ler esse bilhete. Te amo, ."

Grunhi nervosa assim que terminei de ler o maldito bilhete.
Deus só podia estar me castigando.
Não queria mais adiar aquilo. Eu não aguentava mais.
Peguei a água e fui para o meu quarto. Agradeci mentalmente o fato de Hannah ter sono pesado e não ter me ouvido, eu não iria conseguir lidar com ela e com a baita frustração que estava sentindo.
Tomei um longo banho quente, peguei meu celular e deitei na cama. Liguei o aparelho e esperei ele carregar todas as notificações da noite anterior em que ele estava desligado. Tinha inúmeras chamadas perdidas e mensagens de . Apenas uma mensagem de Hannah dizendo que eu podia ir para casa que havia voltado pra fazenda e, uma de um número desconhecido e que atraiu completamente a minha atenção.

"De tudo o que poderia ter acontecido, conhecer alguém como você foi, de longe, a melhor coisa. Espero que esteja bem. Aguardo a ligação que você me prometeu. Um beijo, ."

🥀

- Acorda, sua vagabunda. Quem é ? - Ouvi a voz de minha melhor amiga enquanto sentia ser sacudida e eu quis morrer.
- Que horas são? - Resmunguei.
- Duas e 40. Vamos, não desconversa, quem é ? - Ela perguntou novamente. Quando abri os olhos, pude ver Hannah deitada ao meu lado com meu celular na mão. Imediatamente o tomei dela e o escondi embaixo do meu travesseiro.
- Me respeita. - Disse, fingindo estar ofendida e ela riu.
- Nem vem, Hytes, pode falar. - Ri sozinha de sua insistência e respirei fundo antes de começar a narrar resumidamente a aventura que tinha sido a noite anterior.
- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FOI NUMA FESTA UNIVERSITÁRIA E NÃO ME LEVOU! - Hannah reclamou, chocada. - E AINDA PEGOU O GOSTOSO DO BAR. MEU DEUS!
- Pare de gritar. - Lhe dei um empurrãozinho com o ombro. - E sim, ele é muito gostoso. E os amigos do time de lacrosse também.
- Oh, há um time de lacrosse. - Ela murmurou.
- E amigos gostosos do time de lacrosse. - Reforcei.
- Deus é pai, não é padrasto! - Ela exclamou, o que nos fez gargalhar.
- Enfim, só tem um problema. Eu preciso terminar com o . - Disse e ela concordou com a cabeça. Respirei fundo e imaginei toda a infinidade de lugares que eu poderia conhecer se eu abrisse mão e deixasse isso ir. Todas as possibilidades do mundo.
- Eu poderia aproveitar pra falar enquanto estou bêbada, é. - Murmurei e Hannah concordou com a cabeça.
Peguei o celular num impulso e disquei seu número.
Meu estômago estava completamente embolado e eu não sabia se era de nervoso, ansiedade ou da bebida mesmo.
- , finalmente! - Ouvir a voz dele já fazia com que eu tivesse três tipos de dor. - Aonde você se meteu? Eu estava muito preocupado.
- , eu quero terminar.
- O quê? Como assim?
- A verdade é que acho que já tive o suficiente. Isso está mexendo emocionalmente com a minha saúde.
- , você está bêbada? - Ele perguntou.
- Como eu pude confundir essa merda com amor? - Murmurei, continuando a minha reflexão de que realmente. Esse relacionamento era uma merda. Eu não sabia quem eu era, do que eu gostava. Havia passado tantos anos dentro disso que nunca pude me ver e me conhecer.
- Estou.
- Você sabe que não deve beber. Ainda mais durante a semana. - Me repreendeu. Respirei fundo para não o mandar a merda. Hannah estava sentada do meu lado, ouvindo a conversa e revirando os olhos.
- Aí, , eu tenho que aproveitar para ter essa conversa com você agora que eu estou bêbada. Eu sei que estou sendo a maior filha da puta do universo e tenho certeza que você não merece isso. E é por isso que estou de cortando, te libertando de mim.
Quero que você tenha uma vida feliz, com uma pessoa que queira as mesmas coisas que você. Uma pessoa que você possa dividir seus sonhos e seus desejos. Que te escute e te acompanhe na vida, em todos os momentos. E eu não sou essa pessoa. Não sou mesmo.
Eu tenho objetivos diferentes e sonhos diferentes. Viver aí, na fazenda, mesmo me formando como médica. Não é isso que eu quero. Eu quero o mundo. Eu quero me tornar uma mulher que eu possa admirar e no momento, eu não sou.
Agradeço tudo que passamos juntos, mas esse relacionamento não dá mais pra mim.
Assim que terminei de falar, a linha ficou muda por alguns minutos, até eu receber apenas um "ok" e um "obrigado por tudo".
Pedi que Hannah me deixasse sozinha para que eu pudesse processar toda essa loucura que havia acontecido nas últimas 24 horas e eu não fazia ideia do que havia mudado dentro de mim. O que havia me dado essa força e coragem que eu estava procurando fazia anos. Eu só sabia que uma parte de mim estava feliz. E era essa parte que entraria em campo agora.
A nova .

Nota da autora: Sem nota.

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