Capítulo Único
Senti o gosto metálico de sangue na boca quando Abigail me acertou um jab – de novo. Eu estava mais distraída que o normal e ela estava se aproveitando disso. Com um grunhido irritado, girei o corpo e chutei seu estômago, fazendo-a recuar ligeiramente. Avancei com rapidez, desferindo um jab seguido por um direto e um cruzado. Ela gemeu por não ter sido rápida o suficiente para se defender, mas se manteve em pé.
- Você está distraída – Abigail reclamou, voltando a posição. – Você consegue melhor que isso, .
E ela estava certa. Eu treinava desde os quatorze anos e lutava melhor do que muitos dos soldados da Chicago Outfit, então era raro eu ficar distraída quando estava no ringue. Eu gostava de lutar, gostava do poder que me dava e gostava ainda mais dos conservadores me reprovarem por isso. Filhas do The Boss, assim como muitas mulheres nascidas na tradicional máfia italiana não deviam aprender essas coisas. Mulheres na máfia eram troféus nas mãos dos homens, mas eu nunca me deixaria ser apenas isso. Eu era filha do capo dei capi, o chefe dos chefes e fiz questão de manipulá-lo o suficiente para que meu pai aceitasse meu treinamento. Era uma das poucas regalias que ele me permitia.
- O que você ainda está fazendo aqui? Está tarde.
Olhei para o lado ao ouvir a voz do meu irmão, mas me arrependi no mesmo instante porque Abigail não perdoava qualquer distração. O chute nas minhas pernas me fez cair duramente de costas no ringue e o ar fugiu dos meus pulmões com o impacto. Gemi, me permitindo fechar os olhos por poucos segundos para me recuperar da dor.
- O que eu disse sobre distrações no meio da luta, ? – Abigail questionou.
- Que eu posso morrer por isso – murmurei.
- Uma luta não está encerrada até alguém estar morto ou nocauteado – seu tom era controlado como sempre.
Abri os olhos para encontrá-la parada ao meu lado com a mão estendida. Aceitei a ajuda para levantar e ignorei seu comentário, sabendo que ela estava certa. Se eu me distraísse nos treinos, não estaria pronta para qualquer perigo que nosso mundo constantemente oferecia. Fui em direção as cordas do ringue onde estava, mas não desci. Abigail se despediu rapidamente, confirmando o treino de amanhã antes de seguir até a saída.
- Você sabe que eu só posso treinar quando a academia fica vazia – dei de ombros. – Uns garotos ficaram treinando arremesso até mais tarde e atrasaram meu treino.
Essa era a regra que meu pai havia imposto para que eu lutasse: Nunca podia ser no horário normal da academia já que era a mesma que os soldados usavam e ele não queria que seus homens me olhassem demais.
- Já acabou? está vindo treinar – olhou de relance para a porta que levava aos escritórios nos fundos. – Ele não está de bom humor e não quero você aqui.
Meu peito vibrou com a menção de e segui o olhar do meu irmão até a porta, tentando não parecer ansiosa demais, mas rapidamente voltei a encarar com a máscara impassível que eu tinha aprendido a usar nos últimos tempos. O que e eu tínhamos era proibido e por mais que meu irmão me amasse e tivesse como melhor amigo, ele nunca ia aceitar. Eu deveria me casar com alguém importante, não com um mero soldado.
- Ainda vou fazer esteira – levantei a corda do ringue e passei por baixo, aterrissando em um pulo no chão. – Aconteceu alguma coisa? Nem sabia que estavam aqui.
- Acabamos de chegar pelos fundos, só vim trazer ele porque deixou o carro aqui, mas vi seus seguranças na porta e vim te ver – explicou, relanceando a porta ainda fechada. – Acabamos de voltar do interrogatório com um membro da Bratva e o precisa descarregar o resto da energia por não ter acabado com ele ainda. Precisamos conseguir mais informações sobre os laboratórios de drogas deles e ele precisa viver até não o acharmos mais necessário.
Mordi o lábio inferior, segurando a vontade de correr para o escritório e falar com . Os pais dele haviam sido mortos três anos atrás em um ataque que todos concordaram ter sido assinado pela Bratva, provavelmente retaliação por meu pai ter conseguido botar as mãos no filho de um dos capitães deles. A Outfit tinha passado alguns meses buscando culpados, mas organizar um ataque para vingar a família Salvatore colocaria ainda mais lenha na guerra contra a Bratva e agora que eles tinham se aliado com a máfia irlandesa, meu pai não queria arriscar ir mais longe do que podíamos aguentar. não tinha aceitado isso muito bem e ficava facilmente abalado quando o assunto era a máfia russa.
- Eu gostaria que você fosse embora antes que venha extravasar a ira dele – acrescentou cautelosamente.
- Como eu falei, ainda tenho meia hora na esteira – ignorei seu pedido, abrindo um sorriso frio para meu irmão. – Não tenho medo das explosões do .
- ... – suspirou, me seguindo quando fui em direção a fileira de esteiras dispostas no fundo da sala. – Por favor, não tente bancar a psicóloga.
- Não tenho medo do , – o cortei, virando para encará-lo. – E nós dois vamos estar ocupados demais para conversar. Além do mais, eu duvido que ele queira falar sobre isso. Estou longe o suficiente, meus seguranças estão me esperando do lado de fora e não sou sensível a ver alguém socar um saco de boxe. Já vi você torturar um homem, irmãozinho.
era um dos poucos homens que meu pai permitia perto de mim. Talvez fosse a amizade com – que confiava cegamente em –, mas ele foi meu segurança por alguns anos e meu professor de defesa pessoal também, o que muita gente estranhou já que ele era só oito anos mais velho que eu e a maioria dos homens nunca deixaria um jovem perto de suas filhas. O caso da neta dos Bianucci que se apaixonou pelo segurança era uma lenda dentro da máfia.
- Só termine e vá embora, ok? – ele pediu, o olhar suavizando. – É muito errado eu querer te proteger das consequências do nosso mundo?
- É – confirmei sem hesitação. – Não vou quebrar, . Eu conheço o mundo que eu nasci, tá? Não é bonito, mas eu aprendi a lidar. Por mais que vocês gostem de me botar na redoma de vidro com as outras mulheres Outfit, eu não posso ficar nela. Eu sou tão parte da Cosa Nostra quanto você!
Um brilho de orgulho refletiu nos olhos escuros do meu irmão apesar de eu saber que ele nunca diria aquilo. Os homens da máfia haviam crescido aprendendo que deveriam proteger suas mulheres e era isso que tentava arduamente fazer comigo mesmo que eu me recusasse a aceitar. Como filha do chefe, eu queria ser mais do que uma mulher para ser protegida. A máfia italiana era antiquada demais e eu pretendia ir acabando com isso.
- Você é tão parte da Outfit quanto eu, – murmurou. – E...
A frase morreu nos lábios dele quando o baque de uma porta chamou nossa atenção. estava de cabeça baixa, as mãos fechadas em punhos cobertas com uma faixa de proteção enquanto caminhava até os sacos de boxe. Meu olhar viajou por seu corpo coberto apenas pelo short de luta. As cicatrizes eram quase imperceptíveis na luz azul da academia, mas eu as conhecia bem demais para saber exatamente onde cada uma estava. Os contornos escuros da tatuagem de asas nas costas que desenrolava a partir de cada omoplata e se estendia até os antebraços, pareceram ganhar vida quando ele flexionou os braços.
- Termina o treino e vai embora – ordenou dessa vez, ainda olhando para . – Vou falar com ele.
- Tchau, .
Subi na esteira enquanto meu irmão foi até e aumentei a velocidade até um ritmo bom, tentando não olhar demais para os dois quando meu irmão se aproximou. Não dava para ouvir direito o que estavam falando, só ouvir o ruído baixo das suas vozes, mas consegui distinguir o meu nome na hora que os dois me olharam. Os olhos cinzentos de pareciam nublados, sua expressão estava fechada, o maxilar tenso. Franzi o cenho, mas eles logo desviaram a atenção de mim e mais uma vez fingi não estar prestando atenção.
e eu não tínhamos um momento a sós há semanas. Como braço direito do meu irmão, andava muito ocupado ao seu lado, especialmente agora que eu sabia que estavam planejando um ataque a dois cassinos da Bratva que estavam no território que a Outfit queria reivindicar. A Outfit tinha enfraquecido bastante um tempo atrás, mas quando meu avô assumiu como capo dei capi, começou a lutar pra reestabelecer a nossa reputação. assumiria o cargo em breve e isso estava tomando todo o tempo que ele tinha.
Aumentei a velocidade na esteira para me distrair e deixei a adrenalina comandar meu corpo, focando apenas nos meus passos pesados enquanto corria. Lancei um olhar rápido até o ringue e agora estava sozinho desferindo socos e chutes no saco de areia. Ele parecia perturbado demais, alheio a qualquer outra coisa que não fosse a necessidade de descarregar o que quer que estivesse sentindo depois do interrogatório. Meu peito apertou com a visão e eu desviei o olhar rapidamente. Por mais que quisesse ir até ele, me segurei com todas as forças para não fazer isso.
Me mantive distraída, focada no tempo indicado na tela da esteira e nos km percorridos durante o exercício. O suor já ensopava minha blusa cinza que grudou no meu corpo, meu coque estava quase desfazendo de vez e minhas pernas estavam em chamas. Fiz meu melhor para não olhar demais para durante esse tempo, mas quando ouvi o grunhido angustiado que parecia ter saído do fundo da alma dele, apertei o botão de emergência e a esteira parou na hora. Olhei imediatamente para o ringue onde ele continuava a socar furiosamente, alternando com chutes. Seus movimentos eram frenéticos e menos técnicos agora, tão fortes que o saco de areia parecia prestes a estourar. Mas foram seus grunhidos que me fizeram correr até ele.
- !
Ele nem se quer pareceu me ouvir. Pulei no tatame e chamei seu nome novamente, mas ele virou de costas para mim. Seus olhos estavam fechados, o suor escorria por sua pele e o corpo inteiro estava tenso.
- ! – chamei novamente, dessa vez mais alto.
Houve uma leve hesitação, mas ele não parou. Fiz, então, algo pouquíssimo recomendado a fazer em um homem feito transtornado e fora de si: Quando voltou o cotovelo para trás para preparar um próximo soco, segurei seu braço com toda a força que eu tinha. Minhas unhas cravaram em sua pele e lentamente olhou para mim. Seu olhar ainda estava fora de foco quando fixou o meu e levou um tempo para que seus olhos cinzentos voltassem ao normal. Não soltei seu braço, só me aproximei mais, segurando seu outro braço também.
- É a – murmurei na tentativa de acalmá-lo. – Se acalma.
respirou fundo algumas vezes para se acalmar, o olhar fixo no meu como se eu pudesse tranquilizar os demônios que faziam festa dentro dele depois do encontro com o membro da Bratva. O peso por trás daqueles lindos olhos cinzas faziam meu estômago revirar. Soltei seus braços e segurei seu rosto entre as mãos, grudando minha testa na dele e ignorando o suor que cobria nós dois.
- Eu tô aqui – sussurrei de novo.
Aos poucos, sua respiração normalizou e o olhar perdido sumiu. fechou os olhos e se aproximou mais de mim, rodeando minha cintura com seus braços fortes e apertando meu corpo contra o dele.
- Hoje não foi um dia fácil – ele finalmente disse alguma coisa. – A semana inteira não foi fácil.
- O me contou que vocês interrogaram alguém da Bratva hoje. Ele falou alguma coisa sobre sua família?
- Nada que eu já não soubesse – seu olhar endureceu novamente. – Mas amanhã eu finalizo o que comecei.
O seu tom de voz fez minha pele arrepiar com a promessa mortal implícita. Eu sabia muito bem que não era um homem bom, assim como todos made man, os homens feitos. Eles ganhavam esse título ao serem iniciados na máfia e a alma deles ia embora no momento que faziam o juramento. Apesar disso, eu não tinha medo de , na verdade, ele era um dos poucos homens que me passava total confiança.
- Eu odeio te ver assim – admiti, traçando os contornos escuros da tatuagem de asas.
- Eu tô bem – resmungou, embora eu soubesse que ele não estava.
- Não, não tá – afirmei.
- Senti sua falta, mia cara – me ignorou, puxando meu corpo mais perto. – É uma maldita tortura ter que te ver de longe, mas não poder me aproximar como eu quero.
Eu simplesmente amava quando ele falava italiano comigo e esse apelido era meu antes mesmo que tivéssemos algo romântico. nunca explicou o porquê, mas sempre me chamava assim.
- Você precisa trabalhar essa coisa de ficar longe de mim, sabia? – abri um sorriso arteiro.
- Não quero – sorriu, se inclinando para me beijar. – Não quando ter você nos meus braços é tão melhor.
Meu coração estúpido deu um salto de felicidade no meu peito.
- Isso eu não posso discordar – cedi, não tendo como refutar esse argumento.
- Avisa para seus seguranças que vai tomar banho antes de ir embora e me encontra no vestiário – ele pediu, mordiscando meu lábio inferior.
Meu corpo arrepiou só em pensar em ter um tempo a sós com ele. Me soltei dos seus braços e fui até as portas duplas que levavam para fora da área de treino. Meus seguranças me esperavam no corredor, como sempre.
- Acabei o treino, mas vou tomar um banho antes de sair. Eu apareço quando estiver pronta – avisei, deixando meu tom de voz mais duro para ficar claro que não queria alguém me procurando no vestiário.
Os dois homens velhos assentiram e não fizeram objeção. Eles eram leais ao meu pai e precisavam reportar qualquer passo incomum que eu desse, então e eu éramos muito cautelosos quando nos encontrávamos. Voltei para a sala de treino e corri direto para o vestiário onde minha bolsa já estava. A porta estava escorada, mas fechei completamente quando entrei. As luzes douradas davam uma iluminação fraca para as paredes de cerâmica branca e o piso de porcelanato preto. estava sentado em um dos bancos compridos no meio do vestiário, desenfaixando as mãos.
- Eu lembro que uma vez você me disse que não era certo isso que estamos fazendo – lembrei, me aproximando mais de onde estava. – Quando foi que você mudou de ideia?
Ele ergueu a cabeça, um sorriso nascendo no canto da boca quando deixou a primeira faixa deslizar para o chão.
- Quando eu posso fazer o que é certo se você faz de tudo para me confundir? – arqueou uma sobrancelha. – Eu estava perdido no momento em que você conseguiu se desvencilhar de mim e chutar meu pau na aula de defesa pessoal.
- Então você se apaixonou por mim quando eu quase te deixei estéril? - soltei uma risada alta, chutando meus tênis e pulando em um pé só para tirar a meia também.
- Eu tenho um enorme fraco por mulheres que sabem quebrar a cara de alguém – largou a outra faixa no chão. – Mas eu sempre fui péssimo em lutar nessa batalha perdida que era tentar resistir a você... Até quando eu ainda tentava fazer a coisa certa.
Tirei o resto da roupa ensopada de suor e soltei o cabelo do elástico que estava prendendo o meu coque. O olhar de acompanhou cada movimento e eu me senti ansiosa só com isso. Com um sorriso insinuativo, fui na frente até uma das cabines de chuveiro e liguei a água quente, louca pra me ver livre do suor. Fechei os olhos quando a água pareceu massagear cada ponto dolorido no meu corpo após o treino. Não demorou para que viesse atrás de mim.
O peito dele pressionou minhas costas quando entrou na cabine e meu corpo arrepiou quando seu braço envolveu minha barriga. A boca de encostou no meu pescoço e até mesmo o beijo suave que ele deixou, me fez estremecer.
- Realmente senti sua falta, – murmurei.
- Eu também.
me girou de frente para ele e sua boca encontrou a minha em um beijo que me deixou tonta. Recuamos até que minhas costas batessem na parede atrás de mim e ele me içou no colo, me fazendo enrolar as pernas ao redor de sua cintura. A parede gelada provocou um grunhido meu que foi abafado rapidamente quando a língua dele enroscou na minha sem calma alguma. Era um beijo intenso, duro e necessitado. precisava de mim para fazê-lo esquecer o dia de hoje, como de vez em quando eu precisava dele para lembrar quem eu era. Era um bom acordo esse que nós tínhamos. Suas mãos agarraram minha bunda com força e eu gemi contra seus lábios, afundando as unhas nas costas musculosas dele.
- Eu te quero tanto, porra – mordeu meu lábio inferior. – Como a gente entrou nessa cilada, ?
Eu tinha a vaga lembrança de beijá-lo a primeira vez no meu aniversário de dezoito anos, mas meus sentimentos por eram bem mais antigos, embora eu não tivesse mais certeza de quando começaram.
- Não faço mais ideia – ofeguei, tombando a cabeça para trás quando roçou o polegar no meu mamilo.
- Você vai ser minha destruição.
Sorri, mordendo o lábio.
- Você já é a minha.
E ele me provou exatamente como ele era minha ruína.
- Senhorita , seu pai deseja vê-la em seu escritório.
Ergui o olhar do livro para a porta e assenti em resposta ao aviso de Dolores, a governanta. Deixando de lado o livro, saí do quarto e desci até o térreo onde era o escritório do meu pai. Bati na porta antes de entrar e soube imediatamente que se tratava de algo sério. Meu pai sentava na cadeira de couro atrás da mesa, estava apoiado em uma das estantes de livro e minha mãe estava na cadeira de couro na frente da mesa.
- Me chamaram? – franzi o cenho, estudando o rosto de cada um deles.
Meu pai estava impassível como sempre, os olhos iguais aos meus refletiam a frieza que eu tinha me acostumado desde cedo. Minha mãe estava impecável, a expressão neutra e as pernas cruzadas como uma verdadeira rainha. estava sério, mas sua boca ergueu em uma tentativa de sorriso quando nossos olhares se encontraram.
- , adiamos isso por mais tempo do que é considerado certo, especialmente para a filha do chefe. Porém, finalmente escolhemos um bom homem para casar com você – meu pai falou sem rodeio algum e eu senti meu coração parar por um momento. – Afinal, você já está com quase 21 anos.
- E quem é? – forcei a minha a voz a permanecer inabalada.
- Genovese, filho do chefe da maior das cinco famílias de New York, como sabe. Você o conhece, até brincaram juntos quando crianças uma vez quando as relações estavam mais estáveis – meu pai continuou. – Ele esteve na Sicília por dois anos ajudando a resolver alguns negócios, mas retornou há poucos meses e o pai dele e eu conversamos sobre a união. Eles querem um nome de peso associado ao deles e o sobrenome Carlisi é muito respeitado. Nós precisamos de mais força, ainda estamos lutando para reerguer e voltar para os anos de glória da Outfit. A colaboração com os Genovese será de muita ajuda.
Não conseguia me mover, respirar ou formar uma resposta. Eu conhecia , ele era poucos anos mais velho que eu e lembro de brincarmos juntos há muito, muito tempo e de ter dançado com ele no casamento de e Caterina. Apesar da sua fama cruel, ele havia sido muito agradável comigo, mas eu não conhecia nada sobre ele e sabia que confiar em uma única impressão era tolice. A família Genovese não era a mais poderosa de New York por nada. Eles governavam com crueldade, ainda mais do que a Outfit, o que dizia muita coisa.
- E quando vocês resolveram isso? – finalmente encontrei voz para perguntar.
- Conversamos com e o pai dele há algumas semanas quando nos encontramos na Sicília – respondeu, me olhando quase com pesar. – Vai ser uma boa união, .
Não, não vai. Não quando eu estava tão fodidamente apaixonada por outra pessoa. O casamento com seria um desastre e não importa que ele não seja um monstro completo, nós estávamos fadados a ruína desde agora. Como diabos eu ia conseguir abrir mão do que e eu tínhamos? Se eu fosse mais corajosa, tentaria pedir para que me deixassem escolher, mas eu não era e tinha medo do que ele faria a se sonhasse com o que eu e ele tínhamos. Nem mesmo teve liberdade para escolher com quem casar. Felizmente ele e Caterina, filha do consigliere do meu pai, se apaixonaram depois, mesmo que ele não estivesse nenhum pouco empolgada em casar com ela a princípio. Mas e Caterine eram a exceção, não a regra. Os casamentos arranjados raramente resultavam em amor.
- Nós pretendemos fazer a festa de noivado em três semanas, não vai ser muito grande – meu pai acrescentou. – Dará tempo para que você e sua mãe organizem a festa.
Assenti lentamente, sentindo meu estômago embrulhar enquanto tudo que eu mais queria era ir atrás de e fugir. Por Deus, eu queria muito pegar tudo e fugir, mas era algo que eu nunca faria. Eu sabia as regras, sabia as consequências quando fiquei com ele e sabia que um dia nós acabaríamos porque eu tinha deveres como filha do chefe da Outfit. Ele sabia disso tanto quanto eu.
- Ok – ergui o queixo, fitando os olhos frios do meu pai.
- Queremos realizar o casamento antes do seu aniversário – minha mãe se pronunciou.
- Mas isso é só em cinco meses – não consegui esconder o meu descontentamento agora. – Tá muito perto.
- Tenho certeza que conseguiremos fazer algo belíssimo mesmo assim. A mãe de nos ajudará – minha mãe sorriu minimamente. – Podemos começar a busca por vestidos de noiva ainda essa semana.
Mordi o interior da bochecha me segurando para não gritar com a confusão gigante de sentimentos que se misturavam no meu peito.
- Já que falaram tudo, posso ir? – perguntei. – Combinei de visitar a Tia Veronica.
Meu pai estreitou os olhos, não gostando do meu pouco interesse com o assunto e me estudando. Meu pai era um dos chefes mais cruéis que a Outfit já teve e sabia ler as pessoas como ninguém, mas eu havia aprendido a me fechar para suas avaliações. Tornei meu rosto uma máscara impassível e o encarei de volta esperando seu consentimento.
- Vá – ele permitiu.
Assim que ele terminou, disparei para fora do escritório. Mordi o lábio com tanta força que machucaria se forçasse mais um pouco. Meu coração batia acelerado quando tirei o celular do bolso para enviar uma mensagem para Tia Veronica avisando que iria vê-la e outra para pedindo que ele fosse me encontrar na casa dela. Tia Veronica era uma das poucas pessoas que burlavam as regras da máfia já que ela própria tinha tido um relacionamento que não devia um dia. Ela não hesitou em ajudar e eu quando descobriu do nosso relacionamento.
- !
Mal entrei no quarto antes de ouvir a voz de . Com um suspiro, deixei a porta aberta para que ele entrasse. Ouvi o “clique” quando meu irmão entrou atrás de mim e cruzei os braços, não querendo encará-lo agora.
- Por que você não me contou antes? – perguntei.
- Ele queria dar a notícia – respondeu calmamente. – , essa união vai ser boa para você. Nunca deixaria o papai te dar em casamento para alguém que não fosse decente.
- Obrigada, irmãozinho – soltei uma risada seca. – Fico tocada pela preocupação.
- Você nunca poderia casar com alguém da Outfit, sabe disso! Eu não poderia ter insistido para que o papai escolhesse o filho de algum subchefe – ele praticamente rosnou. – Não quando você está obviamente apaixonada por .
Meus olhos arregalaram quando me virei para olhar . Os olhos idênticos aos meus estavam intensos e seu olhar mais duro do que eu lembrava de já ter visto ser dirigido a mim. Meu coração martelou com força contra meu peito, quase dolorosamente com o medo que me invadiu.
- Não estou apaixonada por ele – menti tão descaradamente que meu irmão só riu.
- Sim, está – retrucou sem um pingo de dúvida. – Não sou tolo, . Você não é tão boa em esconder seus sentimentos como acha que é. Não quero detalhes. Não quero saber se sente o mesmo e não quero saber se algo já aconteceu entre vocês ou eu teria que matá-lo por desonrar você. Ele é como um irmão pra mim, então prefiro evitar isso. Mas não importa o que vocês sentem. é só um soldado e mesmo que seja um dos importantes, nunca poderia casar com você.
Quando eu não disse nada, continuou:
- Você sabe as regras. Não as fiz e não acho divertido seguir todas, mas essa é a vida que temos. Não dá para fugir – se aproximou de mim e segurou meu rosto entre as mãos. – Em New York você poderá esquecer . não é cruel com mulheres e irá lhe proteger tão bem quanto eu faria. Além do mais, a família de New York não é tão tradicional quanto a Outfit. Você vai poder trabalhar nos negócios como você tanto quer.
- Nunca fui romântica a ponto de acreditar que poderia casar por amor um dia – murmurei, apoiando a cabeça no ombro dele. – Só leva um tempo pra registrar que agora é definitivo.
- É parte do trabalho – disse uma última vez.
não disse mais nada, só saiu do quarto e me deixou sozinha para lidar com a confusão dentro de mim. É claro que estava certo quanto a não me casar com alguém da Outfit. Não daria certo e seria uma tortura ter que encarar , especialmente porque eu não conseguiria superar o que tivemos se ainda estivéssemos tão pertos. Amá-lo tinha sido meu maior erro e mesmo que eu não me arrependesse, tinha sido tolice me enganar durante o tempo que tivemos.
Eu:
Me encontra na casa da Tia Veronica.
Ele não fez perguntas, apenas respondeu um “ok” e meu coração partiu por inteiro ao perceber que esse era o início do fim.
Eu sabia o motivo do encontro assim que recebi a mensagem de . Estava terminando de supervisionar um dos nossos cassinos então me apressei ainda mais para encerrar minha conversa com Mathias.
- Você é primo do chefe, mas não é por isso que ele vai te poupar se você continuar roubando do caixa, Mathias – avisei, erguendo o olhar para o rosto impassível dele. – Considere esse um aviso amigável.
Antes que ele conseguisse responder, tirei a faca do coldre envolto no meu peito e afundei a ponta da lâmina na mão dele que estava apoiada na mesa de mogno do escritório. Ele gritou, tremendo com dor quando girei a faca, alargando a ferida e depois a puxei calmamente, devolvendo para o coldre. Ele tinha sorte por não existir provas concretas sobre o desvio de dinheiro ou a faca estaria em sua cabeça agora. Mathias encolheu a mão contra o peito, o sangue jorrando e manchando a camisa branca de botões.
- O próximo aviso não vai ser tão gentil – levantei da cadeira e lancei um último olhar para o homem furioso do outro lado da mesa.
Saí do escritório e segui pelo corredor estreito até as portas duplas que se abriam para um dos nossos melhores cassinos underground que estava cheio apesar da hora. Entrei no elevador bem a tempo de as portas fecharem e assim que chegamos no nível superior, saí praticamente correndo do bar que era fachada para o cassino. Minha Ducati 1260S estava estacionada logo em frente a calçada e assim que subi o zíper da jaqueta e coloquei o capacete, disparei tão rápido que mal enxergava as coisas ao meu redor, já conhecendo de cor o caminho até a mansão da tia de onde nos encontrávamos quase sempre.
Assim que a parte de trás da mansão de três andares surgiu, desacelerei a velocidade e estacionei a alguns metros da casa como fazia toda vez, deixando minha moto estrategicamente oculta. Deixei o capacete em cima da moto e me apressei até a entrada dos fundos que eu já tinha a chave. Veronica só mantinha um segurança e os poucos funcionários da casa eram totalmente leais a ela, portanto não me preocupei quando notei que o Rolls-Royce dela não estava na garagem, o que significava que ela havia saído.
Tirei o celular do bolso para perguntar em qual parte da casa estava, mas foi só chegar na piscina que a avistei. O cabelo longo ocultava seu rosto, mas sua postura tensa me dizia tudo que eu precisava saber: Os Carlisi finalmente contaram sobre o iminente noivado com Genovese. Precisei de todo meu sangue frio quando comentou sobre a proposta que haviam recebido da família de New York e ainda precisava de todo meu autocontrole para aceitar o que eu já sabia desde o começo: Que nunca poderia ficar comigo.
- – chamei.
Ela virou imediatamente e levantou da espreguiçadeira na beira da piscina, correndo até mim. Seus braços envolveram meu pescoço em um abraço apertado e meus próprios braços apertaram seu corpo contra o meu, moldando sua suavidade em mim, que não a merecia de forma alguma.
- O que aconteceu? – perguntei baixo, apoiando o queixo no topo da sua cabeça.
- Meu pai vai me casar com o Genovese – sua voz saiu abafada por estar com o rosto pressionado no meu ombro. – Vou para New York, .
Porra! Já saber da notícia não minimizava o impacto ao ouvir a própria admitir. Por instinto ou necessidade, meus braços a apertaram com mais força contra mim quando meu peito se agitou com o sentimento indistinto que tomou conta de mim.
- Eu sei – confessei, me afastando apenas o suficiente para encará-la. – me contou algumas semanas atrás.
Seus olhos se arregalaram com raiva e indignação quando ela recuou para longe dos meus braços.
- Você sabia esse tempo todo? – vociferou. – E não me contou?
- Não contei – confirmei calmamente. – Porque não era eu que tinha que te dar essa notícia, .
- Mas estava esperando minha família soltar a bomba? – um sorriso frio cruzou seus lábios. – Sabia que eles querem me casar em cinco meses?
Meu estômago gelou e o aperto no meu peito só aumentou com a declaração. Droga, droga, droga! Não, eu não fazia ideia de que pretendiam fazer o casamento tão cedo. Não era como se a data realmente importasse. Hoje ou daqui há um ano, o casamento iria acontecer e eu já teria partido antes de vê-la no altar com outro homem.
- Não sabia – engoli em seco, desviando o olhar do dela. – Mas realmente importa se você vai casar amanhã ou daqui há dois anos? Não é como se fôssemos ficar juntos de qualquer forma.
Apesar das minhas palavras, estava tentando convencer tanto a mim quanto a ela. Quando eu me vi perdidamente apaixonado, sabia que estava fodido porque nunca ia passar disso, não podia. Mas acho que no fundo nós dois esquecemos que não podíamos ficar juntos e era bom ter ela comigo. Depois de perder meus pais, era a única que me restava. Amá-la acalmava meus demônios, era a única que me via quebrar, era a que ainda me mantinha intacto e humano. Nós fomos tolos pensando que seria fácil desistir disso quando a hora chegasse.
- Você diz como se fosse fácil – balançou a cabeça, parecendo ainda mais irritada. – Como se eu pudesse esquecer o que tivemos em um piscar de olhos! Não sei se pra você é simples assim, mas pra mim não é. Eu passei a vida inteira tendo tudo controlado por outras pessoas, . Como filha do capo dei capi, eu nunca pude ser menos do que esperavam que eu fosse. Todas minhas escolhas foram feitas pensando no que seria melhor para a Outfit, inclusive o meu casamento. Mas você... Você é a única escolha que eu fiz. Eu não te queria só porque era algo que eu não devia ter. Eu te queria porque você despertou em mim a minha melhor versão!
Eu sabia de tudo isso porque, diferente de mim, não tinha medo de expressar o que sentia. Ela deixava claro sempre que estávamos juntos e até na maneira que me olhava o quão importante eu era para ela. Queria ter coragem de confessar também, mas não podia, ainda mais agora. Eu era um belo de um covarde quando se tratava dos meus sentimentos por ela.
- Não disse isso, – arrisquei dar alguns passos para perto dela e quando não recuou, me aproximei ainda mais. – Não estou dizendo que vai ser fácil porque não acho que vai ser. Mas nós não temos outra opção, não é?
Nós tínhamos, e a sugestão estava na ponta da minha língua, mas era algo que ela nunca iria aceitar por mais que me amasse. nunca fugiria comigo, nunca abandonaria seu dever com a Outfit. podia ser o próximo capo, mas era leal a Outfit com todas as forças e mesmo que fosse ser usada como moeda de troca para os Genovese, essa lealdade nunca permitiria que ela fugisse comigo.
- Eu não quero te esquecer, .
- Foge comigo – pedi, mesmo sabendo a resposta. – E não vamos precisar esquecer um do outro.
Um meio sorriso incrédulo ergueu o canto da boca dela.
- Nós não cruzaríamos a fronteira antes de alguém nos pegar.
- Eu poderia proteger você – afirmei convicto. Eu daria minha vida por essa mulher sem pensar duas vezes se precisasse, a protegeria do próprio diabo.
- Eu não posso fugir, – suspirou. – Queria poder ficar com você sem precisarmos fazer isso.
Mas não podíamos e esse era o fim.
- Eu sei – confessei. – Então acabou, não é?
- Acabou – as palavras quase doeram em mim ao saírem da boca dela.
Fechei os olhos por um breve momento, lutando contra a vontade no meu peito de agarrar agora mesmo e não soltá-la, mas não fiz isso. Controlei meus impulsos e quando nossos olhares cruzaram, também resisti contra o desejo de beijá-la uma última vez.
- Espero que você seja feliz, – murmurei. – Um de nós merece ser.
Segurei seu rosto entre as mãos e beijei sua testa, me demorando mais do que devia. Quando a soltei, estava prestes a sair imediatamente, mas ela segurou meu pulso e me fez voltar.
- Foi bom amar você, .
Minha respiração ficou presa na garganta e foi insuportável a sensação esmagadora de estar perdendo a única pessoa que realmente importava para mim. Queria poder dizer de volta o que eu sentia, mas não consegui, não dava. Não quando eu ia perdê-la de todas as maneiras possíveis em breve.
- Adeus, .
E dessa vez eu fui embora, mas sem olhar para trás porque não achava que conseguiria ir sem tomá-la nos braços uma última vez.
O uísque desceu fácil quando entornei o resto da bebida do meu copo. Mesmo que eu estivesse sendo imprudente ao beber essa noite, não dava para me manter completamente sóbrio vendo Genovese desfilar com em seus braços. Eu tinha conseguido fugir de vê-los juntos na festa de noivado, mas não deu para fugir da festa de aniversário de Leon, o consigliere. Eu havia sido obrigado a ouvir os comentários sobre como eles pareciam imponentes juntos por semanas e agora estava vendo pessoalmente. era tão jovem quanto eu, e vez ou outro sorria com algo que ele falava, o que me fazia precisar ainda mais de bebida.
- Noite difícil, Salvatore?
Olhei para o lado ao ouvir a voz de e o meu amigo apoiou o cotovelo no balcão do bar, me avaliando como quem não quer nada, mas eu o conhecia bem o bastante para saber que ele sabia que algo estava errado.
- Só estou com sede – resmunguei, voltando minha atenção para os casais que estavam dançando musica lenta na pista de dança.
- Entendi – respondeu, mas seu olhar permaneceu atento em mim. – Então é só por isso que você está olhando para o como se pudesse matá-lo?
Meu corpo inteiro ficou duro como pedra quando lentamente escrutinei a expressão calma e composta de . Ele não era burro, na verdade, era muito observador. Por mais que e eu tenhamos sido o mais cautelosos possível, ele com certeza tinha pegado algo no ar.
- Não sei sobre o que você está falando – respondi, recebendo um riso de escárnio dele.
- Você sabe – o sorriso irônico se prolongou por um momento antes de lentamente cair. – Ela nunca poderia ser sua, . Por mais que você seja um homem decente, ela ainda é filha do capo del capi.
Meu aperto no copo de cristal apertou.
- Eu sei.
Por um momento ficamos em silêncio e nosso olhar seguiu e que se dirigiam para a pista de dança onde mais uma música começava. Meu sangue ferveu, mas não apenas por ciúmes, mas porque independente de se permitissem que ela e eu ficássemos juntos, nós não poderíamos. Não depois do que eu estava prestes a fazer essa noite.
- Ele vai ser bom pra ela – falou, me lembrando que ele ainda estava ali. – Me certifiquei disso.
- Volte para sua esposa e aproveite a festa, – apertei o ombro dele rapidamente. – Eu sei o meu lugar.
Preferi ignorar a conversa sobre e o iminente casamento porque meu humor estava por um fio e essa noite era importante demais para que eu arriscasse me embebedar. Eu sabia que seria bom para ela, mas não por ter se certificado disso. o faria ser assim porque ela sempre teve a habilidade de despertar o melhor nas pessoas. E quando não funcionava, despertava o pior em si mesma para ter o que queria.
- Não beba demais, você vai se arrepender quando tiver que acordar cedo para acompanhar o carregamento das armas – ele me lançou um sorriso debochado de quem já teve experiência como meu mau humor pós bebedeira.
- Vou me controlar, Carlisi – consegui abrir um meio sorriso.
foi embora e eu voltei a minha atenção para a mulher que eu amo nos braços de outro. não se intimidava fácil e eu estava satisfeito que ela não tinha medo do próprio noivo, mas observar como parecia fácil para ela estar confortável com ele era um soco no estômago. Não conversamos depois da tarde que nos despedimos há quase dois meses e eu vinha lutando arduamente contra meus próprios sentimentos que eram totalmente descontrolados quando se tratava dela.
Como se pudesse sentir meu olhar, virou o rosto na minha direção e segurou meu olhar por cima do ombro do noivo. Não precisou mais do que esse pequeno contato pra meu coração disparar como o de um adolescente no auge do primeiro amor. A música de fundo parecia combinar tanto com o que eu estava sentindo que por um momento tudo que eu assimilei foi o olhar de no meu e a letra da música que parecia no mesmo compasso que meu coração.
I've been strong for so long
That I never thought how much I needed you
I think I'm lost without you...
Eu raramente me deixava pensar no quanto ela significava para mim, mas agora, aqui, era inevitável. estava prestes a casar, eu estava prestes a trair a máfia e nunca mais nossos destinos se cruzariam. fez girar ao redor de si mesma, quebrando o contato visual entra ela e eu, e me fazendo acordar para a vida e pra o que eu tinha vindo fazer aqui hoje. Desviei a atenção para qualquer outro lugar na festa que não fosse perto de e foi nessa hora que notei Leon seguir sozinho para o primeiro andar.
A hora tinha chegado.
- Você está bem?
Ergui o olhar para o de que me observava com atenção com seus olhos escuros que pareciam capazes de ver a alma de alguém. Era fácil se perder em sua beleza e esquecer que ele era o futuro chefe da família mais importante da máfia de New York. Ele não era tão ruim quanto podia ser, mas eu não tinha baixado a guarda ainda e ele se esforçava para me ler.
- Sim – assenti, tentando não olhar na direção das escadas onde tinha subido. – Só preciso ir ao banheiro.
- Vou falar com seu irmão enquanto isso – ele deixou cair o braço que estava ao meu redor.
- Te encontro depois então.
Segurei a saia do vestido de seda quando me apressei entre os convidados até a escadaria de mármore que levava ao lavabo do primeiro andar. Não era exatamente o banheiro que eu estava procurando, mas era a desculpa que eu precisava. Deslizei minha mão pelo corrimão e meu olhar caiu no anel de diamante no meu dedo esquerdo. tinha me dado na festa de noivado e ainda parecia surreal até agora. Um anel tão pequeno tinha mudado tudo para mim e me marcava como de um homem que nunca teria meu coração.
A escada acabou no extenso corredor cheio de portas fechadas que eu conhecia bem o suficiente por ser amiga da filha do consigliere e já ter vindo aqui algumas vezes. Bati na porta do lavabo, mas não estava ocupado, o que me fez estranhar. Se não havia subido para o banheiro, onde mais ele teria ido? O corredor estava vazio, as portas estavam fechadas e o único som era o abafado da música que tocava lá embaixo. Sendo levada pela curiosidade e urgência de falar com ele depois de mais de um mês, segui pelo corredor mesmo sabendo a imprudência de demorar demais e a possibilidade de ser pega com ele.
Apressei o passo quando constatei que esse corredor estava realmente vazio, mas assim que virei no corredor da direita, onde ficava o escritório, o som de um grito abafado soou e meu sangue gelou. Meu coração disparou e eu corri em direção as portas duplas no fim do corredor. Eu não andava desarmada por mais que meus seguranças tivessem armas o suficiente para me proteger, então antes de entrar, alcancei a push dagger de aço frio que eu havia prendido na cinta-liga embaixo do vestido como sempre fazia nas festas que eu precisava comparecer. Mas mesmo com a faca em mãos, nada me preparou para o que eu senti quando abri a porta do escritório.
Meus olhos bateram no corpo ensanguentado caído no chão e na faca idêntica a minha que estava fincada em seu pescoço. Os olhos sem vida de Leon DeLuca, o consigliere do meu pai, me confirmaram que não havia nada para ser salvo ali. Mas o que de fato me deixou desnorteada foi a pessoa ajoelhada ao seu lado, me olhando como se tivesse visto um fantasma.
- – sussurrei. – O que... O que aconteceu?
Um sorriso frio nasceu no canto da boca dele quando o choque de me ver passou e levantou, arrancando a lâmina do pescoço de Leon, fazendo gotas de sangue pingarem no tapete persa que logo estaria ensopado quando o sangue se espalhasse.
- O que eu devia ter feito há meses – respondeu, tirando um lenço no bolso para limpar a arma. – Leva um tempo para planejar a morte de alguém tão importante, sabia? Eu precisava de uma distração, de um plano de fuga e uma oportunidade a sós com ele.
O que ele estava falando não fazia o menor sentido, mas não importava. havia se tornado um traidor no momento que planejou isso. Seus motivos não significavam nada se o Chefe não tivesse dado a ordem para matar Leon e meu pai tinha o próprio executor para quando queria se livrar de alguém. se tornou um traidor e morreria por isso quando descobrissem.
- Vingança? – perguntei, recuando para o lado quando o sangue quase tocou a barra do meu vestido.
- Ele mandou matar meu pai, não foi a Bratva. Meu pai sabia de um segredo do Leon e o Leon resolveu que matá-lo seria a melhor opção. Minha mãe foi só uma consequência por estar com ele na hora – abri os braços com indiferença. – Minha vida inteira foi dedicada a Outfit, a Cosa Nostra e ao juramento que eu fiz ao me tornar homem feito, . Eu lutaria, mataria e morreria pela Outfit, mas isso foi antes de saber a verdade.
Choque puro, foi o que eu senti. Olhei para o corpo de Leon, não conseguindo assimilar as informações. O pai de não era qualquer soldado, não era um membro que seria facilmente descartável e esquecido. Se Leon tinha dado a ordem, Tommaso Salvatore sabia de algo terrível sobre ele. E se fingiram que tudo foi um ataque da Bratva... Meu pai precisava saber a verdade.
Quando eu não falei nada, ele continuou:
- E sabe quem acobertou?
É claro que eu sabia. Leon não era estúpido de fazer nada sem que meu pai soubesse e se Leon havia matado os pais de , meu pai permitiu. Meu estômago embrulhou e minhas pernas ficaram fracas, mas me forcei a permanecer firme, o aperto ainda mais duro ao redor da faca, embora eu não fosse machucar .
- Sabe quem acobertou? – repetiu mais alto, soando ainda mais glacial, se é que era possível.
Com os dentes trincados, ergui o queixo e respondi:
- Meu pai.
O na minha frente não parecia em nada com o homem que eu vinha amando nos últimos anos, especialmente quando seu olhar se prendeu ao meu novamente e eu não vi nada dele ali. Ele parecia o assassino que de fato era, um homem feito na máfia, o último rosto que seus inimigos viam antes de morrer.
- Seu pai, – confirmou, a expressão sombria em seu rosto parecendo ainda mais intensa. – E é claro que eu não podia deixar barato pra ele também, não é?
- O que você fez com ele? – meu corpo inteiro tensionou.
não conseguiria matar o consigliere e meu pai na mesma noite, não assim e não agora. A menos que ele tivesse um plano mais elaborado que esse, ele nem ao menos sairia vivo daqui.
- Ah, eu não vou matá-lo, se é o que você está pensando – guardou a faca no espaço vazio do coldre escondido em seu paletó. – Do capo dei capi, eu tirei outra coisa que valia bem mais que a vida dele.
Ele não precisou dizer para que eu entendesse o que ele queria dizer. O brilho de malícia em seus olhos e o tom de desdém na sua voz me disse o que eu precisava saber. Balancei a cabeça em choque e negação, não conseguindo nem ao menos acreditar nisso.
Eu era sua vingança contra meu pai.
- Você me usou – sua voz saiu quase inaudível.
- Como uma peça em um jogo de xadrez – tirei a Glock do meu coldre e a mantive a vista como uma ameaça silenciosa. – Você caiu perfeitamente no meu jogo.
aparecer aqui não estava nos meus planos. Eu esperava matar Leon e me esgueirar para fora da festa antes que qualquer um percebesse o sumiço do consigliere. Não ia nem se quer olhar para uma última vez. Minhas malas estavam prontas no porta-malas do meu carro e meu destino havia sido selado com uma das OMG, Outlaw Motorcycle Gang, as gangues de motoqueiros que vinham competindo com alguns territórios da máfia há algum tempo.
Quando um dos homens da Hells Angels me procurou alegando ter informações sobre a morte dos meus pais, eu duvidei, mas as provas que me apresentaram era inegáveis. Troquei informações da Outfit e eles me deram tudo que eu precisava para vingar meus pais, inclusive um lugar para fugir quando a máfia italiana me caçasse procurando vingança. Eu estava planejando isso há meses, quase um ano.
- Nós nos fizemos de tolos todo esse tempo, não é? – o olhar chocado dela enviou uma onda de angústia pelo meu peito. – Você me enganando esse tempo todo como parte da sua vingança e eu te enganando que para mim nosso caso não era demais. Deus, eu devo ter sido uma grande piada para você!
Procurei ficar impassível com a acusação dela e pensar rápido em uma resposta. A história de usá-la como vingança não fazia sentido, mas ela não sabia disso. Já tínhamos começado o nosso caso há muito tempo quando descobri a verdade sobre o assassinato dos meus pais e isso me deixou tão louco que precisei de meses longe dela para lidar com meus sentimentos antes de encarar a filha do homem que eu queria matar. Mas agora seria mais fácil pra nós dois se ela pensasse que eu só a usei como peão de vingança. Adoraria que tivesse sido isso, mas não foi. Ela era importante para mim e cada pedaço do meu maldito coração seria dela para sempre, mas não precisava mais saber disso. Nunca tive coragem de dizer que a amo e não seria agora, prestes a fugir e deserdar a única vida que eu conhecia, que eu iria revelar.
- Eu pensei que te conhecia tão bem, .
- Você conheceu o homem que eu queria que você visse.
Os olhos dela entregaram toda a mágoa que estava sentindo e foi como uma faca sendo enfiada no meu peito. Recuando até que suas costas batessem na parede atrás dela, fechou os olhos e pareceu estar lutando com a vontade de chorar. Era imprudente se permitir ficar vulnerável assim na frente de alguém que se revelou um inimigo e essa foi uma lição que eu mesmo a ensinei.
- Foi tudo uma mentira? – seus olhos se voltaram para mim novamente, as lágrimas contidas brilhando com a luz.
Não hesitei antes de responder.
- Foi tudo mentira.
Levou tudo de mim para conseguir mentir e ainda manter o olhar preso ao dela. Eu já tinha matado mais pessoas do que conseguia lembrar, já havia torturado e ameaçado mais homens do que podia contar, mas ainda assim mentir para foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Quase pude ouvir o som do seu coração se partir.
- Seu pai sabia de tudo, , por isso não se esforçou para punir os culpados. Ele queria esconder os vestígios tanto quanto Leon. Eu não podia machucar seu pai, então resolvi machucar a única pessoa pura na vida dele. Nunca foi algo pessoal com você, se serve de consolo.
Seus braços apertaram ao redor dela mesma e continuou me olhando em silêncio, mas dessa vez as lágrimas não foram contidas e o seu choro silencioso manchou a maquiagem impecável. Ela parecia um anjo naquele vestido azul claro e a tiara de diamantes lhe caía divinamente. A principessa da máfia, como era conhecida. Eu não tinha dúvidas de que no dia do seu casamento ela estaria ainda mais linda e inalcançável. Mas apesar de parecer impecável, seus olhos atormentados iriam me perseguir nos meus piores pesadelos.
- Se for me entregar, , a hora é essa – alcancei o gatilho da arma que ainda estava na minha mão. – Porque eu tenho pouquíssimos minutos pra conseguir sair da casa com esperança de continuar vivo. Não quero precisar te machucar para ir embora.
Mas ela me ignorou.
- Você me usou, – as palavras saindo da boca dela pareceram ainda piores. – Por anos, anos, ... Você fingiu? Tudo foi fingimento?
- Foi – e assim que eu disse, tive certeza que ela não acreditaria, porque nem eu me convenci.
O brilho nos seus olhos se transformou em fúria quando ela se recuperou e caminhou até mim com a determinação que muitos homens feitos não tinham. Sem hesitação e sem medo, ela parou a centímetros de mim, tão perto que nossas respirações se misturavam e era impossível olhar para qualquer outra coisa que não fosse os olhos um do outro. Eu sempre admirei a determinação dela e como, mesmo intimidada, ela não demonstrava. era mais forte do que achavam que ela era e subestimá-la era sempre o maior erro de todos que a cercavam.
- Mentiroso – acusou, largando a faca que eu lhe dei de aniversário anos atrás. – Mentiroso! Mentiroso! Mentiroso!
Ela esmurrou meu peito com os punhos fechados, com raiva e desleixo. Não a impedi de me bater e suas mãos me acertaram repetidamente até que o rosto dela ficou vermelho e os soluços preencheram o escritório. Seus golpes eram duros o suficiente para doer, mas não me incomodei com o latejar insistente depois de alguns socos, porque eu merecia isso. Meu instinto era abraçá-la, mas permaneci com os braços bem juntos ao meu corpo, lutando contra a emoção e a raiva de mim mesmo.
- Você não pode ter mentido, ! – seus dedos agarraram o tecido do meu paletó, me trazendo para ainda mais perto. – Não quando você me olhava da mesma forma que eu olhava para você. Você não mentiu nas vezes que me abraçou quando eu precisei, você não mentiu quando me beijava como se me amasse... Eu vejo nos seus olhos! Você está mentindo agora.
Desviei o olhar do dela como um fraco covarde porque sabia que não teria força para continuar a mentira olhando para a dor que eu causei nela. grunhiu, agarrando meu rosto e virando para que eu a encarasse novamente. Suas unhas fincaram na minha bochecha, prendendo meu rosto.
- Por que você não pode simplesmente aceitar isso e seguir em frente? – praticamente rosnei. – Eu acabei de matar um homem da Outfit, ! Eu vou fugir e ser perseguido pelo resto da vida. Sou um traidor da máfia, da sua família, do meu próprio sangue. Eu acabei de falar que te usei por anos! Por que você não pode aceitar isso?
- Porque eu não quero que a melhor coisa da minha vida tenha sido uma mentira – piscou, os cílios deixando um borrão escuro abaixo dos olhos. – E porque eu sei que você está mentindo!
Enfiei a arma no bolso da calça e segurei os pulsos dela. Ignorei o corpo largado no chão ao nosso lado, ignorei que tinha pouquíssimo tempo para sair dali e reuni toda a crueldade que fui ensinado desde criança. Pensei na morte dos meus pais e quem os matou. Quando fui consumido pelo ódio da injustiça que cometeram com minha família, com minha mãe, uma inocente... Eu me vi dominado pela fúria e escuridão que me seguia há meses desde que descobri que a própria Outfit acabou com minha família. Quando notou o brilho predatório nos meus olhos, estremeceu contra meu aperto.
- Foi. Uma. Mentira – repeti lentamente, apertando os seus pulsos mais força, forçando seu corpo ainda mais perto do meu. – Eu sou um bom ator e você foi meu mais elaborado plano de vingança, a maior mentira que eu já contei. Nada foi real. Todos os olhares, todas as vezes que eu te abracei, que eu te beijei... Foi tudo mentira. Você só estava carente e necessitada de atenção demais pra perceber.
A forma como se encolheu me confirmou que ela acreditou. Seu corpo ficou ainda mais tenso, mas não deixei que ela se afastasse. Me partiu ver a dor em sua expressão, mas era necessário que ela acreditasse nisso agora que ela tinha me encontrado aqui. Seria mais fácil para ela assim e eu esperava que saber que me odiava fosse ajudar a esquecê-la também.
- Você foi uma deliciosa vingança – continuei. – E agora acabou.
O pano umedecido com clorofórmio que eu tinha preparado para usar contra Leon caso as coisas não funcionassem como eu esperava ainda estava cuidadosamente embalado em um plástico para não exalar o odor forte da substância. Eu não queria usá-lo nela, mas todos precisavam acreditar que ela foi uma vítima do meu plano para fugir e eu tinha certeza que agora não facilitaria minha saída.
- Quem é você? – murmurou, se debatendo para que eu a soltasse. – Eu confiei em você! Eu confiei mais em você do que em qualquer outra pessoa, !
- Eu nunca disse que era um homem bom – abaixei a cabeça contra a dela, aproximando nossas bocas na tentativa de intimidá-la. – Você sabia disso e ainda confiou em mim.
- Eu fui estúpida, não fui? – riu sombriamente, mas não se afastou e não abaixou a cabeça. – Você jogou comigo, me humilhou, me manipulou... Mas não vou te deixar levar meu orgulho, Salvatore.
Antes que eu entendesse o que ela ia fazer, a ponta do salto dela afundou no meu pé e eu grunhi de dor, afrouxando o aperto em suas mãos, mas ainda fui rápido o bastante para bloquear a joelhada que ela planejava me dar. Para isso, precisei soltar uma de suas mãos e aproveitou para desferir uma cotovelada nas minhas costelas. Me encolhi com o golpe, mas a força não foi suficiente para me machucar de verdade e com a mão que ainda a segurava, puxei seu corpo contra o meu, a virando de costas para mim. Consegui agarrar seu outro braço antes que alcançasse a faca que deixou cair e prendi suas mãos juntas atrás das costas. Ela rosnou com raiva e jogou a cabeça para trás direto no meu nariz, mas meus reflexos foram mais rápidos e desviei antes que o golpe me acertasse.
Girei nossos corpos e a prendi contra a parede mais próxima, impedindo que ela fizesse algum dos movimentos que eu mesmo a ensinei. O perfume dela me atingiu pela última vez e eu resisti a vontade soltá-la e confessar que eu tinha mentido sobre as coisas que se referiam a ela, mas não fiz isso.
- Você se tornou uma boa lutadora, eu tenho que admitir – falei perto do ouvido dela. – Mas eu te ensinei todos os movimentos que você conhece, Carlisi. Te falei que você é previsível na luta, usa a mesma sequência sempre que pode.
A segurei com uma só mão e usei meu corpo para imobilizá-la enquanto tirava o pano do meu bolso. Meu peito rasgou com culpa e nojo por estar fazendo aquilo com ela.
- Eu vou te odiar para sempre, – sussurrou, virando o rosto para me olhar por cima do ombro. – E vou garantir que nenhum recurso seja poupado para acabar com você.
Eu também vou me odiar para sempre, foi o que eu quis dizer.
- Essa é a minha garota – fingi debochar. – Vou adorar te encontrar em uma sala de tortura, mia cara.
O apelido surtou o efeito que eu queria e fechou os olhos, desviando o olhar do meu para a parede em sua frente. Encostei a testa na nuca dela e fechei os olhos enquanto tentava silenciar minha luta interna sobre fazer o que eu estava prestes a fazer, mas a razão venceu a batalha. Desenrolei o pano do plástico e encostei o tecido do rosto dela. Sua falta de resistência só deixou claro o quanto eu a tinha destruído com essa mentira.
- Sinto muito, – sussurrei, encostando a boca em sua têmpora.
Seu corpo amoleceu contra o meu quando ela inalou o suficiente do clorofórmio e deixei o pano cair no chão para poder pegá-la no colo. Tentei não olhar demais para ela quando a deitei no sofá, mas me permiti um último momento para admirar o rosto que iria me atormentar pelo resto da vida. Escovei sua bochecha úmida com o polegar e senti a maciez da sua pele pela última vez. Eu poderia ter escolhido o caminho mais fácil ao não ter mentido, mas ela teria que trair a Outfit para me ajudar a fugir e era tão leal a sua família que isso acabaria com ela. Ela me esqueceria com o tempo, mas não era tão fácil trair o próprio sangue e precisar viver com isso.
- Adeus, mia cara – sussurrei.
Saí do escritório sem olhar para trás. Não olhei para o homem morto que concretizava minha vingança, nem olhei para a mulher desmaiada no sofá que significava minha ruína. Arrumei o paletó, me certifiquei que os sapatos não estavam sujos de sangue e desci as escadas, passando pela sala cheia dos meus inimigos que ainda não sabiam que um traidor estava calmamente entre eles. Avistei o Chefe do outro lado do salão e quase sorri. Ele nem se quer imaginava o que a Hells Angels estava preparando para a Outfit com as preciosas informações que eu dei. O meu acerto de contas com ele seria pior que a morte rápida que Leon teve.
Quando saí da mansão e entrei no meu Bugatti, acelerei o mais rápido que o carro permitia e fugi de tudo. Eu não era mais um homem feito, não era mais parte da única vida que eu conhecia. A tatuagem da Outfit no meu antebraço direito havia sido queimada horas antes da festa. Estava deixando tudo para trás, exceto o fantasma da mulher que eu quebrei, que me acompanharia onde quer que eu fosse.
- Você está distraída – Abigail reclamou, voltando a posição. – Você consegue melhor que isso, .
E ela estava certa. Eu treinava desde os quatorze anos e lutava melhor do que muitos dos soldados da Chicago Outfit, então era raro eu ficar distraída quando estava no ringue. Eu gostava de lutar, gostava do poder que me dava e gostava ainda mais dos conservadores me reprovarem por isso. Filhas do The Boss, assim como muitas mulheres nascidas na tradicional máfia italiana não deviam aprender essas coisas. Mulheres na máfia eram troféus nas mãos dos homens, mas eu nunca me deixaria ser apenas isso. Eu era filha do capo dei capi, o chefe dos chefes e fiz questão de manipulá-lo o suficiente para que meu pai aceitasse meu treinamento. Era uma das poucas regalias que ele me permitia.
- O que você ainda está fazendo aqui? Está tarde.
Olhei para o lado ao ouvir a voz do meu irmão, mas me arrependi no mesmo instante porque Abigail não perdoava qualquer distração. O chute nas minhas pernas me fez cair duramente de costas no ringue e o ar fugiu dos meus pulmões com o impacto. Gemi, me permitindo fechar os olhos por poucos segundos para me recuperar da dor.
- O que eu disse sobre distrações no meio da luta, ? – Abigail questionou.
- Que eu posso morrer por isso – murmurei.
- Uma luta não está encerrada até alguém estar morto ou nocauteado – seu tom era controlado como sempre.
Abri os olhos para encontrá-la parada ao meu lado com a mão estendida. Aceitei a ajuda para levantar e ignorei seu comentário, sabendo que ela estava certa. Se eu me distraísse nos treinos, não estaria pronta para qualquer perigo que nosso mundo constantemente oferecia. Fui em direção as cordas do ringue onde estava, mas não desci. Abigail se despediu rapidamente, confirmando o treino de amanhã antes de seguir até a saída.
- Você sabe que eu só posso treinar quando a academia fica vazia – dei de ombros. – Uns garotos ficaram treinando arremesso até mais tarde e atrasaram meu treino.
Essa era a regra que meu pai havia imposto para que eu lutasse: Nunca podia ser no horário normal da academia já que era a mesma que os soldados usavam e ele não queria que seus homens me olhassem demais.
- Já acabou? está vindo treinar – olhou de relance para a porta que levava aos escritórios nos fundos. – Ele não está de bom humor e não quero você aqui.
Meu peito vibrou com a menção de e segui o olhar do meu irmão até a porta, tentando não parecer ansiosa demais, mas rapidamente voltei a encarar com a máscara impassível que eu tinha aprendido a usar nos últimos tempos. O que e eu tínhamos era proibido e por mais que meu irmão me amasse e tivesse como melhor amigo, ele nunca ia aceitar. Eu deveria me casar com alguém importante, não com um mero soldado.
- Ainda vou fazer esteira – levantei a corda do ringue e passei por baixo, aterrissando em um pulo no chão. – Aconteceu alguma coisa? Nem sabia que estavam aqui.
- Acabamos de chegar pelos fundos, só vim trazer ele porque deixou o carro aqui, mas vi seus seguranças na porta e vim te ver – explicou, relanceando a porta ainda fechada. – Acabamos de voltar do interrogatório com um membro da Bratva e o precisa descarregar o resto da energia por não ter acabado com ele ainda. Precisamos conseguir mais informações sobre os laboratórios de drogas deles e ele precisa viver até não o acharmos mais necessário.
Mordi o lábio inferior, segurando a vontade de correr para o escritório e falar com . Os pais dele haviam sido mortos três anos atrás em um ataque que todos concordaram ter sido assinado pela Bratva, provavelmente retaliação por meu pai ter conseguido botar as mãos no filho de um dos capitães deles. A Outfit tinha passado alguns meses buscando culpados, mas organizar um ataque para vingar a família Salvatore colocaria ainda mais lenha na guerra contra a Bratva e agora que eles tinham se aliado com a máfia irlandesa, meu pai não queria arriscar ir mais longe do que podíamos aguentar. não tinha aceitado isso muito bem e ficava facilmente abalado quando o assunto era a máfia russa.
- Eu gostaria que você fosse embora antes que venha extravasar a ira dele – acrescentou cautelosamente.
- Como eu falei, ainda tenho meia hora na esteira – ignorei seu pedido, abrindo um sorriso frio para meu irmão. – Não tenho medo das explosões do .
- ... – suspirou, me seguindo quando fui em direção a fileira de esteiras dispostas no fundo da sala. – Por favor, não tente bancar a psicóloga.
- Não tenho medo do , – o cortei, virando para encará-lo. – E nós dois vamos estar ocupados demais para conversar. Além do mais, eu duvido que ele queira falar sobre isso. Estou longe o suficiente, meus seguranças estão me esperando do lado de fora e não sou sensível a ver alguém socar um saco de boxe. Já vi você torturar um homem, irmãozinho.
era um dos poucos homens que meu pai permitia perto de mim. Talvez fosse a amizade com – que confiava cegamente em –, mas ele foi meu segurança por alguns anos e meu professor de defesa pessoal também, o que muita gente estranhou já que ele era só oito anos mais velho que eu e a maioria dos homens nunca deixaria um jovem perto de suas filhas. O caso da neta dos Bianucci que se apaixonou pelo segurança era uma lenda dentro da máfia.
- Só termine e vá embora, ok? – ele pediu, o olhar suavizando. – É muito errado eu querer te proteger das consequências do nosso mundo?
- É – confirmei sem hesitação. – Não vou quebrar, . Eu conheço o mundo que eu nasci, tá? Não é bonito, mas eu aprendi a lidar. Por mais que vocês gostem de me botar na redoma de vidro com as outras mulheres Outfit, eu não posso ficar nela. Eu sou tão parte da Cosa Nostra quanto você!
Um brilho de orgulho refletiu nos olhos escuros do meu irmão apesar de eu saber que ele nunca diria aquilo. Os homens da máfia haviam crescido aprendendo que deveriam proteger suas mulheres e era isso que tentava arduamente fazer comigo mesmo que eu me recusasse a aceitar. Como filha do chefe, eu queria ser mais do que uma mulher para ser protegida. A máfia italiana era antiquada demais e eu pretendia ir acabando com isso.
- Você é tão parte da Outfit quanto eu, – murmurou. – E...
A frase morreu nos lábios dele quando o baque de uma porta chamou nossa atenção. estava de cabeça baixa, as mãos fechadas em punhos cobertas com uma faixa de proteção enquanto caminhava até os sacos de boxe. Meu olhar viajou por seu corpo coberto apenas pelo short de luta. As cicatrizes eram quase imperceptíveis na luz azul da academia, mas eu as conhecia bem demais para saber exatamente onde cada uma estava. Os contornos escuros da tatuagem de asas nas costas que desenrolava a partir de cada omoplata e se estendia até os antebraços, pareceram ganhar vida quando ele flexionou os braços.
- Termina o treino e vai embora – ordenou dessa vez, ainda olhando para . – Vou falar com ele.
- Tchau, .
Subi na esteira enquanto meu irmão foi até e aumentei a velocidade até um ritmo bom, tentando não olhar demais para os dois quando meu irmão se aproximou. Não dava para ouvir direito o que estavam falando, só ouvir o ruído baixo das suas vozes, mas consegui distinguir o meu nome na hora que os dois me olharam. Os olhos cinzentos de pareciam nublados, sua expressão estava fechada, o maxilar tenso. Franzi o cenho, mas eles logo desviaram a atenção de mim e mais uma vez fingi não estar prestando atenção.
e eu não tínhamos um momento a sós há semanas. Como braço direito do meu irmão, andava muito ocupado ao seu lado, especialmente agora que eu sabia que estavam planejando um ataque a dois cassinos da Bratva que estavam no território que a Outfit queria reivindicar. A Outfit tinha enfraquecido bastante um tempo atrás, mas quando meu avô assumiu como capo dei capi, começou a lutar pra reestabelecer a nossa reputação. assumiria o cargo em breve e isso estava tomando todo o tempo que ele tinha.
Aumentei a velocidade na esteira para me distrair e deixei a adrenalina comandar meu corpo, focando apenas nos meus passos pesados enquanto corria. Lancei um olhar rápido até o ringue e agora estava sozinho desferindo socos e chutes no saco de areia. Ele parecia perturbado demais, alheio a qualquer outra coisa que não fosse a necessidade de descarregar o que quer que estivesse sentindo depois do interrogatório. Meu peito apertou com a visão e eu desviei o olhar rapidamente. Por mais que quisesse ir até ele, me segurei com todas as forças para não fazer isso.
Me mantive distraída, focada no tempo indicado na tela da esteira e nos km percorridos durante o exercício. O suor já ensopava minha blusa cinza que grudou no meu corpo, meu coque estava quase desfazendo de vez e minhas pernas estavam em chamas. Fiz meu melhor para não olhar demais para durante esse tempo, mas quando ouvi o grunhido angustiado que parecia ter saído do fundo da alma dele, apertei o botão de emergência e a esteira parou na hora. Olhei imediatamente para o ringue onde ele continuava a socar furiosamente, alternando com chutes. Seus movimentos eram frenéticos e menos técnicos agora, tão fortes que o saco de areia parecia prestes a estourar. Mas foram seus grunhidos que me fizeram correr até ele.
- !
Ele nem se quer pareceu me ouvir. Pulei no tatame e chamei seu nome novamente, mas ele virou de costas para mim. Seus olhos estavam fechados, o suor escorria por sua pele e o corpo inteiro estava tenso.
- ! – chamei novamente, dessa vez mais alto.
Houve uma leve hesitação, mas ele não parou. Fiz, então, algo pouquíssimo recomendado a fazer em um homem feito transtornado e fora de si: Quando voltou o cotovelo para trás para preparar um próximo soco, segurei seu braço com toda a força que eu tinha. Minhas unhas cravaram em sua pele e lentamente olhou para mim. Seu olhar ainda estava fora de foco quando fixou o meu e levou um tempo para que seus olhos cinzentos voltassem ao normal. Não soltei seu braço, só me aproximei mais, segurando seu outro braço também.
- É a – murmurei na tentativa de acalmá-lo. – Se acalma.
respirou fundo algumas vezes para se acalmar, o olhar fixo no meu como se eu pudesse tranquilizar os demônios que faziam festa dentro dele depois do encontro com o membro da Bratva. O peso por trás daqueles lindos olhos cinzas faziam meu estômago revirar. Soltei seus braços e segurei seu rosto entre as mãos, grudando minha testa na dele e ignorando o suor que cobria nós dois.
- Eu tô aqui – sussurrei de novo.
Aos poucos, sua respiração normalizou e o olhar perdido sumiu. fechou os olhos e se aproximou mais de mim, rodeando minha cintura com seus braços fortes e apertando meu corpo contra o dele.
- Hoje não foi um dia fácil – ele finalmente disse alguma coisa. – A semana inteira não foi fácil.
- O me contou que vocês interrogaram alguém da Bratva hoje. Ele falou alguma coisa sobre sua família?
- Nada que eu já não soubesse – seu olhar endureceu novamente. – Mas amanhã eu finalizo o que comecei.
O seu tom de voz fez minha pele arrepiar com a promessa mortal implícita. Eu sabia muito bem que não era um homem bom, assim como todos made man, os homens feitos. Eles ganhavam esse título ao serem iniciados na máfia e a alma deles ia embora no momento que faziam o juramento. Apesar disso, eu não tinha medo de , na verdade, ele era um dos poucos homens que me passava total confiança.
- Eu odeio te ver assim – admiti, traçando os contornos escuros da tatuagem de asas.
- Eu tô bem – resmungou, embora eu soubesse que ele não estava.
- Não, não tá – afirmei.
- Senti sua falta, mia cara – me ignorou, puxando meu corpo mais perto. – É uma maldita tortura ter que te ver de longe, mas não poder me aproximar como eu quero.
Eu simplesmente amava quando ele falava italiano comigo e esse apelido era meu antes mesmo que tivéssemos algo romântico. nunca explicou o porquê, mas sempre me chamava assim.
- Você precisa trabalhar essa coisa de ficar longe de mim, sabia? – abri um sorriso arteiro.
- Não quero – sorriu, se inclinando para me beijar. – Não quando ter você nos meus braços é tão melhor.
Meu coração estúpido deu um salto de felicidade no meu peito.
- Isso eu não posso discordar – cedi, não tendo como refutar esse argumento.
- Avisa para seus seguranças que vai tomar banho antes de ir embora e me encontra no vestiário – ele pediu, mordiscando meu lábio inferior.
Meu corpo arrepiou só em pensar em ter um tempo a sós com ele. Me soltei dos seus braços e fui até as portas duplas que levavam para fora da área de treino. Meus seguranças me esperavam no corredor, como sempre.
- Acabei o treino, mas vou tomar um banho antes de sair. Eu apareço quando estiver pronta – avisei, deixando meu tom de voz mais duro para ficar claro que não queria alguém me procurando no vestiário.
Os dois homens velhos assentiram e não fizeram objeção. Eles eram leais ao meu pai e precisavam reportar qualquer passo incomum que eu desse, então e eu éramos muito cautelosos quando nos encontrávamos. Voltei para a sala de treino e corri direto para o vestiário onde minha bolsa já estava. A porta estava escorada, mas fechei completamente quando entrei. As luzes douradas davam uma iluminação fraca para as paredes de cerâmica branca e o piso de porcelanato preto. estava sentado em um dos bancos compridos no meio do vestiário, desenfaixando as mãos.
- Eu lembro que uma vez você me disse que não era certo isso que estamos fazendo – lembrei, me aproximando mais de onde estava. – Quando foi que você mudou de ideia?
Ele ergueu a cabeça, um sorriso nascendo no canto da boca quando deixou a primeira faixa deslizar para o chão.
- Quando eu posso fazer o que é certo se você faz de tudo para me confundir? – arqueou uma sobrancelha. – Eu estava perdido no momento em que você conseguiu se desvencilhar de mim e chutar meu pau na aula de defesa pessoal.
- Então você se apaixonou por mim quando eu quase te deixei estéril? - soltei uma risada alta, chutando meus tênis e pulando em um pé só para tirar a meia também.
- Eu tenho um enorme fraco por mulheres que sabem quebrar a cara de alguém – largou a outra faixa no chão. – Mas eu sempre fui péssimo em lutar nessa batalha perdida que era tentar resistir a você... Até quando eu ainda tentava fazer a coisa certa.
Tirei o resto da roupa ensopada de suor e soltei o cabelo do elástico que estava prendendo o meu coque. O olhar de acompanhou cada movimento e eu me senti ansiosa só com isso. Com um sorriso insinuativo, fui na frente até uma das cabines de chuveiro e liguei a água quente, louca pra me ver livre do suor. Fechei os olhos quando a água pareceu massagear cada ponto dolorido no meu corpo após o treino. Não demorou para que viesse atrás de mim.
O peito dele pressionou minhas costas quando entrou na cabine e meu corpo arrepiou quando seu braço envolveu minha barriga. A boca de encostou no meu pescoço e até mesmo o beijo suave que ele deixou, me fez estremecer.
- Realmente senti sua falta, – murmurei.
- Eu também.
me girou de frente para ele e sua boca encontrou a minha em um beijo que me deixou tonta. Recuamos até que minhas costas batessem na parede atrás de mim e ele me içou no colo, me fazendo enrolar as pernas ao redor de sua cintura. A parede gelada provocou um grunhido meu que foi abafado rapidamente quando a língua dele enroscou na minha sem calma alguma. Era um beijo intenso, duro e necessitado. precisava de mim para fazê-lo esquecer o dia de hoje, como de vez em quando eu precisava dele para lembrar quem eu era. Era um bom acordo esse que nós tínhamos. Suas mãos agarraram minha bunda com força e eu gemi contra seus lábios, afundando as unhas nas costas musculosas dele.
- Eu te quero tanto, porra – mordeu meu lábio inferior. – Como a gente entrou nessa cilada, ?
Eu tinha a vaga lembrança de beijá-lo a primeira vez no meu aniversário de dezoito anos, mas meus sentimentos por eram bem mais antigos, embora eu não tivesse mais certeza de quando começaram.
- Não faço mais ideia – ofeguei, tombando a cabeça para trás quando roçou o polegar no meu mamilo.
- Você vai ser minha destruição.
Sorri, mordendo o lábio.
- Você já é a minha.
E ele me provou exatamente como ele era minha ruína.
- Senhorita , seu pai deseja vê-la em seu escritório.
Ergui o olhar do livro para a porta e assenti em resposta ao aviso de Dolores, a governanta. Deixando de lado o livro, saí do quarto e desci até o térreo onde era o escritório do meu pai. Bati na porta antes de entrar e soube imediatamente que se tratava de algo sério. Meu pai sentava na cadeira de couro atrás da mesa, estava apoiado em uma das estantes de livro e minha mãe estava na cadeira de couro na frente da mesa.
- Me chamaram? – franzi o cenho, estudando o rosto de cada um deles.
Meu pai estava impassível como sempre, os olhos iguais aos meus refletiam a frieza que eu tinha me acostumado desde cedo. Minha mãe estava impecável, a expressão neutra e as pernas cruzadas como uma verdadeira rainha. estava sério, mas sua boca ergueu em uma tentativa de sorriso quando nossos olhares se encontraram.
- , adiamos isso por mais tempo do que é considerado certo, especialmente para a filha do chefe. Porém, finalmente escolhemos um bom homem para casar com você – meu pai falou sem rodeio algum e eu senti meu coração parar por um momento. – Afinal, você já está com quase 21 anos.
- E quem é? – forcei a minha a voz a permanecer inabalada.
- Genovese, filho do chefe da maior das cinco famílias de New York, como sabe. Você o conhece, até brincaram juntos quando crianças uma vez quando as relações estavam mais estáveis – meu pai continuou. – Ele esteve na Sicília por dois anos ajudando a resolver alguns negócios, mas retornou há poucos meses e o pai dele e eu conversamos sobre a união. Eles querem um nome de peso associado ao deles e o sobrenome Carlisi é muito respeitado. Nós precisamos de mais força, ainda estamos lutando para reerguer e voltar para os anos de glória da Outfit. A colaboração com os Genovese será de muita ajuda.
Não conseguia me mover, respirar ou formar uma resposta. Eu conhecia , ele era poucos anos mais velho que eu e lembro de brincarmos juntos há muito, muito tempo e de ter dançado com ele no casamento de e Caterina. Apesar da sua fama cruel, ele havia sido muito agradável comigo, mas eu não conhecia nada sobre ele e sabia que confiar em uma única impressão era tolice. A família Genovese não era a mais poderosa de New York por nada. Eles governavam com crueldade, ainda mais do que a Outfit, o que dizia muita coisa.
- E quando vocês resolveram isso? – finalmente encontrei voz para perguntar.
- Conversamos com e o pai dele há algumas semanas quando nos encontramos na Sicília – respondeu, me olhando quase com pesar. – Vai ser uma boa união, .
Não, não vai. Não quando eu estava tão fodidamente apaixonada por outra pessoa. O casamento com seria um desastre e não importa que ele não seja um monstro completo, nós estávamos fadados a ruína desde agora. Como diabos eu ia conseguir abrir mão do que e eu tínhamos? Se eu fosse mais corajosa, tentaria pedir para que me deixassem escolher, mas eu não era e tinha medo do que ele faria a se sonhasse com o que eu e ele tínhamos. Nem mesmo teve liberdade para escolher com quem casar. Felizmente ele e Caterina, filha do consigliere do meu pai, se apaixonaram depois, mesmo que ele não estivesse nenhum pouco empolgada em casar com ela a princípio. Mas e Caterine eram a exceção, não a regra. Os casamentos arranjados raramente resultavam em amor.
- Nós pretendemos fazer a festa de noivado em três semanas, não vai ser muito grande – meu pai acrescentou. – Dará tempo para que você e sua mãe organizem a festa.
Assenti lentamente, sentindo meu estômago embrulhar enquanto tudo que eu mais queria era ir atrás de e fugir. Por Deus, eu queria muito pegar tudo e fugir, mas era algo que eu nunca faria. Eu sabia as regras, sabia as consequências quando fiquei com ele e sabia que um dia nós acabaríamos porque eu tinha deveres como filha do chefe da Outfit. Ele sabia disso tanto quanto eu.
- Ok – ergui o queixo, fitando os olhos frios do meu pai.
- Queremos realizar o casamento antes do seu aniversário – minha mãe se pronunciou.
- Mas isso é só em cinco meses – não consegui esconder o meu descontentamento agora. – Tá muito perto.
- Tenho certeza que conseguiremos fazer algo belíssimo mesmo assim. A mãe de nos ajudará – minha mãe sorriu minimamente. – Podemos começar a busca por vestidos de noiva ainda essa semana.
Mordi o interior da bochecha me segurando para não gritar com a confusão gigante de sentimentos que se misturavam no meu peito.
- Já que falaram tudo, posso ir? – perguntei. – Combinei de visitar a Tia Veronica.
Meu pai estreitou os olhos, não gostando do meu pouco interesse com o assunto e me estudando. Meu pai era um dos chefes mais cruéis que a Outfit já teve e sabia ler as pessoas como ninguém, mas eu havia aprendido a me fechar para suas avaliações. Tornei meu rosto uma máscara impassível e o encarei de volta esperando seu consentimento.
- Vá – ele permitiu.
Assim que ele terminou, disparei para fora do escritório. Mordi o lábio com tanta força que machucaria se forçasse mais um pouco. Meu coração batia acelerado quando tirei o celular do bolso para enviar uma mensagem para Tia Veronica avisando que iria vê-la e outra para pedindo que ele fosse me encontrar na casa dela. Tia Veronica era uma das poucas pessoas que burlavam as regras da máfia já que ela própria tinha tido um relacionamento que não devia um dia. Ela não hesitou em ajudar e eu quando descobriu do nosso relacionamento.
- !
Mal entrei no quarto antes de ouvir a voz de . Com um suspiro, deixei a porta aberta para que ele entrasse. Ouvi o “clique” quando meu irmão entrou atrás de mim e cruzei os braços, não querendo encará-lo agora.
- Por que você não me contou antes? – perguntei.
- Ele queria dar a notícia – respondeu calmamente. – , essa união vai ser boa para você. Nunca deixaria o papai te dar em casamento para alguém que não fosse decente.
- Obrigada, irmãozinho – soltei uma risada seca. – Fico tocada pela preocupação.
- Você nunca poderia casar com alguém da Outfit, sabe disso! Eu não poderia ter insistido para que o papai escolhesse o filho de algum subchefe – ele praticamente rosnou. – Não quando você está obviamente apaixonada por .
Meus olhos arregalaram quando me virei para olhar . Os olhos idênticos aos meus estavam intensos e seu olhar mais duro do que eu lembrava de já ter visto ser dirigido a mim. Meu coração martelou com força contra meu peito, quase dolorosamente com o medo que me invadiu.
- Não estou apaixonada por ele – menti tão descaradamente que meu irmão só riu.
- Sim, está – retrucou sem um pingo de dúvida. – Não sou tolo, . Você não é tão boa em esconder seus sentimentos como acha que é. Não quero detalhes. Não quero saber se sente o mesmo e não quero saber se algo já aconteceu entre vocês ou eu teria que matá-lo por desonrar você. Ele é como um irmão pra mim, então prefiro evitar isso. Mas não importa o que vocês sentem. é só um soldado e mesmo que seja um dos importantes, nunca poderia casar com você.
Quando eu não disse nada, continuou:
- Você sabe as regras. Não as fiz e não acho divertido seguir todas, mas essa é a vida que temos. Não dá para fugir – se aproximou de mim e segurou meu rosto entre as mãos. – Em New York você poderá esquecer . não é cruel com mulheres e irá lhe proteger tão bem quanto eu faria. Além do mais, a família de New York não é tão tradicional quanto a Outfit. Você vai poder trabalhar nos negócios como você tanto quer.
- Nunca fui romântica a ponto de acreditar que poderia casar por amor um dia – murmurei, apoiando a cabeça no ombro dele. – Só leva um tempo pra registrar que agora é definitivo.
- É parte do trabalho – disse uma última vez.
não disse mais nada, só saiu do quarto e me deixou sozinha para lidar com a confusão dentro de mim. É claro que estava certo quanto a não me casar com alguém da Outfit. Não daria certo e seria uma tortura ter que encarar , especialmente porque eu não conseguiria superar o que tivemos se ainda estivéssemos tão pertos. Amá-lo tinha sido meu maior erro e mesmo que eu não me arrependesse, tinha sido tolice me enganar durante o tempo que tivemos.
Salvatore:
O que aconteceu?
O que aconteceu?
Eu:
Me encontra na casa da Tia Veronica.
Ele não fez perguntas, apenas respondeu um “ok” e meu coração partiu por inteiro ao perceber que esse era o início do fim.
Eu sabia o motivo do encontro assim que recebi a mensagem de . Estava terminando de supervisionar um dos nossos cassinos então me apressei ainda mais para encerrar minha conversa com Mathias.
- Você é primo do chefe, mas não é por isso que ele vai te poupar se você continuar roubando do caixa, Mathias – avisei, erguendo o olhar para o rosto impassível dele. – Considere esse um aviso amigável.
Antes que ele conseguisse responder, tirei a faca do coldre envolto no meu peito e afundei a ponta da lâmina na mão dele que estava apoiada na mesa de mogno do escritório. Ele gritou, tremendo com dor quando girei a faca, alargando a ferida e depois a puxei calmamente, devolvendo para o coldre. Ele tinha sorte por não existir provas concretas sobre o desvio de dinheiro ou a faca estaria em sua cabeça agora. Mathias encolheu a mão contra o peito, o sangue jorrando e manchando a camisa branca de botões.
- O próximo aviso não vai ser tão gentil – levantei da cadeira e lancei um último olhar para o homem furioso do outro lado da mesa.
Saí do escritório e segui pelo corredor estreito até as portas duplas que se abriam para um dos nossos melhores cassinos underground que estava cheio apesar da hora. Entrei no elevador bem a tempo de as portas fecharem e assim que chegamos no nível superior, saí praticamente correndo do bar que era fachada para o cassino. Minha Ducati 1260S estava estacionada logo em frente a calçada e assim que subi o zíper da jaqueta e coloquei o capacete, disparei tão rápido que mal enxergava as coisas ao meu redor, já conhecendo de cor o caminho até a mansão da tia de onde nos encontrávamos quase sempre.
Assim que a parte de trás da mansão de três andares surgiu, desacelerei a velocidade e estacionei a alguns metros da casa como fazia toda vez, deixando minha moto estrategicamente oculta. Deixei o capacete em cima da moto e me apressei até a entrada dos fundos que eu já tinha a chave. Veronica só mantinha um segurança e os poucos funcionários da casa eram totalmente leais a ela, portanto não me preocupei quando notei que o Rolls-Royce dela não estava na garagem, o que significava que ela havia saído.
Tirei o celular do bolso para perguntar em qual parte da casa estava, mas foi só chegar na piscina que a avistei. O cabelo longo ocultava seu rosto, mas sua postura tensa me dizia tudo que eu precisava saber: Os Carlisi finalmente contaram sobre o iminente noivado com Genovese. Precisei de todo meu sangue frio quando comentou sobre a proposta que haviam recebido da família de New York e ainda precisava de todo meu autocontrole para aceitar o que eu já sabia desde o começo: Que nunca poderia ficar comigo.
- – chamei.
Ela virou imediatamente e levantou da espreguiçadeira na beira da piscina, correndo até mim. Seus braços envolveram meu pescoço em um abraço apertado e meus próprios braços apertaram seu corpo contra o meu, moldando sua suavidade em mim, que não a merecia de forma alguma.
- O que aconteceu? – perguntei baixo, apoiando o queixo no topo da sua cabeça.
- Meu pai vai me casar com o Genovese – sua voz saiu abafada por estar com o rosto pressionado no meu ombro. – Vou para New York, .
Porra! Já saber da notícia não minimizava o impacto ao ouvir a própria admitir. Por instinto ou necessidade, meus braços a apertaram com mais força contra mim quando meu peito se agitou com o sentimento indistinto que tomou conta de mim.
- Eu sei – confessei, me afastando apenas o suficiente para encará-la. – me contou algumas semanas atrás.
Seus olhos se arregalaram com raiva e indignação quando ela recuou para longe dos meus braços.
- Você sabia esse tempo todo? – vociferou. – E não me contou?
- Não contei – confirmei calmamente. – Porque não era eu que tinha que te dar essa notícia, .
- Mas estava esperando minha família soltar a bomba? – um sorriso frio cruzou seus lábios. – Sabia que eles querem me casar em cinco meses?
Meu estômago gelou e o aperto no meu peito só aumentou com a declaração. Droga, droga, droga! Não, eu não fazia ideia de que pretendiam fazer o casamento tão cedo. Não era como se a data realmente importasse. Hoje ou daqui há um ano, o casamento iria acontecer e eu já teria partido antes de vê-la no altar com outro homem.
- Não sabia – engoli em seco, desviando o olhar do dela. – Mas realmente importa se você vai casar amanhã ou daqui há dois anos? Não é como se fôssemos ficar juntos de qualquer forma.
Apesar das minhas palavras, estava tentando convencer tanto a mim quanto a ela. Quando eu me vi perdidamente apaixonado, sabia que estava fodido porque nunca ia passar disso, não podia. Mas acho que no fundo nós dois esquecemos que não podíamos ficar juntos e era bom ter ela comigo. Depois de perder meus pais, era a única que me restava. Amá-la acalmava meus demônios, era a única que me via quebrar, era a que ainda me mantinha intacto e humano. Nós fomos tolos pensando que seria fácil desistir disso quando a hora chegasse.
- Você diz como se fosse fácil – balançou a cabeça, parecendo ainda mais irritada. – Como se eu pudesse esquecer o que tivemos em um piscar de olhos! Não sei se pra você é simples assim, mas pra mim não é. Eu passei a vida inteira tendo tudo controlado por outras pessoas, . Como filha do capo dei capi, eu nunca pude ser menos do que esperavam que eu fosse. Todas minhas escolhas foram feitas pensando no que seria melhor para a Outfit, inclusive o meu casamento. Mas você... Você é a única escolha que eu fiz. Eu não te queria só porque era algo que eu não devia ter. Eu te queria porque você despertou em mim a minha melhor versão!
Eu sabia de tudo isso porque, diferente de mim, não tinha medo de expressar o que sentia. Ela deixava claro sempre que estávamos juntos e até na maneira que me olhava o quão importante eu era para ela. Queria ter coragem de confessar também, mas não podia, ainda mais agora. Eu era um belo de um covarde quando se tratava dos meus sentimentos por ela.
- Não disse isso, – arrisquei dar alguns passos para perto dela e quando não recuou, me aproximei ainda mais. – Não estou dizendo que vai ser fácil porque não acho que vai ser. Mas nós não temos outra opção, não é?
Nós tínhamos, e a sugestão estava na ponta da minha língua, mas era algo que ela nunca iria aceitar por mais que me amasse. nunca fugiria comigo, nunca abandonaria seu dever com a Outfit. podia ser o próximo capo, mas era leal a Outfit com todas as forças e mesmo que fosse ser usada como moeda de troca para os Genovese, essa lealdade nunca permitiria que ela fugisse comigo.
- Eu não quero te esquecer, .
- Foge comigo – pedi, mesmo sabendo a resposta. – E não vamos precisar esquecer um do outro.
Um meio sorriso incrédulo ergueu o canto da boca dela.
- Nós não cruzaríamos a fronteira antes de alguém nos pegar.
- Eu poderia proteger você – afirmei convicto. Eu daria minha vida por essa mulher sem pensar duas vezes se precisasse, a protegeria do próprio diabo.
- Eu não posso fugir, – suspirou. – Queria poder ficar com você sem precisarmos fazer isso.
Mas não podíamos e esse era o fim.
- Eu sei – confessei. – Então acabou, não é?
- Acabou – as palavras quase doeram em mim ao saírem da boca dela.
Fechei os olhos por um breve momento, lutando contra a vontade no meu peito de agarrar agora mesmo e não soltá-la, mas não fiz isso. Controlei meus impulsos e quando nossos olhares cruzaram, também resisti contra o desejo de beijá-la uma última vez.
- Espero que você seja feliz, – murmurei. – Um de nós merece ser.
Segurei seu rosto entre as mãos e beijei sua testa, me demorando mais do que devia. Quando a soltei, estava prestes a sair imediatamente, mas ela segurou meu pulso e me fez voltar.
- Foi bom amar você, .
Minha respiração ficou presa na garganta e foi insuportável a sensação esmagadora de estar perdendo a única pessoa que realmente importava para mim. Queria poder dizer de volta o que eu sentia, mas não consegui, não dava. Não quando eu ia perdê-la de todas as maneiras possíveis em breve.
- Adeus, .
E dessa vez eu fui embora, mas sem olhar para trás porque não achava que conseguiria ir sem tomá-la nos braços uma última vez.
O uísque desceu fácil quando entornei o resto da bebida do meu copo. Mesmo que eu estivesse sendo imprudente ao beber essa noite, não dava para me manter completamente sóbrio vendo Genovese desfilar com em seus braços. Eu tinha conseguido fugir de vê-los juntos na festa de noivado, mas não deu para fugir da festa de aniversário de Leon, o consigliere. Eu havia sido obrigado a ouvir os comentários sobre como eles pareciam imponentes juntos por semanas e agora estava vendo pessoalmente. era tão jovem quanto eu, e vez ou outro sorria com algo que ele falava, o que me fazia precisar ainda mais de bebida.
- Noite difícil, Salvatore?
Olhei para o lado ao ouvir a voz de e o meu amigo apoiou o cotovelo no balcão do bar, me avaliando como quem não quer nada, mas eu o conhecia bem o bastante para saber que ele sabia que algo estava errado.
- Só estou com sede – resmunguei, voltando minha atenção para os casais que estavam dançando musica lenta na pista de dança.
- Entendi – respondeu, mas seu olhar permaneceu atento em mim. – Então é só por isso que você está olhando para o como se pudesse matá-lo?
Meu corpo inteiro ficou duro como pedra quando lentamente escrutinei a expressão calma e composta de . Ele não era burro, na verdade, era muito observador. Por mais que e eu tenhamos sido o mais cautelosos possível, ele com certeza tinha pegado algo no ar.
- Não sei sobre o que você está falando – respondi, recebendo um riso de escárnio dele.
- Você sabe – o sorriso irônico se prolongou por um momento antes de lentamente cair. – Ela nunca poderia ser sua, . Por mais que você seja um homem decente, ela ainda é filha do capo del capi.
Meu aperto no copo de cristal apertou.
- Eu sei.
Por um momento ficamos em silêncio e nosso olhar seguiu e que se dirigiam para a pista de dança onde mais uma música começava. Meu sangue ferveu, mas não apenas por ciúmes, mas porque independente de se permitissem que ela e eu ficássemos juntos, nós não poderíamos. Não depois do que eu estava prestes a fazer essa noite.
- Ele vai ser bom pra ela – falou, me lembrando que ele ainda estava ali. – Me certifiquei disso.
- Volte para sua esposa e aproveite a festa, – apertei o ombro dele rapidamente. – Eu sei o meu lugar.
Preferi ignorar a conversa sobre e o iminente casamento porque meu humor estava por um fio e essa noite era importante demais para que eu arriscasse me embebedar. Eu sabia que seria bom para ela, mas não por ter se certificado disso. o faria ser assim porque ela sempre teve a habilidade de despertar o melhor nas pessoas. E quando não funcionava, despertava o pior em si mesma para ter o que queria.
- Não beba demais, você vai se arrepender quando tiver que acordar cedo para acompanhar o carregamento das armas – ele me lançou um sorriso debochado de quem já teve experiência como meu mau humor pós bebedeira.
- Vou me controlar, Carlisi – consegui abrir um meio sorriso.
foi embora e eu voltei a minha atenção para a mulher que eu amo nos braços de outro. não se intimidava fácil e eu estava satisfeito que ela não tinha medo do próprio noivo, mas observar como parecia fácil para ela estar confortável com ele era um soco no estômago. Não conversamos depois da tarde que nos despedimos há quase dois meses e eu vinha lutando arduamente contra meus próprios sentimentos que eram totalmente descontrolados quando se tratava dela.
Como se pudesse sentir meu olhar, virou o rosto na minha direção e segurou meu olhar por cima do ombro do noivo. Não precisou mais do que esse pequeno contato pra meu coração disparar como o de um adolescente no auge do primeiro amor. A música de fundo parecia combinar tanto com o que eu estava sentindo que por um momento tudo que eu assimilei foi o olhar de no meu e a letra da música que parecia no mesmo compasso que meu coração.
A hora tinha chegado.
- Você está bem?
Ergui o olhar para o de que me observava com atenção com seus olhos escuros que pareciam capazes de ver a alma de alguém. Era fácil se perder em sua beleza e esquecer que ele era o futuro chefe da família mais importante da máfia de New York. Ele não era tão ruim quanto podia ser, mas eu não tinha baixado a guarda ainda e ele se esforçava para me ler.
- Sim – assenti, tentando não olhar na direção das escadas onde tinha subido. – Só preciso ir ao banheiro.
- Vou falar com seu irmão enquanto isso – ele deixou cair o braço que estava ao meu redor.
- Te encontro depois então.
Segurei a saia do vestido de seda quando me apressei entre os convidados até a escadaria de mármore que levava ao lavabo do primeiro andar. Não era exatamente o banheiro que eu estava procurando, mas era a desculpa que eu precisava. Deslizei minha mão pelo corrimão e meu olhar caiu no anel de diamante no meu dedo esquerdo. tinha me dado na festa de noivado e ainda parecia surreal até agora. Um anel tão pequeno tinha mudado tudo para mim e me marcava como de um homem que nunca teria meu coração.
A escada acabou no extenso corredor cheio de portas fechadas que eu conhecia bem o suficiente por ser amiga da filha do consigliere e já ter vindo aqui algumas vezes. Bati na porta do lavabo, mas não estava ocupado, o que me fez estranhar. Se não havia subido para o banheiro, onde mais ele teria ido? O corredor estava vazio, as portas estavam fechadas e o único som era o abafado da música que tocava lá embaixo. Sendo levada pela curiosidade e urgência de falar com ele depois de mais de um mês, segui pelo corredor mesmo sabendo a imprudência de demorar demais e a possibilidade de ser pega com ele.
Apressei o passo quando constatei que esse corredor estava realmente vazio, mas assim que virei no corredor da direita, onde ficava o escritório, o som de um grito abafado soou e meu sangue gelou. Meu coração disparou e eu corri em direção as portas duplas no fim do corredor. Eu não andava desarmada por mais que meus seguranças tivessem armas o suficiente para me proteger, então antes de entrar, alcancei a push dagger de aço frio que eu havia prendido na cinta-liga embaixo do vestido como sempre fazia nas festas que eu precisava comparecer. Mas mesmo com a faca em mãos, nada me preparou para o que eu senti quando abri a porta do escritório.
Meus olhos bateram no corpo ensanguentado caído no chão e na faca idêntica a minha que estava fincada em seu pescoço. Os olhos sem vida de Leon DeLuca, o consigliere do meu pai, me confirmaram que não havia nada para ser salvo ali. Mas o que de fato me deixou desnorteada foi a pessoa ajoelhada ao seu lado, me olhando como se tivesse visto um fantasma.
- – sussurrei. – O que... O que aconteceu?
Um sorriso frio nasceu no canto da boca dele quando o choque de me ver passou e levantou, arrancando a lâmina do pescoço de Leon, fazendo gotas de sangue pingarem no tapete persa que logo estaria ensopado quando o sangue se espalhasse.
- O que eu devia ter feito há meses – respondeu, tirando um lenço no bolso para limpar a arma. – Leva um tempo para planejar a morte de alguém tão importante, sabia? Eu precisava de uma distração, de um plano de fuga e uma oportunidade a sós com ele.
O que ele estava falando não fazia o menor sentido, mas não importava. havia se tornado um traidor no momento que planejou isso. Seus motivos não significavam nada se o Chefe não tivesse dado a ordem para matar Leon e meu pai tinha o próprio executor para quando queria se livrar de alguém. se tornou um traidor e morreria por isso quando descobrissem.
- Vingança? – perguntei, recuando para o lado quando o sangue quase tocou a barra do meu vestido.
- Ele mandou matar meu pai, não foi a Bratva. Meu pai sabia de um segredo do Leon e o Leon resolveu que matá-lo seria a melhor opção. Minha mãe foi só uma consequência por estar com ele na hora – abri os braços com indiferença. – Minha vida inteira foi dedicada a Outfit, a Cosa Nostra e ao juramento que eu fiz ao me tornar homem feito, . Eu lutaria, mataria e morreria pela Outfit, mas isso foi antes de saber a verdade.
Choque puro, foi o que eu senti. Olhei para o corpo de Leon, não conseguindo assimilar as informações. O pai de não era qualquer soldado, não era um membro que seria facilmente descartável e esquecido. Se Leon tinha dado a ordem, Tommaso Salvatore sabia de algo terrível sobre ele. E se fingiram que tudo foi um ataque da Bratva... Meu pai precisava saber a verdade.
Quando eu não falei nada, ele continuou:
- E sabe quem acobertou?
É claro que eu sabia. Leon não era estúpido de fazer nada sem que meu pai soubesse e se Leon havia matado os pais de , meu pai permitiu. Meu estômago embrulhou e minhas pernas ficaram fracas, mas me forcei a permanecer firme, o aperto ainda mais duro ao redor da faca, embora eu não fosse machucar .
- Sabe quem acobertou? – repetiu mais alto, soando ainda mais glacial, se é que era possível.
Com os dentes trincados, ergui o queixo e respondi:
- Meu pai.
O na minha frente não parecia em nada com o homem que eu vinha amando nos últimos anos, especialmente quando seu olhar se prendeu ao meu novamente e eu não vi nada dele ali. Ele parecia o assassino que de fato era, um homem feito na máfia, o último rosto que seus inimigos viam antes de morrer.
- Seu pai, – confirmou, a expressão sombria em seu rosto parecendo ainda mais intensa. – E é claro que eu não podia deixar barato pra ele também, não é?
- O que você fez com ele? – meu corpo inteiro tensionou.
não conseguiria matar o consigliere e meu pai na mesma noite, não assim e não agora. A menos que ele tivesse um plano mais elaborado que esse, ele nem ao menos sairia vivo daqui.
- Ah, eu não vou matá-lo, se é o que você está pensando – guardou a faca no espaço vazio do coldre escondido em seu paletó. – Do capo dei capi, eu tirei outra coisa que valia bem mais que a vida dele.
Ele não precisou dizer para que eu entendesse o que ele queria dizer. O brilho de malícia em seus olhos e o tom de desdém na sua voz me disse o que eu precisava saber. Balancei a cabeça em choque e negação, não conseguindo nem ao menos acreditar nisso.
Eu era sua vingança contra meu pai.
- Você me usou – sua voz saiu quase inaudível.
- Como uma peça em um jogo de xadrez – tirei a Glock do meu coldre e a mantive a vista como uma ameaça silenciosa. – Você caiu perfeitamente no meu jogo.
aparecer aqui não estava nos meus planos. Eu esperava matar Leon e me esgueirar para fora da festa antes que qualquer um percebesse o sumiço do consigliere. Não ia nem se quer olhar para uma última vez. Minhas malas estavam prontas no porta-malas do meu carro e meu destino havia sido selado com uma das OMG, Outlaw Motorcycle Gang, as gangues de motoqueiros que vinham competindo com alguns territórios da máfia há algum tempo.
Quando um dos homens da Hells Angels me procurou alegando ter informações sobre a morte dos meus pais, eu duvidei, mas as provas que me apresentaram era inegáveis. Troquei informações da Outfit e eles me deram tudo que eu precisava para vingar meus pais, inclusive um lugar para fugir quando a máfia italiana me caçasse procurando vingança. Eu estava planejando isso há meses, quase um ano.
- Nós nos fizemos de tolos todo esse tempo, não é? – o olhar chocado dela enviou uma onda de angústia pelo meu peito. – Você me enganando esse tempo todo como parte da sua vingança e eu te enganando que para mim nosso caso não era demais. Deus, eu devo ter sido uma grande piada para você!
Procurei ficar impassível com a acusação dela e pensar rápido em uma resposta. A história de usá-la como vingança não fazia sentido, mas ela não sabia disso. Já tínhamos começado o nosso caso há muito tempo quando descobri a verdade sobre o assassinato dos meus pais e isso me deixou tão louco que precisei de meses longe dela para lidar com meus sentimentos antes de encarar a filha do homem que eu queria matar. Mas agora seria mais fácil pra nós dois se ela pensasse que eu só a usei como peão de vingança. Adoraria que tivesse sido isso, mas não foi. Ela era importante para mim e cada pedaço do meu maldito coração seria dela para sempre, mas não precisava mais saber disso. Nunca tive coragem de dizer que a amo e não seria agora, prestes a fugir e deserdar a única vida que eu conhecia, que eu iria revelar.
- Eu pensei que te conhecia tão bem, .
- Você conheceu o homem que eu queria que você visse.
Os olhos dela entregaram toda a mágoa que estava sentindo e foi como uma faca sendo enfiada no meu peito. Recuando até que suas costas batessem na parede atrás dela, fechou os olhos e pareceu estar lutando com a vontade de chorar. Era imprudente se permitir ficar vulnerável assim na frente de alguém que se revelou um inimigo e essa foi uma lição que eu mesmo a ensinei.
- Foi tudo uma mentira? – seus olhos se voltaram para mim novamente, as lágrimas contidas brilhando com a luz.
Não hesitei antes de responder.
- Foi tudo mentira.
Levou tudo de mim para conseguir mentir e ainda manter o olhar preso ao dela. Eu já tinha matado mais pessoas do que conseguia lembrar, já havia torturado e ameaçado mais homens do que podia contar, mas ainda assim mentir para foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Quase pude ouvir o som do seu coração se partir.
- Seu pai sabia de tudo, , por isso não se esforçou para punir os culpados. Ele queria esconder os vestígios tanto quanto Leon. Eu não podia machucar seu pai, então resolvi machucar a única pessoa pura na vida dele. Nunca foi algo pessoal com você, se serve de consolo.
Seus braços apertaram ao redor dela mesma e continuou me olhando em silêncio, mas dessa vez as lágrimas não foram contidas e o seu choro silencioso manchou a maquiagem impecável. Ela parecia um anjo naquele vestido azul claro e a tiara de diamantes lhe caía divinamente. A principessa da máfia, como era conhecida. Eu não tinha dúvidas de que no dia do seu casamento ela estaria ainda mais linda e inalcançável. Mas apesar de parecer impecável, seus olhos atormentados iriam me perseguir nos meus piores pesadelos.
- Se for me entregar, , a hora é essa – alcancei o gatilho da arma que ainda estava na minha mão. – Porque eu tenho pouquíssimos minutos pra conseguir sair da casa com esperança de continuar vivo. Não quero precisar te machucar para ir embora.
Mas ela me ignorou.
- Você me usou, – as palavras saindo da boca dela pareceram ainda piores. – Por anos, anos, ... Você fingiu? Tudo foi fingimento?
- Foi – e assim que eu disse, tive certeza que ela não acreditaria, porque nem eu me convenci.
O brilho nos seus olhos se transformou em fúria quando ela se recuperou e caminhou até mim com a determinação que muitos homens feitos não tinham. Sem hesitação e sem medo, ela parou a centímetros de mim, tão perto que nossas respirações se misturavam e era impossível olhar para qualquer outra coisa que não fosse os olhos um do outro. Eu sempre admirei a determinação dela e como, mesmo intimidada, ela não demonstrava. era mais forte do que achavam que ela era e subestimá-la era sempre o maior erro de todos que a cercavam.
- Mentiroso – acusou, largando a faca que eu lhe dei de aniversário anos atrás. – Mentiroso! Mentiroso! Mentiroso!
Ela esmurrou meu peito com os punhos fechados, com raiva e desleixo. Não a impedi de me bater e suas mãos me acertaram repetidamente até que o rosto dela ficou vermelho e os soluços preencheram o escritório. Seus golpes eram duros o suficiente para doer, mas não me incomodei com o latejar insistente depois de alguns socos, porque eu merecia isso. Meu instinto era abraçá-la, mas permaneci com os braços bem juntos ao meu corpo, lutando contra a emoção e a raiva de mim mesmo.
- Você não pode ter mentido, ! – seus dedos agarraram o tecido do meu paletó, me trazendo para ainda mais perto. – Não quando você me olhava da mesma forma que eu olhava para você. Você não mentiu nas vezes que me abraçou quando eu precisei, você não mentiu quando me beijava como se me amasse... Eu vejo nos seus olhos! Você está mentindo agora.
Desviei o olhar do dela como um fraco covarde porque sabia que não teria força para continuar a mentira olhando para a dor que eu causei nela. grunhiu, agarrando meu rosto e virando para que eu a encarasse novamente. Suas unhas fincaram na minha bochecha, prendendo meu rosto.
- Por que você não pode simplesmente aceitar isso e seguir em frente? – praticamente rosnei. – Eu acabei de matar um homem da Outfit, ! Eu vou fugir e ser perseguido pelo resto da vida. Sou um traidor da máfia, da sua família, do meu próprio sangue. Eu acabei de falar que te usei por anos! Por que você não pode aceitar isso?
- Porque eu não quero que a melhor coisa da minha vida tenha sido uma mentira – piscou, os cílios deixando um borrão escuro abaixo dos olhos. – E porque eu sei que você está mentindo!
Enfiei a arma no bolso da calça e segurei os pulsos dela. Ignorei o corpo largado no chão ao nosso lado, ignorei que tinha pouquíssimo tempo para sair dali e reuni toda a crueldade que fui ensinado desde criança. Pensei na morte dos meus pais e quem os matou. Quando fui consumido pelo ódio da injustiça que cometeram com minha família, com minha mãe, uma inocente... Eu me vi dominado pela fúria e escuridão que me seguia há meses desde que descobri que a própria Outfit acabou com minha família. Quando notou o brilho predatório nos meus olhos, estremeceu contra meu aperto.
- Foi. Uma. Mentira – repeti lentamente, apertando os seus pulsos mais força, forçando seu corpo ainda mais perto do meu. – Eu sou um bom ator e você foi meu mais elaborado plano de vingança, a maior mentira que eu já contei. Nada foi real. Todos os olhares, todas as vezes que eu te abracei, que eu te beijei... Foi tudo mentira. Você só estava carente e necessitada de atenção demais pra perceber.
A forma como se encolheu me confirmou que ela acreditou. Seu corpo ficou ainda mais tenso, mas não deixei que ela se afastasse. Me partiu ver a dor em sua expressão, mas era necessário que ela acreditasse nisso agora que ela tinha me encontrado aqui. Seria mais fácil para ela assim e eu esperava que saber que me odiava fosse ajudar a esquecê-la também.
- Você foi uma deliciosa vingança – continuei. – E agora acabou.
O pano umedecido com clorofórmio que eu tinha preparado para usar contra Leon caso as coisas não funcionassem como eu esperava ainda estava cuidadosamente embalado em um plástico para não exalar o odor forte da substância. Eu não queria usá-lo nela, mas todos precisavam acreditar que ela foi uma vítima do meu plano para fugir e eu tinha certeza que agora não facilitaria minha saída.
- Quem é você? – murmurou, se debatendo para que eu a soltasse. – Eu confiei em você! Eu confiei mais em você do que em qualquer outra pessoa, !
- Eu nunca disse que era um homem bom – abaixei a cabeça contra a dela, aproximando nossas bocas na tentativa de intimidá-la. – Você sabia disso e ainda confiou em mim.
- Eu fui estúpida, não fui? – riu sombriamente, mas não se afastou e não abaixou a cabeça. – Você jogou comigo, me humilhou, me manipulou... Mas não vou te deixar levar meu orgulho, Salvatore.
Antes que eu entendesse o que ela ia fazer, a ponta do salto dela afundou no meu pé e eu grunhi de dor, afrouxando o aperto em suas mãos, mas ainda fui rápido o bastante para bloquear a joelhada que ela planejava me dar. Para isso, precisei soltar uma de suas mãos e aproveitou para desferir uma cotovelada nas minhas costelas. Me encolhi com o golpe, mas a força não foi suficiente para me machucar de verdade e com a mão que ainda a segurava, puxei seu corpo contra o meu, a virando de costas para mim. Consegui agarrar seu outro braço antes que alcançasse a faca que deixou cair e prendi suas mãos juntas atrás das costas. Ela rosnou com raiva e jogou a cabeça para trás direto no meu nariz, mas meus reflexos foram mais rápidos e desviei antes que o golpe me acertasse.
Girei nossos corpos e a prendi contra a parede mais próxima, impedindo que ela fizesse algum dos movimentos que eu mesmo a ensinei. O perfume dela me atingiu pela última vez e eu resisti a vontade soltá-la e confessar que eu tinha mentido sobre as coisas que se referiam a ela, mas não fiz isso.
- Você se tornou uma boa lutadora, eu tenho que admitir – falei perto do ouvido dela. – Mas eu te ensinei todos os movimentos que você conhece, Carlisi. Te falei que você é previsível na luta, usa a mesma sequência sempre que pode.
A segurei com uma só mão e usei meu corpo para imobilizá-la enquanto tirava o pano do meu bolso. Meu peito rasgou com culpa e nojo por estar fazendo aquilo com ela.
- Eu vou te odiar para sempre, – sussurrou, virando o rosto para me olhar por cima do ombro. – E vou garantir que nenhum recurso seja poupado para acabar com você.
Eu também vou me odiar para sempre, foi o que eu quis dizer.
- Essa é a minha garota – fingi debochar. – Vou adorar te encontrar em uma sala de tortura, mia cara.
O apelido surtou o efeito que eu queria e fechou os olhos, desviando o olhar do meu para a parede em sua frente. Encostei a testa na nuca dela e fechei os olhos enquanto tentava silenciar minha luta interna sobre fazer o que eu estava prestes a fazer, mas a razão venceu a batalha. Desenrolei o pano do plástico e encostei o tecido do rosto dela. Sua falta de resistência só deixou claro o quanto eu a tinha destruído com essa mentira.
- Sinto muito, – sussurrei, encostando a boca em sua têmpora.
Seu corpo amoleceu contra o meu quando ela inalou o suficiente do clorofórmio e deixei o pano cair no chão para poder pegá-la no colo. Tentei não olhar demais para ela quando a deitei no sofá, mas me permiti um último momento para admirar o rosto que iria me atormentar pelo resto da vida. Escovei sua bochecha úmida com o polegar e senti a maciez da sua pele pela última vez. Eu poderia ter escolhido o caminho mais fácil ao não ter mentido, mas ela teria que trair a Outfit para me ajudar a fugir e era tão leal a sua família que isso acabaria com ela. Ela me esqueceria com o tempo, mas não era tão fácil trair o próprio sangue e precisar viver com isso.
- Adeus, mia cara – sussurrei.
Saí do escritório sem olhar para trás. Não olhei para o homem morto que concretizava minha vingança, nem olhei para a mulher desmaiada no sofá que significava minha ruína. Arrumei o paletó, me certifiquei que os sapatos não estavam sujos de sangue e desci as escadas, passando pela sala cheia dos meus inimigos que ainda não sabiam que um traidor estava calmamente entre eles. Avistei o Chefe do outro lado do salão e quase sorri. Ele nem se quer imaginava o que a Hells Angels estava preparando para a Outfit com as preciosas informações que eu dei. O meu acerto de contas com ele seria pior que a morte rápida que Leon teve.
Quando saí da mansão e entrei no meu Bugatti, acelerei o mais rápido que o carro permitia e fugi de tudo. Eu não era mais um homem feito, não era mais parte da única vida que eu conhecia. A tatuagem da Outfit no meu antebraço direito havia sido queimada horas antes da festa. Estava deixando tudo para trás, exceto o fantasma da mulher que eu quebrei, que me acompanharia onde quer que eu fosse.
Fim
Nota da autora: PARA QUEM ESPERAVA FIC DE CRÉPUSCULO: SINTO MUITO! Eu tentei escrever, tá? Essa música só me lembra da saga, mas não consegui gostar das ideias que eu tive, então me perdoem. Ainda assim, espero que tenham gostado da história porque eu estava louca para escrever alguma coisa com essa temática e achei que decode se encaixou muito bem. Não deixem de falar o que acharam!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.