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PRÓLOGO

Brasília, 26 de julho de 2017
O vento forte batia em seu rosto, refrescando-o e secando as lágrimas que insistiam em descer pelos olhos castanhos. Os tons de rosa, azul e roxo do céu evidenciaram a chegada do dia. Já fazia certo tempo que estava ali; sentada no parapeito daquele edifício, mesmo não entendo o que fazia naquele momento, continuou ali. Uma tristeza gigante invadia seu corpo, dominando cada célula. O ar já não parecia mais chegar a seus pulmões por mais que continuasse a respirar fundo. Seu mundo havia desabado, como um castelo de cartas levado por uma corrente de ar.
A saudade no peito era a maior de todas as dores ali presentes: o vento gélido que cortava sua pele, a garganta seca sem fala e coração estraçalhado não se comparavam à dor da saudade dele, nem nunca iriam.
Chorava por tudo: por , pelo o que viveram e, especialmente, o que poderiam ter vivido. É de tanto quanto estranho, lamentar-se por um futuro incerto, mas nunca foi a mais normal das pessoas. Chorava pelo nojo de estar chorando e por ainda amá-lo mais do que qualquer coisa no mundo.


Parte 1: Quando o frio vem nos aquecer o coração

Brasília, 26 de julho de 2017
A noite cortava minhas costas sem perdão algum, na medida em que o tempo passava no velho banco de madeira sobre a porta de . Tudo se tornava mais gelado. Infelizmente, eu não tinha nenhuma desculpa para estar ali. De verdade, nem bêbada ou algo do tipo, eu só estava ali, sentada e à mercê do vento. É altamente provável que eu pegue um resfriado por me jogar no sereno. Mais uma corrente de ar passa e com ela a dúvida se vai também. Eu, sem dúvidas, ficaria doente.
- ? – Ouviu uma voz longe cortando o silêncio da noite – O que faz aqui?
- Ah, essa é uma boa pergunta, dona Cristina – Dei um leve sorriso, passando as mãos por meus braços em uma tentativa de me aquecer – Nem eu sei ao certo.
- Está esperando pelo em um frio desses?
- Ah, não, não – A senhora franziu as sobrancelhas, como se soubesse a verdade por trás das minhas mentiras.
- Tem certeza? – Indagou – Eu acabei de vê-lo saindo, nós nos encontramos no corredor, deve estar por perto, você ainda pode conseguir alcançá-lo. – Aconselhou - Parecia muito cansado, deve ter trabalhado o dia inteiro.
Ouvir notícias de em tanto tempo era, no mínimo, estranho. Afligia-me de maneira inexplicável, gelava mais do que o começo do inverno em Brasília e deixava minha boca mais seca do que qualquer grama na estiagem.
Eu queria chorar, desabar no velho banco, gritando para o mundo a saudade , mas, talvez, o medo de que minhas lágrimas congelassem era, definitivamente, o que me impedia de tal ato. A pior parte, era que meu coração se quebrava ao ouvir que não estava bem, por instantes desejei correr atrás do garoto, mas já não cabia a mim tal papel.
- Tenho sim. A gente não está mais junto, não.
- Ah, querida. Eu não fazia ideia.
- Tudo bem – Ri.
- Eu sei que terminar um relacionamento pode ser horrível, mas você tem que dar a volta por cima, menina – Tentou me consolar – Vá para casa, descanse. Amanhã será um dia melhor, eu garanto.
- O negócio é dar a volta por baixo – Cristina me dá um olhar atravessado, com se não entendesse nada do que eu estivesse falando – É porque por cima não tá mais dando – Sua expressão fácil permanecia a mesma, fazendo com que o sorriso travesso que se instalara em meu rosto fosse embora. – Foi uma piada.
Dona Cristina sempre foi uma mulher muito séria e fechada, porém todos nós sabíamos de seu excelente coração. Nunca gostava de minhas piadinhas pelos corredores e reuniões dos moradores do prédio, se não fosse por eu teria parado com as gracinhas, porém para ver o sorriso lindo que ele carregava, eu seria capaz de qualquer coisa, até mesmo encher o saco de uma velhinha.
- Ah sim. De qualquer maneira, , você deve ir.
Levantando-me do banco, coloquei a mão sob seus ombros e agradeci por tudo. A senhora me sorriu de volta empaticamente. Meus olhos se fecharam quando o vento voltara a bater em meu corpo, não podendo deixar de desejar por um casaco pela milésima vez naquele dia.
Estive parada por tanto tempo no banco que não fazia ideia de que horas eram, por isso puxei o celular do bolso rapidamente. O fundo de tela ainda era uma foto nossa. me abraçava naquele dia quente de verão, enquanto eu sorria de olhos fechados devido à intensidade do sol. Sempre foi a minha favorita, fazendo com que fosse uma questão de tempo para que as lágrimas voltassem a percorrer meu rosto.
Como choro instantâneo havia me impedido de reparar nos números que marcavam o relógio, eu ainda não fazia ideia da hora, mas já não era de muita importância. Olho para cima e reparo que o céu tão azul turquesa da noite já estava tomando tons mais claros. Ou seja, era perto do amanhecer.
Corri desesperadamente, no aperto da saudade. Eu sabia que a culpa era minha, mesmo que subentendido, inconscientemente, eu sabia que coisa pegava pro meu lado. Afinal, a escolha era minha.
Antes que eu me desse conta do que estava fazendo, o telefone já estava na minha mão e iniciando a chamada. atendeu no terceiro toque.
- Alô? – Sua voz era rouca, cortava meu coração em pedaços através do cansaço que transmitia, fazendo que eu não conseguisse nem ao menos falar. Eu tentei, mas nada saia da minha boca seca ? Me diz que é você, pelo amor de deus. – Prendi a respiração. – - Se for você mesmo que estiver aí, eu só queria te dizer que...
Sentir um nó fechar em minha garganta, com os olhos instantemente marejados. Respirando fundo sem saber o dizer. Estava a um segundo de me pronunciar quando algo gélido se contrastou com o quente do meu corpo.
- Passa o celular, gata. - Nunca pensei que pudesse ficar mais pasma do que ao ouvir a voz de depois de tanto tempo, mas a sensação de ser assaltada dava sentido a uma enorme classe de palavrões.
Minha garganta havia se tornado seca, me sentia desesperada, com uma vontade enorme de correr, gritar, fugir.
Desliguei a ligação, para que não corresse nenhum risco e com toda a calma do mundo, o entreguei para o homem, me afastando imediatamente. O rapaz era incrivelmente mais forte do que eu, até mesmo que , por isso, não foi lá muito difícil me prender em suas mãos, me puxando de volta ao meu lugar de início pelos cabelos, ao mesmo tempo em que seu revolver ainda era apontado para minha cabeça.
Podia sentir sua respiração cravar em meu pescoço, mas ao mesmo tempo não conseguia sentir nada além de nojo. Guardara a arma em seu quadril, agora me jogando contra uma das árvores que existiam entre os prédios. Minhas mãos presas por sobre a cabeça se debatiam constantemente na medida em que o homem se aproximava. E então, pude olhar tudo:
Seu piercing na sobrancelha, pele extremamente branca e seus olhos verdes com cores que se assemelham àquelas de lápis de cor.
Vovó sempre dizia que homens de olhos verdes não são confiáveis, mas eu sempre achei que ela só dizia aquilo por conta de meu avô.
Bom, fazer o que. Dessa vez, vovó estava mais do que certa.
- Se eu não tivesse tanto pra fazer – Riu – Eu te comia agora mesmo, sorte tua, vagabunda – Voltou à arma ainda mais forte contra mim. – Eu poderia te matar, sabia?– Segurou minha face com força.
Lágrimas desciam no intervalo dos soluços e o vermelho, que já ocupava meu rosto há muito tempo, agora já o havia dominado. Minhas mãos eram trêmulas pelo pensamento da incerteza, vendo minha vida toda passando diante dos meus olhos, pois a morte era nítida. Daria de tudo para ver novamente, abraçá-lo, admitir tudo.
Ah, céus.
E foi naquele momento que eu prometi a mim mesma que se saísse dali, correria pra casa de . E faria tudo, tudo mesmo, se eu ainda tivesse jeito.
Meu deus, como eu queria aquele homem.
Mais do que qualquer coisa no mundo.
- Mas hoje é seu dia de sorte – Rangeu o rapaz – Eu tenho mais o que fazer.
Desabei no chão, tempos depois que o homem já havia ido embora, chorando. Não pelo celular levado e sim pelo medo. Quando sua vida passa diante dos seus olhos, uma coisa engraçada acontece: você se arrepende de tudo o que poderia ter vivido e não viveu.
A frase mais clichê de Chaplin diz isso: a vida é uma peça de teatro. E minhas cortinas ainda não haviam se fechado, precisava ir atrás de .


Parte 2: Quando a noite faz nascer a luz da escuridão

O céu antes repleto de nuvens da capital do país, agora se encontrava sem nenhuma devido à época de seca. Só uma imensidão azul, sem contrate com nenhum prédio. Só árvores, árvores, árvores... O verde intenso que ocupava o gramado, agora abandonara seu posto e deu lugar aos tons de marrom claro misturados com os do barro vermelho que coloria a terra.
Peculiares pensamentos invadiam minha a cabeça a cada instante, intercalavam-se entre o trabalho e como a toalha embaixo de mim era desconfortável. Certifiquei-me de que, na próxima vez que fosse ao Parque traria algo mais confortável e, quem sabe, até traria a rede da casa da minha avó. E como certeza, traria mais comida. Meu estômago roncava de fome já fazia um tempo, mas a preguiça era o suficiente - e um pouco mais além – do que eu precisava para não fazer nada a respeito.
Fechei os olhos por um curto período de tempo e, tudo que consegui pensar foram obrigações que me aguardavam quando a realidade batesse à minha porta. Estava tudo bom demais, tranquilo demais. O trabalho exigia mais de mim que em o todo período de minha estadia na companhia. Estava tão cansada que resolvi tirar as férias logo, e agora que eu finalmente tinha conseguido a aprovação da diretoria para tal feito, só pensava no trabalho.
Precisava me livrar daquela escravidão de alguma forma. No instante seguinte, uma bola atingiu-me a cabeça com força total, o que fez com que meu livro parasse diretamente no chão e me sujasse por inteiro.
Ótimo – resmunguei.
Minha expressão facial não estava das melhores no momento. E com toda certeza era possível afirmar que o semblante fechado e minha cara de poucos amigos espantariam qualquer um que tomasse a ousadia se direcionar a mim.
Agachei-me para pegar o que havia sido derrubado, direcionando o olhar à quadra de areia, de onde vinha um rapaz em direção à bola. Quando a distância já não separava o homem e o objeto, ele se voltou para mim:
- Sinto muito pela bolada. – disse - Eu falei para o Felipe não jogar forte – Apontou em direção à quadra – Só que o troglodita não escuta. De qualquer jeito, desculpe. Posso lhe fazer algo para compensar o susto? - Sorriu – E o livro sujo. – Complementou.
- Não, você não pode.
- Certo, desculpe.
Voltei minha atenção para o livro e fingi que estava lendo, a fim de que o rapaz fosse embora e quando meus desejos viraram realidade, finalmente pude ler. Após alguns minutos mergulhados naquela densa literatura, dei um descanso a mim mesma e passei a observar os garotos à minha frente.
Jogavam vôlei animadamente. Havia ao todo quatro garotos naquela quadra em específico, um dos rapazes chamara minha atenção por uma ilustre tatuagem em suas costelas, totalmente a mostra, já que o homem não trajava nenhum tipo de vestimenta na parte superior de seu corpo. Segundos posteriores aos que fiquei tentando decifrar as letras, consegui visualizar uma espécie de garrancho das palavras em inglês: Be Brave.
Ao ver que estava observando, o rapaz acenou para mim que prontamente ignorei, voltando minha atenção para o meu livro.
Céus, o que eu estava fazendo da minha vida? Tinha que parar de ser tão mal educada. Desistindo de ler, peguei meu Ipod selecionando o modo de reprodução aleatória e automaticamente sorrindo ao reconhecer os acordes de Wonderwall. O dia estava tão lindo e sol tão forte quanto os olhares que recebia dos rapazes do vôlei. Revirando os olhos, me deitei cuidadosamente sobre a toalha.
Quando, depois de uns três minutos, a canção se encerrou pude sentir uma cutucada na minha bochecha direita.
- O que foi agora? – Disse seca, tirando o fone da minha orelha esquerda e permanecendo com olhos fechados.
- Tia ! – Abrir, então, meus olhos rapidamente ao reconhecer a voz da criança e me amaldiçoei mentalmente por ter sido grossa com a menina.
- Oi, meu amor! – Sentei-me, ficando frente a frente com a garota e em seguida a abracei – Há quanto tempo não te vejo, pedaço de gente. O que faz aqui?
- Estou com meu tio e a namorada dele – Fez uma careta ao terminar sua frase, o que me fez suspeitar que Mia não gostasse nem um pouco da companheira que o tio arrumara.
- E onde eles estão, linda?
- Ali – Apontou para um banco atrás delas, que pertencia a barraca que era responsável pela venda de frutas no parque, em especial melancias, onde se encontravam o cara da bola e uma bela jovem. Tranquilizei após me dar conta que a garota não se perdera de sua família – Eu estava com o Titio e a Margô e então, nós paramos por aqui e eu te vi. - Mia sorriu, fazendo uma breve pausa, porém continuou logo em seguida - Aí eu perguntei para o Titio se eu poderia vir aqui para falar com você e ele disse que estava tudo bem desde que não demorasse muito, eu perguntei também se eu podia te chamar para a minha festinha de aniversário que é semana que vem.
- Claro que eu vou para a sua festinha, meu amor. – Respondi alegre com o convite – E qual vai ser o tema? – Perguntei – Espera, posso adivinhar? - Mia concordou com um aceno positivo de cabeça. – Vai ser de bailarinas? – Disse e Mia negou da mesma forma que tinha me dado permissão para que tentasse adivinhar o tema de sua festa. – Como assim? Eu achei você amasse balé nesse tantão! - Exclamei em um falso tom de dúvida e abri meus braços de forma exagerada, fazendo a garotinha rir.
- É que eu quero ser a única vestida de Bailarina, Tia ! – Explicou – E o tio me deu a ideia de fazer uma festa à fantasia!
- Festa à fantasia? – Perguntei surpresa.
- Aham – Confirmou – E se você quiser, pode levar o seu namorado.
- Mia – Ri – Eu não namoro mais.
- Por que não, Tia ? Achei que você gostasse dele.
- E eu gostava, Mia. É que, às vezes, os relacionamentos não dão certo. – Expliquei paciente. – É normal.
- Entendo, Tia . Então, eu deixo você levar alguma amiga.
- Pode deixar, linda – Sorri
- Promete que vai?
- Claro que sim, Mia. Eu não perderia um acontecimento tão importante da minha bailarina favorita! – Disse sincera – Agora, vamos lá com o seu tio que eu quero saber tudo certinho para eu poder ir a sua festinha.
Levantei e em seguida peguei a mão da garotinha, caminhando com ela em direção à sua família. No caminho, Mia ficou encarando uma grande Melancia de uma barraquinha de frutas e eu não pude deixar de soltar uma leve risada. Continuamos andando até chegar ao cara da bola, que aparentemente, se chamava . A vida tem umas coisas engraçadas, eu gostaria de estar reclamando da infeliz coincidência até ficar sem voz, mas era por Mia, e por aquela garotinha tão doce, eu faria do inferno paraíso.
- Oi, meu nome é , antiga professora de balé da Mia – Cumprimentei a jovem sentada ao lado do rapaz com um aperto de mão e em seguida o mesmo.
- Oi, de novo. – Riu – É sério, eu realmente sinto muito pela bolada. Culpa daquele cara ali – Indicou o homem da tatuagem que observei anteriormente e que me acenou pela segunda vez naquele dia. - Não sabia que você e Mia se conheciam.
- Não se preocupa com isso, de verdade. Eu costumava jogar vôlei no time da escola e se eu fosse penalizada por cada bola fora, eu teria sido expulsa de lá. – Brinquei. - Mas, pois é, Mia me falou sobre a festa dela na semana que vem, não é mesmo, gatinha? – Sorri para a garota.
- Então, vamos fazer assim. Você me dá o seu número e eu envio a foto do convite para você por mensagem, o que acha?- Acabei esquecendo o celular hoje, só consigo fazer qualquer coisa em casa.
O que eu achava? Era extremamente irônico.
- Você algum papel aí?
- Bom, tem esse panfleto – Esticou a mão para entregar-me e no instante seguinte tirei a cante que prendi meus cabelos anotando, então, o meu telefone no papel.
- Obrigando, . A gente se fala, prometo não esquecer. Afinal, essa baixinha me mataria- Deu uma cutucada em Mia.
- Então, agora é minha deixa – Falei– Obrigada pelo convite, pequena.
- De nada, Tia – A garotinha deu breves passos em minha direção e então abriu seus pequenos bracinhos para me envolver em um abraço, o que não ocorreu como o planejado dentro da cabeça da menina, já que sua baixa estatura a impediu de envolver-me por inteiro naquele gesto de afeto. Por isso, Mia abraçou minhas pernas, fazendo com que a mesma abrisse um leve sorriso – Promete que vai, Tia ?
- Claro que sim, amor – Respondi– Agora, eu tenho que ir. - Com um olhar ligeiramente chateado, Mia me soltou. – Foi um prazer conhece-la, Margô.
Já um pouco mais a frente, virei de costas e acenei demoradamente para a garotinha. Havia um dilema em minha mente. Ir ou não a festa de Mia? Não estava a fim, mas em compensação iria ter doces à vontade e ainda teria a companhia de Roberta, mãe de Mia. Porém a mulher iria ficar muito atarefada no decorrer da festa, e é claro teria que dar atenção a todos os convidados presentes. Não sobraria muito tempo para mim... Por outro lado, se comparecesse a festa poderia trazer Lara para se juntar às outras crianças.
Deixei aqueles pensamentos de lado no momento em que vi um carrinho de algodão doce em minha frente, mordi levemente o lábio inferior como se aquele pequeno gesto pudesse controlar minha vontade de comê-lo, ou até mesmo controlasse alguma ação futura que eu pudesse vir a tomar. Olhei para os dois lados com o intuito de ver se alguém prestava atenção e antes que pudesse continuar os movimentos, um pensamento invadiu minha cabeça: Não importa o que as pessoas vão pensar.
Olhei novamente para a ciclovia, mas dessa vez com o intuito de ver se ninguém com um par de patins ou mesmo uma bicicleta, estava passando ali pelo momento. Com o caminho livre, atravessei indo em direção ao homem.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa ao responsável pela máquina, senti uma mão em meu ombro.
- Posso te compensar te pagando um? Vi que você estava indo comprar e pareceu a coisa certa a fazer.
- Eu já te disse que tá tudo bem.
- Você pareceu tão mal-humorada antes. – Passou a mão pelos cachos dos cabelos – Não queira ter te deixado assim.
- Mas não o foi o seu amigo? – Ri.
- Mas, quem não pegou a bola fui eu- Justificou-se e eu lhe dei um olhar torto.
- Você era levantador, não era sua função pegar o saque.
- Certo, você me pegou. – Sua pele branca mostrou suas bochechas avermelharem-se – Eu gostei de você, . – Franzi minhas sobrancelhas e não pude evitar olhar para o lugar em Mia e Margô se encontravam, me perguntando qual era o problema daquele cara. – Ah, certo. Ela não é minha namorada.
- Não?
- Mia acha que todas as garotas que andam comigo são minhas namoradas. Somos só amigos. – Continuei calada por um tempo. – Ainda não te convenci, né?
- Não muito – Ri - Mas eu aceito sua oferta de paz.
Após fazermos nossos pedidos e o homem os entregar, uma pequena pulga se encontrava atrás da minha orelha.
- Você está com seu celular bem aí, não está?
- Eu te vejo na festa, – Sorriu para mim.

Brasília, 26 de janeiro de 2017
Lágrimas acompanhavam minhas memórias e meus passos na medida em que eu fazia todo o caminho de volta. Foi naquele dia, daquele jeito, que eu havia o conhecido. Desde então, nunca mais nos soltamos.
Até agora.
Rapidamente, já estava no prédio de , falando com o porteiro.
Eu queria tocá-lo, sentir o calor de sua pele junto à brisa do inverno, sentir o cheiro dele que me desarmava e entorpecia de uma vez só. Ter de volta a sensação de poder fazer cafuné nos caracóis dos seus cabelos. Mas estava tão longe, mesmo que só uma porta nos separasse agora, o abismo parecia muito maior.
Por isso, corri para o terraço do edifício, com medo de que, mesmo naquela altura da noite ele resolvesse sair de casa. Posso dizer que conhecia muito bem aquele caminho de tantas vezes que a sujeira de nossos sapatos foi deixada por lá. Afinal de contas era um local muito bonito. Com ou sem ele.
Já lá no alto, vento forte batia em meu rosto, refrescando-o e secando as lágrimas que insistiam em descer pelos meus olhos castanhos. Os tons de rosa, azul e roxo do céu evidenciaram a chegada do dia. Já fazia certo tempo que eu estava ali; sentada no parapeito daquele edifício, mesmo não entendo o que fazia naquele momento, continuei ali. Uma tristeza gigante invadia meu corpo, dominando cada célula. O ar já não parecia mais chegar aos meus pulmões por mais que continuasse a respirar fundo. Meu mundo havia desabado, como um castelo de cartas levado por uma corrente de ar.
A saudade no peito era a maior de todas as dores ali presentes: o vento gélido que cortava minha pele, a garganta seca sem fala e coração estraçalhado não se comparavam dor da saudade dele, nem nunca iriam.
Chorava por tudo: por , pelo o que vivemos e, especialmente, o que poderíamos ter vivido. É de tanto quanto estranho, lamentar-se por um futuro incerto, mas eu nunca fui a mais normal das pessoas. Chorava pelo nojo de estar chorando e por ainda amá-lo mais do que qualquer coisa no mundo.
E era justamente esse o problema.
Havia cerca de um mês que tinha me declarado para . Não, não pense que foi proposital, longe disso. Era uma briga, daquelas normais, até a minha falta de inteligência atrapalhar tudo.
Já não lembro mais o que o rapaz tinha me dito, só sei que respondi algo como “Eu te amo, porra!” E então, ele agira como se nada tivesse acontecido, me ignorando desde então. Sem encontros, muito menos mensagens.
Não tinha outra escolha se não sumir. Sumir da vida dele, fazê-lo sumir da minha. Não me leve a mal, eu sei que o rapaz não tem obrigação nenhuma de me amar ou algo assim. Depois de todo esse tempo, indo ao nosso banquinho fazendo tudo sozinha eu percebi isso. E por essa razão eu estava aqui. Para dizer a ele que tava tudo bem se ele não me amasse de volta.
Mas não hoje.


Parte 3: Quando a dor revela a mais esplêndida emoção: o amor!

Brasília, 29 de janeiro de 2017
Minha cabeça doía como se tivessem elefantes pulando lá dentro ou, talvez, como o resultado de um dia cercado por estresse. O que é pouco provável, é claro, se tivesse que apostar em algo, eu iria com os elefantes.
E tudo o que eu conseguia pensar eram em como a minha dignidade estava prestes a ir por água abaixo. Arrumando meu cabelo para sair, tomei rapidamente o meu remédio. Estava indo tudo bem durante os trinta minutos que antecederam minha decisão de ir conversar com o rapaz até o momento em que a campainha tocara. Jurei para mim mesma, naquele instante, enfiar a mão na cara de quem quer que fosse me atrapalhar naquele momento tão crucial.
- Já vai - Resmunguei, terminado de calçar meus sapatos.
Fui abrir a porta com a minha melhor cara de poucos amigos acompanhada de um semblante mais do que fechado, mas toda a máscara se dissolveu no momento em que o vi encostado no corredor e com uma singela rosa na mão. Seu cabelo era bagunçado e eu nunca tinha visto tão destruído. Suas roupas estavam tão amassadas, olheiras profundas, barba por fazer o que me fazia perguntar que ele andava fazendo de sua vida.
- Que porra é essa? – Disse.
- Você vai sair? – Falou, analisando meu corpo dos pés à cabeça.
- Eu ia.
- Ótimo – Retrucou, já entrando em mim casa e se sentando no sofá. – Eu preciso falar com você, – Sua voz já era de choro - E eu não vou sair daqui enquanto você não ouvir.
Ah, não
- Eu percebi que sentia a sua falta porque todas as vezes que eu pensava em você era como se meu coração estivesse partido ao meio. E, , sinceramente, é impossível não me lembrar de você: seu cheiro tá impregnado por toda a casa, tem milhares de coisas suas no banheiro, dvds pela sala, roupas no meu armário – Passou a mão por seus cabelos – Eu também percebi que eu não ligo para onde eu estou dormindo, desde que seja com você. Minha cama parece mais um acúmulo de espinhos porque você não tá mais do meu lado. Eu também percebi que eu já não estava mais em casa porque eu descobri que eu só me sinto em casa se você tá lá também.
O que estava acontecendo?
- Ninguém nunca parou para me perguntar como eu me sentia. Se eu estava sofrendo, ou até mesmo livre. Eu estive vivo, mas não vivendo. Não até você, . Mas, então, você me disse como se sentia em relação a mim, a nós. E eu não conseguia dizer. Céus! – Exclamou. - Simplesmente não sai nada por mais que eu te amasse com todo o meu coração. – Minha cara de extremo espanto fez com que o rapaz risse e se levantasse, vindo em minha direção – É verdade, amor, eu te amo mais do que tudo – Levantou meu queixo fazendo com que eu olhasse para o mais profundo de seus olhos. Eu te amo.
Depois de tanto tempo, eu senti seus lábios nos meus formando a sintonia de um beijo. Com a pressa da saudade, me devorava por inteira e eu não sabia mais meu nome. Em meio a nossas roupas jogadas pelo chão de minha casa o homem disse: - Você não ia sair?
- Ah, não, não – Disse, mesmo com a respiração falha – Eu vou a lugar nenhum.


FIM



Nota da autora: Obrigada por ter chegado até aqui! Um beijo e até o próximo ficstape.
Citações e Referências:
One Direction - Night Changes
Jorge Vercillo - Fênix
Scracho- Dívida Comédia

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