Capítulo Único
Assim que deu o último trago em seu cigarro, Gabe o avistou. Deitado no banco de reservas, o iPod pendia sobre seu rosto, iluminando-o. Sua expressão era sisuda, e seus cabelos caídos pela sua testa estavam ainda mais loiros decorrentes da luz. Como fios de ouro. Seu peito nu descia e subia calmamente, mas as pernas balançando freneticamente deixavam evidentes o seu nervosismo. Era quase um anjo, pensou Gabe, pegando-se sorrindo enquanto brincava com seu piercing no lábio, passando a língua sobre a gélida joia. Repetia o ato sempre que estava nervoso também.
- Ei, lobinho, o horário do treino já acabou tem quatro horas. – Gabe anunciou sua chegada, fingindo consultar um relógio imaginário em seu pulso.
Ariel deu um pulo no banco, sentando-se ereto e tirando os fones do ouvido. Desvincou a testa assim que percebeu quem estava ali, abrindo um sorriso largo e sincero.
- Gabes! – o cumprimentou, se afastou um pouco no banco, dando-lhe um lugar ao seu lado para sentar. O amigo se encaixou perfeitamente ao seu lado. – Acho que você está um pouco atrasado então...
Gabe soltou uma risada leve, empurrando-o pelo ombro de brincadeira. Um silêncio momentâneo caiu entre os dois. Calmamente, Ariel encostou a testa no ombro do amigo.
- Fiquei sabendo sobre o que aconteceu... – Gabe disse, voltando a brincar com o piercing no lábio.
- Você sempre sabe. – Ariel deu de ombros.
- Eu sei, o General é um idiota.
- Ele é um idiota – concordou.
- Eu só não estou numa boa fase, sabe... Eu posso melhorar. – Ariel começou a se explicar, o hálito quente batendo no ombro de Gabe. Àquela altura, seu piercing estava quase saindo do seu lábio.
- Você é ótimo. Ele sabe que não temos chance sem você.
- Você é meu amigo, é óbvio que pensa assim... – Ariel bufou, frustrado. – Eu não defendi nenhuma bola hoje. O General tem razão... Eu já fui muito melhor.
Gabe rolou os olhos, deslizando com cuidado seus ombros e ficando de frente para Lobo.
- Ariel Wolf, me escuta – pediu com cuidado e os cantos dos lábios dele se esticaram sutilmente. – Todo mundo tem seus dias de glória e seus dias de luta. Foi só um treino ruim, isso não anula os últimos três campeonatos que fomos campeões porque você defendeu todas as bolas possíveis no mundo. O General só está nervoso porque jogaremos com o Sherlock Holmes no próximo jogo.
Ariel torceu o nariz e Gabe não conseguiu evitar e contou as três pintas que ele tinha ali. Adorava todas as três.
- Você é o melhor amigo desse mundo! - Ariel se desfez da careta com um sorriso de orelha a orelha, jogando-se nos braços de Gabe.
Nesse breve segundo, o interior de Gabriel se congelou. Claro, ele era um ótimo amigo. Um amigo ótimo. Amigo. Ótimo.
- Até seu pior inimigo concorda que você é o melhor goleiro do Tim Burton.
- Não tenho inimigos. - Ariel apontou. - General até poderia ser um em potencial, mas não somos inimigos.
- Às vezes esqueço que você é o senhor Simpatia... - Gabe rolou os olhos.
- Isso é ciúmes? - Ariel o cutucou.
- Isso foi uma observação. Agora vamos embora antes que os seguranças nos achem aqui. - Levantando-se e puxando Ariel pela mão, Gabe começou a correr pelo campo. Ciúmes?
A noite estava abafada. O verão daquele ano estava castigando os alunos da Academia Tim Burton que eram obrigados a se recolherem aos seus aposentos às 23h00. A solução era ficarem nus, jogados no piso frio do dormitório. E, ainda assim, era apenas um alívio momentâneo.
Ainda assim, jogarem-se no chão e suar era quase como lei para Gabe e Lobo. Eram somente os dois dividindo o dormitório e como possuíam pouquíssimas aulas juntos, dispondo de pouco tempo juntos (porque, honestamente, quem consegue conversar num treino de futebol?), usavam do tempo sozinho no dormitório para conversarem. Era algo íntimo e somente deles. Poderia ser extremamente bobo, mas era a hora preferida de Gabe no dia. Ficava ansioso para contar sobre o seu dia para Ariel e para ouvir as palavras suaves e divertidas do amigo.
E ele não era o único que passava as outras 23 horas restantes do dia ansioso. Ariel contava cada segundinho para poder se sentir ele mesmo, poder compartilhar toda a pressão pela qual passara durante o dia (porque, quando se é inseguro, a pressão nunca passa, ela é uma constante em sua vida), e então ouvir as palavras de apoio de Gabe. Ou apenas a sua risada, seguida de um balançar de cabeça e um: “Você se cobra demais, Aris, mas é perfeito. Confia em mim.”
- Você está esperando eu falar, não está? – Gabe sorriu, lambendo os lábios e demorando-se um pouco no piercing. Fitava o teto branco-gelo do quarto, as gotas de suor brotando em sua testa e grudando seus fios morenos na testa.
Ariel o encarava. Estava apoiado em seu cotovelo, a cabeça em sua mão. Os cabelos molhados ainda do banho, penteados para trás. Esse sendo o motivo pelo qual Gabe analisava o teto, não o amigo.
- Falar o que, Gabes? – então, ele riu e foi quase impossível não olhá-lo. Os olhos azuis de Gabe faiscaram na direção dele e ele alargou ainda mais o sorriso. Se fosse biologicamente possível, rasgaria o canto de seus lábios.
Uma gota de suor inconveniente desceu pela lateral do rosto de Gabe, agora com a cabeça levantada, e caiu em sua clavícula.
O olhar de Ariel acompanhou-a, em câmera lenta. Detendo-se na regata branca que o amigo usava. Eram raras as vezes em que Gabe ficava somente de cueca junto com ele, Ariel reparou. Ele possuía um corpo tão bom quanto o seu e não havia motivos para ter vergonha. Por um breve segundo, a ideia de que ele não se sentia à vontade, talvez, porque Ariel não era como ele, lhe passou a cabeça. Afinal, não deveria ser ao contrário? Ele se sentir incomodado em ficar seminu na frente de Gabe?
Não. Claro que não!
Ariel balançou seus fios de ouro, espantando tamanho pensamento nojento e preconceituoso. Ele não se importava com aquilo e sempre se sentiu à vontade com Gabe.
Apenas lhe entristecia que Gabe não se sentisse à vontade com ele. Teria eu feito alguma coisa de errado?, se perguntou.
- Falar o que você já sabe, lobinho. Mas finge não saber porque é bobo. - Gabe deu um peteleco no nariz de Ariel, trazendo-lhe de volta à realidade.
- Você sabe que eu sei, eu sei que eu sei, todo mundo sabe que eu sei. Mas, todo mundo também sabe que eu gosto de ouvir isso de você. Me dá confiança!
Ariel era quem tinha o apelido de lobo, mas o extinto de um estava completamente em Gabe. Queria pular em cima do amigo e lambê-lo inteirinho. Mas se conteve. Passou a língua no piercing, suspirou longamente e sorriu.
- Você é perfeito, Ariel. Não tem porque se cobrar tanto assim. Dane-se o General, e confia em mim.
Ariel pulou em cima do amigo, derrubando-o no chão e o abraçando desconfortavelmente.
- Você é o melhor amigo do mundo - disse, a voz abafada nos cabelos com um aroma agradável de shampoo.
Gabe conteve um suspiro.
- Eu sei, Ariel. A prova disso é que está um calor de 40 graus e eu não estou reclamando de você me sufocando.
Lobo rapidamente se retirou de cima dele, rindo, e deitou-se para encarar o teto.
Assim, somente ele soube do quanto suas bochechas ferveram naquele momento. E não era pelo calor.
- Gosto quando você me chama de Ariel - confessou, baixinho.
- E eu gosto de você, Ariel.
I want to lock in your love
A sensação era de que estavam mergulhados numa piscina aquecida embaixo de um Sol de noventa graus. Haviam adormecido no chão, com as janelas abertas, motivo pelo qual a luz invadia o quarto sem restrição alguma, fazendo-os suarem bicas e acordarem antes do esperado.
Gabe foi o primeiro a despertar. O sol queimando seu rosto o incomodou, e ao tentar levantar o braço para impedir a passagem de luz até ele, sentiu um peso em cima dele. Estava sonolento, então tentou levantar a outra mão e só então percebeu que agarrava alguma coisa.
Era o quadril de Ariel.
Gabe desviou o olhar para baixo, encontrando-o deitado em seu corpo, lhe imobilizando no lado esquerdo e permitindo que agarrasse o seu quadril.
Quando aquilo tinha acontecido? O desespero começou a dominar cada célula do corpo de Gabe quando a ideia de que, caso Ariel acordasse, era muito provável que o encontrasse numa situação nada agradável nas áreas baixas.
Talvez o sol alcançando o rosto de Lobo tenha ajudado a despertá-lo, mas Gabe estava convicto de que o seu coração espancando o seu peito, bem próximo ao ouvido dele, era o real motivo.
- Bom dia, Gabes! - Ariel abriu somente um olho, a voz rouca arrastada e sonolenta. - Está um calor do inferno aqui, não? - Fez uma careta, apoiando o queixo no peito de Gabe.
Gabriel soltou uma risada nervosa. Ariel era muito desligado. Ou talvez fizesse tudo calculadamente e de propósito? Não sabia dizer. Apenas odiava amar as sensações estranhas que ele lhe causava.
- Bom dia, Aris. - Mordeu o lábio em cima do piercing, causando uma dor gostosa. - O calor poderia melhorar se você saísse de cima de mim. E talvez eu voltasse a sentir o lado esquerdo do meu corpo também.
Ariel torceu o nariz, mas não fora a grosseria do amigo que o fizera sair de cima dele. A porta do dormitório abriu com um estrondo, revelando a sua explosão: Lisbela. Ou melhor: Liz, e nunca Bela. Os dreads preso com mágica em um coque e um copo de limonada em mãos.
- Eu falo, Ariel, que você ainda não se descobriu gay, mas falta pouco e você não acredita.
- Sem ofensas, mas se você pode dormir na mesma cama que as suas amigas, eu também posso dormir junto com o meu, independente dele ser gay ou não. Não vejo problema nisso. E outra, se eu for gay, qual é o problema disso também? Cruzes, Lisbela.
Ariel fez uma careta para a amiga antes de se enfiar banheiro adentro. Gabe deu de ombros, começando a pescar suas roupas perdidas pela cama.
- Credo, alguém acordou de mau humor – Liz brincou.
- Ele só está numa fase ruim. Você sabe como são... – Gabe rebateu à favor de Aris. O sorriso que Liz abriu dizia com todas as palavras que ela sabia dos sentimentos de Gabe por Ariel. Mesmo sem proferi-las em voz alta, Gabe soube.
- Mas então, vamos tomar café juntos? Temos duas horas livres até a primeira aula. Acordamos super cedo. – Liz elevou a voz para que Lobo escutasse de dentro do banheiro. Poucos segundos depois, ele enfiou a cabeça para fora da porta.
- Vamos roubar algumas coisas e ir pro jardim. Ninguém merece aquele refeitório mal cheiroso.
Gabe consultou o relógio no celular e coçou a nuca.
- Na verdade, eu vou me encontrar com... o Silas. – Suas bochechas adquiriram um tom avermelhado e ele abaixou o olhar.
- Boa, garoto. Assim que eu gosto, já começa o dia nas atividades. – Liz lhe deu um empurrão pelo braço e ele rolou os olhos, negando com a cabeça.
Ariel voltou para o banheiro sem se pronunciar.
- Lobo? – Liz o chamou.
- Que é? – a voz soou abafada devido a escova de dente que pendia em sua boca.
- Você vai comigo?
- Vou. Me encontre lá – disse simplesmente. Liz entendeu que ela não era mais bem-vinda ali. Soltou um suspiro e, após bagunçar os cabelos de Gabe, saiu pensando em qual roupa usaria no casamento deles.
Gabe ainda precisava usar o banheiro, então esperou que Ariel saísse para ele poder entrar. Encarou o clima estranho que se instalara no dormitório como um aviso de que Ariel precisava de espaço. E ele precisava. Enquanto o aguardava, o celular dele vibrou em cima da mesa e, por extinto, Gabe deu uma breve olhada. Samatha Davis, era o nome que constava no alerta do WhatsApp. O barulho do chuveiro lhe chamou atenção e então decidiu que mandaria uma mensagem para Silas avisando que chegaria um pouco atrasado.
Após breves cinco minutos, Ariel irrompeu do banheiro, trajando apenas uma toalha enrolada na cintura. Os cabelos loiros enegrecidos pela quantidade de água pingavam, fazendo as gotas descerem livres pelo seu abdômem definido. Era difícil não acompanhá-las, era difícil não focalizar os olhos em cada gominho daquela barriga. Era difícil ser melhor amigo de Ariel Wolf. Mais difícil ainda quando, iluminado pelos raios de Sol, seus olhos pareciam o próprio Sol e o seu sorriso, os raios que o iluminavam.
- Pode usar o banheiro, Gabes. – Ariel balançou a cabeça, jorrando água gelada em Gabe. Ah, como a mente dele fora longe naquele momento...
- Certo, ok, obrigado. – Levantou-se rapidamente e fora escovar os dentes.
- Então... Silas? – Ariel perguntou do outro lado da porta.
- Sim, você... não... o... conhece. – Gabe escovava os dentes e o respondia.
- Eu conheço todo mundo, Gabes. – Ariel rolou os olhos. – Só não estou lembrado do rosto dele.
- Ele faz aula de desenho comigo – respondeu, após lavar a boca e tentar arrumar os cabelos – que, no final, iriam ficar desgrenhados por conta do suor.
- Entendi... Espero que ele não roube o meu amigo igual o... Thomas – choramingou, tentando dar um ar de brincadeira às suas palavras, mas ele poderia tentar disfarçar o quanto quisesse, Gabe era seu melhor amigo e o conhecia muito bem.
- Ele não vai, Aris – garantiu Gabe, tentando conter o riso.
Assim que saiu, encontrou-o já vestido, porém apenas com uma bermuda jeans. Qual era o problema dele com blusas, afinal? Não era como se fosse permitido assistir aula com aquele abdômen amostra, distraindo todos.
- Te encontro mais tarde, então? Uma hora antes do treino? – Ariel quis saber.
- Com certeza, lobinho. – Gabe rolou os olhos, apertou as bochechas do inseguro Ariel e saiu para se encontrar com Silas.
No meio do caminho, o sentimento de vazio lhe atingiu. Era sempre assim: começava um pseudorelacionamento com um rapaz, mas nunca se sentia pleno. Era um vazio nível intergaláctico dentro dele.
O motivo era simples. Belos pares de olhos solares e sorrisos estrelados.
Suas pernas já funcionavam automaticamente tamanha a velocidade com que corria pelos corredores dos dormitórios masculinos. A garganta seca, os batimentos cardíacos sentidos na orelha e o suor caindo pela sua testa. Somente parou quando alcançou seu objetivo: o dormitório que dividia com Ariel.
O dormitório onde Ariel estava, provavelmente, maquinando a sua morte por tê-lo deixado esperando por uma hora na quadra e não ter aparecido para o treino. Por conhecê-lo há tanto tempo, Gabe sabia que ele era sentimentalista – até demais – e se tinham um compromisso, é porque tinham a porcaria de um compromisso. Esperava que o que havia conseguido para eles ajudasse a livrá-lo, pelo menos, de metade da culpa.
Abriu a porta devagar e fechou-a com o mesmo cuidado. Lobo estava deitado horizontalmente na cama, com os pés na parede e a cabeça para fora do colchão.
- Eu não vou pedir desculpas, quero te mostrar uma coisa e aí você decide se me desculpa ou não. – Gabe vomitou as palavras. Seu peito subia e descia aceleradamente. Ariel girou-se na cama, sentando com as pernas cruzadas e, com um ar desconfiado e bastante irônico, disse:
- Você é um péssimo amigo.
Gabe respirou fundo – para recuperar o fôlego e para reunir paciência para aquela conversa.
- Eu acho que você está se equivocando – disse divertido, esperando que causasse pelo menos uma risadinha em Ariel. Nada. A sobrancelha continuou erguida no maior ar desconfiado e a ironia ainda estava ali.
- Por que eu estaria? Você me deixou esperando por uma hora e me deixou sozinho pra enfrentar o General... de novo. Inclusive, não deveria ter te defendido quando o treinador começou a te xingar – Ariel resmungou como uma criancinha. Achou extremamente engraçado, mas não riu. Sabia o que estava em jogo ali. Ao invés disso, aproximou-se do amigo, abriu um sorriso e fitou-o com seus olhos azuis pedintes e... graciosos.
- Ariel... Não fiz de propósito, tive meus motivos. Será que dá pra me acompanhar? – finalizou com um beicinho.
Lobo se remexeu em seu próprio lugar. Nunca havia reparado no tom topázio dos olhos de Gabe... Eles poderiam ser bem convincentes quando queria.
- Motivos? Silas não é um bom motivo. – Limpou a garganta, expulsando, também, os seus pensamentos indevidos.
- Não foi por causa dele. – Gabe passou a língua no piercing levemente. Ariel acompanhou cada sutil movimento.
- Foi por que, então? – Cruzou os braços e descruzou as pernas. Os lábios tremiam para dar uma risada, embora não soubesse por que queria rir. Nervosismo?
Talvez.
- Nathan esteve aqui – confessou Gabe, obrigando-o a se desfazer da pose defensiva.
Ariel cravou seus olhos de chama em Gabe, analisando-o de cima abaixo como quem confere se você está com a integridade física boa. O amigo sentiu o corpo ferver, mas abanou a mão no ar como se aquilo não fosse nada e sorriu.
O maldito sorriso. Os malditos olhos.
- Ok, só vou porque foi realmente um bom motivo, mas vai ter que me explicar o que o seu irmão fazia aqui. – Lobo exigiu, cedendo à vontade dele e deslizando para fora da cama, e puxando-o pela mão. – Vamos pra onde?
Passavam-se das onze horas e a quadra ainda estava totalmente iluminada. Ariel, assim que percebeu, saiu correndo na frente de Gabe, arrancando a camiseta e alguns suspiros do mais jovem. Era realmente necessário tirar a camiseta toda maldita hora que estava em sua presença? Por um acaso ele era o novo Jacob? Gabe achava que não. Mas ele não se importava tanto... Talvez, nem um pouco.
- Tá fazendo teste pra crepúsculo? – Gabe brincou, pegando uma bola e jogando-a em direção a Ariel.
- Claro, só porque eu sei que você já conseguiu o papel da Bela. – Lobinho jogou a bola novamente para ele.
Gabe, em sua posição madura, mostrou-lhe a língua e mandou-o direto para o gol. Ele não era o melhor jogador, mas sempre conseguia fazer o pequeno lobo correr muito e suar mais ainda. Entre risadas, exigências e alguns gols, o treino fluiu por quarenta minutos até Ariel jogar-se na grama gelada, implorando por misericórdia e um copo de água.
- Eu preciso de água, Gabriel, você me deu uma canseira desgraçada hoje.
Diferente do que esperava, nenhuma piada com segunda intenção viera dele. Apenas lhe entregou a garrafa de água e sentou-se ao lado de Lobo.
- O General me deu maior esporro e... – Ariel começou um monólogo sobre o treino que Gabe havia perdido, mas seus pensamentos o levaram para algumas horas mais cedo naquele dia.
Tudo o que ele ouvia eram os berros acusatórios do irmão ecoando repetidas vezes em sua mente.
“VOCÊ É UMA VERGONHA. NOSSA MÃE NÃO MERECE TODA ESSA HUMILHAÇÃO.”
“SABE, FOI ATÉ MELHOR VOCÊ NÃO TER IDO À FESTA. ASSIM, EVITOU O CONSTRANGIMENTO DE TER QUE OLHAR PRA ESSA SUA CARA DE VIADO.”
“FOI ATÉ MELHOR NOSSO PAI NÃO TER CONHECIDO VOCÊ, PORQUE ELE PODERIA TER MORRIDO DE DESGOSTO AO INVÉS DO ACIDENTE.”
- Sua mente estava uma bagunça, era necessária apenas uma palavra de Nathan e toda a autoconfiança que possuía era destruída como o mais belo cristal ao se chocar com o chão. Ele sempre fora a rocha de Ariel, quando, na verdade, era ele quem precisava de uma rocha para se apoiar. E embora soubesse que sua mãe se orgulhava dele e Nathan apenas queria feri-lo, palavras magoam muito mais do que gestos.
Gabe voltou à realidade após escutar os estalos do dedo de Ariel em frente ao seu rosto.
- Poxa, será que esse Silas é tão mais legal do que eu que você não consegue nem prestar atenção em mim? - Ariel brincou, não obtendo resposta mais uma vez.
- Não é isso, Aris... – Gabe soltou um longo suspiro, sentindo um nó formar em sua garganta.
- Hey... Tá tudo bem? – Ariel perguntou baixinho, afagando suas costas com a mão.
Fora o seu limite. Sem que pudesse controlá-las, as lágrimas caíam ferozmente pelas suas bochechas. O afago em suas costas viraram um abraço preocupado e, por um momento, Gabe se sentiu seguro para expor seus reais sentimentos.
A única pergunta que rondava a cabeça confusa de Ariel era: como reagir quando seu melhor amigo chora pela primeira vez na sua frente? Ele não fazia a menor ideia, mas concluiu que lhe daria espaço para chorar o quanto precisasse e, quando se sentisse preparado, falaria o motivo. E abraços foram sempre o que lhe salvaram. Principalmente abraços de Gabe, então, era lógico que fizesse o mesmo pelo amigo.
Após longos minutos, ainda sentia os soluços de Gabe e sem saber como reagir, abraçou-o ainda mais forte.
- Eu só queria que tivesse sido eu naquele acidente.
Ariel desfez o abraço e pegou-o pelos ombros, chacoalhando levemente.
- Nunca mais repita isso, Gabriel Collins. Você me ouviu? Nunca mais! – vociferou Ariel, irritado e chateado com o que ouvira.
- Mas é verdade. Pelo menos assim meu irmão não teria tanta vergonha de mim. Minha mãe não passaria tanta humilhação. EU não passaria tanta humilhação E MEU PAI ESTARIA AQUI! – As lágrimas ainda queimavam os olhos de Gabe e o ódio que sentia de si mesmo finalmente estava sendo colocado para fora. – A vida inteira você passa fazendo as coisas pra agradar as pessoas, você tira as melhores notas na escola, você arruma amigos “corretos” – disse, fazendo aspas com as mãos na última palavra. – E o que as pessoas fazem? NADA! Elas simplesmente ignoram tudo de bom que você já fez pela porra do seu estilo de vida. EU ODEIO TUDO QUE EU SOU! – ao fim do seu breve monólogo, Gabe enterrou a cabeça em suas mãos, deixando alguns soluços dominarem seu corpo.
- Gabe, eu quero mais que as pessoas e seus pensamentos maldosos se explodam porque elas não te conhecem como eu te conheço, seu irmão é um puta de um babaca que sente inveja da coragem que você teve de aos quatorze anos assumir a homossexualidade! Sua mãe sente orgulho do homem que você se tornou e seu pai, se tivesse a chance de escolher, ele te salvaria só para poder ver o homem que você se tornou. – Ariel tirou as mãos de Gabe de seu rosto, puxando-o delicadamente pelo queixo para lhe encarar. Fitando os olhos azuis agora avermelhados pelo choro que ainda assim não perdiam o seu brilho natural. – Antes de você pensar em se odiar, pense em cada detalhe seu que faz com que os outros amem você.
Sem controlar a atração por aqueles olhos azuis tão frágeis, Ariel encostou seus lábios nos de Gabe, sentindo a joia gelada em sua boca quente, sem entender o porquê. Apenas o fez.
- Se eu soubesse que era tão fácil arrancar um beijo seu, eu já teria chorado a mais tempo – Gabe disse, limpando as lágrimas, agora já não tão doloridas.
- E se eu soubesse que é tão legal beijar alguém com piercing no lábio, já teria feito isso antes – revidou a brincadeira, feliz por ter conseguido trazer o verdadeiro Gabe de volta. – Aliás, o que você não consegue com esses olhos azuis também, não é?
- Muitas coisas, Aris. Ainda tem muitas coisas que meus olhos não conseguem. – Se dando conta do que acabara de acontecer, Gabe tentou se desviar do foco da conversa.
- Tipo? – Lobo o incentivou.
- Coisas, Ariel – respondeu-o, impaciente.
- Elas nem existem. – Ariel lhe deu um soquinho em seu ombro, abrindo o seu característico sorriso.
Existem. Não são coisas, na realidade, é uma pessoa e eu estou olhando para ela agora, pensou. Pessoa esta que havia lhe dado um selinho e um mini ataque cardíaco minutos atrás. Aquilo não era para significar algo, era? Era apenas um amigo tentando consolar o outro, certo?
Mas amigos não se beijam na boca.
Could I lock in your love, baby?
A dúvida é cruel e responsável pelas piores insônias. Ela, sem dó nenhuma, mantém-nos acordados, martelando aquelas duas palavrinhas tão pequenas, mas que carregam consigo um mar de possibilidades: E se...?
Pior ainda quando essas duas palavrinhas fazem par com outras duas tão assustadoras quanto: Por quê?
Era nessa sinfonia horrenda de perguntas ecoando pela cabeça de Gabe que as madrugadas se aproximavam, as horas passavam e, pela manhã, ele se levantava com resposta nenhuma e um belo par de olheiras. Desde o fatídico dia, sua mente (e principalmente seu coração) não lhe davam sossego pensando nas infinitas possibilidades para explicar aquele beijo. Céus, havia sido apenas um selinho, um leve toque de lábios e nada mais, certo?
Do seu amigo supostamente hétero e que segue com a vida como se o ocorrido não tivesse nunca acontecido na história de beijos roubados na quadra da Academia Tim Burton.
Não era para significar nada. Não era para significar nada. Não era para significar nada.
Era o que repetia mentalmente toda manhã. Mas o gosto doce dos lábios de Ariel no seu não saía de sua boca e, em seus pensamentos, o sentimento de que esperara durante anos por aquilo não lhe deixava. Tentava repetir para si mesmo que era loucura acreditar que havia sido especial (e inesperado) para Ariel também, e assim Gabe enfrentava sua insônia, tentando não enlouquecer.
As noites mal dormidas estavam deixando-o feito um zumbi. Andava se arrastando pelos corredores da Tim Burton, acenando para as inúmeras meninas que lhe cumprimentavam e tentando assentir sem parecer um idiota quando alguém tentava conversar com ele. Quando estava a um corredor de alcançar a sala de desenho, colidiu com algo, ou melhor, alguém duas vezes maior do que ele. E Gabe já era muito alto.
- Você vai jogar hoje. Se você se atrasar pro treino, eu juro, Gabriel, eu corto você do time – dando-lhe um cutucão na altura do peito, General disse em tom de aviso. Gabe arregalou os olhos, tentando assimilar a informação. Ele era oficial no time?
- É, gatinho, você vai entrar como oficial no treino de hoje. – O olhar assustado de Gabe caiu em Amanda, somente percebendo a presença da colega de General ao ouvi-la. Ela tinha um sorriso bastante aberto e cheio de dentes para ele. Gabe quis corresponder, mas estava perplexo.
- Certo, General, estarei lá cinco minutos antes. – Voltou seu olhar para General, e embora tentasse passar confiança, sua cara de cansaço apenas o fizera bufar e rolar os olhos, arrastando Amanda para o lado oposto do corredor. Gabe os acompanhou com o olhar, vendo a garota do sorriso largo acenar freneticamente em sua direção.
Gabe não fazia ideia do efeito que tinha nas pessoas.
Finalmente com outro assunto para pensar, Gabe seguiu sorridente pelo corredor, mas, como tudo em sua vida era de pouca duração, assim que virou em direção a sua sala, ouviu uma voz bastante conhecida do outro lado do corredor.
- Vem aqui, Samantha – era a voz de Ariel.
Em fato, era Ariel. Estava de costas – mas Gabe o reconheceria até se estivesse ao avesso –, e segurava a tal Samantha pelos braços. Estavam próximos e o contato parecia íntimo. Naquele instante, a visão de Gabe ficou turva e a sensação era de que havia levado um soco no estômago. A garota falou algumas palavras que não foram captadas pelo seu ouvido e então Ariel a jogou na parede. A primeira reação de Gabe foi correr. Ele correu até que seus pés cansassem e o seu pulmão queimasse. Precisava ir para o seu lugar particular, fumar e pensar, pensar e pensar. E, pelo menos, cabulando a aula de desenho, teria mais chances de chegar no horário no treino e poderia trabalhar no projeto da própria aula.
E pensar. Gabe precisava organizar a bagunça que Ariel havia feito em sua mente e principalmente em seus sentimentos.
Sexta-feira era um dia ruim. Não, era o pior dia da semana na concepção de Ariel. Não bastasse os treinos de futebol durarem uma horripilante hora a mais – com General e seus berros –, era o dia que passava menos tempo com Gabe. O amigo saía mais cedo para suas aulas chatas de biologia, durante o dia não possuíam nenhuma aula juntos, na hora do almoço, Gabriel almoçava no outro prédio, e após os treinos, ia para o laboratório de fotografia. E Lobo? Bom, ele ia para o dormitório tomar um banho, morrer de calor e esperar pelo seu melhor amigo. Embora os últimos dias estivessem confusos e sendo apenas um espectro bem estranho da relação que tinha com Gabe, fora exatamente isso que fizera. Tomara um banho gelado e longo e depois deitou-se no chão gelado do dormitório, ligando a TV somente para não se sentir tão solitário. E para os sons preencherem a sua mente e não dar espaço para aquele pensamento que ele vinha evitando desde que... Desde que consolara Gabe.
O calor estava impossível como sempre, mas aquela noite uma brisa minimamente fresca entrava pela janela e sem que percebesse, Ariel deixou-se ser tomado pelo cansaço – do dia e de esperar – e mergulhou no clima preguiçoso e cochilou.
Porém, seu cochilo fora interrompido meia hora depois com algumas insistentes batidas na porta. Sentou-se no chão, assustado, afastando os cabelos molhados da testa e tirando a camiseta ensopada de suor, ficando apenas de cueca. A brisa fresquinha havia ido embora e uma dor de cabeça começava a se instalar na sua têmpora esquerda.
- Ariel! – uma voz embargada ecoou bem abafada pelo dormitório, seguida de uma batida na porta. – Ariel, eu não consigo destrancar a porta.
O interior de Ariel se congelou ao reconhecer aquela voz rouca, leve e totalmente... embriagada. Rapidamente conferiu o horário e o que temia, estava acontecendo.
Passava da meia noite. Se algum inspetor o encontrasse para fora do dormitório, sem autorização e bêbado, Gabe seria expulso da Academia. No segundo seguinte após sua breve conclusão, Ariel já estava abrindo a porta.
- Puta merda, Gabriel, puta merda! – foi tudo o que conseguiu dizer ao vê-lo sentado no corredor, com a chave do seu armário em mãos. Então era esse o motivo pelo qual ele não conseguia destrancar a porta.
- Puta merda digo eu... – a voz embriagada de Gabe disse num tom engraçado. – Que porra é essa que você ta pelado na minha frente? – finalizou, rindo e dando um soluço.
- Gabriel... – Ariel reprimiu uma risada, sentindo suas bochechas esquentarem e abaixou-se para pegá-lo. – Vai, vem cá, deixa eu te ajudar.
- Não. – Gabe puxou os braços bruscamente para o lado oposto de Ariel, desfazendo-se do sorriso e ficando sério de repente. – Não quero você tocando em mim – murmurou.
- ‘Tá louco, Gabriel? – Ariel disparou, confuso e um pouco irritado. Não era como se ele tivesse opção, pensou, se não o ajudasse, ele seria expulso. – Vem comigo antes que o inspetor nos veja.
- Eu vou sozinho, mas não toca em mim. Não depois de tocar na Samara, Savanna... Não, Samantha! Isso, Samantha.
À mera menção do nome da garota, Ariel sentiu o ódio começando a ferver em seu sangue e a sua têmpora esquerda zunir tamanha a dor. Não fazia ideia do que Gabriel estava falando, no entanto.
- Gabriel, não sei do que você está falando. E no momento estou tentando te ajudar a não ser expulso da Academia. Ajuda-me também? – Ariel se ajoelhou em frente a ele, pegando delicadamente em sua mãos e tentando fitá-los nos olhos.
Gabe apenas assentiu, abaixando a cabeça. E então, Lobo puxou-o pelo braço, jogando-o em seu pescoço e arrastando-o até a cama. Após se assegurar que ninguém havia os visto, trancou a porta novamente.
- Agora vamos tomar um banho. – Lobo foi com a intenção de ajudá-lo a andar novamente, mas Gabe ergueu uma mão.
- Aqui ninguém vai ver a gente, então não toca em mim. Eu vou sozinho – foi o que disse, tentando se levantar, mas caindo de volta na cama.
Ariel contou até 7.
- O que foi que eu te fiz? – quis saber.
- É o que você fez com outra pessoa...
- Samantha? – Ariel o interrompeu, lembrando-se da acusação feita minutos antes. – Eu nunca toquei a Samantha, Gabriel – respondeu calmamente.
- TOCOU SIM, EU VI. NO CORREDOR O ESTRANHO MUNDO DE JACK! – as palavras saíram atropeladas umas pelas outras, mas fora o necessário para fazer Ariel se lembrar.
- Você entendeu tudo errado, Gabes. – Lobo balançou a cabeça em negação. – Tudo errado – repetiu. As lembranças agressivamente invadindo a sua memória.
- Eu sei o que vi – rebateu. Levantou, cambaleando, e foi trocando os pés até o banheiro. Era teimoso e birrento e Ariel não sabia se queria lhe contar o que realmente havia acontecido. Principalmente com a briga tão recente com Nathan.
Tinha certeza de que já estava o machucando, não queria feri-lo ainda mais com alguém tão... baixo como Samantha.
- Você está bêbado e não quer aceitar que está errado. – Ariel se encostou ao batente da porta, assistindo Gabe ligar o chuveiro e tentar tirar a camiseta, sem sucesso.
- Eu... Eu vi... Eu vi vocês dois, a sua mão nos braços dela... E depois você jogando ela na parede.
A guerra – assim como as acusações – entre ele e a camiseta continuava. Gabe, no fundo da sua mente alcoolizada, sabia que não conseguiria se despir, mas a tentativa era uma ótima desculpa para evitar encarar o traidor nos olhos. E então, ceder a exatamente tudo o que ele falasse.
Ariel calmamente foi até ele e, colocando as mãos na pele exposta de sua barriga, disse baixinho:
- Me deixa te ajudar, e eu te explico tudo, tudo bem?
O único problema era que a simples melodia de sua voz, tão próxima do rosto de Gabe, já o fazia tremer dos pés a cabeça e ceder a extramente tudo o que ele falasse. Tudo.
- O que aconteceu, Gabes, foi que a Samantha me chamou para uma festa hoje, daí eu disse que iria, desde que pudesse levar você. Porque nós dois somos inseparáveis, certo? – Ariel deslizou as suas mãos pela barriga de Gabe, subindo a sua camiseta e tirando-a enquanto começava a se explicar. Talvez fosse a bebedeira, mas Collins sentiu uma leve tontura e fechou os olhos, apreciando cada mísero toque que aquela ação exigia. A voz de Ariel soando como o canto dos anjos em seu ouvido, de repente.
– Mas ela ficou bem agressiva e te ofendeu, ou melhor, ofendeu a nós dois, Gabes. – Um sorriso sutil pintou o lábio de Ariel, logo sendo substituído por uma carranca ao se lembrar das palavras da garota.
Cuidando para que seu toque nunca deixasse a pele de Gabe, deslizou suas mãos pelo seu abdômen até chegar à barra de sua bermuda. Desabotoou-a e deixou que a gravidade fizesse seu trabalho, levando-a até o chão.
A cabeça de Gabe girava. Quem aquela loira maltrapilha pensava que era para ofendê-lo? E o que raios Ariel queria dizer com “ofendeu a nós dois?”. Por um segundo, a sobriedade lhe fez falta. No outro segundo, seu corpo queimava com os toques sutis de Ariel e tudo o que ele queria era que ele calasse a boca e o beijasse. Mas ele não faria isso, certo? Porque amigos não se beijam e porque aquele não era para significar nada.
– E foi a hora que eu a peguei pelos braços e então ela nos ofendeu de novo, e eu a joguei na parede. Não foi o ápice da minha vida e não me orgulho, mas te juro, Gabes, eu só queria que ela explodisse. E então eu te defendi e ela saiu. Foi isso.
Conforme a sinfonia de anjos de Ariel ia se desenrolando, ele se ajoelhou, cuidadosamente passando a bermuda de Gabe pelos seus pés e tirando o seu tênis. Não recebeu uma resposta imediata quando terminou de se explicar. Então, sem entender a razão – e, no momento, não importava –, agarrou a cintura de Gabe. Precisava de impulso para se levantar, mas não se levantou.
- Aris... – a voz embriagada o fizera olhar para cima. Goddammit, Gabriel. – Desculpa – pediu, a voz trêmula e vacilante. O pensamento feroz de querê-lo beijar ainda não tinha abandonado-o.
Num lapso de consciência, Ariel se levantou e, empurrando-o pela cintura, colocou Gabriel embaixo da água fria. Quando deu por si, a água gelada também o envolvia, além da grande mão de Gabe em volta de sua cintura.
- GABRIEL! Você...
Ariel não teve a oportunidade de repreender a travessura do amigo. Os lábios de Gabriel tomaram os seus com ferocidade e urgência. Sentiu-se dominado pela sensação gostosa da língua dele saboreando os seus lábios e, honestamente, era impossível não sucumbir àquele piercing roçando em sua boca durante o beijo. A urgência de Gabe era infinda, quanto mais ele tinha de Ariel, mais ele queria. E, inesperadamente, quanto mais Ariel provava de Gabe, mais ele... gostava.
Abruptamente, Ariel quebrou o beijo, afastando-se de Gabe delicadamente, empurrando-o pelos ombros.
- Puta merda, Gabe. Puta merda!
Era domingo, uma semana e dois dias depois, e pela primeira vez durante aquele verão tortuoso, o céu enegrecido e cheio de nuvens dava os primeiros indícios de que uma chuva, ou melhor, uma tempestade cairia naquela tarde. Olhando pela janela de seu quarto, Ariel pensava que era para combinar com o seu estado de espírito. Triste, confuso e bastante... atordoado. A solidão apenas agravava os seus sentimentos, mas estava agradecido por Gabriel não estar ali. Assim, longe de seus encantos, poderia tentar entender o que estava acontecendo dentro dele.
Então, sem forças para lutar contra a própria mente, deu voz à pergunta que o assombrava.
- O que está acontecendo comigo? – ouviu a sua voz sussurrar e se assustou com o tom carregado de angústia e medo. Respirou fundo, embrenhando os dedos em seus cabelos e puxou-os com força. – O que porra está acontecendo comigo?
Era ainda mais assustador dizer aquilo em voz alta. Por que sua voz reverberava com uma pergunta, mas tudo o que conseguia em resposta era o silêncio. Não tinha a resposta. Ou, talvez, não tivesse a coragem de dizê-la em alto e bom som. Um estrondo clareou o céu ao longe e então a chuva começou a cair copiosamente. Ariel se encolheu no chão. Não gostava de tempestades porque com elas vinham raios e trovões e esses o apavoravam. Levantou-se para fechar as cortinas e no momento em que outro raio cortou o céu sendo seguido por um estrondoso trovão, a imagem de Gabriel apareceu em sua mente. Ele era quem sempre o distraía ou apenas deitava ao seu lado até a chuva passar. E, mais uma vez, sua mente lhe traíra e o fizera voltar para Gabe.
Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe. Gabe.
Somente Gabe e seu maldito olhos azul, e seu maldito piercing e seu maldito beijo.
Ariel deitou-se horizontalmente na cama, porque assim conseguia pensar melhor, e deu um longo suspiro, sentindo-se derrotado. Pegou o celular do bolso e mandou uma mensagem para Lisbela.
Poucos minutos depois, ela adentrou o quarto, totalmente encharcada e com cara de poucos amigos.
- O que merda tá acontecendo entre você e o Gabe? Anda, desembucha, Wolf. – Deu um tapa na testa do goleiro, fazendo-o contorcer o rosto numa careta.
- O que ele te falou? – perguntou, praticamente voando em Liz.
- Não te interessa. Anda, quero saber o que você tem pra falar. – Ela não era das mais pacientes.
- Não tenho nada pra falar. – Ariel deu de ombros e Liz começou o seu mantra especial para não socar a cara do amiguinho.
- Certo, seu grande saco de coco, então me explica por que vocês não conseguem mais conversar sem parecem dois pimentões?
O arrependimento de ter chamado Liz começava a lhe atingir. Respirou fundo, sentindo seu rosto adquirir o tom pimentão que ela mencionara.
- Não tem o que explicar, Liz.
- Ai, Ariel, eu te conheço há cinco anos... Não sei por que você ainda insiste em tentar me enrolar. – A garota sentou ao lado de Lobo, fitando-o com um olhar fraternal.
- Porque eu sou um idiota – disse mais para si mesmo do que para ela.
- Não começa, Aris... Você sabe que não é. Vai, conta pra mim o que houve pra eu tentar ajudar. – Liz abaixou o tom de voz, fazendo-lhe cafuné.
- Eu... bom, semana passada, na verdade, eu e... Ok, calma. – Ariel respirou fundo e fechou os olhos. – Gabriel me deu um beijo na sexta-feira passada. Ele estava bêbado, mas eu não consigo parar de pensar nisso. – Vomitou toda a história já conhecida por Liz e, mesmo que não fosse exatamente o que ela queria ouvir, ficou feliz por Ariel estar se expondo.
- Ah, Aris, sabia que eu acho que isso até demorou para acontecer? – Liz continuou com a sua leveza e tranquilidade. – Mas isso mudou a amizade de vocês, é isso? Não conseguiram conversar sobre e isso tá atrapalhando a amizade? – quis saber e então as pernas de Ariel começaram a se balançar freneticamente.
- Não. A gente não conversou sobre isso... Na realidade, Gabes só pediu pra eu esquecer que tinha acontecido.
- Mas claramente não foi o que você e nem ele fizeram.
- Não...
Deixaram o silêncio preencher o quarto por alguns instantes, apenas os ruídos da tempestade lá fora sendo ouvidos, enquanto Ariel buscava dentro dele as palavras certas para expressar o que estava sentido. Mas, de novo, ele não fazia ideia do que estava acontecendo... Aquele beijo. Não tinha como ignorar aquele beijo.
Liz esperou pacientemente até que ele se pronunciasse.
- Eu gostei, Lizzie. – Ariel se sentou com as pernas cruzadas de frente para Liz. Suas sobrancelhas estavam arqueadas e o cenho franzido.
- Do que você gostou, Aris? – ela o incentivou. Sabia o quanto aquela sensação era estranha porque já passara pela mesma situação.
- Eu gostei de beijar o Gabriel... – confessou, sua voz era nada além de um sussurro cheio de incertezas e medos.
- Certo, você gostou de beijar uma pessoa que tem um piercing no lábio... Quem não gostaria, não é mesmo? – Liz brincou, dando-lhe um soquinho no braço.
- Não é só isso, Lizzie... Eu, nossa, toda vez que estou perto dele começo a agir estranho.
- Estranho como?
- Não sei. Desde que lhe dei um selinho porque ele estava mal por causa do Nathan, tudo o que eu quero fazer quando ele está perto de mim é beijá-lo. Isso é insano. Nunca tinha sentido vontade de...
- Beijar um garoto? – Liz riu, completando sua frase. – Mas espera, você deu um selinho em Gabes?
Liz parecia genuinamente espantada e, honestamente, Ariel também estava. Nunca tinha confessado aquilo para ele mesmo e estava ali, contando em voz alta para a amiga.
- Sim, beijar um garoto. Sim... Eu... eu dei um selinho em Gabe.
Pronto. O universo agora tinha registrado com as suas próprias palavras tudo o que vinha lhe assombrando nos últimos dias.
- Antes dele te dar um beijo?
- Sim, antes dele me dar um beijo.
- Certo, Aris... – Lizzie abriu um sorriso sincero e pegou as mãos de Ariel, acariciando-as com a sua. – O que mais te dá medo em querer beijar um garoto?
Aquela pergunta era difícil. Ele não queria beijar um garoto. Ele queria beijar Gabe. Não poderia ser... errado, ele era seu melhor amigo e era... Deus, ele era bonito. Mas, ao mesmo tempo, ele era um garoto e Ariel não beijava garotos... certo? Sua zona de conforto era beijar garotas e fingir que aquilo lhe agregava alguma coisa.
Por um segundo, Ariel pensou em todas as garotas com quem já tinha estado... Nenhuma delas chegaram a lhe dar metade das sensações que tinha com Gabe.
- Não quero beijar garotos, sinto vontade de beijar Gabe – tentou se explicar. - Que é um garoto – Liz falou com um tom de obviedade, rindo.
A verdade era que Lobo era inseguro. Inseguro com ele mesmo, inseguro com o que sua família pensava, inseguro com o que o time de futebol pensava, inseguro com o que todas aquelas pessoas que o conheciam no colégio achavam. Pior: e se Brenda, sua irmã, virasse um novo Nathan? Ele não saberia lidar com todas as acusações.
Ariel odiava aquela parte de si mesmo, mas ele se importava com o que os outros pensavam dele.
- Eu sou insegurança pura, Lizzie. Eu não consigo ser igual você que beija meninas e meninos e foda-se o que vão pensar – confessou, mas cada uma de suas próprias palavras o feriram. E o fizeram pensar no exato porquê de admirar tanto Gabriel.
Liz puxou-o para um abraço. E era o que Ariel precisava.
- Aris, você não pode ignorar isso. Pense com carinho. Gabe ama você.
Gabe ama você.
- Eu sei, Liz, mas eu não posso prendê-lo a mim, inseguro e incapaz de decidir se gosto de beijá-lo ou não.
Gabe ama você.
- E por amar Gabe também... – Ariel sentiu cada parte do seu coração se quebrar. Gabe ama você.. – Eu não posso ficar com ele.
Quando desfizeram o abraço, imediatamente desviaram o olhar para a sombra a frente deles. Gabe estava encostado no batente da porta, completamente encharcado.
- Acho que vim até aqui à toa. Desculpa.
I’m latching on, babe, now I know what I have found
Eu não posso ficar com ele.
Aquela frase fora assustadora e, a princípio, o magoou. Mas depois... Depois Gabriel entendeu. Conhecia Ariel como a palma de sua mão.
- Ele é inseguro, Gabe. – Liz apontou.
- Eu sei, Lizzie, acompanho bem de perto as crises dele...
- Então pare de ser idiota e vá falar com ele.
- Eu sei tudo o que preciso dizer a ele. Eu sei que ele é inseguro e que ele tem medo de sofrer opressão, assim como todos nós sofremos todos os dias. Eu sei o quanto ele tem medo de decepcionar os pais e o quanto ele presa o título dele no time. E eu sei, também, que na mente deturpada dele, eu o largaria pelo primeiro Silas que eu conhecesse porque ele não enxerga o quanto ele é maravilhoso e...
- Santo Deus, Gabriel, meu nome é Ariel? Tenho alguma coisa a ver com ele pra você estar me confundindo e falando tudo isso pra mim? VAI FALAR PRA ELE. – Liz o interrompeu e ele lhe deu um soco.
- Eu sei de tudo isso, Lisbela Young, mas eu não vou conseguir dizer tudo isso pra ele, eu vou travar porque eu sou completa e totalmente apaixonado por Ariel – confessou, finalmente, em voz alta para gravar o seu amor no universo. Agora todos sabiam: Era irrevogavelmente apaixonado por Ariel Wolf, goleiro do time da Academia Tim Burton, melhor amigo e dono do seu coração desde que seus olhos âmbar se encontraram com os seus.
- E o seu projeto, como está? – Liz perguntou, um sorriso malicioso delineando seus lábios enquanto um plano se traçava em sua mente.
Gabe sorriu de volta, entendendo exatamente o que ela queria. Essa era a beleza dos melhores amigos: palavras eram indispensáveis quando se conhecia seus corações.
- Você é a melhor do mundo. – Gabe a abraçou, beijando-a repetidas vezes na bochecha. – Agora vamos comigo comer um x-bacon.
- X-bacon? – fitou-o confusa porque, primeiramente, era vegetariana e, segundamente, porque eram três horas da manhã.
- Tenho uma ressaca moral e amorosa pra curar e um projeto pra ficar perfeito. Vem!
- Vocês apaixonados são loucos...
Gabriel nunca teve muita habilidade para falar em público. Era razoavelmente tímido e dependendo do seu público, o nervosismo era ainda maior. Naquela manhã, apresentaria o seu projeto da aula de desenho para todas as classes de desenho daquele semestre. E, se tudo corresse como o esperado no plano de Lisbela, teria um convidado especial. Ariel. Então, o nervosismo já havia se formado na presença física de uma pessoa chata e impertinente que o acompanhava por todo lado.
Conferiu pela terceira vez todos os arquivos em seu notebook e exemplar físico, repassou tudo o que precisava falar e tomou mais metade de uma garrafa de água. Suas mãos tremiam e suavam e sentia-se ridículo com o penteado que Lisbela tinha feito em seu cabelo. Mas não tinha mais tempo para muda-lo, então apenas ignorou o fato.
Segundos antes de seu nome ser chamado, recebera uma mensagem de Silas.
“Relaxe, respira e arrasa nesse projeto. E claro, lace o boy.
S. xx”
Agradeceu mentalmente, pois não tivera tempo para digitar uma mensagem, logo ouvindo seu nome ressoar pelo anfiteatro.
Assim que entrou no pequeno palco, seus olhos automaticamente se direcionaram para o lugar de Liz. Ela acenou para ele, sorrindo de orelha a orelha e, embora não tivesse encontrado Ariel, aquilo era um sinal de que tudo estava acontecendo conforme o planejado. Respirou fundo, lembrando-se de não cutucar o piercing com a língua, e então começou a apresentar o trabalho.
- Bom dia! Meu nome é Gabriel Collins e eu sou estudante das Aulas de Desenho II desse semestre. Basicamente, o meu desafio era desenvolver uma história em quadrinhos e... – continuou explicando as técnicas que havia usado para desenvolvê-lo, dando créditos ao Silas por tê-lo auxiliado em certas partes e cuidando para que não errasse nenhum ponto e perdesse pontos. Além de não perder Ariel, era importante não reprovar na matéria.
Quando terminou a parte chata do trabalho – os termos técnicos –, passou para o próximo slide que lhe indicava que era o momento de contar a história da HQ e expô-la para que acompanhassem a história. Assim que virou-se para pegar o exemplar físico, a porta do anfiteatro se abriu e todas as atenções se voltaram para lá.
Assim que viram quem era, todo voltaram a fitar Gabe, mas ele... Ele não. Seu olhar se fixou em Ariel e acompanhou-o até ele se sentar num lugar vazio na primeira fileira. Era oficial: Gabe iria vomitar. Ele estava ali e pior ainda: estava lindo. Calça jeans de lavagem clara, allstar branco e uma regata preta. Os cabelos penteados para trás – provavelmente arte de Lisbela – e, como sempre, carregava consigo o mais belo sorriso que o universo já tinha registrado.
- A história, na verdade, é bem simples e clichê. É a história da vida dupla de um super-herói chamado Augustus, codinome Alpha. – Gabe apontou para a tela onde estava a capa do HQ. Um super-herói de vestes vermelhas, o símbolo alpha e um lobo em seu peito, máscara e cabelos loiros. – Que, na realidade, tem um superpoder bem diferente: ao tocar o peito das pessoas com a sua mão, ele identifica o ponto fraco delas e ao invés de mudá-lo ou tirá-lo delas, ele as ajuda a enfrentar qualquer que seja o ponto fraco. Porém, ele se esconde atrás da máscara porque ele mesmo não tem o poder para enfrentar o seu ponto: a insegurança. E, como todo bom super-herói, ele tem um melhor amigo, Corin, que, sem saber que ele é o herói, tenta ajuda-lo com seu ponto fraco. – Gabe finalizou, apontando para o último slide com o desenho de Augustus e Corin. Corin sendo ele mesmo em desenho.
“É clichê e, honestamente, bem ruim, mas foi tudo o que minha criatividade conseguiu. Obrigado pela atenção e bom dia. – Gabe saiu rápido, não ouvindo toda a salva de palmas que recebera. Correu para o backstage do anfiteatro, sentindo suas pernas tão firmes como gelatinas. Não sabia como ou por que, mas Liz o esperava de braços abertos. Sem pensar duas vezes, mergulhou em seu abraço.
- Como eu fui? Gaguejei muito? Acha que Ariel gostou? – despejou todas as perguntas em cima de Liz assim que desfez o abraço. Ela respondeu com uma careta.
- Você foi ótimo, aliás, você é ótimo, seu bobo. Já sobre o Ariel... – Liz deixou a frase morrer, apontando para o lado com as mãos.
- Eu respondo, pode deixar – Ariel surgiu pelas cortinas do backstage. Um meio sorriso e um coração palpitante. Liz lhe deu um beijo na testa, após se despedir de Gabe e saiu, deixando-os sozinhos.
Gabriel sentia seu coração espancar o seu peito e por mais que estivesse morrendo para encará-lo, abaixou o olhar para os seus próprios pés. Ariel o observou por um instante, gravando cada detalhe da beleza dele ao ficar sem graça. Não que ele mesmo estivesse muito diferente... Suas bochechas queimavam como o inferno, seu coração pulsava ferozmente e era difícil clarear a mente observando Gabe brincar com o seu piercing idiota.
- Psiu. – Ariel decidiu o chamar, vendo sua voz falhar num simples “psiu”.
Gabe ergueu o olhar e não se arrependeu nem por um segundo, encontrando um sorriso de canto encantando e um olhar terno que o fazia mergulhar num estado quase de torpor.
- Você é realmente bom nisso de desenho – Ariel disse, dando um passo em sua direção.
- Obrigado. Eu tento, né, não quero morrer de fome – brincou e Ariel lhe lançou um olhar que dizia “não seja ridículo”.
- Mas me tira uma dúvida... – Ariel passou as mãos nos cabelos e Gabe rodou o piercing em seu lábio. – Esse Corin era um bom amigo? Ele ajudava com todas as inseguranças de Alpha?
Ariel coçou a nuca, um sorriso tímido surgindo em seus lábios.
- Todas. Cada uma delas. Corin o ajudava em tudo que ele precisasse – respondeu, surpreso pela firmeza em seu tom.
- Mesmo que Alpha pudesse ser cabeça dura às vezes? E mesmo que ele fosse tão, tão inseguro que às vezes agia igual um idiota?
- Aris... – Gabe suspirou, avançando um passo em sua direção, mas contendo a vontade de pegar em suas mãos. O corpo de Ariel formigou em expectativa pelo toque. – Eu só quero te ajudar a ver que o mundo pode ser leve quando temos o apoio de quem amamos. Confia em mim, confia que eu posso te ajudar... E eu posso te ajudar. É só me permitir.
Ariel abaixou o olhar, mas Gabe rapidamente puxou o seu queixo com delicadeza, forçando-o a fita-lo nos olhos.
- Por favor, Aris, uma chance. Uma. E a gente faz do jeitinho que você quiser. No seu tempo, no seu ritmo, do seu jeito... – Gabe pediu, a voz baixinha e calma, enquanto seus olhos azuis brilhavam intensos na direção de Ariel.
- Você sabe que não dá pra negar nada pra esses seus olhos azuis – disse, rindo baixinho.
- Então acho que mereço pelo menos um abraço...? – Gabe arriscou, esperando que Ariel fugisse, mas ele continuou sorrindo.
- Um abraço é um ótimo começo – concordou e envolveu-o em seus braços.
Foram invadidos pela sensação de que eram um balão sendo preenchido de alegria que em breve, iria explodir.
- A propósito, você é titular no jogo de hoje – Ariel disse, simplesmente.
Após as apresentações do projeto, Ariel e Gabe não se viram. Era sábado e dia de jogo o que significava que as famílias estavam permitidas a visitarem o colégio. Ariel era alugado pelos pais com os assuntos de faculdade e Gabe tentava manter a paz com o irmão e matar as saudades da mãe. Quando finalmente puderam se ver, General assoprou o seu apito infernal e ordenou que todos os jogadores titulares entrassem em campo para se aquecer.
Era a primeira vez de Gabe em campo desde... Desde muito tempo, então não quis contrariar o capitão do time e correu para se aquecer. Ainda assim, sempre que possível inventava exercícios próximos ao gol para verificar se estava tudo bem com Ariel e lembra-lo de que ele era o melhor goleiro da história do time de futebol da Tim Burton. - Você diz isso pra todos – ele brincou, dramatizando, colocando a mão no peito e fechando os olhos.
- Para de ser ridículo. Digo isso porque é verdade. – Gabe jogou a bola em seu peito.
- Mas e se eu ficar nervoso com os sete gols que vamos tomar logo no primeiro tempo? – Ariel continuou o drama e Gabe rolou os olhos.
- Então você vai criar bolas, Ariel, e vai se lembrar de todos os nosso treinos. E vai se lembrar de que você é o melhor goleiro dessa merda. E vai se lembrar que eu te amo. – As palavras saíram fáceis e leves, como se estivessem apenas esperando para serem ditas.
Ariel sorriu tanto que pensou que seu rosto fosse rasgar. Somente não se rasgou porque General assoprou o apito e então o sorriso se esvaiu. General realmente era um estraga-prazeres.
O placar do jogo estava 1x1 e o clima era tenso na quadra da gloriosa Academia Tim Burton. O ataque da Sherlock Holmes estava pesado e o time da TB já não estava mais tão confiante. Quando conseguiam relar na bola, ou a perdiam em segundos ou erravam o passe. General pediu um minuto e então deu uma única ordem:
- Eu coloquei o fedelho do Gabriel pra ele jogar, então passem a porra da bola pra ele. E você, Ariel, continue o bom trabalho.
A ordem de General aterrorizara Gabe, mas parecia ter funcionado. O time conseguiu maior posse de bola e até conseguiram chegar na área, mas perderam a bola três vezes. Na quarta tentativa, o camisa 7 partiu em disparada para a área. Quando percebeu a oportunidade, cruzou para Gabe, e então ele apenas ouviu os gritos da torcida e o árbitro sinalizando o fim do jogo.
Do outro lado do campo, Ariel tirou as suas luvas, jogando-as longe e saiu correndo em direção ao autor do gol da vitória. Os jogadores foram abrindo espaço assim que o viram e, quando já estava se aproximando, Gabe o viu. Não conseguiu esboçar nenhuma outra reação além de esperá-lo com um sorriso tímido. A determinação nos olhos âmbar de Ariel delatavam o que estava prestes acontecer, então ele apenas esperou.
Ariel envolveu o rosto de Gabe com as duas mãos, encostando suas testas e sorrindo bobo para ele. Logo em seguida deslizou suas mãos para os cabelos da nuca dele molhados de suor e puxou-os para trás, dando a distância perfeita para beijá-lo.
- Eu te amo – sussurrou e então, tomou os lábios de Gabe com os seus com ferocidade. Um beijo intenso, apaixonado e, dessa vez, sem urgências.
- Promete cuidar de mim? – Ariel sussurrou ainda em seus lábios.
- Sempre.
Feel so enamored, hold me tight within your clutch
How do you do it? You got me losing every breath
What did you give me, to make my heart beat out my chest?
A quadra de futebol estava com todas as luzes apagadas, sendo iluminada somente pela luz da Lua e das diversas estrelas que enfeitavam o céu. Mas, perdido em sombras e baixíssima luz, encontrava-se o mais novo casal da Academia Tim Burton deitados bem no meio do gramado.
Gabe estava deitado no peito nu de Ariel, sentindo coração dele bater acelerado em seu ouvido. Aquele som era a sua melodia favorita porque sabia que ele era a razão para os seus batimentos descompassados. E isso era tudo o que ele sempre quisera. Sempre. Sempre.
- É um pouco embaraçoso você ouvir o quanto me deixa nervoso. – Ariel riu, fazendo Gabe levantar a cabeça para encará-lo.
- Eu acho lindo. – Gabe lhe deu um selinho rápido e deitou a cabeça em seu peito encarando-o com intensa admiração. Ariel abriu um sorriso tímido no canto dos lábios e com uma das mãos, começou a afastar os cabelos da testa de Gabe. Seu toque era sutil, delicado e tranquilo. Queria gravar cada detalhe daquele momento.
- Você realmente é lindo, Gabriel – sussurrou como se aquilo fosse um segredo e por um instante, Gabe pensou que seu coração fosse rasgar seu peito.
- Eu amo quando você me chama de Gabriel – sussurrou também, com o mesmo tom de segredo.
- E eu amo você, Gabriel. Melhor namorado do mundo.
Então, a quadra da gloriosa Academia Tim Burton registrou, mais uma vez, em sua história e no universo, o amor de Ariel e Gabriel.
Fim
Nota da autora: Olá, cupcakes. Esse foi o segundo ficstape que eu participei e já é a segunda vez que crio uma história com a qual me identifico e me apego demais. Eu tive a ideia porque, como autora desde, sei-lá, sempre??? Hahaha eu sempre escrevi fanfic interativa com McFly/OneD e, sinceramente, eu queria me desafiar um pouquinho. Então assistindo a um filme bem x de madrugada, Gabriel e Ariel surgiram na minha imaginação e eu dei vida a essa história cheia de amorzinho que eu espero, do fundo do core, que vocês tenham gostado. Eu amei escrever cada letrinha dessa fanfic e estou até triste porque ela chegou ao fim. Honestamente, eu queria poligamia com esse casal. :c HUAHUAHUAH Enfim.
Queria agradecer a Gi Sanches, que me chamou pra participar desse ficstape lindo <3 e agradecer também a minha (antiga) autora, leitora e amiga Jana Cavalcanti. Miga, você acompanhou essa história crescer e acredito que ela só teve um fim pela sua fangirlização hue obrigada pelo seu apoio de sempre, você é a melhor pessoinha desse mundo.
E queria agradecer também a minha melhor amiga, Baby, que ficou até altas horas da madrugada me ouvindo chorar por essa fanfic e me ajudando com alguns diálogos (e por me emprestar o notebook dela pra eu finalizar a história).
Amo vocês, suas lindas.
Espero que tenham gostado de Latch e que a história dela entre no coraçãozinho de vocês.
Yours sincerely,
Laura xx
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Queria agradecer a Gi Sanches, que me chamou pra participar desse ficstape lindo <3 e agradecer também a minha (antiga) autora, leitora e amiga Jana Cavalcanti. Miga, você acompanhou essa história crescer e acredito que ela só teve um fim pela sua fangirlização hue obrigada pelo seu apoio de sempre, você é a melhor pessoinha desse mundo.
E queria agradecer também a minha melhor amiga, Baby, que ficou até altas horas da madrugada me ouvindo chorar por essa fanfic e me ajudando com alguns diálogos (e por me emprestar o notebook dela pra eu finalizar a história).
Amo vocês, suas lindas.
Espero que tenham gostado de Latch e que a história dela entre no coraçãozinho de vocês.
Yours sincerely,
Laura xx
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