Capítulo Um
I don't know what's going on
Where you came from and why it took so long
All I know is that I feel it like it's the realest thing, I mean it
Something changed when I saw you
Eu só poderia ter jogado pedras na cruz para estar presa com o Patrick em uma noite de sexta. Pois é, estávamos em uma cela para réus primários em uma das delegacias de Boston, sentados em um banco de pedra desconfortável pra caramba enquanto um cara estranho encarava nós dois e o Pat fingia que não estava acontecendo nada. Ainda tínhamos o direito do telefonema, mas sinceramente, nenhum de nós queria ter que ligar pra minha mãe e falar: “Oi, Mandy, estamos presos por militar contra desigualdade racial e de gênero”.
Éramos jovens muito bem-informados e que pregávamos igualdade, só tinha medo que o Pat fosse deportado por causa daquela prisão. O moleque era um italiano maluco que tinha vindo estudar nos Estados Unidos, nos conhecemos no último ano do High School enquanto ele ainda estava de intercambio na casa de uma família legal em Little Italy, depois ele conseguiu bolsa no Instituto de Gastronomia em Boston e eu também. É onde estamos até hoje, não literalmente, claro, já que estávamos em uma cela de prisão.
O cara estranho foi tirado de lá e dei graças aos céus por isso, ele me dava arrepios.
— Não vão te deportar, não é? — cutuquei meu amigo nas costelas e ele balançou a cabeça com uma calma de dar inveja.
— Claro que não, ragazza. — ele afagou minha perna com carinho, tentando me passar força e certeza, mas eu tinha sérias dúvidas. — Eu só sou deportado se for algum crime mais grave, ou seja, não posso ser preso novamente, já que perdi o réu primário.
— Não sei como diabos você tá calmo desse jeito. — soltei uma risada e sacudi a cabeça, dobrei os joelhos em cima do banco e os abracei. Precisava pensar num jeito de sair dali.
— Me desesperar agora não vai resolver nada, . — Pat se escorou na parede também e beijou minha bochecha. — Acha que já estamos fodidos ao ponto de ligar pra sua mãe?
— Nenhum pouco, ela vai me esfolar viva. Você sabe que ela nem sonha que eu me meto nessas manifestações. — suspirei frustrada com toda a situação, fechei os olhos com força e repassei todo o ato na cabeça, procurando uma brecha pra nos tirar dali.
Estávamos a frente de uma manifestação em defesa da igualdade racial, tínhamos juntado todo um grupo da universidade e amigos de bar pra começar a mudar o mundo como sempre imaginamos que faríamos. Um policial nojento soltou uma piadinha mais nojenta ainda pra mim, usando claramente de abuso de poder, e foi aí que vi meu melhor amigo virar bicho. Ele queria bater no cara, eu também, o idiota jogou qualquer merda tóxica na gente e um rapaz o derrubou por trás.
— AI MEU DEUS, PATTY!
— O QUE, ? — o fiz dar um pulo do banco e só me restou o direito da risada. — O que, porra? — ele estava rindo também?
— O rapaz que ajudou a gente! — exclamei meio desesperada e preocupada. Ele era enorme, tinha a maior carinha de CDF que não fazia mal a ninguém, mas era negro e eu tinha medo que fosse levado pra qualquer outro lugar só pela desigualdade racial que estava dominando o país.
Patrick arregalou de leve os olhos, tinha lembrado dele também, mas antes que pudesse abrir a boca, mais alguém foi jogado na nossa cela, bem mais brutalmente que eu e o Pat, na verdade. Um par de palavras imundas foram proferidas ao rapaz e a porta trancada com força, senti meu estômago revirar em ouvir aquilo. Meu amigo se levantou de uma vez do banco, tinha um porte bem preocupado.
— Ei, cara, você tá bem? — ele se aproximou devagar e o rapaz olhou na nossa direção, assustado e com o rosto muito pálido. ERA ELE! O MOÇO DA CONFUSÃO.
Levantei do banco de uma vez e me aproximei junto com o Patty.
— Eu não posso ficar preso. A minha bolsa! — o estranho disse desesperado e sacudiu as grades da cela, como eu previa, um CDF que não faz mal a ninguém. — Eu preciso de ajuda, não posso ficar fichado. — ele continuava repetindo aquilo, enquanto mudava a visão entre nós dois e o resto da delegacia através das grades.
Ao chegar perto, percebi o quanto o cara era um monstro, muito maior que o Pat franzino — em massa muscular, claro, já que os dois tinham a mesma altura — e poderia muito bem ser mais um jogador de hóquei daquela região se não fosse a supremacia branca nos rinques. O rapaz desesperado tinha a pele negra escura, o cabelo quase raspado e usava um óculos de grau quadrado que escondia os olhos mais lindos que eu já tinha visto. As mãos eram enormes e a direita tinha uma aliança brilhante, opa , erro de percurso.
— Qual seu nome? — interrompi os lamentos.
— . Pagiola. — ele finalmente focou a visão em nós dois e esticou a mão, que apertei sem demora.
— Prazer, sou Atwood e esse é o Pat, meu amigo. — apontei pro italiano e ele abriu um sorriso cordial, depois apertou a mão do , se apresentando como Patrick Bonazzi. — Eu achei que você tinha fugido.
— Bom, eu saí correndo, mas um preto correndo é sinônimo de qualquer coisa ruim. — ele passou a mão no rosto e se encostou na grade, frustrado e derrotado.
— Eles bateram em você? — dessa vez foi o Pat quem perguntou com um tom cuidadoso e nosso mais novo amigo sacudiu a cabeça negativamente.
— Eu não reagi, deixei que me revistassem e olhassem meus bolsos. Se você reagir é pior. — tirou os óculos, os pendurando nos botões abertos da camisa e esfregou o rosto com força.
— Sinto muito por isso, . — fui sincera e recebi um sorriso comedido. — Obrigada pela ajuda lá na manifestação, Pat teria tomado a maior surra se não fosse você.
— Ei ! — Patrick protestou e beliscou minha cintura, o empurrei em rebote. — Mas obrigado, mesmo. Acho que teria mesmo tomado uma surra. — meu melhor amigo agradeceu com um sorriso sincero.
Depois de uma boa conversa e os ânimos mais calmos, descobrimos que o estudava na escola de negócios de Harvard e ainda era bolsista integral, o que eu achei chique demais e de uma inteligência sem tamanho, o cérebro daquele cara deveria ser maior que o meu e o do Pat juntos. E foi aí que tivemos a ideia do século, o fato de ele ser um bom aluno, significava que tinha amizade com algum dos professores, o orientador quem sabe... foi no meio dessa sondagem que descobrimos exatamente isso. Um tal de professor Hermes, que era o maior defensor do dentro da faculdade, o cara também defendia as causas raciais e ele quem tinha falado ao Pagiola sobre o ato daquela noite. Professor Hermes quem ia ser nosso telefonema da vez.
Não demorou dez minutos pra que o senhor de meia idade aparecesse na delegacia com fogo nas ventas, botando medo naquela corja idiota e dizendo que eles iam se ver com a lei se não soltasse os alunos dele. Isso mesmo, alunos. O cara era só o melhor advogado daquela cidade inteira e meu Deus, precisávamos definitivamente andar com o se fosse pra sair de furadas em grande estilo daquele jeito. No fim das contas, tínhamos sido soltos as 3 da manhã, sem ser fichados — porque ele tinha sido professor do delegado, também —, além de prometermos que não nos enfiaríamos mais em confusão.
— E aí?? O que vamos fazer agora? — perguntei enquanto abria os braços na rua, sentindo o vento da madrugada bater em meu corpo. Pat soltou um gritinho de quem tinha ótimas ideias, mas o se limitou a um muxoxo quando olhou a hora no relógio.
— Beber! — o pinguço soou animado.
— Olha, eu preciso muito ir pra casa, ou minha mãe me mata. — o outro negou toda a oferta de uma boa dose de vodca. Mas como assim?
— Qual é, ? Você já está na rua até essa hora, mais dez minutos não vão aumentar sua sentença de morte. — Bonazzi se pendurou no ombro do nosso mais novo amigo. — É um agradecimento pela ajuda, mesmo. Era seu professor ou ligar pra tia Mandy.
— Minha mãe. — abri um sorriso trincado. — E ela é furiosa, além de morar na cidade vizinha. Acho que seríamos mortos.
suspirou, se deu por vencido e levantou as duas mãos, falando que tudo bem. Soltei uma risada animada e o abracei pelo outro lado, assim como Pat fazia. O cara riu baixo e sacudiu a cabeça, depois nos acompanhou sem demora pro bar. Algo no fundo do meu coração dizia que aquela nossa amizade em trio duraria por muito tempo, muito tempo mesmo.
Oh, my eyes can't lie
You said, they're so damn blue
And I love how you're so forward
Is it too soon to say I'm falling?
Era maluco pensar em como a minha vida tinha mudado depois de ter sido jogado dentro de uma cela de cadeia junto com a e o Patrick, isso sem levar em consideração o fato de que eu tinha arranjado as duas amizades mais improváveis da minha vida. Já fazia três meses que tudo tinha virado de ponta cabeça e eu entendido que eu não precisava ser um velho de oitenta anos e sóbrio pra manter minha bolsa de estudos, eu me divertia com eles, bebíamos juntos e lutávamos por causas importantes, agora mascarados pra evitar certos reconhecimentos.
Só uma coisa me incomodava dentro daquele cenário... estar levando uma vida dupla. Meus pais não conheciam meus amigos e muito menos aceitariam aquela amizade na tranquilidade, o que é uma pena, porque tenho certeza que e Pat seriam super gentis com os dois. Outra pessoa que também não fazia ideia de porque eu estava tão feliz, era Jude, minha namorada, já estávamos juntos há uns bons cinco anos e tanto meus pais como os dela torciam que nos casássemos, por isso eu usava uma aliança enorme e brilhante na mão direita. Na verdade, Jude tinha sido minha primeira namorada e se tornado minha noiva àquela altura do campeonato e no geral, era um namoro bom, se eu não a contrariasse. Talvez fosse por isso que eu preferia esconder essa parte feliz da minha vida. Ninguém ao meu redor apoiaria minha amizade com dois brancos malucos.
Soltei uma risada divertida e senti o transporte coletivo sacudir, tinha acabado de sair da aula e estava indo ver onde Patrick estava trabalhando, ele tinha ligado pra casa dos meus pais na noite passada, bem tarde, e me matei pra atender o telefone antes que os dois acordassem furiosos — não gostava de pensar que ainda morava com meus pais no auge dos 23 anos, mas além de ter entrado na faculdade tarde, sairia dali pra me casar mesmo —, assim que atendi ao telefone, ouvi os gritos animados dos meus amigos.
Pat tinha arranjado um emprego e não precisaria voltar pra casa, ia conseguir pagar a faculdade e ficar com a gente. Depois de toda a confusão envolvendo a delegacia, os dois ficaram com pendências na universidade e pelo que meu amigo havia me contato, os dois perderiam 50% da bolsa, mas a família da não podia pagar a faculdade dela e como a mãe dela era um pouco furiosa demais pra saber a verdade e permitir que ela trabalhasse, Pat cedeu os 50% dele e começou procurar emprego. Bom e sobre mim, o professor Hermes conseguiu virar toda a situação ao meu favor, primeiro porque ninguém viu minha cara quando sacudi o policial por trás, então basicamente eles me jogaram na cela porque eu sou negro. Pude confirmar isso quando meu professor perguntou a motivação da prisão e ninguém soube responder.
Desci do ônibus e fechei os olhos com força por causa do sol, os dois marcaram comigo em um bar de esquina chamado “Joey’s”. Procurei o lugar e abri um sorriso animado quando percebi que estava do outro lado da rua, atravessei correndo e bati na porta antes de entrar. Um sininho soou quando passei pela porta e algo diferente me atingiu quando uma loirinha do cabelo curto virou na minha direção, os olhos claros extremamente brilhantes. estava sentada em um dos bancos do balcão e abriu um sorriso incrível assim que me viu passar pela porta. Caralho, ela era linda demais. Sempre tinha sido linda, pra falar a verdade, mas as últimas semanas tinham sido malucas, porque de repente eu tinha começado a sentir coisas pela minha amiga que não eram recomendadas quando se estava em um relacionamento sério.
Não queria alimentar aquilo e por causa disso, preferia não dar nomes e nem definições aos sentimentos, ou eles se tornariam ainda mais reais. Mas falar a verdade era preciso, tudo me lembrava a , absolutamente tudo e talvez fosse por isso também, por toda aquela confusão mental, que eu estava arranjando desculpas pra não ver a Jude. Era covarde da minha parte, mas não podia simplesmente terminar um namoro com a garota que tinha estado comigo em vários momentos da minha vida, embora tivesse monopolizado grande parte deles.
Cumprimentei com um beijo na testa e ela abriu um sorriso ainda mais lindo, tinha um prato com bife e fritas a sua frente, sentei no banco ao seu lado e percebi que um prato com a mesma coisa, estava perto de mim.
— Cadê ele? — perguntei com um sorriso ansioso.
— Olha lá! — ela apontou pra uma janela que dava na cozinha. Nosso amigo estava de touca, com uma roupa clara, avental e virava panquecas em uma frigideira. Abri um sorriso orgulhoso e feliz por ele, deveria ser maravilhoso trabalhar com algo que você gostava tanto.
Eu era louco por hóquei, meio obcecado pelo Boston Bruins, mas duvidava que fosse conseguir trabalhar com o esporte algum dia. Inclusive, na TV no canto do bar passava alguns destaques do último jogo e prendia de leve a minha atenção. Na verdade, prendia completamente a minha atenção.
— ! — ouvi o grito da e olhei de uma vez pra ela, assustado até, mas aí a mulher riu de um jeito tão genuíno que meu coração disparou. — Você estava preso de novo nos caras com patins.
— Não fala assim do hóquei. — fiz um bico. — Ainda vou te fazer gostar, escreve isso. É pra mim? — perguntei sobre o prato.
— Cara, eu sou daqui da costa leste e nunca acompanhei muito, acho que você não vai conseguir. — abriu um sorrisão esperto. — E sim, é seu almoço, Patty fez questão que a gente almoçasse aqui hoje.
— Eu estava mesmo morrendo de fome. — enfiei uma colherada da comida na boca e meu mundo ficou mais colorido. Patrick era definitivamente o melhor chef que eu conhecia. — Quando vou provar da sua comida? — perguntei a , sorridente.
— Hm. — ela fingiu ponderar, fazendo um bico encantado e engoli meu sorriso idiota. — Que tal quando você nos apresentar a moça que botou essa aliança em seu dedo?
Parei no meio do caminho, literalmente no meio do caminho do garfo chegar a minha boca. Droga!
— Qual é, ! — minha amiga insistiu e usava de uma manha imensa. — Queremos conhecer sua namorada, porque bom, nós sabemos que essa aliança no seu dedo quer dizer alguma coisa. Qual o nome dela? Ela é legal? Por que você não traz ela aqui? — a enxurrada de perguntas animadas atingiu meu coração em cheio, estava contente com o fato de eu ter uma suposta namorada e meu egoísmo tomando de conta quando eu não queria, nem a pau, que ela conhecesse a Jude.
— Ela se chama Judith. — pigarrei, largando o garfo perto do prato e abriu um sorriso de quem estava ansiosa por mais uma garota no grupo. Infelizmente, não teríamos mais uma garota no grupo, eu teria sorte se ficasse no grupo depois de contar tudo a Jude. — Mas não estamos muito bem, acho que deve ser o desgaste do relacionamento. — dei de ombros.
E como se não pudesse ser mais perfeita, afagou meu ombro dizendo que sentia muito, mas tinha certeza de que tudo iria se resolver. Infelizmente, eu também.
Capítulo Dois
Sentia minha cabeça rodar como se fosse algum carrossel desgovernado dos parques de diversão que ocupavam algumas praças de Boston em dias de feriados e festivais. Não era bem um carrossel, mas um daqueles parques com xícaras malucas que rodam mais e mais no próprio eixo a cada volta que dava em um eterno looping de agonia e sofrimento. Como se não bastasse, meu estomago também seguia o mesmo ritmo da cabeça, enquanto eu tentava pensar em uma forma de contar aos pais da Jude. Como raios eu iria contar aos pais dela? Conseguia ver claramente um altar, um padre — ou seja lá qual tipo de líder religioso eles acreditavam —, um vestido de noiva amarelado e uma igreja lotada de gente vendo meu fim.
Esteva pronto, eu estava realmente pronto pra acabar o namoro com Judith. Tinha tomado coragem depois de tantas conversas com o Patty, depois de tantos conselhos, que partiram até do Adam — um amigo do Patrick que tinha virado meu amigo também, o cara era um nerd maluco alucinado por robôs —, tinha motivos certos e palpáveis para findar aquela tortura e começar mesmo a viver com felicidade, não ia deixar que ela me manipulasse mais uma vez, até que... aconteceu. Eu ia ser pai. Judith estava com um mês de gravidez e, merda, , você não ia deixar a garota desamparada quando ela estava esperando um filho seu. Conclusão, eu ia ser pai, assumir meu filho e claro, ficar com a Jude.
Saí da lanchonete numa pressa absurda, como se as paredes coloridas fossem se fechar na minha cabeça a qualquer momento, dando uma desculpa qualquer a ela sobre contar a novidade ao Patty e beber para comemorar, achando maravilhoso quando ela recusou ir junto. Eu era um cuzão covarde, mas não estava pronto para aquela enxurrada no meio da minha cara. Eu ia mesmo contar ao Patrick e beber, queria beber até nem lembrar meu próprio nome com aquela notícia, tinha enrolado o casamento pelos últimos sete anos e naquele momento não tinha mais jeito, eu já tinha trinta, já estava trabalhando em um escritório que me explorava e pagava razoavelmente por um serviço, que, nem de longe, era competência de um aluno número um da classe de Harvard. Mas ser preto em um país racista fazia esse tipo de coisa com a gente.
Estávamos quase no século XXI e as coisas só pareciam piorar.
Nos sete anos que haviam se passado, muita coisa acontecera em nossa vida, muita coisa mesmo. A começar pela minha formatura, eu havia me graduado com honra e gostava de acreditar que tinha sido o maior orgulho para os meus pais, que infelizmente, não estavam mais vivos. Os dois tinham falecido com pouco espaço de tempo entre um e outro, já fazia quatro anos do meu pai e três da minha mãe e ainda doía no meu peito pensar que eu não tinha mais os dois na terra. Já a amizade incrível que eu tinha com Patrick e , só ia de melhor a melhor ainda, tínhamos desenvolvido um relacionamento incrível, enquanto eu me forçava a superar Atwood.
As coisas ficaram ainda mais animadas quando Anne, uma intercambista francesa que tinha estudado na sala de na época de faculdade, tinha se aproximado ainda mais da gente e de quebra, veio o Adam, que era namorado dela desde o começo da faculdade. Os dois se casaram há quase dois anos e foi um dos casamentos mais bonitos que eu já vi em minha vida. Eles eram um casal incrível.
Outra coisa que também trouxe inúmeras alegrias para o nosso grupo, que estava maior, foi o fato de que meus amigos, , Pat e Anne, montaram um restaurante só deles. Ainda era um lugar pequeno no centro de Boston, mas tinha a melhor comida do mundo. Era o restaurante mais aconchegante que eu já tinha entrado em toda a minha vida, sem falar em todo o cuidado que os dois tiveram ao montá-lo. O nome era Le Bistrot, especializado em culinária francesa e italiana, e óbvio que na parte francesa — uma paixão da minha amiga — tinha um toque mais do que especial da e da Anne. Patrick era o responsável por tudo que movia a cozinha metade italiana, como o bom italiano que era.
Era pra lá que eu estava indo quando senti que minha cabeça poderia explodir pela pressão. Andando pelas ruas de Boston a noite, sentindo o frio atingir cada canto profundo do meu ser e os pulmões arderem com o ar seco que entrava, cheguei ao Le Bistrot, dando graças aos céus que a plaquinha na porta de vidro mostrava que o lugar estava fechado. Pelo vidro eu conseguia ver o Adam sentado em um banco, parecendo ler algo apoiado no balcão, detrás dele estava recolhendo uns copos que deveriam ter sido dos últimos clientes. Passei pela porta em uma velocidade tão grande que quase arranquei o sininho de aviso preso na soleira.
— ! — o espanto da deu lugar a uma animação que me deixava com vontade de chorar agarrado aos joelhos. Me aproximei do balcão com um sorriso forçado e dolorido, enquanto o Adam tentava assimilar a situação e esticava a mão pra mim em um cumprimento.
— Oi, cara! — apertei sua mão, dando um meio abraço no meu amigo, depois sentei em um dos bancos do balcão, enquanto cumprimentava com um apelido, que nem de longe, eu deveria estar usando. — Oi, branquinha. Cadê a Anne? E a garota do Pat? — eu nunca me lembrava o nome dela, porque Patrick mesmo beirando os trinta, não parava com uma mulher só.
— Anne está terminando de limpar a cozinha com o Patty. — ela mordeu a boca de leve, eu sabia que aí vinha uma gargalhada e tanto. — E a garota do Pat. — ela frisou bem o fato de eu não lembrar o nome da menina e me senti péssimo, mas ainda com vontade de rir.
— Deu um pé na bunda dele. — Adam quem completou a fala, largando as provas da turma universitária dele e soltando uma gargalhada daquelas que faz você rir junto.
Foi naquele momento que o alivio tomou conta do meu peito, embora momentâneo, meus amigos eram mais do que amigos, eles eram família pra mim. E era isso que eu iria ensinar ao meu filho, que os amigos são a família que você escolhe.
— Vai, Adam, conta da novidade. — ela cutucou o braço do nosso amigo e só aí percebi o quanto ele estava radiante. Os olhos pareciam mais brilhantes, o sorriso não saía do rosto e caramba, aquilo era contagiante.
— Que novidade? — vinquei minhas sobrancelhas.
Adam abriu um sorriso ainda mais largo e cheio de dentes, tomou fôlego e assim que sua esposa e o Pat apareceram na soleira da porta da cozinha, ele disparou:
— Anne está grávida! EU VOU SER PAI!
Era felicidade genuína que explodia dos dois. Fiquei atônito com a notícia, mas incrivelmente feliz, teríamos mais crianças crescendo juntas, o meu filho teria amigos filhos dos meus amigos. Cumprimentei os dois com abraços calorosos, estava ainda mais feliz, eu também ia ser pai, mas queria que alguém ali fosse a primeira a saber.
So maybe
Maybe we were always meant to meet
Like this was all our destiny
Like you already know
Your heart will never be broken by me
So is it crazy
Eu gostava do , sempre gostei. No começo, era um gostar saudável, natural, interessante, era exatamente como eu gostava do Patrick, mas com o passar do tempo, o passar dos anos fui percebendo que esse gostar tinha perdido o controle. Eu já gostava do de um jeito completamente diferente, gostava do abraço dele, do cheiro que me acalmava, da voz, dos olhos, da risada contagiante e principalmente, do jeito que ele cuidava de mim. Nossa amizade tinha entrado por caminhos misteriosos no último ano, tinha passado a enxergá-lo de um jeito perigoso demais e evitava a todo custo, estar sozinha com o em qualquer lugar, não por medo dele, mas por medo do que eu poderia fazer. Ele tinha namorada e aparentemente, gostava mesmo da Jude.
Jude... Eu mal tinha contato com a Judith, nesses anos de amizade, tinha encontrado com ela pouquíssimas vezes e em situações bem controladas, pra falar a verdade, e mesmo assim odiava ver o jeito que ela tratava o meu amigo. Conhecia bem aquele tipinho controlador, tinha sido criada por alguém exatamente igual. Odiava o fato de aquela garota ser completamente controladora com uma vida que não era dela, a gota d’água tinha sido no casamento da Anne, quando tivemos um bate-boca no fim da festa. Eu já estava meio alta de tanto champanhe e não me orgulho de tudo que disse, então é reconfortante saber que a única pessoa que tomou conhecimento do acontecido foi a minha melhor amiga.
[...]
Dois anos antes (1994)
Minha cabeça rodava mais do que eu e o Patrick no salão. Fomos colocados como padrinhos juntos, Anne achou melhor assim, mesmo depois de todos os meus pedidos pra ela inventar um sorteio e me por no altar com o . Lembro muito bem das palavras dela, enquanto dizia que eu estava maluca “Você quer arranjar confusão no meu casamento, mulher?”. A resposta? Não queria, não. Só queria um par bonitão ao meu lado, um que fazia meu coração sacudir no peito mesmo no auge dos meus 27 anos de idade. Patrick não era nada mal, pra falar a verdade, mas éramos amigos e apenas isso, ansiava que ele também me visse assim.
— Vou pegar mais um champanhe. — bati de leve no ombro do Patty para avisá-lo e o homem sorriu, depois beijou a minha bochecha. — Você quer?
— Não, , vou pegar um whisky e salvar meu amigo daquela mulher. — ele apontou pra um canto mais ao longe e vi. parecia muito desconfortável com todo o falatório da mulher ao seu lado. Jude Simons era insuportável, pra um senhor caralho.
— Boa sorte com a fera. — beijei a bochecha do meu italiano preferido. Patty riu e saiu do salão, sacudindo a cabeça. “A fera” era nosso apelido interno para Judith.
Passei a mão no cabelo pra conferir o coque e me peguei sorrindo sozinha, era muito gostoso estar vendo a felicidade estampada no rosto dos meus amigos e o melhor, estar fazendo parte do momento como madrinha. Meu vestido esvoaçante era uma das melhores partes do posto, ele era a coisa mais linda do mundo e como tinha sido um presente da Anne, eu iria guardá-lo pelo resto da minha vida. Cheguei ao bar pronta para botar mais uma taça de champanhe goela a dentro, mas quase coloquei meu estomago pra fora.
Ela era ridiculamente bonita, Judith tinha uma beleza fora do normal e tenho certeza que ela ganharia de lavada algum concurso de miss se evitasse abrir a boca no processo. Calada, , você está sendo uma vaca! Na verdade, eu só estava sendo verdadeira, a namorada do era linda por fora, mas eu já tinha convivido tempo demais com ela pra saber que parava por aí.
Judith me mediu como se eu fosse ninguém, empinou o nariz e chamou o barman com um aceno. Me senti tão pequena diante da situação, como se eu fosse uma vagabunda que não merecia sequer um cumprimento e meus miolos ferveram.
— Ah, quer saber? Que se foda! — bati a mão no tampo do balcão e hoje, dou graças a Deus que naquele momento, não tinha mais ninguém na festa, nem os noivos. — Você acha que é a rainha da Inglaterra, garota? Ou sei lá, a filha da porra do presidente?
— Já está bêbada, ? — fui medida de novo e quase explodi de raiva.
— Bêbada o bastante pra saber que você não merece o , não merece um pingo do amor dele. O cara é incrível, um dos mais incríveis que eu já conheci em toda a minha vida e você só o maltrata, o esnoba. Você não se toca, Judith? Acha que ele é feliz vivendo assim? Você, garota, é feliz vivendo assim? Com um namorado que não é mais seu, que está com você por conveniência do destino... Se você o ama de verdade, deixe o cara livre. — joguei em cima dela, metade do que estava preso no meu peito.
Jude soltou uma risadinha irônica que fez entender que eu tinha perdido a batalha por falar demais. Porém, se tinha uma coisa que eu havia aprendido com uma mãe controladora, era a travar batalhas pacientemente.
— Deixa-lo livre pra você?
Engoli o nó em minha garganta. O barman trouxe o champanhe e recusei, não conseguiria engolir mais nada quando já queria vomitar, de novo. Tomei fôlego e decidi ser tão irônica quanto ela.
— Quem sabe, assim, ele não descobre o que é felicidade de verdade? — pisquei pra garota e sai de lá antes que eu piorasse a situação, vomitando em seus pés.
[...]
For you to tell your friends to go on home?
So we can be here all alone
Fall in love tonight
And spend the rest of our lives as one
— Você está tão caladinha. — senti a voz do contra meus cabelos e no reflexo meu corpo se encolheu com as vibrações que percorreram meu corpo.
Depois que a Anne e o Adam contaram da gravidez, colocamos algumas músicas no som, os meninos abriram uma garrafa de vodca barata, a nossa vodca, enquanto minha amiga assegurou que uma água com gás estava de bom tamanho pra ela. Comemoramos o novo bebê e logo o me chamou pra dançar uma balada lenta que tocava, enquanto eu me impedia de tentar especializar demais o momento.
— Estava refletindo sobre uma porrada de coisa que aconteceu nos últimos sete anos. — encostei a cabeça em seu peito. — Passou tão rápido né?
— Demais, branquinha. — ele suspirou entre meus cabelos, mas ao mesmo tempo, senti um sorriso. Se é que isso era possível. — Acho que nunca disse isso, mas estou orgulhoso pra caramba de tudo que vocês construíram, tenho certeza que logo, logo, o Le Bistrot vai estar reservando mesas pra daqui três meses.
— Deus te ouça, o movimento está meio fraco esse mês. — fiz uma careta de leve, mas não ia deixar que aquilo me abalasse. — Você deveria se juntar a gente.
— É complicado, branquinha. — ele me sorriu tão confortável, que a situação não parecia ter o peso, que realmente tinha.
Afirmei com um aceno contido, embora não concordasse com aquilo, eu queria que meu amigo fosse mais do que isso. Porque ele não terminava com a Jude? Sempre parecera que nós dois tínhamos sido feitos para nos encontrar, tudo encaixava, absolutamente tudo e todo mundo já tinha percebido. Será que ele não?
Rodopiamos no salão, enquanto eu me segurava nos braços dele, porque odiava ficar tonta. Adam e Anne rodopiavam do outro lado. soltou uma risada gostosa de ouvir e beijou minha bochecha, bem apertado.
— Aconteceu uma coisa e quero que você seja a primeira a saber. — umedeceu os lábios e não consegui desviar o olhar, um sorriso tão lindo se formava ali. Meu coração disparou no peito, enquanto meu corpo gritava que era uma notícia boa, maravilhosa, se fosse por tudo que o Patty tinha soltado pra mim em outra noite.
— Eu também quero te contar algo. — abri um sorriso imenso, que o fez sorrir junto. — Mas você primeiro. Qual a novidade?
respirou fundo, tomando fôlego como se fosse uma boa dose de tequila.
— Eu também vou ser pai. — um sorriso gigantesco se abriu em seus lábios, o rosto parecia iluminado demais.
No fim das contas, era uma notícia incrível, ele iria ser pai, mas tinha me deixado sem chão. Acho que tinha perdido todas as batalhas e, consequentemente, a guerra. Era triste saber que nem madrinha dessa criança eu poderia ser, teria sorte se pudesse conviver com o bebê do , mesmo como uma tia velha.
Capítulo Três
JUNHO
Patrick olhava fixamente pra mim e parecia tenso, apreensivo ou qualquer coisa que tirasse aquela alegria maluca que tomava conta dele quando estávamos os três juntos. Eu estava curioso, na verdade, meu amigo tinha ligado pro telefone da minha casa pedindo pra ir lá quando Jude e Silver não estivessem, confesso que fiquei levemente preocupado. A conversa deveria ser séria né? Já que ele não queria falar perto da minha namorada e do nosso filho de pouco mais de um ano? Bom, aproveitei que ela iria levar o Silver pra brincar no parquinho com a Cathy, a bebê da Anne, e disse que ele poderia ir depois do café da manhã, antes de eu sair pra trabalhar.
A chegada do Pat me deixou ainda mais curioso, ele parecia que não dormia há semanas e estava com uma cara péssima de culpa, estranhei mais ainda o fato de que a não estava junto. Porque não queria que ela soubesse do que iria me contar? Merda, merda, merda, eu odiava esconder as coisas daquela mulher e nem conseguia, pra ser sincero.
— Desembucha, Pat! Eu vou morrer seco de tanta curiosidade. O que tá te deixando com essa cara horrível?
— Promete uma coisa pra mim primeiro! — aquele italiano filho da mãe apontou pra mim com o indicador e gemi frustrado. Com certeza era algo grave e ele precisava de cobertura. ia me matar e Jude também, principalmente porque minha namorada não gostava muito dos meus amigos. — ...
— Vai, porra. O que você quer que eu prometa? — me dei por vencido.
— Que não vai me odiar e nem parar de falar comigo. — Pat passou as mãos pelos cabelos e senti minhas pernas congelarem. Por favor, que não tenha nada a ver com a , por favor.
— Patrick... — tentei repreendê-lo, mas o olhar incisivo do meu amigo pedia que eu aceitasse logo a condição. — Vai, cacete, fala logo! — passei a mão pela cabeça, meu cabelo crespo já estava voltando a crescer e eu precisava urgente cortá-lo novamente. Se já tinha sido um inferno arranjar um emprego no meio daquela briga racial, mantê-lo era ainda pior.
— tá grávida. — ele falou de uma vez, como se tira um band-aid e demorei uns bons segundos pra processar essa informação. Se ela não estava namorando nem nada, ou saindo fixo com alguém, como raios poderia estar grávida? E por que caralhos eu ficaria bravo com o Pat por causa disso?
Levantei o olhar pro meu amigo, esperava que ele me contasse mais alguma coisa, mas a palidez em sua face, os olhos baixos e a expressão culpada era o suficiente pra que eu entendesse. O filho era dele. Fui egoísta o bastante pra pensar que esfolaria Patrick de uma surra e não seria difícil, considerando que eu era muito maior do que ele em massa corporal; fui egoísta pra sofrer calado naquele exato momento, sentindo meus órgãos dissolverem em pura dor pela "traição", Patrick sabia que eu...
Engoli aquela afirmação filha da puta, porque também não ia ser egoísta ao ponto de não pensar no Silver e na mãe dele. Eu não poderia ser egoísta de forma nenhuma, me prendendo a um sentimento que não iria pra frente, que não deveria ser alimentado. Engoli junto com o egoísmo, o choro e toda aquela dor que queimava meu peito. Apertei os dedos com força na beira da bancada da pia e junto com o exército de respiração, soltando todo aquele ar e os sentimentos ruins que me tomavam.
— , por favor cara, respira! — senti as mãos do meu amigo apertando meus ombros. — Me escuta! Olha, foi... — ele sacudiu as mãos em desespero.
— UM ACIDENTE? — gritei sem nem mesmo ter a intenção daquilo. O bebê não tinha culpa e com certeza seria uma criança doce, assim como a . — VOCÊS PERDERAM A PORRA DO JUÍZO?
— WOW, WOW! Calma aí, amigão. Sem gritos, sem agonia. Aconteceu, tá bom? A gente não tava planejando porra nenhuma, muito menos que a ficasse grávida. — ele botou as mãos na cabeça de novo e vi que nosso desespero era mútuo. — Somos adultos, , não estamos mais na faculdade e temos total capacidade de criar uma criança.
— Vocês estão... — engoli o bolo que se formava na garganta. Não sabia se estava preparado pra ouvir, mas precisava, mais do que nunca.
— Espera, o quê? — Patrick soltou uma risada de deboche. — Eu e a ? Pelo amor de Deus, nada a ver. é minha melhor amiga, , sinto carinho por ela. — ele escorou ao meu lado na bancada da pia e afagou meu ombro. — Eu vejo o jeito que você olha pra ela, não sou burro e nem cego. Nós estávamos bêbados. Aconteceu naquela noite que a gente tinha marcado de sair e você não conseguiu ir porque o Silver estava com febre.
Tentei dizer que ele estava ficando maluco, mas nada saiu da minha boca, só um resmungo. Esfreguei o rosto por baixo dos óculos e arregacei as mangas da camisa de botões. Soltei um suspiro indignado comigo, minha falta de resposta, os dois eram meus amigos e eu precisava apoiá-los.
— Eu precisava te contar, , nunca iria me perdoar se isso chegasse nos seus ouvidos de outra forma e... — Pat suspirou frustrado. — Não faço ideia de como é criar uma criança, vou precisar do seu apoio e da sua ajuda.
Puxei meu amigo pra um abraço apertado. Patrick me abraçou de volta e soube que estávamos no mesmo barco.
— Espero que a criança pareça com a mãe. — tentei amenizar a situação e tomei um tapão seguro nas costas.
Xinguei o Pat e restamos os dois rindo na minha cozinha pequena.
Estávamos andando na orla da praia, Boston nunca era quente aquela época do ano, na verdade, duvidava que Boston pudesse ser quente em qualquer mês e aquilo era o que me fazia amar aquela cidade. Tinha pedido ao Pat que avisasse ao do melhor horário pra gente conversar, já que a namorada dele me odiava com todas as forças. Sendo bem sincera? Eu não tirava a razão dela, mas com tudo que tinha acontecido nos últimos dois anos, acho que já era hora de tentarmos ter uma boa relação, começando por mim. Eu ia pedir desculpas a Jude.
— Patty me disse que te contou. — introduzi o assunto antes que o silêncio ficasse insuportável.
parecia um pouco tenso e estava com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans. Era a única pessoa que andava de tênis numa praia, prendi a risada, era muito engraçada a postura dele. Depois que o Silver tinha nascido, meu amigo parecia sempre estar com pressa ou ocupado, já não nos víamos mais com tanta frequência e eu entendia, não deveria ser fácil sustentar duas pessoas e ainda mais uma criança. Eu estava orgulhosa de todas as decisões do e esperava que um dia pudéssemos trabalhar juntos, ele era definitivamente a pessoa que eu entregaria meus negócios de olhos fechados.
— É! Ele me contou e eu disse a ele que espero que o bebê pareça com você. — rimos juntos e sacudi a cabeça. — Achei que estivesse no início... — ele apontou delicadamente pra minha barriga saliente e fiz uma careta.
— Eu descobri faz um tempo. — mordi a boca. — Mas não sabia o que fazer, não tinha certeza quem era o pai do bebê e nós três estamos tão atolados de coisas pra fazer que quando parei pra pensar de verdade, já tinha se passado três meses.
— Caralho, branquinha! Três meses? — soltou com uma surpresa genuína e eu ri.
— SIM! Três meses, não é maluco isso? Mas eu gostei da ideia desde o início, mesmo com o Patrick quase desmaiando. Já estou perto dos 30, estava mais do que na hora de ser mãe, sempre quis ser mãe. — sorri animada e recebi um sorriso lindo de volta, encantado. Os sorrisos do eram tão verdadeiros, ele sempre sorria com os olhos, o corpo todo e se não sorria daquela forma, não era de verdade. — Já fui ao médico, estou tomando as vitaminas, está tudo bem com nós duas! — coloquei a mão na barriga por cima do suéter.
— AH MEU DEUS, É UMA MENINA? — o grito animado do foi a coisa mais incrível daquela tarde, eu ainda ia contar ao Pat o sexo do bebê, mas senti que deveria contar a ele primeiro.
— SIM! UMA MENINA.
— IMAGINA! ELA E O SILVER. — abriu um sorrisão imenso ao mencionar o filho, um daqueles que vinha com o sorriso do corpo todo. — Ah meu Deus, o Sil tava mesmo pedindo um amiguinho, na verdade um irmãozinho.
Soltei uma risada animada.
— E é o que eles vão ser, ! — afaguei seu braço. — Amigos e irmãos! Espero muito que minha menina possa crescer junto com o Silver, eu tenho certeza que os dois vão se dar muito bem.
Continuamos conversando pela orla, imaginando como seria quando minha bebê nascesse e o Silver a conhecesse, comentando sobre o que eu não fazia ideia da maternidade e ele já tinha presenciado com a Jude. Foram longos metros de uma conversa boa e franca, do mesmo jeito que costumávamos fazer nas épocas de faculdade e um pouco depois também.
Mil novecentos e noventa e nove, foi definitivamente o ano em que tudo mudou. Decidi que certos sentimentos deveriam ficar guardados para o bem-estar de toda uma família e era isso que nós éramos, Jude ainda tinha o apoio dos pais idosos, mas o só tinha nós cinco como família e iríamos apoia-lo em qualquer decisão. Depois de passados seis meses da minha gravidez, comecei a enxergar o mundo de uma forma diferente, como uma mãe, uma mulher madura e reconhecia minha grande parcela de culpa no péssimo relacionamento com Judith.
Respirei fundo a soleira da porta fechada e passei a mão nos meus cabelos curtos. Tomei fôlego como se fosse um grande gole de coragem e bati na madeira clara da porta, enquanto observava como o lugar era lindo, aquela casa era linda, uma das mais bonitas que já tinha visto.
— Pois não. — A voz animada da mulher perdeu o tom assim que ela me viu do lado de fora. — Ah, oi, é... — Jude se desarmou completamente quando viu minha barriga de seis meses despontando do casaco. Primeiro ela empalideceu, depois colocou a mão no estomago como se tentasse conter um jato de vômito. Fiz uma careta confusa e logo, bem logo, me dei conta do que ela poderia estar achando.
— AI MEU DEUS, NÃO. É DO PATRICK! — eu também estava enjoada com a ideia que ela tinha de mim.
Sim, eu tivera sentimentos fortes pelo e em um lapso movida ao álcool, acabei jogando isso na cara dela, mas naquele momento, eu tinha guardado tudo dentro de uma caixinha no meu coração e liberado o espaço para algo novo que estava surgindo.
— Você e o Patrick? — ela fez uma careta muito confusa e eu suspirei exausta, já estava cansada de tentar justificar, então dei de ombros, nós meio que estávamos saindo mesmo. — Por essa eu não esperava, de verdade.
— Preciso te dizer que nem eu. — soltei uma risada e Jude me acompanhou, sacudindo a cabeça em negativa. — Posso entrar? Vim conversar com você.
— Comigo? — a mulher liberou o espaço pra que eu a acompanhasse e fiz isso.
A casa estava um brinco, linda, cheirosa e organizada. Judith entrou na cozinha comigo no encalço e lamentei que ela tivesse largado o trabalho, mas segundo a Anne, tinha sido uma escolha. As duas tinham se aproximado muito com as gravidezes simultâneas, tanto que minha melhor amiga e o Adam eram os padrinhos do pequeno Silver, vasculhei os cômodos com os olhos em busca dele.
— o levou pra ver aqueles caras malucos nos patins. — ela sacudiu a cabeça e prendi a risada. Meu amigo era maluco por hóquei. — Se senta.
— Obrigada! — me acomodei na banqueta da cozinha. — Eu sei que não fui alguém fácil nesses anos e sinto muito por ter atrapalhado o seu relacionamento de alguma forma, eu nunca quis isso, pra lhe ser bem sincera. — Jude afirmou com um aceno calmo e umedeci os lábios. — Nós somos uma família e eu queria muito ter uma relação amistosa com você, nossos filhos muito possivelmente serão amigos e não acho que as nossas diferenças precisam interferir nisso. Espero que você me desculpe.
Mordi a boca, ainda apreensiva e a vi abrir um sorriso contido, aliviado, de como se ela só poderia ganhar aquela guerra se eu recuasse. O que ela não sabia é que eu já tinha recuado há anos.
Judith agradeceu sinceramente pelo pedido de desculpas e logo disparou uma porção de perguntas sobre a minha gravidez e sobre o meu relacionamento com o Patrick. Acho que ela era a segunda pessoa que estava sabendo depois de Anne, eu e o Patty tínhamos decidido morar juntos, tocar o restaurante, criar o nosso bebê e ver no que dava.
Capítulo Quatro
2005
Aquela estava sendo a conversa mais complicada da minha vida de pai e sei que não pararia por ali. Dali alguns anos vinha uma sobre primeiras experiencias, sobre faculdade e sobre mais uma porrada de coisa que eu não queria pensa enquanto meu filho de 8 anos estivesse me olhando com os olhos chorosos. O Silver tinha sido a pessoa mais importante que acontecera na minha vida e a última coisa que eu queria no mundo era magoa-lo.
— Eu não vou mais te ver? — meu moleque perguntou choroso, estávamos sentados em sua cama e eu tinha sido o encarregado de dar as péssimas notícias pra ele.
— O quê? Que isso, cara, você vai me ver sim. Eu vou só passar uns dias na casa do dindo. — beijei sua cabeça. — Vou continuar indo te buscar no colégio, te levar no restaurante da tia , te levar pra brincar com a Albie... — enumerei nos dedos, vendo que meu menino estava entendendo. — E sempre que você for brincar com a Cathy, eu vou estar lá. São apenas uns dias, só até o papai se organizar.
Beijei sua cabeça e abracei o corpo pequeno com força.
— Porque você tá indo embora, papai? É porque eu não gosto de hóquei? Eu prometo que vou assistir de novo, não precisa ir embora.
Senti meu peito despedaçar com tamanho desespero num moleque tão pequeno. De onde raios ele tinha tirado que minha saída de casa era sobre ele? Não, não, de jeito nenhum.
— WOW, WOW. Não, Silver! Quem te disse isso? Você não precisa gostar de hóquei, moleque, você não tem que gostar de nada que o papai gosta e eu vou continuar te amando, pra sempre. — abracei seu corpo mais forte, beijando a cabeça dele como se aquela fosse a última coisa que eu estava fazendo no mundo. — Nada disso é sua culpa, meu amor, nada. — abafei um soluço de dor na garganta.
— E porque você vai embora? — o choro se espalhou pelo quarto decorado com alguns elementos do hóquei que eu sabia que ele não gostava, mas a mãe insistia mesmo assim.
Meu peito se partiu de vez com a agonia dele e de repente, eu sentia que estava abandonando meu menino, mas não estava, eu só queria que ele não sofresse com certos problemas psicológicos que viriam nos próximos anos, se eu e a Jude não parássemos de brigar. Soltei o choro junto, de repente éramos uma massa de meninos chorões abraçados com toda a força do mundo.
— Sil, olha. — funguei, mas enxuguei seu rosto com calma e carinho, ele segurava um ursinho na mão que tinha sido presente da Cathy, no último aniversário. — O papai precisa ir morar em outro lugar, eu não quero mais que você escute aqueles gritos assustadores. Eu sei que você escuta, campeão, eu não vou brigar com você por isso. — beijei sua testa com carinho. — É só que, às vezes, os adultos param de se gostar como dois namorados e ficam sendo só amigos, eu sou amigo da mamãe, mas não sou mais o namorado dela.
— Eu posso ir morar com você? — Silver enxugou o rosto com as costas da mão e senti meu ser inteiro se desmontar.
— Então. — tomei fôlego. — Por enquanto, o papai está sem casa, mas a tia e seus dindos vão me ajudar a encontrar uma casa maneira. E aí... — arregalei os olhos só pro meu moleque ficar cheio de curiosidade e esquecer aquela atmosfera caótica pra trás.
— Aí o quê, pai, fala!
— Nós vamos montar um quarto pra você, do jeitinho que você quiser, com qualquer coisa. — fechei os olhos pra enfatizar. — Da cor que você quiser, com desenho na parede, uma cama legal, um computador, lápis de cor. Mas com uma condição, você passa 15 dias com a mamãe e 15 dias comigo, combinado?
— COMBINADO! — recebi Silver no meu abraço, o segurei no colo como se fosse um bebê, respirando aliviado por ter conseguido contornar a situação. — E aí eu vou chamar as meninas pra gente fazer uma festa do pijama bem legal.
— Vai sim, campeão, vai sim. O que você quiser. — beijei sua cabeça de novo, segurando meu filho no abraço. — Eu te amo, Sil, mais que tudo no mundo.
— Eu também te amo, papai!
should take your hand and make you come with me
Away from all this noise and impurity
'Cause I feel like you're too perfect
And I don't mean just on the surface
Eu estava uma pilha desde a hora em que havia me ligado no meio da manhã dizendo que Jude tinha dado o ultimato dela, depois de tantas brigas, e não tinha mais salvação no casamento dos dois, em troca, pra não confundir a cabeça do Silver e causar ainda mais brigas em casa, ele disse que iria passar um tempo em outro lugar. Claro que eu e o Pat oferecemos a nossa casa em Boston, assim como Adam e Anne também, e por mais que eu quisesse que o ficasse lá em casa, sabia que ele era muito sensato e recusaria pra evitar maiores problemas. Sei que na casa dos Hayes ele estaria muito bem cuidado e era pertinho da mina casa.
Acho que nem precisava dizer que meu relacionamento amoroso com o Pat não tinha ido bem, nós sempre fomos mais amigos mais do que qualquer outra coisa e só decidimos ficar juntos por um pico de paixão que não tinha nada a ver com a Alba, nossa filha. Ficamos juntos por três anos e após um catastrófico mal-entendido, foi cada um pra um lado, eu fiquei na costa leste dos Estados Unidos e ele se encontrou na costa oeste. Patty sempre tinha sonhado em morar na Califórnia e por mais que tenha sido um término desgastante pra nós dois, me deixava muito feliz a ideia de que ele estivesse refazendo sua vida por lá. Na semana anterior, meu amigo havia me mandando por e-mail todo o projeto do novo restaurante e tanto eu, quanto a Albie, quanto os nossos amigos, ficamos empolgados com a ideia.
Albie era nosso bem mais precioso e acho que não se parecia exatamente com ninguém, tinha os cabelos escuros do pai, mas a textura lisa era do meu, a pele clara como a minha, mas a estrutura grande como a do pai e o temperamento era dele também, por mais que os três patetas — Pat, e Adam — dissessem que ela era sem paciência igual a mãe. Nada a ver! Alba era a criança mais carinhosa e divertida que eu já tinha visto e nunca me arrependeria de tê-la parido, sem dúvidas, aquela garotinha atrevida era o amor da minha vida. Ela, o Silver e a Catherine eram como três irmãos.
— Mamãe, o dindo vem morar com a gente? — saí do transe com a pergunta da Alba e sacudi a cabeça, estávamos colorindo desenhos na mesinha da sala.
— Meu amor, eu ainda não sei. — abri um sorriso comedido na sua direção e ela afirmou com um aceno. — Ele vai ficar uns dias na casa da dinda. — beijei sua testa. — Mas sabe quem chega amanhã?
— QUEM? — ela deu um gritinho estridente, arregalando os grandes olhos claros.
— O papai! — soltei uma risada com os gritos da alba diante da notícia. — E.... ele quer que você conheça alguém bem legal.
Alba soltou várias frases animadas, além de dizer que ia contar a Cathy e ao Silver que ia conhecer “uma pessoa especial que o papai iria trazer”.
Patrick tinha me dito que estava namorando, em uma das nossas conversas na última semana e confesso ter ficado muito feliz com a notícia, ele merecia demais ser feliz, dividir as conquistas com alguém e encontrar o grande amor de sua vida. O pai da minha filha já tinha combinado de vir vê-la e trazer a Brunna para conhecê-la, mas com toda a situação envolvendo o divórcio do , Patty adiantou a viagem pra que pudéssemos dar uma força ao nosso amigo.
Aproveitei que minha menina tinha corrido na direção do banheiro pra fazer xixi e liguei pro , ele atendeu no terceiro toque.
— Hey... — tentei ser suave e sem tanta expectativa.
— Oi . — meu amigo suspirou frustrado, estava com uma voz triste e de choro que me machucava mais que tudo, eu sabia que ele estava pensando em tudo que implicava o Silver. Quando nos tornávamos pais, nossas prioridades mudavam.
— Como você está? Como o Sil reagiu?
— Foi uma das piores conversas da minha vida, ele achou que eu estou saindo de casa por causa dele. — prendeu a voz por um instante. — Mas consegui explicar e... estou quebrado né, Branquinha?
A volta daquele apelido fez meu corpo contrair inteiro de pura alegria, euforia e uma porrada de sentimentos bons que eu tinha reprimido nos últimos 5 anos.
— Mas ele é um garoto incrível e vou tentar convencer a Judith a colocá-lo em um esporte, ou atividade que ele gosta, sabe? Sei que isso vai ajudar a livrar um pouco a cabeça do meu menino. — ele suspirou cansado e resmunguei em afirmação, queria ouvir mais sobre o que meu amigo tinha a dizer, mas continuava calado.
— Vai dar certo, . Tenho certeza que vamos conseguir superar essa fase ruim. — tentei conforta-lo. — Você vai mesmo pra casa do Adam?
— Acho melhor, , pra evitar que as coisas fiquem piores. É recente e não quero a Judith colocando coisa na cabeça. — mais um suspiro que apertou meu coração.
— Eu entendo, de verdade. O Patty está chegando amanhã aqui em Boston.
— Vocês não tem jeito mesmo. — ele soltou uma risada aliviada, que me arrancou um sorriso.
— Isso significa que você vai aceitar meu convite pra ser gerente no Le Bistrot? — mordi a boca em apreensão. Alba voltava do banheiro sacudindo as mãozinhas pelo corredor, soltei uma risadinha.
— É a pequena? — ele riu também e afirmei com um resmungo. — Sobre o convite, é minha única alternativa, . Anne está ok com isso?
— Claro que sim, foi uma decisão nossa. — com gestos, mandei alba enxugar as mãos antes de pegar no papel e ela fez uma cara terrível. — Espera um pouco, .
— Não, tudo bem, vai lá ajudar a pequena e depois eu te ligo. Preciso terminar minhas malas. Obrigado pelo apoio, Branquinha.
— Sempre vou estar aqui por você, Pagiola, sempre!
Capítulo Cinco
2006
DEZEMBRO
So don't be scared, I am too
'Cause this chemistry between me and you
Is too much to just ignore it
So I'll admit it now, I'm falling
Era madrugada de Natal quando bati na porta dela, já estávamos trabalhando juntos há 8 meses, nos envolvendo há um mês e alguns dias e finalmente, tudo parecia fazer sentido. Eu e Judith descobrimos que éramos melhores sendo amigos e tendo uma relação amistosa em relação a criação do Silver, que estava dividindo seu tempo entre passar 15 dias comigo e 15 dias com a mãe, em uma dessas visitas no mês anterior, eu tinha o levado pra brincar com a Alba — e pra que eu pudesse ver a , claro — e no meio da tarde, os dois nos pegaram sentados nos sofá da sala aos beijos. ficou vermelha, as crianças começaram a gritar eufóricas que finalmente eram irmãos e me limitei a soltar uma gargalhada estridente, e depois, óbvio, elogiar a maquiagem dos dois pequenos.
Naquela época eu já sabia. Sempre soube e acho que isso tornou a minha relação com o Silver muito mais forte e saudável. Eu iria apoia-lo em qualquer decisão que tomasse.
Mas naquela noite de Natal, eu estava ali de malas prontas e coração livre pra ela, Atwood, a mulher por quem fui apaixonado por tanto tempo da minha vida e ainda continuava, claro que eu a amava, mas também estava apaixonado. Acho que finalmente tinha começado a entender por que demoramos tantos anos pra finalmente ficarmos juntos, se isso tivesse acontecido naquela época de faculdade, eu não era pai do Silver e nem ela era a mãe da Alba. Tinha que acontecer assim, nós amadurecemos e entendemos o que era um relacionamento pra que finalmente pudesse dar certo.
Esfreguei as mãos enluvadas e bati novamente na porta.
Meu furacão loiro apareceu com um sorriso imenso nos lábios, um suéter cheio de renas e todo o amor do mundo, recebi em meus braços e a apertei contra meu corpo como se aquilo fosse fazê-la nunca mais ir pra longe. Beijei seus cabelos com força, carinho e aconchego. Ela segurou meu rosto e me beijou na soleira da porta embaixo do visgo, eu não sabia se era a magia da data, da nossa decisão, ou o próprio visgo, mas aquele beijo só me deu ainda mais segurança de que eu estava no lugar certo. Rodamos no meio da neve nos degraus.
— Você veio mesmo! — abriu um sorriso contra maus lábios e soltei uma risada.
— Eu te disse que vinha, Branquinha. — enchi a boca dela com alguns beijinhos. — Me ajuda a pôr as malas pra dentro?
— Claro que sim! — demos mais um beijo cheio de carinho.
Coloquei no chão e em questão de minutos, minhas malas estavam pelo meio da sala, depois a gente arrumava. Naquela mesma semana iriamos decorar o quarto do Silver, porque como prometido, ele sempre teria um lugarzinho na casa do papai.
Mas naquele momento eu só queria sentir minha branquinha da maneira mais primitiva que existia.
You and I, you and I as one
You and I as one
You and I, you and I will be as one
Oh darling, you and I will be as one
Estar dentro dela era uma das melhores sensações da porra do mundo inteiro. Ela sentada em mim, o movimento dos quadris me tirava o fôlego, suas mãos fincadas em meus ombros, a boca encostada na minha, enquanto sua respiração ofegante batia em meus lábios. Ah porra, eu amava tanto a , tanto que nem sabia medir em palavras a dimensão daquilo, era algo muito maior do que eu, era transcendental e poder simplesmente gritar aquele amor pro mundo era a melhor coisa da minha vida. Seus dentes roçaram em meus lábios e apertei sua bunda com firmeza, sentindo-a apertar meu pau lá dentro. Grunhi desesperado. Tá certo que tínhamos combinado de transar baixinho porque tinha criança dormindo, mas era impossível, impossível pra caramba não gemer feito louco com aquela sensação deliciosa de ser apertado pela boceta quente da branquinha.
Avancei em sua boca numa fome absurda e cheia de desejo, beijei-a enquanto ela rebolava, me arranhava e torturava, deixando seus movimentos ainda mais vagarosos. Eu sei que nenhum de nós dois queria que aquele momento acabasse, tínhamos medo de nunca mais conseguirmos ficar juntos de novo, mas eu tinha a certeza que era pra sempre e iriamos ter o resto das nossas vidas pra transar gostosinho e com calma.
— Gostosa, assim você me maltrata. — sussurrei contra seu ouvido e contraiu o corpo de novo, daquela vez eu acho que não tinha sido por querer. O biquinho do peito endureceu contra o meu peito e mordi sua orelha devagar, enquanto capturava um dos mamilos entre os dedos.
gemeu manhosa, me arrepiando inteiro. Inclinei o rosto pra chupar o mamilo escuro e minha branquinha jogou a cabeça pra trás, esticando o pescoço e soltando um gemido manhoso que me fez quase explodir dentro dela. Segurei seu corpo colado ao meu e mudei de posição, a velha mamãe e papai me ajudaria demais a abafar aqueles gemidos só pra mim. Os cabelos loiros espalhados nos travesseiros escuros, eu encaixado entre suas pernas, minha mão entre nós dois lhe massageando e trazendo mais um estímulo naquele pontinho delicioso entre as pernas, a boca colada na minha, enquanto eu engolia todos os seus gemidos manhosos. E quando abriu ainda mais as pernas, me deixando entrar por completo, vi a coisa mais linda do mundo, os olhos fechados com força, os dentes prendendo o lábio, a pele arrepiada e o corpo me apertando em espasmos que me diziam que ela tinha gozado. Não demorou segundos e me desfiz dentro dela.
Enfiei o rosto em seu pescoço, enquanto me segurava nos cotovelos pra não deixar meu peso sufocar , ela apertou as pernas enlaçadas ao meu redor enquanto beijava minha cabeça raspada. Suspirei tranquilo e depois de desencaixar, me enfiei ainda mais em seu pescoço, não queria sair dali nunca mais.
— Eu te amo, . — a voz delicada soou em meus ouvidos e não consegui controlar a emoção que tomou conta de mim. — Eu sempre amei, desculpa por ter demorado tanto pra te falar isso.
O soluço escapou esganiçado.
Eu chorava feito uma criança, mas era de alívio, felicidade, alegria. Tudo junto no mesmo choro primitivo, que me impedia até de falar. Ela afagou minhas costas e me consolou até que eu parasse, sabia que eu precisava por tudo aquilo pra fora.
— Amo você, branquinha. — abracei seu corpo com força, virando na cama e trazendo pra cima do meu. Eu sabia que a gente precisava sair dali, tomar um banho e nos vestirmos, mas o aconchego e o carinho estavam tão bons que adormecemos pelados e exaustos.