12. Teenage dream

Finalizada em: Março de 2025

Capítulo único


Aniversário de Alison, 19 anos.

As velas foram assopradas com entusiasmo, mas não era exatamente assim que ela se sentia. Sorriu para as pessoas que a aplaudiam, e aplaudiu também, fingindo estar animada naquele momento, fazia 19 anos. Era importante.
— E agora? — ouviu um dos amigos perguntar e riu.
A fumaça das velas recém apagadas tomava conta do ambiente e o cheiro era sentido, tentou ignorar e torceu um pouco o nariz. Cortou alguns pedaços e finalmente dividiu-se entre as pessoas presentes, que não eram muitas.

Alisson aos 17 anos, no último ano do Ensino Médio.

A saia plissada batia no seu joelho e a empolgação tomava conta do corpo da garota. Se encontrava em frente ao espelho do seu quarto, inteiramente bagunçado, pois havia demorado horas para escolher a roupa daquele dia. Amarrou o cabelo em um rabo de cavalo alto e finalmente sorriu com o que via.
— Arrasa! — apontou para o próprio reflexo.
Deu o nó no cadarço do allstar vermelho e saiu escada abaixo, assim que chegou ao andar inferior viu a sua família perfeita, aos olhos dos outros, tomando café, rindo e conversando como se ela não existisse. Se aproximou, pegando uma maçã, dando uma mordida e os olhando.
— E o baile?
— É só no fim do ano, mãe. — Resmungou de forma tediosa após engolir.
— Você precisa começar a se preparar.
— Senão você vai ficar pra trás. — seu pai acrescentou.
— Senão outra garota vai com o Peter. — voltou a ouvir a voz da sua mãe.
Seu coração bateu forte, pra disfarçar, deu uma mordida na maçã, no entanto possibilidades começaram a surgir em sua mente, e se... e se... e se... negou, fechando os olhos momentaneamente até que ouviu uma buzina lá fora.
— É ele. — Alisson sorriu mostrando todos os seus dentes e mordeu o lábio inferior.
Jogou a maçã no lixo mais próximo, havia dado apenas duas mordidas, mas era o que bastava. Acenou para a família, sua irmã mais nova se encontrava grudada no Ipad, como sempre, e seus pais voltaram a conversar e rir assim que ela deixou o ambiente. Passou pela sala e pegou a mochila.
Logo que abandonou a residência, sentiu o ar quente de Los Angeles abraçar seu corpo, era o fim do Verão, e ainda fazia muito calor. Enquanto caminhava, viu o carro conversível de Peter, o moreno estava no volante e deu um sorriso pra ela, a garota correspondeu imediatamente sentindo seu corpo se arrepiar.
Sentiu algo vibrar em um dos bolsos da sua mochila e parou de andar, a alguns passos do veículo. Com a mão, pediu para Peter esperar um pouco e alcançou o aparelho em meio a um gloss, um pacotinho de lenço, chaves de uma caixa que guardava embaixo da cama, balas e elásticos de cabelo.
“Vamos nos ver hoje?”
Franziu o cenho assim que seu coração palpitou, engoliu seco e tentou ao máximo disfarçar porque sabia que Peter estava olhando para ela.
— Vamos, amor! — O ouviu.
— Já vou. Já vou. — Riu a morena.
Um vento mais forte atingiu o corpo de Alisson fazendo com que seus fios fossem para frente, dessa forma, caminhou em direção ao carro vermelho e entrou no lado do passageiro. Uma vez lá, beijou Peter de forma delicada nos lábios, deixou a mochila em seus pés e colocou o cinto.
— Animada? — Ele deu a partida ao questioná-la.
— Uhum.
Seus olhos voltaram ao aparelho em suas mãos, mordeu seu lábio inferior de leve e pensou em como responderia aquela mensagem quando pudesse, moveu seu olhar e viu o cabelo de Peter em movimento por conta do vento que entrava pelo teto-solar do carro.
— Nosso último ano. — Murmurou.
— Nosso último ano. — Peter a olhou ligeiramente enquanto dirigia — Mas vamos juntos para a faculdade, certo?
— Certo. — Alisson concordou prontamente a fim de não deixar dúvidas no namorado, a verdade é que não tinha tanta certeza mais.
O colégio tomou seus olhos um tempo depois, era na região central da cidade e tomava um quarteirão. Seu exterior era basicamente tijolos e janelas grandes, três andares e salas espalhadas por todos os lados. Árvores se encontravam ao redor, mesmo sendo um local com alto movimento de carros.
— Vou me encontrar com a Julia, tá bom? Nos vemos depois. — Alisson uniu os lábios dos dois no instante em que Peter se aproximou.
— Te vejo no auditório. — O rapaz sorriu.
A morena concordou, tomando outro rumo do que o namorado e entrando pela parte lateral da escola. Subiu alguns degraus e voltou a sua atenção para o celular em suas mãos, levemente trêmula começou a teclar de volta:
“Pode me encontrar na sala de Química do 2º ano?”
Ao levantar o olhar, cumprimentou algumas pessoas que passavam por ela e sorriu simpáticamente, o celular vibrou em suas mãos e ela olhou voltou a olhá-lo.
“Estou indo pra lá”
Sentiu uma dorzinha ao morder com mais intensidade o lábio inferior, na primeira oportunidade subiu as escadas em passos rápidos, era o primeiro dia de aula, ninguém estava nas salas de aula, todo mundo se encontrava nos auditórios para o mesmo discurso de todos os começos de ano.
Seu allstar fez barulho no chão, pois o silêncio predominava no andar de cima. Avistou a placa indicando que era a sala de Química do 2º ano e engoliu seco, o coração batendo forte e as mãos ficando levemente suadas momentaneamente. Talvez fossem as sensações que ele causava no corpo dela.
Logo que entrou, um ventinho atingiu seu rosto e notou que as janelas estavam todas abertas. Olhou para as bancadas, viu os instrumentos ali e se lembrou de quando se conheceram nessa sala, no primeiro dia, ano passado.
— Oi. Você é novato? — Alisson indagou ao se sentar ao lado daquele loiro, com os cabelos bagunçados e sardentos. Ela sabia que ele não era dali, sabia que ele era diferente. Aproveitou que a sala estava um caos por ser o primeiro dia de aula do 2º ano e sorriu, tentando ser simpática.
— Oi, sim. — Ele respondeu baixo, sentindo as suas bochechas corarem instantaneamente. — Alexander. — Não sabendo onde tirou coragem, esticou uma das mãos, a fim de cumprimentá-la.
— Alisson. — a garota esticou a sua própria mão, apertando a do rapaz.
O olhar que trocaram naquele dia durou alguns segundos, mas Alisson sentiu com ele algo que não havia sentido com Peter nos 8 meses que estava com o rapaz. Ambos eram populares, em todos os bailes ganhavam como rei e rainha e toda a escola achava que eles seriam para sempre. Que teriam filhos perfeitos.
— Oi.
A morena ouviu uma voz atrás de si e assustou-se, riu de si mesma ao se virar assustada e ver aquele loiro que a havia conquistado há um ano com um simples: Oi. Igual agora. Exatamente igual agora. Sorriu, correndo até ele, jogando os seus braços ao redor do pescoço dele e diminuindo a distância dos seus lábios.
— Senti saudades. — Ela fez um biquinho.
— Te vi ontem.
— Mas não viu hoje.
As mãos do rapaz passaram pela cintura da garota, deixando os corpos dos dois mais grudados e Alexander gostava como o seu corpo respondia aquilo, seu coração batia forte igual ao dela, sentia a sua pele arrepiada igual a dela, o seu sorriso não saia dos lábios e ele só queria ficar próximo a ela.
— Cadê o Pete? — Alexander revirou os olhos.
Alisson mexeu nos fios dele e riu de como ele ficava fofo fazendo uma careta simples.
— No auditório, provavelmente. Não vejo a hora de terminar com ele, quero ir embora daqui com você, quero que façamos faculdade juntos, queremos até o mesmo curso. — Riu.
— Imagina dois biólogos juntos? — o loiro arqueou as sobrancelhas.
Novamente a morena uniu seus lábios aos dele, só que dessa vez o beijo foi mais intenso. Deixou que os seus dedos entrelaçassem nos fios dele e sentiu a sua língua em contato com a dele, o seu corpo se arrepiou e desejou por mais. Sentiu um calor crescer na sua nuca e dispersar pelos seus ombros e costas.
— Acho que precisamos ir lá. — se afastou e respirou fundo.
— Acho que podemos matar o mesmo blá blá blá, não acha? São as mesmas conversas, todos os anos. — Alexander riu. Levou uma das mãos até o rosto da garota, o acariciando.
— Todos os anos? Você chegou aqui ano passado. — Ela franziu o cenho e gargalhou rapidamente.
— Percebe como é chato? Parecem anos pra mim.
Ainda com uma careta no rosto Alisson riu e o beijou de forma delicada nos lábios, se afastou, o puxando pela mão e saíram da sala de Química juntos, mas conforme começavam a andar foram se afastando e os dois se sentiram muito mal com aquilo, no entanto, era o que precisava acontecer. Perdidos em seus próprios pensamentos, desceram as escadas juntos e chegaram ao auditório ao mesmo tempo.
Alexander estava na maioria das aulas em que Alisson, então, eles se viam na maior parte do tempo no colégio. Eles estarem juntos, conversarem, não era algo estranho, ninguém ia reparar nisso.
O auditório era enorme, várias poltronas uma ao lado da outra e lá na frente um palco em madeira. Procurou por Peter e assim que o encontrou, adentrou a fila e viu que havia uma cadeira vaga, sorriu pra ele.
— Obrigada. — suspirou, o acariciando no braço.
— Sempre. — Peter passou um dos braços pelos ombros da garota.
Alisson se apoiou nele e começou a notar o auditório ficar cada vez mais e mais silencioso, o gosto dos lábios de Alexander ainda estavam nos seus lábios e aquilo fez com que ela sorrisse sozinha, os batimentos cardíacos do seu coração estavam a mil e ela adorava se sentir daquela forma por conta dele.
Os meses foram passando e o calor diminuía dando espaço para que dias mais frios e nublados chegassem à região de Los Angeles. A morena conseguia ver isso nas ruas, as pessoas andavam apressadas, com as mãos em seus agasalhos e sempre segurando um copo de café ou qualquer outra bebida quente.
O Natal chegou, uma das épocas favoritas de Alisson e como sempre, passariam em Nova York na casa da sua avó, que era do outro lado do estado. Faziam essa viagem impreterivelmente uma semana antes do Natal, e o aeroporto estava um caos.
— Já vamos embarcar. — o pai dela disse de um jeito sério.
Ao lado a garota mexia em seu celular, havia acabado de receber uma mensagem de Alexander e sentia-se ansiosa para ver o rapaz novamente, isso só iria acontecer quando as aulas voltassem, em janeiro. Respirou fundo antes de começar a teclar uma nova mensagem.
“Está frio aí?”
Percebeu o digitando no canto esquerdo da tela.
“Aqui no Havaí é sempre quente”
Riu e negou com a cabeça.
“Queria estar aí com você. Ou que você fosse comigo a NY”
Os segundos iam passando e o digitando não saia do canto esquerdo, até que sentiu uma mão em seu braço e era seu pai, a chamando para que finalmente embarcassem.
“Vou ter que ir. Vou entrar no avião agora. Falo com você depois”
E assim que Alisson colocou o celular no modo avião, Alexander estava se preparando para mandar um emoji de coração azul pra ela, mas desistiu e mandou uma mensagem de boa viagem e que eles falariam depois.
Ele queria contar a ela como se sentia há algum tempo, na verdade, há alguns meses vinha se sentindo de forma diferente e sabia que aquilo era amor. Quando a olhava ele queria sorrir, quando estava com ela não queria que acabasse e seu corpo sempre se comportava de um jeito bobinho próximo a ela, como se ele não tivesse controle algum.
Os meses passavam como se fosse um carro veloz em uma estrada sem limite, a sensação era que o tempo voava e eles não aproveitavam como deveriam o último ano do ensino médio, afinal, nunca mais viveriam dias como aqueles.
Costumeiramente Alexander via Alisson pela escola, ela sempre estava rodeada de amigas, ou com Peter, na maioria das vezes. Eles só se encontravam quando ela mandava uma mensagem para ele, ou ele acabava se rendendo e mandava uma mensagem pra ela dizendo que sentia saudades. O que acontecia na maior parte do tempo.
Em outro momento os viu passar pelo corredor, enquanto ele guardava alguns livros nos armários. Reparava como chamavam a atenção, notava como as pessoas cochichavam coisas positivas em relação a eles e começou a sentir uma pontada de inveja.
Aquela sensação ruim foi aumentando com o tempo, ele dormia pensando que nunca ficariam juntos daquela forma, e começou a desconfiar se Alisson queria realmente ficar com ele quando o ensino médio acabasse ou só eram palavras que saiam da boca dela.
Os viu no campo de futebol. Chovia fraco e poucas pessoas estavam no local, mas ele viu. Ela era líder de torcida e ele fazia parte do time de futebol americano. O casal perfeito.
Dias depois, era uma manhã extremamente chuvosa, ele saiu da aula de Matemática Avançada e foi em direção ao refeitório, sentia-se faminto, mas ao mesmo tempo aquelas sensações ruins não dissiparam do seu corpo, mesmo tendo conversado por mensagem com Alisson na noite anterior. Pegou a sua bandeja, colocou apenas macarrão, pois não confiava fielmente naquela comida e rumou em direção a mesa que sempre sentava com pessoas excluídas, iguais a ele.
De longe, viu Alisson. Como sempre. Linda. Com os seus cabelos longos e soltos, o sorriso nos lábios, a roupa impecável, mesmo para um dia de chuva e rodeada de pessoas. Notou que Peter não estava ali, nem outros meninos. Será que eles não haviam vindo pra aula hoje? Tocou o foda-se dentro da sua cabeça.
Em um misto de coragem e cara de pau, se levantou. Deixou a bandeja por ali e se aproximou da mesa, seus pais pisavam firme no chão e ele a fitava, tinha um objetivo, falar com ela. Logo que se aproximou, a maioria dos olhares da mesa vieram em sua direção, suas bochechas coraram e ele ouviu algumas risadinhas. Notou Alisson o olhar de cima embaixo e certa confusão se apossou da garota.
— Quando você vai desistir desse idiota? — perguntou ele com a voz tremula.
— Que? — Alisson riu após ouvir algumas risadinhas na mesa.
Alexander olhou das amigas de Alisson para ela, naquele momento não entendia o porquê dela estar atuando, ela poderia ser sincera com ele.
— Você não é assim. Você ri quando está comigo, suas bochechas ficam coradas, a sua pele fica quen...
— Para, Alexander. Para! — a garota pediu de um jeito sério, levantando um pouco o tom de voz, viu as sobrancelhas dela se unirem e sua expressão se tornar fechada. — Eu vou com o Peter para a faculdade, nós vamos ser felizes, vamos ter filhos e ser uma família. É isso.
Alisson não deu tempo para que Alexander respondesse, pegou a mochila e se levantou, saindo dali em passos rápidos enquanto segurava o choro que estava preso dentro da sua garganta. Por que raios ele havia falado aquelas coisas na frente das amigas dela? Eles sempre haviam combinado tudo, e desde sempre, desde sempre ela foi sincera com ele a respeito de Peter. Ela precisava ficar com Peter pelas aparências. Só assim sustentava a bolsa de estudos naquela escola.
Suas pernas tremiam e ela pensou duas vezes antes de entrar no banheiro feminino, uma vez lá dentro, se enfiou em uma das cabines e respirou fundo, mas as lágrimas já chegavam e ela pegou seu celular com a mão trêmula.
“Tenta me esquecer. Pra sempre”
Assim que ela enviou essa mensagem a Alexander o seu peito doeu de uma forma que nunca havia doído antes, era uma dor física, ela mal conseguia respirar e teve que colocar uma das mãos no local para que conseguisse se sentir minimamente bem. Ficou ali por horas até que se recuperasse.

Aniversário de Alison, 19 anos

A fumaça das velas recém apagadas tomava conta do ambiente e o cheiro era sentido, tentou ignorar e torceu um pouco o nariz. Cortou alguns pedaços e finalmente dividiu-se entre as pessoas presentes, que não eram muitas.
Um rosto familiar chamou a atenção de Alisson na porta do salão de festas, ele era ruivo, seus cabelos bagunçados e começou a sentir novamente seu coração batendo mais forte, engoliu seco e passou a língua delicadamente pelos lábios superiores, sem conseguir tirar os olhos do local.
Estava alucinando?
Deixou todo mundo por ali, as pessoas estavam entretidas com o bolo e com conversas paralelas, andou até onde ele estava, se aproximando um pouco mais conforme seus pés a obedeciam e teve certeza de uma coisa. Ela nunca deixou de sentir algo por ele.
— O que...
Um sorriso brotou nos lábios do loiro e Alisson teve a mesma reação. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e se aproximou mais, pode sentir o perfume dele e quis rir.
— Você mora nesse prédio?
— Me mudei faz dois dias. — respondeu ele, calmamente.
O coração dela ia sair pela boca. Concordou com a cabeça a respeito da afirmação dele.
— Entendi. Quer um pedaço de bolo?
Ele riu e ela riu junto com ele, ficou o encarando, as sardinhas estavam lá e um misto de saudade com nostalgia brotou em seu peito.
— Um café, que tal? — o viu sorrir.
— Um café seria ótimo.



Fim.



Nota da autora: Sem nota.

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