Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Sonhos às vezes nos avisam, sonhos às vezes nos tiram de nosso mundo miserável, mas, muito das vezes, sonhos trazem memórias dolorosas. , melhor do que ninguém, sabia daquilo, afinal, as memórias do seu passado assombravam suas noites constantemente.

Naquela madrugada de quinta-feira, não foi diferente. O sonho realista que ele tinha todos os anos, desde os dezessete, voltou, fazendo com que ele acordasse com lágrimas nos olhos e as mãos já agarrando a primeira garrafa de whisky que viu por perto. Beber fazia com que ele esquecesse, fazia com que ele não se sentisse o perdedor que era por deixar a única pessoa que realmente importava em sua vida escapar pelos seus dedos por algo que ele fez quando era jovem, imaturo e perdido.

O tanto de sangue que suas mãos carregavam em suas memórias fazia com que seu estômago embrulhasse junto à sensação de algo batendo em seu organismo, que não trazia nenhum reforço por não ter se alimentado antes de dormir e muito menos antes de beber. Por isso, deitou, prendendo-se em sua cama mais uma vez, já que ele pensou que beber e dormir era a melhor saída para apagar suas memórias dolorosas.

Mas, em um momento, olhando seu celular, suas memórias confusas apareceram outra vez, o impulsionando a se levantar, se vestir e, com sua garrafa em mãos, andar pelas ruas da cidade iluminada. Lugares por onde passou em seus melhores momentos, antes de toda essa fama o pegar de surpresa e ele ser vangloriado, visto como uma boa pessoa.

Mas como ele poderia ser uma boa pessoa se a deixou em um dos momentos mais difíceis de sua vida? Como se esse momento mais difícil, no final das contas, tivesse sido ele?

As memórias vivas corriam pelas ruas daquela madrugada desperdiçada e ele ao menos conseguia sorrir por se lembrar de seus sorrisos. Incrível como ele podia estragar algo que pensou que teria pelo resto de sua vida, a única que pensou que conseguiria manter em sua vida no final de tudo. Até estragar suas mãos de sangue e limpá-lo em sua própria roupa, tentando se livrar e o marcando cada vez mais em sua pele sem que percebesse.

Mais um gole era sempre sua resposta.

Mais um gole e quem sabe ele esqueceria. Mais um gole e ele pensava que poderia acabar com aquilo, se intoxicando do álcool que ao menos era prazeroso mesmo que não fizesse bem para sua saúde. Ele já não se importava, nunca se importou na realidade, apenas fingiu por um tempo.

No dia em que o acidente aconteceu e ela perdeu seu irmão, ele teve que negar qualquer envolvimento com ambos para manter as aparências, e aquilo não só fez com que ela o odiasse, mas fez com que ele se odiasse. Ele dizia mentalmente que era para sua proteção e para a proteção dela, mas, no fundo, ele sabia que não estava funcionando e que aos poucos a estava perdendo. Ela foi atacada inúmeras vezes sem sequer dizer uma palavra sobre ele e seu relacionamento de anos e ele apenas pôde assistir tudo que ela passava de uma vez. Eles tiveram momentos melhores e felizes antes da droga de fama chegar, marcando os dois eternamente com memórias ruins e passados piores ainda.

O local onde o acidente aconteceu foi perto do mar. sabia que a culpa era dele. Se ele não tivesse insistido que os três se encontrassem na beira do mar naquele dia e se atrasasse, avisando de última hora que não poderia ir, talvez nada daquilo tivesse acontecido. Com esses pensamentos, ele soube, então sequer conseguiu aparecer para prestar seus pêsames e confortar sua namorada e melhor amiga. Além disso, seu nome estava envolvido com outros escândalos na época sobre uma suposta namorada que não era sua real garota e isso o incomodou profundamente. Ele tentou explicar a ela e tudo estava bem no início, ela acreditava nele e já havia dito antes que o conhecia, que saberia lidar com aquele tipo de coisa, que ele não precisava se preocupar, mas ela tinha o limite, limite esse que para ela começou quando ele foi pego por alguns jornalistas em direção ao enterro de seu melhor amigo de infância e mentiu sobre tudo que eles já haviam tido, sobre o quão próximo ele e o irmão dela haviam sido, sobre quem realmente foi desde o início.

Sua vida não passava de uma mentira.

Quando ela já não respondeu suas mensagens e não atendeu suas ligações, ele soube que a havia perdido de uma vez por todas. Por isso, seus passos embriagados sempre seguiam em direção ao mesmo caminho da redenção, depois de anos, o caminho da sua casa, o qual ele conhecia muito bem.

— Por favor, me perdoa, — a voz dele choramingando ecoou através do interfone e ela escutou bem. — Eu sei que você me odeia por tudo que eu fiz a você — ele fez uma pausa, refletindo —, por tudo que eu fiz a ele.
— Vá para casa, ! — ela disse, fazendo com que os olhos dele se arregalassem. — Você já esteve aqui antes, com essas mesmas palavras, e eu já disse que está tudo bem.
— Não, não está tudo bem, — ele falou, tomando mais um gole da bebida. — Eu perdi você, a única coisa boa que eu já tive em vida. Eu perdi o seu irmão, o único melhor amigo que eu já tive em vida. — A esse ponto ele chorava. — É tudo culpa minha, eu deveria ter feito certo e não mentindo a todos. Eu tenho esses pesadelos, onde eu vejo o acidente como se estivesse nele. Eu vejo sangue realista demais que suja minhas mãos e roupas, mas nunca se limpam, o sangue está impregnado em mim.
— Que você não deveria ter mentido, eu concordo — disse, aparecendo de repente no portão. — Mas o acidente foi uma tragédia, algo que não pôde ser evitado. Eu não sei por quê, mas era para acontecer, então pare de se martirizar — ela suspirou. — Não foi sua culpa.
— Mas nada faz sentido — ele choramingou, mais uma vez. — Se eu não tenho você, só me resta a culpa. Volta para mim, nós podemos fazer isso funcionar, eu…
, eu irei me casar amanhã — ela disse, fazendo com que seu coração pesasse.
— Tudo certo? — Mãos apareceram na cintura da garota de repente, junto da figura totalmente diferente da dele, e ela assentiu, sorrindo para ele. — Vou levá-lo para casa agora, meu amor, tranque bem a porta.

havia se esquecido de e de como ela era feliz agora sem ele.

— Oi, irmão. — Ele o chamava assim desde que se conheceram, pelo motivo de ser mais velho que ele. — Como você está se sentindo hoje? Vamos para casa, você precisa descansar.
— Adeus, disse, antes de fechar o portão.

Entrando no carro, deu um suspiro, vendo a casa ficando para trás assim que o carro deu partida.

— Você vai cuidar bem dela, certo? — ele disse, depois de um tempo em silêncio dentro do carro.
— Com toda a minha vida. — desviou a atenção para ele por um momento para sorrir.
— Ao menos eu sei que ela não me odeia e fez uma boa escolha — ele disse, voltando sua atenção para a visão fora da janela.
— Ela nunca te odiou — disse com sinceridade. — Mas nunca se sentiu amada o suficiente.

suspirou.

Ele a amava absurdamente, mas nunca soube demonstrar esse amor até perdê-la.

— Faça por ela o que eu não fui capaz — ele disse, encostando sua testa em sua janela, fechando seu olho. — Ame-a abertamente, como eu falhei em fazer.
— Você não precisava me pedir isso — disse para si mesmo. — Eu já faço desde que a conheci.


FIM



Nota da autora: Curtinha, mas simbólica. Tô triste só de lembrar as cenas na minha mente. Enfim, espero que tenham gostado! Gio, obrigada pela ideia. Eu estaria perdida sem você me dando esporro kkkkkk.

Xoxo Caleonis <3

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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