Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

", o que pensa que está fazendo?"
A garota largou o garfo no mesmo momento que ouviu a voz do tio.
"Tio, mas..."
"Mas nada. Você sabe que sempre começa com uma mordidinha. Nós não queremos que as pessoas te odeiem porque você está acima do peso, certo?!"
Assentindo, empurrou o prato para longe, deslizando-o na mesa. Se esforçara tanto para que a cozinheira fizesse seu prato favorito; macarrão com almôndegas. Tivera que pagá-la para que não contasse ao tio... Não que o dinheiro fosse lhe fazer falta, mas se sentia fracassada em sua missão. Quanto tempo não comia um delicioso macarrão, cheio de molho de tomate e com imensas almôndegas junto. Sua boca enchia de água só de pensar.
Balançando os pensamentos com comida para fora de sua mente, levantou-se e pegou o prato, com dor no coração. Sabia que não podia encarar aquilo por muito mais tempo. Aquele prato de comida simbolizava não apenas sua refeição favorita, mas também a vida que lhe fora tirada. Uma vida normal. Claro que adorava o que fazia, mas às vezes só queria ser um pouco... Normal.

resmungou enquanto batia repetidamente no volante. Odiava quando sua mãe se atrasava para chegar em casa depois do turno. Cuidava do irmão mais novo sem problemas, mas quando tinha compromissos jurava que sua mãe fazia de propósito. Como sentia falta de seu pai... Sabia que a mãe estava fazendo o melhor que podia, mas sentia que às vezes não tinha muito tempo para si, tudo que tinha que fazer era cuidar do irmão mais novo. Por céus, ele já tinha onze anos. Com onze anos estava na rua, brincando com os vizinhos. Seu irmão, por outro lado, parecia alérgico apenas a ideia de sair e brincar na rua, quem diria ir até lá e o fazer.
Enquanto buzinava na frente da casa do amigo, para apressá-lo, olhou para o outro lado da rua. Seu amigo era bem de vida, morava em frente a praia, em frente ao píer da cidade. Por um bom tempo o invejara, mas depois aprendeu a dar valor ao que tinha ao invés de chorar sobre as coisas que não tinha ou nunca iria ter. Mas, naquele dia específico, algo chamou sua atenção. Alguém chamou sua atenção. Uma silhueta, sentada no corrimão do píer. Aquilo era extremamente perigoso. Respirando fundo, ele saiu do carro e começou a andar naquela direção, podia ser algum bêbado qualquer. Antes de se afastar completamente, pode ouvir o amigo gritando que demoraria apenas mais alguns minutos. Perfeito.
caminhou por todo o píer, com medo de alertar a pessoa sentada lá na ponta e, por consequência, derrubá-la. Quando chegou perto o suficiente, pode ver que era uma garota e a mesma chorava copiosamente, murmurando palavras incoerentes. De repente, ela deu um grito, assustando-o.
"ME DESCULPA! EU NÃO AGUENTO MAIS, MÃE... Eu só não aguento mais."
deu mais um passo à frente, temendo que aquilo fosse o que ele pensava que era. Porém, quando estava quase se aproximando da garota, uma tábua solta rangeu, denunciando sua presença.
"Quem está aí?" A garota murmurou entre soluços.
"Eu... Eu não quis assustá-la. Está tudo bem?" Tentou fazer mais um movimento em direção à ela, mas viu quando o corpo dela retesou.
Rindo amargamente, ela limpou as lágrimas com a manga da blusa. "Claro que está tudo bem, sempre está tudo bem. Eu sempre tenho que estar bem..."
Não entendendo muito bem onde a garota queria chegar com aquele papo estranho, decidiu tomar uma decisão sobre a situação. "Vou me aproximar, ok?! Assim podemos conversar melhor." Avisou antes de dar o primeiro passo. Mas, quando a menina virou em sua direção, jurou estar tendo uma alucinação. "- ?" Gaguejou, incapaz de conter a surpresa. Poderia ser ela, mas também poderia ser alguém muito, muito parecido.
"Apenas ótimo. Vai lá, corre pro primeiro noticiário pra contar que a grande estrela de Hollywood, , está tendo um ataque. Aproveite seus quinze minutos de fama. Talvez eu nem esteja mais aqui quando você voltar, mesmo." Dizendo aqui, ela olhou intensamente para o mar agitado à sua frente. Mesmo estando escuro, podia ver a violência das ondas enquanto batiam nas pilastras do píer.
conhecia aquele discurso. Por um momento, se deixou hipnotizar pelo fato de que havia alguém realmente famoso à sua frente. Mas não pode mergulhar muito no assunto já que o que a garota dissera o deixara espantado.
"Do que... Do que você está falando? Não vou a lugar nenhum!" Sentiu o calor da noite abraçar seu corpo. "Anda, desce daí, vamos conversar." Tentou barganhar.
"Conversar o quê? Pra quê? Nem nos conhecemos." Ela limpou mais algumas lágrimas que escorreram, não dando a mínima se alguém, pela primeira vez, a visse fraquejar. Estava cansada de apenas sorrir o tempo todo. Sequer tivera a chance de viver o luto pela perda dos pais quando era uma garotinha. Sentia que carregava todo aquele peso durante todos os seus anos de vida. Só queria um pouco de paz, um pouco de normalidade, um pouco de loucura. Mas sabia que não poderia se permitir a isso. Não podia ter esse simples privilégio. Seu tio a mataria se arruinasse a fama que tanto batalhara para construir. Tinha vontade de rir quando pensava nisso. Seu tio ligava mais para a fama do que ela própria. Pensava até que ele ligava mais para a fama dela do que para ela.
"Olha... Eu sei que não nos conhecemos, ou melhor, você não me conhece, mas desce daí, ok?!" olhou para os lados, inquieto. Não queria deixar que nada acontecesse com , mas também sabia que se algo acontecesse com ela, certamente alguém o culparia. "Nós podemos sair, dar uma volta. Eu to indo pra uma festa agora, você poderia ir junto." Sugeriu apenas porque não tinha algo melhor para falar na hora. Não sabia o que fazer, não sabia por que estava ali, naquele píer, naquele corrimão, encarando profundamente o mar agitado como se sua vida dependesse daquilo. Ou sua morte... Bom, ele preferia não pensar naquilo. "Eu sei como é... querer que tudo acabe. Eu tinha doze anos quando tudo mudou. Não foi fácil, não mesmo. Tudo que eu sentia era uma necessidade imensa de algo, só que eu não sabia o que era. Me sentia sufocado dentro do meu próprio corpo. Porque foi isso que te levou até aí, não foi? A vontade de sentir algo, mas sem saber o que é. Ter tudo o que você necessita, mas, ao mesmo tempo, sentir que algo está faltando." Se surpreendeu com as coisas que estavam saindo de sua boca, mas já não colocava um filtro no que pensava e o que falava. Por muito tempo lidara com aquele sentimento, achando que nunca serviria para nada. Ele não sabia se estava sentindo a mesma coisa, não sabia o que se passava na vida dela. Só a conhecia porque vira um ou outro filme dela, mas não era um fã. Só que sentia que precisava tentar, mostrar pra ela que era possível ser vista, mas não ser enxergada. "Uma hora isso parece apertar tanto que falta ar, e você já não sabe pra onde correr. A única coisa que quer é fugir do próprio corpo. Meu... meu pai costumava ser meu melhor amigo. E, então, do dia pra noite, ele já não estava mais lá." Riu um pouco, amargamente. "Lembro de culpar minha mãe por não tê-lo ajudado, por não tê-lo salvo. Como se ela pudesse prever isso, sabe, a morte de alguém. Eu só queria achar alguém pra culpar, na realidade. Pro meu eu de doze anos, ela, sendo médica, tinha que ter previsto o derrame cerebral. Mas a verdade é que ela não podia ter feito nada. Ele estava dormindo, não sentiu nada. É o que eu acho." Respirou fundo, passando as mãos pelos cabelos, frustrado. Nunca abrira seu coração daquela forma, nem para a psicóloga que sua mãe o forçara a frequentar. Claro que falara algo, mas nunca daquela forma. Nunca tão profundamente, enfrentando o que realmente acontecera. Sequer sabia por que citara sobre seu pai, que era um assunto tão importante e delicado para ele. Era só... Algo, tinha algo que o fazia querer falar. Talvez fosse porque ela estava ali prestes a fazer uma besteira. Porque conseguia enxergar um adolescente sentado na beirada daquele píer depois de um dia na escola.
Sentiu o ar pesar por um momento, lembrando-se de como era se sentir sufocado pelos próprios pensamentos. Então sentou-se no chão, esquecendo por um momento de .
A garota, vendo o quão abalado ele estava, desceu lentamente de onde estava sentada e se ajoelhou perto de . Não queria chegar muito perto, mal o conhecia. Entretanto, ele parecia tão genuíno abrindo seu coração. E nem sabia que ela se sentia exatamente daquele jeito.
"Você não precisa sentir vergonha do que sentiu." Olhou para trás, para o mar, sentindo tudo que ele falara. Sentia-se presa àquilo há tanto tempo. Mas não tinha tempo de expressar, não tinha o direito. Todos esperavam algo dela, mas nenhuma dessas expectativas era de vê-la sendo si mesma. "Eu queria... apenas ter essa chance." Sussurrou, não tendo certeza se ele a ouviu, ou se chegou a entender o significado daquelas palavras. Mas não importava, era um desejo secreto, algo que ela escondia há anos embaixo das camadas e camadas de atuação. Pra uma coisa sua profissão servira. Até de seu tio ela escondia como realmente se sentia. Não queria que ele puxasse a culpa toda para si, que pensasse que não era feliz por causa dele. Mesmo sabendo, no fundo, que ele tinha um pouco de culpa, sim.
"Eu não tenho vergonha", assustou-se um pouco quando ouviu a voz de , que agora a encarava. "Só... não gosto de lembrar disso, porque deixei pra trás, e custou muito para superar isso, entende?!"
"Não muito bem..." Mas queria, e como, entender. Porque ela sequer tinha vivenciado a dor, quem diria superar então. Tentando se livrar daquela situação e do peso que sentia, cutucou na perna, de leve. "Você poderia deixar isso... em segredo?" Apontou ao redor deles, envergonhada por ser pega em tal ato. Nada do que sentia tinha passado, talvez amenizado um pouco por saber que não era a única sentindo isso. Mas o sentimento tinha apenas se escondido. Mais uma vez. Porque a angustia que sentia não era causada apenas pela perda de seus pais...
Sorrindo um pouco, acenou com a cabeça. Ele também queria deixar aquele assunto de lado. Até conseguiu atrair pra longe daquele corrimão. "E sobre a festa? Aceita?"
"Só está tentando sair com uma pessoa famosa, não é?" A garota tentou rir, mas não conseguiu. Passou a mão pelo cabelo, tentando ajeitá-lo, pois estava uma bagunça por causa do vento.
"O quê? Ah, não! Quer dizer, seria legal, mas... Não é por isso." Ele levantou também, colocando as mãos nos bolsos. Estava embaraçado pela sugestão dela. O pensamento de sair com ela apenas porque era famosa não cruzou sua mente, até ela mencionar isso.
"Então por quê?" não queria ser o tipo de garota que acreditava em qualquer história que qualquer estranho contava, mas via algo a mais em . Mesmo sem saber seu nome. Sentia que podia confiar nele. Talvez por seu desabafo, por tentar salvá-la sem, inicialmente, saber quem ela era.
"Não sei, só quero fazer isso por você. E por mim." Deu de ombros. tinha que admitir para si mesmo, não sabia por que, mas queria levar para passear. Queria fazê-la sorrir e esquecer, por uma noite, o motivo que a levara até aquela praia deserta. Porque ele queria ter tido, nos seus dias mais escuros, alguém para fazê-lo rir.
Não era isso que você queria? ficava repetindo para si mesma. Ter uma vida normal, pelo menos uma vez. Fazer uma loucura. Ter do que lembrar quando tudo parecesse demais. Como naquela noite. Ela tinha duas opções. Podia se afastar de e concluir o que tinha começado, ou confiar nele e seguir para o que poderia se tornar uma aventura inesquecível. Suspirou.
"A gente pode passar em um fast food primeiro?" Seus olhos chegaram a brilhar só de pensar na comida que iria pedir. "Ah, droga! Esquece... eu não trouxe dinheiro." Todo seu plano pareceu murchar diante da realização de que, pela primeira vez, não podia ter algo por lhe faltar dinheiro para tal. Até bateu nos bolsos da calça para conferir se não tinha nada lá mesmo. Sempre que saía, seu segurança carregava os cartões de crédito. Se ela queria algo, era só pedir que ele fazia suas vontades. Bufou, frustrada. Deveria ter pensado nisso quando a ideia de fugir cruzou sua mente. Detalhes eram importantes, sempre se apegava a eles quando ia interpretar um personagem novo, mas esquecera de pensar neles quando sua vida dependia disso.
"Eu acho que tenho dinheiro no carro" sorriu, divertido com a situação. "Quem diria," disse enquanto caminhava em direção a casa do amigo "uma artista de cinema me devendo dinheiro. Será que alguém acreditaria nisso?" Riu um pouco.
O corpo de retesou ao pensar em espalhando para todo mundo sobre aquela noite, porém tentou disfarçar com uma risada forçada. Afinal, ele a salvara.

"!"
"Fala, . Já estava indo pro carro." guardou a carteira no bolso e estava pronto para sair pela porta da frente quando o amigo o segurou pelo braço. "O que foi?"
"Sabe a sua irmã?" olhou para as escadas, esperando que pudesse resolver logo a situação que tinha em mãos. Sabia que era uma loucura, qualquer um poderia descobrir, alguém poderia ter seguido . Mas não ligava. Se eu irmão pudesse vê-lo, estaria surtando. Adolescentes e seus hormônios.
ficou cauteloso ao perguntar. "O que tem minha irmã?" Quando o amigo ia à sua casa, não era muito comum que perguntasse pela irmãzinha dele. Muito pelo contrário, sua irmã parecia encantada em , então ele a evitava o máximo que podia.
"Vou precisar de uma das perucas dela. Pra agora." Tentou dizer sem soar muito estranho, mas a noite já estava estranha demais. Se alguém dissesse, quando ele saiu de casa, que minutos depois teria uma pessoa famosa dentro do seu carro esperando ansiosamente para ir a um fast food, ele riria. Tudo bem que vivia na cidade dos famosos, mas era raro encontrar com um que estivesse sem seguranças ou disposto a entrar em seu carro.
"E por que você precisaria de uma das perucas da minha irmã de cinco anos?" Agora estava ainda mais desconfiado.
"Vou ter mostrar uma coisa, mas você precisa manter segredo. Pode fazer isso?" Olhou sugestivamente para o amigo, esperando pela confirmação, que veio logo.

"CARACA! ? Tem noção do que isso significa?!" andava de um lado para o outro no quarto da irmã mais nova. Dera cinco dólares para a irmã ir até o andar de baixo sem fazer qualquer pergunta. No começo, fora difícil desgrudá-la de , mas quando ele prometeu brincar com ela na próxima vez que fosse até a casa de , ela topara. Claro que levou os cinco dólares junto.
"É... é" vasculhava entre a coleção de perucas da irmã caçula do amigo, procurando pela mais "normal" delas. Tinha todas as cores que ele quisesse; azul, preta, roxa, amarela, verde. Optou por levar a que fosse o oposto da cor de cabelo de , . "Mas você prometeu não contar a ninguém, . Ela confia na gente." Virou-se para o amigo, já pronto para voltar para o carro, onde tinha permanecido.
"Eu sei, eu sei..." Ergueu as mãos em rendição. "Só estou pensando como seria legal ver a cara daqueles idiotas do colegial se eles soubessem que um dia conhecemos pessoalmente, e não eles, que se achavam o máximo por serem populares." fitou o teto como se estivesse vivendo o que falara. Até se permitiu sorrir largamente. Ah, aqueles caras desagradáveis. se deixou sorrir um pouco também, feliz pelo amigo.
"Achei que já tinha superado... Aqueles babacas", sabia que não era tão fácil assim, afinal, ele mesmo ainda remoía algumas coisas que ouvira.
Passou pelo amigo, descendo as escadas e se preparando para a noite.
"Você fala como se não quisesse dar um chute na bunda daqueles caras toda vez que os vê na cidade", riu, seguindo o amigo até o lado de fora. Até .

ficava repensando o que raios ainda fazia dentro daquele carro, esperando por um desconhecido que poderia fazer qualquer coisa com ela. Afinal, ninguém, além dele, sabia onde ela estava. Ao mesmo tempo que aquela era uma de suas ideias mais brilhantes; escapar e viver um pouco, também era uma das mais estupidas. E ela tentava se convencer de sair dali e fugir pra qualquer outro lugar, talvez até passar a noite em um hotel. Porém, nada parecia tão tentador e emocionante quanto deixar um estranho carregá-la para algum lugar do qual ela não fazia ideia. Tinha uma leve ponta de desconfiança, claro, mas queria tanto apenas se deixar levar, como uma de suas personagens. Queria a vida de uma garota normal, que conhecia um cara legal em uma noite qualquer e saía com ele só pra ver o que mais poderia acontecer. Não queria ficar sozinha mais uma vez, muito menos ir para casa e ouvir um sermão do tio sobre sua falta de responsabilidade e deixá-lo colocar mais coisas em sua cabeça, de como o mundo era um lugar mal e que ela estaria desprotegida saindo sozinha de casa. Ela sabia, mas queria ver com seus próprios olhos, já que isso lhe foi privado por toda sua vida.
Enquanto ainda remoía tudo, ouviu a porta da casa do tal "amigo" ser aberta. Agora que sabia o nome de , sentia-se um pouco mais aliviada. Era injusto ele conhecê-la, mesmo que só por nome, e ela não o conhecer. Viu duas figuras aproximando-se do carro e temeu um pouco. não tinha dito que o amigo dele iria junto, para onde quer que eles fossem. Os dois rapazes entraram no carro - no lugar do motorista e no banco de trás, parecendo hipnotizado com a figura de .
Ela agarrou firmemente na maçaneta, olhando na direção de , mas falando com .
"Você não disse que teríamos... companhia." Não queria deixar aparecer que estava com medo, mas era a realidade. Se algo acontecesse, poderia tentar se livrar de . Mas agora estava em desvantagem.
, percebendo o receio da garota, ergueu as mãos e chamou sua atenção. "Olha, ele é de confiança, ok?! Se você quiser, pode ligar pra alguém e avisar com quem está..." Ele não sabia exatamente o que estava acontecendo com , já que ela não falara nada. Só que achava estranho ela estar sozinha, à noite, um pouco longe dos bairros mais ricos - ricos - da cidade.
"Tá... tudo bem", sussurrou antes de virar-se no banco e segurar o cinto de segurança, apesar de ainda sentir o corpo tenso.
"CARACA!" deixou escapar um grito agudo, rindo em seguida. "É mesmo ela, cara! Eu... Ai, minha nossa... Você pode me dar um autógrafo? Tirar uma foto?" Enquanto e trocavam olhares assustados, mexia em seu celular a procura da câmera.
"..." tentou, mas não conseguiu conter a animação do amigo.
"Aqueles babacas vão ficar de queixo caído, espera só até eles verem isso. Não consigo nem acreditar..." Murmurou, ainda mexendo no celular.
estava apreensiva, incerta do que exatamente estava fazendo. rapidamente tirou o celular da mão do amigo, incrédulo demais. "O que você pensa que está fazendo?"
"Postando em todas as minhas redes sociais pra aqueles bullies verem quem venceu na vida, o que mais seria?" parecia não perceber o que realmente estava em jogo ali.
"Seu animal, o que foi que eu te disse? Você vai apagar isso já. Ninguém pode saber que ela está conosco!" Respirando fundo, ele lembrou de algo que estava segurando desde que entrara no carro. Esticou a peruca na direção de e esperou que ela pegasse, o que levou um tempo.
ainda encarava a peruca, incerta se deveria fazer aquilo. Quer dizer, o propósito dela fugir não era para poder ser ela mesma? Teria que fingir ser outra pessoa, novamente? Só que, no fundo, sabia que era mais seguro de tal forma.
"Então," começou "pronta para ser você mesma esta noite?"
A resposta de veio logo que ela segurou a peruca na mão e ajeitou seus cabelos, colocando-a na cabeça.
sorriu, animado com a resposta positiva de . Enquanto eles se dirigiam ao fast food mais perto, ia reclamando no banco de trás, sentindo-se injustiçado.

Ela sentia seu interior vibrar de tanta felicidade. Pela primeira vez entraria em algum lugar como , apenas , e comeria o que tivesse vontade sem culpa porque alguém a estaria controlando para fazer o oposto.
Seguiu e até o interior da lanchonete e, passando na frente deles, procurou alguma cabine que ficasse exatamente ao lado de uma das janelas. Sempre quisera fazer isso, sentar-se onde quisesse e observar o movimento das outras pessoas, enquanto comia tranquilamente. E não ter que se esconder quando ia para algum restaurante, fugindo de fãs obcecados e fotógrafos enxeridos.
Pelos auto-falantes da loja saía uma música que ela conhecia e adorava, começou a cantar em seguida.
"I don't know about you, but I'm feeling 22"
Mexeu seu corpo no que julgou ser uma dança e riu um pouco, notando que era observada atentamente por e , que seguravam o riso. Ela já não se sentia mais tão desconfortável na presença deles e, se era pra ela viver da maneira que quisesse naquela noite, não se deixaria intimidar pela vergonha, faria o que tivesse vontade.
Os dois garotos sentaram-se no lado oposto ao dela, apenas olhando para ela a espera de algo.
"O quê?" Finalmente perguntou, cansando de ser encarada. Olhou ao redor, situando-se de todos que estavam ali naquela lanchonete no mesmo momento que ela. Sem saber, eles eram testemunhas de um dos momentos mais loucos e mágicos da vida dela. Ninguém a tinha reconhecido quando chegara. Sequer olharam duas vezes em sua direção, e isso, estranhamente, a deixava alegre.
"Nada!" ergueu as mãos, os olhos arregalados como se tivesse sido pego no flagra. "Hum... Eu vou... ao banheiro?" O que era pra ser uma afirmação saiu como uma pergunta, mas ele não deu tempo para que os outros dois fizessem uma observação nisso. Levantou-se rapidamente e foi afastando-se da mesa. Porém, pode ouvir quando disse para que ele fizesse o pedido de todos, que também deveria escolher o mesmo lanche de para .
"E qual seria esse lanche?" perguntou assim que estava fora de vista.
"O maior de todos" piscou e passou a brincar com os guardanapos, pensativo. Depois de um silêncio, que não julgou como desconfortável ou constrangedor, ele decidiu falar novamente. "Você parece mais solta agora."
Suspirando e sorrindo um pouco, ela ergueu os olhos, que mantinha fixos na beirada da mesa, e encarou intensamente . "Só estou vivendo o que eu quero viver, antes que alguém descubra e isso tudo acabe", deu de ombros como se não fosse nada demais. Só que sabia que isso importava muito para ela, e, consequentemente, para ele.

"Ele é sempre assim?" sussurrou no ouvido de . Ao longe, observavam dançando completamente à vontade com um grupo de pessoas que tinha acabado de conhecer. Fazia pouco tempo que estavam na festa e agradecia mentalmente a insistência de para que ela fosse junto. Não se sentia normal há muito tempo, na verdade, pensava se alguma vez teve a oportunidade de fazer algo que um adolescente faria. Era muito fácil fingir pra mídia como que a vida dela era, quão tudo era perfeito. Ela sequer tinha um amigo pra ligar e desabafar quando as coisas ficassem difíceis de lidar. Ouvira vários discursos de outras celebridades alegando que dentro de suas casas eles eram livres pra fazer o que quisessem, e apenas do lado de fora que agiam como lhes era esperado. Porém, como sempre, com ela o assunto era outro. Por morar com seu tio, tinha que viver uma faceta só durante 24 horas. Era exaustivo, não sabia como aguentara por dezoito anos seguidos.
"Bom, eu poderia fizer que não," fez uma careta, ainda com os olhos fixos no amigo"mas estaria mentindo".
Com a sinceridade de , riu descontraidamente. Então era assim que se sentia quando se tinha um amigo? Livre pra poder fazer comentários sabendo que, no fundo, a pessoa em questão não ligaria? Ela definitivamente queria sentir um pouco daquilo.
Eles tinham chegado à festa sem qualquer tipo de alarde, o que espantara . Para ela, e eram pessoas legais e amistosas. Prova disso foi o tempo que passaram juntos na lanchonete. logo fez amizade com o atendente enquanto trocou breves palavras com a senhora da mesa ao lado. entendia muito de simpatia, porque tinha que estar pronta para falar com qualquer um a qualquer hora. Mas, observando-os, ela percebeu o quanto aquilo vinha naturalmente para eles. Ninguém esperava que eles falassem com alguém em uma fila, como fizera, ou que segurassem a porta como gentileza, como fez com a mesma senhora com quem havia conversado. Então, quando chegaram à festa e poucas pessoas - quase ninguém - os cumprimentaram de longe, ela pensou que algo estava fora do lugar. Só que talvez aquele fosse o jeito como as coisas andavam; se você fosse bom demais, não tinha muito reconhecimento dos outros. O mesmo acontecia com os astros de Hollywood: Quanto mais rebelde, maior a fama.
Apesar de tudo isso, estava feliz. Ninguém a reconhecera. Também tinha que agradecer à baixa iluminação do local. Estava tão entusiasmada, aquela era sua primeira festa (como e não ) e não queria estragar tudo. Por isso tinha grudado em e não o largara desde o primeiro passo dentro da casa. E para deixá-la ainda mais feliz, era uma house party.
"Você bebe?" Foi desperta de seus pensamentos por , que tinha se abaixado um pouco para olhá-la nos olhos. Ele era bonito, já tinha notado isso, mas olhando-o mais de perto podia notar melhor a cor dos seus olhos, a pintinha que ele tinha um pouco acima da sobrancelha e as leves sardas na região do nariz. Se fosse o famoso ali, com certeza, o quarto de estaria cheio de pôsteres seus. Depois de perceber que o encarava por tempo demais, tossiu e olhou para o lado, sentindo a bochecha tornar-se rubra. notou isso e, ao invés de ficar constrangido, ficara lisonjeado. Era bom ter uma celebridade, uma garota linda, lhe observando de tal forma. Ainda mais porque ele a observava assim também.
"Eu... Ahn... Sim?" Sentia-se sem palavras. Oras, como um momento tão minúsculo podia tirar-lhe a atenção daquele jeito?, perguntava-se. Claro que já tinha se sentido atraída por alguns caras antes, porém nenhum deles a tinha visto como . A real . Era mais... Cru.
Ele soltou um riso abafado, como se estivesse rindo de uma piada interna. E quando se preparava para ser deixada um tempo sozinha, sentiu a mão quente de entrelaçar-se a sua, fazendo-a sentir arrepios e uma vontade incontrolável de sorrir. "Você não pensou que eu te deixaria sozinha em uma festa que mal conhece duas pessoas, né?!" Perguntou assim que chegaram a cozinha, que estava um pouco menos movimentada. não queria admitir que sim, que aquilo tinha cruzado sua mente, mas não queria mentir também. Optou por dar de ombros como se não fosse nada. Por um momento, sentiu o olhar de sobre si, mas não ousou encará-lo de volta. Estava começando a acreditar que talvez ele tivesse jogado algum tipo de feitiço sobre si.
Antes que pudesse soltar um comentário sobre o casal que se agarrava no canto esquerdo, duas figuras tomaram conta da entrada da cozinha, chamando a atenção de e . teve vontade de bufar, mas contentou-se em fechar a cara e focar-se na missão de pegar uma bebida.
"Ora, ora, se não é o nosso antigo amigo, Chorão" o mais alto deles, Liam, loiro dos cabelos compridos, disse, dando um passo para frente. Os olhos castanhos brilhavam com maldade e diversão. Cruzou os braços, deixando um sorriso malicioso tomar conta de seu rosto. O outro amigo; moreno de cabelos cacheados, com a pele cor de oliva e os olhos pretos como a noite, também carregava o mesmo sorriso. Para , tudo neles gritava "mantenha distância". Eles não eram do tipo que você corria atrás quando queria um favor.
"Liam, dá o fora" resmungou, contendo a vontade que tinha de arremessar a primeira coisa em Liam apenas para tirar aquele sorrisinho esperto da cara dele. Aquilo o irritava há anos.
"Oh, . Agora que íamos nos apresentar à sua namoradinha" ele riu com escárnio. "Querida, acho que deveria te avisar onde você está se metendo..." Liam avançou a distância até , parando ao seu lado e pegando uma mecha de seu cabelo - ou melhor, peruca. Ela abaixou a cabeça, temendo que ele a reconhecesse e também tentando se livrar dele. Ela não tinha gostado nem um pouco da áurea que Liam emanava.
"Fica longe dela!" grunhiu, se aproximando de e a guiando para trás dele. Nunca tivera vontade de agredir fisicamente Liam pelas coisas que ele falava ou fazia, mas vê-lo tocando em para atingi-lo era baixo demais, despertava em uma coisa que ele não tinha sentido antes.
"Calma lá, irmão. Só estamos nos divertindo aqui, não é mesmo, doçura?" Dirigiu-se mais uma vez a .
Ela, notando o quanto tudo aquilo estava irritando , apoiou-se na ponta dos pés e sussurrou apenas para que ouvisse: "Vamos dar o fora daqui, pra mim já deu".
Lentamente, desfez o contato visual que mantinha com Liam e segurou na mão de novamente, indo para o mais longe possível de qualquer confusão.

"Eu não queria estragar a sua noite... Me desculpa. É só que... Liam sempre me tira do sério, mas dessa vez ele conseguiu se superar", dizia enquanto dirigiam pelas ruas a esmo. Ele não se preocupava muito em deixar na festa, porque, no fim, o amigo sempre arranjava outra carona para voltar para casa.
"Sem problemas, eu entendo", e ela realmente tentava entender. Não se sentia mal por ter perdido a festa ou por estar indo para lugar algum há quinze minutos. A companhia de parecia compensar qualquer uma dessas coisas. Ela tentou não se deixar pensar muito sobre isso, não traria bons resultados. "Mas, afinal, o que aconteceu entre vocês?"
Era aquela pergunta que ele temia, não por se sentir envergonhado pelo que passara. definitivamente sentia. Mas não. O problema em falar sobre aquilo tudo era que ele não se sentia no direito de ficar contando o que acontecera pra qualquer um que perguntasse, parecia que estava apenas fazendo picuinha.
Pigarreou, deslizando as mãos pelo volante, nunca abandonando o olhar da rua à sua frente. "Quando estávamos no colégio, eu, Liam e , as coisas eram um pouco estranhas. Nunca houve um porquê, Liam simplesmente implicava com a gente, por tudo e qualquer coisa. Nem lembro quando tudo começou, mas durou até o último dia do ensino médio. Havia boatos, na época, que Liam apanhava do pai, mas não foi nada confirmado", explicou, remexendo-se no assento, desconfortável.
não sabia exatamente o que pensar, era uma situação e tanto. passara por bullying na adolescência, além de lidar com a perda do pai - lembrara-se do discurso dele quando se conheceram. Ele era um bom cara e pareceu ter lidado bem com tudo que lhe tinha acontecido. admirava-o, muito.
"Sabe, ouvi dizer que vai ter um show hoje à noite, aqui perto", falou depois de um longo tempo de silêncio. Ele não sabia o que estava pensando, mas com certeza não queria que ela ficasse remoendo aquele assunto em sua cabeça. Ele, que passara por tudo aquilo que Liam tinha feito, já tinha superado.
"... Eu não tenho dinheiro", relembrou, constrangida por talvez frustrar os planos dele de tentar salvar a noite. Porém o sorriso que ele deu a deixou confusa... e mexida.
"Quem disse que vamos precisar disso?" Ele olhou para ela de relance e tomou o próximo contorno, agora mais decidido para o lugar onde iriam.

"E agora eu abro o porta-malas e nós sentamos lá, comendo esse delicioso salgadinho e tomando esse refrigerante, enquanto ouvimos daqui uma música de qualidade. O que acha?" Ele remexeu a sobrancelha repetidas vezes, fazendo sua proposta.
riu por um tempo, sentindo a barriga chegar a doer. "Confesso que esperava outra coisa quando você mencionou um show na cidade", respirou fundo. Mesmo assim, um sorriso permaneceu em seu rosto. Era bom fazer coisas não planejadas.
"Algo como camarotes e passes pro backstage? Naah, isso é coisa de gente que não sabe o que é aventura" no final do discurso, piscou para , erguendo os braços e mexendo o corpo no ritmo da música.
"Algo como isso..." Riu ao ver a maneira que dançava, sequer ligando se pagava mico. Tinha que admitir pelo menos, ele a surpreendera. Não imaginaria que a proposta dele envolvia estacionar o carro perto do estádio e ficar ouvindo a música de longe, sem sequer conseguir ver a banda. "Você ao menos sabe quem está tocando?" Balançou a cabeça, adorando o ritmo dançante. Quando chegasse em casa, faria questão de baixar o álbum completo daquela banda. Mais pelo valor sentimental que agora carregava do que por realmente curtir o estilo de música.
"Não faço ideia, mas até que não são nada maus, certo?!" Olhou na direção dela procurando por alguma reação. Essa era uma das coisas que costumava fazer com seu pai quando estava triste, mas não sabia se ela iria gostar também.
"É, nada mau. Eu até arriscaria fazer isso uma outra vez..." Sorriu para ele, confiante da resposta que dera. Ela queria tanto repetir a noite que tiveram, mesmo que isso incluísse as partes não tão agradáveis. Momentos bons não eram feitos apenas de perfeição, normalmente eram completamente improvisados. Como aquela noite.
Passaram mais de uma hora ouvindo ao show, dançando da forma como podiam e rindo de comentários que eram feitos. Até chegaram a tentar adivinhar como os membros da banda se pareciam, e no meio dessa conversa toda, descobriu que sequer tinha levado o celular consigo na loucura toda de fugir de todos.
Eles se preparavam para ir embora, ficando apenas para a última música, como o vocalista tinha anunciado, quando seus olhares se encontraram. Focaram-se um no outro, não ligando para o que acontecia ao redor. Sabiam que o show estava prestes a acabar e que dali a pouco as ruas se encheriam, mas não queriam desfazer o contato visual. sentiu uma coisa estranha remexer em seu estômago, junto com expectativa... De algo acontecer. O que ela não sabia era que se sentia, curiosamente, da mesma forma. Os dois foram se aproximando, minando, pouco a pouco, a distância que os separava. E então já podiam sentir a respiração do outro fazendo leves carícias em seus rostos. estava prestes a hiperventilar. E enquanto fechava os olhos, quase sentindo os lábios de tocando os seus, uma coisa gelada molhando suas pernas chamou sua atenção. Imediatamente ela se afastou, sendo contemplada com a visão da garrafa de refrigerante virada em seu colo, sorte sua que sobrara pouco do conteúdo. sequer tinha percebido o que tinha feito, estava muito distraído. Percebendo que não se aproximava mais, ele abriu os olhos e se deparou com a cena que fez suas bochechas queimarem de vergonha.
"Me desculpa, ... Mil perdões", repetia incansavelmente enquanto procurava um pedaço de papel para ajudá-la a secar suas calças. E, no meio disso tudo, ela soltou a gargalhada mais sincera que dera em anos. Não sabia o que era mais engraçado na situação em que se encontravam, mas a risada borbulhara para fora de si antes que se desse conta. Naturalmente, se juntou a ela.
Depois de se recuperarem de minutos de risadas, relembrou que precisavam sair dali. Foi assim que surgiu o convite para ir a casa de .

O caminho até a casa de foi um pouco desconfortável, no começo, porque nenhum dos dois sabia como deveria agir depois do quase-beijo. As risadas que deram, com certeza, amenizaram o clima, porém ainda pairava aquele pensamento de que eles sabiam - e queriam - o que ia acontecer. tentou prestar mais atenção nas ruas ao redor do que em , mas qualquer movimento que ele fazia, deixava-a alerta.
Chegando perto da casa dele, percebeu que deveria contar algo a . "Hum... Então, ," ela virou na direção dele rápido demais, arrependendo-se por parecer desesperada "eu estou na universidade, mas minha mãe tem uma política sobre não trazer garotas pra casa." Ele se sentia constrangido ao dizer aquilo, não sabia qual era o pensamento de acerca daquele assunto, mas sua mãe parecia a única dentre seus amigos a ter aquele tipo de regra.
"Eu acho... Doce da parte dela, quero dizer, se preocupar com as influências que seu irmão vai ter, sabe, você meio que é o exemplo dele já que..." Ela não conseguia completar aquela frase, parecia cruel demais relembrar o tempo todo. Assim como se sentia quando as pessoas ficavam repetindo e repetindo que seus pais tinham falecido. Ela sabia disso, mas era ruim, simplesmente era.
"Eu entendo o que você quer dizer," ele estacionou o carro a três casas de distância da sua "e é verdade. Esse foi o principal motivo que me fez escolher uma universidade local. Eu nunca quis largar minha mãe sozinha com o meu irmão, e também sei o quanto ele precisa de outra pessoa pra se basear além dela". olhava para frente, mas seu olhar parecia distante, como se estivesse vivendo outra cena.
sentia seu coração derretendo ao ouvi-lo falar de tal forma. Como alguém poderia ser tão incrivelmente doce? Ele tinha tido um passado e tanto, porém ainda conseguia ter o maior dos corações. o invejava. Ela jamais seria assim.
"Bom, o que eu estava dizendo é que vamos ter que entrar escondido", ele virou o rosto na direção dela, analisando-a de cima a baixo. As roupas dela, apesar de serem de marca, eram bem casuais, o que facilitaria o trabalho deles. estava surpresa, só que ficou ainda mais quando ouviu o que disse em seguida. "Você já escalou uma árvore antes?" Ele segurou o riso, aguardando pela reação dela.
Arregalando os olhos, segurou firmemente no banco, como se aquele ato fosse trazer alguma segurança a ela. "Só nos filmes, e lá usávamos equipamentos e dublês", só a ideia de ter que subir em uma árvore que ela sequer sabia a altura já causava arrepios... Aliás, aquele era o problema, tinha pavor de altura.
"Você usou um dublê pra subir na árvore?" soltou uma gargalhada que seria capaz de acordar os vizinhos da casa onde tinham estacionado em frente. Ele não conseguia se controlar, porque uma coisa tão simples para ele, como subir em uma árvore, deveria ser facilmente realizada por qualquer criança.
não sabia que horas eram, mas sabia que já estava tarde porque seu corpo parecia não aguentar mais nada, prova disso foi a forma rápida como ficou emburrada por rir dela. "Tenho medo de altura, ok?! E não é como se eu tivesse tido uma infância normal", arrependeu-se no instante que disse isso porque não queria que se sentisse mal por fazer algum comentário ou risse dela. Pela segunda vez na noite se perguntou se não era isso que ela queria, aquele tipo de amizade? Virou o rosto para a janela, não querendo ver a expressão no rosto dele.
Mais controlado, e até se sentindo um pouco culpado, murmurou: "Desculpa, eu não sabia."
"Não se desculpe", ela olhou novamente pra ele. "Tá tudo bem."
Ele sorriu minimamente por ver que ela realmente queria dizer aquilo. "Pode ficar tranquila, eu só tava brincando, meu quarto fica no andar de baixo."
Sentindo-se no direito, deu um leve tapa no braço de , rindo em seguida. "Seu sem graça."
E daquela maneira eles já estavam de volta ao normal.

"Ok, eu vou entrar primeiro, pela porta, e você espera aqui. Não demoro", sussurrou para enquanto mostrava aonde ela deveria ficar, justamente ao lado de fora da janela dele. Logo em seguida, ele foi para a porta da frente e abriu-a, entrando silenciosamente na casa. Sua sorte era que sua mãe já estava dormindo e que o quarto dela era no andar de cima, porque normalmente quando ele chegava e ela estava acordada, o mantinha na cozinha enquanto conversavam por horas.
Ele tinha estacionado o carro na garagem minutos antes, aguardando um pouco no interior do veículo por qualquer movimentação dentro de sua casa. , depois que finalmente estavam lá, estacionados, tornara-se uma pilha de nervos. Celebridade ou não, ela ainda era uma garota, não estava autorizada a entrar lá depois das dez horas da noite - e já era bem mais que isso.
Do lado de fora, ela olhava bem para todos os lados, temendo que alguém aparecesse do nada ou que algum vizinho de a visse e contasse tudo para a mãe dele no dia seguinte. Não queria que fosse punido porque a ajudara, aliás, era o que ele vinha fazendo a noite toda. Por estar distraída, espantou-se quando ouviu o click da trava da janela e o deslizar da mesma. colocou a cabeça para fora, com um sorriso sapeca no rosto, esticando a mão para que ela segurasse, o que fez prontamente.
"Isso é tão emocionante," sussurrou para ela enquanto ela passava perna por perna pela janela "eu nunca tinha desobedecido essa regra da minha mãe" ele riu um pouco. , apesar do receio de ser pega, também sentia a adrenalina correndo por seu corpo. Afinal, ela mesma estava quebrando algumas regras naquela noite.
"Me sinto um pouco culpada... Pela sua mãe também, mas mais por deixar meu tio preocupado. Ele pode pensar que fui raptada", já estava com o corpo todo para dentro do quarto de e dizia isto enquanto o via trancar a porta. Suspirou, vendo o rosto dele adquirir uma expressão mais séria.
"Você quer ligar pra ele do meu celular?" Pegou o aparelho na mão, mostrando-o para ela. Por um momento, a garota se sentiu tentada. Seu tio podia estar arrancando os cabelos àquela altura. Eles podiam ter uma relação não tão próxima naquele momento, mas ele ainda se preocupava com ela, como responsável legal e como agente.
"Hum... Acho melhor não. É melhor deixar pra amanhã", decidiu-se. Na manhã seguinte sua cabeça estaria menos turbulenta e ela saberia o que fazer e dizer. Aquele não era o momento ainda, ela precisava de uma boa noite de sono. E de uma peça limpa de roupa. Apontou vagamente para a região abaixo da cintura, sem saber exatamente como pedir aquilo. "É... ? Você pode me emprestar uma calça?" Segurou-se para não cruzar os braços atrás do corpo e parecer mais constrangida do que estava, afinal ele quem tinha sugerido aquilo em primeiro lugar.
"Ah, claro, a calça! Quer uma blusa também?" O tom genuíno dele foi o que deixou incapaz de negar. Secretamente, ela queria sentir o cheiro de o máximo que pudesse.
Depois de trocar de roupas, com estando apenas virado de costas - o que a embaraçava mais do que deveria já que estava acostumada a ter cenas com poucas roupas -, sentou na beirada da cama, apreciando o conforto que a cama tinha sob si. Ela estava cansada, tinha sido uma longa noite, por sinal um longo dia. Antes de resolver ter sua liberdade, tinha passado por um teste de elenco para um novo filme - que ela sequer gostara do roteiro. Mas, por ser a adaptação de um livro que fizera muito sucesso, seu tio insistiu que ela fizesse o bendito teste. Aquele foi só mais um motivo para que ela tivesse a coragem de fugir, sequer tinha voz para escolher quais filmes faria e quais não.
"Você fica com a cama e eu fico no chão" foi trazida de volta à realidade pela voz controlada de . Ainda demorou um tempo para processar o que ele havia dito, mas quando o fez, levantou-se prontamente.
"Nada disso, eu fico com o chão!" Viu que estava disposto a protestar, entretanto foi mais rápida. "Não era nem para eu estar aqui."
"Não posso deixar que você durma no chão, é uma visita e uma celebridade", dialogou, erguendo um pouco o tom de voz. Ele não queria que ela ficasse com a cama por simplesmente ser uma garota, não gostava de pensar de tal maneira. Mas queria que ela dormisse no lugar mais confortável porque era visita, e foi assim que seu pai lhe ensinou a tratar os outros.
"Me poupe desse papo de celebridade, aqui sou tão comum quanto você", por dentro algo quente preenchia o vazio que antes sentira, era bom se sentir normal em algum lugar. pensou em dizer algo, mas sabia que ser normal para significava muito, então manteve-se calado. "Que tal dividirmos a cama, então?" Negociou. Aquilo, certamente, pegou de surpresa, era algo pelo qual não estava esperando.
"Você tem certeza?" Perguntou, receoso.
puxou a coberta da cama, deixando-a na ponta. Estava calor demais para se cobrirem, era verão, afinal. Podia ouvir os grilos cantando do lado de fora e o clima abafado já não os seguia, graças ao ar-condicionado. Ela se deitou de um lado, virando-se para encarar .
"Já dividi a cama com caras antes." Respondeu à pergunta que ele não sabia como fazer. Ela se sentia calma em relação a isso - dividir a cama com -, mais do que julgava ser correto. Alguma coisa estranha borbulhava dentro de si com o pensamento, talvez expectativa.
"Em cena ou fora?" Indagou, deitando lentamente no espaço que deixara para ele.
"Importa?" Deu de ombros. E fez o mesmo porque, naquele momento, não importava, nada do lado de fora daquele quarto importava. Eram só eles dois ali, deitados de lado, encarando um ao outro, felizes por tudo e por motivo algum. Um sorriso cúmplice ocupando o rosto de ambos. Aquela fora uma boa noite, diziam-se sem palavras.
Eles iniciaram, logo depois, uma conversa leve, comentando sobre momentos que tinham passado ou até mesmo sobre coisas que tinham vivenciado antes de se conhecerem. trouxe de volta o momento em que se encontraram e como foi bom que justamente que tivesse se aproximado dela e não outra pessoa. Sabe-se lá onde ela poderia estar naquele momento. Então, de repente, já não apresentava mais um sorriso, ficara sério.
"Essa é uma pergunta delicada, mas que eu tenho que fazer, ..." Esperou por qualquer reação dela, negativa ou positiva, mas apenas recebeu um balançar de cabeça. "Quando eu te encontrei lá naquele píer, você estava pensando em... Pular?"
O espanto que viu no rosto de foi considerado como uma resposta, como se ela não esperasse que ele tivesse notado isso quando a viu pela primeira vez, como se ela não esperasse que ele fosse, em algum momento, perguntar. Mas ele se enganou.
"Não." Ela respondeu alto demais, depois abaixou o tom de voz, aproximando um pouco o rosto do dele, incrédula. "Eu não ia pular... Eu... Minha nossa, você pensou isso durante o tempo todo?" Recebeu um aceno como resposta. ", eu não ia pular, eu não ia desistir de tudo, quero dizer, não dessa maneira. Eu fui até lá porque ficar observando o movimento da água me acalma, me ajuda a pensar. Eu não tive muitos amigos ao longo dos anos, então tive que criar maneiras de lidar com os meus problemas sem ter que recorrer a humanos. A água, o mar mais precisamente, me traz uma leveza que nenhuma outra coisa traz." Tomou fôlego, observando os olhos de nunca abandonarem o seu rosto. Era bom saber que alguém a ouvia, de verdade, e não só porque ela era . "Eu pensei em desistir, pensei em largar tudo pra trás, mas eu estava me referindo à fama, às telas de cinema. Tudo que eu queria era ser uma garota comum por um tempo, mesmo que me doa largar a carreira de atriz, porque eu amo o que faço, apesar dos pesares", finalizou seu discurso com os olhos um pouco marejados. Era triste pensar em largar tudo, sua vida era a carreira que tinha construído. E, ao mesmo tempo que isso era bom, não era. Porque queria ter uma vida fora das salas de cinema, queria ter amigos pra quem ligar e momentos seus para lembrar, não só os dos personagens que interpretava.
Fechou os olhos brevemente, sentindo como se um peso fosse tirado de seus ombros. Era bom poder se abrir com alguém, com uma pessoa que ela não temia que fosse expor tudo na internet depois. Os dedos de , então, passaram a desenhar abstratamente linhas em seu rosto. Era um carinho suave, sem qualquer tipo de maldade, doce. As palavras que ele disse em seguida aqueceram seu coração, mas ela pensava que, naquele momento, mesmo se ele não as tivesse dito, ela podia deduzir isso com os gestos dele: "Eu me importo com você, e confesso que a ideia de você querer pular daquele píer me deixou mal."
Depois de dizer isso, com o coração acelerado, se inclinou um pouco para frente, tomando espaço do travesseiro de . O rosto dela estava perto, quase com o nariz encostando ao seu. Não sabia dizer se estava se sentindo da mesma forma que ele, se a expectativa estava fazendo a mão dela suar, como fazia com a sua, mas gostava de acreditar que sim.
Ele queria avançar toda a distância entre eles, mas refreou o desejo, deixando para que escolhesse, para que ela tomasse a última decisão. E ela tomou, eliminando o espaço que faltava entre suas bocas. No começo, nenhum dos dois se mexeu, se acostumando ao toque um do outro. Porém, quando pediu passagem e cedeu, o beijo se tornou mais quente, mais... Apaixonado. As mãos se tocavam onde podiam, inquietas, ávidas por mais e mais. Ali, naquele momento, eles eram um do outro e nada mais. Nada mais importava.
Continuaram se beijando pelo que pareceu o restante da noite, mas uma hora o cansaço falou mais alto e eles se afastaram de vez, ofegantes, dando leves selinhos. O sorriso que eles compartilhavam dizia tudo que eles tinham vontade. Então, abraçando e desejando-o boa noite, teve uma ótima noite de sono. Assim como . Deixaram para depois as inseguranças, as questões que pairavam no ar.
Quando o sol nascesse, o que seria dos dois? Quando voltasse para encarar sua realidade, como eles ficariam?

A primeira pessoa a acordar foi , e ele ficou grato ao lembrar que estava de férias ou senão estaria atrasado para o primeiro turno. Sua mãe, àquela altura, já deveria ter saído e deixado um belo café da manhã para trás. Seu irmão ainda deveria estar dormindo, apenas pelo fato de não ter ouvido nenhuma batida em sua porta ou o barulho de vídeo-game vindo nem do andar de cima nem da sala. Respirou fundo, sentindo o braço de pesar em sua barriga. Deixou que um sorriso preguiçoso tomasse conta de sua expressão, aproveitando a sensação gostosa que lhe percorria o corpo ao constatar que era verdade, a noite anterior tinha mesmo acontecido. Por um momento, sentiu-se um fã logo após conhecer o ídolo, não acreditando na sorte que tivera. Mas a razão desse pensamento não se devia ao fato de que estava em sua cama, mas que uma garota incrível tinha passado a noite ao seu lado e, mesmo que o sentido daquilo não fosse sexual, significava muito.
Enquanto aproveitava o momento, despertava, tentando se lembrar onde estava e como chegara ali. Logo, lembrou-se de tudo e se permitiu sorrir. , ao perceber que ela acordara, chamou sua atenção, depositando um beijo no topo de sua cabeça.
"Bom dia, Bela Adormecida", mesmo sem vê-lo, ela podia sentir o sorriso na voz dele.
"Bom dia. E eu não acho que dormi tanto para receber este apelido", apoiou-se no cotovelo para poder olhá-lo. "Que horas são, aliás?"
esticou um pouco o corpo para poder pegar o celular que deixara no criado mudo, vendo que era perto do meio dia. Quando disse o horário a ela, deitou-se novamente, aconchegando-se a . Porém, quando ergueu um pouco a perna, sentiu um volume a mais, fazendo-a afastar-se e corar. Saberia lidar melhor com aquela situação se ela e se conhecessem há mais tempo. Ele, quando entendeu o estranho comportamento dela, levantou-se às pressas, indo para a porta.
"Eu vou..." Pigarreou. "Ao banheiro, você pode ir tomando café da manhã enquanto isso". o seguiu. Quando abriu a porta, deparou-se com seu irmão no corredor.
"..." Porém, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a imagem de logo atrás de seu irmão mais velho o fez congelar. Sua boca permaneceu aberta, surpreso demais para se tocar disso.
estava achando a situação toda muito divertida, contendo a gargalhada que queria soltar desde que pulou para fora da cama. "Oi, irmão mais novo." Acenou para ele, que, naquela hora, pareceu acordar do transe em que estava.
"... ... ", ele gaguejava, apontando para e alternando o olhar entre o irmão e a atriz. Foi então que seu olhar caiu um pouco e ele percebeu por que seu irmão continuava parado ali sem dizer nada. Ele ficou, ao mesmo tempo, chocado e humorado. Agora ele e seguravam o riso.
"Nem um pio", apontou para o mais novo. , querendo logo se livrar daquele momento, passou o irmão e marchou em direção ao banheiro, gritando por cima do ombro: ", se quiser, pode usar meu celular agora." Desaparecendo da vista enquanto os outros dois riam à vontade.

estava receosa quanto à ligação que teria que fazer, porém sabia que tinha que fazer. E antes que fosse comer porque, senão, sua determinação iria ralo abaixo. Depois de conversar brevemente com o irmão de , ela voltou para o quarto e encostou a porta, querendo algum tipo de privacidade. e sua família vinham sendo muito hospitaleiros - sua mãe também, mesmo sem saber. Mas ela achava que aquele momento com seu tio, mesmo que não pessoalmente, era muito pessoal para dividir com qualquer outro.
Discou o número que lembrava ser de seu tio, não tendo muita certeza se era o certo, porque não precisava ligar para ele com frequência. Esperou a chamada ser atendida e suspirou aliviada quando ouviu a voz conhecida soar do outro lado.
"? , é você?" Ele estava afobado, com medo de que talvez fosse algum tipo de resgate. Não queria pensar no pior, mas sua sobrinha era muito inocente e estava desaparecida há horas.
"Oi, tio..." Murmurou, envergonhada. Sentia-se pior ainda por fazê-lo se preocupar com ela quando, na verdade, ela estava mais do que segura. Tudo por causa de uma peruca e um cara comum ao seu lado.
" ! Eu não acredito no que você fez, mocinha. Fiquei tão preocupado... E a mídia, se descobrem o que você fez, vão ficar no seu pé... Sua imagem..." Perdeu-se um pouco no sermão que o tio lhe dava, mas não pode deixar de notar que, na primeira oportunidade, ele já se referia a sua carreira. Sequer perguntara se ela estava bem, se algo tinha acontecido, ou por que ela tinha decidido fugir. Então, tomando uma decisão de última hora, ela tomou fôlego.
"Tio..." Tentou uma vez, porém ele continuava falando e falando sem parar. "TIO! CHEGA!" Até ela se espantara com o grito que deu, jamais tinha erguido a voz para ninguém, não era do feitio dela.
"Olha, , nós..." Mas não deixou que ele terminasse e cortou-o mais uma vez.
"Está demitido." Um longo silêncio pairou do outro lado da linha, era apenas possível ouvir a respiração pesada do mais velho. o considerava como um pai, mas o relacionamento atriz-agente tinha chegado ao fim. Aliás, coisa que por jamais deveria ter começado, aquilo havia mudado demais a rotina e intimidade deles.
"Você está me demitindo?" Ele riu nervosamente. "Querida, você não sabe o que está fazendo, você está confusa agora e só precisa vir pra casa ter uma boa noite de sono."
Ela respirou fundo uma, duas, três vezes, entretanto não pareceu o suficiente. "Tio, só tem uma maneira de você permanecer na minha vida. Ou você é meu agente, ou meu tio. E, sinceramente, você é a única família que tenho, não quero te perder também." Por um minuto, pensou que não iria aguentar a pressão daquela frase, daquela situação e que quebraria de vez por todas. Só que ela era mais forte do que pensava. Quando o silêncio se estendeu por mais tempo que deveria, soube que ele não diria mais nada. "Não se preocupe, volto pra casa ainda hoje. Estou bem e em segurança. Eu te amo, tio." Despediu-se com o coração na mão.

passou uma das tardes mais divertidas e relaxantes de sua vida. Era engraçado ver a dinâmica entre e seu irmão mais novo, porque eles se pareciam irmãos - considerando as picuinhas -, mas era inegável o carinho paterno que nutria pelo outro. Era lindo de ver. Ela aproveitou cada segundo que pode, comendo o que era posto em sua frente, sem frescura alguma, e até jogando vídeo-game com os outros dois. Ela se sentia pertencente a algum lugar, algum grupo.
Certamente, uma hora ela teve que ir embora, e foi quando seu motorista estacionou o carro em frente a casa de . Ela sentia um buraco começando a se formar em seu estômago, teria que se encarregar de contratar outro agente e ainda remoía o que aconteceria com ela e . Sabia que eles tinham rotinas diferentes, que não teriam se conhecido se ela não tivesse surtado e fugido para aquele píer. Entretanto, ali estavam eles, em frente a porta da casa de , prestes a se despedir. fizera questão de se despedir do irmão de antes, adiando ao máximo o momento que teria que fazê-lo com . Mas chegara a hora. Ela não sabia se podia beijá-lo, mas queria. Durante o dia eles tinham se tocado, abraçado, porém nem um beijo a mais acontecera, o que frustrava levemente.
Então, quando avançou o espaço entre eles e a beijou, foi como se ela tivesse sido transportada para outra realidade. Uma melhor, claro. Ele finalizou a despedida dando um abraço apertado nela, triste por ter que soltá-la em algum momento. Porém, antes que se afastasse totalmente, ele pegou a mão dela e colocou um papel dobrado em sua palma, fechando-a. Ela franziu o cenho com o ato, mas não teve tempo de perguntar o que era porque logo ele lhe explicou.
"Meu número está anotado aí, se quiser, se precisar, pode me ligar ou me mandar uma mensagem." sorriu com aquilo e tentou se afastar, só que ele apertou um pouco mais sua mão, acrescentando: "A qualquer hora."
pensou que o sorriso não caberia em seu rosto, então, para expressar sua gratidão e felicidade, avançou mais uma vez, dando um último selinho em . Quando entrou no carro, acenou para ele até que estivesse fora de vista. Percebeu que seu celular estava no console do banco de trás e rapidamente o pegou, anotando o número de e digitando uma mensagem.
Talvez eu não precise de você nesse minuto, mas eu quero.

O verão de foi algo que ela não previu acontecendo em sua vida. Entre entradas furtivas no quarto de à noite, festas com ele e , tardes de vídeo-game com e seu irmão, sequer foi vista pelos fotógrafos e fofoqueiros. Uma de suas raras aparições foi quando tirou uma foto com e postou-a em seu Instagram, com a legenda: "Aos haters de plantão", claramente se referindo a Liam. Bom, depois de algumas semanas assim, decidiu apresentá-la a sua mãe - que já desconfiava de tudo o que faziam debaixo de seu nariz. No começo, ficou intimidada porque achava que sua sogra seria uma megera devido as coisas que falava dela, porém se espantou quando encontrou uma mulher simpática e doce, assim como o filho.
Eventualmente, o verão chegou ao fim e teve que voltar ao trabalho. Todo o tempo que passara fora da mídia, ao contrário do que pensara, fez com que notassem mais ainda . Aos poucos, reconstruía seu relacionamento com o tio, que também decidira tirar umas férias antes de procurar outras estrelas para agenciar. Afinal, ele também gostava do que fazia. Para lidar com todas as questões de uma vez, resolveu marcar uma coletiva de imprensa.
", o que podemos esperar dessa sua nova fase?" Foi uma das perguntas que surgiu do meio do mar de jornalistas. Ela pensou um pouco, se permitindo sorrir.
"Muitas coisas. Uma nova nasceu nesse verão e ela já tem planos. Estou trabalhando na minha nova personagem, o filme ainda é segredo, mas garanto que vão adorar."
"Senhorita , por falar nisso, por onde andou nesse verão?" Assim que ouviu essa pergunta, sentiu-se pega no flagra. Óbvio que ela sabia que iriam perguntar-lhe isso, mas, ainda sim, era tão pessoal.
"Estive de férias, tirando um tempo pra mim d me descobrindo. Acredito que, em algum momento da vida, todos precisam disso", repetiu o que vinha ensaiando há dias.
Algumas perguntas mais foram feitas, entre elas se tinha um namorado secreto, pergunta que ela optou por não responder, o que deixou a todos muito curiosos. Logo depois da entrevista acabar, enviou uma mensagem para , contando-o como tudo ocorrera. Eles não sabiam exatamente como proceder com o relacionamento, mas estavam trabalhando nisso e se comunicavam todos os dias. Era algo que queria pra sua nova fase; um relacionamento com um cara incrível.
Ela estava um pouco receosa ainda, mas esperançosa com tudo que lhe esperava. Ela tinha um novo agente, uma carreira remodelada, um namorado, amigos e uma vida inteira pela frente. Estava na hora de viver sua própria história.




Fim



Nota da autora: (23/12/2015) Oi, coisa linda! Me perdoe por qualquer erro, não tive muito tempo pra escrever, imagine só para corrigir. Mas qualquer coisa, me avise. Foi o melhor que eu pude nessa correria de fim de ano, mas queria ter trabalhado melhor na personagem principal.
Um Feliz Natal e que o próximo ano seja melhor que 2015 (pra você que teve um ano ruim ou não)! Como presente de Natal, eu aceito comentários, ok?! Não sou tão exigente hahaha
Tenho outras fics no site, mas, no momento, to com um pouco de preguiça de escrever aqui (foi mal). Bom, é isso, beijos e até a próxima! :D



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