Capítulo Único
“Q
uerido diário,Ontem, foi o aniversário da Amber. Eu estou tão feliz por ela, a comemoração foi uma maravilha, nós fomos aquele clube que inaugurou no mês passado. Nunca bebi tanto em minha vida!
Mas algo que não estava nos meus planos aconteceu, talvez um dia eu me arrependa amargamente de ter virado aquela dose de tequila, a qual me deu coragem. Talvez eu possa pensar que não queria ter criado coragem para dizer todas aquelas palavras, demonstrar todos aqueles sentimentos. Talvez, um dia.”
No início, assim que entramos na boate tudo estava às mil maravilhas, afinal eu ainda não havia sido afetada pela presença dele, até o momento em que Zayn virou a primeira dose de vodca garganta abaixo e se embrenhou com as pessoas na pista de dança. Aquele clube estava lotado e só havia garotas lindas, com corpos maravilhosos, ou seja, totalmente ao contrário do que eu era. Sim, eu era a mais antiquada daquele lugar, não era para menos, até porque aquela estava sendo a minha primeira experiência em um lugar como esse e eu só me vesti como iria a uma festa de aniversário, vestidinho solto rodado, um salto ambos na coloração preta, uma maquiagem simples somente para completar o look e como de costume, meus cabelos pretos estavam soltos. Mas em hipótese alguma eu era atraente como ele, nunca, a verdade era que eu não conseguia entender o porquê de ele ter me escolhido alguns anos atrás. Sim, anos e eu ainda não havia o superado.
Zayn estava deslumbrante, seus cabelos negros estavam longos, batiam na altura do queixo. Ele chamava atenção por onde quer que passasse e aproveitava disso.
Tentei tirar meu foco dele, eu juro que tentei, até dancei com Landon - meu melhor amigo - mas quando meus olhos, sem meu consentimento, procuraram por ele, se arrependeram amargamente.
Uma garota ruiva dançava com o corpo junto ao dele, se eles ao menos estivessem apenas dançando, eu não teria sido tão afetada, o único problema era que ele a beijava avidamente, como se contasse que aquela noite ambos acabassem fazendo sexo loucamente. Ah! Aquilo doeu, e como doeu.
Já haviam se passado longos quatros anos, e aquele garoto não saía da minha cabeça, muito menos do meu coração. Eu tentava me fazer forte, sair com ele como uma simples amiga sem criar alguma expectativa de que um algo a mais poderia acontecer, mas isso era difícil.
“If It means I get to fly again, up in my island. Like a dream I’m trying to fight against. I don’t mind mischief...”
Depois de um tempo, desisti da pista de dança e me encostei no balcão de bebidas. Meus olhos ainda vagavam em sua procura por entre aquelas pessoas e quando o barman chamou minha atenção oferecendo-me uma bebida, eu o vi, do outro lado com outra garota, desta vez uma morena. É, Zayn realmente não perdia tempo. Senti um nó amargurado formar-se em minha garganta.
- Me dê algo forte por favor, que me faça esquecer dessa noite – o rapaz com o corpo coberto de músculos definidos e sem camisa me lançou um olhar de pena enquanto me entregava o que eu havia lhe pedido.
Uma, duas, três, quatro doses de tequila, uma atrás da outra, depois dessas eu não contei mais, somente fiquei ali observando todas aquelas pessoas lindas, em seus corpos e rostos maravilhosos curtindo a vida, enquanto eu não entendia o porquê ainda estar naquele lugar.
- Hey, Olive, por que não está na pista curtindo com os outros?! – ele sussurrou ao meu ouvido.
Será que ele tinha alguma noção do que isso me causava?! Será que ele percebia o quanto doía querer ele e não poder o ter?!
- Eu não estou bem para isso hoje – respondi tentando manter-me fria e impassível.
- Você está passando mal?! Alguém te fez algo?! Quer que eu te leve para casa?! – ele falava de uma forma preocupada, que por alguns instantes pude imaginar que ele se importava.
Mas eu sabia que não.
- Não. – respondi simplesmente, fazendo um sinal com a mão pedindo mais uma dose ao barman.
- Então o que houve?! Me diga por favor! – olhei em seus olhos e aquele olhar que eu via quando éramos um casal estava ali, me atormentado mais uma vez, porém, eu tinha a convicção de que aquilo era somente alusões da minha cabeça.
Ele não me olhava mais como antes, eu não tinha para ele o mesmo significado que um dia já tive.
- Vou lhe contar uma história, okay?! – ele me encarou confuso, afinal eu não havia lhe respondido. Ainda.
Respirei fundo, eu precisava criar coragem para o que iria começar a dizer. Oh, sim! Muita coragem!
Tomei mais uma dose de tequila e o olhei com um sorriso um tanto quanto amargurado. Estava doendo. Muito.
- Era uma vez, uma garota que não tinha amigos, até o dia em que entrou para o ensino médio. Certo dia, sentada no lugar onde ela encontrou para se isolar, um grupo de amigos se encostou ali também e como todos eram sociáveis e não se importavam com o que ela aparentava, se aproximaram.
Algumas semanas depois, todos os dias eles se encontravam durante o almoço, nenhum deles compartilhava as aulas junto, e por isso fizeram daquele lugar, debaixo de um imenso carvalho afastado de todos os outros alunos, um ponto de encontro. A menina se animava com as conversas e gargalhava com as palhaçadas que os três garotos faziam, acompanhada de mais três garotas. Na primeira instância, ela imaginou que eram casais, mas depois descobrira que não, eram apenas amigos inseparáveis desde a infância. A amizade entre eles fluía, assim como a alegria da garotinha que antes era alvo de chacota das outras pessoas.
Um mês depois, seria lançado um filme em que todos eles compartilhavam o interesse de ver e por isso combinaram de se encontrarem no cinema e assistir ao filme juntos, Jogos Vorazes, era esse o longa que estava em cartaz. Ela só estava interessada pois seu ator preferido apareceria no filme, mas algo naquele dia mudou a vida dela, se foi para melhor ou pior, ela não sabe ainda.
Depois do filme o grupo de amigos resolveu ir para o fliperama. Sim, isso ainda existia naquela época! Foi então que ela o olhou, de uma maneira na qual nunca havia o notado.”
Os olhos de Zayn se arregalaram, como se só depois dessa última frase ele estivesse notado de quem eu estava falando. Eu poderia parar por ali e dizer para que ele esquecesse do assunto e fingisse que aquilo não havia acontecido. Mas eu havia tomado aquela dose de tequila. Aquela dose de coragem. Eu não estava me importando com mais nada, sanidade?! Sensatez?! Eu não precisava mais disso naquele momento. Agora eu iria com isso até o fim, não esperando que ele me envolvesse em seus braços e dissesse que ainda também me amava, não, porque eu sabia que não seria verdade. Mas eu precisava, necessitava de colocar o que estava agarrado dentro de mim, já há quatro anos, e talvez, somente talvez, aquela pequena dose de coragem pudesse me libertar. Ou não, mas valeria a pena me arriscar.
“We’re Just dancing in the dark again. The light blows...”
O moreno fez menção de dizer algo, mas o interrompi.
- Deixe-me terminar, okay?! – ele assentiu ainda relutante, com toda certeza não entendendo aonde eu queria chegar com aquele assunto, na verdade, nem eu sabia. - Ela queria parecer bonita aos olhos de todos que estavam ali... – continuei a história, a nossa história – Seus amigos tiravam fotos a todos os momentos e como ela sabia que não ficava bonita em fotos desprevenidas, a morena de olhos cor de mel decidiu sorrir a todo momento, eles estavam se divertindo, ninguém notaria o real motivo de seu sorriso.
“E ele a elogiou ‘seu sorriso é lindo’, aquela pequena frase que saíra da boca daquele garoto de cabelos escuros e olhos caramelados acendeu algo dentro da garota que fez com que seu sorriso se aumentasse. Os dias se passavam e ele fora o primeiro garoto que um dia já pedira seu número de telefone, mesmo que talvez a intenção dele não fosse para além da amizade. O que na verdade não foi, pois meses depois de se conhecerem, meses depois de uma amizade concreta e sincera, ele se declarou, de uma maneira na qual ela nunca iria esquecer. Ah! Ela ainda não esqueceu!
Era o baile de inverno, a morena não tinha um par nem muito menos intimidade com um alguém no qual pudesse a convidar, e por terem uma amizade tão profunda ela o convidou e ele se prontificou a ir, na cabeça dela ele só estava indo por pena de uma grande amiga que não tinha um par para o baile. Mas naquela noite, depois de dançarem com todos os amigos e beberem horrores (às escondidas, claro), ele a levou para casa. Era notável para qualquer um o clima romântico que os estava envolvendo, ela própria achou aquilo muito estranho, e foi quando eles estavam no jardim da casa dela que ele a parou e segurou em suas duas mãos olhando atentamente para o mel dos seus olhos e disse:
- Tenho um presente para você – ela não o entendeu afinal, ele estava de mãos vazias.
- O que seria?! Um chaveiro do Mickey Mouse?! – a garota realmente apostava ser aquilo, pois ela amava aquele personagem de desenho animado.
- Não – ele respondeu risonho, mas a menina havia percebido o nervosismo em seu riso. – Hm... É outra coisa...
A morena somente o olhou confusa e o moreno gesticulou com as mãos para que ela se virasse de costas para ele e assim, mesmo sem entender, ela o fez.
Ela não viu, mas tinha completa certeza que ele estava nervoso, pois podia sentir isso pela respiração pesada dele.
- Pode virar! - a voz do rapaz saiu tremula e quando a morena se virou, lá estava ele de joelhos com um anel de prata com um solitário diamante em evidência.
Ela arregalou os olhos cor de mel surpresa.
- Namora comigo?! – ele mantinha um sorriso largo e esperançoso no rosto, seus olhos caramelados estavam em um brilho tão intenso que a menina viu ali um amor.
Bom... Ela acreditou que seria amor, mas será que realmente era?!”
“When I’m with you... It’s lit, you can’t put it out. I can find you when you’re lost...”
- É assim que você diz que ainda me ama, Olive?! – ele gritou enfurecido quando saímos porta a fora do clube – Agarrando outro, na minha frente?!
- Qual é o seu problema, Malik?! – gritei furiosa, tão forte, que senti minha garganta se arranhar com o esforço.
- Você! Você é a porra do meu problema. Caralho! É clichê eu sei...- ele virou de costas levando as mãos nos cabelos puxando-os nervosamente – Caramba, Olive! Você me desconcertou nessa noite!
- O problema é seu! – respondi sentindo a revolta me preencher – Eu não estou me importando se o que eu disse te desconcertou. Eu não falei tudo aquilo com a intenção de que você me tomasse nos seus braços e dissesse que me ama também, nunca nem ao menos pensei nisso. Eu já estou vacinada, Zayn! - terminei deixando evidente em minha voz a amargura que eu sentia. – Se você acha que vou ficar aqui chorando, vendo você se agarrar com todas, está enganado Malik! – aproximei-me dele, controlando a respiração.
Eu já sentia meu pulmão arder pedindo atenção, não poderia ter um ataque asmático naquele momento.
- Pela primeira vez, em quatro anos, alguém se interessou por mim! E eu vou voltar para dentro daquela boate e beijá-lo, porque já faz muito tempo que não sei o que é isso! – finalizei a frase passando a mão em meus cabelos ajeitando os mesmos, Zayn estava parado ao meu lado encarando-me sem demonstrar sentimento algum. Dei dois passos em direção a porta pela qual havíamos saído e o senti segurar meu braço.
- Você não vai voltar lá, Olive. Você não vai ficar com ele – ele sussurrou em ainda de costas para mim – Porque eu quero você comigo, eu preciso de você! – dito isso ele me puxou jogando meu corpo contra a parede juntando seu corpo ao meu, tomando meus lábios com os seus.
Se eu tentei resistir?! Ah! Para quê negar o inevitável?! Eu ainda o amava, e ouvi-lo dizendo que precisava de mim fora o meu estopim.
“But you know I got your back, I’m on your side. I don’t mind. You can tell me your lies. I don’t mind. You can tell me all night. When I’m with you. When you know I know you’re playing with my mind...”
Seus olhos curiosos me encararam esperando uma resposta, estavam mais escuros e brilhosos. Ah! Eu sabia o porquê estavam assim...
Zayn era também dono da minha inocência, eu havia lhe entregado, na noite em que decidi que seria ele o primeiro a me amar de corpo e alma, da forma mais íntima que existe.
E esses olhos, esse olhar... Foi assim que ele me olhou no exato momento em que me entreguei por inteira a ele, e agora dessa vez, eu não faria diferente.
Murmurei em concordância, sem condições de proferir qualquer palavra, estava presa ao seu olhar como se estivesse hipnotizada. Seus lábios se abriram em um longo sorriso e voltaram para os meus dando-me mais um longo beijo.
Voltamos para dentro da boate apenas para nos despedirmos de Amber, minha amiga não aprovou tal atitude, pois ela sabia que na manhã seguinte eu bateria em sua porta arrependida e pedindo colo. Eu própria sabia, mas já não me importava mais, tudo que eu queria era me entregar a esse amor.
“I don’t mind waiting. If you need some time to love again. I don’t want nothing. Just a little something for the pain... I really don’t mind if it’s love. Been waiting for a sign in the night. I really don’t mind if it’s love. Girl, you know.”