Última atualização: 15/09/2018

Capítulo Único

Malditos lábios carnudos, malditos olhos baixos, malditos cabelos encaracolados, malditas curvas. Rafael repetia a frase sem descanso, ao passo que sua cabeça explodia por conta da dor de cabeça. O homem amaldiçoava com todas as forças a insônia que o acompanhava há quase duas semanas. Na verdade, maldizia a causa das noites mal dormidas. Ele se achava um idiota por estar completamente caído por alguém dessa maneira. Um cara em seus vinte e quatro anos não conseguindo dormir por conta de uma paixão. Extremamente patético. Estava se assemelhando mais com aqueles garotos irritantes de quinze anos, que não sossegam enquanto não conseguem uma garota, do que com um jogador profissional. Só que no caso, a garota era sua melhor amiga e, além disso, sua psicóloga. era a pessoa que o brasileiro deveria confidenciar seus maiores problemas e, supostamente, seus maiores desejos .
- Rafael! Acorda! - E, ao abrir os olhos, o jogador se deparou com a figura que atordoava sua mente e seus sonhos. - Que merda, eu tô chamando tua atenção há uns cinco minutos e você nem tchum. - A mulher falou nuns 10 decibéis acima do normal, o que assustou o outro. Ela nunca havia se expressado dessa forma.
- O que você falou, ? - Tentou amenizar a situação, já que sabia que o terreno entre eles não estava nas melhores condições.
- Esquece, Rafael! A gente marca outro dia, cansei. - Exclamou irritadiça, enquanto pegava suas pastas e as colocava em sua bolsa. - Se quiser continuar a sessão hoje, chama o Fabian. - Finalizou sem ao menos olhar nos olhos do moreno.
- Será que dá pra você voltar a falar direito comigo, porra? - se limitou em bufar. - Ou pelo menos olhar na minha cara? - Era óbvio que a não atenderia o pedido. - Tá, , como preferir. - Foi a vez dele revirar os olhos e elevar o tom de voz. - Melhor ir mesmo, não vai adiantar de nada falar contigo hoje. Assim como nos últimos dias, aliás.
E, assim como surgia de repente em seus pensamentos, a garota desapareceu pela porta de madeira escura, dirigindo-se ao refeitório do clube. O camisa oito se jogou na poltrona completamente frustrado, pois sabia muito bem o motivo de tal irritação. “Que merda, Rafa! Você enche o saco pra eu aparecer nessa caceta de festa, que aliás eu não conheço ninguém, e, ainda por cima, me deixa dançando sozinha enquanto come aquela menina no meio de todo mundo”. Mal a brasileira sabia que ele havia feito tal cagada por sua causa, uma vez que queria chamar sua atenção. A frase corroia a cabeça do futebolista, juntamente com a imagem torturante da mulher, curtindo o embalo do reggaeton, num vestido que realçava todas suas curvas. A aflição não poderia ser maior, Rafael Alcântara estava literalmente à beira de um colapso.

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A guerra fria se estendeu por mais três semanas, até que o meio-campista engoliu o orgulho e mandou uma mensagem de texto para a psicóloga.

Bom dia, . Te espero na festa hoje à noite. Beijos.

Rafael esperou durante o dia todo por uma resposta, e quase bateu a cabeça na parede quando viu as barrinhas de visualização adquirirem uma coloração azul. Às dez horas da noite, o brasileiro estava em seu quarto, arrumando-se para sua festa de vinte e cinco anos. O jogador soltava o ar fortemente pela boca, numa tentativa falha de se acalmar. A possibilidade de não comparecer assombrava os pensamentos do aniversariante.
- E aí, princesa? - Rafinha deu um pulo ao ouvir a voz de seu irmão. - Vai ficar enrolando aqui por muito tempo? - Thiago riu da expressão furiosa do outro. - Ela vai vir, Rafa, você sabe. - E afagou as costas do outro, que não escondeu a tristeza no olhar.
- Pô, Thi, pior que eu acho que não. - Sentou-se na beirada da cama. - Eu vacilei forte dessa vez. A não olha na minha cara há mais de uma semana e nem respondeu minha mensagem, acredita? - Escondeu o rosto nas mãos. - Porra! Custava mandar pelo menos um “ok”?
- Você sabe como a é, Rafaelo. Basta uma bola fora pra ela ficar assim. - Tomou o lugar ao lado do mais novo, que lhe encarou. - Além disso, é cabeça dura que nem você. Dois orgulhosos estúpidos que não admitem que querem se pegar. - Rafael se espantou assim que ouviu a frase.
- Como assim, Thiago, tá louco? - Exclamou num tom audível até para os convidados, que já estavam no andar de baixo. - Desde quando a quer ficar comigo, cabeção?
- Cacete, Rafa. Não sabia que além de orgulhoso, você era idiota. - Rolou os olhos pela lerdeza do irmão. - É só prestar atenção na cara dela quando tá do teu lado. - O espanhol afirmou com obviedade. - Ah, esquece. Você não percebe nada quando tá perto dela.
- Thiago, tu tá falando merda, irmão.
- Faz o seguinte então, se ela aparecer por aqui, conversa com ela e tira tuas conclusões. Aproveita e assume teu tesão, loverboy. - O Alcântara mais velho esquivou-se rapidamente, fugindo de um travesseiro voador, e saiu do quarto.
Rafael se levantou e olhou no espelho uma última vez. Tratou de ajeitar as mangas da camisa social preta e o colarinho. “É agora ou nunca, garoto”, falou para si mesmo, dando dois tapas no rosto numa tentativa de ganhar coragem. Coragem que talvez ele usasse ou não, afinal, tudo dependeria da - que, no momento, segurava os dedos para não confirmar sua ida. A noite seria longa para o hispano-brasileiro. E, possivelmente, muito melhor do que ele esperava.

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As notas dos reggaetons começaram a incomodar Rafael já nas primeiras horas da festa. E agora, quase no final, as letras das músicas eram quase que um tapa na cara do meio-campista, já que majoritariamente falavam de amor, sensualidade e pegação. Vete a la mierda, Maluma. Definitivamente era um de seus piores aniversários, e ele não via a hora de tomar um banho quente e dormir até a próxima década - ou ao menos, tentar.
- Sério isso, Rafa? - Thiago repreendeu-o enquanto se aproximava. - Vai passar a merda da noite todinha aqui nesse sofá, esperando uma mensagem?
- Me deixa, Thiago, não tô no clima… - Colocou uma das almofadas em seu rosto. - Nem um mísero parab…
- Rafiiinha… - Pôde ouvir um sotaque espanhol, um tanto embriagado, pronunciar seu apelido numa tentativa falha de sedução. O irmão mais velho retirou a almofada do rosto do outro, liberando sua visão para um corpo curvilíneo.
- Vai que é tua, nego! - Um sorriso de canto brotou no canto da boca do jogador da equipe bávara, que estava louco para sacanear o aniversariante. - Isso vai ser, no mínimo, interessante. La puta madre! - Sussurrou para o irmão e começou a gargalhar em seguida.
- Hm, hola, Marisol. - Forçou-se a ser simpático. A colombiana se aproximou do moreno e sentou-se praticamente em seu colo, posicionando suas coxas sobre as pernas do outro. A atitude claramente o incomodou, já que não procurava o mesmo que a garota naquela noite. Bom, pelo menos não com ela.
- Te echo de menos, Rafa… - A conhecida esboçou um beicinho. - Viene conmigo hasta tu habitación.
- Ah, que bom, cheguei num ótimo momento. - E mesmo que a garota tivesse falado num tom baixo, os irmãos viraram as cabeças instantaneamente ao escutar o idioma familiar. está aqui, foi o que ambos pensaram. Rafael congelou pela surpresa, e Thiago inclinou a cabeça bruscamente, indicando a posição que o irmão se encontrava.
- Puta que o pariu. - O brasileiro levantou sem se importar com a rapidez com que afastou as pernas da possível causadora de um grande problema, que, no final das contas, nem se importou.
- Oi, , tchau, . Vou lá com a Julia. - Thiago cumprimentou a amiga de longa data, querendo sair dali rapidamente. - É, brother, espero que hoje seja seu dia de sorte. - Falou no ouvido de Rafinha. Porém, ao virar o rosto e encarar a expressão nada agradável da , o Alcântara mais velho aproximou-se novamente do irmão. - Na real, nem te ilude, Rafa. Você tá muito fodido.

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- Vattene, amico. - Rafinha, impacientemente, empurrou um de seus convidados porta afora. Após rodar a chave na tranca, ele parou e refletiu que, na realidade, não conhecia essa pessoa. Balançou a cabeça e decidiu não se importar com isso agora, tinha algo muito mais importante em seu sofá. - Pronto, ele foi o último. - Sentou-se na extremidade oposta do móvel.
Logo depois que a amiga chegou, o jogador tratou de falar com cada pessoa que estava em sua casa, pedindo para que deixassem o lugar. A única exceção foi Thiago, que dormiria ali com sua mulher e filho. Apesar de querer privacidade para resolver seus pepinos, o brasileiro não expulsaria sua família em circunstância alguma. A garota, ao ver o que o outro pretendia, tentou protestar, mas não obteve sucesso.
- Rafael, não precisava mandar todos embora da tua festa. - falou com obviedade. - Eu te disse que só vim te desejar um feliz aniversário. Só não queria deixar passar em branco. - Revelou a última parte num sussurro tímido.
- Como você mesma falou, , a festa é minha, a casa é minha, mando embora quem quiser. - O moreno retrucou. - E no momento, eu só quero você aqui.
- Mas... - Ela começou a se pronunciar, porém o meio-campista foi mais rápido.
- Não. Meu aniversário, me deixa falar. - A brasileira soluçou em espanto, ao ver que o moreno adquirira uma postura séria. Rafinha não costumava fazer isso, ela pensou, e pelo visto a conversa seria longa. claramente estava desconfortável e esconderia o rosto num buraco, caso fosse possível. - , olha pra mim, por favor. - A forma carinhosa como o outro pronunciou o apelido a fez amolecer. Na verdade, amolecer mais ainda. Antes que ele pudesse continuar seu discurso, o barulho de passinhos no piso de madeira chamou a atenção de ambos. Gabriel, filho de Thiago, estava ali, olhando com curiosidade para eles. Até o neném de quase um ano conseguia sentir o clima pesado e, para atenuar a tensão, inclinou a cabeça para o lado e soltou uma gargalhada, correndo até .
- Ah, Gabe! Eu tava com tanta saudade de você. - A levantou-se rapidamente e agarrou a criança em seu colo, beijando as bochechas do pequeno inúmeras vezes. Rafael se encantou com a cena. Era óbvio que já tinha visto os dois interagirem em outros momentos, Gabriel adorava a garota de uma maneira inexplicável. Entretanto, na atual conjuntura, era como se todo o peso tivesse saído de suas costas ao ver o sorriso genuíno da outra. O coração do jogador aqueceu.
- Gabe! Ven aquí, bebe! - As risadas do bebê pararam logo que ele ouviu a voz da mãe, como se estivesse sendo pego no flagra. - Hola, ! - Julia depositou um beijo no rosto da brasileira, que retribuiu e entregou a criança em seu colo. - Perdón, Rafa… - Olhou desajeitadamente para o cunhado, pois sabia que aquele momento era importante para ele.
O moreno apenas concordou com a cabeça e lançou um sorriso, afinal, ele tinha a sensação de paz dentro de si. Aquele pequeno momento de descontração acalmou o jogador, que suspirou em alívio. Ele já sabia o que dizer para a outra. Falaria, finalmente, a verdade.
- Vamos pro meu quarto, , lá tá mais arrumado. - Tomou coragem e ofereceu a mão para , que hesitou em aceitar. Porém, assim que suas peles se tocaram, ela sabia que havia feito a escolha certa. Rafael sempre era uma escolha certa.

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O quarto de Rafael sempre fora o cômodo preferido de . As cores escuras da parede e da decoração contrastavam perfeitamente com a paisagem da floresta, vista da varanda. O gosto do jogador era realmente impressionante, já que ele mesmo fora o idealizador do espaço. Caso a perna esquerda falhasse em algum momento de sua vida, ele não passaria fome sendo um designer de interiores. Apesar de admirar a sobriedade do espaço, a coisa que a brasileira mais gostava no ambiente era o cheiro. Perfume amadeirado, desodorante masculino e loção pós-barba tomavam o ar do local. Sentada na ponta da cama, inalava fortemente a fragrância que tanto lhe agradava, enquanto Rafael pegava algo na cozinha.
- Aqui, . - Estendeu uma taça de vinho tinto para ela, que aceitou prontamente. Era óbvio que necessitaria de um pouco de álcool no sangue. - Então…
- Pode falar, Rafael. - Disse de prontidão, na intenção de acalmá-lo. O moreno a encarou surpreso, não esperava receptividade por parte dela.
- Ok. Sendo bem direto, por que você ficou daquele jeito, na festa do terror? - A maneira como o meio-campista se referiu ao dia da briga divertiu , porém, ela engoliu seco por conta da pergunta.
- Rafael… - Tomou um gole da bebida, a fim de molhar a garganta.
- É sério, . Não foge do assunto.
- Eu queria tua companhia, ué. - A brasileira foi curta, querendo se esquivar do assunto. - Você me convidou pra uma festa e eu fui. Só que fiquei sozinha, que nem uma otária.
- Não foi assim, . - Rafinha disse incomodado. - Eu fiquei contigo até você sumir quando eu fui pegar uma cerveja. Daí te encontrei dançando e fiquei quieto.
- Aham, quieto. Até que a primeira chance de fazer um gol apareceu, né? - Revirou os olhos relembrando a cena ridícula do homem de 1,74 engolindo uma italiana.
- , eu já peguei várias garotas na tua frente e você nunca reagiu assim. - Alfinetou, querendo chegar ao fundo da história.
- Tá, Rafael, mas dessa vez foi diferente. - Retrucou irritadiça. Ela realmente não queria chegar em tal ponto.
- Diferente como?
- Porra, Rafaelo, vai te lascar! - Uma terceira voz foi ouvida no quarto. Thiago. - Tá na cara que ela gosta de ti, cabrón. - Os dois congelaram. O Alcântara mais novo, pela primeira vez, percebeu a coloração rosada nas bochechas de , que estavam queimando pela vergonha. A mente de Rafael fez um click. O maldito de seu irmão estava certo o tempo todo, a menina realmente sentia algo por ele. O jogador balançou a cabeça, dispersando seus pensamentos, e focou a atenção no indivíduo que se intrometeu na conversa.
- Licença, . - Rafinha levantou da cama e abriu a porta num solavanco. A garota continuou na mesma posição, sem condições para, pelo menos, acenar em concordância. Rafael, ao encarar o irmão, que estava com a mesma expressão culpada do filho, deu um leve tapa no seu rosto. - Vai te foder por ouvir minha conversa. - E, logo após, puxou o outro para um abraço. - E obrigado, acho que você tava certo. - Sussurrou no ouvido do fratello.
- Eu te disse, Rafa! - Exclamou em alto tom, empolgado pelo irmão, que finalmente caiu na real. - Agora vai lá, loverboy, aproveita! - Baixou a tonalidade da voz e se afastou do quarto do mais novo, dirigindo-se até o seu próprio. A felicidade dentro do peito do espanhol não poderia ser maior, seu irmão finalmente tomaria coragem e assumiria seus sentimentos. E, além disso, Thiago ganharia a melhor cunhada que poderia sequer imaginar. As saídas com Julia certamente aumentariam quando os dois estivessem na Itália, já que duas babás - com certeza - era muito melhor que uma.

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A caminhada da porta até a cama pareceu a mais longa da vida do Rafael. Mesmo correndo distâncias inimagináveis em noventa minutos, aquela foi a mais exaustiva. Mentalmente, é claro. No momento que ele trancou a porta, para evitar possíveis interrupções, sua mente começou a trabalhar num ritmo acelerado. Um verdadeiro overthinking.
- O que o Thiago quis dizer com: “Eu te disse, Rafa.”? - Indagou curiosa, enquanto tombava a cabeça para o lado.
- Quer mesmo saber o que ele quis dizer, ? - Aproximou-se da brasileira, que apenas concordou num aceno. - Que eu sou muito tapado, um verdadeiro idiota. - A garota só ficou mais confusa. - Sabe, , eu tô igual um zumbi nas últimas semanas, desde a nossa briga.
- Mas por que isso? - A respiração dela acelerou com a proximidade deles, que diminuía a cada instante. - Você não deveria...
- Porque não consigo dormir direito de tanto pensar em ti, . - Admitiu no momento que colou suas testas. respirou fundo e se afastou um pouco, caso contrário, atacaria os lábios do moreno ali mesmo. – Ô, nena, tô doidinho pra te dar um cheiro, vem cá. - A garota amoleceu com a fala do outro e cedeu. Rafael abraçou a brasileira e inalou fortemente o perfume de seus cabelos.
- Rafa… - Ronronou, aproveitando o abraço que tanto fazia falta. A suspirou profundamente e acabou aproximando-o ainda mais.
- Sabe, ? Eu passei um tempão tentando expressar o que eu sentia em palavras, tentando achar um jeito de te conquistar. Mas, no final, eu acabei fazendo una puta mierda. - Separou-se por um segundo, relembrando a terrível sensação de estar brigado com a . - Mas agora eu percebi que tem um jeito mais fácil de fazer isso. - lançou-lhe um olhar repleto de indagação - e, também, de desejo. - Talvez baste só agir, entende?
entendeu perfeitamente. Há alguns dias, no meio de uma maratona de filmes do final da década de noventa, a garota caíra em si e admitira em alto tom que estava apaixonada pelo melhor amigo.

Flashback On

- Eu odeio o jeito que você fala comigo e eu odeio o jeito que você corta seu cabelo. Eu odeio o jeito que você dirige meu carro. Eu odeio quando você encara. Eu odeio suas grandes e idiotas botas de combate e o jeito que você lê minha mente. Eu te odeio tanto, que me faz ficar doente, e até me faz rimar. Eu odeio que você está sempre certo. Eu odeio quando você mente. Eu odeio quando você me faz rir, até mais quando você me faz chorar. Eu odeio quando você não está por perto, e o fato que você não me ligou. Mas ainda por cima, eu odeio que eu não te odeio, nem perto…
- Nem mesmo um pouco, de jeito nenhum. - finalizou o poema do seu filme preferido, frustrada. Seus olhos marejaram ao lembrar da figura de um e setenta e quatro, com quem não falava há mais de semanas. - Porra, Rafael, não custa nada você me ligar. - Reclamou, lançando um olhar mortal para seu celular e mordendo a parte interna das bochechas para conter a irritação.
, apesar de anos de estudos sobre a psique humana, ainda não conseguira desvendar sua própria mente. Uma parte dizia para ela discar o número - tão conhecido - do moreno, enquanto outra a xingava por ao menos ter esse pensamento.
-Não adianta me olhar assim, Nero. - Semicerrou os olhos para seu cachorro, que se destinava uma expressão tediosa para a dona. - Eu não vou ligar pra ele, cacete! O pouquinho de sanidade que existe dentro de mim não permite isso. - O cachorro, que assumira a posição de psicólogo, apenas levantou de seu lugar e deitou no colo da outra, pedindo por carinho. Caso ele pudesse falar, provavelmente reclamaria das lágrimas pesadas que caíram sobre seu pelo.
Ela se corroia por não ter recebido uma ligação. Ela se corroia por sentir tanto falta da presença do jogador. Ela se corroia por ter derramado lágrimas por ele. Ela se corroia por não aguentar mais ficar nessa situação. Ela se corroia por desejar tanto aquela boca e por querer passar as unhas por aquele abdômen - e que abdômen. Ela se corroia por ter, finalmente, aceitado a verdade.
- Cazzo, eu tô fodidamente apaixonada.

Flashback Off


“It’s show time!”, a frase explodiu na cabeça da brasileira, que balançou a cabeça, dispersando as lembranças vívidas daquela noite.
- Não. Talvez eu precise de mais explicações, Rafael. - Provocou com a sobrancelha arqueada. Ela decidira entrar no jogo do moreno e, de quebra, atender aos pedidos de seu próprio corpo e coração.
- Então vai ser assim, nena? - Abriu um sorriso sacana e apertou os olhos para vê-la melhor. - Talvez eu só precise te agarrar. - Puxou o corpo da outra com força, agarrando precisamente as coxas cheias da psicóloga. - Te dar um cheiro no pescoço e te fazer arrepiar. - Passou o nariz pelo pescoço da mulher, que se contorceu. A suspirou profundamente, na tentativa de controlar seus instintos, mas acabou com as mãos na nuca do rapaz, aproximando-o ainda mais. - Pelo visto, eu consegui. - Soltou uma leve risada contra o pescoço da outra, que fez com que ela se encolhesse ainda mais. O moreno ergueu a cabeça, encarou a boca pintada de vermelho e se aproximou para beijá-la.
- Rafa, a Julia e o Thiago tão aqui do… - A consciência da psicóloga pesou, assim que ela voltou para a realidade e lembrou das outras pessoas que estavam na casa. A verdadeira incógnita era como ela tinha criado forças para formular o pensamento no meio de uma situação tão tentadora.
- , relaxa... - Segurou o punho de , não permitindo o afastamento. A forma com que o meio-campista conseguia desmontar a mulher somente pronunciando seu apelido era um tanto humilhante para ela. - A porta tá trancada e tem isolamento acústico. - Olhou no fundo dos olhos castanhos da outra e soltou uma risada. A mente de era algo impressionante, ele pensou, já que ela havia pensando em tal coisa no meio de algo mais importante. - Já que tá gostoso deixa, mami. - Abaixou-se e sussurrou no pé do ouvido da .
- Porra, Rafa, você merece um cartão vermelho por citar essa música - E, dito isso, apossou-se da boca que tanto desejava. percebeu o sorriso do moreno no meio do beijo e tratou de morder seu lábio inferior. - Eu acho isso uma sacanagem, Rafael.
- Shiu, … - O jogador posicionou o polegar sobre os lábios da , impedindo sua fala, e contornou sua silhueta com a outra mão. - Aproveita o momento. - Inebriada da cabeça aos pés, a brasileira nem pensou. Instantaneamente, abocanhou o dedo do outro, chupando-o e lambendo-o com satisfação. Semicerrando os olhos em deleite, Rafael perdeu a cabeça. Era o momento de ganhar o maior campeonato de sua vida. A rapidez com que empurrou a na cama foi absurda. Encaixando-se entre suas pernas, fez a garota arfar ao sentir o membro rígido encostar em sua intimidade.
- Figlio de putana! - Exclamou em alto tom. Os beijos e lambidas que o homem lançava contra a sua pele, deixavam-lhe a ponto de perder a cabeça. - Alto lá, bonitão. - Advertiu-o, fazendo se separar dolorosamente do encaixe de corpos. Assim que o jogador baixou a guarda e afrouxou o aperto, inverteu as posições e sentou-se no colo de Rafael. - Eu fico por cima, nego. - Deu uma piscadela, enquanto mordia os lábios em provocação.
Rafael Alcântara teve que piscar os olhos cinco vezes seguidas. Era um cabrón sortudo no final das contas.
- Puta merda, você ainda vai me matar, mami.

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Os sexólogos mais experientes do mundo sempre frisam a importância do olhar no ato sexual, e tratava de não pecar em tal aspecto. Assim que subiu no colo do jogador e tirou a camisa social, admirou o abdômen definido do outro por uns bons segundos, querendo guardar cada gominho em sua mente. O homem, que era um bom apreciador das preliminares, não via a hora de extravasar todo o prazer que sentia no momento. Como se lesse os seus pensamentos, a brasileira decidiu provocá-lo ainda mais. Logo que se levantou do lugar duro, porém tentador, ouviu um muxoxo da parte do moreno.
- Porra, , faz isso não. - Tentou puxar o braço da menina, que achou graça e soltou uma gargalhada.
- Calma, nego, você não disse que ainda eu vou te matar? - Sorriu sapeca e piscou um dos olhos, afastando-se da cama. Os músculos de Rafael se tencionaram ao ver a garota ir até sua cômoda.
- … - Falou cauteloso. Os batimentos cardíacos do meio-campista ficaram tão rápidos quanto num jogo, afinal, a primeira gaveta daquele móvel guardava um arsenal de produtos proibidos.
- Ué, corazón, você realmente acha que eu não sei o que você esconde aqui? - A psicóloga olhou sob seu ombro e arqueou a sobrancelha numa provocação. Rafael não pôde conter seus instintos e levantou-se da cama, abraçando a outra pelas costas.
- Como você sabe o que tem aí dentro, nena? - Depositou um beijo no ombro descoberto de , tentando observar o que a mulher tanto remexia.
- A curiosidade foi maior num dia que eu tava aqui, Rafa. - Admitiu, mesmo que estivesse envergonhada por ter invadido a privacidade do outro. - Aliás, achei coisas bem interessantes.
- Ainda bem que a curiosidade não matou a gata, né, palhaça? - Fez graça, e a menina lançou um tapa contra seu peitoral.
- Só pela piada sem graça eu não vou usar isso aqui contigo. - Provocou e se afastou do jogador, enquanto escondia um vidro de gel comestível atrás de seu corpo. A brasileira deitou na cama, cruzando suas pernas para que o vestido não mostrasse mais do que deveria.
- Ah não, … faz isso não. - Disse manhoso. Rafael subiu na cama e passou as mãos pelas coxas da mulher, que se arrepiou com o contato. - Vai, me diz o que você pegou aí.
- Negativo, baby. - negou o pedido do homem e colocou o que tinha escolhido debaixo de si. Rafael foi mais esperto e, aproveitando que a garota estava entregue ao carinho que recebia, puxou o braço da num movimento rápido. A psicóloga tomou um susto e contraiu o rosto numa expressão raivosa. - Merda, você é absurdamente chato.
- Puta que pariu. - Os olhos do moreno se encheram de luxúria ao encarar a embalagem escolhida pela , que sugava os lábios no momento. O jogador, sem ao menos pensar, mordeu a boca da mulher e apertou sua bunda com força, o que rendeu gemidos de ambos os lados. - Agora, ... - Falou arfante, encostando suas testas. - Entre beijos e carinhos… - Plantou beijos em diversas partes do rosto da menina, que sorriu quando sentiu os lábios na ponta de seu nariz. - Nós dois vamos nos amar, corazón.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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