Finalizada em: 11/02/2018

Capítulo Único

A moça estava sentada no sofá da sala quando o rapaz passou pela porta da sala, visivelmente cansado depois das horas de plantão no pequeno hospital da cidade em que moravam. O rapaz sorriu ao ver a namorada/mulher, ele sentira a falta dela, tanto que até esqueceu da briga que o fez ter pegado aquele plantão. Depois de repensar todas as palavras ditas e pensadas, chegou a conclusão de que os dois estavam errados, que não havia motivos para desencadear uma briga sem nexo que só traria sofrimento para ambos.
Ele só não entendia em que momento da vida de casal os dois começaram a brigar tanto, não entendia o que levou a primeira briga que desencadeou uma série delas que acontecem duas ou três vezes por semana, que fazem o rapaz largar a moça sozinha na casa em que dividiam.
e se conheceram no começo de 2015, foi por acaso, a menina com dezoito anos na época passeava com alguns amigos quando bateu o olho no rapaz que mexia no celular dentro do carro em uma rua pouco movimentada. Com ajuda de um amigo, conseguiu conhecer o rapaz, trocaram números de celular e ficou de mandar mensagem para a garota para marcarem alguma coisa.
E ele mandou a tão esperada mensagem.
Os dois saíram junto com alguns amigos de , uma brincadeira com uma garrafa vazia e uma garrafa cheia de uísque os levou para dentro de um quarto onde os dois teriam quinze minutos para fazerem o que bem entendiam. Depois de alguns beijos e amassos mais quentes, revelou um desejo que também pertencia a garota.
"Quero te ver novamente."
E foi isso o que aconteceu, os dois começaram a se ver mais algumas vezes, dessa vez sem a companhia dos amigos. Foram se envolvendo até não conseguirem mais esconder o sentimento que criaram um pelo outro.
Até que teve que voltar para a faculdade.
Foram longos meses até ele finalmente ficar de férias de novo, e por incrível que pareça, o rapaz veio decidido a começar um relacionamento com , e por sorte ela ainda estava solteira quando ele retornou.
Os dois começaram a namorar, estavam mais apaixonados do que nunca, mas ainda teriam que enfrentar mais os dezoito meses que restavam para que se formasse na universidade.
E foram os piores e melhores meses da vida de ambos.
por diversas vezes pensou em abandonar toda aquela história, tentou terminar a relação, mas sempre a convencia a continuar, pedindo para que ela esperasse por ele, dizendo que quando concluísse a faculdade tudo seria diferente.
E foi.
Ele retornou para a cidade natal, conseguiu um emprego como enfermeiro no hospital da cidade e quatro meses depois os dois estavam morando juntos com direito a aliança de compromisso.
Iniciaram uma nova fase, aquela que deveria ser a mais feliz de suas vidas.
E foi completamente feliz pelo primeiro ano.
Até que as brigas começaram, primeiro era por causa de uma mensagem de uma ex-namorada do rapaz e depois qualquer motivo era questão de brigas, até o sapato esquecido no corredor.
Foi por conta das brigas que começou a pegar plantões mais longos no hospital, saía de manhã e só chegava de madrugada quando a moça já estava dormindo.
Daquela vez tinha sido diferente.
Tinham brigado na manhã anterior. O motivo? estava se sentindo mal e não queria ir no almoço de aniversário de um amigo de , o rapaz surtou e ambos brigaram, uma das piores brigas que fez cometer uma loucura, esta que ele tinha medo de vir a tona e destruísse uma relação de três anos.
Apesar de ter feito uma burrada, era evidente que era perdidamente apaixonado por , talvez ele a amasse muito mais do que era amado pela garota.

— Chegou agora? — o rapaz aproximou-se do sofá onde a moça estava sentada mexendo em sua bolsa.
— Faz pouco tempo — respondeu sem fazer muito caso, o rapaz respirou fundo. — Pensei que você ia chegar mais cedo.
— O enfermeiro que ia ficar no meu lugar se atrasou — coçou a nuca incomodado, mas logo mudou de assunto. — Já almoçou?
— Não — deu de ombros levantando do sofá ainda sem olhá-lo.
— Podemos ir almoçar em algum lugar — sugeriu o rapaz tentando manter o diálogo. — Eu só vou tomar um banho.
— Tudo bem, é o tempo que eu organizo algumas coisas aqui.

ficou observando a moça por mais alguns segundos, mas assim que percebeu que a última coisa que ela queria era trocar olhares com ele, resolveu ir tomar banho para levá-la para almoçar.
Era sempre assim, os dois brigavam, ficava chateada e só falava com ele quando tomava a iniciativa, eram poucas palavras trocadas até assumir a culpa e pedir desculpas. Dessa vez não seria diferente, ele tinha consciência disso.
Vinte minutos depois os dois estavam no carro de a caminho de algum lugar em que eles pudessem almoçar.

, olha, me desculpa — começou a dizer quando o silêncio dentro do carro ficou ensurdecedor. — Eu sei que fui um idiota, fiquei bravo por uma grande besteira. Eu sou profissional de saúde e ao invés de ver se você estava bem, eu quis brigar. E olha, me perdoa. Eu sei que o último mês está sendo difícil para nós dois, mas eu sei que podemos superar, é apenas uma fase. E eu sei disso, por que eu amo você e, por favor, aconteça o que acontecer não se esqueça disso.

ficou o discurso todo olhando para frente sem ao menos respirar, ao término do discurso ela soltou a respiração e olhou de maneira desconfiada para , que sentiu um frio cortar sua espinha.
Após longos segundos, ela finalmente se permitiu falar alguma coisa.

— Tudo bem, , eu também não estou colaborando para que convivamos bem, mas eu prometo tentar, prometo que vamos voltar a ser que fomos um dia — respirou fundo antes de prosseguir. — E, eu também amo você.

sorriu em alívio e entrelaçou a mão direita com a esquerda da garota, apertando fortemente a mão dela.
Em poucos minutos os dois estavam entrando num restaurante na cidade vizinha, o local estava mais calmo devido ao horário. ficou responsável por ir buscar uma mesa enquanto ia ao banheiro.
Após se sentar, uma garçonete apareceu para anotar o pedido do rapaz.

? — a moça se assustou quando identificou que a olhou assustado. — Você disse que ia me ligar.
— Ah, me desculpe, é que eu peguei um plantão no hospital logo depois de... Você sabe. E não tive tempo — respondeu rapidamente olhando em direção à entrada do banheiro, com medo de que aparecesse. — Você trabalha aqui?
— É, tenho que ganhar a vida de alguma maneira, não é? — Ela sorriu divertida, enquanto sorriu, mas de nervoso. — Está sozinho?
— Esperando um amigo — a resposta saiu automaticamente, tudo o que não queria era que a moça descobrisse que ele tinha mulher e armasse um barraco para que descobrisse a infidelidade. — Vou esperar ele chegar para então pedir.
— Quando estiver pronto, me procure — piscou para o rapaz que deu um meio sorriso antes da moça se afastar.

Por sorte saiu do banheiro nesse momento, e não o flagrou em uma conversa com a garçonete.
Ela aproximou-se da mesa, mas foi impedida de sentar por que se levantou imediatamente olhando para trás, com medo de que a tal garçonete o visse com .

— Vamos embora — foi direto, deixando confusa com a atitude.
— Por que, ? — a garota franziu a testa cada vez mais perdida. — A gente ainda nem almoçou.
— Almoçamos em outro lugar, agora vamos — olhou novamente para trás. percebeu e seguiu o olhar não encontrando nada e nem ninguém. — Aquela garçonete foi muito estúpida.
— Mas, ...
— Por favor — gemeu na ultima tentativa de convencer a namorada, que suspirou antes de assentir. — Obrigado.

Os dois saíram do estabelecimento antes da garçonete reaparecer, e isso foi uma vitória para que estava desesperado.
Sim, ele tinha sido infiel. Foi por um momento de raiva, no auge das emoções e o rapaz não estava pensando direito. amava mais que a própria vida, e por isso ele se arrependia tanto de tal ato.
Os dois almoçaram em um outro restaurante, passearam pela cidade antes de voltarem para casa.

— Vamos sair hoje? — convidou a moça assim que entraram na casa, ele colocou as chaves do carro na mesa de centro. — Vi no grupo que a galera estava marcando de ir naquela festa na beira rio.
— Você passou a noite trabalhando, , tem certeza que quer sair? — a menina parou no meio da sala para olhar o rapaz. — Foram vinte horas de plantão, você deveria estar cansado.
— Eu aguento, amor — se jogou no sofá pegando o controle da TV. — E além do mais, eu posso descansar esses dias, eu só pego de novo na segunda a noite.
— Vou ler essas conversas e ver quem vai para esse rolê — deu de ombros sentando ao lado do rapaz que passou um braço por sua cintura e a puxou mais para perto. — Você deveria dormir um pouco, e eu preciso organizar uns documentos.
— Não, , você não trouxe trabalho para casa — o rapaz resmungou beliscando levemente o braço da garota. — Você passou a semana toda trabalhando, e ainda tem trabalho a fazer?
— Eu saí mais cedo hoje, por isso tenho que trabalhar — explicou devolvendo o belisco. — Me senti mal de novo, por isso fui liberada mais cedo. Mas são poucos documentos, coisa de uma hora no máximo.
— Você se sentiu mal? Segunda eu vou te levar para fazer uns exames — entrou em estado de alerta olhando seriamente para . — Levanta a blusa, , quero tirar uma dúvida.
— Hum, para quê então? — a menina resmungou levantando a blusa, deixando a barriga amostra. — O problema de morar com um profissional de saúde é esse.
— Abre um pouco o botão do short, quê é — beliscou novamente que deu um soco no braço do rapaz. — Vai logo!

A moça abriu o botão do short e abaixou um pouco deixando a mostra a barra da calcinha.
ajeitou a menina deitada em com a cabeça em sua perna e se esticou um pouco até a ponta dos dedos tocarem o ventre de , pressionou levemente os dedos contra a região e arregalou os olhos ao sentir que tinha algo diferente, repetiu o processo mais algumas vezes até chegar em uma conclusão.

— Seu ventre está duro — comentou o rapaz após terminar a consulta. — O que você acha de fazermos um teste de gravidez?

levantou-se abruptamente do colo do rapaz e o olhou assustada, ela não disse uma palavra esperando que o namorado continuasse.

— Sabíamos que isso poderia acontecer, afinal, você não toma anticoncepcional e não usamos camisinha, mas é melhor fazer um teste para confirmar — tentava reprimir o sorriso de felicidade pela possibilidade de ser pai, simplesmente porque a cara de pânico não saia do rosto da garota, ele tinha plena consciência de que restava pouco para que ela surtasse. — Vai ficar tudo bem.

Talvez não fosse aquelas palavras que deveria ter usado.

— VAI FICAR TUDO BEM? VOCÊ TEM CERTEZA DISSO? MEU DEUS, ! NÃO É VOCÊ QUE VAI CARREGAR UM SER HUMANO NO VENTRE! — a moça surtou levantando do sofá em um pulo, e começou a berrar enquanto andava de um lado para outro na sala. — Eu não sei trocar fraldas, não sei dar banho em uma criança, não sei nem segurá-las direito no colo. Agora me diz, , O QUÊ EU VOU FAZER COM UM BEBÊ?

arregalou os olhos novamente quando viu os olhos de completamente vermelhos e quase transbordando de lágrimas, que caíram mesmo antes dele sequer pensar em algo para dizer.
levantou-se rapidamente e correu até a garota abraçando-a e deixando com que ela chorasse em seu ombro.

— Você vai ser uma ótima mãe, não precisa ter medo — acariciou os cabelos de desmanchando os cachos da garota que apenas chorava ainda mais. — Ninguém nasce sabendo tudo, e eu também não sei fazer nenhuma dessas coisas, mas nós vamos apreender juntos. E bom, se Deus resolveu nos presentear com essa felicidade, simplesmente é porque Ele acha que estamos prontos, e se não estivermos, vamos dar um jeito.

A moça sorriu com o rosto escondido no pescoço do rapaz e apertou ainda mais os dedos contra as costas dele que devolveu o gesto.

— Obrigado por me fazer tão feliz, .

Os dois continuaram ali abraçados, sentindo toda aquela felicidade os inundar a cada segundo.
sentou na beira da cama esperando terminar de se arrumar, os dois tinham decidido ir com os amigos a tal festa que serviria como comemoração da notícia.
saiu do banheiro vestida com um top cropped nude com uma única manga que caía de seu ombro, um short jeans azul cintura alta e uma sandália rasteirinha preta. Os cachos estavam definidos e a maquiagem feita.
olhou para a namorada por alguns segundos antes de levantar batendo uma mão na outra.

— Então, vamos? — perguntou meio babaca, riu pegando o celular que estava sobre a cama. — Estão esperando por nós.

pegou pela mão e saiu puxando-o para fora do quarto, mas foi impedida de andar no meio do caminho pelo rapaz que a puxou de volta e colou os lábios contra os dela, no começo era apenas um selinho que logo se tornou um beijo carinhoso.
Ela sentiu toda a sua pele arrepiar com o toque de , era incrível que mesmo depois de tanto tempo ela ainda sentia como se fosse o primeiro beijo de ambos, mas sem dúvidas cada novo beijo era ainda melhor que o último.
deu longos selinhos antes de partir o beijo, mas deixou sua testa colada na de , que ainda estava de olhos fechados.

— Eu amo você — ela disse quase que num sussurro abrindo os olhos para encontrar os de a encarando profundamente. — Amo cada detalhe, seu sorriso, seus olhos, seu nariz... Amo a maneira como você olha para mim, como me toca, é como se só existisse eu para você, e gosto de pensar que é dessa maneira, porque na minha vida só existe você, .

O rapaz sorriu fechando os olhos, até que ele repassou todas as palavras da garota em sua mente: É como se só existisse eu para você. Porque na minha vida só existe você.

— Eu também amo você, e eu nunca pensei que pudesse amar alguém com metade da intensidade com que amo te amo, e você, , é sem dúvidas a única pessoa por quem eu moveria o mundo — os olhos de ambos mantinham-se vidrados, retirou um cacho do rosto de e pôs atrás da orelha da garota. — E apesar de todas as diferenças, das brigas e mal entendidos, eu sinto como se isso apenas servisse para que no fundo eu perceba que não posso e não conseguiria viver sem você.

sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto, e o mesmo aconteceu com que logo selou novamente os lábios nos da namorada.

O casal entrou de mãos dadas no local da festa, de longe avistaram os amigos que já bebiam enquanto tentavam conversar em meio ao barulho. Assim que se aproximaram, logo foi puxada pela melhor amiga que estava acompanhada do namorado, este que era melhor amigo de .

— Pensei que você não viesse — disse próximo ao ouvido da amiga enquanto estendia um copo com bebida para ela. — Beba!
— Ela não vai beber, pegou o copo da mão da amiga e deixou em cima da mesa.
— Mas olha, desde quando o não te deixa beber? — a amiga número dois quem se intrometeu na conversa largando do namorado. — Tô besta!
— Existe uma razão — começou a explicar olhando para as amigas. — Eu tô grávida.

A cara de espanto das duas foi impagável, e apenas riu acariciando a barriga que ainda não demonstravam sinais de que existia um ser humano lá dentro. Em seguida as duas garotas começaram a berrar feito duas loucas, chamando atenção dos quatro rapazes que as acompanhavam e de algumas pessoas que estavam ao redor.
— Vocês estão me fazendo passar vergonha — a menina afastou-se um pouco da mesa e olhou para o outro lado, mas logo foi puxada de volta pelas duas amigas que lhe abraçaram ao mesmo tempo.

Apenas entendia o motivo do surto das garotas, mas o rapaz logo explicou para os amigos.
Os minutos seguintes foram de vários abraços e felicitações ao casal.
O último a abraçar foi , a moça sabia do sentimento que o rapaz possuía por ela, mas que não demonstrava por respeito ao amigo.

— Parabéns, disse enquanto abraçava a moça. — E boa sorte também, você vai precisar.
— Obrigada, — ela sentiu ele apertá-la ainda mais contra seu corpo antes de finalmente soltá-la.

O resto da noite seguiu tranquila, até decidir que estava na hora de ir embora. quem foi buscar o carro no local em que estava estacionado, afinal, havia bebido e ela não queria colocar a vida dos três em risco.
Enquanto esperava pela namorada, sentou em um dos bancos que ficavam na orla do rio da cidade, uma lata de cerveja em sua mão e os pensamentos no novo rumo que sua vida daria a partir do momento em que a gravidez de fosse um fato comprovado por um exame de sangue. Tão concentrado que nem ouviu quando ela se aproximou.

— o rapaz franziu a testa ao ouvir aquela voz conhecida. — Pensei que não iria te encontrar aqui.

O rapaz fechou os olhos por um breve segundo tentando acreditar que aquela voz era apenas uma alucinação criada por sua mente como reação do álcool em seu cérebro.
Ele virou a cabeça em direção à voz que acabara de ouvir, e lá estava à moça que tinha se tornado um pesadelo na vida do rapaz e sequer sabia disso.

— Oi, Adrielen — ele tentou sorrir, mas ele teve certeza que o que saiu foi uma careta quando os traços da garota vacilaram. — Tá bem?

Ela sorriu e sentou ao lado dele no banco, sentiu suas mãos ficarem frias, e rapidamente olhou para o local de onde viria com o carro a qualquer momento.

— Ah, estou bem — ela respondeu atraindo o olhar do rapaz. — Está esperando alguém?
— Sim, estou esperando... — ele voltou a desviar o olhar quando viu o carro dobrar a esquina. — Minha amiga que foi buscar o meu carro.

— Então você já está de saída? — Adrielen olhou na direção em que olhava. — A gente podia marcar de se ver amanhã.
— Sim, claro, eu te ligo — deu um salto do banco antes de seguir em direção ao carro que estava parado em frente a sede. — Eu te ligo, prometo.
O rapaz abriu a porta do passageiro e se jogou no banco após se livrar da lata vazia de cerveja.
— Quem era aquela? — indagou enquanto dava partida no carro. — Alguma amiga?
— Não, só uma moça bêbada que sentou ao meu lado e quis puxar assunto — se surpreendeu com a facilidade que a mentira saiu de sua boca. — Nunca nem vi.

assentiu parecendo acreditar na mentira. O caminho até a casa do casal foi curto, e os dois apenas conversaram banalidades.



— Amor, as meninas vem hoje a noite pra cá — avisou o namorado que estava deitado na cama enquanto mexia em algo no celular. — Hoje é a noite de você irem jogar no , não é?
— É sim — ele deu de ombros ainda concentrado. — Nós jogamos vídeo game, o que vocês fazem?
— Falamos mal de vocês — a moça também deu de ombros e virou-se de frente para o guarda-roupa sem ver o olhar indignado que lançou para ela. — Você vai que horas?
— Daqui a pouco — ele voltou a prestar atenção no celular. — Por quê?
— Comprei isso na hora que sai pra ir ao mercado — ela virou-se para o rapaz e mostrou uma caixa que continha um teste de gravidez. — Vou fazer agora.

largou o celular em cima da cama e levantou desta, foi em direção a namorada e pegou a caixa de sua mão.

— Só vamos confirmar de uma vez — ela deu de ombros mais uma vez e pegou a caixa indo em direção ao banheiro.

sentou na ponta da cama e esperou por , foram os três minutos mais longos de sua vida, mas logo ela abriu a porta e saiu sacudindo o palito que exibiam as duas listras vermelhas.

— É real e oficial, — ela parou em frente ao namorado e lhe mostrou o palito. — Você vai ser pai, meu amor.



, onde você está? atendeu a ligação de Camila, uma amiga que morava em uma vila na BR que ficava a oito quilômetros do município.
— Estou em casa — respondeu enquanto procurava um short para vestir. — As meninas vêm pra cá essa noite.
O carro do acabou de passar aqui na frente casa, pensei que você estivesse com ele — Camila comentou, fazendo parar no meio do quarto para ouvir o que a amiga tinha a dizer. — Ia te chamar pra vim aqui.
— Ah, mana, se eu tivesse com ele pode ter certeza que eu iria te ver — respondeu sem demonstrar o incomodo que a informação lhe trouxe. — Mas vamos marcar uma visita qualquer dia desses.

A conversa se estendeu por mais alguns minutos, que foi o exato momento em que e bateram na porta.

— Nós vamos sair — sequer deu tempo das duas falarem alguma coisa. — Vamos à casa do .
— Fazer o quê? — saiu da frente porta para que a amiga passasse pela mesma. — Aconteceu alguma coisa?
— Não sei ainda, mas... — sentiu um nó se formar em sua garganta. — Eu acho que pode estar.
, o que foi? — tocou o braço da amiga quando viu que ela estava prestes a chorar.
— Eu tenho que me certificar de alguma coisa antes de falar para vocês — ela disse enquanto trancava a porta. — Vou ligar para o , depois vocês fazem as perguntas.

As duas ficaram caladas enquanto viam a amiga discar o número do namorado.

Oi — ele disse baixo, como se quisesse esconder alguma coisa. — Aconteceu alguma coisa?
— Você está precisando do carro? Vou ai buscar — ela pediu para que as garotas a seguissem, e assim fizeram. — Queria ir à casa da Camila.
O carro... demorou para responder, e isso apenas fez a angústia no coração de aumentar. — Eu... Emprestei para o Mateus.
— Ah, tudo bem então — ela fechou os olhos e se calou quando sentiu o nó em sua garganta aumentar. — Amanhã eu vou lá então.
É melhor mesmo, assim eu vou com você — seu tom ainda continuava baixo, mas preferiu não comentar nada. — Depois eu te ligo, é minha vez de jogar.
— Tudo bem — ela desligou após ambos se despedirem. — Ou o Mateus está com o carro do , ou eu estou levando um belo de um chifre.
— Como assim? — franziu a testa sem entender onde a amiga queria chegar.
— Camila me ligou perguntando se eu estava na vila com o , porque viu o carro dele passar em frente a casa dela — a moça explicou para as amigas, que apenas assentiram. — Mas o acabou de me dizer que o Mateus tá no carro.
— Amiga, o Mateus passou pela gente de moto na hora que estávamos indo pra sua casa — jogou a bomba cautelosamente. — Não é querendo por coisas na sua cabeça, mas é quase impossível ele ter chegado na vila em cinco minutos.
— Então estou levando chifre — ela disse sentindo uma lágrima escorrer por sua face. — Vou tirar essa história a limpo.

O caminho até a casa de foi silencioso, torcia para que realmente estivesse na casa do amigo e que ele não tivesse mentindo para ela.

Ela nem precisou bater na porta para entrar, seguida pelas as amigas e naquele momento ela sentiu o chão se abrir sob seus pés quando viu apenas três rapazes sentados no sofá da sala de .
Ela tentou disfarçar o máximo possível para que os três não avisassem de que ela sabia que ele não estava na casa do amigo.

— O que foi, ? Aconteceu alguma coisa? — se assustou quando viu a moça parada na porta de sua casa com as amigas logo atrás.
— Nada — ela deu de ombros tentando parecer o mais natural possível. — Me empresta seu carro? saiu pra visitar a avó e levou o dele.
— Ah, claro, pensei que tivesse acontecido algo — foi até a mesa de centro e pegou as chaves do carro. — As namoradas de vocês estão ai fora.
? — franziu a testa olhando em direção a porta e viu a namorada que acenou. — O que foi?
— Nada, amor — respondeu com um meio sorriso. Ela queria contar ao namorado o que estava acontecendo, mas preferiu deixar isso para mais tarde. — Em casa eu te explico.

O rapaz assentiu antes de voltar a prestar atenção ao jogo. ao contrário do amigo foi ao encontro de , que também preferiu ficar calada em relação ao que realmente estava acontecendo.

— Vocês vão pra onde? — questionou vendo entregar a chave do carro a . — O que vocês estão aprontando?
— Vamos só dar uma volta — deu um selinho no namorado após responder a pergunta que lhe foi feita. — Passa em casa depois?
— Claro — acenou para a garota antes dela entrar no carro junto com as amigas. — Vocês não acharam a estranha?
— Notei um certo nervosismo nela — concordou com o amigo, ele tinha absoluta certeza de que tinha algum problema, apenas não queria dizer do que se tratava. — Não tem possibilidades dela saber da existência da Adrielen ou tem?
— Acho pouco provável, o não seria tão idiota a ponto de deixar a sequer desconfiar de alguma coisa — quem respondeu para o amigo. — Ele me disse também que não ligou pra ela, então acho que não tem risco nenhum.
— Espero que não mesmo — deu de ombros e voltou a se jogar no sofá.

tentava se controlar enquanto dirigia o carro, ela nunca foi fã de correr muito, mas naquele momento ela não conseguia pensar em nada, apenas na possibilidade de estar sendo traída.
pedia para que a amiga se controlasse, que mesmo mentindo poderia não estar com outra. Mas nada e nem ninguém poderia tirar aquilo da cabeça de .
Ela só diminuiu a velocidade quando avistou a entrada da vila. não sabia para onde ir primeiro, e isso apenas a deixou ainda mais nervosa. podia ter passado pela vila, mas poderia ter ido para a cidade vizinha, que fica a quatorze quilômetros dali.
Ela respirou fundo apertando os dedos contra o volante, que estava no banco de passageiro viu o estado da amiga e pediu para que a mesma encostasse o carro no acostamento.

— Eu não sei o que fazer, disse assim que desligou o carro.
— Primeiro você precisa ficar calma, nessa situação é pior — que estava no banco de trás pôs a mão sobre o ombro da amiga. — Onde você acha que devemos procurar primeiro, ?
— Acho que não precisamos procurar mais — respondeu olhando para frente, onde o carro de vinha há alguns metros numa velocidade mínima. — O que a gente faz agora?
— Eu vou matar esse... — foi questão de segundos até ligar o carro novamente e atravessar com ele na pista. — Como ele pôde?
, fica calma, ainda não temos certeza de nada — ficou nervosa com a manobra arriscada que amiga fez para dar o retorno no carro.

não deu ouvidos, apenas acelerou ainda mais o carro que por sorte tinha um motor melhor do que o do namorado.
Ela já estava um pouco à frente do carro do namorado quando parou o carro bruscamente fazendo frear logo atrás dela.
A moça desceu do carro e pôde ver a cara de espanto de ao ver quem dirigia o veículo da frente, e a cara confusa da moça que estava no banco de passageiro.
desceu do carro rapidamente e tentou se aproximar de , mas ela rapidamente se afastou.

— Não ouse me tocar — a moça rosnou para o rapaz quando ele tentou se aproximar. — Como você pôde fazer isso? Meu Deus, eu não... Eu não sei nem o que pensar... , o quê?

O raciocínio de estava lento, a única coisa que ela fazia sem precisar de esforço era deixar as lágrimas escorrerem livremente por seu rosto.

, por favor, eu posso expli...
— O que está acontecendo? — Adrielen saiu do carro completamente confusa com a cena que se desenrolava do lado de fora. — , o que houve?
— Cala a boca! — praticamente berrou fazendo a moça se encolher no lugar onde estava. — Fica na sua.
— Sabe o que está acontecendo? — virou-se para a garota loira parada ao lado do carro do ex-namorado. — Eu sou a mulher dele, sua vadia.

Adrielen ficou ainda mais confusa ao ouvir tal informação, afinal, ela não sabia que era casado.

— Como assim mulher? — indagou a garota olhando de para . — Você não me disse que era casado.
— Parece que as coisas estão ficando ainda melhores — riu sem humor algum voltando a olhar para . — Você não disse para ela que era casado? Quer dizer que quando você sai sozinho eu não existo? Eu não sou nada.
, eu não quero conversar com você sobre isso aqui — tentou aproximar-se novamente da garota, mas ela se afastou-se novamente.
— E quem disse que eu quero conversar com você? — Ela enxugou o vestígio de lágrimas que ela nem percebeu quando pararam de cair. — Eu quero que você morra!
, vamos sair daqui — que sequer sabia que tinha presenciado a cena apareceu. O rapaz pôs o braço envolta da cintura da garota. — Entra no carro, eu vou levar você para casa.
— Como você chegou aqui? — a moça perguntou olhando para .
— Vim de moto com os meninos, logo que vocês saíram de casa, a enviou uma mensagem para pedindo para a gente vir — explicou o rapaz lançando um olhar mortal para . — Entra no carro, .

A moça assentiu e deu a volta no carro para entrar no banco de passageiro.

— Amiga, eu sinto muito — apoiou-se na janela do carro assim que entrou no mesmo. — Não vou nem perguntar se você está bem.
— Eu tô bem — deu de ombros e sorriu para a amiga. — Se eu não estiver, vou ficar.

entrou no carro e deu partida no mesmo após se afastar. O caminho de volta foi silencioso, apenas era ouvido fungando baixinho enquanto chorava. sofreu por ela, porque tudo o que o rapaz queria era arrancar aquele sentimento de dentro da garota que ele gostava.
dormiu aquela noite na casa do rapaz, ela ainda viu ligar algumas vezes para seu celular, mas ela não atendeu. Tudo o que a moça não queria era olhar para a cara de .
Passaram-se dias, voltou para a casa dos pais, e a mãe quem foi recolher as coisas da moça na casa em que ela dividia com .
estava arrasado com o término, pediu licença do hospital por tempo indeterminado, e ia até a casa da família da moça, mas nunca o recebia ou não estava na casa.
Passaram-se três meses, durante esse tempo esteve ao lado de , era ele quem a levava para fazer o pré-natal e diversas outras coisas.
não falava mais com como antigamente, e os sábados de vídeo game na casa do primeiro acabaram naquela noite.
estava feliz, e não, não tinha se envolvido em um relacionamento com , os dois continuavam amigos, claro que durante esses meses a moça nutriu algum tipo de sentimento por , mas que ela preferiu guardar para si própria para não estragar a amizade com o rapaz.
Era sábado a noite, tinha convencido a ir com ele em uma apresentação sertaneja que teria num barzinho frequentado pelos jovens da cidade.
Os dois chegaram ao local, ainda não estava tão movimentado como ficaria em algumas horas, por isso eles resolveram ir mais cedo para que tivessem onde sentar, afinal, estava grávida de quatro meses e iria precisar sentar em algum momento da noite.
Logo avistaram os amigos em uma mesa logo ao fundo, estavam todos, inclusive . Apesar de morar em cidade pequena, aquela era a primeira vez que via o ex, e ela imaginou por diversas vezes como seria aquele reencontro, o que ela sentiria, mas ela suspirou aliviada quando percebeu que não sentia nada.
Nem raiva, nem rancor, nem amor... Absolutamente nada.
ainda não tinha a visto, mas aquilo durou poucos segundos, porque assim que olhou para o lado viu a ex caminhando ao lado de , de mãos dadas.
franziu a testa não acreditando no que via, a ex com seu amigo. Aquilo só podia ser brincadeira, não podia está acontecendo de verdade.
ainda era a mesma, o brilho em seus olhos ainda estava intacto, e o sorriso em seus lábios ainda era cativante. E ele sentiu quando a viu, linda, sorridente e com a barriga de quatro meses que carregava o seu filho — que ele soube pelos amigos que era um menino —, que ela o tinha superado e aquilo doeu como o inferno.
A moça cumprimentou a todos, inclusive o ex, para ela era como se eles nunca tivessem namorado, como se ela nunca tivesse o amado. No fundo, sabia que daquela relação, mesmo com a traição, era quem amava mais, e ela apenas tentava corresponder a aquele amor, mesmo que não fosse na mesma intensidade.
poderia ser a mulher da vida de , mas ele não era o homem da vida dela.
Após algumas horas, o local estava cheio. tinha saído para dançar com alguém, assim como os dois casais e por ironia apenas e permaneceram na mesa, ela a todo custo o tratava com a maior naturalidade possível, mas aquilo incomodava ainda mais .

— Chega, — o rapaz pediu quando não suportou mais a indiferença da moça. — Será que a gente pode conversar?

respirou fundo antes de assentir.
Os dois seguiram para o lado de fora do bar, sendo seguidos pelos olhares dos amigos.

— Eu queria me desculpar — começou a dizer assim que chegaram ao local em que o barulho do bar não os incomodava mais. — Eu errei, fui um idiota. Tudo isso me serviu de lição, e eu aprendi muito com meu erro, aprendi quando não tive mais você.
, eu sinceramente não acho mais necessário a gente ter essa conversa, nada vai mudar o que você fez — ela deu de ombros, fazendo estremecer com tamanha frieza. — Eu estou bem, não é como se eu não te amasse mais, é como se isso não tivesse mais sentido.
— Aquilo foi um momento de fraqueza, e se você me ama deveria me perdoar — continuou, não querendo digerir as palavras usadas pela moça. — Eu me deixei levar, agi pela emoção... Durante esses meses, muitas tiveram minha boca, mas nenhuma delas o meu coração — ele aproximou-se da moça e mostrou para ela a aliança de prata que ainda estava em seu dedo. — Não tirei a nossa aliança com esperança da gente voltar... Na boa, , me perdoa.
, eu vou ser bem clara — ela respirou fundo tentando não se abalar. — Eu te amo... Nossa! Eu te amo muito, mas eu não consigo, eu não posso voltar com você e eu não vou. E bom, é claro que eu te perdoo — ela passou a mão no rosto antes de prosseguir. — Mas isso não quer dizer que eu possa confiar em você novamente, e uma relação não existe sem confiança. A partir do momento em que eu descobri que você me traía...
— Foram apenas duas vezes...
— Poderia ter sido uma só — ela o interrompeu. — Mas você fez, e em momento nenhum você pensou no que eu iria sentir, você só pensou na raiva que sentia de mim porque tínhamos brigado.
— Não foi bem assim...
— Foi sim, e você sabe — ela aumentou o tom de voz. — Depois que eu vi aquela cena, a única ligação que nos mantém é o nosso filho, apenas isso, e eu não quero que você crie expectativas simplesmente porque eu te perdoei, porque eu nunca vou esquecer o que você fez, nunca vou esquecer a dor que você me causou.
— Eu sinto muito — ele disse quase num sussurro. — Eu queria poder mudar o passado.
— Mas você não pode, , infelizmente não pode — e mais um suspiro, ela apenas tentava impedi que as lágrimas caíssem. — Esse é o nosso presente agora e vai ser o nosso futuro, eu vivendo a minha vida e você vivendo a sua.

assentiu, uma grande angústia em seu coração porque ele sabia que aquele seria o fim.

Na boa, ! — ela olhou fixamente nos olhos do rapaz, sem ao menos piscar. — Supera, por que eu... Bom, eu já superei.





Fim!



Nota da autora: Sem nota.




Nota da beta: Não tinha como ter um fim melhor, ela arrasou! Parabéns, meu anjo! <3

Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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