Capítulo único
Quando o tempo começou a mudar...
rolou para o lado e pegou a roupa no chão, enquanto ele acendia um cigarro. Vestiu a calcinha e o sutiã, ainda deitada, e se levantou para colocar o vestido.
O carinha legal do terceiro ano do curso de Arquitetura da Universidade onde cursava Relações Internacionais perguntou por que ela já estava se vestindo. Não era tão tarde e eles podiam dormir um pouco, e tomar um banho, antes de ele levá-la até sua casa. Sem encará-lo, a garota disse que ele não precisava se preocupar em sair de casa só para levá-la, pois podia pegar um táxi. Justamente porque não estava tarde não seria um problema.
Terminou de se vestir em tempo recorde, sem nem se incomodar em conferir o visual em algum espelho, jogou um beijo para o rapaz e foi simplesmente embora.
Não é que ele não fosse um cara interessante, fosse feio ou não tivesse se preocupado em agradá-la, durante o sexo. Ele na verdade era bastante atraente, divertido, gentil e não tentara pular as preliminares, como muitos faziam. O problema era que simplesmente, mais uma vez, ela não tinha sentido nada demais. Não parecera certo estar ali, na cama dele. O nome dele não parecia soar bem, quando ela o sussurrava.
se jogou no banco de trás do primeiro táxi que encontrou, dando o endereço de onde vivia, e ficou se perguntando se era estúpida por achar que tinha direito a sentimentos grandiosos, sensações devastadoras, a um homem que apareceria e se encaixaria na história dela, como acontece no roteiro dos filmes com as mocinhas. Lamentou ter se encantado tanto por contos de fada, onde príncipes chegam em cavalos brancos, e garotas, sejam elas princesas ou plebeias, tem o seu destino traçado por aquele encontro.
Ela já estava com vinte e dois anos, e nunca se sentira como se estivesse derretendo, como se seu mundo tivesse parado de girar. Nunca sentira que um primeiro beijo fora apenas o começo de uma jornada. Já tinha beijado muitos garotos (parara de contar em trinta e dois) e transado com nove deles (contando aquele cuja carona acabara de dispensar), às vezes somente para se divertir e outras na esperança de que as fagulhas viessem com toques mais íntimos. Porém nunca tivera nem o interesse de repetir a dose.
Quando o táxi entrou na rua onde crescera e ainda morava com a família, tirou o dinheiro da carteira e olhou pela janela, achando interessante ver como o tempo estava combinando com o seu humor: de dia, o céu estava limpo, mas alguma frente fria provavelmente chegara com força total, porque agora as nuvens tinham tomado conta de tudo e não se via lua ou estrelas. No dia seguinte, precisaria se lembrar de levar um guarda-chuva para a faculdade.
— E aí? Como foi? — a irmã perguntou, assim que ela entrou em casa.
— Tudo bem — respondeu, tirando o sapato e colocando a bolsa em cima da mesa, antes de se sentar no sofá, ao lado da caçula.
— Tudo bem do tipo esse eu acho que quero encontrar mais uma vez ou tudo bem do tipo eu saí correndo de novo?
— Do tipo mais uma vez eu vim embora decepcionada, só que pela primeira vez eu to me sentindo meio ridícula, porque esse cara parece ser realmente legal, e provavelmente qualquer outra garota estaria suspirando ao contar sobre o cinema, o jantar e o sexo com ele pra melhor amiga, ou ainda estaria fazendo sexo com ele.
— Você não é ridícula, — assegurou. — Você só vê filmes demais, e eles sempre serão melhores que a realidade. Pela tela, a gente não sente o chulé do cara, ele não tem bafo de manhã...
— Eu não quero um cara perfeito, Milly — repetiu o que dizia em todas as conversas sobre seus encontros e suas expectativas. — O que eu quero é sentir. Eu não consigo ver razão em ficar com alguém, se ele não for o cara certo pra mim, e também não consigo deixar de ter certeza de que eu saberia se um cara fosse certo pra mim. Eu simplesmente sei que eu sentiria como se o tempo tivesse parado, como se as estrelas tivessem se alinhado... Por mais que eu possa estar sendo uma boba, a verdade é que, se não for pra ser assim, eu realmente prefiro continuar indo ao cinema, ver minhas comédias românticas, na companhia deliciosa de um balde enorme de pipoca.
— Talvez eu tenha lido histórias demais pra você, meu anjo — a mãe de falou, entrando na sala e ocupando uma poltrona próxima ao sofá.
— Você também leu pra Milly, e ela não é uma romântica incorrigível. — As três mulheres riram porque realmente a caçula era a mais prática das três. Tinha um namorado e se dava muito bem com ele, mas não esperava flores, luzes de velas, surpresas em dias comuns ou fazer amor sob o luar.
— Existe alguém lá fora pra você, minha filha — afirmou a Sra. . — Mas talvez você precise dar um tempo a essa pessoa. Talvez você não vá saber no primeiro olhar. Até mesmo nesses filmes que você tanto ama, às vezes o amor não surge em um passe de mágica.
— Não se preocupem comigo — pediu, levantando-se e dando um beijo na bochecha de cada uma. — Eu vou saber quando acontecer. Até lá, eu tenho um curso pra concluir, e amanhã eu vou levar uma nova versão do meu trabalho pro meu orientador. Acho melhor imprimir antes de deitar — encerrou o assunto, caminhando para o quarto. Dar adeus àquele dia era sua melhor opção.
Depois de uma madrugada fria...
não dormira muito bem naquela noite e pela manhã não pode deixar de se perguntar o que tinha sido diferente dessa vez. Já estava acostumada com os encontros frustrantes e com as conversas sobre eles, mas nunca tinha ficado ansiosa, com insônia, querendo que o dia amanhecesse logo. Talvez não tivesse nada a ver com o último encontro. Podia ser o trabalho de conclusão de curso, a iminência da formatura, a incerteza sobre ser ou não contratada no escritório em que estagiava, mas era estranho ficar ansiosa de repente com isso, quando estava tão otimista, depois das últimas conversas tanto com o orientador quanto com o chefe.
Acabou saindo da cama tão cansada quanto ao deitar, e com pouco tempo para se arrumar e sair. Ficou feliz por ter organizado todas as coisas de que precisava antes de (tentar) dormir, tendo colocado na bolsa inclusive um guarda-chuva, pois o céu continuava tomado pelas nuvens escuras que haviam escondido as estrelas e a lua à noite.
Sua reunião com o professor Kaleb foi ótima e ele apontou apenas algumas correções a serem feitas, para que a garota enfim tivesse um texto final para apresentar à banca julgadora da instituição. Suas aulas foram tranquilas, e a tarde no estágio também foi totalmente dentro da rotina, mas a sensação estranha de ansiedade permanecia com ela, piorando com o tempo, talvez pelo fato de não haver uma explicação para o nervosismo súbito.
— Tem certeza que não quer uma carona? — perguntou um colega de trabalho, quando saíram do elevador, no térreo do edifício onde estagiava.
— Tenho, sim. Obrigada — declinou da oferta. — São só três quadras, e eu tenho guarda-chuva.
De fato, ela não morava longe dali e não se incomodava em caminhar, mas uma carona até teria caído bem, considerando a chuva e o vento. O problema era que o motorista em questão e ela já tinham se beijado em um happy hour, e ele parecia acreditar que poderiam fazer mais que trocar alguns beijos apenas. Então escolheu enfrentar o mau tempo.
Logo no início do caminho, a ventania já tornou não muito útil o guarda-chuva, mas, na medida em que a menina foi andando, ficou ainda mais difícil mantê-lo aberto e acima da cabeça. Os pingos também foram caindo com mais violência e em maior quantidade, e já não era possível desviar das poças, pois algo parecido com um pequeno rio se formara na calçada.
De repente uma rajada de vento desmontou o objeto que ela usava para tentar se proteger e, por mais que ela estivesse de botas e com um sobretudo, teve que desistir de seguir para casa de imediato, e se abrigou em uma marquise qualquer. Para seu descontentamento, no entanto, havia mais pessoas se utilizando da proteção, e duas delas compartilhavam um cigarro, cuja fumaça foi bem na direção do seu nariz.
Foi então que reparou que estava na porta de um pub. Lá dentro, havia um músico tocando violão e ela pode ouvir um trecho de Let it be, quando uma pessoa abriu a porta e entrou. A maioria dos clientes tinha seus casacos pendurados nas costas das cadeiras, o que indicava que o aquecimento do lugar estava funcionando bem, e, quando um garçom passou com fish and chips na bandeja, aquele foi o detalhe que faltava para que ela decidisse entrar.
Havia poucas mesas vagas e ela escolheu uma em um canto, de onde conseguiria ver bem o músico e escutar as canções em um volume razoável. Caminhou até lá e sentou, depois de colocar o guarda-chuva em um local próprio perto da porta. O cantor começou mais um sucesso dos Beatles e ela cantarolou, parando com a chegada do garçom, a quem pediu um pint de Foster e o tradicional prato inglês de filé de peixe com batatas fritas.
Já devorava a iguaria, ao som de Wish you were here, quando a porta do local se abriu e ela sentiu um frio na espinha. Não foi por causa do frio do lado de fora, pois o lugar que escolhera estava bastante protegido da entrada de ar. Sentiu como se alguma coisa, contudo, tivesse mudado repentinamente no ambiente, e ficou tão confusa com a sensação estranha que não percebeu que alguém se aproximara e falava com ela.
— Será que eu posso sentar aqui com você? Tá tudo cheio.
Ela demorou um tempo para registrar que ele estava fazendo uma pergunta, e mais alguns segundos para entender qual era a pergunta. Não tinha visto o lugar ficar lotado, mas também não estava preocupada com isso, quando disse sim, tentando sorrir. Na realidade, era como se já não existissem os outros clientes, os garçons e nem mesmo o músico. Ela só conseguia perceber a presença do desconhecido, enquanto ele colocava a bolsa-carteiro sobre uma das cadeiras, tirava o casaco, revelando um terno elegante, e se acomodava na cadeira bem ao lado dela.
— Meu nome é — disse ele, esticando a mão para ela.
— O meu é — respondeu, aceitando o cumprimento, e aquele simples toque sem qualquer contexto sexual ou romântico fez com que experimentasse mais sensações do que muitos beijos na boca.
— Desculpa a cara de pau — ele falou, parecendo envergonhado. — Normalmente eu não pediria pra me sentar à mesa com uma menina sozinha. Mas é que eu saí de uma entrevista de emprego, depois de ter esperado por mais de três horas, preciso muito de uma cerveja e de um hambúrguer, e esse é o único pub em pelo menos quatro quadras.
— Tá tudo bem — assegurou. — Eu até prefiro não beber nem comer sozinha. Acabou acontecendo porque eu fui pega de surpresa por esse temporal.
Ele sorriu e fez sinal para um garçom, a quem fez seu pedido sem precisar olhar o cardápio. Comentou alguma coisa sobre o músico, mas ela não saberia repetir o que ele disse, pois se perdeu no movimento de seus lábios e no som da sua voz. Quando a bebida dele chegou, em menos de dois minutos, e ele engoliu mais da metade em um só gole, ela observou o movimento da garganta dele e se mexeu na cadeira, estranhamente excitada.
— A sua comida vai esfriar — ele comentou, vendo que ela não dera mais uma garfada sequer no peixe ou nas batatas.
— É mesmo — riu, nervosa, e ficou com medo de estar se comportando de uma maneira insana. Se o garoto achasse que estava lidando com uma lunática, as chances de se conhecerem melhor e de ele se tornar seu príncipe encantado seriam mínimas. E, olhando para , sentado ali, ao lado dela, com olhos tão sorridentes (Meu Deus! Existiam mesmo olhos sorridentes! Ela nunca acreditara nisso.), ela teve aquela certeza de que era ele! Tinha que ser ele, e ela não tinha o direito de estragar tudo dando uma de maluca.
Então ela conseguiu se controlar e disfarçar, e ter uma conversa decente com ele, o que foi maravilhoso.
Em poucas horas, ela soube que ele se formara em Direito e fazia Mestrado, que fora criado pelo pai, após o falecimento prematuro da mãe, que tinha um irmão mais velho e uma irmã mais nova, que a entrevista de trabalho à qual fora naquele dia tinha sido um sucesso e o garoto de Liverpool era agora advogado júnior de um grande escritório bem no Centro de Londres.
Ele, por sua vez, descobriu que ela estudava Relações Internacionais, que nascera e fora criada em Londres, que tinha uma irmã e morava com ela e os pais, que adorava a empresa na qual fazia estágio, que tinha tios e primos em Liverpool, que seu pai era veterinário e ela amava cavalos.
Infelizmente, no entanto, ele recebeu um telefonema, ficou sério de repente (talvez até meio pálido?), pediu desculpas, e saiu literalmente correndo, deixando sobre a mesa mais do que dinheiro suficiente para pagar o que havia consumido. Não pediu o telefone dela, não deu o dele, nem combinou de encontrá-la novamente no pub. Nada!
pagou a conta imediatamente e também foi embora do bar, em meio à chuva, agora fina, sentindo uma tristeza profunda. Desta vez, achou que a vida tinha arrumado um jeito de lhe mostrar, definitivamente, que não deveria confiar em seu sexto sentido. Que não!, ela não saberia, quando pusesse os olhos em alguém, que aquele era o homem destinado a ficar com ela pelo resto da vida. Que sequer existia isso de alma gêmea, que as pessoas só completavam umas às outras em filmes.
Enfim... que sua vida não era um filme, as relações no mundo real não são como nos filmes, e só lhe restava aceitar.
Dois dias depois, em uma manhã de sol...
saiu da sala de aula, conversando com Trinity, a caminho do refeitório, onde pretendia fazer uma refeição rápida, antes de seguir para o estágio. Não era bem uma conversa, pois ela se restringia a assentir e responder com monossílabos, enquanto a melhor amiga contava detalhes de seu mais recente encontro. A última coisa sobre a qual estava a fim de falar era sobre aquilo, mas não queria ser indelicada. Triny não tinha culpa se ela finalmente tinha percebido que estava fadada ao tédio, pois um amor como o que ela tinha idealizado não era possível.
E, se isso já não fosse o suficiente para que ela estivesse com uma vontade imensa de passar uma semana inteira na cama, com pena de si mesma, saindo do quarto apenas para pegar sorvete, chocolate e biscoito recheado, que eram suas comidas de consolo favoritas, ainda havia aquela constante lembrança de e das poucas horas com ele no bar.
Provavelmente ela nunca mais veria o rapaz, mas ele não saía de seu pensamento. Ela recordava com nitidez o sorriso, os olhos e cada traço do rosto dele. Podia praticamente ouvi-lo cantando Come Together, se fechasse os olhos, e tinha sonhado com ele nas últimas duas noites (ou seja, todas as noites, depois de conhecê-lo! Será que isto seria uma constante por muito tempo?). Podia até vê-lo andando pelo corredor da faculdade (Santo Deus! Estava surtando!).
— Te achei! — a sorridente miragem falou com ela, que franziu a testa, antes de relaxar, percebendo que ele era de carne e osso.
— Oi, — cumprimentou, tentando agir com naturalidade, apesar de a situação ser meio surreal. Não fazia sentido algum encontrá-lo na Universidade de Westminster, pois o Mestrado dele era na Kingston.
— Oi, ! — ele deu um beijo no rosto dela, e o coração da garota disparou, em um misto de euforia, confusão, medo de se enganar, vendo sinais onde não havia... Enquanto o rapaz se apresentava para a amiga dela e os dois trocavam um aperto de mão, respirou fundo e tentou pelo menos parecer equilibrada.
— Foi um prazer te conhecer — ouviu Triny dizer. — Mas eu tenho que ir. To cheia de coisas pra fazer! — Provavelmente a amiga tinha percebido alguma coisa no ar, apesar de não ter comentado nada sobre com ninguém. Do contrário, não teria inventado uma desculpa esfarrapada para deixar os dois sozinhos. Ela não tinha nadinha para fazer! Já estava com o trabalho de conclusão pronto, tinha sido desligada do estágio e não estava procurando emprego porque, logo após a formatura, faria um intercâmbio.
— Eu fui ao pub ontem à noite. Um garçom lembrou que eu tava com você na noite anterior, e me deu isso — declarou , depois da saída abrupta de Trinity, mostrando a o guarda-chuva que, até aquele momento, ela nem tinha se dado conta de ter esquecido no bar.
— E você veio até aqui pra me entregar isso? — indagou. — Você não precisava...
— Você não entendeu. — Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça, sem saber bem o que fazer com elas, agora que Rachel pegara o objeto que o havia acompanhado até ali. — Eu fui ao pub na esperança de te encontrar. Eu saí igual a um foguete, quando a minha irmã ligou, e não pedi seu telefone. Também não sabia seu sobrenome, pra te procurar numa rede social... Eu acabaria vindo aqui, de qualquer jeito, mas o guarda-chuva foi um bom pretexto. Além de ter ajudado.
— Como ele pode ter ajudado? — Questionou, surpresa.
— Eu sabia seu curso, mas não em que período você tá, então eu perguntei pra algumas pessoas se elas conheciam você, pra poder te procurar no lugar certo. Uma das meninas com quem eu falei não sabia quem era , mas quando ela viu o guarda-chuva, com A Noite Estrelada estampada nele, ela teve certeza de que era de uma garota do último ano. Então ele foi tipo um sapato da Cinderela.
A afirmação dele talvez fosse um pouco exagerada, mas simplesmente amou aquela referência. Isso sem contar o fato, que já era por si só maravilhoso, de que ele tinha ido atrás dela. Toda aquela certeza de ter encontrado enfim a pessoa feita para ela voltou, e a menina nem se preocupou com a possibilidade de que fosse uma ilusão.
— Eu tava indo pro restaurante do campus, comer alguma coisa, antes de ir trabalhar. Você não tá a fim de ir lá comigo? Eu te passo meu sobrenome e meu telefone...
— E a gente deixa um encontro marcado? — ele tirou as palavras de sua boca. Sorrindo, ela concordou, já ansiosa pelo primeiro beijo, não tendo nenhuma dúvida de que ele tiraria os seus pés do chão.
Alguns anos e muitos dias (e beijos) quentes depois...
se olhou no espelho, e seus olhos ficaram marejados. Era até difícil acreditar no que estava acontecendo! Parecia uma princesa com aquele vestido branco feito sob medida e a tiara de cristais enfeitando o cabelo, preso em um coque. Sua mãe, irmã e amigas tinham trazido uma coisa azul, uma nova, uma velha e uma emprestada, e só faltava o buquê, que estava com a cerimonialista, para completar o visual.
Seu pai chegou, junto com a moça contratada para organizar o casamento, e a conduziu pelos corredores do castelo até a saída, que dava para o jardim, onde tudo estava arrumado para o evento. Seria uma celebração com poucos convidados, porque nem todos os amigos dela ou de tinham conseguido viajar para a França, mas o noivo não abrira mão de dar a ela uma festa e uma lua-de-mel dignas de contos de fada.
O mais importante para ela, no entanto, não era o castelo ou o vestido luxuoso, e sim o homem que a aguardava próximo ao altar. Ele era o seu príncipe, era o seu par, a sua cara metade. Ele era seu escolhido, o homem responsável por fazê-la derreter e tudo sumir à sua volta. A vida com ele era dramática, cinematográfica, e cada dia tinha o seu final perfeito.
O amor com ele era como nos filmes, e era assim que deveria ser.
rolou para o lado e pegou a roupa no chão, enquanto ele acendia um cigarro. Vestiu a calcinha e o sutiã, ainda deitada, e se levantou para colocar o vestido.
O carinha legal do terceiro ano do curso de Arquitetura da Universidade onde cursava Relações Internacionais perguntou por que ela já estava se vestindo. Não era tão tarde e eles podiam dormir um pouco, e tomar um banho, antes de ele levá-la até sua casa. Sem encará-lo, a garota disse que ele não precisava se preocupar em sair de casa só para levá-la, pois podia pegar um táxi. Justamente porque não estava tarde não seria um problema.
Terminou de se vestir em tempo recorde, sem nem se incomodar em conferir o visual em algum espelho, jogou um beijo para o rapaz e foi simplesmente embora.
Não é que ele não fosse um cara interessante, fosse feio ou não tivesse se preocupado em agradá-la, durante o sexo. Ele na verdade era bastante atraente, divertido, gentil e não tentara pular as preliminares, como muitos faziam. O problema era que simplesmente, mais uma vez, ela não tinha sentido nada demais. Não parecera certo estar ali, na cama dele. O nome dele não parecia soar bem, quando ela o sussurrava.
se jogou no banco de trás do primeiro táxi que encontrou, dando o endereço de onde vivia, e ficou se perguntando se era estúpida por achar que tinha direito a sentimentos grandiosos, sensações devastadoras, a um homem que apareceria e se encaixaria na história dela, como acontece no roteiro dos filmes com as mocinhas. Lamentou ter se encantado tanto por contos de fada, onde príncipes chegam em cavalos brancos, e garotas, sejam elas princesas ou plebeias, tem o seu destino traçado por aquele encontro.
Ela já estava com vinte e dois anos, e nunca se sentira como se estivesse derretendo, como se seu mundo tivesse parado de girar. Nunca sentira que um primeiro beijo fora apenas o começo de uma jornada. Já tinha beijado muitos garotos (parara de contar em trinta e dois) e transado com nove deles (contando aquele cuja carona acabara de dispensar), às vezes somente para se divertir e outras na esperança de que as fagulhas viessem com toques mais íntimos. Porém nunca tivera nem o interesse de repetir a dose.
Quando o táxi entrou na rua onde crescera e ainda morava com a família, tirou o dinheiro da carteira e olhou pela janela, achando interessante ver como o tempo estava combinando com o seu humor: de dia, o céu estava limpo, mas alguma frente fria provavelmente chegara com força total, porque agora as nuvens tinham tomado conta de tudo e não se via lua ou estrelas. No dia seguinte, precisaria se lembrar de levar um guarda-chuva para a faculdade.
— E aí? Como foi? — a irmã perguntou, assim que ela entrou em casa.
— Tudo bem — respondeu, tirando o sapato e colocando a bolsa em cima da mesa, antes de se sentar no sofá, ao lado da caçula.
— Tudo bem do tipo esse eu acho que quero encontrar mais uma vez ou tudo bem do tipo eu saí correndo de novo?
— Do tipo mais uma vez eu vim embora decepcionada, só que pela primeira vez eu to me sentindo meio ridícula, porque esse cara parece ser realmente legal, e provavelmente qualquer outra garota estaria suspirando ao contar sobre o cinema, o jantar e o sexo com ele pra melhor amiga, ou ainda estaria fazendo sexo com ele.
— Você não é ridícula, — assegurou. — Você só vê filmes demais, e eles sempre serão melhores que a realidade. Pela tela, a gente não sente o chulé do cara, ele não tem bafo de manhã...
— Eu não quero um cara perfeito, Milly — repetiu o que dizia em todas as conversas sobre seus encontros e suas expectativas. — O que eu quero é sentir. Eu não consigo ver razão em ficar com alguém, se ele não for o cara certo pra mim, e também não consigo deixar de ter certeza de que eu saberia se um cara fosse certo pra mim. Eu simplesmente sei que eu sentiria como se o tempo tivesse parado, como se as estrelas tivessem se alinhado... Por mais que eu possa estar sendo uma boba, a verdade é que, se não for pra ser assim, eu realmente prefiro continuar indo ao cinema, ver minhas comédias românticas, na companhia deliciosa de um balde enorme de pipoca.
— Talvez eu tenha lido histórias demais pra você, meu anjo — a mãe de falou, entrando na sala e ocupando uma poltrona próxima ao sofá.
— Você também leu pra Milly, e ela não é uma romântica incorrigível. — As três mulheres riram porque realmente a caçula era a mais prática das três. Tinha um namorado e se dava muito bem com ele, mas não esperava flores, luzes de velas, surpresas em dias comuns ou fazer amor sob o luar.
— Existe alguém lá fora pra você, minha filha — afirmou a Sra. . — Mas talvez você precise dar um tempo a essa pessoa. Talvez você não vá saber no primeiro olhar. Até mesmo nesses filmes que você tanto ama, às vezes o amor não surge em um passe de mágica.
— Não se preocupem comigo — pediu, levantando-se e dando um beijo na bochecha de cada uma. — Eu vou saber quando acontecer. Até lá, eu tenho um curso pra concluir, e amanhã eu vou levar uma nova versão do meu trabalho pro meu orientador. Acho melhor imprimir antes de deitar — encerrou o assunto, caminhando para o quarto. Dar adeus àquele dia era sua melhor opção.
Depois de uma madrugada fria...
não dormira muito bem naquela noite e pela manhã não pode deixar de se perguntar o que tinha sido diferente dessa vez. Já estava acostumada com os encontros frustrantes e com as conversas sobre eles, mas nunca tinha ficado ansiosa, com insônia, querendo que o dia amanhecesse logo. Talvez não tivesse nada a ver com o último encontro. Podia ser o trabalho de conclusão de curso, a iminência da formatura, a incerteza sobre ser ou não contratada no escritório em que estagiava, mas era estranho ficar ansiosa de repente com isso, quando estava tão otimista, depois das últimas conversas tanto com o orientador quanto com o chefe.
Acabou saindo da cama tão cansada quanto ao deitar, e com pouco tempo para se arrumar e sair. Ficou feliz por ter organizado todas as coisas de que precisava antes de (tentar) dormir, tendo colocado na bolsa inclusive um guarda-chuva, pois o céu continuava tomado pelas nuvens escuras que haviam escondido as estrelas e a lua à noite.
Sua reunião com o professor Kaleb foi ótima e ele apontou apenas algumas correções a serem feitas, para que a garota enfim tivesse um texto final para apresentar à banca julgadora da instituição. Suas aulas foram tranquilas, e a tarde no estágio também foi totalmente dentro da rotina, mas a sensação estranha de ansiedade permanecia com ela, piorando com o tempo, talvez pelo fato de não haver uma explicação para o nervosismo súbito.
— Tem certeza que não quer uma carona? — perguntou um colega de trabalho, quando saíram do elevador, no térreo do edifício onde estagiava.
— Tenho, sim. Obrigada — declinou da oferta. — São só três quadras, e eu tenho guarda-chuva.
De fato, ela não morava longe dali e não se incomodava em caminhar, mas uma carona até teria caído bem, considerando a chuva e o vento. O problema era que o motorista em questão e ela já tinham se beijado em um happy hour, e ele parecia acreditar que poderiam fazer mais que trocar alguns beijos apenas. Então escolheu enfrentar o mau tempo.
Logo no início do caminho, a ventania já tornou não muito útil o guarda-chuva, mas, na medida em que a menina foi andando, ficou ainda mais difícil mantê-lo aberto e acima da cabeça. Os pingos também foram caindo com mais violência e em maior quantidade, e já não era possível desviar das poças, pois algo parecido com um pequeno rio se formara na calçada.
De repente uma rajada de vento desmontou o objeto que ela usava para tentar se proteger e, por mais que ela estivesse de botas e com um sobretudo, teve que desistir de seguir para casa de imediato, e se abrigou em uma marquise qualquer. Para seu descontentamento, no entanto, havia mais pessoas se utilizando da proteção, e duas delas compartilhavam um cigarro, cuja fumaça foi bem na direção do seu nariz.
Foi então que reparou que estava na porta de um pub. Lá dentro, havia um músico tocando violão e ela pode ouvir um trecho de Let it be, quando uma pessoa abriu a porta e entrou. A maioria dos clientes tinha seus casacos pendurados nas costas das cadeiras, o que indicava que o aquecimento do lugar estava funcionando bem, e, quando um garçom passou com fish and chips na bandeja, aquele foi o detalhe que faltava para que ela decidisse entrar.
Havia poucas mesas vagas e ela escolheu uma em um canto, de onde conseguiria ver bem o músico e escutar as canções em um volume razoável. Caminhou até lá e sentou, depois de colocar o guarda-chuva em um local próprio perto da porta. O cantor começou mais um sucesso dos Beatles e ela cantarolou, parando com a chegada do garçom, a quem pediu um pint de Foster e o tradicional prato inglês de filé de peixe com batatas fritas.
Já devorava a iguaria, ao som de Wish you were here, quando a porta do local se abriu e ela sentiu um frio na espinha. Não foi por causa do frio do lado de fora, pois o lugar que escolhera estava bastante protegido da entrada de ar. Sentiu como se alguma coisa, contudo, tivesse mudado repentinamente no ambiente, e ficou tão confusa com a sensação estranha que não percebeu que alguém se aproximara e falava com ela.
— Será que eu posso sentar aqui com você? Tá tudo cheio.
Ela demorou um tempo para registrar que ele estava fazendo uma pergunta, e mais alguns segundos para entender qual era a pergunta. Não tinha visto o lugar ficar lotado, mas também não estava preocupada com isso, quando disse sim, tentando sorrir. Na realidade, era como se já não existissem os outros clientes, os garçons e nem mesmo o músico. Ela só conseguia perceber a presença do desconhecido, enquanto ele colocava a bolsa-carteiro sobre uma das cadeiras, tirava o casaco, revelando um terno elegante, e se acomodava na cadeira bem ao lado dela.
— Meu nome é — disse ele, esticando a mão para ela.
— O meu é — respondeu, aceitando o cumprimento, e aquele simples toque sem qualquer contexto sexual ou romântico fez com que experimentasse mais sensações do que muitos beijos na boca.
— Desculpa a cara de pau — ele falou, parecendo envergonhado. — Normalmente eu não pediria pra me sentar à mesa com uma menina sozinha. Mas é que eu saí de uma entrevista de emprego, depois de ter esperado por mais de três horas, preciso muito de uma cerveja e de um hambúrguer, e esse é o único pub em pelo menos quatro quadras.
— Tá tudo bem — assegurou. — Eu até prefiro não beber nem comer sozinha. Acabou acontecendo porque eu fui pega de surpresa por esse temporal.
Ele sorriu e fez sinal para um garçom, a quem fez seu pedido sem precisar olhar o cardápio. Comentou alguma coisa sobre o músico, mas ela não saberia repetir o que ele disse, pois se perdeu no movimento de seus lábios e no som da sua voz. Quando a bebida dele chegou, em menos de dois minutos, e ele engoliu mais da metade em um só gole, ela observou o movimento da garganta dele e se mexeu na cadeira, estranhamente excitada.
— A sua comida vai esfriar — ele comentou, vendo que ela não dera mais uma garfada sequer no peixe ou nas batatas.
— É mesmo — riu, nervosa, e ficou com medo de estar se comportando de uma maneira insana. Se o garoto achasse que estava lidando com uma lunática, as chances de se conhecerem melhor e de ele se tornar seu príncipe encantado seriam mínimas. E, olhando para , sentado ali, ao lado dela, com olhos tão sorridentes (Meu Deus! Existiam mesmo olhos sorridentes! Ela nunca acreditara nisso.), ela teve aquela certeza de que era ele! Tinha que ser ele, e ela não tinha o direito de estragar tudo dando uma de maluca.
Então ela conseguiu se controlar e disfarçar, e ter uma conversa decente com ele, o que foi maravilhoso.
Em poucas horas, ela soube que ele se formara em Direito e fazia Mestrado, que fora criado pelo pai, após o falecimento prematuro da mãe, que tinha um irmão mais velho e uma irmã mais nova, que a entrevista de trabalho à qual fora naquele dia tinha sido um sucesso e o garoto de Liverpool era agora advogado júnior de um grande escritório bem no Centro de Londres.
Ele, por sua vez, descobriu que ela estudava Relações Internacionais, que nascera e fora criada em Londres, que tinha uma irmã e morava com ela e os pais, que adorava a empresa na qual fazia estágio, que tinha tios e primos em Liverpool, que seu pai era veterinário e ela amava cavalos.
Infelizmente, no entanto, ele recebeu um telefonema, ficou sério de repente (talvez até meio pálido?), pediu desculpas, e saiu literalmente correndo, deixando sobre a mesa mais do que dinheiro suficiente para pagar o que havia consumido. Não pediu o telefone dela, não deu o dele, nem combinou de encontrá-la novamente no pub. Nada!
pagou a conta imediatamente e também foi embora do bar, em meio à chuva, agora fina, sentindo uma tristeza profunda. Desta vez, achou que a vida tinha arrumado um jeito de lhe mostrar, definitivamente, que não deveria confiar em seu sexto sentido. Que não!, ela não saberia, quando pusesse os olhos em alguém, que aquele era o homem destinado a ficar com ela pelo resto da vida. Que sequer existia isso de alma gêmea, que as pessoas só completavam umas às outras em filmes.
Enfim... que sua vida não era um filme, as relações no mundo real não são como nos filmes, e só lhe restava aceitar.
Dois dias depois, em uma manhã de sol...
saiu da sala de aula, conversando com Trinity, a caminho do refeitório, onde pretendia fazer uma refeição rápida, antes de seguir para o estágio. Não era bem uma conversa, pois ela se restringia a assentir e responder com monossílabos, enquanto a melhor amiga contava detalhes de seu mais recente encontro. A última coisa sobre a qual estava a fim de falar era sobre aquilo, mas não queria ser indelicada. Triny não tinha culpa se ela finalmente tinha percebido que estava fadada ao tédio, pois um amor como o que ela tinha idealizado não era possível.
E, se isso já não fosse o suficiente para que ela estivesse com uma vontade imensa de passar uma semana inteira na cama, com pena de si mesma, saindo do quarto apenas para pegar sorvete, chocolate e biscoito recheado, que eram suas comidas de consolo favoritas, ainda havia aquela constante lembrança de e das poucas horas com ele no bar.
Provavelmente ela nunca mais veria o rapaz, mas ele não saía de seu pensamento. Ela recordava com nitidez o sorriso, os olhos e cada traço do rosto dele. Podia praticamente ouvi-lo cantando Come Together, se fechasse os olhos, e tinha sonhado com ele nas últimas duas noites (ou seja, todas as noites, depois de conhecê-lo! Será que isto seria uma constante por muito tempo?). Podia até vê-lo andando pelo corredor da faculdade (Santo Deus! Estava surtando!).
— Te achei! — a sorridente miragem falou com ela, que franziu a testa, antes de relaxar, percebendo que ele era de carne e osso.
— Oi, — cumprimentou, tentando agir com naturalidade, apesar de a situação ser meio surreal. Não fazia sentido algum encontrá-lo na Universidade de Westminster, pois o Mestrado dele era na Kingston.
— Oi, ! — ele deu um beijo no rosto dela, e o coração da garota disparou, em um misto de euforia, confusão, medo de se enganar, vendo sinais onde não havia... Enquanto o rapaz se apresentava para a amiga dela e os dois trocavam um aperto de mão, respirou fundo e tentou pelo menos parecer equilibrada.
— Foi um prazer te conhecer — ouviu Triny dizer. — Mas eu tenho que ir. To cheia de coisas pra fazer! — Provavelmente a amiga tinha percebido alguma coisa no ar, apesar de não ter comentado nada sobre com ninguém. Do contrário, não teria inventado uma desculpa esfarrapada para deixar os dois sozinhos. Ela não tinha nadinha para fazer! Já estava com o trabalho de conclusão pronto, tinha sido desligada do estágio e não estava procurando emprego porque, logo após a formatura, faria um intercâmbio.
— Eu fui ao pub ontem à noite. Um garçom lembrou que eu tava com você na noite anterior, e me deu isso — declarou , depois da saída abrupta de Trinity, mostrando a o guarda-chuva que, até aquele momento, ela nem tinha se dado conta de ter esquecido no bar.
— E você veio até aqui pra me entregar isso? — indagou. — Você não precisava...
— Você não entendeu. — Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça, sem saber bem o que fazer com elas, agora que Rachel pegara o objeto que o havia acompanhado até ali. — Eu fui ao pub na esperança de te encontrar. Eu saí igual a um foguete, quando a minha irmã ligou, e não pedi seu telefone. Também não sabia seu sobrenome, pra te procurar numa rede social... Eu acabaria vindo aqui, de qualquer jeito, mas o guarda-chuva foi um bom pretexto. Além de ter ajudado.
— Como ele pode ter ajudado? — Questionou, surpresa.
— Eu sabia seu curso, mas não em que período você tá, então eu perguntei pra algumas pessoas se elas conheciam você, pra poder te procurar no lugar certo. Uma das meninas com quem eu falei não sabia quem era , mas quando ela viu o guarda-chuva, com A Noite Estrelada estampada nele, ela teve certeza de que era de uma garota do último ano. Então ele foi tipo um sapato da Cinderela.
A afirmação dele talvez fosse um pouco exagerada, mas simplesmente amou aquela referência. Isso sem contar o fato, que já era por si só maravilhoso, de que ele tinha ido atrás dela. Toda aquela certeza de ter encontrado enfim a pessoa feita para ela voltou, e a menina nem se preocupou com a possibilidade de que fosse uma ilusão.
— Eu tava indo pro restaurante do campus, comer alguma coisa, antes de ir trabalhar. Você não tá a fim de ir lá comigo? Eu te passo meu sobrenome e meu telefone...
— E a gente deixa um encontro marcado? — ele tirou as palavras de sua boca. Sorrindo, ela concordou, já ansiosa pelo primeiro beijo, não tendo nenhuma dúvida de que ele tiraria os seus pés do chão.
Alguns anos e muitos dias (e beijos) quentes depois...
se olhou no espelho, e seus olhos ficaram marejados. Era até difícil acreditar no que estava acontecendo! Parecia uma princesa com aquele vestido branco feito sob medida e a tiara de cristais enfeitando o cabelo, preso em um coque. Sua mãe, irmã e amigas tinham trazido uma coisa azul, uma nova, uma velha e uma emprestada, e só faltava o buquê, que estava com a cerimonialista, para completar o visual.
Seu pai chegou, junto com a moça contratada para organizar o casamento, e a conduziu pelos corredores do castelo até a saída, que dava para o jardim, onde tudo estava arrumado para o evento. Seria uma celebração com poucos convidados, porque nem todos os amigos dela ou de tinham conseguido viajar para a França, mas o noivo não abrira mão de dar a ela uma festa e uma lua-de-mel dignas de contos de fada.
O mais importante para ela, no entanto, não era o castelo ou o vestido luxuoso, e sim o homem que a aguardava próximo ao altar. Ele era o seu príncipe, era o seu par, a sua cara metade. Ele era seu escolhido, o homem responsável por fazê-la derreter e tudo sumir à sua volta. A vida com ele era dramática, cinematográfica, e cada dia tinha o seu final perfeito.
O amor com ele era como nos filmes, e era assim que deveria ser.