FFOBS - 12. Pressure, por Juana Arraché

Finalizada em: 19/08/2018

Capítulo Único

Desci as escadas que levavam da varanda até a calçada rápido, o convite de casamento de um amigo antigo dentro da minha bolsa estava me deixando louca. Assim que cheguei na faculdade, tratei de me concentrar em todas as aulas até o intervalo, não me deixando divagar nem por um momento sobre o convite. Assim que o sinal soou, peguei aquela bolsa e sai da sala, me arrastando pelo campus até a cantina afim de comprar um café com leite antes de me dirigir para a árvore que sempre encontrava Samantha, minha melhor amiga. Enquanto ela não chegava, eu comecei a estudar, tentando manter meus pensamentos bem longe do convite enfeitado que eu carregava na bolsa entre dois livros.
- Oi! – Sam falou rápido, tentando recuperar o fôlego. - Como foi a sua aula? – ela perguntou enquanto sentava ao meu lado na grama e jogava suas coisas ao nosso redor. Antes que eu pudesse responder, pegou o meu copo para beber um gole do meu café com leite. Ela começou a remexer nos seus livros de engenharia, os organizando em pilhas ao seu lado.
-Foi normal. Rotineira, até. Fui bem nas últimas provas.– falei e lhe dei um sorriso, peguei de volta o meu copo de suas mãos e também bebi.
Samantha sorriu, ajeitando seu cabelo loiro avermelhado atrás da orelha.
- Que novidade, nerd – falou e eu revirei os olhos. Ela ficou em silêncio por um tempo, até não agüentar mais e soltar a bomba. – Você também foi convidada para o casamento do Blake? – ela perguntou em um sussurro, mexendo em uma folhinha de grama, sem me olhar nos olhos. Mexeu na mochila, tirando um envelope branco com detalhes em dourado. Confirmei com a cabeça e também lhe mostrei o meu convite na bolsa. – Estranho, eu nem sabia que ele tinha namorada...
- Eu também não sabia, deve ser alguma garota que ele conheceu na faculdade, a gente não fala com ele desde o ano passado.
- Não acha pouco tempo para conhecer alguém e já estar noivo? Ele é muito novo!
- Não sei... Se eles se gostam não tem nada de errado em querer ‘’antecipar’’... – fiz aspas com os dedos e bebi mais um gole de café.
Samantha deu de ombros, como se não importasse. Mas ela se importava. E muito.
- Bem, ele nos convidou, e ele também convidou o . – Sam soltou e eu me engasguei com o café. ...
Só a idéia de vê-lo após quatro anos me fazia perder o ar e todos os sentidos. Tossi e tossi até ficar vermelha e todos no local me olharem alarmados. Os estudantes de medicina que estavam por ali com certeza estavam se preparando para fazer a manobra de Heimlich caso fosse necessário. Samantha começou a dar tapas em minhas costas e levantar os meus braços, com a esperança de que isso me ajudasse a respirar.
- O que foi isso?
- Eu me afoguei... – falei com a mão na garganta, ainda sentindo lágrimas pinicarem meus olhos e a língua levemente queimada pelo líquido fumegante.
- Eu percebi! Isso tem alguma coisa a ver com o ? – ela perguntou baixo e eu desviei o olhar.
- Você sabe que ele é um assunto complicado demais. - A olhei séria, eu não queria falar dele, mas precisava... – Acha que ele vai ao casamento?
- Acho que sim, Blake e se conhecem desde sempre. – suspirei. – Tudo bem, desculpe, não vou mais falar dele. – Ela pôs a mão em minhas costas, massageando de leve, em um carinho.
Samantha era minha amiga desde a infância, como Blake e também eram. Os conheci na escola assim que cheguei de Wisconsin. Eu estava tão nervosa em ter que começar uma escola nova, mas todos foram tão amigáveis comigo que logo nos tornamos inseparáveis. e Samantha são primos, e Blake e eram vizinhos na época.
nunca foi apenas ‘’um’’ cara. Ele era O cara. O garoto que todas as meninas querem ter e que todos os meninos querem ser. Ele é o tipo de pessoa que sempre se safa de tudo o que apronta e ele nem precisava se esforçar para conseguir o que queria, a vida simplesmente lhe dava tudo numa bandeja de prata. Claro, ser filho do prefeito ajuda. Eu sempre gostei dele. Desde o momento em que ele sentou ao meu lado no meu primeiro dia de aula até a última vez que o vi. Ainda gosto, para ser sincera. Continuar nutrindo sentimentos por ainda vai ser a minha destruição algum dia. Tivemos um relacionamento na adolescência. Nunca assumimos nada, mas era muito sério para mim. Na época me parecia tão mágico, compartilhar aquele segredo, a adrenalina de poder ser pega com ele a qualquer momento deixava tudo mais excitante. Hoje, quando eu penso no assunto, eu não sei o que se passava na minha cabeça.
se mudou para a Austrália num verão, foi fazer um intercâmbio de tempo indeterminado. Ele não voltou, mesmo tendo se passado quase cinco anos de sua partida. Desde que ele se foi, eu praticamente não tive mais noticias suas. Ele apagou todas as sua redes sociais e respondia poucas mensagens, e quando respondia, era sempre tão distante... Se não fosse por Sam ser prima dele, e vez que outra me dar alguma informação sobre a vida dele, eu poderia considerá-lo morto. Porém, depois de um tempo eu havia cansado do descaso dele por mim e por nossos amigos e parei de procura-lo. Mas agora com o casamento repentino de Blake e o nosso provável reencontro, tudo voltou como uma enxurrada e ela iria me afundar.
O tempo demorou a passar e assim que a aula acabou eu voei para fora da sala, dei uma desculpa qualquer – que não colou, eu sei – para Samantha e fui embora. Apenas queria me deitar e dormir até que o mundo acabasse.

Um mês depois

Um mês de puro sofrimento. Trinta dias de pura pressão sobre tudo a minha volta. Faculdade, roupa para o casamento, meus pais, o medo iminente de que eu posso vê-lo a qualquer momento a partir de agora, afinal, podia estar na cidade. Parecia que tudo iria explodir a minha volta e eu estava muito nervosa. Andava como uma agente secreta na rua, torcendo para que eu não visse ninguém. Porém, Samantha conseguia parecer pior. Pelos menos eu não iria para o casamento do meu primeiro namorado, o qual ainda nutria sentimentos. Ela passou a viagem toda de Charlottesville, a cidade em que morávamos e cursávamos a faculdade no estado da Virginia, para o sitio dos avós de Blake no interior, em silêncio. Descobri nesses trinta dias que ele havia convidado apenas pessoas íntimas dele e da noiva, e isso me deixou feliz de certa forma. Ele ainda lembrava-se de nós e nos queria por perto neste momento tão importante.
Samantha e eu estávamos a mais de uma hora naquele carro sem trocar uma palavra. Ela olhava para um ponto fixo da estrada que parecia não chegar nunca. Apertei o volante e olhei ao redor, em busca de algum assunto, qualquer um, que poderíamos desfrutar que não fosse o casamento do nosso amigo. Liguei o radio e estava tocando uma música de amor não correspondido, então fui obrigada a desligar antes que aquela situação ficasse mais chata.
- Olha aquelas nuvens, acho que vai chover. – falei e a olhei de soslaio.
- Tomara que chova. Estamos em uma seca horrível. – revirei os olhos com o seu comentário rabugento.
- É mesmo? Quer que chova para o casamento ser cancelado?
- Acha mesmo que eles cancelariam? – ela se virou para mim e eu sorri.
- Não. Eles provavelmente o fariam em outro lugar... Ou adiariam.
Ela soltou um gritinho.
- ! – ela berrou meu nome e isso me fez cair na gargalhada.
- Ok, me desculpe. – falei e ela se virou de costas para mim, cruzando os braços. – Mas você sabe que não pode fazer mais nada, Sammy. Ele já esta com um pé no altar. É uma guerra perdida... – sussurrei voltando a minha atenção total a estrada.
- Deveria ser eu... – Samantha sussurrou após um tempo e eu levei um susto.
- Como disse?
- Eu... Deveria ser eu. – ela sussurrou. – Eu deveria estar casando com ele agora.
- Mas o que... – murmurei.
- Eu sei que fui eu quem terminou. Eu fiz isso. Mas eu nunca realmente pensei que isso fosse acontecer... Eu não queria que fosse desse jeito. Nos separamos não tem um ano e meio, caramba! – ela chorava e soluçava. Eu já não sabia se parava o carro ou continuava dirigindo.
- Sammy? – a chamei depois de um tempo e ela logo me olhou. – Você ainda o ama?
- Eu nem sei mais como responder isso... Eu esperava que não. – ela sussurrou.
- Porque terminou com ele então? – perguntei baixo.
- Você sabe o motivo. A faculdade... Ele iria para Brown. Não tinha como...
- Vocês podiam ter dado um jeito...
- É complicado... – ela cobriu o rosto com as mãos e eu mordi meu lábio, focando na estrada, não sabendo mais o que falar. – Bem... – ela deu um longo suspiro e eu a olhei. Ela me forçou um sorriso. – Será que se eu chegar lá e bancar a Taylor Swift com Speak Now eu ganho o cara? – gargalhei. Ela estava melhor.
- Com toda a certeza. A Taylor conseguiu, não foi? – sorri para ela, que retribuiu. - Bem, já estamos chegando... Você deveria conversar com ele sobre isso. Você sabe... Falar a verdade.
- O que? – ela gritou. – Você só pode estar maluca! Essa foi uma ótima piada. HAHAHA.
- Não estou maluca e tampouco fazendo piadas. Acho que você deveria conversar com ele e por tudo em pratos limpos.
- Acha que ele vai me perdoar?
- Eu não sei... Mas acho que ele não te convidaria para o casamento se já não houvesse perdoado. – ela sorriu e eu também. – Agora limpa esse rosto! Eu sei que você quer fazer uma boa impressão nele e você não conseguirá nada com essa maquiagem borrada.
Não demorou muito para chegarmos ao nosso destino, e mesmo após tanto tempo sem visitar o lugar, eu posso dizer com toda a certeza de que ele parecia o mesmo de sempre. Claro. Tirando os preparativos do casamento. Uma tenda grande estava montada perto do lago e tinha flores enfeitando a propriedade inteira.
- Meio exagerado, não acha? – ela falou e eu revirei os olhos. Se fosse o casamento dela, seria uma decoração maior ainda.
Estacionei o carro e Samantha pulou para fora, indo até o porta malas pegar nossas bolsas. Não demorou muito até um rapaz alto e loiro correr em nossa direção com um sorriso enorme no seu rosto sardento.
- ! – ele gritou me pegando nos braços e nos girando ao redor. – Meu deus! Parece que faz séculos que não nos vemos! Como vai a faculdade de direito? – ele parou ao ouvir o porta malas bater. Seu olhar logo foi na direção dela. Olhei para trás e pude ver Sam segurando sua mala, parada, como se completamente em transe com o fato de Blake estar parado ali em sua frente. Senti-me deslocada ali no meio do caminho daquela troca de olhares tão intensa, então dei um passo para trás. Que foi nada percebida por meus amigos de infância.
- Samantha, olá. – ele falou.
- Oi. – ela respondeu pondo a mala no chão.
Blake deveria estar pensando como a ex namorada estava diferente. Seu cabelo até um ano atrás estava curto e repicado, hoje, comprido. Ela tinha mais algumas tatuagens espalhadas pela pele. Mas seus olhos verdes continuavam os mesmos, e ele sabia disso.
- Samantha, eu estou feliz que tenha vindo... Eu... – ele não foi capaz de terminar, pois foi interrompido por uma voz melodiosa que vinha de trás de nós. Uma garota magra e alta estava sorrindo em nossa direção.
- Blake, querido! Suas amigas chegaram! – ela falou sorrindo ao se aproximar mais.
- Meninas, essa é a Audrey, minha – ele limpou a garganta e sorriu ao envolver a cintura de Audrey com o braço - noiva.
- Você deve ser . – Audrey me olhou e eu concordei. – E você Samantha! – ela se virou para a minha amiga, com um sorriso lindo no rosto, que mostrava todos os seus dentes perfeitamente brancos e alinhados. Ela parecia à versão real da Barbie. Alta, magra, loira e simpática demais para o próprio bem.
- Culpada... – Samantha sorriu, tentando dar uma quebrada no gelo.
- Ah meninas, vocês não sabem o quanto eu ouvi falar de vocês duas... Blake fala tanto de vocês, sinto que já as conheço.
Fingi um sorriso e andei até a minha amiga, segurei sua mão, tentando passar o mínimo de conforto que eu pudesse dar naquela situação tão peculiar em que nos encontrávamos. Blake estava vermelho e eu não sabia o porquê.
- Espero que só tenha falado coisas boas... – Samantha falou e olhou para o ex, que tinha os olhos arregalados.
- Claro! Por isso mesmo as escolhi como madrinhas.
- É O QUE... – Samantha berrou, quase me deixando surda. Mas o seu comentário super alto não me assustou tanto quanto o comentário da noiva.
- Como? – falei, também tentando entender.
- Blake me falou tanto de vocês, contou historias da infância que compartilharam... Vocês simplesmente precisavam ser nossas madrinhas. – ela sorriu. – Hum... Blake não as comunicou disso ao mandar os convites?
- Eu sinto informar, mas não. – falei rapidamente, não dando tempo de o meu amigo inventar uma desculpa.
- Blake! – ela gritou, se voltando contra o noivo.
- Desculpe! Eu estava tão absorto com os preparativos que acabei esquecendo.
- Esqueceu de avisá-las sobre serem nossas madrinhas! Blake, você sabia que isso era importante para mim. – ela deu um tapa no peito dele. Podia jurar que os olhos dela estavam se enchendo de lágrimas. Olhei para Samantha e ela arqueou a sobrancelha para mim. Estávamos presas em uma DR.
- Eu sei, me desculpe. – ele falou acariciando o rosto dela. – Desculpe meninas, eu devia ter avisado. – ele falou olhando para nós. Mais especificamente, para Samantha.
- Tudo bem. – falei por nós duas.
- Ok. – Audrey se virou para nós. – Vocês vão ficar na casa do lago. Blake disse que era onde vocês ficavam quando vinham na infância, então não irão se incomodar, não é?
- Claro que não. – Samantha falou. – Eu adoro aquela casa. Para mim, a vista do lago é muito mais bonita lá do que na casa principal.
- Ai que bom. – Audrey falou visivelmente aliviada. – A casa principal esta ocupada com outros convidados... Mas não se preocupem! – ela se apressou em dizer – Outro convidado estará lá para não ficarem sozinhas.
Arregalei meus olhos. Será...?
- Eu vou levar vocês até a casa... – Blake falou e nos ofereceu um sorriso.
Audrey avisou que voltaria até a casa principal a fim de terminar alguns preparativos e logo seguiu seu caminho.
Nós acompanhamos Blake até a casa do lago. A casa que passamos boa parte de nossas férias. Eu não vinha a este lugar desde os meus quinze anos, e mesmo assim, quase nada estava diferente. Eles ainda mantiveram o balanço de pneu no velho carvalho que fez Blake cair e quebrar o braço quando tínhamos 9. Ainda tinha a árvore em que eu me pendurei com e demos nosso primeiro beijo quando tínhamos treze. Será que as iniciais dos nossos nomes ainda estavam na árvore?
... Será que ele estava bem? Será que esta aqui?
Seguimos todo o percurso em silêncio. Muita coisa na cabeça de nós três para que conseguíssemos abrir a boca.
Assim que cruzamos a porta da sala acabei mergulhada em memórias que pareciam ter acontecido séculos atrás. A mobília ainda era a mesma, assim como a decoração.
- Então... Quem vai ser o nosso colega de casa? – perguntei forçando um sorriso. Samantha olhou para mim por cima do ombro.
- Algum tio da Audrey. – Blake falou e eu fiz um muxoxo, concordando. Olhei para eles, e meus amigos pareciam precisar de um tempo sozinhos.
– Eu sei qual é o meu quarto de sempre... vou lá desfazer a minha mala... – falei e subi as escadas antes que eles falassem algo para me fazer ficar.
Corri escada acima e entrei no meu velho quarto de sempre, terceira porta a direita. Ele ainda tinha cheiro de produto de limpeza pinho e eu logo não me senti tão ansiosa. Abri a janelas e as cortinas, pus a mala encima da cama e comecei tirar meus pertences de dentro. Tudo estava dentro da sua normalidade. Eu cantarolando a melodia de alguma musica qualquer do the weeknd enquanto desfazia a mala, até o cheiro que eu sentia não ser mais de pinho. Ele passou a ser de pós barba. O mesmo cheiro de pós barba que uma garota de 14 anos deu ao seu amigo como presente de natal. Ela lhe deu aquele produto justamente por ele ter um barquinho no vidro e ela conhecia o sonho secreto do menino de velejar para longe de tudo um dia. Minhas mãos começaram a tremer com a memória que me acertou como um tiro. Ele ainda tinha esse poder sobre mim. Não é justo! Eu trabalhei tão duro durante esses anos, me preparando para ignorar qualquer sentimento remanescente e o meu corpo me trai assim!
- Vejo que ainda usa o mesmo pós-barba. – falei alto o suficiente para que ele escutasse, tentando parecer casual enquanto me orgulhava do fato da minha voz não ter tremido do mesmo jeito que as minhas mãos estavam.
- Eu continuo comprando desde que ganhei de natal, trás boas lembranças. – falou e eu quase desmaiei. A voz não havia mudado muito. Mas parecia muito mais madura agora. Me virei devagar e o olhei pela primeira vez depois desses longos anos. A alteração da pressão naquele quarto era palpável assim que nossos olhares se cruzaram.
Ele ainda era o mesmo, mas estava diferente, isso é possível? O cabelo dele estava um pouco mais comprido e parecia mais claro do que a ultima vez que o vi, a barba estava grande, ele estava mais forte fisicamente e parecia um pouco mais alto, além de estar com um bronzeado de dar inveja a qualquer um. Mas os olhos... Ah, os seus olhos... Ainda eram iguaiszinhos aos do menino que eu conheci e isso simplesmente me assustava. Seus olhos mostravam todos aqueles sentimentos intensos que me deixavam excitada e que me sussurravam que só eu, apenas eu, poderia ajudá-lo. Mas eu sabia que não era verdade, eu já havia tentado.
estava casualmente escorado no batente da porta, o rosto estava ligeiramente virado na minha direção, com um sorrisinho que me fazia tremer na base.
- ... Quanto tempo... – pigarreei enquanto cruzava meus braços.
- Pois é... – foi tudo o que ele me respondeu. Ele adentrou o quarto, sem se importar com um convite.
- O que faz aqui? – perguntei.
- O mesmo que você. Fui convidado para o casamento, não sou um penetra. – ele falou, me dando um sorrisinho. Ele deu um passo para frente, suas mãos nos bolsos. Mas eu, sem perceber, dei um passo para trás. Ele parou. – , olha...
- Não quero desculpas, sei que foi convidado para o casamento. Quero saber o que faz no meu quarto.
Ele ficou quieto por um tempo, talvez pensando que sua aparição repentina iria me deixar como uma adolescente apaixonada novamente. Deixou, mas eu tentaria o meu melhor para não transparecer.
- Ouvi pela noiva barulhenta do nosso amigo que vocês haviam chegado e resolvi vir dar um oi. Então... Oi.
- E já deu oi para a Sam?
- Não...
Bufei. Lágrimas queimavam meus olhos. Por longos quatro anos acreditei que estaria pronta para esse momento. Que assim que eu pregasse os olhos nele iríamos nos casar, ter filhos, um cachorro e uma casa com piscina. Agora, tudo estava prestes a explodir ao meu redor e eu não tinha como me proteger.
- ... – ele murmurou docemente enquanto novamente andava na minha direção, mas dessa vez não fui eu quem impediu, foi um terceiro que invadia o nosso universo quase que sagrado.
- Gente, que bom que já se viram, o almoço está pronto. Vamos comer? – Blake anunciou, afoito, não se dando o trabalho de entrar por completo, apenas pôs a cabeça no quarto e sumiu no segundo seguinte.
- Estamos indo. – falei e dei um olhar cheio de significados para , antes de seguir nosso amigo para a casa principal. Eu não olhei para trás, mas sabia que estava ali e que não desviava os olhos do meu corpo.

Ocorreu tudo normalmente, tudo o que se espera de um encontro cheio de desconhecidos em um almoço nas vésperas de um casamento. Samantha sentou ao meu lado e ficou quieta, vez ou outra olhava para mim e me dava um sorriso reconfortante toda vez que o primo abria a boca, mas sua atenção total estava nos noivos. Enquanto, do outro lado da mesa, me deixava claro que a sua atenção pertencia a mim. Eu estava a ponto de virar aquela mesa e ir embora.
A mãe de Blake fez várias perguntas para Samantha e eu sobre a nossa vida. Faculdade, os nossos pais, vida amorosa... Tudo com a intenção de saber como as coisas iam, afinal, não nos víamos desde a nossa formatura da escola. Respondemos normalmente. Até o foco da conversa voltar para .
- Vai tudo bem... Meu pai continua sendo o prefeito e eu acho que vai se reeleger. – ele parou um pouco para pensar. – Eu viajei bastante, aprendi muitas coisas além de novas línguas e culturas. Foi realmente um tempo fantástico. Eu fiz faculdade de artes na Austrália e vou começar a expor as minhas peças em uma galeria em Nova Iorque... – ele sorriu e todos começaram a parabenizá-lo. Fiquei feliz, ele sempre foi muito bom nisso e a imaginação e criatividade corriam em suas veias.
Minha mente divagou o resto do almoço com as novas informações sobre a vida de , até eu ver um pedaço de guardanapo com algo rabiscado nas mãos de Samantha. O fato de ela o esconder embaixo da mesa para ler apenas me deixou mais curiosa. O que diabos era aquilo? Estiquei meu pescoço e tentei ler algum fraguimento daquele bilhete e consegui entender apenas ‘’teca’’. O que é teca? Biblioteca? O que esta acontecendo aqui?
Quando o almoço acabou e cada um foi para um lado, me vi em frente a biblioteca. A curiosidade sempre foi o meu ponto fraco. Entrei sorrateiramente na sala e olhei para todos os lados. Nada, ninguém. Nem mesmo alguma sombra. Bufei e me virei, mas acabei dando de cara com parado na porta.
- Credo! O que você ta fazendo aqui? Me espionando?
- Eu? Não seria capaz de fazer algo assim. Mas... o que você faz aqui?
- Eu li em um bilhete que dizia para Samantha algo sobre a biblioteca, vim investigar. – tentei passar e ir até a porta, mas ele não me deu espaço.
- Você não ainda deixou esse hábito para trás?
- Quer parar de me julgar? Cai fora daq... – a maçaneta da porta se mexer fez eu me calar, olhei desesperada para , que rapidamente me empurrou para dentro do armário que tinha ali, ficamos colados demais para a minha própria sanidade mental. Quando Blake entrou ali seguido por Samantha, eu não pude evitar arregalar os olhos. Sério, o que estava acontecendo?
- Precisamos conversar...
- Concordo. – disse Samantha. – O que você quer?
- Eu queria falar com você... só com você...
- E a sua noiva? – Blake ficou quieto. Samantha mexeu a cabeça em um aceno e deu as costas.
- Sam, espera. – ele foi atrás dela. – Ainda precisamos conversar.
- Não, não temos. – ela falou firme, se soltando do aperto que a mão dele dava em seu braço. – Nem deveríamos estar aqui sozinhos... - Samantha implorou. Sabia que ela estava chorando e se não fosse o olhar de queimando em meu rosto, me alertando para não me mexer, eu já estaria lá fora dando um abraço de urso na minha amiga.
- Eu não sei o que fazer! – Blake gritou mas logo se recompôs, lembrando que não podia ser ouvido ou então seu esconderijo seria revelado para quem quer que estivesse do lado de fora daquela sala. – Eu não te via a muito tempo e não demorou nem vinte minutos para eu perder completamente a minha sanidade e te beijar. – ele falou mais baixo dessa vez, mas completamente audível para nós, mesmo estando dentro do closet. e eu trocamos um olhar de surpresa.
- Eu que te beijei, Blake, por isso mesmo eu peço que não fale nada. Seu casamento é amanhã, caramba! Vai destruir tudo por uma coisa que não durou nem três segundos?
Meu amigo permaneceu quieto digerindo o que Samantha havia dito.
- Nós vamos voltar para a sala, eu vou experimentar o vestido de madrinha... – ela parou por um tempo, provavelmente procurando pelas palavras certas. – Você vai ser o melhor noivo do mundo e vai deixar o que aconteceu para trás. – ela falou e rapidamente saiu do recinto. Demorou um pouco até Blake fazer o mesmo.
Sai do armário ainda sem acreditar no que eu havia ouvido. E agora?
- Isso foi intenso... – murmurou.
- Intenso é apelido.
- Se a tia ouvisse isso, iria dar um sermão eterno na Samantha. – Ele falou tentando fazer graça, o que não rolou. O olhei com a sobrancelha arqueada. - Bem, como ainda não podemos sair, se não vão descobrir que estivemos aqui, vou logo perguntar: e nós?
- Hein? – me virei para ele.
- E nós? Quando vamos conversar?
- Sobre o que? – pisquei.
- Não se faça de burra, pois isso você não é!
- Eu não quero conversar com você.
- Te conhecendo como eu conheço, sei que passou os últimos anos pensando no que me diria e para onde iria me mandar no momento em que me visse. – ele falou. – Saiba que eu não deixei de pensar em você desde que parti.
- Então porque partiu? – respondi rápido, sem nem perceber, o que o pegou de surpresa. – Você nem disse adeus, simplesmente foi...
- Eu não sabia como fazê-lo – ele simplesmente deu de ombros, como se aquilo não fosse importante.
- Devia ter encontrado uma maneira. – falei e dei as costas e saindo pela porta rapidamente, não lhe dando a chance de vir atrás de mim. Sabia que não poderia adiar aquilo para sempre, em algum momento teríamos que falar, mas eu não queria e não tinha forças para ser naquele momento.
- Querida! Você está ai! – Audrey apareceu do nada no corredor, me dando um grande susto. – Vem, vamos experimentar os vestidos e eu quero que o seu esteja perfeito.
Audrey me levou para o quarto em que ela estava dormindo. Não me surpreendi ao entrar e ver um monte de mulheres, inclusive Samantha, que mantinha sua cara emburrada, abraçada a um vestido cor pastel.
- Meninas, a outra madrinha chegou. Tatiana, por favor, faz os ajustes dos vestidos em Samantha e . – Audrey falou e logo foi até um grupo de meninas de mais ou menos a mesma idade que a nossa.
Uma senhora, provavelmente Tatiana, veio em nossa direção e me alcançou um vestido igual ao de Sam.
- Vocês podem se trocar ali no banheiro. – ela disse gentilmente e eu puxei minha amiga pela mão ate lá e tranquei a porta, pois além de precisarmos nos trocar, precisávamos conversar sobre coisas que a noiva até então não podia saber.
- Então... Como foi com o Blake? – perguntei enquanto tirava a roupa. Eu falaria com ela sobre o que houve na biblioteca apenas se ela me falasse sobre, afinal, não era para eu ter ouvido nada daquilo. Ela continuou tirando a dela normalmente, sem mudar as expressões nem nada. Sempre soube que as aulas de teatro que freqüentamos aos treze anos adiantaram mais para ela do que para mim.
- Normal. – deu de ombros. – E o ?
- Nem sei, não quero conversar com ele sobre sentimentos. Pelo menos não ainda... – Murmurei e ela me ajudou a puxar o fecho.
- Sabe que não precisa, você pode apenas ignorar aquele idiota do meu primo. – Ela falou enquanto eu puxava o dela, e isso me pegou de jeito. Eu não queria ignorar, mas também não queria conversar. Será que eu posso apenas ficar sentada com ele em silêncio pelo resto da eternidade?
Saímos do banheiro e todos os olhares foram em nossa direção.
- Vocês estavam juntas no banheiro? – uma menina morena perguntou.
- Ahn... Sim... Nos trocamos uma na frente da outra desde sempre. – as garotas na sala trocaram um olhar e nós também. O que se passava na cabeça delas?
Andamos até Tatiana e ela fez os ajustes em nossos vestidos, melhorando o comprimento e outras coisas a pedido de Audrey. Tudo deveria estar perfeito.
O resto do dia foi puxado, tivemos que ajudar a montar algumas coisas para a cerimônia que aconteceria no dia seguinte. Ajudamos no que podíamos, mas para ser sincera, se eu soubesse que eu teria que fazer trabalho braçal, eu nem teria vindo. Tivemos um jantar requintado, com direito a terno e vestidos bonitos, pessoas aleatórias fazendo brindes e bebendo bastante. Audrey parecia ter perdido toda aquela sua alegria, estava calada e reservada, apenas falando com quem lhe dirigia a palavra mas sorrindo para todos. Felizmente, quase não vi , sempre que ele aparecia no meu campo de visão, eu dava um jeito de escapulir do local. Logo após essa pequena festa, cada um foi para um canto. Samantha, um desconhecido e eu, para a casa do lago.
Tomei um banho quente e fiz de tudo para relaxar, mas de alguma forma, eu não conseguia. Me virei para todos os lados que eu podia na cama, passei o que me pareceram horas olhando para o teto branco e morri de medo com os galhos na janela, que me assustavam desde que eu era criança. Precisava ver alguém, qualquer um, menos o , é claro. Talvez isso tirasse a ansiedade que se alastrava em mim e fazia o meu peito doer. Andei descalça, pé por pé, até o quarto de Samantha, mas por minha surpresa, ele estava vazio.
- Ela saiu já faz um tempo. – uma voz me alertou e eu não pude deixar de soltar um grito. – Calma, sou eu! – segurou os meus braços.
- O que você ta fazendo aqui? – perguntei com a mão no peito. – Não devia ser sei lá quem da Audrey?
- Eu troquei de quarto com ele.
‘’Ah, que ótimo’’ pensei. Nada aqui estava ao meu favor.
- Bem, já que ela não esta aqui, vou tentar dormir. Boa noite...
- Também esta sem sono? – ele perguntou, a voz baixa. Apenas concordei com a cabeça. Ele também o fez, olhando para o chão. – Quando vai criar coragem e falar comigo sobre tudo o que a esta assombrando? – Engoli seco. Socorro.
Dei as costas e entrei no meu quarto, no meu encalço.
- Quatro anos... – sussurrei, virada para a janela, olhando para os galhos que sempre me deram tanto medo, assim como esse momento que finalmente havia chegado. – Você sumiu... Nunca me deu nenhuma notícia, nem um adeus decente... Só avisou que ia e foi. – Olhei para ele por cima do ombro. Não conseguia mais evitar as lágrimas e elas desciam por meus olhos sem controle. O rosto dele estava vermelho e ele travava o maxilar, algo que eu aprendi com o tempo, que era o jeito dele de evitar o choro.
- Eu não sabia o que lhe dizer. – ele evitava me olhar. Bufei.
- Porque nunca ligou? – Ele ficou em silêncio por um tempo.
- Me desculpe nunca ter ligado. Eu precisava focar em reconstruir a minha vida. – Ele falou e pareceu sincero. Eu não sabia o que dizer. – E agora... Eu finalmente estou limpo, feliz com quem sou. Posso dizer que estou de pé por conta própria, com meus dois pés. – Concordei levemente, mas ele parecia necessitar que eu lhe falasse algo. Eu estava lutando para manter meu coração batendo, a esperança nos olhos de parecia estar morrendo aos poucos com o tamanho do meu silêncio. Tristeza e arrependimento maculavam aquele rosto perfeito.
- Como você ousa vir aqui e me testar assim? Quem pensa que é para me falar essas coisas? – falei firme, as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Falar aquilo para ele foi a mesma coisa que lhe dar um tapa. Quem sabe até pior. Seu rosto ficou mais vermelho ainda, se isso era humanamente possível.
- Eu não estou tentando te testar, estou te falando a verdade. – Ele respondeu calmo.
- Você me deixou, ! Me abandonou!
- Você sabe os motivos! Eu estava fazendo muitas coisas erradas. Amigos perigosos, drogas. Meu pai fez o que pode pra me ajudar. Eu só não queria te envolver mais do que já estava.
- A gente podia ter tentado continuar juntos, tem tantas formas, skype, FaceTime...
- Acha mesmo que um relacionamento a distância seria a solução dos nossos problemas?
- Não sei, você nem me deu tempo de pensar nessa possibilidade quando foi embora!

- Ah, tudo bem. Imaginemos como ele seria. Eu te ligo falando da Austrália e dos animais monstruosos que apareciam no meu quintal todo dia. Você me diz sobre o seu dia e como os seus pais não paravam de brigar... – ele falou e balançou a cabeça negativamente. – Me diga, , você consegue imaginar isso acontecendo? Pois eu não consigo.
- Você não precisava ter desaparecido. – disse fungando. – Eu teria te seguido para qualquer lugar que me guiasse. – gritei desesperada. Ele não demorou a encurtar o nosso espaço e me segurar em seus braços, me abraçando, depois de tanto tempo. – Só me diz, por que nunca me deu um adeus?
- Eu dei! – ele confessou. – Enquanto você dormia...
- ENQUANTO EU DORMIA? – gritei lhe empurrando, o afastando de mim. – EU TE AMAVA! – confessei em fúria, a primeira vez que dizia isso para ele, pelo menos com palavras.
Ele caiu de joelhos e abraçou as minhas pernas. Ele estava... Soluçando?
- Eu te amava... Eu amo. – ele confessou em seu choro desesperado. Eu apenas pus a mão em seu cabelo e acariciei. Eu não tinha mais nada para dizer.
Deixei ele chorar o quanto quisesse, o conheço muito bem para saber que ele não chorava nunca e que ele precisava por aquilo para fora. Depois de um tempo ele levantou e abraçou o meu torço, o choro de ambos se acalmando.
- Senti saudades... – ele falou em meu ouvido e eu concordei com um aceno de cabeça. Nem tinha como por em palavras o quanto eu senti falta dele.
- ... – o chamei e prontamente ele me olhou. – Por que nunca assumiu um relacionamento comigo? – O olhei nos olhos – Você realmente me amava?– sussurrei.
Ele me olhou sério e então me puxou para sentar na cama.
- É claro! Eu nunca deixei de te amar. – Ele me olhou intensamente, ele parecia sentir um certo alivio em revelar isso em voz alta após tanto tempo. – Desde que você chegou na minha vida, eu me sentia mais leve. Você foi a única pessoa que não esperava nada de mim. Com você, eu nunca tive que fingir ser outra pessoa. – Ele segurou as minhas mãos nas dele e sorriu de leve. - Você sabe como eu me sentia perante a minha família. Quanto mais meu pai subia nos cargos políticos, menos privacidade meus pais e eu tínhamos... Eu vivia em uma casa de só três paredes, todos sabiam quem eu era, todos criavam expectativas sobre mim. Eu sentia que se eu assumisse um relacionamento com você, você seria tão infeliz quanto eu.
Eu sabia de tudo isso, mas precisava que a resposta viesse da boca dele. Eu sabia de tudo. Da depressão que ele lutava contra desde a infância, dos vícios, das amizades erradas. Esses foram os motivos que o pai dele resolveu o tirar das nossas vidas e o mandar para fazer um intercâmbio de tempo indeterminado na Austrália.
- Sabe que a escolha deveria ser minha. – Ele me olhou, parecia o mais perdido dos seres humanos, mas concordou.
Ficamos em silêncio por mais um tempo, porém, ele deixou de ser desconfortável para nós. Ficamos ali, abraçados.
- E agora? – ele sussurrou de repente, me tirando do transe em que eu me encontrava.
- Para nós... Não há um agora. – ele me olhou alarmado, pela sua feição, era quase como se eu tivesse falado em outra língua. – Eu tenho que pensar em muita coisa. Eu passei anos acreditando que tinha feito algo errado. Você ir embora sem um adeus foi a coisa mais dolorosa pela qual passei. Além de me sentir completamente abandonada, fez eu sentir como se eu nunca tivesse sido boa o bastante. Eu não posso me permitir ouvir você fazer juras de amor e me entregar de bandeja. – segurei o rosto dele com as duas mãos. – Eu te conheço bem demais, , mais até do que eu gostaria. Você está sempre indo e vindo, é algo que está em você, na sua natureza. – limpei uma lágrima que escorria pelo seu rosto. – Eu sempre soube que você voltaria e isso me impediu de seguir em frente, de ter uma vida. Agora que esta aqui, eu tenho a chance de fazer isso, pois já não vou mais te esperar. Eu só preciso de um tempo para colocar as ideais no lugar. - Vi ele fechar os olhos e por a mão por cima da minha em seu rosto, a acariciando. – Se você quer mesmo alguma chance, me de um espaço. Tente me conquistar novamente.
- E como eu faço isso? – sussurrou, a voz estava fraca.
- Você já fez isso. – sorri – Apenas reviva aquele menino que usava band-aid do homem aranha sem ter nenhum machucado, apenas por achar legal. – ele soltou uma risada e eu encostei a testa na dele. – Você esta aqui agora, comigo. E é tudo o que eu preciso saber neste momento. – ele concordou levemente. – Deita aqui comigo, me abrace agora e deixe as coisas acontecerem. Me proteja dos galhos que batem na janela como fazia quando éramos crianças.
- Você chorava quando chovia... Eu tinha que vir dormir com você. – ele sorriu com as lembranças e isso me deixou feliz. O menino pelo eu me apaixonei a tanto tempo atrás ainda estava lá, apesar de tantas escolhas erradas que o eu adulto dele havia feito.
- Esses galhos são assustadores!
- Sim, eles são. – sorriu e deitou na cama comigo em seu peito. – Eu vou te manter protegida e ficarei com você até dormir. – Sorri agradecida, e como um passe de mágica, dormi.
Quando acordei pela manhã, sorri ao constatar que ele estava ali, dormindo ao meu lado. Logo o acordei para nos prepararmos para o casamento do nosso amigo de infância, afinal, ele também era um dos padrinhos. Não vi Samantha em lugar algum da casa, mas a achei arrumada no local que o casamento aconteceria.
- Sammy, esta bonita! – sorriu ao se aproximar dela. – Nem parece aquela menina desengonçada.
- Cala a boca, primo. – ele gargalhou com a resposta afiada dela, que logo riu junto.
- Sério, esta bonita. Não é de se surpreender que somos da mesma família. – ela sorriu em agradecimento e lhe mostrou a língua, mas logo nossa atenção foi tomada pela dama de honra que chamou a nós e Blake para irmos em um lugar importante. e eu trocamos um olhar ao percebermos Audrey parada na varanda da casa principal, sem o seu vestido de noiva.
- Audrey? O que esta acontecendo? Por que não esta vestida? – Blake perguntou e o resto de nós ficou parado a alguns metros de distância.
- Blake, não vai haver casamento. – arregalei meus olhos e olhei para Samantha, que tinha os olhos vidrados no casal.
- Como assim?
- Blake, não podemos nos casar. – ela falou e segurou as mãos dele. – Eu te amo, Blake. Do fundo do meu coração. Mas você não me pertence. Nunca pertenceu... E eu não vou ocupar o lugar dela. – ela revelou e eu fiquei chocada.
- Mas...
- Eu estou voltando para Chicago com a minha irmã agora, meus pais vão cuidar de avisar os convidados de que a festa acabou. – ela falou e sorriu para ele, antes de lhe devolver a aliança e entrar no carro, indo embora.
Blake ficou parado, sem fazer nenhum movimento sequer, olhando para a aliança em sua mão. Olhei para Samantha, que parecia perdida. Toquei seu braço e sorri ternamente para ela ao receber seu olhar assustado.
- Vai lá, Taylor Swift. – a encorajei e ela entendeu, indo correndo para o encontro do até então ex namorado. Sorri ao presenciar o abraço desesperado que eles compartilharam.
O dia passou nos rendendo muitas emoções. Convidados zangados por não ter casamento, outros reclamando que apenas vieram pela comida e agora não teria nenhuma. Mas eu estava feliz por meus amigos, porém triste por Audrey. permaneceu ao meu lado o dia todo, como minha sombra e eu só podia rir disso. Parecia que ele queria compensar os anos que foi embora permanecendo ao meu lado o tempo inteiro. Porém, como não haveria festa, resolvi voltar para casa mais cedo. Dessa vez sozinha, já que Samantha ficaria ali com Blake. Me despedi de ambos lhes desejando felicidades, veria minha amiga só quando voltássemos a faculdade depois das férias. Me despedir de não foi tão difícil quanto eu achei que seria.
- Vê se me manda um cartão postal. – sorri fechando o porta malas.
- Vou te mandar uma nude.
- Seu tosco! – ele caiu na gargalha e me puxei para um abraço, aproveitando para beijar o meu pescoço.
- Eu vou ir te ver daqui dois dias quando eu voltar para casa, eu prometo. E vou recuperar o seu amor.
- Você nunca o perdeu. – sorri e beijei sua bochecha antes de entrar no carro e começar a minha viagem que me levaria de volta a casa dos meus pais, me sentindo tão leve quanto jamais me senti.

Três meses depois

Agradeci o taxista ao sai do carro e olhei para o prédio que havia a exposição. Adentrei o local e sorri com as obras que estavam ali. Sempre soube que tinha talento.
Andei pela galeria tentando me misturar ao pessoal que estava lá, mas era um pouco difícil, pois praticamente todos os quadros expostos tinham o meu rosto. Vaguei, pelos corredores e finalmente o vi, parado em frente a um quadro. Sorri sem perceber e andei até .
- A modelo tem desconto nos quadros? – Perguntei e ele se virou surpreso. Seus olhos brilharam ao me ver parada a sua frente.
- ... Você está aqui... Como...
- Eu peguei um avião, ué. – sorri.
- Você veio de Charlottesville até aqui? – Ele sussurrou, quase que não acreditando.
- Sim. Por um acaso eu conheço a prima do artista e ela me falou o endereço.
Ele parecia extasiado e nervoso. Quase como se não soubesse o que fazer.
- Vi que você me usou como modelo. Bem, eu e todos que estão aqui percebemos.
Ele ficou vermelho e deu uma risadinha sem jeito.
- É... Usei. Espero que não se importe.
- Claro que não. – Me apressei em dizer.
Logo o silencio começou a ficar esmagador.
- Você sumiu. – Ele constatou e eu concordei com um aceno.
- Eu disse que precisava de um tempo.
- Tudo bem, eu entendo. – Ele sorriu de lado.
- Então... – Pigarreei. – Qual o nome da obra?
Ele me olhou intensamente, todos os sentimentos que ainda nutríamos um pelo outro falando por si só naquele olhar que compartilhávamos.
- Minha Amada Imortal. – Ele falou suavemente.
Não agüentei, eu precisei me jogar nos braços dele. Precisava beijá-lo! Ele me segurou como se nada mais no mundo importasse, como se finalmente tivéssemos encontrado nossa casa novamente. Um no outro. E havíamos. Ele seria sempre meu, eu sempre dele e isso para sempre nosso.


FIM



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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