13. From Home

Finalizada em: 13/06/2022

Capítulo Único

Guri, Coreia do Sul, 2017
Os irrigadores tinham sido ligados recentemente, deixando a grama com um aspecto bonito. Ele observava com detalhe como o lugar estava bem cuidado. Caminhou até parar em frente às flores, sorriu ao olhar a fileira à sua frente, com flores diferentes umas das outras. Cada uma representava algo diferente para ele; se abaixou, ficando mais próximo da altura delas, e chegou perto o suficiente para cheirar a primeira delas. A tulipa azul chamava a atenção de longe, sua cor era bem forte, assim como as coisas que ela trazia.

Guri, Coreia do Sul, 2005
A escola tinha encerrado suas aulas um pouco mais cedo aquele dia, devido a algum evento que ele não lembrava direito qual seria agora. saiu correndo pelos corredores até chegar ao portão do local, se ajeitando para não parecer que ficou ansioso para ir ao encontro dela. Ao seu lado, no jardim da escola, a cor vibrante da flor azul brilhava. A flor tulipa tinha seu toque especial, embora, para ele, não se comparasse à cor dos olhos da garota ou ao cheiro que exalava do cabelo dela quando o vento batia. Ele não tinha reparado tanto por conta do nervosismo, ela apareceu logo em seguida, conversando animadamente com duas colegas de classe, vestindo o uniforme, ele sempre ficava paralisado quando ela aparecia
— Cara, você tem que falar com ela. Vai ficar para sempre nessa?
Seu amigo, que se encontrava com uma mão no seu ombro naquele momento, pronunciou, chegando por trás, quase imperceptível para .
— As coisas não são simples assim. — ele coçou sua cabeça, pensativo, logo depois repetindo: — As coisas não são simples assim.
— As coisas não são simples ou você que complica?
— Não é complicar, é só que é tudo muito novo, eu...
A frase não teve um fim, foi finalizada com um suspiro longo, ele não sabia na época, mas aquela seria a primeira das muitas das primeiras vezes que compartilharia com ela. Naquela situação, era a primeira vez que se apaixonava, e ele ainda não sabia, mas também se encaixava na primeira vez que era correspondido.

Guri, Coreia do Sul, 2006
Eles já eram amigos a algum tempo, nenhum sabia dos sentimentos que tinham um pelo outro. disfarçava isso muito bem entre os colegas e ele fugia quando alguém tocava no assunto ou em algo parecido com isso, mas seus amigos estavam dispostos a fazer os dois se declararem. Já fazia algum tempo que o grupinho sempre ia embora junto para casa, sempre da mesma forma, mas naquela terça-feira específica, no meio da primavera, cada um deles tinha inventado uma desculpa para o casal de amigos poder fazer o trajeto sozinho.
Os dois sempre ficavam muito à vontade na companhia um do outro, sempre conversavam sobre assuntos diversos e davam risadas, mas naquela tarde algo estava diferente neles. O caminho foi mais tímido, ele não pôde deixar de notar como ela ficou bonita quando eles passaram pelo corredor do parque e as folhas rosadas das arvores que caíam levemente uma a uma a deixaram, ali, naquele momento, mais linda do que ele nunca tinha visto, sem nenhuma maquiagem, vestindo seu uniforme, era assim para ele a garota mais linda.
Levaram cerca de meia hora, o passo estava diminuído, apesar do clima diferente, era como se eles quisessem aproveitar ao máximo aquela oportunidade de estarem sozinhos. Ao passaram por outro parque, esse que tinham folhas brancas espalhadas por todo o chão, se lembrou de uma aula que teve sobre isso, o nome da flor era fresia, compartilhou isso com mais tarde. Ela parou no meio do chão coberto, chamando a atenção do garoto, o fazendo parar também.
, .
?
— Tem algum problema eu chamá-lo assim?
Bia sentiu suas bochechas quentes por ter soltado o apelido daquela forma.
— Claro que não, eu gostei.
Ele sorriu.
, eu gosto de você.
Ele entrou em estado de choque pela forma direta com a qual ela tinha dito aquilo. “Eu gosto de você”, era isso, isso que ele tem esperado ouvir desde a primeira vez que a viu.
Parece que ele ficou mais tempo do que imaginou sem respondê-la porque sua expressão assumiu um tom decepcionado, as emoções eram assustadoras, mas ele sabia que isso poderia incluir seu coração imaturo. Um dia ele iria se lembrar daquele momento como uma lembrança boa, sorriu.
— Eu também gosto de você, Bia.
Ela pareceu surpresa também.
— Sério?
— Sim, desde sempre.
Ele deu um passo para cada palavra que mencionou, ficando assim mais próxima da garota. Antes, mal se imaginava falando com ela. Bia ansiou por essa aproximação por muito tempo e como a leveza das poucas flores que restaram nas árvores caindo, o primeiro beijo deles aconteceu, não o primeiro compartilhado entre eles, mas o primeiro de todos, como a primeira vez se declarando.


Guri, Coreia do Sul, 2009.
Eles tinham acabado de entregar a identidade para o segurança do bar, que liberou a entrada sem maiores problemas, afinal, eles tinham acabado de conseguir a maioridade. Ela puxou pelo braço, animada com a nova experiência, a nova primeira vez que estavam compartilhando juntos, nunca tinham ido a um bar, e apesar da empolgação, eles estavam meio perdidos, sem saber completamente como funcionavam as coisas ali
O som do bar estava estupidamente alto, eles tinham que ficar bem perto um do outro para conseguir escutar as coisas. Não que fosse um problema para qualquer um dos dois, desde que haviam assumido o que sentiam um pelo outro e começado um relacionamento, viviam sempre perto. Para aquela experiência ser completa, eles decidiram, horas antes de irem para o local, que aquele seria o dia da primeira vez de tomar álcool. Eles riam enquanto as pessoas passavam com seus drinks das mais diversas cores e apesar de parecer que estavam rindo delas, eles estavam rindo um do outro porque não sabiam nada sobre o assunto e não tinham ideia do que falar para o bartender.

, por favor! Vai lá!
— Eu não acredito que você está tentando me convencer com meu apelido.
— Você adora ele.
— Claro que eu adoro, você que me deu.
Ela sempre admirou como seu namorado era fofo em todas essas pequenas coisas.
— Você pode ir lá, por favor? — ela apontou para o bar.
— Você não precisa de muito para me convencer, Bia.
Ela sorriu docemente para ele, recebendo um selinho. Em seguida, ele se afastou para ir pedir qualquer que fosse a bebida alcoólica que eles fossem tomar.
Ele esticou o braço algumas vezes, tentando chamar a atenção.
— Pelo jeito, você não frequenta muitos bares. — O homem atrás do balcão, limpando uma taça, soltou em alto e bom tom.
— Está tão na cara assim? — Ele riu sem graça.
— Está sim. — Os dois se entreolharam e riram. — Mas me diz, o que você quer?
— Aí que está! Eu não tenho ideia.
— Você não tem muita experiência mesmo.
— Você poderia, sei lá, sugerir algo? Eu e minha namorada não sabemos muito sobre, não conhecemos muito.
— Claro! Já que é para sua namorada, eu sugiro esse aqui. — Seu dedo foi parar em uma linha específica do cardápio plastificado em cima do balcão.
— La Rose? — perguntou, tentando ler o que ia na mistura.
— Sim!
— Bom, eu não sei de nada, cara, então vou confiar em você.
— Obrigado! Sabe, esse drink tem algo em especial, ele não tem só no nome a flor, ele vem realmente com uma rosa. Quando os caras aqui descobrem isso, compram bastante tentando usar como um “plus” — ele fez aspas enquanto procurava as bebidas — para as cantadas deles.
Ele riu, se imaginando tentando conquistar Bia daquele jeito. A olhou por um momento, pensando em como sua namorada, com sua personalidade, o responderia. Com certeza com um fora. Ela estava dançando lindamente.
— Aqui está seu drink, cara!
O bartender o colocou perto dele no balcão. Ele estava surpreso com como uma bebida poderia ser tão bonita, a rosa vermelha com certeza se destacava do líquido escuro.
— Quanto eu te devo?
— Nada, fica tranquilo! Leva para a sua garota.
insistiu mais uma vez, mas ele disse que estava feliz em oferecer aquela experiência de graça. Ele sorriu agradecido, pegou a bebida e seguiu em direção a sua namorada, dando um gole no líquido. Além de lindo era delicioso. Ela ainda dançava e ele a observava, pensando como alguém poderia ser tão linda, como aquela rosa.
Ele chegou perto o suficiente para falar em um tom que garantiu que só ela pudesse ouvir
— Você está muito gostosa dançando desse jeito.
!
Sentiu seu braço ser estapeado de leve e sorriu, sabendo que essa era a reação que esperava dela. Se afastou para olhá-la.
— Eu realmente sou louco por você, Bia.
Ele segurou seu queixo com o polegar e o indicador, fechando seus olhos e se aproximando devagar até sentir os lábios de sua namorada. Ele não trocaria aquele beijo por nenhum outro, não suportava a ideia de ter que viver todas aquelas coisas sem ela, adorava o jeito que ela ficava na ponta do pé para poder aprofundar o beijo. Ele quase derrubou a bebida que segurava quando a abraçou pela cintura, como se ainda pudesse eliminar algum espaço entre eles, mas a bebida com a rosa vermelha balançando dentro dela continuou ali.
Eles descobriram que o espaço era inexistente, o que eles puderam e eliminaram pela primeira vez mais tarde entre eles foram as roupas, fazendo juntos a primeira vez mesmo.

Guri, Coreia do Sul, 2014.
Ele pegava seu casaco, um dos últimos detalhes que deveria colocar como vestimenta para sair com aquele clima. A outra pessoa presente na casa andava de um lado para o outro, procurando as coisas para se esquentar, o que fez rir com a sua animação. sempre viajava na época de frio da Coreia para o seu país natal, por isso, nunca tinha visto a neve. Seu país de origem tinha um clima completamente diferente do que ele estava acostumado. Ela nunca tinha visto a neve, apesar de, para algumas pessoas, isso ser tratado como algo banal, sua namorada não poderia estar mais feliz, e ele também, por estar presenciando aquilo.
Os dois já se encontravam em frente à porta, bem agasalhados. Olhando para ela, colocou o cachecol ao redor de seu pescoço, certificando-se de que fosse ficar bem quente. Deu um beijo de leve em seu nariz, observando como sua namorada ficava fofa daquela forma, ganhando uma risadinha sem graça em troca e uma tentativa de abraço, que foi um pouco atrapalhada devido à quantidade de roupa entre eles.
Aquela, apesar de ser uma das suas primeiras vezes, não deixava de ser especial, ele só não tinha ideia do quanto seria. Saiu porta a fora com ela e ela paralisou por um momento enquanto estendia sua mão para pegar os floquinhos de neve que caíam, mesmo que não fosse senti-los diretamente na pele pelo fato de estar usando luva. Ela parecia absorta naquele momento. Ele observava tudo um pouco mais distante, deixando-a aproveitar, mas pensou ter visto os lábios dela tremerem mais que o normal, junto com seus olhos, assumindo uma outra expressão. Ele correu através da neve, quase tropeçando.
— Amor, amor, tá tudo bem?
Suas mãos seguravam cada uma bochecha da garota e em seu olhar ficou claro para ela que ele estava preocupado.
— Amor, fala comigo, você está bem? Está machucada? É o frio, né? Sabia que deveria ter convencido você a colocar mais uma blusa e...
— Eu estou emocionada, .
Ele parou e olhou no fundo dos olhos que brilhavam devido às lágrimas.
— Estou emocionada por estar vendo a neve pela primeira vez e mais emocionada ainda por estar compartilhando isso com você.
Ele tinha certeza que se pudesse se olhar no espelho toda vez que recebia aquele tipo de frase de sua namorada, poderia ver um sorriso estupidamente bobo, não tinha controle de nada e com certeza não queria ter.
— Hey, amor, o que é aquilo ali?
Seus pensamentos foram interrompidos pela garota completamente agasalhada apontando para um ponto atrás dele. Ele seguiu em direção a algo amarelo que se destacava no meio do branco da neve.
— Não acredito, Bia, é uma flor.
Parecia coisa do destino como seus momentos sempre esbarravam com flores pelo caminho.
— É um girassol, estupidamente amarelo e...
— Estupidamente belo. — completou.
— Sim, como será que ele veio parar aqui?
— Não sei, mas é um mistério poético. — Ele disse levando a flor ao rosto, tentando fazer uma cara fofa, arrancando gargalhadas de sua amada.
— Amor, pensou como o girassol, que tem o próprio Sol no nome, está aqui no meio da neve?
— Sim. Ainda não sei uma resposta, mas é de esquentar o coração, sabe? Como uma daquelas coisas pequenas no meio de algo imenso, mas que, mesmo sendo de um tamanho inferior, faz toda diferença. Como alguém perdido que vê algo minúsculo, mas que te lembre...
— O lar.
Foi a vez de ela completar sua fala, completamente apaixonada pelos devaneios que seu namorado tinha de tempos em tempos.
— É assim que eu me sinto com você, Bia, como se tivesse encontrado meu lar, meu lar de primeiras vezes. — ele riu enquanto acariciava o rosto de sua amada. — Eu sinto como se eu não estivesse e nunca mais fosse estar sozinho, porque você é meu lar acolhedor e, céus, como me sinto grato de poder, ou pelo menos tentar, ser o seu.
Ele não conseguia esconder sua emoção, sentiu seus olhos ficarem marejados, lágrimas de felicidade.
— Amor, eu não sei nem como dizer como me sinto com isso, a sensação é exatamente essa, é uma honra transmitir a sensação de lar para alguém, afinal, tudo começa em casa, na nossa casa.
— Fica comigo para sempre, Bia?
— Você nem precisa me pedir isso.
Eles sorriram antes de se abraçarem desajeitadamente por conta das vestimentas. Apesar do frio e da neve, seus sentimentos os mantinham aquecidos por dentro.

Guri, Coreia do Sul, 2017
O cheiro de grama molhada estava mais forte. Não sabia dizer o tempo que passou ali, lembrando da história de cada flor que estavam em vasos separados à sua frente, dispostas em linha. A tulipa azul foi a última colocada, apesar de ter sido a primeira vez compartilhada deles ironicamente. Ele olhou a última vez para tudo que havia montado, no seu inconsciente, tinha que estar tudo alinhado.
— Sabe, eu sempre me questionei sobre como o amor deveria ser, ou como deveríamos vivencia-lo, e hoje, depois de toda nossa história, eu só concluí que nenhum desses questionamentos tem uma resposta concreta, mas eu acho que a nossa história chega muito perto disso, Bia. Eu encontrei o lugar onde me sinto confortável. Como a gente disse daquela vez, meu lar, minha casa. Eu nunca achei que fosse capaz de sentir o que eu sinto por você, eu nunca achei que alguém no mundo pudesse ter tanto poder sobre o meu coração e mesmo assim não usá-lo. Você nunca precisou, a gente sempre viveu sob o Sol um do outro, a gente foi forte quando precisou ser forte, triste quando precisou ser triste. Esse não é o tipo de conforto que temos com todo mundo, e as flores que coloquei aqui representam os momentos marcantes sobre isso, como eu amo você. — Ele sentiu sua visão ficar turva, sabia que estava ficando emocionado e respirou fundo para terminar o que queria falar.
— A sensação de olhar no espelho e perceber que o seu sorriso é o mesmo pode assustar alguns, mas para mim foi reconfortante, porque eu sabia que o motivo tudo que você proporcionou na minha vida, você se lembra no dia que você viu a neve pela primeira vez? Fazem três anos hoje, Bia. Amor, fazem três anos que você respondeu “Você nem precisa me pedir isso” quando eu te perguntei “Fica comigo para sempre?”. Que coisa, amor, eu deveria ter garantido que você disse sim, porque hoje fazem três anos desde a nossa última primeira vez juntos, a sua última primeira vez que eu pude compartilhar pelo sentimento que você sempre causou em mim.
Ele respirou fundo algumas vezes, as lágrimas já escapavam por seus olhos, rolando todo o caminho de seu rosto.
Ele queria dizer que todas aquelas coisas, aquelas flores diferentes no tamanho, no cheiro, no significado, faziam parte de um grande jardim que ele havia preparado para fazer alguma surpresa, alguma surpresa especial para ela, que era dona de todas as suas primeiras vezes.

— Essa foi a primeira vez que tive meu coração partido, eu nunca achei que isso fosse acontecer com você, mas parece que a gente não tem muito controle dessas coisas. Perder você era a única primeira vez que eu não queria presenciar, porque agora está tudo meio perdido, meio sem rumo. Para onde a gente vai quando nosso lar se foi? Eu também ainda não sei a resposta para essa pergunta, mas vir aqui tem me ajudado, eu precisava trazer as flores, as flores que dizem tanto sobre a gente. Eu amo você, Bia, e sempre vou continuar amando, como a tulipa, a fresia, a rosa e o girassol. Obrigado por ser um jardim todo na minha vida.
Ele olhou para o túmulo da amada, com as flores, e soltou um beijo no ar. As palavras j saíram gaguejadas devido ao seu choro. Ele se levantou e seguiu para a saída, sabia que, ainda que não estivesse ali, ela sempre encontrava um jeito, mesmo que não diretamente, de confortá-lo.
Aquela tinha sido a primeira vez que ele havia perdido alguém e a última primeira vez deles.




FIM.



Nota da autora: Oiii meus xuxus!! Eu nem sei como fazer uma nota para essa história, afinal essa música transmite tanta coisa, que não saberia descrever os sentimentos em palavras, mas eu tentei e o resultado foi tudo isso que vocês acabaram de ler <3 Eu espero do fundo do meu coração que vocês tenham gostado, porque eu amei a experiência <3 Obrigada para quem leu até aqui a gente se vê logo <3



Nota da beta: BIANCA, TU ME PAGA! T-T
Bem, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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