Capítulo Único
As buzinas do lado de fora do apartamento fazia a situação ficar ainda pior. As falas ficarem mais altas, tentando ultrapassar os decibéis que passavam pelas janelas de vidro fechadas. Os movimentos ficaram mais bruscos e não sabia como ficara tão agressivo de uma hora pra outra. Aquele não era ele.
- Eu já disse que não tem nada pra fazer, ! - ele passava a mão pelo cabelo nervoso.
- Claro que tem! - a mulher falou. - Vai atrás dele! Ele não pode acabar a banda assim! - a raiva passava pelo seu rosto deixando-o marcado pela vermelhidão e seus olhos se enchiam d’água. Ela se culpava por ser fã da banda. Ela se culpava por não poder fazer nada a não ser ver um dos integrantes sair dela como se fosse a coisa mais natural do mundo.
passou a mão pelo rosto tentando não ficar mais nervoso e andou pra perto dela. Ela estava errada. A banda não iria acabar. Estava tudo planejado. Eles ainda tinham um contrato onde dizia que precisavam fazer cinco álbuns antes de decidir se queriam acabar a banda ou continuar. Aquele não era o fim.
- Eu só quero que você entenda que a banda não vai acab… - , num passe de mágica, já não falava alto. Gritava com raiva, as lágrimas caindo forte.
- Já acabou! Você não está entendendo, ! Se pra mim isso está sendo um inferno, imagina pras fãs! Imagina quando o mundo inteiro descobrir que o saiu!
não tinha o que falar. Nesse ponto estava certa. As fãs enlouqueceriam.
Mas por que ela não o entendia? era sua namorada. Sim, ela era fã da banda, foi por isso que eles se conheceram. Porém, não era melhor ela ser a fã e namorada controlada que sempre foi e apoiar ele? Dizer que tudo ficaria bem?
Um nó ia se apertando no cérebro de e ele achava que não aguentaria. Iria explodir. E ouvir o choro de sua namorada por causa de e seu surto o deixava cada vez mais irritado. Ele iria se controlar, ele iria…
- Eu não ligo! - ele gritou, dando um forte soco na mesa de madeira ao seu lado esquerdo, o qual o barulho ecoou pelo ambiente. - Eu não me importo com nada disso, ! Nada! O que importa é que a banda não vai acabar. Eu já disse! - pegou fôlego e tentou se acalmar. - Eu ainda estou aqui. Eu, o , o , o , nós todos estamos aqui pra dar o nosso melhor. Como você sempre pediram! E não é porque o saiu que nós vamos desistir, entendeu? - ele falava com o ar preso e respirou fundo olhando pra qualquer outro lugar quando terminou. Quando ele achou que terminou, já que sua mente borbulhava. - E se você quiser dar uma de fã, e não de namorada e me apoiar, pode dar o seu show. Mas não cobre de mim. Cobre dele.
Foi a última vez que eles se olharam naquele mês. O último olhar vindo dele, com um pingo de esperança que iria atrás dele. O último olhar vindo dela, com um pingo de amargura tentando entender o futuro que tinha dado pra sua vida.
???
Desde o dia que o famigerado saiu da banda, seus outros integrantes começaram a se reaproximar. Ele superaram as probabilidades da banda acabar e tiveram aquele instinto de sobrevivência que normalmente bate quando se está escalando uma montanha e vê que tudo o que você tem ali e agora são as pessoas junto a você. Você se segura neles antes que caia. Antes que o pior aconteça.
Com não foi diferente.
Enquanto e se reaproximaram nos shows, mostrando as fãs que a banda estava de pé e não tinha intenção de acabar, assim como a amizade eles, resolveu que viagens com outros amigos era sua forma de fingir que nada aconteceu. , por sua vez, foi o mais atingido. Ele era o mais sensível. E por mais que falasse que estava ali pra tudo, nada estava como antes. O casal acabou se distanciando e ele não achava que voltaria a ser como era tudo no início. Era tecnicamente impossível.
Aquele seria um ano difícil. Todos tinham certeza.
Fazia apenas três meses após a decisão de e os atuais membros da banda, totalmente dedicados ao novo álbum que estava pra ser lançado, não tinham folga do estúdio o qual iam pra gravar suas novas canções que, agora, eles podiam dizer que eram deles. Tinha bastante material que havia saído de suas próprias mentes e esse era o maior orgulho que eles poderiam ter. Ainda mais quando, por fora, as fãs não estavam lá muito amigáveis e aquele não fosse lá um grande motivo de orgulho. Não quando elas concluem, depois de meses, que a culpa não era do integrante que saiu, e sim dos outros. Até havia aquelas que ainda achavam que o real acontecido foi uma divergência de ideias, o que, para os integrantes da banda, era a melhor ideia a ser impregnada. Mas as mais chateadas, queriam culpar algo. Queriam culpar alguém.
- Você viu as últimas mentions no twitter? - perguntou sentando no sofá do outro lado do estúdio, abrindo sua garrafa de água e tomando alguns goles. era o que estava mais perto dele, já que era o próximo da fila pra gravar sua parte da música e estava ocupado demais tentando ficar alheio a qualquer conversa com seu celular na mão e olhando as últimas mensagens que o tinha endereçado. Nada interessante.
- Só dei uma olhada por cima, não li realmente - deu de ombros, mas tentou não parecer tão indiferente. - Algum assunto em específico?
- Não - fez o mesmo que , deu mais uma olhada em seu celular, que tinha a tela acesa na outra mão, e olhou para o amigo de novo. - A mesma coisa de sempre - rolou os olhos.
- Então o que tem demais? - não entendeu o que teria de importante no assunto abordado pelo amigo se o mesmo não dava importância.
- Eu só estou de saco cheio disso - bufou jogando o corpo pra frente, deixando o celular e a garrafa de água ao seu lado no sofá. Apoiou os ante braços nas coxas e sua cabeça pendeu pra frente. Via-se um completamente desarmado e que estava a ponto de desmoronar. - Será que elas só vêm o ? Não percebem que estamos tentando fazer a nossa parte? É tão difícil assim? - fazia expressão de dor, mostrando o quão angustiado ficava falando disso. Olhou pra com olhar de piedade e o amigo aparentou estar triste com toda aquela confissão. Atrás dele, , querendo ou não, escutou o que falou. Ele não podia negar que também ficava chateado com aquela situação, ainda mais quando aquele foi um dos motivos pra ter se distanciado dele. O rapaz procurava forças pra correr atrás de seu namoro, mas não fazia por onde. Seus amigos estavam longe dele, ninguém parecia disposto a ajudá-lo. Cada um tinha seus próprios problemas. Nada era como se era passado pra quem via por fora.
- Não foca nisso, - falou dando passos até o rapaz que estava sentado, pousando uma mão no ombro dele e chamando sua atenção. - Ainda temos as fãs que acreditam na gente. Que sabem que vamos dar nosso máximo e não faremos menos do que fazíamos quando estava aqui. Entendeu? - apertou o ombro do amigo que tentou sorrir e retirou o peso das pernas. Suspirou mais uma vez e, quando ia falar, se virou pra eles, falando.
- Queria ter a mesma confiança que você, - tentou dar um sorriso, mas pareceu mais uma careta. Os amigos viram e finalmente falou.
- Eu te entendo, . Mas também não consigo ter a mesma esperança que você tem.
rolou os olhos, percebendo que suas palavras não fizeram efeito, e virou-se pra , fazendo sinal e falando, pra que o amigo entendesse.
- Deixa que eu vou depois - disse se dirigindo pra onde ele estava. - Fica aí com o e sejam negativos juntos - ironizou o momento e aproveitou pra apoiar todo seu lado esquerdo na parede. Seu corpo doía pelas horas que passava em pé nos palcos da vida. Era algo que ele estava acostumado, mas que em época de turbulência tinha um grande efeito nele.
resolveu relaxar ao lado de e também se jogou no sofá, suspirando enquanto jogava a cabeça pra trás. Tombou-a para o lado e viu o lado esquerdo do rosto de . Parecia uma escultura. Ás vezes ele desejava ser um pouco mais bonito como seus colegas de banda.
- Aí - ele falou chamando atenção do garoto que tinha o celular de volta em mãos. - Você quer me ajudar numa coisa?
enrugou a testa sem entender do que se tratava.
- Tipo o quê?
- Tipo o meu namoro.
???
Era difícil pra ver que só precisava dela. Não era da banda nem dos fãs que ele precisava. Ele precisava de sua namorada. Da pessoa que ele mais amava no mundo.
E por mais que eles ainda se falassem, por mais que eles tentassem fazer o namoro dar certo, eles não se lembravam quando foi a última vez que eles saíram. Nem em grupo, com os garotos da banda e suas respectivas namoradas, nem sozinhos. Eles só precisavam de um momento sozinhos. E ver que eles ainda estavam ali. Um pelo outro.
- A chame pra sair - falou enquanto o jatinho parava na cobertura do prédio que eles dariam a entrevista oficial sobre a pausa de um ano da banda. não podia acreditar que teria, finalmente, um tempo de descanso depois de trabalhar cinco anos direto.
- Eu vou chamar - ele respondeu olhando pra fora da janela, observando as poucas nuvens ao longe e o sol saindo de trás de uma, fazendo seus olhos doerem e ele voltar a olhar pra dentro. estava a sua frente buscando seu olhar. - Só não sei quando.
O amigo rolou os olhos e quis dar um tapa forte no ombro de . Normalmente era aquilo que fazia voltar pra realidade.
- Agora - ele substituiu o gesto por uma só palavra que teve o mesmo efeito em . De alguma forma, o rapaz sabia que era a coisa mais sensata a fazer.
- Ok - acatou.
Tirou o celular do bolso e digitou uma mensagem, dando o endereço do local onde estava pra , pedindo pra ela encontrar ele ali depois da entrevista. Iria levá-la para o restaurante preferido dela naquela região e as chances deles voltarem a se falar melhor era grande. O que ele não esperava era ver uma mensagem mal humorada dela dizendo que estava ocupada daquele momento até o final da semana. Se não fosse a pessoa calma que era, já teria jogado pra longe o celular. Mas apenas guardou-o no bolso e olhou de soslaio pra .
- Ela não pode.
- O quê? Como assim? - jogou o corpo pra frente num susto, intrigado.
- Ela não pode, ué. Até o fim de semana - disse entre dentes. Agora sim seu namoro estava por um fio.
- Você se dá por vencido muito rápido - o rapaz a sua frente disse e rapidamente se levantou, pegou o celular do amigo no bolso da frente, sem dar tempo dele reclamar, e viu as últimas mensagens. Não entendia como tinha tanta paciência. Ele nunca faria aquele namoro dar certo sem .
O rapaz riu e começou a digitar, marcando um compromisso pra próximo segunda, sem falta, por . Sabia que o amigo se irritaria, mas tinha que fazer algo. Já estava tudo desmoronando mesmo. Alguém tinha que se salvar.
- Aqui - devolveu o celular para o amigo e olhou pro lado quando ouviu o ronco de . O amigo dormia igual uma pedra enquanto jogava Fifa 15 empolgadamente.
- Você enlouqueceu? - perguntou assim que leu a mensagem. - A gente nem sabe se tem compromisso na segunda, como vai marcando as coisas ass…
- Você não vai - falou calmamente. - Quer dizer, se a gente tiver alguma coisa na segunda, você não vai - sorriu como se tivesse vendo um quilo de batata frita a sua frente.
murmurou algum palavrão baixinho e deu um tapa na própria testa. Não sabia como ainda confiava a alguma ajuda.
Assim que eles foram descendo, foi percebendo que algo tinha mudado. Antes, ele faria de tudo pra ter ao seu lado. Antes, ele não se importava nem com quem estivesse ao seu redor se tivesse com ela. E agora… Ele só queria saber onde havia parado toda a sua paixão.
???
Então a segunda chegou. A segunda-feira que ele não sabia como havia virado um dia esperado, e não a constante segunda pós-ressaca.
acordou atrapalhado, quase caindo da cama. Mal tinha dormido. Estava comendo igual a um louco de ansiedade e foi correndo pra cozinha encher um pote grande de cereal. Sentou-se em frente a sua televisão e ligou no canal de esportes, já que era a única coisa que ele gostava naquele pedaço de tecnologia quando não estava vendo desenhos.
Sua manhã se estendeu daquela maneira até o meio dia e meia. Se arrumou educadamente preparado pra ir no restaurante pessoalmente pra confirmar seu horário a noite - é isso que acontece quando a pessoa não é uma das melhores pra se falar no telefone.
Demorou uns bons vinte minutos pra chegar no local, apesar de ser perto, por ser horário de pico e ter muitos carros na rua. Esperava que de noite não acontecesse o mesmo.
Depois de confirmar tudo com a recepcionista, ele resolveu ir em outro restaurante comer alguma coisa rapidamente, já que queria dar uma passada na checagem de som que seus amigos faziam para o show do dia seguinte. e seu senso de organização…
Como já iria para o La Rosié a noite, preferia ir a outro e gastar menos de dia, já que não tinha nada em casa pra um almoço completo além de sua preguiça carregada de mau humor. Comida de restaurante sempre é uma boa pedida.
Depois de andar dois quarteirões e atravessar uma rua, chegou a um outro restaurante que ele frequentava bastante e saudou o garçom que passava por perto. O próprio parou tudo que estava fazendo, e o guiou até a mesa que ele sempre preferia.
- O de sempre? - perguntou tirando seu bloco do bolso da frente.
- Isso - confirmou. - E um suco de pêssego também.
Depois que o garçom voltou a fazer o que fazia antes, notou certa movimentação do outro lado do restaurante. Podia ver algumas sombras e até achava que tinha visto o rosto da nova aposta pra namorada de seu ex-amigo e companheiro de banda. Devia estar com outra pessoa lá, como costume. Outro cara. Rumores, normalmente, são apenas rumores.
De repente, seu celular tocou no seu bolso, fazendo o barulho de mensagem, e logo viu o rosto de no canto superior esquerdo. Deu um sorriso nervoso e sentiu uma pontada no peito, como se não soubesse se aquilo era bom ou ruim. Ansioso, abriu o arquivo rapidamente e viu, mais uma vez, o que não gostaria de ter visto.
sentiu todas suas entranhas se remexerem. Não entendia como podia ser tão sem coração. Era a segunda vez. Ele estava correndo atrás. Era tão difícil de ver isso?
Sem querer ter um ataque de nervos dentro do restaurante, ele deixou a mesa e foi direto ao banheiro com a intenção de lavar o rosto, se acalmar e não se ver obrigado a ser cabeça dura e mandar uma resposta mal educada pra namorada - ou devia chamar de ex namorada?
Assim que abriu a porta do banheiro masculino, viu cabelos conhecidos saindo da porta do banheiro feminino. Achava que foi miragem, mas resolveu olhar melhor e deu de cara com ela. . Não, não podia ser.
Ela não o tinha visto, virada de costas e indo em direção a uma mesa. largou a porta, deixando-a bater forte e, sem tempo pra se acalmar, foi atrás dela, que, ao contrário dele, andava o mais calmamente possível. Ele a segurou pelo braço.
- .
A mulher levou um susto e, o sorriso que parecia estar dando, virou uma face de pavor. Agora sim. Ela estava ferrada.
- ? - ela perguntou, tentando se fazer de desentendida.
- Você está com a nova namorada do ? - ele perguntou agora vendo pra onde ela estava indo e realmente reconhecendo .
- Sim - falou nervosa, não entendendo se não tinha visto ou se ele queria se enganar. Como ela estava ferrada. - Com a .
olhou mais uma vez pra mesa e finalmente viu o que não queria ter visto. Alguém beijando a boca da mulher. Alguém com a estatura, cabelo e rosto idêntico a . Entendeu rapidamente o que estava se passando e, com uma expressão de raiva, voltou a olhar pra , soltando de uma só vez o braço dela.
- Eu não posso acreditar nisso. Diz que você não está saindo com eles… - pediu. Mesmo que fosse uma mentira ele queria escutar e fingir que nada estava acontecendo.
- … - falou quando reparou que ele estava dando passos pra trás, fugindo. Ela sabia que ele não gostaria nada quando soubesse que ela estava tentando apoiar ambos os lados, mas não queria ter sido pega no flagra.
Como um estalo de dedos, entendeu direitinho a mensagem dela minutos atrás.
- Eles são seu compromisso? - voltou a andar pra frente, agora ficando de frente pra ela e atrapalhando a passagem de algumas pessoas. Ele não se importava. Por um segundo, ele queria que nunca tivesse entrado em sua vida. - Você vai ficar com eles o dia inteiro, vai trocar o nosso encontro por causa deles? - aumentou seu tom de voz, chamando a atenção das pessoas que comiam a sua volta. Ele não se importava.
- , não vamos fazer isso. Não dentro do restaur… - ela foi interrompida por uma avalanche, por um que ela vira poucas vezes durante seu relacionamento com ele.
- Cala a boca! - ele falou alto e cerrando os punhos, agora chamando a atenção também de e sua namorada. - Me poupe disso, . Agora sou eu quem não quer mais.
E saiu trotando pela porta do restaurante. Sem comida, sem namorada, sem nada.
???
- Alguém me diz que foi só um pesadelo, por favor? - ele pedia de cabeça baixa, sentado numa cadeira nada confortável que tinha pelo lugar. Foi quem respondeu.
- Não foi, . É tudo verdade - levantou a cabeça e fez um joinha para o amigo, junto com uma expressão engraçada, se não fosse trágica.
- Obrigadão. Melhorou a beça meu humor.
Ambos rolaram os olhos e foi pro lado do amigo, puxando a camisa dele, chamando sua atenção. olhou pra cima e viu um também emburrado.
- Sei que não foi muito legal o que aconteceu com você, então vem tocar um pouco e esquece isso. Sério - tentou não parecer muito amigável facialmente porque sabia que isso não funcionava com o amigo.
- Tanto faz - levantou e foi até sua guitarra, pegando-a e traspassando pelo seu ombro, vendo sair do banheiro e dar uma expressão de quem não sabia de nada. E realmente não sabia, já que havia chegado em cinco minutos e o outro ainda não sabia o que havia acabado de acontecer.
- Tudo preparado pra hoje a noite? - perguntou sorrindo ao lado do amigo.
- Nada preparado pra hoje a noite - falou com a expressão cabisbaixa.
- O que aconteceu? - perguntou, levantando o rosto do rapaz e enrugando a testa. Algo estava errado. Ele podia perceber.
- Acabei de encontrar com a . Ela estava com o - falou de uma vez sentindo a dor no peito de novo. Toda vez que falava o nome daqueles dois, tinha vontade de correr pra qualquer lugar e esquecer do rosto deles. Pra sempre.
- Como assim? - perguntou, assustado. - Onde?
- Num restaurante. Juntos - completou mais precisamente. - Ela ainda fala com ele, . Ela ainda sai com ele. Onde já se viu isso? - perguntou com raiva e tocou as primeiras notas raivosamente. Inacreditável. Aquilo era inacreditável.
- Não pode ser… Tem certeza que era ela? - perguntou preocupado. Agora ele duvidava que iria querer alguma coisa com ela ainda.
- Eu falei com ela. Está bom pra você? - questionava cada vez mais irônico.
- Putz… - resmungou dando as costas e ficando de frente pros outros dois, fazendo uma expressão de quem dizia que agora sim tudo iria por água a baixo.
começou a tocar uma música do Aerosmith e tentou esquecer daquele momento. Depois tocou uma de uma banda de amigos conhecidos, a qual acompanhou, e quando foi reparar já estava tocando várias, com e também.
A tarde acabou com sua mente mais leve, mas seu coração mais pesado.
???
Já era noite e estava em casa estudando pra próxima prova desde antes de escurecer. Sua cabeça estava pesada e seus olhos sempre se fechavam quando viam mais uma palavra. Foi quando ela se viu obrigada a parar os estudos pra descansar.
Depois de tomar uma xícara cheia de capuccino pra se esquentar do tempo frio e chuvoso que estava na cidadade, resolveu ir pra cama mais cedo que o esperado. Sua vontade de ligar sua tv na Netflix, para relaxar e ver That ‘70s Show um pouco, sumiu e por um minuto ela apenas se deitou em seu colchão macio por cima da coberta e girou seu corpo, sentindo seu lado esquerdo todo escorado ali. Sua mão estava em baixo de sua cabeça, tentando apoiar o peso de sua cabeça que parecia apenas aumentar.
Droga. Ela pensava forçando os olhos fechados, pressionando as pálpebras. Era claro que a primeira imagem que veio a sua mente foi os olhos dele. O cabelo arrumado que ele ultimamente estava penteando demais. O hálito dele de pasta de dente quando se beijavam de manhã depois do café da manhã. A verdade era que ela estava morrendo de saudades. Apenas não queria assumir.
Quando abriu seus olhos, no escuro do quarto, sentiu um leve sorriso despontar de seu rosto. Um sorriso de como quem diz “são velhos tempos que não irão voltar”, “eu não sei o que fazer e pelo visto nem saberei.” Sua confiança estava sendo jogada no lixo enquanto percebia que já havia tentado fazer sua parte e ela ao menos deu atenção a ele. E, claro, ela se culpava. Era tudo culpa dela. E agora ela não sabia o que fazer.
queria deixar tudo pra trás, mas sentia que estaria cometendo um grande erro, talvez até irreparável. Não estaria?
???
Quanto mais o tempo passava, mais ele sentia que, uma hora ou outra, ele a esqueceria. Uma pena era que ele ainda tinha que ver as chamadas de pra e pedir pra que o amigo não atendesse. Não podia ouvir a voz de , se não explodiria. Mais uma vez.
Numa tarde, depois de fazer quatro meses da saída de da banda e um mês sem saber de , o ex integrante resolveu aparecer na casa de . Bem no dia que eles escolheram pra fazer um churrasco e resolver deixar tudo pra trás. Estavam reunidos celebrando a paz enquanto a guerra passava pela porta tentando causar intriga.
- Olá, boa tarde - passava por todos cumprimentando com um sorriso nada amigável e carregado de ironia, chegando cada vez mais perto da mesa dos ex amigos. - Boa tarde, queridos amigos que me ignoram - finalmente chegou e os olhou de um a um, fixando o olhar em pra depois fazer o mesmo com .
- O que está fazendo aqui, ? - perguntou, sendo fuzilado pelos amigos.
- Já que ninguém me atende, eu resolvi passar na casa de meu melhor amigo. Ou devia falar… ex? - disse provocando e sentiu uma queimação subir pelo seu peito.
estava quieto, tentando não olhar para o garoto a sua frente e ignorando seus afrontamentos. Ele não se daria ao trabalho de respondê-lo.
- , eu acho que não é a hora certa pra isso - falou tentando apaziguar, por mais que ele já houvesse tido inúmeras brigas com o ex membro enquanto ele estava na banda.
- Tudo bem, percebi que está tendo uma confraternização aqui, hum? - perguntou olhando ao redor, tentando não parecer surpreso. - Comemorando minha saída? - deu um sorrisinho de lado pra e depois olhou pra . - Ah, vou aproveitar que você está aqui e te passar um recado - tinha as mandíbulas travadas e ligeiramente doloridas, mas o escutou. - pediu pra dizer que está bem. Ótima. está sendo uma ótima amiga pra ela, sabe? Alguém que a escuta e não a julga por quem são seus amigos - falou dando um olhar ameaçador, insinuando que não faria isso, não seria um amigo de verdade pra ex dele.
- Vai se ferrar, - ele poupou suas palavras e as resumiu.
- , por favor - agora foi quem pediu.
- Parem de defendê-lo, isso é ridículo - ele retrucou puxando uma cadeira e sentando, sem ser convidado. Se eles fossem , não teriam feito isso. - Não vai falar nada, amiguinho? - olhava intrigado pra e o mesmo o olhou irritado, levantando da mesa e puxando dali. olhou pra uma última vez antes de sair de perto da mesa e puxou pros fundos da casa, onde não era longe. Olhou no fundo dos olhos dele antes de qualquer coisa e falou, tentando ser o mais rude possível.
- Se você veio aqui pra nos tratar assim, pode ir saindo da minha casa. E se eu não estou atendendo suas ligações, você não acha que tem algum motivo? Ou você acha que íamos ser melhores amigos pra sempre depois de você falar que nunca queria ter participado da banda? Ninguém está aqui pra presenciar seus shows, não, . Se quer fazê-los, vai procurar seu público. Enquanto você quer causar falando abobrinha, a gente quer atenção cantando. Desculpa se nossas ideias de fama são diferentes.
se manteve calado e engoliu em seco, mas não ia levar desaforo pra casa.
- E eu pensando que pelo menos você iria me apoiar… - disse olhando pra outro lugar.
- Deixe que as fãs achem que a gente apoia você. E me poupe. Se você queria acabar com a banda, saiba que seu plano foi por água a baixo - retrucava cada vez mais no nível de e o garoto começava a ficar nervoso. Não conseguiria a amizade dele novamente. Não daquele jeito. Não com ele sendo tão cabeça dura.
- Tudo bem. Um dia você vai me entender.
- O pior é que eu te entendo - falou dando mais um passo a frente, peitando . - O que eu não entendo é o motivo pelo qual quer tirar as nossas fãs da gente. De tentar sair por cima. Para de querer o mundo todo pra você, . Você não é assim.
O rapaz se sentiu tão atingido, que, por mais que tivesse amadurecido depois de tomar a decisão de sair da banda, percebeu que tinha razão. Ele nunca foi ambicioso. Não no nível que estava agora. Mas precisava. Ou ele seria um zero a esquerda. Um Zé Ninguém. Não era isso que ele queria.
- Tanto faz. Não sei o porquê estou perdendo meu tempo discutindo com você, então - falou irritado pelas palavras de e viu o garoto a sua frente sorrir.
- É porque você ainda gosta de mim. Deles. Da banda. Você não vive sem isso - dizia com um sorriso afetado e teve vontade de dor um soco na cara de . Quebrar todos seus dentes pra nunca mais poder cantar.
- Que eu aprenda a viver sem isso, então - e saiu andando, em direção a porta, com a intenção de nunca mais voltar. De nunca mais ver a cara de nenhum deles.
???
Nos seus ouvidos, Oasis tocava no último volume.
estava no aeroporto, esperando Danielle aparecer. Mais uma ex dos meninos sem futuros, era o que ela já estava acostumada a chamá-los. Elas eram amigas de longa data e foi exatamente por isso que Danielle a havia apresentado pra eles.
Entrou no banheiro cantando, aproveitando o momento sozinha pra se dar o luxo de lembrar o rosto de . Ela sentia saudade, mas tentava dizer que era nostalgia.
- ‘Cause I need more tiiiime, yes, I need more tiiime just to make things riiiiight - e mais uma vez ela se culpava. Aquela música lembrava demais seu relacionamento com ele. E ela não queria sofrer por aquilo. – Me and you what’s going on? - Talvez.
Retocou seu batom, com medo de algum paparazzi a fotografar e ter uma manchete em alguma revista como a ex de e voltou pro saguão, esperando a amiga. Tirou os fones antes dela chegar e a pegar chorando, e também se privando de se lembrar mais do rosto de certas pessoas que estava a rondando.
Em questão de minutos, Danielle estava a sua frente, dando um abraço apertado nela, cheio de saudades de dois meses sem se ver.
- Que saudades, ! - a amiga sorria de orelha a orelha, a olhando com os olhos brilhando.
- Você consegue ficar cada vez mais bonita, Dani! - riu e passou as mãos pelo cabelo da morena, agora ao natural, cheio dos cachos que a outra tanto amava.
- Vai passar lá em casa, né? - Danielle perguntou depois de colocar suas malas no carrinho. Sua viagem pra França foi de pouco tempo, mas havia voltado cheia de presentes. - Preciso te contar as novidades e quero saber as suas também - deu um sorrisinho pequeno, já sabendo o que viria de e viu a amiga levantando as sobrancelhas como quem dissesse que as notícias não eram boas.
Elas não demoraram pra chegar ao carro de , mas demoraram um tantinho pra colocar todas as malas lá, o que causou risadas e um pouco de esquecimento do que a tarde guardava pra elas. Depois de tudo arrumado, dirigiu pra casa de Danielle, o caminho já conhecido de cor e salteado, devido a todas as vezes que iam uma pra casa da outra fofocar sobre os caras da banda. O mais engraçado é que era mais ou menos isso que elas iriam fazer naquele dia. Dessa vez falando mal, não bem.
Depois de estacionar, pedir ajuda ao porteiro, subir com todas as bagagens e deixar todas elas espalhadas pela sala, Danielle se jogou no sofá e falou.
- Lar, doce, lar - ouviu a risada de e a viu se jogando no outro sofá.
- Quanto tempo que eu não venho aqui… - a outra falou com um ar de saudade, observando os vértices do ambiente, como se tivesse muita coisa interessante naqueles lugares.
Danielle a encarava, esperando pra amiga falar tudo, tirar todo o peso que a incomodava. Ela fez tanto isso quando acabou seu namoro com que nem se importava de ouvir falando de . Eles eram maravilhosos juntos e Danielle duvidava muito que conseguiriam ficar longe um do outro por tanto tempo.
- Chega de admirar o teto do meu apartamento, , deixa de enrolação - Dani falou se jogando do lado da amiga, pegando a mão dela e juntando com a sua em cima de sua barriga. - Depois eu conto da minha viagem. Eu quero saber de você - falou frisando a última palavra e a olhando profundamente, podendo ver várias cicatrizes profundas na amiga. - Que, aliás, não estou entendendo porque está tão tímida…
- Ai, Dani… - se enroscou num abraço de lado e apoiou seu queixo no ombro da amiga, sentindo suas bochechas esquentarem ao começar a falar. - Eu estraguei tudo e agora não sei como consertar meus erros… - falava resmungando, nem acreditando que finalmente poderia conversar com alguém sobre aquilo, já que nunca entenderia aquilo. Nunca entenderia como ela preferia à .
- Conta tudo pra sua amiga, vai - Dani apertou a mão de e escutou tudo o que ela tinha pra falar, toda sua frustação, todo seu amor reprimido, e até sentiu algumas lágrimas em seu ombro, sentindo como ela estava arrependida por ter feito tudo aquilo.
Depois dela desabafar, Danielle se sentou corretamente e fez fazer o mesmo, dando um olhar reprovador pra amiga, que ela sabia que precisava dar. tinha o costume de a apoiar quando terminara seu namoro com , já que foi por motivos não tão corretos vindos da parte dele, e elas sabiam que o que devia acontecer era o namoro acabar. Mas aquela situação era completamente diferente.
- , você é a única que não vê que é você quem tem que correr atrás. E do . Não do , nem da - ela falou balançando a cabeça, tentando ver se amiga concordava. Sem ter uma resposta, continuou a falar. - Você tem que agir como quem ama o , não a banda toda. Isso você não pode mudar, baby. É um problema deles.
- Mas… - vendo a cara da amiga já querendo protestar, Dani tomou as rédeas de novo.
- Ã-ã, nada disso. Sem mais nem menos. Eu sei que é difícil pra você. Sei que você não queria ver isso. Sei também que você é amiga dos dois. Mas não é questão de escolher um lado, de querer consertar isso por todas as fãs. Esse é o curso pelos quais as coisa vão. E eu acho que você está fazendo uma grande burrada em querer ajudar o . Ele é muito grandinho, tem namorada nova, família e agora até empresário novo pra fazer música sozinho. Esse não é o seu trabalho. Seu trabalho é ir atrás do - Dani sorriu e viu a amiga se desmanchar na sua frente, com um sorriso triste e todo seu lado direito no sofá.
- É tão difícil, Dani… Eu queria voltar no tempo e fazer tudo isso não acontecer - choramingou, lembrando do tempo que tudo eram flores e se abraçou, sentindo cada vez mais saudades. Sim, saudades. Sua história com eles era tão bonita. Ás vezes nem ela acreditava que foi a sortuda que escolheu como namorada. Que seu amor por ele era correspondido, e que ele tentou correr atrás dela enquanto ela estava ajudando . Como ela foi burra. Como ela queria estar com , como ela queria fazer tudo aquilo dar certo. - O que eu faço? - perguntou, com sua esperança reacendendo. Danielle riu vendo a expressão inocente da amiga e segurou a mão dela com suas duas mãos.
- Não sou nenhuma professora nesse assunto, mas vou tentar te ajudar - ela falou dando uma piscadinha e vendo o sorriso de verdade da amiga reaparecer. Talvez nada estava quebrado. - Vocês vão voltar a ser o melhor casal que esse mundo já viu!
???
Depois de levar a amiga pra um passeio de volta a cidade, foi até uma sorveteria e falou pra Dani contar da viagem toda, o que foi rapidamente atendido e ela se colocou a falar. Era ponto turístico, comida gostosa, descrição e mais descrição dos caras gatos franceses, e cada vez mais foi se perdendo, apesar de ainda rir com alguma coisa que a amiga dizia.
Sem querer, ela lembrou de uma turnê que tinha feito com os meninos a qual passaram pela França e ela passou uma madrugada inteira com comendo profiteroles, até dizer chega. Também lembrou como naquela época o amor deles estava aceso e eles não perdiam tempo em dizer ‘eu te amo’ um para o outro. Estava na cara deles e eles não deixariam de admitir.
- Estou vendo alguém perdida em pensamentos ou é impressão minha? - Danielle perguntou tomando mais uma colher de seu sorvete, olhando de soslaio, enquanto a amiga saia do transe, ficando um pouco constrangida pelo momento.
- Desculpa, é que… - tentou falar, mas a amiga a cortou.
- Já sei - olhou pra sua taça de sorvete e disse o nome que rondava a cabeça da amiga. - .
rapidamente fechou os olhos e respirou fundo.
- Ele.
Danielle riu nasaladamente e deixou a colher cair dentro do recipiente quase vazio.
- Você tem que parar de guardar as coisas pra você, viu? Olha como você fica quando não conta as pra ninguém - Dani a reprovou.
- Ah, fala sério, Dani - colocou uma mexa de cabelo pra trás da orelha. - Acha mesmo que eu falaria algo desse tipo pra ? Para o ? - falou o nome do ex integrante de uma forma como se isso fosse impossível e Dani até concordou com ela por olhares.
- Por que eles não são seus amigos, não é verdade? - perguntou com um olhar ameaçador.
- Claro que são! - fechou a cara e olhou pra baixo. Mas, não tendo coragem pra fingir, olhou pra Danielle de novo e viu o olhar dela pedindo a verdade. - Claro que não… - a garota finalmente se desmanchou na cadeira e até fechou os olhos, incomodada com aquilo.
- Okay, sobre isso você não falou nada ainda. Mas sabia que tinha caroço nesse feijão - Danielle falou, se ajeitando na cadeira pra ouvir o que tinha a dizer.
- É que… - a garota voltou a sentar direito na cadeira e chegou mais pra perto da amiga, tentando falar baixo pra ninguém mais escutar também. - Eu pensei que o estava certo. Depois que ele me contou os motivos pelos quais ele saiu da banda, eu pude ver o lado dele, entende? E eu achei que ele precisava de uma amiga, não só de uma namorada, já que o namoro dele com a da girlband já estava acabando também… - respirou antes de terminar e viu o olhar da amiga pedindo pra que ela continuasse. - Mas não foi exatamente isso que aconteceu. Ele mudou. Parece que fizeram uma lavagem cerebral nele e ele começou a ficar louco, dizer que nunca quis estar na banda, falar isso pra todos os tabloides e, isso sim, me magoou ainda mais. Se eu estava ainda do lado dele, foi por causa da . Ela estava segurando ele. E eu estava me segurando nela… - terminou e deixou sua respiração fluir corretamente, olhando pra outro lugar antes de olhar pra amiga de novo.
- Deixa eu ver se entendi… Você se decepcionou com o também? - Dani questionou.
- Basicamente - levantou as sobrancelhas.
- Uou, isso que eu chamo de estar na merda.
levou um susto pelo jeito que a amiga se referiu a ela e quase saltou da cadeira.
- Desculpa? - virou o rosto sem entender.
- Não você. Ele. . Ele arruinou a vida dele - Danielle confirmou seus pensamentos.
- Não exatamente - pegou na colher de novo e misturou o caldo do sorvete que ainda estava lá. Não gostava tanto de tomar aquela parte, preferia ver as cores se misturando. - Ainda tem as fãs que estão com eles. Mas não estão com os outros.
- Deixaram de ser fã da banda pra ser fã dele? - Danielle se exaltou.
- Pois é - fingiu que não pensou algumas vezes em fazer isso e deixou aquilo no ar. Não queria continuar com o assunto. Mas também não sabia que Danielle já ia lembrar o combinado de mais cedo.
- Tocando nesse assunto de banda dividida, o que pretende fazer pra reconquistar o ? - as sobrancelhas dela se levantaram, sugestivas, e quase riu, se não tivesse achado o ato precipitado.
- Não é você quem é a professora? - retrucou no mesmo nível.
- Ui - as duas riram do modo que Dani respondeu, mas rapidamente voltaram ao normal. - Mas você não tem nenhuma ideia do que o goste? Algum lugar que ele goste de ir?
- Claro que sei! - se sentiu insultada naquele momento, percebendo como Dani não sabia quase nada mais do seu namoro com . Ela achava, na verdade, que Danielle apenas bloqueava as memórias que aparecia com , para que não lembrasse tanto daquela fase nem tão boa da sua vida. Porque, com certeza ela lembrava de pelo menos uns dois, três lugares que os quatro gostavam de frequentar. - Ele gosta de ir aos estádios ver jogo de futebol… - falou pensando nas vezes que eles iam ver alguma partida e sempre que rolava gol eles se beijavam. Até deu um risinho que fez Danielle sorrir junto e comemorar, falando.
- Pois então já sabemos pra onde o casalzinho vai…
- Não mesmo - ficou séria do nada. Ela não conseguiria chamar pra sair. Não naquela situação, não quando seria ela quem teria de dar o primeiro passo. Até engoliu em seco só de tentar imaginar aquilo.
- Ah, vai sim - Danielle reafirmou balançando a cabeça. - Deixa de bobeira, ! Desde quando só o homem pode chamar a mulher pra sair? - Dani juntou suas sobrancelhas indignada com o pensamento retrógrado da amiga.
- Não é isso, Dani… - falou rolando os olhos, achando, também, um absurdo o que a amiga falara. - Eu só… Não falo com ele há um tempo e não sei o que fazer - deixou a fala pairar no ar e deu de ombros, olhando pra taça de sorvete a sua frente.
- Ligue pra ele. Mande uma mensagem. Há tantas formas que você pode fazer isso… - a amiga levantou as sobrancelhas mostrando que era tudo desculpa pra se fazer de mulher difícil, sendo que ela sabia muito bem que o que mais queria era voltar com . - Só para de recuar porque, se não, ele que não vai ficar te esperando.
E aquele foi o soco que precisava para perceber que era hora.
Hora de agir.
???
Depois de se arrumar e ajeitar sua blusa, , que estava saindo da faculdade, já tinha planejado tudo. Por mais que ela sabia que o certo era ir logo atrás de e esclarecer tudo que tinha de ser esclarecido, ela queria transparecer uma coisa natural, e não um pedido de desculpas frustrado, nem nada do tipo. Por isso ela estava lá. Com seus livros segurados contra o corpo, perto da casa de , decidida a subir no apartamento dele, caso ele não descesse naquele horário, já que ela tinha contatado e ficara sabendo que os amigos tinham marcado de jogar golfe.
Arrumou o cabelo, passando ele todo pro lado esquerdo de seu rosto, deixando seu pescoço exposto, e sorriu para o porteiro que já a conhecia.
- Bom dia, seu Steve.
- Bom dia, ! - respondeu feliz por vê-la ali depois de tanto tempo.
A mulher se direcionou pro elevador, apertou o botão e o esperou chegar com seu celular na outra mão observando o horário. Assim que a porta abriu, a pessoa que saiu do pequeno cubículo, saiu como trovão e acabou esbarrando nela bruscamente, deixando seus livros e anotações dentro dele serem todos espalhados no chão.
- Ai, meu Deus! Me desculpa - cabelos conhecidos tomaram a visão de quando ela abaixou pra pegar suas coisas também, e seus olhos se encontraram com o dono dos olhos da sua vida, assim que ele desviou seu olhar dos papéis também. Ele travou. Ficou sem reação. Parecia que o seu coração tinha parado, enquanto seus lábios queriam se mover num sorriso. Ele que impediu aquele gesto com um desvio de olhares e um levantar brusco. - - ele falou asqueroso olhando pra outro lugar. Ele só queria tocá-la pra saber se ela estava ali mesmo, se aquilo era real.
- Oi, … - ela falou tímida agora perto dele. Ela não havia pensado no que faria caso aquilo acontecesse, já que achava que seria algo mais formal, que demandasse, realmente, sua força de vontade. Pegou o resto de seu material e juntou contra seu corpo de novo.
- O que faz aqui? - ele perguntou tentando não ceder. Era difícil, já que as saudades dos lábios dela o tomava, mas ele conseguiria.
- Vim te ver… - a mulher falou dando um passo pra frente, ficando mais próxima dele. engoliu em seco e desviou o olhar novamente. Droga. Ele não podia perdoá-la tão fácil só por ser a pessoa mais preciosa do mundo pra ele.
- E o que quer? - perguntava cada vez mais seco, fazendo o coração mole de endurecer aos poucos, percebendo que não daria muito certo aquele tipo de aproximação. Preferiu ir ao ponto, então.
- Queria saber se você não quer sair comigo esse final de semana - disse, agora ela desviando o olhar. foi pego de surpresa, mas tentou não demonstrar, olhando para o seu relógio de pulso mostrando que tinha compromisso. Tossiu nervoso e respondeu.
- Esse final de semana? - perguntou ficando nervoso pensando na possibilidade de um encontro só eles dois. Não, ele não podia ceder. Sua mente agia como se sua cabeça fosse de um adolescente de quinze anos.
- Isso. Vai ter jogo do Derby, pensei se você não queria ir…
fechou os olhos por alguns segundos só pra se concentrar melhor para responder. Não podia parecer animado demais. Pois, além do mais, ainda tinha algo dentro dele relutando pra aceitar o que estava acontecendo na frente dele. Nunca imaginara ver fazendo alguma coisa depois de tantos desencontros. Jurava que seu namoro iria cair por água e ficaria no passado. Talvez algum sininho dentro da cabeça de havia soado...
- Tudo bem - sorriu calmamente vendo-a sorrir também.
- Eu te ligo! - começou a dar passos pra trás, ficando animada demais pra ter um ataque na frente de . - Pra gente marcar o horário - falou e viu acenar com a cabeça, levantando a mão pra acenar um tchau.
- Ok - ele falou e a viu saindo do prédio com um sorrisinho de lado no rosto, iguais àqueles que ela dava quando se conheceram. De fã tímida. De mulher corajosa. Ele adorava as contraposições que ela tinha.
Só depois ele percebeu que já estava atrasado pro compromisso e saiu rapidamente, com um aceno para o porteiro também, pensando no que seus amigos achariam daquilo. então… Finalmente algo estava dando certo.
???
- Não! - arregalou os olhos depois do que foi dito por . - Não acredito!
- Pois pode acreditar - o rapaz respondeu. - Ela chamou.
logo correu pra perto de sua bolsa de golfe e tirou seu celular da bolsa. Rapidamente já havia mandado uma mensagem pra e convocando-os para uma reunião urgente naquela tarde.
- O que está fazendo? - perguntou intrigado, tirando o celular da mão do amigo. Leu rapidamente a mensagem e depois olhou para o homem a sua frente. - ! Você também é exagerado, hein… - bufou e rolou os olhos, fazendo cena.
- Olha quem fala…
fez careta e o outro o imitou, rindo, e o puxou pra voltar a jogar golfe.
Depois de mais de uma hora jogando, eles estavam morrendo de fome, então se apressaram no banho e colocaram uma roupa mais despojada. Foram num restaurante que haviam recomendado a eles uma vez e logo estavam indo pra casa de que foi onde marcaram a reunião enquanto trocavam mensagem na ida para o restaurante.
- Está ansioso? - falou como se quem não quisesse nada olhando pela janela e depois pra , que tentava fingir que estava bem, mas tinha o estômago gelado de nervosismo. Como ele se vestiria, como arrumaria o cabelo, qual perfume passaria? Ah, tem aquele que é o preferido dela, pode ser… Ele pensava nervoso sem ao menos saber sobre o evento direito.
- Não - finalmente respondeu depois de balançar a cabeça e fazer todos seus pensamentos sumirem. não acreditou na resposta do amigo, mandando-o um olhar cortado.
Os dois subiram ao apartamento de e o anfitrião logo passou um braço pelo ombro de , levando-o consigo pra dentro da casa.
- E o que as moçoilas têm de fofoca pra me contar? - perguntou apertando o amigo nos seus braços, que sorriu engraçado e juntou as sobrancelhas. olhou pros dois sorrindo e balançando a cabeça, sem acreditar em como seus amigos eram tão fofoqueiros.
- Boa tarde pra você também, - falou antes de se jogar no sofá do amigo. - Onde está ? - perguntou procurando o outro amigo no ambiente.
- Banheiro - jogou a cabeça para o lado pra mostrar onde o amigo estava e deu uma cabeçada com que urrou um ‘outch’. - Desculpa - o rapaz falou carinhoso e fez carinho no cabelo do amigo que logo estranhou e saiu do abraço. - Até parece que não me ama.
ficou rindo da cena dos dois e deixou o tempo passar. Como era bom rever os amigos juntos e sem ser em ritmo de tour. Ver a amizade deles decolando novamente dava ao jovem mais energia e vontade de viver. Parecia que nada estava no fim.
???
A primeira coisa que pensou depois de tantas vezes tentando falar com no meio daquele jogo e sendo atrapalhada por vários gritos é que as coisas estavam indo bem demais pra ser verdade. Já era a quinta vez que ela tentava manter a conversa e…
- Falta! - gritou se levantando da cadeira eufórico.
virou o rosto pro lado que ele não estava e rolou os olhos. Balançou a cabeça em negação e fechou os olhos, pensando que realmente aquilo não daria certo.
Desde que havia a buscado em casa, tratado-a como uma princesa, até o momento antes dele pisar no estádio ele estava um verdadeiro príncipe. Só foi entrar em contato com o mundo futebolístico que ele virou o fascinado que era por aquele esporte.
- Você falou alguma coisa, ? - ele perguntou após sentar novamente e olhar rapidamente para a mulher. Ela olhou apenas séria pra ele como quem perguntasse em que mundo ele vivia e ele logo leu seu olhar. Poderia ficar pálido se não tivesse nervoso o suficiente com o jogo que passava diante de seus olhos. - Foi alguma coisa que eu fiz?
- Não, eu só estou tentando ter uma conversa normal com você, mas está imposs…
- Uhhhh! - a torcida pulou com o quase gol e foi junto. Ok, aquela era a verdadeira desistência de .
A mulher rapidamente tirou o celular da bolsa e se dispôs a mexer no aparelho. A verdade é que ela nem gostava muito de futebol, apenas havia virado uma tradição deles irem aos jogos juntos e celebrar as partidas ganhas depois. Ela sorriu de lado ao pensar nisso, mas logo lembrou que o namoro deles não estava assim tão firme pra comemorações daquele nível.
não demorou muito para deixar o celular de lado e logo o colocou de volta a bolsa, avisando a que ia ao banheiro. Assim que levantou, uma onda de berros a atingiu em cheio fazendo a ficar desnorteada, piscando os olhos de milhares de vezes.
- Gol! - berrou feliz e rapidamente virou pra ela, a segurando e dando um beijo rápido na boca dela. Os estômagos dos dois foram ao céu e voltaram e foi na queda que eles perceberam o que estava acontecendo.
soltou-a rapidamente e com os olhos arregalados e o sorriso sumindo pediu desculpas. Olhava pra colocar lado que não fosse ela e tentava não sorrir com aquilo. A verdade é que ela finalmente estava gostando daquele jogo.
- Tudo bem - ela olhou pra baixo tímida e depois olhou pra ele novamente, apontando pra trás indicando que iria ao banheiro.
Assim que ela saiu com o maior sorriso que ela já dera, sentou-se e pôs os cotovelos apoiados em seus joelhos, aproveitando pra descansar a cabeça em suas mãos. Ele havia acabado de beijar , a (ex)namorada que ele nem sabia mais o que se passava entre eles. Merda de impulso. Merda de jogo. Merda de vida.
Ele estaria feliz se já tivesse conversado com ela e colocado todos os pingos nos i’s. Mas agora ele estava cada vez mais confuso. Ela não podia jogar com ele daquela forma.
E foi com esse pensamento que ele começou a andar para o lado oposto e sentou-se a algumas cadeiras de distância. Talvez ela nem voltasse pra aquele jogo. Talvez ela nem voltasse pra sua vida.
???
Depois de ter uma longa conversa com Danielle sobre o famigerado dia do jogo, havia caído por terra e quase chutou o balde. Não aguentava mais a amiga apoiando o garoto e dizendo que ela precisava correr atrás de verdade. Que deixasse na mão de Deus, isso sim!
Frustrada com esse pensamento, a mulher rolou na cama e calçou suas pantufas, indo até a sala pegar seu celular que estava carregando. Assim que desbloqueou o aparelho viu uma mensagem de quem ela menos esperava. .
- Ué - juntou as sobrancelhas sem entender. Então leu com calma e descobriu que a garota estava ali por perto e queria a encontrar. Ela deu de ombros, com um tanto faz, e foi até o armário separar uma roupa nem tão quente nem tão friorenta.
Depois de montar seu look, tomou um rápido banho e disse que a encontraria em frente ao café que tinha a duas quadras dali. Em menos de quinze minutos estava em frente ao local e viu a amiga do outro lado do estabelecimento a esperando.
- Ei! - a chamou com gracejo e a namorada de seu amigo logo se virou pra ela.
- ! - elas se abraçaram. - Quanto tempo…
- Verdade! - a mulher ajeitou os cabelos atrás da orelha e continuou a conversar. - O que anda fazendo que está tão ocupada? - perguntou, interessada.
- Nada demais. Só o que anda tomando meu tempo e querendo me levar pra tudo quanto é lugar com ele, principalmente em dia de gravação do álbum.
- Álbum? - se assustou. Não esperava que já faria isso tão rápido.
- Sim - a amiga respondeu sem saber se aquilo era bom ou ruim. O silêncio pairou sobre elas por uns instantes mas logo tratou de quebrá-lo.
- Não vamos fazer com que isso atrapalhe nosso passeio - passou um braço por debaixo do braço da amiga, laçando-os, e a puxou pra começarem a andar. - Se importa de caminhar um pouquinho? - perguntou já começando a andar. sorriu e a olhou de lado.
- Nem parece que me conhece - as duas riram juntas. - Se eu pudesse, só andaria. Não posso mais pensar em andar de carro pra lugar nenhum! - comentou rindo ainda mais.
Elas deram várias passeadas ao redor da pracinha que tinha ali perto e agradeceram que nenhum paparazzi estava ali, já que normalmente era um lugar que e costumavam frequentar bastante. Talvez até eles perceberam que o casal estava se desfazendo e nem tinha mais o que fotografar.
Na volta para o apartamento de , onde combinaram que assistiriam um filme com direito a pipoca e muito brigadeiro, algo da culinária brasileira que havia aprendido a fazer, elas acabaram comprovando que tudo estava quieto demais quando esbarraram com Paul, segurança da banda mais famosa daquele país.
- Paul! - falou quase se engasgando e piscando com um sorriso sem graça no rosto. Tudo isso por causa da lembrança de e o último beijo deles. Droga. Ela precisava vê-lo.
- ! - ele falou sorrindo de orelha a orelha ao ver a tão adorável menina. Depois girou o rosto e continuou sorrindo, agora mais fraco. - ! Como vão? - perguntou, simpático.
- Estamos bem! - respondeu tentando ser agradável também. Paul logo voltou a olhar pra , que ficou constrangida e rapidamente arranjou algo pra falar.
- O que faz por aqui? - desviou o olhar. Paul riu do gesto dela e a garota fingiu que não viu.
- Vim deixar a banda aqui perto pra uma entrevista sobre a pausa mas já deve estar no final até - ele falou checando o relógio e comprovando fazendo a sobrancelha subir em afirmação.
sentiu sua mente a mil, como se uma lâmpada estivesse em cima de sua cabeça, como num desenho animado. Aquilo ela bom demais pra ser verdade. estava distraída então nem se ligou quando deu a ideia de…
- Eles estão por aqui? - falou como quem não quisesse nada. - Tanto tempo que não os vejo…
Paul rapidamente entendeu a deixa da mulher e sorriu.
- Quer que eu as leve até eles? Daqui a sete minutos eles estão livres.
não pensou duas vezes e logo estava com um grande sorriso no rosto, sem nem pensar nos ‘contras’ que teria de os ver. Principalmente . Ela só queria beijá-lo até ele dizer que o namoro estava reatado.
- Claro! - ela falou empolgada.
De repente, parecia não querer sair do lugar, mas com um puxão da amiga ela rapidamente se moveu.
- … - tentou falar com a amiga, que apenas a ignorou e continuou seguindo Paul.
Eles seguiram rapidamente para o local mas deu tempo dos integrantes da banda saírem ainda antes. quase parou no meio do caminho ao vê-los todos juntos. Ela realmente não tinha a mínima ideia de quando havia sido a última vez que tinha os visto juntos.
- Ei, ! - foi o primeiro a vê-la e correu pra perto dela.
- ! - o abraçou e ele apertou-a forte em seus braços. puxou o amigo, que riu debochado, e deu espaço pra ele também roubar um abraço dela.
- Você está menor do que já era ou é impressão minha? - ele perguntou e ela riu, durante o abraço. Depois deu um beijo na testa e esperou terminar de falar com Paul, já que com certeza seria o último a falar com ela.
- ! Quanto tempo! - falou a abraçando também, mais muxoxo. Ele não era muito de abraços, apesar que um dia já havia sido o que mais abraçava da banda.
ficou um pouco sem jeito mais abraçou-a também, não tão forte quanto queria, por isso também deixou um beijo na bochecha dela, que logo enrusbeceu.
Todos deram um breve ‘olá’ pra que apenas sorriu e acenou e manteve o olhar numa porta que tinha no final do quarteirão, como se alguém fosse sair a qualquer momento. A amiga bem percebeu e parou a euforia da conversa um momento pra chamar a atenção dela.
- Tudo bem, ? - perguntou. A mulher saiu do transe e abaixou a cabeça, sem saber como falar o que estava tentando falar antes.
- Ah, é que… - trouxe o olhar pra cima e falou olhando pra tal porta. - O está aqui do lado. Na gravadora. Daqui a pouco ele vai sair e…
- Não acredito! - só faltava pular de alegria. Ver os cinco ali na frente dela? Parecia até sonho! Ela realmente não esperava por aquilo. - Eles juntos, eu vou desm…
- Para, ! - arregalou os olhos mas depois riu percebendo que era só o outro lado dela se revelando. - Acalma os instintos de fã, por favor - frisou na última palavra.
balançou a cabeça em afirmação apesar de estar quase pulando no lugar. Continuou falando com os rapazes normalmente e eles não pareciam querer sair dali, então também manteve um olhar sobre a tal porta e um sorrisinho em seu rosto, imaginando o que aconteceria no momento que saísse dali.
E assim que o ex integrante saiu, desacompanhado, os olhos dela brilharam. Parecia ver ouro mas era apenas . Os outros também viraram o rosto pra onde ela estava olhando e não acreditaram. Parecia uma…
- Armação? - puxou ela para o outro lado e fuzilou-a com olhar.
- Quê? - ela se indignou. - Claro que não!
- E o que isso significa? - ele perguntava nervoso.
- O está gravando um… álbum - deixou a palavra no ar e mirou .
- E ela sabia?
- Ela só me contou depois que a gente chegou aqui. Eu não deixei ela falar, eu fiquei empolgada em ver você e os meninos e…
- Tudo bem - relevou percebendo que não tinha nada a ver com aquilo. - Me desculpa - disse voltando pra onde estava. o segurou pelo antebraço e o puxou novamente, dando a mão pra ele logo após.
- Não! Digo, eu que peço desculpas. Não quero mais intriga entre vocês e… - a mente dela começou a se bagunçar com tanta coisa que ela queria falar pra e ela apenas fechou os olhos tentando pensar. - Tem como a gente ir à Starbucks, sentar, conversar…?
até pensou em aceitar, mas lembrou que havia marcado de sair com os seus amigos e realmente não iria dar.
- Hoje não dá, mas… - ele não queria dar outra furada, então não iria perder outra chance de vê-la.
- Final de semana, pode ser? - ela falou com um sorriso no rosto e ele sorriu também concordando. Ele apontou para o celular no bolso e ela confirmou com a cabeça. Estaria esperando mensagem dele.
O momento só não havia acabado porque falava alto com e e chamou a atenção dela.
- Eu odeio esse clima. Essa tensão. Odeio! - o garoto falava irritado.
- Do que fala, ? - chegou perto deles.
- O . Só foi ele sair que a tensão chegou - completou e tentou não olhar pro garoto que agora falava com a namorada. Ainda teve a cara de pau de acenar pra eles e saiu de mansinho como quem não quisesse nada.
- Eu já estou farto disso - falou cruzando os braços. - Por mim a gente dava um jeito nisso. Chatice esse clima desnecessário.
concordou com a cabeça e quase agarrou ali mesmo.
- Tenho que concordar com ele - falou olhando pra que tava com cara de quem não ia ceder, mas, por incrível que pareça, cedeu.
- Pra mim, qualquer coisa que não me deixe incomodado. Odeio me sentir assim - falou e quase esqueceu que faltava uma pessoa pra dar sua opinião. - ?
O garoto fingiu que nem escutou, mas depois de um tempo virou o rosto e disse simplesmente.
- Não. Não mesmo.
- Deixa de ser durão. Aposto que é o mais incomodado da gente - alfinetou, sabendo que era verdade. sempre foi o mais próximo de , isso era inegável.
- , deixa o no canto dele. Não tem com que se preocup…
- Claro que tem! - se irritou. - Faz isso pela gente, … - pediu com cara de cachorro que caiu da mudança.
- Droga. Eu odeio vocês - falou tentando não dar um riso da expressão de .
- Sabe que quem vai ligar pra ele é você, né? - perguntou enquanto começava a andar com os rapazes. o olhou de lado.
- Eu? Por que eu?
e se entreolharam e deram um aceno um para o outro.
Aquela história era longa. E agora ela tinha certeza que não acabaria ali.
???
O dia estava ensolarado desde que nascera, como se dissesse que algo estava pra acontecer. buscou na casa dela, a pé mesmo, e eles foram andando pra Starbucks mais próxima. Eles tinha muito a conversar mas também tinham muitos beijos pra colocar em dia.
- Vai querer o quê? - ele falou enquanto entrava na fila e já via algumas pessoas o reconhecendo. Desvantagens de ser famoso e não ter descanso em nenhum lugar.
- Pode deixar que eu peço, se não você vai ser muito cobiçado e já vi que não está com humor pra isso hoje - ela falou piscando e tirando o dinheiro da mão dele. riu de lado vendo como ela o conhecia por inteiro e apertou a bochecha dela, que riu feliz. Falou que estaria a esperando na parte de cima e ela concordou, esperando ele sair pra acariciar a bochecha que ele apertou. Quem diria que se não fosse por ela, eles não estariam ali naquele momento?
Seu orgulho estava a ponto de explodir.
Depois de fazer os pedidos de sempre, subiu com as bebidas e dois muffins, colocando-os em cima da mesa e tirando a atenção de do celular.
- Eles vão vir? - ela perguntou com um sorriso animado que logo sumiu quando o de fez o mesmo.
- marcou mais tarde. Talvez os encontremos depois - ele falou deixando pra lá enquanto pegava seu lanche. tentou não ficar chateada e focar no que eles dois estavam fazendo ali. Pegou seu muffin, deu uma mordida, duas, três, um gole na sua bebida, e resolveu falar.
- … - chamou a atenção dele que estava concentrado em seu lanche e parou tudo quando ouviu a voz dela. Chegou a engolir em seco quando viu a expressão séria dela.
- Já sei - ele falou deixando seu bolinho de lado.
- É, mas precisamos conversar - ele acenou com a cabeça e não falou nada, esperando ela continuar. - Eu, primeiro, quero te pedir desculpas.
- Não precisa - ele falou se exaltando e ela o jogou um olhar pedindo calma. - Ok. Continue.
- Então… Eu não devia ter domado as dores de ninguém e realmente me arrependo de várias coisas que fiz nesses últimos meses - ele acenou com a cabeça a entendendo. - Esse era um problema da banda com o e eu assumo que eu errei. Mesmo sendo fã, eu reconheço que devia ter ficado do seu lado e…
- Mas você não disse que não devia ter ficado do lado de ninguém? - se sentiu confuso.
- Sim, desse modo sim. Mas você era meu namorado - ela viu o olhar pesado do garoto sobre ela e consertou o tempo de seu verbo. - É - ele sorriu e ela continuou. - Me desculpa mesmo. Vou te entender completamente se você nunca mais quiser me ver e…
- Não! - se espantou com as palavras dela e moveu sua mão, segurando a dela. - De maneira alguma! - continuou exaltado. Relaxou e também tentou pensar em algo a dizer pra ela. - , eu entendo que as pessoas erram. Tanto que até eu acho que eu errei. Não foi a toa que fui atrás de você e…
- Quanto a isso, me desculpa também - ela o cortou. - Eu só dei mancada.
tentou tirar os olhos do dele, virando o rosto, mas chegou mais perto dela e levantou-o com os dedos, sutilmente.
- Ei… Acontece - ele falou depois que eles se olharam nos olhos. - Nas melhores famílias - eles riram da piada de , mas o garoto falava a verdade. Que, em sua opinião, com ou sem , a banda continuaria completa. Com quem quisesse estar ali. Pra sempre.
- Você me perdoa? - ela falou tirando coragem de onde não tinha e ele sorriu, sutil, e respondeu.
- Só se você também me perdoar.
ficou tentada a não se jogar no colo dele, mas acabou fazendo isso. Ela não aguentava mais esperar por aquele momento. Ela só queria ser feliz do lado do cara que deu as maiores felicidades pra vida dela, ter os melhores amigos do mundo e deixar que o tempo a levasse para o futuro, pra um lugar onde todos eles se encontrariam.
Depois de ficar uns cinco minutos agarrada em trocando beijos e mais beijos desesperados de saudade, ela sorriu contra os lábios dele e sentiu a língua dele encostada a seus próprios lábios, impedindo que eles fossem embora do contato.
- Eu te amo - falou baixinho e com a voz rouca, sentindo falta da bebida quente que havia começado a beber, mas que poderia ser substituída pela boca do namorado.
- Eu te amo muito mais - ele falou sorrindo também e grudou seus lábios novamente. Finalmente poderia fazer isso na hora que quisesse.
Depois de passarem o lanche inteiro entre pedaços de muffins, beijos doces, goles de bebida, beijos quentes, e um pedaço de torta dividido, eles resolveram ir embora. Pra casa dela.
Assim que estavam pra sair do local, a três passos da porta, entrou , , e , os três primeiros conversando e o quarto sério. tinha o olhar caído, que foi subindo quando viu a sua frente e depois olhou pro lado, vendo os três conhecidos.
Era a hora da tal conversa. Hora dos acertos. E talvez até de perceber que um vivendo sem os outros tudo era uma mentira. E de finalmente perceber que a história deles não acabavam ali.
E isso pôde perceber apenas por um olhar.
- Eu já disse que não tem nada pra fazer, ! - ele passava a mão pelo cabelo nervoso.
- Claro que tem! - a mulher falou. - Vai atrás dele! Ele não pode acabar a banda assim! - a raiva passava pelo seu rosto deixando-o marcado pela vermelhidão e seus olhos se enchiam d’água. Ela se culpava por ser fã da banda. Ela se culpava por não poder fazer nada a não ser ver um dos integrantes sair dela como se fosse a coisa mais natural do mundo.
passou a mão pelo rosto tentando não ficar mais nervoso e andou pra perto dela. Ela estava errada. A banda não iria acabar. Estava tudo planejado. Eles ainda tinham um contrato onde dizia que precisavam fazer cinco álbuns antes de decidir se queriam acabar a banda ou continuar. Aquele não era o fim.
- Eu só quero que você entenda que a banda não vai acab… - , num passe de mágica, já não falava alto. Gritava com raiva, as lágrimas caindo forte.
- Já acabou! Você não está entendendo, ! Se pra mim isso está sendo um inferno, imagina pras fãs! Imagina quando o mundo inteiro descobrir que o saiu!
não tinha o que falar. Nesse ponto estava certa. As fãs enlouqueceriam.
Mas por que ela não o entendia? era sua namorada. Sim, ela era fã da banda, foi por isso que eles se conheceram. Porém, não era melhor ela ser a fã e namorada controlada que sempre foi e apoiar ele? Dizer que tudo ficaria bem?
Um nó ia se apertando no cérebro de e ele achava que não aguentaria. Iria explodir. E ouvir o choro de sua namorada por causa de e seu surto o deixava cada vez mais irritado. Ele iria se controlar, ele iria…
- Eu não ligo! - ele gritou, dando um forte soco na mesa de madeira ao seu lado esquerdo, o qual o barulho ecoou pelo ambiente. - Eu não me importo com nada disso, ! Nada! O que importa é que a banda não vai acabar. Eu já disse! - pegou fôlego e tentou se acalmar. - Eu ainda estou aqui. Eu, o , o , o , nós todos estamos aqui pra dar o nosso melhor. Como você sempre pediram! E não é porque o saiu que nós vamos desistir, entendeu? - ele falava com o ar preso e respirou fundo olhando pra qualquer outro lugar quando terminou. Quando ele achou que terminou, já que sua mente borbulhava. - E se você quiser dar uma de fã, e não de namorada e me apoiar, pode dar o seu show. Mas não cobre de mim. Cobre dele.
Foi a última vez que eles se olharam naquele mês. O último olhar vindo dele, com um pingo de esperança que iria atrás dele. O último olhar vindo dela, com um pingo de amargura tentando entender o futuro que tinha dado pra sua vida.
Desde o dia que o famigerado saiu da banda, seus outros integrantes começaram a se reaproximar. Ele superaram as probabilidades da banda acabar e tiveram aquele instinto de sobrevivência que normalmente bate quando se está escalando uma montanha e vê que tudo o que você tem ali e agora são as pessoas junto a você. Você se segura neles antes que caia. Antes que o pior aconteça.
Com não foi diferente.
Enquanto e se reaproximaram nos shows, mostrando as fãs que a banda estava de pé e não tinha intenção de acabar, assim como a amizade eles, resolveu que viagens com outros amigos era sua forma de fingir que nada aconteceu. , por sua vez, foi o mais atingido. Ele era o mais sensível. E por mais que falasse que estava ali pra tudo, nada estava como antes. O casal acabou se distanciando e ele não achava que voltaria a ser como era tudo no início. Era tecnicamente impossível.
Aquele seria um ano difícil. Todos tinham certeza.
Fazia apenas três meses após a decisão de e os atuais membros da banda, totalmente dedicados ao novo álbum que estava pra ser lançado, não tinham folga do estúdio o qual iam pra gravar suas novas canções que, agora, eles podiam dizer que eram deles. Tinha bastante material que havia saído de suas próprias mentes e esse era o maior orgulho que eles poderiam ter. Ainda mais quando, por fora, as fãs não estavam lá muito amigáveis e aquele não fosse lá um grande motivo de orgulho. Não quando elas concluem, depois de meses, que a culpa não era do integrante que saiu, e sim dos outros. Até havia aquelas que ainda achavam que o real acontecido foi uma divergência de ideias, o que, para os integrantes da banda, era a melhor ideia a ser impregnada. Mas as mais chateadas, queriam culpar algo. Queriam culpar alguém.
- Você viu as últimas mentions no twitter? - perguntou sentando no sofá do outro lado do estúdio, abrindo sua garrafa de água e tomando alguns goles. era o que estava mais perto dele, já que era o próximo da fila pra gravar sua parte da música e estava ocupado demais tentando ficar alheio a qualquer conversa com seu celular na mão e olhando as últimas mensagens que o tinha endereçado. Nada interessante.
- Só dei uma olhada por cima, não li realmente - deu de ombros, mas tentou não parecer tão indiferente. - Algum assunto em específico?
- Não - fez o mesmo que , deu mais uma olhada em seu celular, que tinha a tela acesa na outra mão, e olhou para o amigo de novo. - A mesma coisa de sempre - rolou os olhos.
- Então o que tem demais? - não entendeu o que teria de importante no assunto abordado pelo amigo se o mesmo não dava importância.
- Eu só estou de saco cheio disso - bufou jogando o corpo pra frente, deixando o celular e a garrafa de água ao seu lado no sofá. Apoiou os ante braços nas coxas e sua cabeça pendeu pra frente. Via-se um completamente desarmado e que estava a ponto de desmoronar. - Será que elas só vêm o ? Não percebem que estamos tentando fazer a nossa parte? É tão difícil assim? - fazia expressão de dor, mostrando o quão angustiado ficava falando disso. Olhou pra com olhar de piedade e o amigo aparentou estar triste com toda aquela confissão. Atrás dele, , querendo ou não, escutou o que falou. Ele não podia negar que também ficava chateado com aquela situação, ainda mais quando aquele foi um dos motivos pra ter se distanciado dele. O rapaz procurava forças pra correr atrás de seu namoro, mas não fazia por onde. Seus amigos estavam longe dele, ninguém parecia disposto a ajudá-lo. Cada um tinha seus próprios problemas. Nada era como se era passado pra quem via por fora.
- Não foca nisso, - falou dando passos até o rapaz que estava sentado, pousando uma mão no ombro dele e chamando sua atenção. - Ainda temos as fãs que acreditam na gente. Que sabem que vamos dar nosso máximo e não faremos menos do que fazíamos quando estava aqui. Entendeu? - apertou o ombro do amigo que tentou sorrir e retirou o peso das pernas. Suspirou mais uma vez e, quando ia falar, se virou pra eles, falando.
- Queria ter a mesma confiança que você, - tentou dar um sorriso, mas pareceu mais uma careta. Os amigos viram e finalmente falou.
- Eu te entendo, . Mas também não consigo ter a mesma esperança que você tem.
rolou os olhos, percebendo que suas palavras não fizeram efeito, e virou-se pra , fazendo sinal e falando, pra que o amigo entendesse.
- Deixa que eu vou depois - disse se dirigindo pra onde ele estava. - Fica aí com o e sejam negativos juntos - ironizou o momento e aproveitou pra apoiar todo seu lado esquerdo na parede. Seu corpo doía pelas horas que passava em pé nos palcos da vida. Era algo que ele estava acostumado, mas que em época de turbulência tinha um grande efeito nele.
resolveu relaxar ao lado de e também se jogou no sofá, suspirando enquanto jogava a cabeça pra trás. Tombou-a para o lado e viu o lado esquerdo do rosto de . Parecia uma escultura. Ás vezes ele desejava ser um pouco mais bonito como seus colegas de banda.
- Aí - ele falou chamando atenção do garoto que tinha o celular de volta em mãos. - Você quer me ajudar numa coisa?
enrugou a testa sem entender do que se tratava.
- Tipo o quê?
- Tipo o meu namoro.
Era difícil pra ver que só precisava dela. Não era da banda nem dos fãs que ele precisava. Ele precisava de sua namorada. Da pessoa que ele mais amava no mundo.
E por mais que eles ainda se falassem, por mais que eles tentassem fazer o namoro dar certo, eles não se lembravam quando foi a última vez que eles saíram. Nem em grupo, com os garotos da banda e suas respectivas namoradas, nem sozinhos. Eles só precisavam de um momento sozinhos. E ver que eles ainda estavam ali. Um pelo outro.
- A chame pra sair - falou enquanto o jatinho parava na cobertura do prédio que eles dariam a entrevista oficial sobre a pausa de um ano da banda. não podia acreditar que teria, finalmente, um tempo de descanso depois de trabalhar cinco anos direto.
- Eu vou chamar - ele respondeu olhando pra fora da janela, observando as poucas nuvens ao longe e o sol saindo de trás de uma, fazendo seus olhos doerem e ele voltar a olhar pra dentro. estava a sua frente buscando seu olhar. - Só não sei quando.
O amigo rolou os olhos e quis dar um tapa forte no ombro de . Normalmente era aquilo que fazia voltar pra realidade.
- Agora - ele substituiu o gesto por uma só palavra que teve o mesmo efeito em . De alguma forma, o rapaz sabia que era a coisa mais sensata a fazer.
- Ok - acatou.
Tirou o celular do bolso e digitou uma mensagem, dando o endereço do local onde estava pra , pedindo pra ela encontrar ele ali depois da entrevista. Iria levá-la para o restaurante preferido dela naquela região e as chances deles voltarem a se falar melhor era grande. O que ele não esperava era ver uma mensagem mal humorada dela dizendo que estava ocupada daquele momento até o final da semana. Se não fosse a pessoa calma que era, já teria jogado pra longe o celular. Mas apenas guardou-o no bolso e olhou de soslaio pra .
- Ela não pode.
- O quê? Como assim? - jogou o corpo pra frente num susto, intrigado.
- Ela não pode, ué. Até o fim de semana - disse entre dentes. Agora sim seu namoro estava por um fio.
- Você se dá por vencido muito rápido - o rapaz a sua frente disse e rapidamente se levantou, pegou o celular do amigo no bolso da frente, sem dar tempo dele reclamar, e viu as últimas mensagens. Não entendia como tinha tanta paciência. Ele nunca faria aquele namoro dar certo sem .
O rapaz riu e começou a digitar, marcando um compromisso pra próximo segunda, sem falta, por . Sabia que o amigo se irritaria, mas tinha que fazer algo. Já estava tudo desmoronando mesmo. Alguém tinha que se salvar.
- Aqui - devolveu o celular para o amigo e olhou pro lado quando ouviu o ronco de . O amigo dormia igual uma pedra enquanto jogava Fifa 15 empolgadamente.
- Você enlouqueceu? - perguntou assim que leu a mensagem. - A gente nem sabe se tem compromisso na segunda, como vai marcando as coisas ass…
- Você não vai - falou calmamente. - Quer dizer, se a gente tiver alguma coisa na segunda, você não vai - sorriu como se tivesse vendo um quilo de batata frita a sua frente.
murmurou algum palavrão baixinho e deu um tapa na própria testa. Não sabia como ainda confiava a alguma ajuda.
Assim que eles foram descendo, foi percebendo que algo tinha mudado. Antes, ele faria de tudo pra ter ao seu lado. Antes, ele não se importava nem com quem estivesse ao seu redor se tivesse com ela. E agora… Ele só queria saber onde havia parado toda a sua paixão.
Então a segunda chegou. A segunda-feira que ele não sabia como havia virado um dia esperado, e não a constante segunda pós-ressaca.
acordou atrapalhado, quase caindo da cama. Mal tinha dormido. Estava comendo igual a um louco de ansiedade e foi correndo pra cozinha encher um pote grande de cereal. Sentou-se em frente a sua televisão e ligou no canal de esportes, já que era a única coisa que ele gostava naquele pedaço de tecnologia quando não estava vendo desenhos.
Sua manhã se estendeu daquela maneira até o meio dia e meia. Se arrumou educadamente preparado pra ir no restaurante pessoalmente pra confirmar seu horário a noite - é isso que acontece quando a pessoa não é uma das melhores pra se falar no telefone.
Demorou uns bons vinte minutos pra chegar no local, apesar de ser perto, por ser horário de pico e ter muitos carros na rua. Esperava que de noite não acontecesse o mesmo.
Depois de confirmar tudo com a recepcionista, ele resolveu ir em outro restaurante comer alguma coisa rapidamente, já que queria dar uma passada na checagem de som que seus amigos faziam para o show do dia seguinte. e seu senso de organização…
Como já iria para o La Rosié a noite, preferia ir a outro e gastar menos de dia, já que não tinha nada em casa pra um almoço completo além de sua preguiça carregada de mau humor. Comida de restaurante sempre é uma boa pedida.
Depois de andar dois quarteirões e atravessar uma rua, chegou a um outro restaurante que ele frequentava bastante e saudou o garçom que passava por perto. O próprio parou tudo que estava fazendo, e o guiou até a mesa que ele sempre preferia.
- O de sempre? - perguntou tirando seu bloco do bolso da frente.
- Isso - confirmou. - E um suco de pêssego também.
Depois que o garçom voltou a fazer o que fazia antes, notou certa movimentação do outro lado do restaurante. Podia ver algumas sombras e até achava que tinha visto o rosto da nova aposta pra namorada de seu ex-amigo e companheiro de banda. Devia estar com outra pessoa lá, como costume. Outro cara. Rumores, normalmente, são apenas rumores.
De repente, seu celular tocou no seu bolso, fazendo o barulho de mensagem, e logo viu o rosto de no canto superior esquerdo. Deu um sorriso nervoso e sentiu uma pontada no peito, como se não soubesse se aquilo era bom ou ruim. Ansioso, abriu o arquivo rapidamente e viu, mais uma vez, o que não gostaria de ter visto.
“Desculpa furar mais uma vez, mas pintou um compromisso e não vou poder ir de novo.” 13:09
“Vamos marcar pra outro dia?”
13:09
sentiu todas suas entranhas se remexerem. Não entendia como podia ser tão sem coração. Era a segunda vez. Ele estava correndo atrás. Era tão difícil de ver isso?
Sem querer ter um ataque de nervos dentro do restaurante, ele deixou a mesa e foi direto ao banheiro com a intenção de lavar o rosto, se acalmar e não se ver obrigado a ser cabeça dura e mandar uma resposta mal educada pra namorada - ou devia chamar de ex namorada?
Assim que abriu a porta do banheiro masculino, viu cabelos conhecidos saindo da porta do banheiro feminino. Achava que foi miragem, mas resolveu olhar melhor e deu de cara com ela. . Não, não podia ser.
Ela não o tinha visto, virada de costas e indo em direção a uma mesa. largou a porta, deixando-a bater forte e, sem tempo pra se acalmar, foi atrás dela, que, ao contrário dele, andava o mais calmamente possível. Ele a segurou pelo braço.
- .
A mulher levou um susto e, o sorriso que parecia estar dando, virou uma face de pavor. Agora sim. Ela estava ferrada.
- ? - ela perguntou, tentando se fazer de desentendida.
- Você está com a nova namorada do ? - ele perguntou agora vendo pra onde ela estava indo e realmente reconhecendo .
- Sim - falou nervosa, não entendendo se não tinha visto ou se ele queria se enganar. Como ela estava ferrada. - Com a .
olhou mais uma vez pra mesa e finalmente viu o que não queria ter visto. Alguém beijando a boca da mulher. Alguém com a estatura, cabelo e rosto idêntico a . Entendeu rapidamente o que estava se passando e, com uma expressão de raiva, voltou a olhar pra , soltando de uma só vez o braço dela.
- Eu não posso acreditar nisso. Diz que você não está saindo com eles… - pediu. Mesmo que fosse uma mentira ele queria escutar e fingir que nada estava acontecendo.
- … - falou quando reparou que ele estava dando passos pra trás, fugindo. Ela sabia que ele não gostaria nada quando soubesse que ela estava tentando apoiar ambos os lados, mas não queria ter sido pega no flagra.
Como um estalo de dedos, entendeu direitinho a mensagem dela minutos atrás.
- Eles são seu compromisso? - voltou a andar pra frente, agora ficando de frente pra ela e atrapalhando a passagem de algumas pessoas. Ele não se importava. Por um segundo, ele queria que nunca tivesse entrado em sua vida. - Você vai ficar com eles o dia inteiro, vai trocar o nosso encontro por causa deles? - aumentou seu tom de voz, chamando a atenção das pessoas que comiam a sua volta. Ele não se importava.
- , não vamos fazer isso. Não dentro do restaur… - ela foi interrompida por uma avalanche, por um que ela vira poucas vezes durante seu relacionamento com ele.
- Cala a boca! - ele falou alto e cerrando os punhos, agora chamando a atenção também de e sua namorada. - Me poupe disso, . Agora sou eu quem não quer mais.
E saiu trotando pela porta do restaurante. Sem comida, sem namorada, sem nada.
- Alguém me diz que foi só um pesadelo, por favor? - ele pedia de cabeça baixa, sentado numa cadeira nada confortável que tinha pelo lugar. Foi quem respondeu.
- Não foi, . É tudo verdade - levantou a cabeça e fez um joinha para o amigo, junto com uma expressão engraçada, se não fosse trágica.
- Obrigadão. Melhorou a beça meu humor.
Ambos rolaram os olhos e foi pro lado do amigo, puxando a camisa dele, chamando sua atenção. olhou pra cima e viu um também emburrado.
- Sei que não foi muito legal o que aconteceu com você, então vem tocar um pouco e esquece isso. Sério - tentou não parecer muito amigável facialmente porque sabia que isso não funcionava com o amigo.
- Tanto faz - levantou e foi até sua guitarra, pegando-a e traspassando pelo seu ombro, vendo sair do banheiro e dar uma expressão de quem não sabia de nada. E realmente não sabia, já que havia chegado em cinco minutos e o outro ainda não sabia o que havia acabado de acontecer.
- Tudo preparado pra hoje a noite? - perguntou sorrindo ao lado do amigo.
- Nada preparado pra hoje a noite - falou com a expressão cabisbaixa.
- O que aconteceu? - perguntou, levantando o rosto do rapaz e enrugando a testa. Algo estava errado. Ele podia perceber.
- Acabei de encontrar com a . Ela estava com o - falou de uma vez sentindo a dor no peito de novo. Toda vez que falava o nome daqueles dois, tinha vontade de correr pra qualquer lugar e esquecer do rosto deles. Pra sempre.
- Como assim? - perguntou, assustado. - Onde?
- Num restaurante. Juntos - completou mais precisamente. - Ela ainda fala com ele, . Ela ainda sai com ele. Onde já se viu isso? - perguntou com raiva e tocou as primeiras notas raivosamente. Inacreditável. Aquilo era inacreditável.
- Não pode ser… Tem certeza que era ela? - perguntou preocupado. Agora ele duvidava que iria querer alguma coisa com ela ainda.
- Eu falei com ela. Está bom pra você? - questionava cada vez mais irônico.
- Putz… - resmungou dando as costas e ficando de frente pros outros dois, fazendo uma expressão de quem dizia que agora sim tudo iria por água a baixo.
começou a tocar uma música do Aerosmith e tentou esquecer daquele momento. Depois tocou uma de uma banda de amigos conhecidos, a qual acompanhou, e quando foi reparar já estava tocando várias, com e também.
A tarde acabou com sua mente mais leve, mas seu coração mais pesado.
Já era noite e estava em casa estudando pra próxima prova desde antes de escurecer. Sua cabeça estava pesada e seus olhos sempre se fechavam quando viam mais uma palavra. Foi quando ela se viu obrigada a parar os estudos pra descansar.
Depois de tomar uma xícara cheia de capuccino pra se esquentar do tempo frio e chuvoso que estava na cidadade, resolveu ir pra cama mais cedo que o esperado. Sua vontade de ligar sua tv na Netflix, para relaxar e ver That ‘70s Show um pouco, sumiu e por um minuto ela apenas se deitou em seu colchão macio por cima da coberta e girou seu corpo, sentindo seu lado esquerdo todo escorado ali. Sua mão estava em baixo de sua cabeça, tentando apoiar o peso de sua cabeça que parecia apenas aumentar.
Droga. Ela pensava forçando os olhos fechados, pressionando as pálpebras. Era claro que a primeira imagem que veio a sua mente foi os olhos dele. O cabelo arrumado que ele ultimamente estava penteando demais. O hálito dele de pasta de dente quando se beijavam de manhã depois do café da manhã. A verdade era que ela estava morrendo de saudades. Apenas não queria assumir.
Quando abriu seus olhos, no escuro do quarto, sentiu um leve sorriso despontar de seu rosto. Um sorriso de como quem diz “são velhos tempos que não irão voltar”, “eu não sei o que fazer e pelo visto nem saberei.” Sua confiança estava sendo jogada no lixo enquanto percebia que já havia tentado fazer sua parte e ela ao menos deu atenção a ele. E, claro, ela se culpava. Era tudo culpa dela. E agora ela não sabia o que fazer.
queria deixar tudo pra trás, mas sentia que estaria cometendo um grande erro, talvez até irreparável. Não estaria?
Quanto mais o tempo passava, mais ele sentia que, uma hora ou outra, ele a esqueceria. Uma pena era que ele ainda tinha que ver as chamadas de pra e pedir pra que o amigo não atendesse. Não podia ouvir a voz de , se não explodiria. Mais uma vez.
Numa tarde, depois de fazer quatro meses da saída de da banda e um mês sem saber de , o ex integrante resolveu aparecer na casa de . Bem no dia que eles escolheram pra fazer um churrasco e resolver deixar tudo pra trás. Estavam reunidos celebrando a paz enquanto a guerra passava pela porta tentando causar intriga.
- Olá, boa tarde - passava por todos cumprimentando com um sorriso nada amigável e carregado de ironia, chegando cada vez mais perto da mesa dos ex amigos. - Boa tarde, queridos amigos que me ignoram - finalmente chegou e os olhou de um a um, fixando o olhar em pra depois fazer o mesmo com .
- O que está fazendo aqui, ? - perguntou, sendo fuzilado pelos amigos.
- Já que ninguém me atende, eu resolvi passar na casa de meu melhor amigo. Ou devia falar… ex? - disse provocando e sentiu uma queimação subir pelo seu peito.
estava quieto, tentando não olhar para o garoto a sua frente e ignorando seus afrontamentos. Ele não se daria ao trabalho de respondê-lo.
- , eu acho que não é a hora certa pra isso - falou tentando apaziguar, por mais que ele já houvesse tido inúmeras brigas com o ex membro enquanto ele estava na banda.
- Tudo bem, percebi que está tendo uma confraternização aqui, hum? - perguntou olhando ao redor, tentando não parecer surpreso. - Comemorando minha saída? - deu um sorrisinho de lado pra e depois olhou pra . - Ah, vou aproveitar que você está aqui e te passar um recado - tinha as mandíbulas travadas e ligeiramente doloridas, mas o escutou. - pediu pra dizer que está bem. Ótima. está sendo uma ótima amiga pra ela, sabe? Alguém que a escuta e não a julga por quem são seus amigos - falou dando um olhar ameaçador, insinuando que não faria isso, não seria um amigo de verdade pra ex dele.
- Vai se ferrar, - ele poupou suas palavras e as resumiu.
- , por favor - agora foi quem pediu.
- Parem de defendê-lo, isso é ridículo - ele retrucou puxando uma cadeira e sentando, sem ser convidado. Se eles fossem , não teriam feito isso. - Não vai falar nada, amiguinho? - olhava intrigado pra e o mesmo o olhou irritado, levantando da mesa e puxando dali. olhou pra uma última vez antes de sair de perto da mesa e puxou pros fundos da casa, onde não era longe. Olhou no fundo dos olhos dele antes de qualquer coisa e falou, tentando ser o mais rude possível.
- Se você veio aqui pra nos tratar assim, pode ir saindo da minha casa. E se eu não estou atendendo suas ligações, você não acha que tem algum motivo? Ou você acha que íamos ser melhores amigos pra sempre depois de você falar que nunca queria ter participado da banda? Ninguém está aqui pra presenciar seus shows, não, . Se quer fazê-los, vai procurar seu público. Enquanto você quer causar falando abobrinha, a gente quer atenção cantando. Desculpa se nossas ideias de fama são diferentes.
se manteve calado e engoliu em seco, mas não ia levar desaforo pra casa.
- E eu pensando que pelo menos você iria me apoiar… - disse olhando pra outro lugar.
- Deixe que as fãs achem que a gente apoia você. E me poupe. Se você queria acabar com a banda, saiba que seu plano foi por água a baixo - retrucava cada vez mais no nível de e o garoto começava a ficar nervoso. Não conseguiria a amizade dele novamente. Não daquele jeito. Não com ele sendo tão cabeça dura.
- Tudo bem. Um dia você vai me entender.
- O pior é que eu te entendo - falou dando mais um passo a frente, peitando . - O que eu não entendo é o motivo pelo qual quer tirar as nossas fãs da gente. De tentar sair por cima. Para de querer o mundo todo pra você, . Você não é assim.
O rapaz se sentiu tão atingido, que, por mais que tivesse amadurecido depois de tomar a decisão de sair da banda, percebeu que tinha razão. Ele nunca foi ambicioso. Não no nível que estava agora. Mas precisava. Ou ele seria um zero a esquerda. Um Zé Ninguém. Não era isso que ele queria.
- Tanto faz. Não sei o porquê estou perdendo meu tempo discutindo com você, então - falou irritado pelas palavras de e viu o garoto a sua frente sorrir.
- É porque você ainda gosta de mim. Deles. Da banda. Você não vive sem isso - dizia com um sorriso afetado e teve vontade de dor um soco na cara de . Quebrar todos seus dentes pra nunca mais poder cantar.
- Que eu aprenda a viver sem isso, então - e saiu andando, em direção a porta, com a intenção de nunca mais voltar. De nunca mais ver a cara de nenhum deles.
Nos seus ouvidos, Oasis tocava no último volume.
estava no aeroporto, esperando Danielle aparecer. Mais uma ex dos meninos sem futuros, era o que ela já estava acostumada a chamá-los. Elas eram amigas de longa data e foi exatamente por isso que Danielle a havia apresentado pra eles.
Entrou no banheiro cantando, aproveitando o momento sozinha pra se dar o luxo de lembrar o rosto de . Ela sentia saudade, mas tentava dizer que era nostalgia.
- ‘Cause I need more tiiiime, yes, I need more tiiime just to make things riiiiight - e mais uma vez ela se culpava. Aquela música lembrava demais seu relacionamento com ele. E ela não queria sofrer por aquilo. – Me and you what’s going on? - Talvez.
Retocou seu batom, com medo de algum paparazzi a fotografar e ter uma manchete em alguma revista como a ex de e voltou pro saguão, esperando a amiga. Tirou os fones antes dela chegar e a pegar chorando, e também se privando de se lembrar mais do rosto de certas pessoas que estava a rondando.
Em questão de minutos, Danielle estava a sua frente, dando um abraço apertado nela, cheio de saudades de dois meses sem se ver.
- Que saudades, ! - a amiga sorria de orelha a orelha, a olhando com os olhos brilhando.
- Você consegue ficar cada vez mais bonita, Dani! - riu e passou as mãos pelo cabelo da morena, agora ao natural, cheio dos cachos que a outra tanto amava.
- Vai passar lá em casa, né? - Danielle perguntou depois de colocar suas malas no carrinho. Sua viagem pra França foi de pouco tempo, mas havia voltado cheia de presentes. - Preciso te contar as novidades e quero saber as suas também - deu um sorrisinho pequeno, já sabendo o que viria de e viu a amiga levantando as sobrancelhas como quem dissesse que as notícias não eram boas.
Elas não demoraram pra chegar ao carro de , mas demoraram um tantinho pra colocar todas as malas lá, o que causou risadas e um pouco de esquecimento do que a tarde guardava pra elas. Depois de tudo arrumado, dirigiu pra casa de Danielle, o caminho já conhecido de cor e salteado, devido a todas as vezes que iam uma pra casa da outra fofocar sobre os caras da banda. O mais engraçado é que era mais ou menos isso que elas iriam fazer naquele dia. Dessa vez falando mal, não bem.
Depois de estacionar, pedir ajuda ao porteiro, subir com todas as bagagens e deixar todas elas espalhadas pela sala, Danielle se jogou no sofá e falou.
- Lar, doce, lar - ouviu a risada de e a viu se jogando no outro sofá.
- Quanto tempo que eu não venho aqui… - a outra falou com um ar de saudade, observando os vértices do ambiente, como se tivesse muita coisa interessante naqueles lugares.
Danielle a encarava, esperando pra amiga falar tudo, tirar todo o peso que a incomodava. Ela fez tanto isso quando acabou seu namoro com que nem se importava de ouvir falando de . Eles eram maravilhosos juntos e Danielle duvidava muito que conseguiriam ficar longe um do outro por tanto tempo.
- Chega de admirar o teto do meu apartamento, , deixa de enrolação - Dani falou se jogando do lado da amiga, pegando a mão dela e juntando com a sua em cima de sua barriga. - Depois eu conto da minha viagem. Eu quero saber de você - falou frisando a última palavra e a olhando profundamente, podendo ver várias cicatrizes profundas na amiga. - Que, aliás, não estou entendendo porque está tão tímida…
- Ai, Dani… - se enroscou num abraço de lado e apoiou seu queixo no ombro da amiga, sentindo suas bochechas esquentarem ao começar a falar. - Eu estraguei tudo e agora não sei como consertar meus erros… - falava resmungando, nem acreditando que finalmente poderia conversar com alguém sobre aquilo, já que nunca entenderia aquilo. Nunca entenderia como ela preferia à .
- Conta tudo pra sua amiga, vai - Dani apertou a mão de e escutou tudo o que ela tinha pra falar, toda sua frustação, todo seu amor reprimido, e até sentiu algumas lágrimas em seu ombro, sentindo como ela estava arrependida por ter feito tudo aquilo.
Depois dela desabafar, Danielle se sentou corretamente e fez fazer o mesmo, dando um olhar reprovador pra amiga, que ela sabia que precisava dar. tinha o costume de a apoiar quando terminara seu namoro com , já que foi por motivos não tão corretos vindos da parte dele, e elas sabiam que o que devia acontecer era o namoro acabar. Mas aquela situação era completamente diferente.
- , você é a única que não vê que é você quem tem que correr atrás. E do . Não do , nem da - ela falou balançando a cabeça, tentando ver se amiga concordava. Sem ter uma resposta, continuou a falar. - Você tem que agir como quem ama o , não a banda toda. Isso você não pode mudar, baby. É um problema deles.
- Mas… - vendo a cara da amiga já querendo protestar, Dani tomou as rédeas de novo.
- Ã-ã, nada disso. Sem mais nem menos. Eu sei que é difícil pra você. Sei que você não queria ver isso. Sei também que você é amiga dos dois. Mas não é questão de escolher um lado, de querer consertar isso por todas as fãs. Esse é o curso pelos quais as coisa vão. E eu acho que você está fazendo uma grande burrada em querer ajudar o . Ele é muito grandinho, tem namorada nova, família e agora até empresário novo pra fazer música sozinho. Esse não é o seu trabalho. Seu trabalho é ir atrás do - Dani sorriu e viu a amiga se desmanchar na sua frente, com um sorriso triste e todo seu lado direito no sofá.
- É tão difícil, Dani… Eu queria voltar no tempo e fazer tudo isso não acontecer - choramingou, lembrando do tempo que tudo eram flores e se abraçou, sentindo cada vez mais saudades. Sim, saudades. Sua história com eles era tão bonita. Ás vezes nem ela acreditava que foi a sortuda que escolheu como namorada. Que seu amor por ele era correspondido, e que ele tentou correr atrás dela enquanto ela estava ajudando . Como ela foi burra. Como ela queria estar com , como ela queria fazer tudo aquilo dar certo. - O que eu faço? - perguntou, com sua esperança reacendendo. Danielle riu vendo a expressão inocente da amiga e segurou a mão dela com suas duas mãos.
- Não sou nenhuma professora nesse assunto, mas vou tentar te ajudar - ela falou dando uma piscadinha e vendo o sorriso de verdade da amiga reaparecer. Talvez nada estava quebrado. - Vocês vão voltar a ser o melhor casal que esse mundo já viu!
Depois de levar a amiga pra um passeio de volta a cidade, foi até uma sorveteria e falou pra Dani contar da viagem toda, o que foi rapidamente atendido e ela se colocou a falar. Era ponto turístico, comida gostosa, descrição e mais descrição dos caras gatos franceses, e cada vez mais foi se perdendo, apesar de ainda rir com alguma coisa que a amiga dizia.
Sem querer, ela lembrou de uma turnê que tinha feito com os meninos a qual passaram pela França e ela passou uma madrugada inteira com comendo profiteroles, até dizer chega. Também lembrou como naquela época o amor deles estava aceso e eles não perdiam tempo em dizer ‘eu te amo’ um para o outro. Estava na cara deles e eles não deixariam de admitir.
- Estou vendo alguém perdida em pensamentos ou é impressão minha? - Danielle perguntou tomando mais uma colher de seu sorvete, olhando de soslaio, enquanto a amiga saia do transe, ficando um pouco constrangida pelo momento.
- Desculpa, é que… - tentou falar, mas a amiga a cortou.
- Já sei - olhou pra sua taça de sorvete e disse o nome que rondava a cabeça da amiga. - .
rapidamente fechou os olhos e respirou fundo.
- Ele.
Danielle riu nasaladamente e deixou a colher cair dentro do recipiente quase vazio.
- Você tem que parar de guardar as coisas pra você, viu? Olha como você fica quando não conta as pra ninguém - Dani a reprovou.
- Ah, fala sério, Dani - colocou uma mexa de cabelo pra trás da orelha. - Acha mesmo que eu falaria algo desse tipo pra ? Para o ? - falou o nome do ex integrante de uma forma como se isso fosse impossível e Dani até concordou com ela por olhares.
- Por que eles não são seus amigos, não é verdade? - perguntou com um olhar ameaçador.
- Claro que são! - fechou a cara e olhou pra baixo. Mas, não tendo coragem pra fingir, olhou pra Danielle de novo e viu o olhar dela pedindo a verdade. - Claro que não… - a garota finalmente se desmanchou na cadeira e até fechou os olhos, incomodada com aquilo.
- Okay, sobre isso você não falou nada ainda. Mas sabia que tinha caroço nesse feijão - Danielle falou, se ajeitando na cadeira pra ouvir o que tinha a dizer.
- É que… - a garota voltou a sentar direito na cadeira e chegou mais pra perto da amiga, tentando falar baixo pra ninguém mais escutar também. - Eu pensei que o estava certo. Depois que ele me contou os motivos pelos quais ele saiu da banda, eu pude ver o lado dele, entende? E eu achei que ele precisava de uma amiga, não só de uma namorada, já que o namoro dele com a da girlband já estava acabando também… - respirou antes de terminar e viu o olhar da amiga pedindo pra que ela continuasse. - Mas não foi exatamente isso que aconteceu. Ele mudou. Parece que fizeram uma lavagem cerebral nele e ele começou a ficar louco, dizer que nunca quis estar na banda, falar isso pra todos os tabloides e, isso sim, me magoou ainda mais. Se eu estava ainda do lado dele, foi por causa da . Ela estava segurando ele. E eu estava me segurando nela… - terminou e deixou sua respiração fluir corretamente, olhando pra outro lugar antes de olhar pra amiga de novo.
- Deixa eu ver se entendi… Você se decepcionou com o também? - Dani questionou.
- Basicamente - levantou as sobrancelhas.
- Uou, isso que eu chamo de estar na merda.
levou um susto pelo jeito que a amiga se referiu a ela e quase saltou da cadeira.
- Desculpa? - virou o rosto sem entender.
- Não você. Ele. . Ele arruinou a vida dele - Danielle confirmou seus pensamentos.
- Não exatamente - pegou na colher de novo e misturou o caldo do sorvete que ainda estava lá. Não gostava tanto de tomar aquela parte, preferia ver as cores se misturando. - Ainda tem as fãs que estão com eles. Mas não estão com os outros.
- Deixaram de ser fã da banda pra ser fã dele? - Danielle se exaltou.
- Pois é - fingiu que não pensou algumas vezes em fazer isso e deixou aquilo no ar. Não queria continuar com o assunto. Mas também não sabia que Danielle já ia lembrar o combinado de mais cedo.
- Tocando nesse assunto de banda dividida, o que pretende fazer pra reconquistar o ? - as sobrancelhas dela se levantaram, sugestivas, e quase riu, se não tivesse achado o ato precipitado.
- Não é você quem é a professora? - retrucou no mesmo nível.
- Ui - as duas riram do modo que Dani respondeu, mas rapidamente voltaram ao normal. - Mas você não tem nenhuma ideia do que o goste? Algum lugar que ele goste de ir?
- Claro que sei! - se sentiu insultada naquele momento, percebendo como Dani não sabia quase nada mais do seu namoro com . Ela achava, na verdade, que Danielle apenas bloqueava as memórias que aparecia com , para que não lembrasse tanto daquela fase nem tão boa da sua vida. Porque, com certeza ela lembrava de pelo menos uns dois, três lugares que os quatro gostavam de frequentar. - Ele gosta de ir aos estádios ver jogo de futebol… - falou pensando nas vezes que eles iam ver alguma partida e sempre que rolava gol eles se beijavam. Até deu um risinho que fez Danielle sorrir junto e comemorar, falando.
- Pois então já sabemos pra onde o casalzinho vai…
- Não mesmo - ficou séria do nada. Ela não conseguiria chamar pra sair. Não naquela situação, não quando seria ela quem teria de dar o primeiro passo. Até engoliu em seco só de tentar imaginar aquilo.
- Ah, vai sim - Danielle reafirmou balançando a cabeça. - Deixa de bobeira, ! Desde quando só o homem pode chamar a mulher pra sair? - Dani juntou suas sobrancelhas indignada com o pensamento retrógrado da amiga.
- Não é isso, Dani… - falou rolando os olhos, achando, também, um absurdo o que a amiga falara. - Eu só… Não falo com ele há um tempo e não sei o que fazer - deixou a fala pairar no ar e deu de ombros, olhando pra taça de sorvete a sua frente.
- Ligue pra ele. Mande uma mensagem. Há tantas formas que você pode fazer isso… - a amiga levantou as sobrancelhas mostrando que era tudo desculpa pra se fazer de mulher difícil, sendo que ela sabia muito bem que o que mais queria era voltar com . - Só para de recuar porque, se não, ele que não vai ficar te esperando.
E aquele foi o soco que precisava para perceber que era hora.
Hora de agir.
Depois de se arrumar e ajeitar sua blusa, , que estava saindo da faculdade, já tinha planejado tudo. Por mais que ela sabia que o certo era ir logo atrás de e esclarecer tudo que tinha de ser esclarecido, ela queria transparecer uma coisa natural, e não um pedido de desculpas frustrado, nem nada do tipo. Por isso ela estava lá. Com seus livros segurados contra o corpo, perto da casa de , decidida a subir no apartamento dele, caso ele não descesse naquele horário, já que ela tinha contatado e ficara sabendo que os amigos tinham marcado de jogar golfe.
Arrumou o cabelo, passando ele todo pro lado esquerdo de seu rosto, deixando seu pescoço exposto, e sorriu para o porteiro que já a conhecia.
- Bom dia, seu Steve.
- Bom dia, ! - respondeu feliz por vê-la ali depois de tanto tempo.
A mulher se direcionou pro elevador, apertou o botão e o esperou chegar com seu celular na outra mão observando o horário. Assim que a porta abriu, a pessoa que saiu do pequeno cubículo, saiu como trovão e acabou esbarrando nela bruscamente, deixando seus livros e anotações dentro dele serem todos espalhados no chão.
- Ai, meu Deus! Me desculpa - cabelos conhecidos tomaram a visão de quando ela abaixou pra pegar suas coisas também, e seus olhos se encontraram com o dono dos olhos da sua vida, assim que ele desviou seu olhar dos papéis também. Ele travou. Ficou sem reação. Parecia que o seu coração tinha parado, enquanto seus lábios queriam se mover num sorriso. Ele que impediu aquele gesto com um desvio de olhares e um levantar brusco. - - ele falou asqueroso olhando pra outro lugar. Ele só queria tocá-la pra saber se ela estava ali mesmo, se aquilo era real.
- Oi, … - ela falou tímida agora perto dele. Ela não havia pensado no que faria caso aquilo acontecesse, já que achava que seria algo mais formal, que demandasse, realmente, sua força de vontade. Pegou o resto de seu material e juntou contra seu corpo de novo.
- O que faz aqui? - ele perguntou tentando não ceder. Era difícil, já que as saudades dos lábios dela o tomava, mas ele conseguiria.
- Vim te ver… - a mulher falou dando um passo pra frente, ficando mais próxima dele. engoliu em seco e desviou o olhar novamente. Droga. Ele não podia perdoá-la tão fácil só por ser a pessoa mais preciosa do mundo pra ele.
- E o que quer? - perguntava cada vez mais seco, fazendo o coração mole de endurecer aos poucos, percebendo que não daria muito certo aquele tipo de aproximação. Preferiu ir ao ponto, então.
- Queria saber se você não quer sair comigo esse final de semana - disse, agora ela desviando o olhar. foi pego de surpresa, mas tentou não demonstrar, olhando para o seu relógio de pulso mostrando que tinha compromisso. Tossiu nervoso e respondeu.
- Esse final de semana? - perguntou ficando nervoso pensando na possibilidade de um encontro só eles dois. Não, ele não podia ceder. Sua mente agia como se sua cabeça fosse de um adolescente de quinze anos.
- Isso. Vai ter jogo do Derby, pensei se você não queria ir…
fechou os olhos por alguns segundos só pra se concentrar melhor para responder. Não podia parecer animado demais. Pois, além do mais, ainda tinha algo dentro dele relutando pra aceitar o que estava acontecendo na frente dele. Nunca imaginara ver fazendo alguma coisa depois de tantos desencontros. Jurava que seu namoro iria cair por água e ficaria no passado. Talvez algum sininho dentro da cabeça de havia soado...
- Tudo bem - sorriu calmamente vendo-a sorrir também.
- Eu te ligo! - começou a dar passos pra trás, ficando animada demais pra ter um ataque na frente de . - Pra gente marcar o horário - falou e viu acenar com a cabeça, levantando a mão pra acenar um tchau.
- Ok - ele falou e a viu saindo do prédio com um sorrisinho de lado no rosto, iguais àqueles que ela dava quando se conheceram. De fã tímida. De mulher corajosa. Ele adorava as contraposições que ela tinha.
Só depois ele percebeu que já estava atrasado pro compromisso e saiu rapidamente, com um aceno para o porteiro também, pensando no que seus amigos achariam daquilo. então… Finalmente algo estava dando certo.
- Não! - arregalou os olhos depois do que foi dito por . - Não acredito!
- Pois pode acreditar - o rapaz respondeu. - Ela chamou.
logo correu pra perto de sua bolsa de golfe e tirou seu celular da bolsa. Rapidamente já havia mandado uma mensagem pra e convocando-os para uma reunião urgente naquela tarde.
- O que está fazendo? - perguntou intrigado, tirando o celular da mão do amigo. Leu rapidamente a mensagem e depois olhou para o homem a sua frente. - ! Você também é exagerado, hein… - bufou e rolou os olhos, fazendo cena.
- Olha quem fala…
fez careta e o outro o imitou, rindo, e o puxou pra voltar a jogar golfe.
Depois de mais de uma hora jogando, eles estavam morrendo de fome, então se apressaram no banho e colocaram uma roupa mais despojada. Foram num restaurante que haviam recomendado a eles uma vez e logo estavam indo pra casa de que foi onde marcaram a reunião enquanto trocavam mensagem na ida para o restaurante.
- Está ansioso? - falou como se quem não quisesse nada olhando pela janela e depois pra , que tentava fingir que estava bem, mas tinha o estômago gelado de nervosismo. Como ele se vestiria, como arrumaria o cabelo, qual perfume passaria? Ah, tem aquele que é o preferido dela, pode ser… Ele pensava nervoso sem ao menos saber sobre o evento direito.
- Não - finalmente respondeu depois de balançar a cabeça e fazer todos seus pensamentos sumirem. não acreditou na resposta do amigo, mandando-o um olhar cortado.
Os dois subiram ao apartamento de e o anfitrião logo passou um braço pelo ombro de , levando-o consigo pra dentro da casa.
- E o que as moçoilas têm de fofoca pra me contar? - perguntou apertando o amigo nos seus braços, que sorriu engraçado e juntou as sobrancelhas. olhou pros dois sorrindo e balançando a cabeça, sem acreditar em como seus amigos eram tão fofoqueiros.
- Boa tarde pra você também, - falou antes de se jogar no sofá do amigo. - Onde está ? - perguntou procurando o outro amigo no ambiente.
- Banheiro - jogou a cabeça para o lado pra mostrar onde o amigo estava e deu uma cabeçada com que urrou um ‘outch’. - Desculpa - o rapaz falou carinhoso e fez carinho no cabelo do amigo que logo estranhou e saiu do abraço. - Até parece que não me ama.
ficou rindo da cena dos dois e deixou o tempo passar. Como era bom rever os amigos juntos e sem ser em ritmo de tour. Ver a amizade deles decolando novamente dava ao jovem mais energia e vontade de viver. Parecia que nada estava no fim.
A primeira coisa que pensou depois de tantas vezes tentando falar com no meio daquele jogo e sendo atrapalhada por vários gritos é que as coisas estavam indo bem demais pra ser verdade. Já era a quinta vez que ela tentava manter a conversa e…
- Falta! - gritou se levantando da cadeira eufórico.
virou o rosto pro lado que ele não estava e rolou os olhos. Balançou a cabeça em negação e fechou os olhos, pensando que realmente aquilo não daria certo.
Desde que havia a buscado em casa, tratado-a como uma princesa, até o momento antes dele pisar no estádio ele estava um verdadeiro príncipe. Só foi entrar em contato com o mundo futebolístico que ele virou o fascinado que era por aquele esporte.
- Você falou alguma coisa, ? - ele perguntou após sentar novamente e olhar rapidamente para a mulher. Ela olhou apenas séria pra ele como quem perguntasse em que mundo ele vivia e ele logo leu seu olhar. Poderia ficar pálido se não tivesse nervoso o suficiente com o jogo que passava diante de seus olhos. - Foi alguma coisa que eu fiz?
- Não, eu só estou tentando ter uma conversa normal com você, mas está imposs…
- Uhhhh! - a torcida pulou com o quase gol e foi junto. Ok, aquela era a verdadeira desistência de .
A mulher rapidamente tirou o celular da bolsa e se dispôs a mexer no aparelho. A verdade é que ela nem gostava muito de futebol, apenas havia virado uma tradição deles irem aos jogos juntos e celebrar as partidas ganhas depois. Ela sorriu de lado ao pensar nisso, mas logo lembrou que o namoro deles não estava assim tão firme pra comemorações daquele nível.
não demorou muito para deixar o celular de lado e logo o colocou de volta a bolsa, avisando a que ia ao banheiro. Assim que levantou, uma onda de berros a atingiu em cheio fazendo a ficar desnorteada, piscando os olhos de milhares de vezes.
- Gol! - berrou feliz e rapidamente virou pra ela, a segurando e dando um beijo rápido na boca dela. Os estômagos dos dois foram ao céu e voltaram e foi na queda que eles perceberam o que estava acontecendo.
soltou-a rapidamente e com os olhos arregalados e o sorriso sumindo pediu desculpas. Olhava pra colocar lado que não fosse ela e tentava não sorrir com aquilo. A verdade é que ela finalmente estava gostando daquele jogo.
- Tudo bem - ela olhou pra baixo tímida e depois olhou pra ele novamente, apontando pra trás indicando que iria ao banheiro.
Assim que ela saiu com o maior sorriso que ela já dera, sentou-se e pôs os cotovelos apoiados em seus joelhos, aproveitando pra descansar a cabeça em suas mãos. Ele havia acabado de beijar , a (ex)namorada que ele nem sabia mais o que se passava entre eles. Merda de impulso. Merda de jogo. Merda de vida.
Ele estaria feliz se já tivesse conversado com ela e colocado todos os pingos nos i’s. Mas agora ele estava cada vez mais confuso. Ela não podia jogar com ele daquela forma.
E foi com esse pensamento que ele começou a andar para o lado oposto e sentou-se a algumas cadeiras de distância. Talvez ela nem voltasse pra aquele jogo. Talvez ela nem voltasse pra sua vida.
Depois de ter uma longa conversa com Danielle sobre o famigerado dia do jogo, havia caído por terra e quase chutou o balde. Não aguentava mais a amiga apoiando o garoto e dizendo que ela precisava correr atrás de verdade. Que deixasse na mão de Deus, isso sim!
Frustrada com esse pensamento, a mulher rolou na cama e calçou suas pantufas, indo até a sala pegar seu celular que estava carregando. Assim que desbloqueou o aparelho viu uma mensagem de quem ela menos esperava. .
- Ué - juntou as sobrancelhas sem entender. Então leu com calma e descobriu que a garota estava ali por perto e queria a encontrar. Ela deu de ombros, com um tanto faz, e foi até o armário separar uma roupa nem tão quente nem tão friorenta.
Depois de montar seu look, tomou um rápido banho e disse que a encontraria em frente ao café que tinha a duas quadras dali. Em menos de quinze minutos estava em frente ao local e viu a amiga do outro lado do estabelecimento a esperando.
- Ei! - a chamou com gracejo e a namorada de seu amigo logo se virou pra ela.
- ! - elas se abraçaram. - Quanto tempo…
- Verdade! - a mulher ajeitou os cabelos atrás da orelha e continuou a conversar. - O que anda fazendo que está tão ocupada? - perguntou, interessada.
- Nada demais. Só o que anda tomando meu tempo e querendo me levar pra tudo quanto é lugar com ele, principalmente em dia de gravação do álbum.
- Álbum? - se assustou. Não esperava que já faria isso tão rápido.
- Sim - a amiga respondeu sem saber se aquilo era bom ou ruim. O silêncio pairou sobre elas por uns instantes mas logo tratou de quebrá-lo.
- Não vamos fazer com que isso atrapalhe nosso passeio - passou um braço por debaixo do braço da amiga, laçando-os, e a puxou pra começarem a andar. - Se importa de caminhar um pouquinho? - perguntou já começando a andar. sorriu e a olhou de lado.
- Nem parece que me conhece - as duas riram juntas. - Se eu pudesse, só andaria. Não posso mais pensar em andar de carro pra lugar nenhum! - comentou rindo ainda mais.
Elas deram várias passeadas ao redor da pracinha que tinha ali perto e agradeceram que nenhum paparazzi estava ali, já que normalmente era um lugar que e costumavam frequentar bastante. Talvez até eles perceberam que o casal estava se desfazendo e nem tinha mais o que fotografar.
Na volta para o apartamento de , onde combinaram que assistiriam um filme com direito a pipoca e muito brigadeiro, algo da culinária brasileira que havia aprendido a fazer, elas acabaram comprovando que tudo estava quieto demais quando esbarraram com Paul, segurança da banda mais famosa daquele país.
- Paul! - falou quase se engasgando e piscando com um sorriso sem graça no rosto. Tudo isso por causa da lembrança de e o último beijo deles. Droga. Ela precisava vê-lo.
- ! - ele falou sorrindo de orelha a orelha ao ver a tão adorável menina. Depois girou o rosto e continuou sorrindo, agora mais fraco. - ! Como vão? - perguntou, simpático.
- Estamos bem! - respondeu tentando ser agradável também. Paul logo voltou a olhar pra , que ficou constrangida e rapidamente arranjou algo pra falar.
- O que faz por aqui? - desviou o olhar. Paul riu do gesto dela e a garota fingiu que não viu.
- Vim deixar a banda aqui perto pra uma entrevista sobre a pausa mas já deve estar no final até - ele falou checando o relógio e comprovando fazendo a sobrancelha subir em afirmação.
sentiu sua mente a mil, como se uma lâmpada estivesse em cima de sua cabeça, como num desenho animado. Aquilo ela bom demais pra ser verdade. estava distraída então nem se ligou quando deu a ideia de…
- Eles estão por aqui? - falou como quem não quisesse nada. - Tanto tempo que não os vejo…
Paul rapidamente entendeu a deixa da mulher e sorriu.
- Quer que eu as leve até eles? Daqui a sete minutos eles estão livres.
não pensou duas vezes e logo estava com um grande sorriso no rosto, sem nem pensar nos ‘contras’ que teria de os ver. Principalmente . Ela só queria beijá-lo até ele dizer que o namoro estava reatado.
- Claro! - ela falou empolgada.
De repente, parecia não querer sair do lugar, mas com um puxão da amiga ela rapidamente se moveu.
- … - tentou falar com a amiga, que apenas a ignorou e continuou seguindo Paul.
Eles seguiram rapidamente para o local mas deu tempo dos integrantes da banda saírem ainda antes. quase parou no meio do caminho ao vê-los todos juntos. Ela realmente não tinha a mínima ideia de quando havia sido a última vez que tinha os visto juntos.
- Ei, ! - foi o primeiro a vê-la e correu pra perto dela.
- ! - o abraçou e ele apertou-a forte em seus braços. puxou o amigo, que riu debochado, e deu espaço pra ele também roubar um abraço dela.
- Você está menor do que já era ou é impressão minha? - ele perguntou e ela riu, durante o abraço. Depois deu um beijo na testa e esperou terminar de falar com Paul, já que com certeza seria o último a falar com ela.
- ! Quanto tempo! - falou a abraçando também, mais muxoxo. Ele não era muito de abraços, apesar que um dia já havia sido o que mais abraçava da banda.
ficou um pouco sem jeito mais abraçou-a também, não tão forte quanto queria, por isso também deixou um beijo na bochecha dela, que logo enrusbeceu.
Todos deram um breve ‘olá’ pra que apenas sorriu e acenou e manteve o olhar numa porta que tinha no final do quarteirão, como se alguém fosse sair a qualquer momento. A amiga bem percebeu e parou a euforia da conversa um momento pra chamar a atenção dela.
- Tudo bem, ? - perguntou. A mulher saiu do transe e abaixou a cabeça, sem saber como falar o que estava tentando falar antes.
- Ah, é que… - trouxe o olhar pra cima e falou olhando pra tal porta. - O está aqui do lado. Na gravadora. Daqui a pouco ele vai sair e…
- Não acredito! - só faltava pular de alegria. Ver os cinco ali na frente dela? Parecia até sonho! Ela realmente não esperava por aquilo. - Eles juntos, eu vou desm…
- Para, ! - arregalou os olhos mas depois riu percebendo que era só o outro lado dela se revelando. - Acalma os instintos de fã, por favor - frisou na última palavra.
balançou a cabeça em afirmação apesar de estar quase pulando no lugar. Continuou falando com os rapazes normalmente e eles não pareciam querer sair dali, então também manteve um olhar sobre a tal porta e um sorrisinho em seu rosto, imaginando o que aconteceria no momento que saísse dali.
E assim que o ex integrante saiu, desacompanhado, os olhos dela brilharam. Parecia ver ouro mas era apenas . Os outros também viraram o rosto pra onde ela estava olhando e não acreditaram. Parecia uma…
- Armação? - puxou ela para o outro lado e fuzilou-a com olhar.
- Quê? - ela se indignou. - Claro que não!
- E o que isso significa? - ele perguntava nervoso.
- O está gravando um… álbum - deixou a palavra no ar e mirou .
- E ela sabia?
- Ela só me contou depois que a gente chegou aqui. Eu não deixei ela falar, eu fiquei empolgada em ver você e os meninos e…
- Tudo bem - relevou percebendo que não tinha nada a ver com aquilo. - Me desculpa - disse voltando pra onde estava. o segurou pelo antebraço e o puxou novamente, dando a mão pra ele logo após.
- Não! Digo, eu que peço desculpas. Não quero mais intriga entre vocês e… - a mente dela começou a se bagunçar com tanta coisa que ela queria falar pra e ela apenas fechou os olhos tentando pensar. - Tem como a gente ir à Starbucks, sentar, conversar…?
até pensou em aceitar, mas lembrou que havia marcado de sair com os seus amigos e realmente não iria dar.
- Hoje não dá, mas… - ele não queria dar outra furada, então não iria perder outra chance de vê-la.
- Final de semana, pode ser? - ela falou com um sorriso no rosto e ele sorriu também concordando. Ele apontou para o celular no bolso e ela confirmou com a cabeça. Estaria esperando mensagem dele.
O momento só não havia acabado porque falava alto com e e chamou a atenção dela.
- Eu odeio esse clima. Essa tensão. Odeio! - o garoto falava irritado.
- Do que fala, ? - chegou perto deles.
- O . Só foi ele sair que a tensão chegou - completou e tentou não olhar pro garoto que agora falava com a namorada. Ainda teve a cara de pau de acenar pra eles e saiu de mansinho como quem não quisesse nada.
- Eu já estou farto disso - falou cruzando os braços. - Por mim a gente dava um jeito nisso. Chatice esse clima desnecessário.
concordou com a cabeça e quase agarrou ali mesmo.
- Tenho que concordar com ele - falou olhando pra que tava com cara de quem não ia ceder, mas, por incrível que pareça, cedeu.
- Pra mim, qualquer coisa que não me deixe incomodado. Odeio me sentir assim - falou e quase esqueceu que faltava uma pessoa pra dar sua opinião. - ?
O garoto fingiu que nem escutou, mas depois de um tempo virou o rosto e disse simplesmente.
- Não. Não mesmo.
- Deixa de ser durão. Aposto que é o mais incomodado da gente - alfinetou, sabendo que era verdade. sempre foi o mais próximo de , isso era inegável.
- , deixa o no canto dele. Não tem com que se preocup…
- Claro que tem! - se irritou. - Faz isso pela gente, … - pediu com cara de cachorro que caiu da mudança.
- Droga. Eu odeio vocês - falou tentando não dar um riso da expressão de .
- Sabe que quem vai ligar pra ele é você, né? - perguntou enquanto começava a andar com os rapazes. o olhou de lado.
- Eu? Por que eu?
e se entreolharam e deram um aceno um para o outro.
Aquela história era longa. E agora ela tinha certeza que não acabaria ali.
O dia estava ensolarado desde que nascera, como se dissesse que algo estava pra acontecer. buscou na casa dela, a pé mesmo, e eles foram andando pra Starbucks mais próxima. Eles tinha muito a conversar mas também tinham muitos beijos pra colocar em dia.
- Vai querer o quê? - ele falou enquanto entrava na fila e já via algumas pessoas o reconhecendo. Desvantagens de ser famoso e não ter descanso em nenhum lugar.
- Pode deixar que eu peço, se não você vai ser muito cobiçado e já vi que não está com humor pra isso hoje - ela falou piscando e tirando o dinheiro da mão dele. riu de lado vendo como ela o conhecia por inteiro e apertou a bochecha dela, que riu feliz. Falou que estaria a esperando na parte de cima e ela concordou, esperando ele sair pra acariciar a bochecha que ele apertou. Quem diria que se não fosse por ela, eles não estariam ali naquele momento?
Seu orgulho estava a ponto de explodir.
Depois de fazer os pedidos de sempre, subiu com as bebidas e dois muffins, colocando-os em cima da mesa e tirando a atenção de do celular.
- Eles vão vir? - ela perguntou com um sorriso animado que logo sumiu quando o de fez o mesmo.
- marcou mais tarde. Talvez os encontremos depois - ele falou deixando pra lá enquanto pegava seu lanche. tentou não ficar chateada e focar no que eles dois estavam fazendo ali. Pegou seu muffin, deu uma mordida, duas, três, um gole na sua bebida, e resolveu falar.
- … - chamou a atenção dele que estava concentrado em seu lanche e parou tudo quando ouviu a voz dela. Chegou a engolir em seco quando viu a expressão séria dela.
- Já sei - ele falou deixando seu bolinho de lado.
- É, mas precisamos conversar - ele acenou com a cabeça e não falou nada, esperando ela continuar. - Eu, primeiro, quero te pedir desculpas.
- Não precisa - ele falou se exaltando e ela o jogou um olhar pedindo calma. - Ok. Continue.
- Então… Eu não devia ter domado as dores de ninguém e realmente me arrependo de várias coisas que fiz nesses últimos meses - ele acenou com a cabeça a entendendo. - Esse era um problema da banda com o e eu assumo que eu errei. Mesmo sendo fã, eu reconheço que devia ter ficado do seu lado e…
- Mas você não disse que não devia ter ficado do lado de ninguém? - se sentiu confuso.
- Sim, desse modo sim. Mas você era meu namorado - ela viu o olhar pesado do garoto sobre ela e consertou o tempo de seu verbo. - É - ele sorriu e ela continuou. - Me desculpa mesmo. Vou te entender completamente se você nunca mais quiser me ver e…
- Não! - se espantou com as palavras dela e moveu sua mão, segurando a dela. - De maneira alguma! - continuou exaltado. Relaxou e também tentou pensar em algo a dizer pra ela. - , eu entendo que as pessoas erram. Tanto que até eu acho que eu errei. Não foi a toa que fui atrás de você e…
- Quanto a isso, me desculpa também - ela o cortou. - Eu só dei mancada.
tentou tirar os olhos do dele, virando o rosto, mas chegou mais perto dela e levantou-o com os dedos, sutilmente.
- Ei… Acontece - ele falou depois que eles se olharam nos olhos. - Nas melhores famílias - eles riram da piada de , mas o garoto falava a verdade. Que, em sua opinião, com ou sem , a banda continuaria completa. Com quem quisesse estar ali. Pra sempre.
- Você me perdoa? - ela falou tirando coragem de onde não tinha e ele sorriu, sutil, e respondeu.
- Só se você também me perdoar.
ficou tentada a não se jogar no colo dele, mas acabou fazendo isso. Ela não aguentava mais esperar por aquele momento. Ela só queria ser feliz do lado do cara que deu as maiores felicidades pra vida dela, ter os melhores amigos do mundo e deixar que o tempo a levasse para o futuro, pra um lugar onde todos eles se encontrariam.
Depois de ficar uns cinco minutos agarrada em trocando beijos e mais beijos desesperados de saudade, ela sorriu contra os lábios dele e sentiu a língua dele encostada a seus próprios lábios, impedindo que eles fossem embora do contato.
- Eu te amo - falou baixinho e com a voz rouca, sentindo falta da bebida quente que havia começado a beber, mas que poderia ser substituída pela boca do namorado.
- Eu te amo muito mais - ele falou sorrindo também e grudou seus lábios novamente. Finalmente poderia fazer isso na hora que quisesse.
Depois de passarem o lanche inteiro entre pedaços de muffins, beijos doces, goles de bebida, beijos quentes, e um pedaço de torta dividido, eles resolveram ir embora. Pra casa dela.
Assim que estavam pra sair do local, a três passos da porta, entrou , , e , os três primeiros conversando e o quarto sério. tinha o olhar caído, que foi subindo quando viu a sua frente e depois olhou pro lado, vendo os três conhecidos.
Era a hora da tal conversa. Hora dos acertos. E talvez até de perceber que um vivendo sem os outros tudo era uma mentira. E de finalmente perceber que a história deles não acabavam ali.
E isso pôde perceber apenas por um olhar.