13. Love Of My Life

Finalizada em: 18/10/2022

Capítulo Único

Poynter



Eu já sabia o que encontraria lá dentro assim que ouvi a música.
A casa estava em um estado decadente com a tinta descascando, ervas daninhas brotando entre os degraus da entrada e janelas quebradas, mas ainda era um lugar especial para mim, então foi o primeiro lugar que eu resolvi visitar assim que cheguei na cidade.
O que eu não esperava era que mais alguém fosse estar aqui. E não qualquer alguém, mas ela.
Nenhuma outra pessoa que eu conhecia vinha até a antiga casa do Johnny. Era considerada assombrada e a única pessoa que eu sabia que vinha aqui regularmente era a pessoa que costumava vir comigo até aqui há muito tempo.
O chão rangeu quando entrei no hall, mas a musica estava alta o suficiente para ocultar o barulho. Os mesmos móveis quebrados ainda estavam espalhados pelo corredor, as cortinas brancas puídas e sujas ainda esvoaçavam com o vento da varanda no primeiro andar, mas mesmo que tudo estivesse igual, nada parecia igual.
Entrei no que antes era a sala de estar e me deparei com dançando. Ela estava de olhos fechados, rodopiando na ponta dos pés ao som de uma musica instrumental que eu tinha certeza ser stay with me do Sam Smith. sempre amou dançar, se tornou uma bailarina logo cedo, mas uma lesão no tornozelo tornou impossível que ela seguisse carreira profissional. Mas ela abriu uma escola de balé para crianças e estava feliz ensinando, pelo que me disseram.
Muito do que eu sabia sobre ela ultimamente era por intermédio dos nossos amigos que acabavam soltando alguma coisa ou outra nos encontros da turma. Eu também não podia dizer que me esforçava para saber mais.
Apesar de já ter 8 anos que terminamos, era uma ferida que sempre machucava quando alguém cutucava. Eu nem sabia de onde tinha encontrado a coragem pra vir ao casamento dela, e muito menos porquê ela tinha me convidado.
- Então esse lugar se tornou seu estúdio particular? – perguntei, me anunciando.
quase tropeçou com o susto e seus olhos se arregalaram quando focaram em mim, mas o sorriso enorme veio tão rápido quanto a surpresa foi embora.
- Por que eu não estou surpresa em te ver aqui? – ela riu, vindo em minha direção.
- Eu sou um cara de hábitos. Não podia vir na cidade sem passar aqui – sorri, encolhendo os ombros. – E como vou embora amanhã, depois do casamento, era hoje ou nunca.
- Fico feliz que tenha sido hoje – parou na minha frente. – É bom te ver, estranho.
Meu peito apertou com um pouco de saudade, mas fingi não sentir a agitação dentro de mim por estar cara a cara com o amor da minha vida depois de oito anos.
- É bom te ver de novo, fadinha.
Ela tomou a iniciativa e me abraçou primeiro, então fui pego despreparado e levei um milésimo de segundo para abraçá-la de volta. Era incrível como ainda parecia tão certo ter ela nos meus braços e mesmo que o perfume dela não fosse mais o mesmo e que nós não fossemos mais os mesmos, o abraço continuava exatamente como eu lembrava.
ainda ficava na ponta dos pés, ainda encostava a testa na minha cabeça e ela ainda me apertava como se estivesse prestes a ser arrastada por um vendaval e eu fosse a única coisa que ela podia se segurar para não ser levada.
- E sobre sua pergunta, não, não é meu novo estúdio – ela falou, dando alguns passos para trás. – Minha casa tá cheia e eu precisava de um tempo sozinha, então vim aqui tentar resgatar uma coisa.
- E conseguiu resgatar? – perguntei, já imaginando o que era.
- Não – bufou, soprando uma mecha de cabelo para longe dos olhos. – Eu segui o nosso mapa, mas ele não é mais tão claro quanto era anos atrás quando a memória estava fresca.
Ela tirou um papel do bolso do vestido e me estendeu. Estava surrado, cheio de manchas e totalmente marcado de tanto tempo dobrado. Um sorriso tomou conta do meu rosto assim que desdobrei aquele pedaço de papel e vi o desenho ridículo que estava ali. Era uma representação nada precisa do terreno desta casa. Parecia ter sido feito por uma criança de 8 anos, mas na verdade foi feito por dois jovens de 17 anos. O desenho mostrava a casa, o jardim e a árvore de carvalho que ficava a alguns metros daqui. Uma seta vermelha indicava onde tínhamos escondido a nossa cápsula do tempo.
- Como você não conseguiu encontrar? O mapa é bem preciso, – ironizei, lançando um olhar divertido para ela.
- Ah, claro – ela gargalhou. – Tão preciso quanto suas habilidades com desenho.
- Eu melhorei com o tempo, tá? – me defendi, apontando o dedo em riste. – Mas eu posso te ajudar a procurar.
Os olhos dela brilharam como faróis.
- Por favor! – ela suspirou, juntando as mãos como uma súplica.
- Presumo que trouxe pá? – questionei, analisando o mapa mais uma vez.
- Deixei no jardim – respondeu, já disparando na frente para sair da casa.
Segui atrás dela, me perguntando como isso podia ser tão normal depois de tudo que tivemos. Namoramos por 5 anos, tivemos muitas das nossas primeiras vezes juntos, compartilhamos sonhos e planos para o futuro que nunca se concretizaram e nunca iriam. E mesmo que nosso término tenha sido amigável e mútuo, era estranho como conseguíamos agir tão naturalmente quando ela estava prestes a casar.
A grama do jardim estava úmida, exalando aquele cheiro de terra molhada tão familiar. correu na frente até onde vários buracos indicavam que ela tinha se esforçado muito para encontrar a caixa que escondemos naquele jardim 10 anos atrás.
- Você sabe que estava cavando do lado errado, não sabe? – arqueei uma sobrancelha, já arregaçando as mangas do suéter.
virou para mim totalmente inconformada.
- Como é? – perguntou. – Eu segui o mapa, que indicava o lado direito.
- É, mas eu lembro claramente que eu estava se cabeça para baixo quando desenhei, então quer dizer que a cápsula está enterrada do outro lado – expliquei, lembrando perfeitamente que ela tinha me xingado muito por isso, dizendo que nós esqueceríamos desse detalhe.
Ela piscou, completamente em choque, e eu me segurei para não rir. Peguei a pá que estava largada no chão e avaliei o mapa outra vez, tentando visualizar o local que escondemos.
- Tá, preciso que você vá até a casa e conte 30 passos até aqui – pedi, apontando para o mapa. – Usamos seus passos para marcar a distância.
- Certo – assentiu, acelerando o passo até a casa.
Eles encontram a cápsula do tempo com algumas cartas
E dentro tem um colar de palheta que o deu pra ela, mas que guardou para usar no casamento como algo velho.



Fim



Nota da autora: Sem nota.



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