Capítulo Único
O Grande Dia – Apollo – 06:30.
se olhou no espelho antes de sair para o trabalho. As marcas das olheiras profundas já haviam se tornado rotina. Não pregou os olhos na noite anterior. Por um momento considerou passar aquilo que usava antes de sair para esconder as olheiras. Tentou se lembrar do nome do produto, mas logo afastou esse pensamento. E pensou nela. Era isso o que estava tentando evitar nos últimos dias, mas era difícil se concentrar em qualquer coisa, sabendo que em pouco tempo não poderia tocar em sua garota. Não poderia beijá—la. E dizer olhando no fundo de seus olhos o quão importante ela era para ele. Ao mesmo tempo que sabia que ela estaria realizando seu sonho, tinha medo. Medo de que qualquer coisa desse errado. era um ótimo astrônomo, possuía medalhas de todas as provas nacionais de astronomia. Sem contar os jornais, nos quais ele saiu sendo anunciado como o mais novo gênio da matemática, o próximo astrônomo da NASA. E acreditem, ele passou os últimos dias fazendo e refazendo os cálculos do foguete que iria decolar com sua namorada. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, sabia que outras viriam a seguir, mas não queria que ela o visse naquele estado. Tinha que parecer confiante. Dizer que estava tudo bem.
Lembrou—se da noite anterior e soltou um suspiro. estava no centro da NASA há alguns dias, obviamente passava muito tempo com ela lá. E cada dia de confinamento lá parecia empolga—la mais. E se tornava um dia ainda mais difícil para ele. Tentou afastar esses pensamentos, pelo menos enquanto dirigia.
Entrou no grande centro da NASA, estacionou seu carro naquela vaga que era destinada a ele há tantos anos. Bem ao lado do carro de . Ele ficou admirando o Honda CR—V vermelho. Sorriu automaticamente se lembrando do dia em que ela comprou o carro. Andar com ela naquilo era um perigo! Ela já melhorou bastante, teria de confessar, mas continuava na zona de risco delimitada por ele. Soltou uma risada com seus próprios pensamentos e caminhou em direção aos alojamentos.
Bateu na porta e ficou apoiado sobre o encosto com as pernas cruzadas. logo atendeu, com um sorriso em lábios. Como esperava por aquela visita. Ela o amava tanto. Pulou em seus braços, o pegando de surpresa. se desequilibrou inicialmente, mas logo se firmou. Ela riu, uma risada gostosa, que ele tanto amava. Então seus lábios se encostaram em um beijo sem urgência. Ambos poderiam congelar o tempo naquele momento e viver para sempre assim.
— É hoje, ! – falou empolgada e o rapaz forçou um sorriso. – Meus pais estarão aqui em duas horas.
— Como foi ontem no simulador? – Perguntou.
— Ah, o de sempre. É óbvio que eu senti uma pressão contra o peito, mas nada insuportável. Você sabe que eu diria. – assentiu com a cabeça.
— Vou sentir a sua falta.
Ele colocou a mão nos bolsos, ficou olhando para o chão, cabisbaixo. Sua namorada não era boba e logo percebeu, acariciou seu rosto, como se dissesse que tudo ficaria bem. Ela o puxou para dentro, ambos se sentaram em um sofá. começou a mexer em alguns DVDs que estavam na prateleira, estava na ponta dos pés, o que fez com que seu namorado soltasse um risinho, ficou tentando alcançar um. se levantou para ajudá—la, aproximou—se, mesmo sem esticar o corpo, alcançou a caixinha que, por si só, o fez estremecer. sentiu um calor com a proximidade. Se arrepiou inteira e quando o viu com o DVD na mão, sorriu.
— Você se lembra do dia em que nos conhecemos? – Ela sorriu.
— Eu nunca me esqueceria, . – Ele coçou a cabeça ainda sem saber exatamente o que dizer. – Aquele dia eu tive a certeza que você seria minha para sempre.
Ela deu play no vídeo.
Dois anos antes – Cape Town – 20:22.
Era o planetário de Cape Town, o lugar perfeito para ver a chuva de Lirídeas em noite de Lua Azul, um evento raríssimo que aconteceria especialmente naquela noite. Eu estava no auge dos meus dezenove anos recém—formados e já tinha sido contratado pela NASA. Desde pequenos grandes astrólogos me acompanhavam, devido aos ótimos resultados em provas federais, jogos de inteligência escolar, entre outros motivos. Sempre soube que seguiria aquele rumo, mas nunca tive tanta certeza como naquela noite.
Depois de andar por horas pelo planetário, constatando o que já sabia sobre cometas, estrelas, constelações e fenômenos astronômicos, apenas contemplando a beleza de cada uma delas, decidiu que iria ao lugar reservado para assistir o tão belo evento. Enquanto caminhava em direção ao lugar ligou a câmera para relatar seu dia.
— Hoje é dia 23 de agosto, a primeira noite em que dois eventos raros irão acontecer; a chuva na constelação de Lira e o evento em que a disposição dos planetas irá colorir a lua em azul. Estou caminhando em direção ao jardim de Cape Town, o melhor lugar segundo os especialistas para admirar os fenô...
A câmera caiu de suas mãos quando esbarrou em uma menina que fora praticamente expulsa do planetário por alguns seguranças. Mostrou sua identificação de astrólogo da NASA e falou que ela era sua acompanhante, assim que os brutamontes se afastaram. Ambos abaixaram parar certificar o estado da câmera. Não foi uma cena romântica como nos filmes adolescentes em que as mãos se tocam e ambos sentem borboletas em suas barrigas. Mas quando pegou sua câmera que ainda estava funcionando, viu pela tela a menina, seus cabelos e olhos encantadoramente , fizeram com que ele se arrepiasse. Ela se desculpava pelo incidente, mas não prestava atenção. Estava a admirando, como fazia com as estrelas. Ela possuía um brilho tão intenso a seus olhos que se perdeu. Poderia parecer bobagem, mas ele se apaixonou por ela naquele instante.
— Eu sou , do Jornal das Estrelas e estou aqui com a... A... Qual é mesmo o seu nome? – Falou brincando com a câmera ligada em suas mãos.
— , . – Ela respondeu sorrindo.
— Certo. Eu estou aqui com a Srta. , que foi expulsa de um planetário. Quer me dizer como conseguiu?
— Eu entrei em um dos foguetes apenas para a exposição. – Riu corando. – Sempre foi meu sonho entrar em um foguete, então não deixaria essa oportunidade passar.
— Já visitou os parques da Disney? Temos brinquedos que poderiam matar essa sua vontade. – Ele brincou.
Ela virou os olhos.
— Você também podia visitar o centro da NASA, mas preferiu invadir uma antiga nave em um planetário. – riu.
— Deve saber tanto como eu, que não é tão fácil visitar o centro da NASA. Tem um agendamento infinito, uma lista de espera e uma lista de espera para o agendamento infinito.
— Na verdade eu não sei. – Curvou os lábios, enquanto passava as mãos por seus cabelos. – Eu sou engenheiro espacial da NASA, estou sempre no centro operacional.
Ela gargalhou alto, como se não acreditasse em sequer uma palavra do que lhe foi dito.
— Ah, fala sério. Quantos anos você tem? 20? É impossível trabalhar lá em um alto cargo tão novo... A não ser que seja um voluntário de alguma das viagens espaciais, mas nunca no centro operacional.
— Você pesquisa bastante sobre o assunto. – Ele sorriu. – É uma pena que não saiba sobre o gênio da matemática, que foi aceito pela NASA aos dezessete. Visitei aquele centro todos os dias da minha vida nos últimos dois anos. E tenho dezenove, aliás. – Mostrou sua identificação.
— Formado em astronomia e engenharia espacial, 19 anos. – Leu boquiaberta. – É um cara excepcional, .
— É disso que a NASA é feita. Homens excepcionais. – Deu de ombros. – Um dia eu te levo lá para conhecer... Se você quiser...
— É óbvio que eu quero! Eu seria eternamente grata. – A menina lhe deu um abraço e sorriu.
Eles trocaram contato, com a câmera desligada, e se despediram. deu meia volta, desejando que ele a chamasse de volta. Ambos passaram a caminhar lentamente. Ela olhou para trás, mas ele já parecia distante, olhou para o chão e forçou um sorriso fraco. Tinha tantas perguntas a fazer para ele, mas, acima de tudo, tinha a sensação de que nada daquilo era real.
— ! – chamou e ela sorriu.
Eles se aproximaram, ainda em frente ao planetário.
— Não vai ficar para ver a chuva? – Ele perguntou.
— Achei que não fosse perguntar. – Ela mordeu o lábio inferior, enquanto subia o olhar.
Depois de andar por alguns metros até o carro estacionado. abriu a porta para a sua mais nova conhecida. Entrou pela porta do motorista. A menina colocava o cinto. a olhou com a sobrancelha arqueada.
— Eu podia ser um estuprador, sabia? – Ele falou rindo.
— Mas não é. – Rebateu.
— Como você tem tanta certeza? – Disse colocando as mãos no volante.
— Porque você é um homem excepcional. – Soltou uma gargalhada.
— Homens excepcionais também podem sequestrar menininhas indefesas, mas foi um ótimo ponto.
Ela encostou a cabeça no carro e começou a rir. Minutos depois, zapeava entre as rádios, alternando as músicas, sem encontrar nenhuma que a agradasse. Até que encontrou uma rádio em que tocava My Love Is Like A Star; era perfeita. Ficou olhando para o céu enquanto escutava, sem prestar atenção na letra. por sua vez a admirava, tinha uma beleza de menina inocente. Seu reflexo na janela o encantava. E era isso. Ele estava apaixonado. Nunca levou jeito com meninas, apesar de ser encantador, mas era diferente. Os poucos minutos que passaram juntos, faziam com que eles sentissem que se conheciam há anos. Voltou sua atenção à estrada, ela pegou a câmera e passou a filmar os poucos rastros que já eram feitos no céu e em pouco tempo estacionou em frente ao gramado verde.
Estenderam o pano quadriculado na parte que havia reservado para contemplar as estrelas com anos de antecedência. Se sentaram ali. Iria demorar para que a chuva de Lírideas chegasse a seu ápice, mas a lua já estava cheia, posta no céu e era tão encantadora que ele já não podia conter o sorriso bobo estampado em seu rosto. montou seu telescópio, enquanto observava as várias pessoas ao redor, crianças pulando sem saber o que aconteceria, casais esperando por um encontro romântico e astrólogos anotando tudo.
— Aquela é a constelação de Lira. – Apontou para o céu. – Forma uma lira, aquele instrumento de cordas que soa angelical.
Ela prestou atenção em cada palavra. Parecia tão maravilhada quanto o próprio . Olhou pelo telescópio, mexia na estrutura aproximando e afastando a visão. Achou Vega, chamou para ver.
— Aquela é Veja, a estrela principal. Também conhecida como Alfa Lyrae.
Ela encostou os olhos no visor do telescópio e coincidentemente a chuva começou. admirou a chuva de cometas, com um sorriso bobo no rosto. ficou atrás apenas observando.
— Devo parecer muito chato falando tecnicamente com você o tempo todo, mas é que esperei demais por isso. – Falou passando as mãos em seu cabelo, envergonhado.
— Estou amando cada detalhe, . – Ela falou sorrindo e logo se afastou do telescópio.
olhou pelo instrumento, fez algumas anotações, mas logo voltou sua atenção a menina. Sentada em frente sobre o gramado com os cabelos negros ao vento. Sendo iluminada pela luz do luar, mordeu seu lábio inferior involuntariamente. Sentou—se ao lado da menina, envolvendo—a com o braço. Ficaram aproveitando a constelação, agarrados. A câmera sobre o tripé filmava tudo. A chuva aumentou cada vez mais. tirou o celular de sua bolsa, queria ter um registro daquele momento maravilhoso.
Aquela foto ficou tão bonita. O rosto de era iluminado pela luz do luar, ele olhava para a menina com um olhar de contemplação e ela sorria boba olhando para o menino. Então ela se levantou para admirar a lua azul. Olhou para trás com um olhar fatal.
— Sempre quis beijar sob a luz do luar. – Sussurrou dócil.
Por mais que não costumasse a chegar nem perto disso em um primeiro encontro. Isso quando se encontrava com alguém. Decidiu que não perderia aquela oportunidade. Levantou—se, mantendo o contato visual. Segurou na cintura de e a virou para si. Depositou um beijo em sua testa.
— Eu posso te ajudar com isso. – Falou no mesmo tom que ela.
Então selou seus lábios, suas mãos a seguravam pela cintura, mas era muito mais alto que , por isso ela ficou na ponta dos pés e ele a manteve firme. Suas línguas estavam compassadas em um ritmo lento, mas tão gostoso. Não era um beijo com os que você dá em alguém que conheceu em uma festa, mas um que dizia que esperavam por muitos outros.
O Grande Dia – Apollo – 9:10.
As lágrimas escorriam pelo rosto de ambos. Era sempre assim. Aquele vídeo mostrava o quão inocente começou aquele amor. Sem pretensões. Além de mostrar os fenômenos da natureza mais bonitos do mundo, mostrava amor. Foi o começo daquilo tudo. a levou para visitar o centro da NASA e ela se alistou para uma missão a Marte. Ele nunca pensou que sua menina realmente pudesse ser escolhida em meio a tantas pessoas inscritas, mas ela foi. Passou em todos os testes. sempre sonhou em ser astronauta, mas parecia um desejo bobo de criança, nunca pensou que realmente pudesse se concretizar. E hoje, lá estava ela, parte do grupo 1110 da NASA.
— Você continua a ser um homem excepcional! – Ela falou sorrindo.
— E você já devia ter perdido essa vontade de entrar em foguetes! – Brincou fazendo cócegas nela.
— Eu fiz uma cópia dele. – Falou simplesmente. – Aron disse que posso levar até três DVDs.
— Você trocou algum filme do Nicholas Sparks, para ver o nosso vídeo? – Forçou uma indignação. – Merece até um beijo!
Disse dando um selinho na namorada, ela deu um tapa em seu ombro. A campainha soou alto e foi ver do que se tratava. Abriu a porta lentamente, se deparando com os pais de .
— Sogro, — cumprimentou o homem – sogra! – A abraçou.
— Bem, agora que vou deixar se despedirem direito, vou fazer um último check—up da nave. – Falei os deixando a sós.
Caminhei em direção a Orion A1110, cumprimentei os funcionários ali presentes, perguntei sobre os testes que haviam feito pela manhã. Apesar de todos confirmarem a segurança, entrou na nave e começou a mexer pelos painéis, procurando qualquer defeito, e felizmente não encontrou nada. Suspirou, apesar de se sentir aliviado, não queria deixá—la ir. A amava tanto. E ficariam tão longe. Desde que se conheceram não ficaram mais de dois meses longe um do outro. Ela se mudou para Apollo, cidade nomeada em homenagem a missão de sucesso da NASA, passamos a morar juntos, até o refinamento no centro operacional de Apollo, anos depois. Olhou para baixo. Checou novamente a fiação, o tanque de combustível, então desceu do foguete. Olhou para o seu relógio que avisava que em alguns minutos ela começaria a ser preparada para lançamento. Guardou uma caixinha próximo ao painel.
O Grande Dia – Apollo – 12:45.
— Tem certeza disso, filha? – A mãe de perguntou preocupada.
— Tenho mãe, você melhor do que ninguém sabe que esse sempre foi o meu sonho!
a observava, um pouco mais distante de . Esperou que ela se despedisse de seus pais, para que seus olhos se cruzassem. E por um momento viu tristeza nos olhos de sua namorada, então sorriu em incentivo, não suportava vê—la triste. Então a tomou em seus braços. Ambos entraram em prantos. Já estavam tão acostumados a passar tempo juntos e agora teria de ficar três anos afastados. Mas não tinha como ele ir a visitar, como a salvar de qualquer problema. depositou um beijo na testa de sua namorada e depois seguiu para sua boca, assim como da primeira vez, mas o beijo foi urgente. Um beijo cheio de paixão. Era como se fosse um último beijo. Só pararam quando o ar faltou. E ainda assim não se afastaram. Ficaram sentindo um a respiração ofegante do outro.
— Eu te amo tanto, . – Falou olhando no fundo dos olhos dele.
— Eu te amo tanto, . – Ele riu.
— Eu vou pensar em você a cada segundo que eu estiver lá, vou sentir sua falta, mas vamos nos falar todos os dias pelos próximos 1110 dias, você promete?
— Eu prometo, . Eu vou pensar em você, vou te amar, vou falar com você e vou te esperar por 1110 dias e mais o tempo que for preciso, pequena.
Abraçaram—se uma última vez e, então, ela entrou na nave. Após cumprimentar os outros astronautas, ele seguiu para o centro de lançamento, onde iria coordenar, junto ao resto da equipe o lançamento e toda a missão Orion 1110. Colocou o comunicador, ajeitou a camisa e esperou pelas ordens de seu comandante.
A contagem regressiva marcava um minuto, então sentou—se em frente a tela do monitor que mostrava o rosto dócil de e começou a falar.
— Há 5 anos, eu não levava jeito com as garotas, para falar a verdade acho que não levo até hoje. Mas quando eu te encontrei, só quis você e fiquei muito feliz porque me aceitou do jeito que eu sou. Fui um chato, falei tecnicamente sobre constelações, estrelas e você ouviu atenciosamente cada palavra. E naquele momento eu já sabia que era você. Antes disso, quando meus olhos se encontraram com os seus, quando pude contemplar sua beleza pela primeira vez... Você brilhava de uma maneira especial, era como Vega na constelação de Lira. É a estrela alfa da minha constelação. Não sou muito bom com as palavras, acho que talvez, por isso eu seja um engenheiro espacial, não um poeta. – Fez uma pausa e riu. – Mas hoje eu queria dizer que o que eu sinto por você não morreria nem em 1110 anos. Eu queria eternizar este amor.
— 5 segundos para o lançamento.
— Tem uma surpresa para você no guarda—volumes a sua esquerda. – Ela abriu o compartimento rapidamente, encontrou uma caixinha, já estava aos prantos, então abriu vagarosamente se deparando com uma aliança de ouro. — , você quer se casar comigo?
— Quero! – Ela gritou e logo o foguete já havia sido lançado. – Eu te amo tanto, .
colocou o anel em seu dedo. Ficou admirando as letras grafadas na joia, elas formavam o nome de sua noiva. Ele com certeza poderia se acostumar a chama—la assim.
Ela sentia uma pressão em seu peito, era muito pior que na simulação, mas continuava a ser algo suportável. Seu coração estava disparado. não acreditava que estava realizando dois de seus sonhos de uma vez: Casar com o seu e viajar para o espaço. Riu sozinha. Colocar a aliança sobre a roupa não era uma atividade nem um pouco fácil, mas não estava disposta a esperar, queria ter ele ainda mais perto. Então, depois de se contorcer um pouco, escorregou a aliança por seu dedo e vestiu a roupa novamente. — Eu serei a noiva astronauta mais feliz do mundo. – Gritou pelo comunicador, fazendo seu amor rir. — Você é excepcional, ! – falou a fazendo sorrir. Então a tela a frente do rosto de passou a exibir o vídeo que ela jamais se cansaria de ver. O filme de sua vida. O primeiro dia do resto de sua vida. O dia em que conheceu , mas o vídeo estava editado e perfeito.
580 Dias Depois – Apollo – 06:05.
Ao acordar de sonhos inquietantes, abriu os olhos assustado. Estava tenso com a volta de sua garota. Esse seria o primeiro dia em que ele voltaria a se sentir completo. Levantou—se rápido e foi ao banheiro. Se olhou no espelho, passou a mão na barba que deixou crescer. Sentia tanta falta de sua menina. Foram 580 dias se torturando. 580 dias a amando mais e mais. 580 dias a vendo pela tela do computador. Era loucura pensar que eles tinham planetas entre eles. Estavam tão distantes. Já não tinha mais lágrimas para chorar, seu coração chorava por ele, mas não estava lá parar consolá—lo. Os sogros passaram a ser uma companhia agradável nos últimos dias. O Sr. e a Sra. praticamente tentaram aliviar a falta que sua filha fazia, cuidando e passando mais tempo com . E isso foi bom para todos.
colocou a camisa social e a abotoou. As olheiras já faziam parte de sua aparência, não conseguia dormir direito sem a sua pequena ao seu lado. E apesar de tudo, não se acostumou com a ausência dela. Chegava o mais cedo possível no trabalho e saía o mais tarde que podia, porque assim passava mais tempo monitorando sua noiva. Aquilo beirava à loucura, mas era amor. Ao ver qualquer estrela, lembrava—se dela. Cada rua, cada esquina, cada constelação, parecia trazer consigo um pouquinho de sua menina.
Entrou no carro e acelerou rumo a sua empresa. Ligou o rádio, estava tocando a mesma música que colocou no dia em que se conheceram, e era perfeita para eles. Prestou mais atenção a letra desta vez. O rosto dela encostado a janela, olhando para o céu veio a sua mente. E de repente ele sentiu uma pontada em seu peito.
Chegou ao centro operacional. Estava com uma sensação estranha. Correu para frente do monitor. Ela dormia pacificamente. virou de costas ofegante. Tinha algo de muito errado com ele.
— Bom dia, Sr. . Está tudo bem com você? – A secretaria perguntou.
— Eu só não estou me sentindo bem. Nada sério. – Falou sorrindo.
ligou para a Sra. . Ela era mãe, saberia se tivesse algo de errado. O telefone tocou algumas vezes. Logo a voz tão parecida com a de sua pequena.
— Olá, . – Falou com voz de sono.
— Oi, desculpa incomodar a essa hora da manhã... Está tudo bem? – Tentou parecer natural.
— Por aqui está tudo ótimo. Aconteceu alguma coisa com a ? – Perguntou já mais alto.
— Não, ela está dormindo. Os painéis de controle estão todos em perfeito estado, mas eu estava com uma sensação ruim, nada demais.
— , eu sei como deve estar se preocupando, mas você deveria relaxar mais. Faz mais de um ano, meu bem. Já devia ter se acostumado. – Tentou o tranquilizar.
— Eu sei, acho que nunca vou me acostumar em não tê—la por aqui.
— Em breve vamos ter nossa menina de volta.
— Assim espero. – Cochichou mais para si do que para ela.
— Qualquer coisa, me ligue! – A mulher completou.
— Claro. Até breve. – Completou desligando o telefone.
Passou horas monitorando a nave, mesmo que sua menina estivesse dormindo. Assim que ela acordou conversaram um pouco sobre as novidades, ela falava tão tecnicamente quanto ele. Cada prêmio fazia sentido quando ele conversava com ela. Tudo parecia valer a pena quando ela sorria. Sentia tanta falta dela. Não somente das noites maravilhosas, mas também dos abraços, sentia falta de passar um dia passeando com ela no shopping ou ir a um museu. Essa distância não o fazia nem um pouco bem, mas era pela felicidade da pessoa que mais amava. E era isso que ele queria, vê—la bem e feliz.
— , há quase dois anos você não sai de férias, amor. Isso não é saudável. – falou, o tirando de um transe.
— Eu gosto de ficar aqui... Admirando você. – Ele sorriu.
— Sinto que faço tanta coisa aqui, mas sempre sei que se eu precisar de você, vai estar aí... Vidrado nesta tela. – passou a mão pela tela. – Parece que eu roubei sua vida, entende?
— Amor, quando eu não estava na empresa, eu estava com você! Agora as coisas passaram a se complementar, estar com você e na empresa, passou a ser a mesma coisa. – Forçou um sorriso.
— Eu faço questão que pelo menos por hoje, você vá aproveitar o dia. – Ela falou sorrindo e concordou.
— Vou dar uma volta, se precisar de qualquer coisa...
— Aperte o botão vermelho que eu irei acionar até o presidente se for preciso. – Imitou minha voz. Curvei os lábios e soltei um risinho.
decidiu que iria sair para tomar um café. Avisou para seus superiores e andou até a cafeteria. Pediu um expresso, sentou—se solitário em uma das mesas. A garçonete loira era linda, tinha um corpo perfeito e pareceu adorar , mas ele sequer olhou para ela. Era sempre assim, por mais que as mulheres o desse uma atenção especial, a cabeça dele sempre estava na lua. Ou melhor, em marte. colocou um cigarro entre os dentes, enquanto tateava os bolsos a procura do isqueiro. Acabou esbarrando no copo e o café caiu em sua camisa branca.
— Merda! – falou alto.
— Você precisa de ajuda? – A mulher perguntou.
— Não, não precisa! Muito obrigado. – Soou meio grosseiro.
A loira saiu andando pelo corredor.
— Ei, talvez eu precise de ajuda. Onde é o banheiro? – Perguntou e ela sorriu.
— No final do corredor à esquerda. – Respondeu. – Mais alguma coisa?
tirou uma nota de cinquenta da carteira e a entregou, era uma maneira de agradecer a gentileza. Seguiu para o banheiro vendo o estrago que havia feito.
580 Dias Depois — Orion 1110 – 16:25.
A nave estava instável, era uma região com muitos meteoros. Nada que eles ainda não tivessem enfrentado. se sentou na cadeira, teria de confessar que estava morrendo de medo. Se sentia assim com todos os problemas que enfrentavam, mas sempre estava lá e tudo parecia tão simples, só por saber que ele estava por perto. Olhou para o botão vermelho, tentador, e ela realmente queria o apertar, mas não podia. Pela primeira vez estava descansando desde que ela foi convocada para os testes. Não podia tirar dele este direito.
O piloto estava concentrado. A nave era controlada pelo centro operacional, mas se qualquer acidente acontecesse, Shepley teria de entrar em ação. Os astronautas voluntários sentados em seus devidos lugares tensos. soava frio. Então decidiu que colocaria o vídeo com para poder se acalmar pelo menos um pouco.
Um cometa passou de raspão na nave. Todos sentiram o impacto. gelou, nunca pensou que teria de passar realmente por esta situação. Pode ver o alarme soar e a luz vermelha acender. Alguém havia apertado o botão de emergência.
Cerca de trinta minutos se passaram, a nave havia passado a chuva de meteoros, mas um dos tubos de combustível havia sido atingido, por isso a nave estava a andando a poucos anos—luz por hora. Os tripulantes esperavam a ordem do centro operacional, estavam desesperados.
580 Dias Depois – Apollo – 16:55.
tentava limpar a camisa. Ficou irritado com o incidente. Era tão minimamente calculista, não costumava a passar por imprevistos. Colocou o paletó por cima, esperando que escondesse a mancha. Percebeu que seu celular estava vibrando. Deviam ser os pais de . se analisou no espelho uma última vez e esperou estar ao lado de fora, para tirar o celular do bolso.
Chega a ser engraçado como uma mensagem pode mudar completamente o humor de alguém. Ao ler as palavras que mais temia: Alerta Vermelho, ele saiu correndo o mais rápido que podia em direção ao centro operacional da NASA. Em menos de cinco minutos estava em frente ao prédio. Apertou o botão do elevador, mas este parecia demorar demais, então ele subiu o mais rápido que podia pelas escadas, mal chegou ao centro, já gritava com todos.
Pode ver o desespero no rosto de . Seus olhos lacrimejavam. A respiração ofegante de , no comunicador a assustou. Ele olhava para a tela como um animal selvagem. Tudo o que queria no momento era salvar sua menina.
— O que aconteceu? – Ele perguntou furioso.
— Um dos tanques de combustível está vazando. – começou a andar de um lado para o outro pensando em uma solução.
— Eu vou arrumar uma solução, . Eu prometo. – tentou tranquiliza—la.
As lágrimas já escorriam livremente pelos olhos de . Ele olhou para as outras telas e começou a entrar em pânico. O combustível não estava simplesmente vazando, eles tinham poucas horas de voo. Seu coração estava acelerando cada vez mais. Ele passou a fazer contas e mais contas em sua cabeça. Os números passavam como em uma tela de computador. E os resultados o irritavam ainda mais. Os números sempre eram a solução de seus problemas, mas dessa vez, não havia solução.
— Eu sinto muito, . – O comandante da operação falou olhando para o semblante desesperado de .
— SENTE MUITO? – Bateu palmas, sendo irônico. – VOCÊ SENTE MUITO? Eu vou te matar! Como você não prevê uma zona de risco? Cadê os seus satélites? – Perguntou incrédulo.
— Você melhor do que ninguém sabe que nem mesmo a ciência é perfeita! Você precisa se controlar, !
— Está me dizendo isso porque não é a sua esposa lá! Ah, mas se algo acontecer com a minha , eu nunca vou te perdoar por isso! – Ele sabia que não tinha nada a fazer. Estava de mãos atadas e essa impotência o irritava mais ainda.
Ele sabia que era uma má ideia. Sabia que deveria tê—la impedido. batia sua cabeça na parede, enquanto as lágrimas escorriam livremente por suas maçãs.
— , fale comigo! – gritou.
Ouvir a voz dela estava doendo tanto naquele momento, mas de certa forma tinha certeza que se arrependeria pelo resto da vida por não falar nada.
— Eu não tenho o que fazer, amor. – tinha a respiração entrecortada, não conseguia falar nada, além disso.
— A culpa não é sua, . Você continua sendo um homem excepcional.
— Por que você não me chamou? – Ele perguntou quase em um desabafo.
— Não adiantaria nada, amor, você não é piloto. – Forçou um sorriso.
A nave começou a cair. Inicialmente, a velocidade não era tão grande, mas em pouco tempo a pressão contra os órgãos já era quase sufocante. No centro de operação monitoravam os batimentos cardíacos e a respiração de seus tripulantes. Todos já sabiam que iriam morrer. E apesar disso, não se arrependia de estar lá. A dor estava a corroendo por dentro, então ela juntou forças e começou a falar:
— O meu amor é como uma estrela, você pode não me ver sempre, mas eu estarei lá. Quando olhar para o céu e ver uma brilhando tão forte como Vega, saiba que sou eu. Sempre estarei por perto, . E quando ver um cometa, saiba que estarei nele, voltando para casa. – Falou aos prantos
— Eu tentei. Construí paredes para te proteger, já que eu não estaria por perto. Mas isso não adiantou nada, você está caindo e eu não posso fazer nada para te salvar. – Gemeu baixo como uma dor profunda.
— A culpa não é sua, . Talvez, estivesse escrito nas estrelas.
— Elas jamais fariam isso. Estou sentindo tanta raiva. Se eu não tivesse entrado na sua vida...
— Eu estaria incompleta. Não ouse dizer isso. Olha como o nosso amor é forte, . Este tempo que passamos longe pareceu uma eternidade e nós estamos juntos. Sou feliz em dizer que fui tua até... – Os batimentos cardíacos da menina diminuíram abruptamente. jogou o corpo contra a parede. – Até o último segundo da minha vida. – Ela cochichou.
— ! gritou. Era como se algo o corroesse por dentro. Seus joelhos falhavam, ele não tinha forças. Implorou que ligassem para a família da namorada. Sua visão ficou turva. Desejava morrer, porque não suportaria viver sem ela.
7 Dias Sem Ela – Cemitério Especial da NASA — Apollo – 17:00.
A NASA não pretendia mandar uma nave para resgatar os corpos. A nave estava perdida no espaço. sequer poderia voltar a ver o corpo de sua mulher. Os pais de o buscaram no hospital e o levaram para casa. Sentiam que juntos todos conseguiriam forças para seguir em frente, por pior que isso pudesse ser. Ele se culparia para sempre por não ter feito nada por ela.
Estavam na homenagem aos mortos no acidente com a Orion 1110. Teria de falar para todos, tudo o que realmente queria era morrer. Nada fazia sentido sem ela. pediu demissão. Pretendia evitar qualquer conta, porque cada número o lembraria que ele foi um fraco. Que ele não pode evitar um acidente.
Ouviu as palavras do padre, mas não prestava atenção. achava que não tinha mais lágrimas para chorar. Suspirou. Pensava no que dizer para . A última vez que pediu para que gravassem algo eram suas alianças, ver grafada uma espécie de lápide era no mínimo muito dolorido.
Todos já haviam se retirado. Inclusive os pais de , mas continuava ali, sentado. Repassou um pequeno texto em sua mente. Era um cientista, não deveria acreditar em nenhum dos fatos não comprovados, mas tinha certeza que ela podia lhe ouvir, sabia que ela estava lá.
— , não te falei tudo o que eu queria aquele dia. Eu pensei em mil e uma teorias de como seria nossa vida sem essa viagem espacial. E por mais que isso esteja me corroendo, eu descobri que não mudaria nada. Foram 580 dias tão felizes para você que jamais estragaria isso, porque os seus sorrisos foram os mais sinceros e porque você se foi realizando seu sonho! Eu queria tanto te encontrar agora, mas sei que tenho uma vida aqui, você jamais me perdoaria, não é? – Colocou o buquê de rosas em frente a lápide. – Você me disse algo que te define muito bem. Você é como uma estrela que nunca vai se apagar.
Ele suspirou alto e andou lentamente em direção a saída.
se olhou no espelho antes de sair para o trabalho. As marcas das olheiras profundas já haviam se tornado rotina. Não pregou os olhos na noite anterior. Por um momento considerou passar aquilo que usava antes de sair para esconder as olheiras. Tentou se lembrar do nome do produto, mas logo afastou esse pensamento. E pensou nela. Era isso o que estava tentando evitar nos últimos dias, mas era difícil se concentrar em qualquer coisa, sabendo que em pouco tempo não poderia tocar em sua garota. Não poderia beijá—la. E dizer olhando no fundo de seus olhos o quão importante ela era para ele. Ao mesmo tempo que sabia que ela estaria realizando seu sonho, tinha medo. Medo de que qualquer coisa desse errado. era um ótimo astrônomo, possuía medalhas de todas as provas nacionais de astronomia. Sem contar os jornais, nos quais ele saiu sendo anunciado como o mais novo gênio da matemática, o próximo astrônomo da NASA. E acreditem, ele passou os últimos dias fazendo e refazendo os cálculos do foguete que iria decolar com sua namorada. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, sabia que outras viriam a seguir, mas não queria que ela o visse naquele estado. Tinha que parecer confiante. Dizer que estava tudo bem.
Lembrou—se da noite anterior e soltou um suspiro. estava no centro da NASA há alguns dias, obviamente passava muito tempo com ela lá. E cada dia de confinamento lá parecia empolga—la mais. E se tornava um dia ainda mais difícil para ele. Tentou afastar esses pensamentos, pelo menos enquanto dirigia.
Entrou no grande centro da NASA, estacionou seu carro naquela vaga que era destinada a ele há tantos anos. Bem ao lado do carro de . Ele ficou admirando o Honda CR—V vermelho. Sorriu automaticamente se lembrando do dia em que ela comprou o carro. Andar com ela naquilo era um perigo! Ela já melhorou bastante, teria de confessar, mas continuava na zona de risco delimitada por ele. Soltou uma risada com seus próprios pensamentos e caminhou em direção aos alojamentos.
Bateu na porta e ficou apoiado sobre o encosto com as pernas cruzadas. logo atendeu, com um sorriso em lábios. Como esperava por aquela visita. Ela o amava tanto. Pulou em seus braços, o pegando de surpresa. se desequilibrou inicialmente, mas logo se firmou. Ela riu, uma risada gostosa, que ele tanto amava. Então seus lábios se encostaram em um beijo sem urgência. Ambos poderiam congelar o tempo naquele momento e viver para sempre assim.
— É hoje, ! – falou empolgada e o rapaz forçou um sorriso. – Meus pais estarão aqui em duas horas.
— Como foi ontem no simulador? – Perguntou.
— Ah, o de sempre. É óbvio que eu senti uma pressão contra o peito, mas nada insuportável. Você sabe que eu diria. – assentiu com a cabeça.
— Vou sentir a sua falta.
Ele colocou a mão nos bolsos, ficou olhando para o chão, cabisbaixo. Sua namorada não era boba e logo percebeu, acariciou seu rosto, como se dissesse que tudo ficaria bem. Ela o puxou para dentro, ambos se sentaram em um sofá. começou a mexer em alguns DVDs que estavam na prateleira, estava na ponta dos pés, o que fez com que seu namorado soltasse um risinho, ficou tentando alcançar um. se levantou para ajudá—la, aproximou—se, mesmo sem esticar o corpo, alcançou a caixinha que, por si só, o fez estremecer. sentiu um calor com a proximidade. Se arrepiou inteira e quando o viu com o DVD na mão, sorriu.
— Você se lembra do dia em que nos conhecemos? – Ela sorriu.
— Eu nunca me esqueceria, . – Ele coçou a cabeça ainda sem saber exatamente o que dizer. – Aquele dia eu tive a certeza que você seria minha para sempre.
Ela deu play no vídeo.
Dois anos antes – Cape Town – 20:22.
Era o planetário de Cape Town, o lugar perfeito para ver a chuva de Lirídeas em noite de Lua Azul, um evento raríssimo que aconteceria especialmente naquela noite. Eu estava no auge dos meus dezenove anos recém—formados e já tinha sido contratado pela NASA. Desde pequenos grandes astrólogos me acompanhavam, devido aos ótimos resultados em provas federais, jogos de inteligência escolar, entre outros motivos. Sempre soube que seguiria aquele rumo, mas nunca tive tanta certeza como naquela noite.
Depois de andar por horas pelo planetário, constatando o que já sabia sobre cometas, estrelas, constelações e fenômenos astronômicos, apenas contemplando a beleza de cada uma delas, decidiu que iria ao lugar reservado para assistir o tão belo evento. Enquanto caminhava em direção ao lugar ligou a câmera para relatar seu dia.
— Hoje é dia 23 de agosto, a primeira noite em que dois eventos raros irão acontecer; a chuva na constelação de Lira e o evento em que a disposição dos planetas irá colorir a lua em azul. Estou caminhando em direção ao jardim de Cape Town, o melhor lugar segundo os especialistas para admirar os fenô...
A câmera caiu de suas mãos quando esbarrou em uma menina que fora praticamente expulsa do planetário por alguns seguranças. Mostrou sua identificação de astrólogo da NASA e falou que ela era sua acompanhante, assim que os brutamontes se afastaram. Ambos abaixaram parar certificar o estado da câmera. Não foi uma cena romântica como nos filmes adolescentes em que as mãos se tocam e ambos sentem borboletas em suas barrigas. Mas quando pegou sua câmera que ainda estava funcionando, viu pela tela a menina, seus cabelos e olhos encantadoramente , fizeram com que ele se arrepiasse. Ela se desculpava pelo incidente, mas não prestava atenção. Estava a admirando, como fazia com as estrelas. Ela possuía um brilho tão intenso a seus olhos que se perdeu. Poderia parecer bobagem, mas ele se apaixonou por ela naquele instante.
— Eu sou , do Jornal das Estrelas e estou aqui com a... A... Qual é mesmo o seu nome? – Falou brincando com a câmera ligada em suas mãos.
— , . – Ela respondeu sorrindo.
— Certo. Eu estou aqui com a Srta. , que foi expulsa de um planetário. Quer me dizer como conseguiu?
— Eu entrei em um dos foguetes apenas para a exposição. – Riu corando. – Sempre foi meu sonho entrar em um foguete, então não deixaria essa oportunidade passar.
— Já visitou os parques da Disney? Temos brinquedos que poderiam matar essa sua vontade. – Ele brincou.
Ela virou os olhos.
— Você também podia visitar o centro da NASA, mas preferiu invadir uma antiga nave em um planetário. – riu.
— Deve saber tanto como eu, que não é tão fácil visitar o centro da NASA. Tem um agendamento infinito, uma lista de espera e uma lista de espera para o agendamento infinito.
— Na verdade eu não sei. – Curvou os lábios, enquanto passava as mãos por seus cabelos. – Eu sou engenheiro espacial da NASA, estou sempre no centro operacional.
Ela gargalhou alto, como se não acreditasse em sequer uma palavra do que lhe foi dito.
— Ah, fala sério. Quantos anos você tem? 20? É impossível trabalhar lá em um alto cargo tão novo... A não ser que seja um voluntário de alguma das viagens espaciais, mas nunca no centro operacional.
— Você pesquisa bastante sobre o assunto. – Ele sorriu. – É uma pena que não saiba sobre o gênio da matemática, que foi aceito pela NASA aos dezessete. Visitei aquele centro todos os dias da minha vida nos últimos dois anos. E tenho dezenove, aliás. – Mostrou sua identificação.
— Formado em astronomia e engenharia espacial, 19 anos. – Leu boquiaberta. – É um cara excepcional, .
— É disso que a NASA é feita. Homens excepcionais. – Deu de ombros. – Um dia eu te levo lá para conhecer... Se você quiser...
— É óbvio que eu quero! Eu seria eternamente grata. – A menina lhe deu um abraço e sorriu.
Eles trocaram contato, com a câmera desligada, e se despediram. deu meia volta, desejando que ele a chamasse de volta. Ambos passaram a caminhar lentamente. Ela olhou para trás, mas ele já parecia distante, olhou para o chão e forçou um sorriso fraco. Tinha tantas perguntas a fazer para ele, mas, acima de tudo, tinha a sensação de que nada daquilo era real.
— ! – chamou e ela sorriu.
Eles se aproximaram, ainda em frente ao planetário.
— Não vai ficar para ver a chuva? – Ele perguntou.
— Achei que não fosse perguntar. – Ela mordeu o lábio inferior, enquanto subia o olhar.
Depois de andar por alguns metros até o carro estacionado. abriu a porta para a sua mais nova conhecida. Entrou pela porta do motorista. A menina colocava o cinto. a olhou com a sobrancelha arqueada.
— Eu podia ser um estuprador, sabia? – Ele falou rindo.
— Mas não é. – Rebateu.
— Como você tem tanta certeza? – Disse colocando as mãos no volante.
— Porque você é um homem excepcional. – Soltou uma gargalhada.
— Homens excepcionais também podem sequestrar menininhas indefesas, mas foi um ótimo ponto.
Ela encostou a cabeça no carro e começou a rir. Minutos depois, zapeava entre as rádios, alternando as músicas, sem encontrar nenhuma que a agradasse. Até que encontrou uma rádio em que tocava My Love Is Like A Star; era perfeita. Ficou olhando para o céu enquanto escutava, sem prestar atenção na letra. por sua vez a admirava, tinha uma beleza de menina inocente. Seu reflexo na janela o encantava. E era isso. Ele estava apaixonado. Nunca levou jeito com meninas, apesar de ser encantador, mas era diferente. Os poucos minutos que passaram juntos, faziam com que eles sentissem que se conheciam há anos. Voltou sua atenção à estrada, ela pegou a câmera e passou a filmar os poucos rastros que já eram feitos no céu e em pouco tempo estacionou em frente ao gramado verde.
Estenderam o pano quadriculado na parte que havia reservado para contemplar as estrelas com anos de antecedência. Se sentaram ali. Iria demorar para que a chuva de Lírideas chegasse a seu ápice, mas a lua já estava cheia, posta no céu e era tão encantadora que ele já não podia conter o sorriso bobo estampado em seu rosto. montou seu telescópio, enquanto observava as várias pessoas ao redor, crianças pulando sem saber o que aconteceria, casais esperando por um encontro romântico e astrólogos anotando tudo.
— Aquela é a constelação de Lira. – Apontou para o céu. – Forma uma lira, aquele instrumento de cordas que soa angelical.
Ela prestou atenção em cada palavra. Parecia tão maravilhada quanto o próprio . Olhou pelo telescópio, mexia na estrutura aproximando e afastando a visão. Achou Vega, chamou para ver.
— Aquela é Veja, a estrela principal. Também conhecida como Alfa Lyrae.
Ela encostou os olhos no visor do telescópio e coincidentemente a chuva começou. admirou a chuva de cometas, com um sorriso bobo no rosto. ficou atrás apenas observando.
— Devo parecer muito chato falando tecnicamente com você o tempo todo, mas é que esperei demais por isso. – Falou passando as mãos em seu cabelo, envergonhado.
— Estou amando cada detalhe, . – Ela falou sorrindo e logo se afastou do telescópio.
olhou pelo instrumento, fez algumas anotações, mas logo voltou sua atenção a menina. Sentada em frente sobre o gramado com os cabelos negros ao vento. Sendo iluminada pela luz do luar, mordeu seu lábio inferior involuntariamente. Sentou—se ao lado da menina, envolvendo—a com o braço. Ficaram aproveitando a constelação, agarrados. A câmera sobre o tripé filmava tudo. A chuva aumentou cada vez mais. tirou o celular de sua bolsa, queria ter um registro daquele momento maravilhoso.
Aquela foto ficou tão bonita. O rosto de era iluminado pela luz do luar, ele olhava para a menina com um olhar de contemplação e ela sorria boba olhando para o menino. Então ela se levantou para admirar a lua azul. Olhou para trás com um olhar fatal.
— Sempre quis beijar sob a luz do luar. – Sussurrou dócil.
Por mais que não costumasse a chegar nem perto disso em um primeiro encontro. Isso quando se encontrava com alguém. Decidiu que não perderia aquela oportunidade. Levantou—se, mantendo o contato visual. Segurou na cintura de e a virou para si. Depositou um beijo em sua testa.
— Eu posso te ajudar com isso. – Falou no mesmo tom que ela.
Então selou seus lábios, suas mãos a seguravam pela cintura, mas era muito mais alto que , por isso ela ficou na ponta dos pés e ele a manteve firme. Suas línguas estavam compassadas em um ritmo lento, mas tão gostoso. Não era um beijo com os que você dá em alguém que conheceu em uma festa, mas um que dizia que esperavam por muitos outros.
O Grande Dia – Apollo – 9:10.
As lágrimas escorriam pelo rosto de ambos. Era sempre assim. Aquele vídeo mostrava o quão inocente começou aquele amor. Sem pretensões. Além de mostrar os fenômenos da natureza mais bonitos do mundo, mostrava amor. Foi o começo daquilo tudo. a levou para visitar o centro da NASA e ela se alistou para uma missão a Marte. Ele nunca pensou que sua menina realmente pudesse ser escolhida em meio a tantas pessoas inscritas, mas ela foi. Passou em todos os testes. sempre sonhou em ser astronauta, mas parecia um desejo bobo de criança, nunca pensou que realmente pudesse se concretizar. E hoje, lá estava ela, parte do grupo 1110 da NASA.
— Você continua a ser um homem excepcional! – Ela falou sorrindo.
— E você já devia ter perdido essa vontade de entrar em foguetes! – Brincou fazendo cócegas nela.
— Eu fiz uma cópia dele. – Falou simplesmente. – Aron disse que posso levar até três DVDs.
— Você trocou algum filme do Nicholas Sparks, para ver o nosso vídeo? – Forçou uma indignação. – Merece até um beijo!
Disse dando um selinho na namorada, ela deu um tapa em seu ombro. A campainha soou alto e foi ver do que se tratava. Abriu a porta lentamente, se deparando com os pais de .
— Sogro, — cumprimentou o homem – sogra! – A abraçou.
— Bem, agora que vou deixar se despedirem direito, vou fazer um último check—up da nave. – Falei os deixando a sós.
Caminhei em direção a Orion A1110, cumprimentei os funcionários ali presentes, perguntei sobre os testes que haviam feito pela manhã. Apesar de todos confirmarem a segurança, entrou na nave e começou a mexer pelos painéis, procurando qualquer defeito, e felizmente não encontrou nada. Suspirou, apesar de se sentir aliviado, não queria deixá—la ir. A amava tanto. E ficariam tão longe. Desde que se conheceram não ficaram mais de dois meses longe um do outro. Ela se mudou para Apollo, cidade nomeada em homenagem a missão de sucesso da NASA, passamos a morar juntos, até o refinamento no centro operacional de Apollo, anos depois. Olhou para baixo. Checou novamente a fiação, o tanque de combustível, então desceu do foguete. Olhou para o seu relógio que avisava que em alguns minutos ela começaria a ser preparada para lançamento. Guardou uma caixinha próximo ao painel.
O Grande Dia – Apollo – 12:45.
— Tem certeza disso, filha? – A mãe de perguntou preocupada.
— Tenho mãe, você melhor do que ninguém sabe que esse sempre foi o meu sonho!
a observava, um pouco mais distante de . Esperou que ela se despedisse de seus pais, para que seus olhos se cruzassem. E por um momento viu tristeza nos olhos de sua namorada, então sorriu em incentivo, não suportava vê—la triste. Então a tomou em seus braços. Ambos entraram em prantos. Já estavam tão acostumados a passar tempo juntos e agora teria de ficar três anos afastados. Mas não tinha como ele ir a visitar, como a salvar de qualquer problema. depositou um beijo na testa de sua namorada e depois seguiu para sua boca, assim como da primeira vez, mas o beijo foi urgente. Um beijo cheio de paixão. Era como se fosse um último beijo. Só pararam quando o ar faltou. E ainda assim não se afastaram. Ficaram sentindo um a respiração ofegante do outro.
— Eu te amo tanto, . – Falou olhando no fundo dos olhos dele.
— Eu te amo tanto, . – Ele riu.
— Eu vou pensar em você a cada segundo que eu estiver lá, vou sentir sua falta, mas vamos nos falar todos os dias pelos próximos 1110 dias, você promete?
— Eu prometo, . Eu vou pensar em você, vou te amar, vou falar com você e vou te esperar por 1110 dias e mais o tempo que for preciso, pequena.
Abraçaram—se uma última vez e, então, ela entrou na nave. Após cumprimentar os outros astronautas, ele seguiu para o centro de lançamento, onde iria coordenar, junto ao resto da equipe o lançamento e toda a missão Orion 1110. Colocou o comunicador, ajeitou a camisa e esperou pelas ordens de seu comandante.
A contagem regressiva marcava um minuto, então sentou—se em frente a tela do monitor que mostrava o rosto dócil de e começou a falar.
— Há 5 anos, eu não levava jeito com as garotas, para falar a verdade acho que não levo até hoje. Mas quando eu te encontrei, só quis você e fiquei muito feliz porque me aceitou do jeito que eu sou. Fui um chato, falei tecnicamente sobre constelações, estrelas e você ouviu atenciosamente cada palavra. E naquele momento eu já sabia que era você. Antes disso, quando meus olhos se encontraram com os seus, quando pude contemplar sua beleza pela primeira vez... Você brilhava de uma maneira especial, era como Vega na constelação de Lira. É a estrela alfa da minha constelação. Não sou muito bom com as palavras, acho que talvez, por isso eu seja um engenheiro espacial, não um poeta. – Fez uma pausa e riu. – Mas hoje eu queria dizer que o que eu sinto por você não morreria nem em 1110 anos. Eu queria eternizar este amor.
— 5 segundos para o lançamento.
— Tem uma surpresa para você no guarda—volumes a sua esquerda. – Ela abriu o compartimento rapidamente, encontrou uma caixinha, já estava aos prantos, então abriu vagarosamente se deparando com uma aliança de ouro. — , você quer se casar comigo?
— Quero! – Ela gritou e logo o foguete já havia sido lançado. – Eu te amo tanto, .
colocou o anel em seu dedo. Ficou admirando as letras grafadas na joia, elas formavam o nome de sua noiva. Ele com certeza poderia se acostumar a chama—la assim.
Ela sentia uma pressão em seu peito, era muito pior que na simulação, mas continuava a ser algo suportável. Seu coração estava disparado. não acreditava que estava realizando dois de seus sonhos de uma vez: Casar com o seu e viajar para o espaço. Riu sozinha. Colocar a aliança sobre a roupa não era uma atividade nem um pouco fácil, mas não estava disposta a esperar, queria ter ele ainda mais perto. Então, depois de se contorcer um pouco, escorregou a aliança por seu dedo e vestiu a roupa novamente. — Eu serei a noiva astronauta mais feliz do mundo. – Gritou pelo comunicador, fazendo seu amor rir. — Você é excepcional, ! – falou a fazendo sorrir. Então a tela a frente do rosto de passou a exibir o vídeo que ela jamais se cansaria de ver. O filme de sua vida. O primeiro dia do resto de sua vida. O dia em que conheceu , mas o vídeo estava editado e perfeito.
580 Dias Depois – Apollo – 06:05.
Ao acordar de sonhos inquietantes, abriu os olhos assustado. Estava tenso com a volta de sua garota. Esse seria o primeiro dia em que ele voltaria a se sentir completo. Levantou—se rápido e foi ao banheiro. Se olhou no espelho, passou a mão na barba que deixou crescer. Sentia tanta falta de sua menina. Foram 580 dias se torturando. 580 dias a amando mais e mais. 580 dias a vendo pela tela do computador. Era loucura pensar que eles tinham planetas entre eles. Estavam tão distantes. Já não tinha mais lágrimas para chorar, seu coração chorava por ele, mas não estava lá parar consolá—lo. Os sogros passaram a ser uma companhia agradável nos últimos dias. O Sr. e a Sra. praticamente tentaram aliviar a falta que sua filha fazia, cuidando e passando mais tempo com . E isso foi bom para todos.
colocou a camisa social e a abotoou. As olheiras já faziam parte de sua aparência, não conseguia dormir direito sem a sua pequena ao seu lado. E apesar de tudo, não se acostumou com a ausência dela. Chegava o mais cedo possível no trabalho e saía o mais tarde que podia, porque assim passava mais tempo monitorando sua noiva. Aquilo beirava à loucura, mas era amor. Ao ver qualquer estrela, lembrava—se dela. Cada rua, cada esquina, cada constelação, parecia trazer consigo um pouquinho de sua menina.
Entrou no carro e acelerou rumo a sua empresa. Ligou o rádio, estava tocando a mesma música que colocou no dia em que se conheceram, e era perfeita para eles. Prestou mais atenção a letra desta vez. O rosto dela encostado a janela, olhando para o céu veio a sua mente. E de repente ele sentiu uma pontada em seu peito.
Chegou ao centro operacional. Estava com uma sensação estranha. Correu para frente do monitor. Ela dormia pacificamente. virou de costas ofegante. Tinha algo de muito errado com ele.
— Bom dia, Sr. . Está tudo bem com você? – A secretaria perguntou.
— Eu só não estou me sentindo bem. Nada sério. – Falou sorrindo.
ligou para a Sra. . Ela era mãe, saberia se tivesse algo de errado. O telefone tocou algumas vezes. Logo a voz tão parecida com a de sua pequena.
— Olá, . – Falou com voz de sono.
— Oi, desculpa incomodar a essa hora da manhã... Está tudo bem? – Tentou parecer natural.
— Por aqui está tudo ótimo. Aconteceu alguma coisa com a ? – Perguntou já mais alto.
— Não, ela está dormindo. Os painéis de controle estão todos em perfeito estado, mas eu estava com uma sensação ruim, nada demais.
— , eu sei como deve estar se preocupando, mas você deveria relaxar mais. Faz mais de um ano, meu bem. Já devia ter se acostumado. – Tentou o tranquilizar.
— Eu sei, acho que nunca vou me acostumar em não tê—la por aqui.
— Em breve vamos ter nossa menina de volta.
— Assim espero. – Cochichou mais para si do que para ela.
— Qualquer coisa, me ligue! – A mulher completou.
— Claro. Até breve. – Completou desligando o telefone.
Passou horas monitorando a nave, mesmo que sua menina estivesse dormindo. Assim que ela acordou conversaram um pouco sobre as novidades, ela falava tão tecnicamente quanto ele. Cada prêmio fazia sentido quando ele conversava com ela. Tudo parecia valer a pena quando ela sorria. Sentia tanta falta dela. Não somente das noites maravilhosas, mas também dos abraços, sentia falta de passar um dia passeando com ela no shopping ou ir a um museu. Essa distância não o fazia nem um pouco bem, mas era pela felicidade da pessoa que mais amava. E era isso que ele queria, vê—la bem e feliz.
— , há quase dois anos você não sai de férias, amor. Isso não é saudável. – falou, o tirando de um transe.
— Eu gosto de ficar aqui... Admirando você. – Ele sorriu.
— Sinto que faço tanta coisa aqui, mas sempre sei que se eu precisar de você, vai estar aí... Vidrado nesta tela. – passou a mão pela tela. – Parece que eu roubei sua vida, entende?
— Amor, quando eu não estava na empresa, eu estava com você! Agora as coisas passaram a se complementar, estar com você e na empresa, passou a ser a mesma coisa. – Forçou um sorriso.
— Eu faço questão que pelo menos por hoje, você vá aproveitar o dia. – Ela falou sorrindo e concordou.
— Vou dar uma volta, se precisar de qualquer coisa...
— Aperte o botão vermelho que eu irei acionar até o presidente se for preciso. – Imitou minha voz. Curvei os lábios e soltei um risinho.
decidiu que iria sair para tomar um café. Avisou para seus superiores e andou até a cafeteria. Pediu um expresso, sentou—se solitário em uma das mesas. A garçonete loira era linda, tinha um corpo perfeito e pareceu adorar , mas ele sequer olhou para ela. Era sempre assim, por mais que as mulheres o desse uma atenção especial, a cabeça dele sempre estava na lua. Ou melhor, em marte. colocou um cigarro entre os dentes, enquanto tateava os bolsos a procura do isqueiro. Acabou esbarrando no copo e o café caiu em sua camisa branca.
— Merda! – falou alto.
— Você precisa de ajuda? – A mulher perguntou.
— Não, não precisa! Muito obrigado. – Soou meio grosseiro.
A loira saiu andando pelo corredor.
— Ei, talvez eu precise de ajuda. Onde é o banheiro? – Perguntou e ela sorriu.
— No final do corredor à esquerda. – Respondeu. – Mais alguma coisa?
tirou uma nota de cinquenta da carteira e a entregou, era uma maneira de agradecer a gentileza. Seguiu para o banheiro vendo o estrago que havia feito.
580 Dias Depois — Orion 1110 – 16:25.
A nave estava instável, era uma região com muitos meteoros. Nada que eles ainda não tivessem enfrentado. se sentou na cadeira, teria de confessar que estava morrendo de medo. Se sentia assim com todos os problemas que enfrentavam, mas sempre estava lá e tudo parecia tão simples, só por saber que ele estava por perto. Olhou para o botão vermelho, tentador, e ela realmente queria o apertar, mas não podia. Pela primeira vez estava descansando desde que ela foi convocada para os testes. Não podia tirar dele este direito.
O piloto estava concentrado. A nave era controlada pelo centro operacional, mas se qualquer acidente acontecesse, Shepley teria de entrar em ação. Os astronautas voluntários sentados em seus devidos lugares tensos. soava frio. Então decidiu que colocaria o vídeo com para poder se acalmar pelo menos um pouco.
Um cometa passou de raspão na nave. Todos sentiram o impacto. gelou, nunca pensou que teria de passar realmente por esta situação. Pode ver o alarme soar e a luz vermelha acender. Alguém havia apertado o botão de emergência.
Cerca de trinta minutos se passaram, a nave havia passado a chuva de meteoros, mas um dos tubos de combustível havia sido atingido, por isso a nave estava a andando a poucos anos—luz por hora. Os tripulantes esperavam a ordem do centro operacional, estavam desesperados.
580 Dias Depois – Apollo – 16:55.
tentava limpar a camisa. Ficou irritado com o incidente. Era tão minimamente calculista, não costumava a passar por imprevistos. Colocou o paletó por cima, esperando que escondesse a mancha. Percebeu que seu celular estava vibrando. Deviam ser os pais de . se analisou no espelho uma última vez e esperou estar ao lado de fora, para tirar o celular do bolso.
Chega a ser engraçado como uma mensagem pode mudar completamente o humor de alguém. Ao ler as palavras que mais temia: Alerta Vermelho, ele saiu correndo o mais rápido que podia em direção ao centro operacional da NASA. Em menos de cinco minutos estava em frente ao prédio. Apertou o botão do elevador, mas este parecia demorar demais, então ele subiu o mais rápido que podia pelas escadas, mal chegou ao centro, já gritava com todos.
Pode ver o desespero no rosto de . Seus olhos lacrimejavam. A respiração ofegante de , no comunicador a assustou. Ele olhava para a tela como um animal selvagem. Tudo o que queria no momento era salvar sua menina.
— O que aconteceu? – Ele perguntou furioso.
— Um dos tanques de combustível está vazando. – começou a andar de um lado para o outro pensando em uma solução.
— Eu vou arrumar uma solução, . Eu prometo. – tentou tranquiliza—la.
As lágrimas já escorriam livremente pelos olhos de . Ele olhou para as outras telas e começou a entrar em pânico. O combustível não estava simplesmente vazando, eles tinham poucas horas de voo. Seu coração estava acelerando cada vez mais. Ele passou a fazer contas e mais contas em sua cabeça. Os números passavam como em uma tela de computador. E os resultados o irritavam ainda mais. Os números sempre eram a solução de seus problemas, mas dessa vez, não havia solução.
— Eu sinto muito, . – O comandante da operação falou olhando para o semblante desesperado de .
— SENTE MUITO? – Bateu palmas, sendo irônico. – VOCÊ SENTE MUITO? Eu vou te matar! Como você não prevê uma zona de risco? Cadê os seus satélites? – Perguntou incrédulo.
— Você melhor do que ninguém sabe que nem mesmo a ciência é perfeita! Você precisa se controlar, !
— Está me dizendo isso porque não é a sua esposa lá! Ah, mas se algo acontecer com a minha , eu nunca vou te perdoar por isso! – Ele sabia que não tinha nada a fazer. Estava de mãos atadas e essa impotência o irritava mais ainda.
Ele sabia que era uma má ideia. Sabia que deveria tê—la impedido. batia sua cabeça na parede, enquanto as lágrimas escorriam livremente por suas maçãs.
— , fale comigo! – gritou.
Ouvir a voz dela estava doendo tanto naquele momento, mas de certa forma tinha certeza que se arrependeria pelo resto da vida por não falar nada.
— Eu não tenho o que fazer, amor. – tinha a respiração entrecortada, não conseguia falar nada, além disso.
— A culpa não é sua, . Você continua sendo um homem excepcional.
— Por que você não me chamou? – Ele perguntou quase em um desabafo.
— Não adiantaria nada, amor, você não é piloto. – Forçou um sorriso.
A nave começou a cair. Inicialmente, a velocidade não era tão grande, mas em pouco tempo a pressão contra os órgãos já era quase sufocante. No centro de operação monitoravam os batimentos cardíacos e a respiração de seus tripulantes. Todos já sabiam que iriam morrer. E apesar disso, não se arrependia de estar lá. A dor estava a corroendo por dentro, então ela juntou forças e começou a falar:
— O meu amor é como uma estrela, você pode não me ver sempre, mas eu estarei lá. Quando olhar para o céu e ver uma brilhando tão forte como Vega, saiba que sou eu. Sempre estarei por perto, . E quando ver um cometa, saiba que estarei nele, voltando para casa. – Falou aos prantos
— Eu tentei. Construí paredes para te proteger, já que eu não estaria por perto. Mas isso não adiantou nada, você está caindo e eu não posso fazer nada para te salvar. – Gemeu baixo como uma dor profunda.
— A culpa não é sua, . Talvez, estivesse escrito nas estrelas.
— Elas jamais fariam isso. Estou sentindo tanta raiva. Se eu não tivesse entrado na sua vida...
— Eu estaria incompleta. Não ouse dizer isso. Olha como o nosso amor é forte, . Este tempo que passamos longe pareceu uma eternidade e nós estamos juntos. Sou feliz em dizer que fui tua até... – Os batimentos cardíacos da menina diminuíram abruptamente. jogou o corpo contra a parede. – Até o último segundo da minha vida. – Ela cochichou.
— ! gritou. Era como se algo o corroesse por dentro. Seus joelhos falhavam, ele não tinha forças. Implorou que ligassem para a família da namorada. Sua visão ficou turva. Desejava morrer, porque não suportaria viver sem ela.
7 Dias Sem Ela – Cemitério Especial da NASA — Apollo – 17:00.
A NASA não pretendia mandar uma nave para resgatar os corpos. A nave estava perdida no espaço. sequer poderia voltar a ver o corpo de sua mulher. Os pais de o buscaram no hospital e o levaram para casa. Sentiam que juntos todos conseguiriam forças para seguir em frente, por pior que isso pudesse ser. Ele se culparia para sempre por não ter feito nada por ela.
Estavam na homenagem aos mortos no acidente com a Orion 1110. Teria de falar para todos, tudo o que realmente queria era morrer. Nada fazia sentido sem ela. pediu demissão. Pretendia evitar qualquer conta, porque cada número o lembraria que ele foi um fraco. Que ele não pode evitar um acidente.
Ouviu as palavras do padre, mas não prestava atenção. achava que não tinha mais lágrimas para chorar. Suspirou. Pensava no que dizer para . A última vez que pediu para que gravassem algo eram suas alianças, ver grafada uma espécie de lápide era no mínimo muito dolorido.
Todos já haviam se retirado. Inclusive os pais de , mas continuava ali, sentado. Repassou um pequeno texto em sua mente. Era um cientista, não deveria acreditar em nenhum dos fatos não comprovados, mas tinha certeza que ela podia lhe ouvir, sabia que ela estava lá.
— , não te falei tudo o que eu queria aquele dia. Eu pensei em mil e uma teorias de como seria nossa vida sem essa viagem espacial. E por mais que isso esteja me corroendo, eu descobri que não mudaria nada. Foram 580 dias tão felizes para você que jamais estragaria isso, porque os seus sorrisos foram os mais sinceros e porque você se foi realizando seu sonho! Eu queria tanto te encontrar agora, mas sei que tenho uma vida aqui, você jamais me perdoaria, não é? – Colocou o buquê de rosas em frente a lápide. – Você me disse algo que te define muito bem. Você é como uma estrela que nunca vai se apagar.
Ele suspirou alto e andou lentamente em direção a saída.
FIM
Nota da autora: Você é uma pessoa excepcional! Fico muito grata por terem lido a fanfic até aqui. Sei que foi um tema um tanto quanto... Ér... Inusitado, mas vocês não viram as outras tentativas. Espero ter conseguido arrancar algumas risadas, quem sabe uma lágrima ou outra? Críticas construtivas são bem—vindas! Se puderem... Deixem um comentário aqui em baixo. Quem sabe isso não consola o coração do nosso personagem principal? Ah e não deixem de conferir TODAS as fanfics deste ficstape!
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