Capítulo Único
AVISO: Essa fic mostra uma personagem lidando com seus problemas com drogas ilícitas, além de mostrar o consumo de bebidas alcoólicas e situações de ansiedade. Se você é sensível a esse tipo de tema ou é um gatilho, peço que tome cuidado ou então não continue a leitura.
E em outras notícias, Morris Santiago continua em internação no hospital, devido a uma forte overdose que teve quase duas semanas atrás. Fontes indicam que a atriz de 24 anos estava festejando dentro de uma das baladas de West Hollywood com amigos e seu mais recente affair, , quando tudo aconteceu. Ela chegou a ser socorrida no local, mas foi levada às pressas para o hospital. Sua equipe disse que passa bem, mas não deu detalhes de seu real estado ou o quão grave foi seu acidente. Seus amigos apenas continuam desejando melhoras para a atriz.
Fazia dias que ele estava longe das redes sociais, evitando ler qualquer notícia que tivesse relação a ela. Tudo era sensacionalista demais, podre demais. Tratavam como se ela fosse a maior viciada de Hollywood, esquecendo que também era humana, tinha sentimentos e sonhos de vida. Nojentos! Mas, mesmo longe da internet, a televisão deu um jeito de ser traiçoeira com o músico. Ele continuou imóvel após ouvir as palavras da jornalista, provavelmente de um programa de fofocas que deixou enquanto passava pelos canais da TV. O controle caiu ao seu lado e ele afundou o rosto entre as mãos, voltando a sentir os olhos queimarem e a garganta fechar. Um soluço cortou sua respiração. Ele saiu da sala em passos largos e foi para o jardim, onde não segurou o grito grave e ardido que saiu dele. Puxava tanto os cabelos que não se importou se tirava alguns fios por causa de sua força.
Covarde!
Você é um covarde do caralho, !
Essa voz o infernizava a todo momento já fazia duas semanas, junto do sentimento de culpa que fazia seu peito afundar.
Sim. A garota que ele amava estava hospitalizada, e o cantor ainda sequer tinha pisado no quarto em que ela se encontrava internada. Ele ainda não tinha coragem. “Talvez nunca tenha”, pensou e riu de forma amarga, deixando algumas lágrimas escorrerem livres por seu rosto. As mãos foram de forma quase automática aos bolsos da calça, caçando a maconha e o isqueiro. Ele deu um trago tão longo que temeu acabar com aquele rolinho de uma vez – era quase como se a erva não tivesse mais efeito algum em seu corpo. fumou tanto nesses últimos dias que até Rook ficou preocupado com o amigo, principalmente depois de tudo ter acontecido. Ele apagou por quase dois dias na cama, torcendo com todas as forças para que tudo aquilo tivesse sido apenas um pesadelo horrível.
“Tudo aconteceu muito rápido. Em um momento, estava rindo enquanto se deliciava com , espalhando beijos por seu pescoço; em outro, os dois já dividiam as linhas brancas no pequeno bloco de vidro, e, então, no seguinte, a garota ficou pálida. Ele viu o exato momento em que os olhos dela reviraram, o corpo bateu nas costas do sofá em que estavam e começou a tremer. Ele largou tudo que tinha em suas mãos, sentindo o desespero crescer em seu peito, e começou a gritar por ajuda. Sua própria visão ficou turva. Pessoas aglomeraram em volta deles dois, e ele viu o corpo da namorada ser arrastado para fora da balada, sendo praticamente carregado junto. No próximo segundo que piscou, ele se viu completamente sóbrio, dentro de uma ambulância com Jennifer e Emanuelle à sua frente. era atendida pelo paramédico ao seu lado, recebendo uma massagem cardíaca enquanto o outro furava sua pele para colocar um acesso intravenoso. Ele apenas segurou a mão livre dela, sentindo os olhos queimarem com a cena que estava acontecendo ali, enquanto só um pensamento rodava por sua cabeça: ‘é tudo culpa minha’.”
O barulho das chaves tilintando o acordou de seus pensamentos, mas ele não se virou para encarar quem era. Apenas o fez quando sentiu a presença mais baixa do amigo parar ao seu lado.
— Você tá horrível — Rook disse sem rodeios, dando um meio sorriso de lado. Ele apertou o ombro do cantor, puxando-o para um abraço rápido, muito bem retribuído por ele.
— Eu sei — respondeu, rouco, deixando uma risada seca escapar. Eles se sentaram um de frente para o outro nas poltronas que tinha ali fora. — Você estava...
— Sim — Rook assentiu, coçando a nunca e pensando nas próximas palavras, enquanto suspirava pesadamente. — Ela tá bem, cara. Consciente. Claro, ainda bastante abalada, mas ela tá bem. Viva! Pensei que você amasse essa garota.
— Eu amo! — ele respondeu sem rodeios, sentindo o peito apertar novamente.
— Então por que a palhaçada de não ir visitá-la?! Você é a pessoa que ela mais quer ver, você sabe disso!
— Rook...
— Não venha com desculpinha pra cima de mim.
— Não é desculpa! Como eu vou olhar na cara dela depois de tudo?! — seu tom voltou a se tornar desesperado. — ...
— Foi tudo minha culpa, Rook. Ela podia ter morrido, caralho!
— Cara, a gente já sabia sobre a cocaína. já era acostumada, você sabia disso. Não foi a primeira vez que ela usou, e você também não a obrigou a nada. Claro, foi um ato infeliz aquele desgraçado ter aproveitado e chamado ainda mais outros traficantes — o moreno revirou os olhos —, mas o fato de ela... — ele engoliu a seco. Nenhum deles conseguia mais falar a palavra overdose. — … Ter sofrido um acidente não foi culpa sua. Era o próprio corpo dizendo “chega”.
— Nada do que você falar vai fazer com que eu me sinta melhor.
— E se ela falar alguma coisa? — parou, passando a mão livre fortemente no rosto enquanto terminava sua maconha mais uma vez. O amigo se levantou, ficou ao seu lado e deu um aperto em seu ombro novamente. — Ela quer você lá tanto quanto você quer ir, eu sei disso. Não queremos te pressionar. Sei que deve tá tudo bem confuso aí dentro — ele deu um tapinha leve no centro do peito do cantor, que acabou soltando um riso fraco. — Mas só tenta ir, okay? Acho que vai fazer bem pra vocês dois… Fiquei sabendo que ela vai ficar lá até o começo da semana que vem, mas com altas chances de ir direto pra uma clínica de reabilitação.
engoliu em seco, assentindo devagar com a cabeça, e abraçou Rook mais uma vez antes de ele ir embora.
Reabilitação. Ela iria para a reabilitação. E talvez depois nunca voltasse a olhar em sua cara quando saísse. Ele bufou, frustrado, bagunçando os cabelos. Então, subiu rapidamente para seu banheiro e se enfiou embaixo do chuveiro, finalmente decidindo os próximos passos que teria de dar.
não soube exatamente quanto tempo se passou, mas, depois de alguns minutos embaixo do chuveiro gelado, ele juntou seu material de escrita e o fiel violão, voltou para a área da piscina e espalhou suas coisas ali, começando a escrever tudo que estava esmagado dentro de seu peito.
“Complicado. Frustrado. Subestimado. Não consigo dormir, a mente está a mil.¹”
Ele até tentou, mas praticamente todas as memórias de tudo o que tinha vivido nos últimos tempos com inundaram sua mente, em ondas extremamente fortes – desde a primeira vez que trocaram olhares naquela balada, quase um ano atrás, até o último momento antes de ela apagar praticamente em seus braços. respirou fundo, piscou várias vezes para sua visão desembaçar e voltou a escrever suas palavras.
“ voltou a mergulhar, jogando um pouco de água para fora da piscina e molhando o cantor, que riu da cena. Ele estava com as pernas na água enquanto observava os movimentos de sua garota ali. O sol já estava se pondo, deixando o céu com manchas alaranjadas, e as luzinhas penduradas ali na área externa deixaram um clima aconchegante para eles. aproveitou que ela estava de costas e tirou rapidamente o celular do calção, tirando uma foto dela ali, com a tatuagem de rosa no ombro esquerdo que ele tanto gostava. Morris voltou para a borda em que ele estava, puxou a garrafa do vinho rosé e bebeu diretamente dela.
— O que foi?
— Nada — ele balançou a cabeça, ainda sorrindo. — Você tá linda.
Os dois sorriram um pro outro. Ela nadou para o meio das pernas de , se apoiou na borda da piscina e impulsionou o corpo para cima ao mesmo momento que ele desceu o tronco, encontrando os lábios dela no meio do caminho. foi voltando o corpo para a água aos poucos, e puxou os braços do homem em sua direção. Com um baque alto, ele caiu na piscina junto com ela, que gargalhou alto com a reação dele.
— Ah, sua danadinha! — ele nadou rapidamente em sua direção, fazendo cócegas na cintura dela enquanto descia os lábios novamente pela pele de seu pescoço.
Os dois perderam a noção do tempo. A noite logo caiu, fazendo com que as luzes penduradas do lado de fora ficassem mais evidentes, mas ainda sem ofuscar o brilho intenso da lua cheia. Graças ao calor da Califórnia, eles não se importaram tanto em trocar de roupa – permaneceram com os trajes de banho enquanto comiam um hambúrguer pedido pelo delivery e terminavam a segunda garrafa de rosé.
aproveitou para se deitar na beira da piscina, deixou um braço dentro da água e manteve os olhos fechados, enquanto cantarolava uma melodia qualquer e aproveitava a leve brisa. Ela se sentia leve e feliz, deixando os lábios se curvarem num sorriso bobo. deixou as embalagens na cozinha e voltou caminhando devagar, apreciando a vista da garota deitada. Sentiu o peito formigar, se sentindo tão extasiado quanto na primeira vez que esteve com ela. Naquele exato momento, ele não tinha mais dúvidas de seu sentimento.
O cantor se aproximou devagar, sentando-se ao lado da garota e fazendo um leve carinho em sua coxa. gemeu baixinho com o ato, sentindo a pele arrepiar com o toque quente dele.
— Eu acho que amo você — ele disse.
Ela parou os movimentos do braço na água e se sentou de frente para , com os olhos levemente arregalados. Mas sorriu, surpresa.
— V-Você...
— Na verdade, eu não acho — ele se aproximou um pouco mais, tirando alguns fios de cabelo dos olhos dela. Segurou firmemente seu rosto e passou o polegar por sua bochecha. — Eu tenho certeza. Eu amo você, .
Os olhos de brilharam, e ela precisou piscar algumas vezes para não chorar, antes de a boca dele se fechar sobre a sua. Ela suspirou, passando os braços por seu pescoço. Sentiu as mãos grandes do cantor passeando por sua cintura, sem deixar de apertar sua bunda e fazê-la arfar no meio do beijo. Ela deu alguns selinhos e segurou o rosto dele, se afastando minimamente para encarar os olhos que ela tanto amava.
— Eu também te amo, .
Ele sorriu abertamente, o peito vibrando em alegria. Então, puxou-a para si mais uma vez, mas sentiu quando o abraçou mais forte, tombando os dois para o lado. Eles acabaram mergulhando na água novamente. Voltaram a brincar na piscina, completamente leves e cheios de olhares apaixonados, com a lua brilhando em cima dos dois. Aquele momento era deles. Somente deles.”
“Me salva desses sonhos diários sobre isso. Na noite da lua cheia, mergulho com tatuagens. Eu não aguento mais essas regras de merda.”
Ah, as tatuagens dela sempre acabavam com ele. Mesmo depois de começarem a se encontrar com mais frequência, ela sempre teve aquela rosa em seu ombro. Era e sempre seria a favorita dele.
" ofegou e mordeu o lábio inferior da mulher, sugando-o levemente, e saiu de dentro dela apenas para tirá-la de cima da pia. Suas mãos contornaram o quadril por baixo do pano da saia, apertando sua pele agora de uma forma mais forte, sentindo cada parte dela. Ele a virou de costas e encarou a imagem chapada dos dois refletida no espelho, sentindo arrepios quando viu o mesmo sorriso cafajeste estampado nos lábios dela.
se apoiou na pia, deixou o antebraço descansar no mármore frio e empinou um pouco mais o quadril, se movendo lentamente de um lado pro outro, num rebolado sensual que tentava acompanhar a música que ecoava distante deles. Ele quase delirou. Poderia muito bem se sentar e ver a ruiva dançar para ele o resto da noite, mas a ideia de continuar sua foda era imensamente mais interessante. Óbvio. levantou parte da saia que cobria a intimidade de e voltou seu caminho para dentro dela, dessa vez investindo em movimentos mais rápidos. Uma mão ficou firme em seu quadril, enquanto a outra passeou por suas costas, tirando os fios longos de seu cabelo da pele. Ele se surpreendeu ao ver a tatuagem de uma rosa estampada um pouco abaixo da omoplata esquerda. Não dava pra ver muitos detalhes por conta da iluminação baixa do ambiente, mas notou que era linda e delicada, sem traços pesados. Diferente dos desenhos que ele carregava.”
“Eu me apaixonei por um hábito muito ruim. Eu estava vivo pela primeira vez.”
sentiu uma pontada em seu estômago, rindo com a própria desgraça. Ele não pensou na melodia ainda, era apenas um desabafo seu em relação a tudo o que havia acontecido, ao mesmo tempo que via um certo potencial para uma música ali. Precisava compartilhar aquele sentimento de angústia, principalmente com ela. Seu produtor talvez não ficasse tão feliz com uma nova música acrescentada quase nos últimos minutos da produção do álbum, mas com certeza valeria a pena.
Antes de voltar a fechar os olhos, Emanuelle se aconchegou um pouco mais naquela poltrona e deu uma última olhada na amiga, que dormia tranquilamente. Mas sentiu o celular vibrar no meio das pernas, se assustando e acordando completamente. A morena pegou o aparelho sem nem olhar quem estava ligando, saiu rapidamente do quarto e atendeu a ligação.
— Elle? — ela arregalou levemente os olhos ao reconhecer aquela voz rouca. Verificou se a porta estava fechada e deu alguns passos para se afastar. — Tá me ouvindo?
— Oi! — ela deu um pigarro. — Nossa, que surpresa. Você tá bem? — Emanuelle ouviu o suspiro do outro lado da linha e precisou morder a boca para não rir do ato.
— Dentro do possível... E você?
— Eu tô bem — ela deu ombros, se encostando na parede. — Não fui quem teve uma overdose — não deixou de alfinetar.
— Sobre iss–
— , é sério! Você ligou pra quê exatamente? Se não é pra avisar que vai vir aqui ou então pra falar que nunca mais vai olhar na cara, você tá perdendo tempo! — despejou de uma vez.
— Na verdade... — ele engoliu em seco, não culpando a acidez da garota. Era totalmente compreensível. — Eu queria saber se consigo ir amanhã...
Elle parou por alguns segundos com a surpresa, quase rindo de nervoso. Tanto que ele até verificou se a chamada não tinha caído:
— Elle?
— Ahm, desculpa! C-Claro, amanhã tá tranquilo. Eu realmente preciso voltar pra casa e pegar mais roupas — ela desembestou a falar e respirou fundo. — Só me dê um toque antes de vir, por favor. Eu também não vou falar nada pra , acho que ela vai gostar da surpresa... — “mesmo que esteja duas semanas atrasado”, completou por pensamento.
— Valeu, Elle. Te vejo amanhã também.
— Até — a morena encarou a parede branca, piscou por alguns segundos e riu desacreditada, voltando para o quarto da amiga.
começou a se remexer na cama, sorrindo fraco quando viu a imagem de Elle ali, que prontamente voltou para seu lado e deixou um beijo leve em sua testa.
— Boa noite, minha garota-problema — as duas riram, e ela começou a se sentar na cama. — Quer jantar?
— Nossa, por favor! — a voz ainda saiu rouca e arrastada pelas horas dormidas. — Tô morrendo de fome.
— Vou pedir nossa comida — a morena ajeitou uma das mechas onduladas do cabelo da amiga e voltou a pegar o celular, procurando o que seria o jantar das duas.
desligou a chamada, mordeu a borda da capinha do celular e riu do formigamento que a ponta de seus dedos estava tendo ali no momento. Era uma ansiedade razoavelmente boa; ele realmente só estava com medo de como seria encontrar com novamente.
mal tinha conseguido dormir naquela noite. A ansiedade de rever sua garota reverberou em seu corpo inteiro. Se tivesse conseguido dormir por umas três horas, já tinha sido muito. Por conta disso, às sete horas da manhã, ele já estava de pé e devidamente arrumado, terminando de tentar comer alguma coisa para também não desmaiar de nervoso. Seria bem constrangedor. Verificou se tudo que precisava levar estava na mochila e trancou a casa, deu partida no carro e seguiu o caminho do GPS até o hospital em que ela estava.
A viagem durou pouco mais de meia hora, já que era um hospital mais afastado do centro da cidade. Quando chegou no estacionamento, ele quase enrolou mais meia hora apenas para conseguir sair do carro. já havia mandado mensagem dizendo que estava esperando na recepção para liberar sua entrada, e foi nesse momento que ele precisou desligar todos e quaisquer pensamentos sabotadores que, com certeza, iriam brotar em sua cabeça novamente. Bateu a porta do carro e caminhou em passos rápidos para dentro do hospital, já enxergando a figura morena e baixinha que era Elle. Ela levantou a cabeça quando ele já estava próximo e o abraçou antes que pudesse dizer alguma coisa. Ele retribuiu carinhosamente, mas sentiu um soco fraco em seu braço quando se afastaram. A morena deu um sorriso inocente em resposta:
— Poderia ter sido na sua cara, mas eu não quero arrumar confusão.
— Eu entendo, tenho certeza que mais tarde ele vem — ele fingiu uma cara de dor ao tocar no local atingido, e ela o encaminhou para o balcão da recepção. ganhou o crachá de acompanhante e as informações do quarto onde estava.
— Não faça nenhuma besteira, okay? Você tá liberado pra ficar até amanhã, se ela quiser. Qualquer coisa pode me ligar, que eu ou a Jenni voltamos.
Ele assentiu sem falar nada e deu um aceno antes de seguir para os elevadores, sentindo a mão tremer quando apertou o botão do andar que precisava ir. Era quase ridículo se sentir assim, e riu fraco da situação em que se encontrava. Se sentia como se estivesse indo para seu primeiro encontro com , só que, agora, com a possibilidade de a garota odiá-lo para sempre por ter sido um completo imbecil.
Ele passou a língua entre os lábios antes de bater suavemente na porta e escutou um “pode entrar” baixinho vindo de lá. A mão ainda trêmula abriu a porta, colocando apenas a cabeça para dentro do quarto.
estava com o que parecia ser um livro e uma caneta nas mãos, ainda com os olhos fixos no objeto em seu colo, mas estranhou quando as batidas sumiram. Então, ela levantou a cabeça para procurar seja lá quem fosse, até ver quem estava parado ali perto da porta. Sua boca abriu e fechou, sem saber exatamente o que falar. Mas ela logo sorriu, fazendo um gesto com a mão para que ele pudesse se aproximar.
O coração de parecia que ia explodir a qualquer momento. Ele fechou a porta e foi tirando a mochila conforme caminhava para perto dela, e a deixou no chão quando parou ao lado de sua cama. Ele se sentou devagar, de frente para sua amada, e segurou sua mão, que já estava sem o acesso intravenoso, com delicadeza. Baixou os olhos por alguns segundos quando sentiu a visão voltar a queimar, até que uma lágrima acabou caindo na palma dela, e os dois riram baixinho.
se arrepiou por completo quando sentiu os dedos quentes dela tocarem seu rosto, limpando algumas lágrimas teimosas de sua bochecha. A garota encarou os olhos brilhantes dele. O homem passou um braço por sua cintura, enquanto o outro permaneceu em sua nuca, com o rosto afundado no pescoço que ainda exalava o perfume leve que ele tanto amava. Ele se desmanchou ali mesmo.
retribuía aquele abraço tão forte quanto ele, chegando a suspirar pelo aperto intenso nas costelas. Só então ele afrouxou seu aperto, mas não o soltou. Ela também sentia as lágrimas rolarem por sua pele, assim como rolavam dos próprios olhos, molhando a camiseta branca dele. Naquele momento, tentou limpar os pensamentos e ignorar a dor no peito por ele não ter ido visitá-la antes, mas, de certa forma, também estava feliz, aliviada por ele finalmente ter ido ao seu encontro. Porém, toda mágoa, angústia e dor ainda estavam ali, completamente presentes dentro dela. Com isso, ela respirou profundamente, finalmente tomando coragem para se soltar daquele corpo que tanto amava, e sentiu os lábios quentes de em sua bochecha, num beijo casto.
Dentro do peito dele estava uma completa confusão, porém a culpa voltou a pesar novamente. Foi impossível aquele sentimento não voltar. Antes que ela pudesse falar qualquer coisa, voltou a pegar a mochila e tirou de lá um envelope assinado para ela, deixando-o em cima da mesinha ao lado de sua maca. Então, voltou a segurar sua mão – ele ainda precisava de todo o contato possível com ela.
— Nosso futuro pode ser incerto — ele começou; a voz grave ecoando rouca a arrepiou completamente, e ela sorriu fraco. Provavelmente, ele também já sabia. — Mas eu te escrevi uma música. Na verdade, até mais do que uma... — sorriu de lado, olhando rapidamente para o envelope mais uma vez. — Tinha muito pra falar. E você sabe que, às vezes, sou melhor passando pro papel do que dizendo tudo de uma vez.
— Um dos defeitos que você tem... — ela brincou em tom leve, apertando sua mão. — Esses dias aqui me fizeram repensar muita coisa, . Inclusive sobre nós.
Ele a olhou com uma expressão triste e em dúvida. apenas assentiu, sentindo os olhos voltarem a embaçar sua visão. repetiu o mesmo que ela havia feito, limpando as lágrimas que rolavam soltas.
— Eu te amo, garoto-problema. Muito. E acho que isso tá fazendo mal demais pra mim. Pra nós! Eu amo ficar junto com você, mas viver daquela forma inconsequente foi um claro aviso para pararmos e respirarmos fundo, ver o que tá dando errado — ela mordeu a boca e acabou deitando a cabeça em sua mão, beijando levemente a palma dele. — É melhor seguirmos nossos caminhos e nossas carreiras separados agora.
sentiu o peito apertar, soltando todo o ar que estava preso, e ele nem sentiu. Era como sempre diziam: a vida estava boa demais para que nada de ruim acontecesse. Primeiro o acidente dela, que poderia ter sido fatal e a arrancado completamente de seus braços, e, agora, ela mesma estava se desfazendo dele. Prometer uma mudança era algo complicado. ainda estava machucada demais, principalmente internamente. Ele também nunca foi o melhor exemplo de comportamento, e ver abusar tanto de si mesma com as drogas sempre doía fundo nele, pois sabia que parte da influência vinha dele também. Realmente, eles não tinham outra saída além de estarem fadados ao fracasso.
a puxou carinhosamente pela nuca, colou os lábios na testa dela e assentiu devagar. Ele começou a se levantar da cama, mas ela o impediu, fazendo com que ele se sentasse de novo. O homem a encarou, confuso.
— Não quer dizer que você não possa ficar aqui comigo, otário! — riu e deu um leve tapa em seu braço. — Não me faça jogar alguns fatos na sua cara, meu bem — ela cerrou os olhos, e ele fingiu uma indignação.
— Podemos te dar alta, você já voltou à sua ousadia normal — tirou os tênis e se aconchegou um pouco mais ao lado dela, sentindo falta daqueles momentos simples com a garota.
— Você já comeu?
— Já... Mas se você tiver algum doce aí, eu também aceito — sorriu, quase travessa, e assentiu, puxando a mochila para tirar um saquinho e M&M’s de lá.
Ela comemorou e deu um beijo rápido em sua bochecha, dividindo o pacote com ele e aproveitando para passar a manhã da forma bastante preguiçosa como eles gostavam. Os dois ainda tinham o dia inteiro e a noite juntos, com ambos ignorando o fato de que não estariam mais juntos na manhã seguinte.
O que e precisavam naquele momento era apenas da companhia um do outro.
I told her, “it's all yours, but I need to know if you're down”. I can't help it.
Fazia dias que ele estava longe das redes sociais, evitando ler qualquer notícia que tivesse relação a ela. Tudo era sensacionalista demais, podre demais. Tratavam como se ela fosse a maior viciada de Hollywood, esquecendo que também era humana, tinha sentimentos e sonhos de vida. Nojentos! Mas, mesmo longe da internet, a televisão deu um jeito de ser traiçoeira com o músico. Ele continuou imóvel após ouvir as palavras da jornalista, provavelmente de um programa de fofocas que deixou enquanto passava pelos canais da TV. O controle caiu ao seu lado e ele afundou o rosto entre as mãos, voltando a sentir os olhos queimarem e a garganta fechar. Um soluço cortou sua respiração. Ele saiu da sala em passos largos e foi para o jardim, onde não segurou o grito grave e ardido que saiu dele. Puxava tanto os cabelos que não se importou se tirava alguns fios por causa de sua força.
Covarde!
Você é um covarde do caralho, !
Essa voz o infernizava a todo momento já fazia duas semanas, junto do sentimento de culpa que fazia seu peito afundar.
Sim. A garota que ele amava estava hospitalizada, e o cantor ainda sequer tinha pisado no quarto em que ela se encontrava internada. Ele ainda não tinha coragem. “Talvez nunca tenha”, pensou e riu de forma amarga, deixando algumas lágrimas escorrerem livres por seu rosto. As mãos foram de forma quase automática aos bolsos da calça, caçando a maconha e o isqueiro. Ele deu um trago tão longo que temeu acabar com aquele rolinho de uma vez – era quase como se a erva não tivesse mais efeito algum em seu corpo. fumou tanto nesses últimos dias que até Rook ficou preocupado com o amigo, principalmente depois de tudo ter acontecido. Ele apagou por quase dois dias na cama, torcendo com todas as forças para que tudo aquilo tivesse sido apenas um pesadelo horrível.
“Tudo aconteceu muito rápido. Em um momento, estava rindo enquanto se deliciava com , espalhando beijos por seu pescoço; em outro, os dois já dividiam as linhas brancas no pequeno bloco de vidro, e, então, no seguinte, a garota ficou pálida. Ele viu o exato momento em que os olhos dela reviraram, o corpo bateu nas costas do sofá em que estavam e começou a tremer. Ele largou tudo que tinha em suas mãos, sentindo o desespero crescer em seu peito, e começou a gritar por ajuda. Sua própria visão ficou turva. Pessoas aglomeraram em volta deles dois, e ele viu o corpo da namorada ser arrastado para fora da balada, sendo praticamente carregado junto. No próximo segundo que piscou, ele se viu completamente sóbrio, dentro de uma ambulância com Jennifer e Emanuelle à sua frente. era atendida pelo paramédico ao seu lado, recebendo uma massagem cardíaca enquanto o outro furava sua pele para colocar um acesso intravenoso. Ele apenas segurou a mão livre dela, sentindo os olhos queimarem com a cena que estava acontecendo ali, enquanto só um pensamento rodava por sua cabeça: ‘é tudo culpa minha’.”
O barulho das chaves tilintando o acordou de seus pensamentos, mas ele não se virou para encarar quem era. Apenas o fez quando sentiu a presença mais baixa do amigo parar ao seu lado.
— Você tá horrível — Rook disse sem rodeios, dando um meio sorriso de lado. Ele apertou o ombro do cantor, puxando-o para um abraço rápido, muito bem retribuído por ele.
— Eu sei — respondeu, rouco, deixando uma risada seca escapar. Eles se sentaram um de frente para o outro nas poltronas que tinha ali fora. — Você estava...
— Sim — Rook assentiu, coçando a nunca e pensando nas próximas palavras, enquanto suspirava pesadamente. — Ela tá bem, cara. Consciente. Claro, ainda bastante abalada, mas ela tá bem. Viva! Pensei que você amasse essa garota.
— Eu amo! — ele respondeu sem rodeios, sentindo o peito apertar novamente.
— Então por que a palhaçada de não ir visitá-la?! Você é a pessoa que ela mais quer ver, você sabe disso!
— Rook...
— Não venha com desculpinha pra cima de mim.
— Não é desculpa! Como eu vou olhar na cara dela depois de tudo?! — seu tom voltou a se tornar desesperado. — ...
— Foi tudo minha culpa, Rook. Ela podia ter morrido, caralho!
— Cara, a gente já sabia sobre a cocaína. já era acostumada, você sabia disso. Não foi a primeira vez que ela usou, e você também não a obrigou a nada. Claro, foi um ato infeliz aquele desgraçado ter aproveitado e chamado ainda mais outros traficantes — o moreno revirou os olhos —, mas o fato de ela... — ele engoliu a seco. Nenhum deles conseguia mais falar a palavra overdose. — … Ter sofrido um acidente não foi culpa sua. Era o próprio corpo dizendo “chega”.
— Nada do que você falar vai fazer com que eu me sinta melhor.
— E se ela falar alguma coisa? — parou, passando a mão livre fortemente no rosto enquanto terminava sua maconha mais uma vez. O amigo se levantou, ficou ao seu lado e deu um aperto em seu ombro novamente. — Ela quer você lá tanto quanto você quer ir, eu sei disso. Não queremos te pressionar. Sei que deve tá tudo bem confuso aí dentro — ele deu um tapinha leve no centro do peito do cantor, que acabou soltando um riso fraco. — Mas só tenta ir, okay? Acho que vai fazer bem pra vocês dois… Fiquei sabendo que ela vai ficar lá até o começo da semana que vem, mas com altas chances de ir direto pra uma clínica de reabilitação.
engoliu em seco, assentindo devagar com a cabeça, e abraçou Rook mais uma vez antes de ele ir embora.
Reabilitação. Ela iria para a reabilitação. E talvez depois nunca voltasse a olhar em sua cara quando saísse. Ele bufou, frustrado, bagunçando os cabelos. Então, subiu rapidamente para seu banheiro e se enfiou embaixo do chuveiro, finalmente decidindo os próximos passos que teria de dar.
And she was the first face I was looking to call mine
não soube exatamente quanto tempo se passou, mas, depois de alguns minutos embaixo do chuveiro gelado, ele juntou seu material de escrita e o fiel violão, voltou para a área da piscina e espalhou suas coisas ali, começando a escrever tudo que estava esmagado dentro de seu peito.
Ele até tentou, mas praticamente todas as memórias de tudo o que tinha vivido nos últimos tempos com inundaram sua mente, em ondas extremamente fortes – desde a primeira vez que trocaram olhares naquela balada, quase um ano atrás, até o último momento antes de ela apagar praticamente em seus braços. respirou fundo, piscou várias vezes para sua visão desembaçar e voltou a escrever suas palavras.
“ voltou a mergulhar, jogando um pouco de água para fora da piscina e molhando o cantor, que riu da cena. Ele estava com as pernas na água enquanto observava os movimentos de sua garota ali. O sol já estava se pondo, deixando o céu com manchas alaranjadas, e as luzinhas penduradas ali na área externa deixaram um clima aconchegante para eles. aproveitou que ela estava de costas e tirou rapidamente o celular do calção, tirando uma foto dela ali, com a tatuagem de rosa no ombro esquerdo que ele tanto gostava. Morris voltou para a borda em que ele estava, puxou a garrafa do vinho rosé e bebeu diretamente dela.
— O que foi?
— Nada — ele balançou a cabeça, ainda sorrindo. — Você tá linda.
Os dois sorriram um pro outro. Ela nadou para o meio das pernas de , se apoiou na borda da piscina e impulsionou o corpo para cima ao mesmo momento que ele desceu o tronco, encontrando os lábios dela no meio do caminho. foi voltando o corpo para a água aos poucos, e puxou os braços do homem em sua direção. Com um baque alto, ele caiu na piscina junto com ela, que gargalhou alto com a reação dele.
— Ah, sua danadinha! — ele nadou rapidamente em sua direção, fazendo cócegas na cintura dela enquanto descia os lábios novamente pela pele de seu pescoço.
Os dois perderam a noção do tempo. A noite logo caiu, fazendo com que as luzes penduradas do lado de fora ficassem mais evidentes, mas ainda sem ofuscar o brilho intenso da lua cheia. Graças ao calor da Califórnia, eles não se importaram tanto em trocar de roupa – permaneceram com os trajes de banho enquanto comiam um hambúrguer pedido pelo delivery e terminavam a segunda garrafa de rosé.
aproveitou para se deitar na beira da piscina, deixou um braço dentro da água e manteve os olhos fechados, enquanto cantarolava uma melodia qualquer e aproveitava a leve brisa. Ela se sentia leve e feliz, deixando os lábios se curvarem num sorriso bobo. deixou as embalagens na cozinha e voltou caminhando devagar, apreciando a vista da garota deitada. Sentiu o peito formigar, se sentindo tão extasiado quanto na primeira vez que esteve com ela. Naquele exato momento, ele não tinha mais dúvidas de seu sentimento.
O cantor se aproximou devagar, sentando-se ao lado da garota e fazendo um leve carinho em sua coxa. gemeu baixinho com o ato, sentindo a pele arrepiar com o toque quente dele.
— Eu acho que amo você — ele disse.
Ela parou os movimentos do braço na água e se sentou de frente para , com os olhos levemente arregalados. Mas sorriu, surpresa.
— V-Você...
— Na verdade, eu não acho — ele se aproximou um pouco mais, tirando alguns fios de cabelo dos olhos dela. Segurou firmemente seu rosto e passou o polegar por sua bochecha. — Eu tenho certeza. Eu amo você, .
Os olhos de brilharam, e ela precisou piscar algumas vezes para não chorar, antes de a boca dele se fechar sobre a sua. Ela suspirou, passando os braços por seu pescoço. Sentiu as mãos grandes do cantor passeando por sua cintura, sem deixar de apertar sua bunda e fazê-la arfar no meio do beijo. Ela deu alguns selinhos e segurou o rosto dele, se afastando minimamente para encarar os olhos que ela tanto amava.
— Eu também te amo, .
Ele sorriu abertamente, o peito vibrando em alegria. Então, puxou-a para si mais uma vez, mas sentiu quando o abraçou mais forte, tombando os dois para o lado. Eles acabaram mergulhando na água novamente. Voltaram a brincar na piscina, completamente leves e cheios de olhares apaixonados, com a lua brilhando em cima dos dois. Aquele momento era deles. Somente deles.”
Ah, as tatuagens dela sempre acabavam com ele. Mesmo depois de começarem a se encontrar com mais frequência, ela sempre teve aquela rosa em seu ombro. Era e sempre seria a favorita dele.
" ofegou e mordeu o lábio inferior da mulher, sugando-o levemente, e saiu de dentro dela apenas para tirá-la de cima da pia. Suas mãos contornaram o quadril por baixo do pano da saia, apertando sua pele agora de uma forma mais forte, sentindo cada parte dela. Ele a virou de costas e encarou a imagem chapada dos dois refletida no espelho, sentindo arrepios quando viu o mesmo sorriso cafajeste estampado nos lábios dela.
se apoiou na pia, deixou o antebraço descansar no mármore frio e empinou um pouco mais o quadril, se movendo lentamente de um lado pro outro, num rebolado sensual que tentava acompanhar a música que ecoava distante deles. Ele quase delirou. Poderia muito bem se sentar e ver a ruiva dançar para ele o resto da noite, mas a ideia de continuar sua foda era imensamente mais interessante. Óbvio. levantou parte da saia que cobria a intimidade de e voltou seu caminho para dentro dela, dessa vez investindo em movimentos mais rápidos. Uma mão ficou firme em seu quadril, enquanto a outra passeou por suas costas, tirando os fios longos de seu cabelo da pele. Ele se surpreendeu ao ver a tatuagem de uma rosa estampada um pouco abaixo da omoplata esquerda. Não dava pra ver muitos detalhes por conta da iluminação baixa do ambiente, mas notou que era linda e delicada, sem traços pesados. Diferente dos desenhos que ele carregava.”
sentiu uma pontada em seu estômago, rindo com a própria desgraça. Ele não pensou na melodia ainda, era apenas um desabafo seu em relação a tudo o que havia acontecido, ao mesmo tempo que via um certo potencial para uma música ali. Precisava compartilhar aquele sentimento de angústia, principalmente com ela. Seu produtor talvez não ficasse tão feliz com uma nova música acrescentada quase nos últimos minutos da produção do álbum, mas com certeza valeria a pena.
Antes de voltar a fechar os olhos, Emanuelle se aconchegou um pouco mais naquela poltrona e deu uma última olhada na amiga, que dormia tranquilamente. Mas sentiu o celular vibrar no meio das pernas, se assustando e acordando completamente. A morena pegou o aparelho sem nem olhar quem estava ligando, saiu rapidamente do quarto e atendeu a ligação.
— Elle? — ela arregalou levemente os olhos ao reconhecer aquela voz rouca. Verificou se a porta estava fechada e deu alguns passos para se afastar. — Tá me ouvindo?
— Oi! — ela deu um pigarro. — Nossa, que surpresa. Você tá bem? — Emanuelle ouviu o suspiro do outro lado da linha e precisou morder a boca para não rir do ato.
— Dentro do possível... E você?
— Eu tô bem — ela deu ombros, se encostando na parede. — Não fui quem teve uma overdose — não deixou de alfinetar.
— Sobre iss–
— , é sério! Você ligou pra quê exatamente? Se não é pra avisar que vai vir aqui ou então pra falar que nunca mais vai olhar na cara, você tá perdendo tempo! — despejou de uma vez.
— Na verdade... — ele engoliu em seco, não culpando a acidez da garota. Era totalmente compreensível. — Eu queria saber se consigo ir amanhã...
Elle parou por alguns segundos com a surpresa, quase rindo de nervoso. Tanto que ele até verificou se a chamada não tinha caído:
— Elle?
— Ahm, desculpa! C-Claro, amanhã tá tranquilo. Eu realmente preciso voltar pra casa e pegar mais roupas — ela desembestou a falar e respirou fundo. — Só me dê um toque antes de vir, por favor. Eu também não vou falar nada pra , acho que ela vai gostar da surpresa... — “mesmo que esteja duas semanas atrasado”, completou por pensamento.
— Valeu, Elle. Te vejo amanhã também.
— Até — a morena encarou a parede branca, piscou por alguns segundos e riu desacreditada, voltando para o quarto da amiga.
começou a se remexer na cama, sorrindo fraco quando viu a imagem de Elle ali, que prontamente voltou para seu lado e deixou um beijo leve em sua testa.
— Boa noite, minha garota-problema — as duas riram, e ela começou a se sentar na cama. — Quer jantar?
— Nossa, por favor! — a voz ainda saiu rouca e arrastada pelas horas dormidas. — Tô morrendo de fome.
— Vou pedir nossa comida — a morena ajeitou uma das mechas onduladas do cabelo da amiga e voltou a pegar o celular, procurando o que seria o jantar das duas.
desligou a chamada, mordeu a borda da capinha do celular e riu do formigamento que a ponta de seus dedos estava tendo ali no momento. Era uma ansiedade razoavelmente boa; ele realmente só estava com medo de como seria encontrar com novamente.
I'm having trouble operating without my main component.
mal tinha conseguido dormir naquela noite. A ansiedade de rever sua garota reverberou em seu corpo inteiro. Se tivesse conseguido dormir por umas três horas, já tinha sido muito. Por conta disso, às sete horas da manhã, ele já estava de pé e devidamente arrumado, terminando de tentar comer alguma coisa para também não desmaiar de nervoso. Seria bem constrangedor. Verificou se tudo que precisava levar estava na mochila e trancou a casa, deu partida no carro e seguiu o caminho do GPS até o hospital em que ela estava.
A viagem durou pouco mais de meia hora, já que era um hospital mais afastado do centro da cidade. Quando chegou no estacionamento, ele quase enrolou mais meia hora apenas para conseguir sair do carro. já havia mandado mensagem dizendo que estava esperando na recepção para liberar sua entrada, e foi nesse momento que ele precisou desligar todos e quaisquer pensamentos sabotadores que, com certeza, iriam brotar em sua cabeça novamente. Bateu a porta do carro e caminhou em passos rápidos para dentro do hospital, já enxergando a figura morena e baixinha que era Elle. Ela levantou a cabeça quando ele já estava próximo e o abraçou antes que pudesse dizer alguma coisa. Ele retribuiu carinhosamente, mas sentiu um soco fraco em seu braço quando se afastaram. A morena deu um sorriso inocente em resposta:
— Poderia ter sido na sua cara, mas eu não quero arrumar confusão.
— Eu entendo, tenho certeza que mais tarde ele vem — ele fingiu uma cara de dor ao tocar no local atingido, e ela o encaminhou para o balcão da recepção. ganhou o crachá de acompanhante e as informações do quarto onde estava.
— Não faça nenhuma besteira, okay? Você tá liberado pra ficar até amanhã, se ela quiser. Qualquer coisa pode me ligar, que eu ou a Jenni voltamos.
Ele assentiu sem falar nada e deu um aceno antes de seguir para os elevadores, sentindo a mão tremer quando apertou o botão do andar que precisava ir. Era quase ridículo se sentir assim, e riu fraco da situação em que se encontrava. Se sentia como se estivesse indo para seu primeiro encontro com , só que, agora, com a possibilidade de a garota odiá-lo para sempre por ter sido um completo imbecil.
Ele passou a língua entre os lábios antes de bater suavemente na porta e escutou um “pode entrar” baixinho vindo de lá. A mão ainda trêmula abriu a porta, colocando apenas a cabeça para dentro do quarto.
estava com o que parecia ser um livro e uma caneta nas mãos, ainda com os olhos fixos no objeto em seu colo, mas estranhou quando as batidas sumiram. Então, ela levantou a cabeça para procurar seja lá quem fosse, até ver quem estava parado ali perto da porta. Sua boca abriu e fechou, sem saber exatamente o que falar. Mas ela logo sorriu, fazendo um gesto com a mão para que ele pudesse se aproximar.
O coração de parecia que ia explodir a qualquer momento. Ele fechou a porta e foi tirando a mochila conforme caminhava para perto dela, e a deixou no chão quando parou ao lado de sua cama. Ele se sentou devagar, de frente para sua amada, e segurou sua mão, que já estava sem o acesso intravenoso, com delicadeza. Baixou os olhos por alguns segundos quando sentiu a visão voltar a queimar, até que uma lágrima acabou caindo na palma dela, e os dois riram baixinho.
se arrepiou por completo quando sentiu os dedos quentes dela tocarem seu rosto, limpando algumas lágrimas teimosas de sua bochecha. A garota encarou os olhos brilhantes dele. O homem passou um braço por sua cintura, enquanto o outro permaneceu em sua nuca, com o rosto afundado no pescoço que ainda exalava o perfume leve que ele tanto amava. Ele se desmanchou ali mesmo.
retribuía aquele abraço tão forte quanto ele, chegando a suspirar pelo aperto intenso nas costelas. Só então ele afrouxou seu aperto, mas não o soltou. Ela também sentia as lágrimas rolarem por sua pele, assim como rolavam dos próprios olhos, molhando a camiseta branca dele. Naquele momento, tentou limpar os pensamentos e ignorar a dor no peito por ele não ter ido visitá-la antes, mas, de certa forma, também estava feliz, aliviada por ele finalmente ter ido ao seu encontro. Porém, toda mágoa, angústia e dor ainda estavam ali, completamente presentes dentro dela. Com isso, ela respirou profundamente, finalmente tomando coragem para se soltar daquele corpo que tanto amava, e sentiu os lábios quentes de em sua bochecha, num beijo casto.
Dentro do peito dele estava uma completa confusão, porém a culpa voltou a pesar novamente. Foi impossível aquele sentimento não voltar. Antes que ela pudesse falar qualquer coisa, voltou a pegar a mochila e tirou de lá um envelope assinado para ela, deixando-o em cima da mesinha ao lado de sua maca. Então, voltou a segurar sua mão – ele ainda precisava de todo o contato possível com ela.
— Nosso futuro pode ser incerto — ele começou; a voz grave ecoando rouca a arrepiou completamente, e ela sorriu fraco. Provavelmente, ele também já sabia. — Mas eu te escrevi uma música. Na verdade, até mais do que uma... — sorriu de lado, olhando rapidamente para o envelope mais uma vez. — Tinha muito pra falar. E você sabe que, às vezes, sou melhor passando pro papel do que dizendo tudo de uma vez.
— Um dos defeitos que você tem... — ela brincou em tom leve, apertando sua mão. — Esses dias aqui me fizeram repensar muita coisa, . Inclusive sobre nós.
Ele a olhou com uma expressão triste e em dúvida. apenas assentiu, sentindo os olhos voltarem a embaçar sua visão. repetiu o mesmo que ela havia feito, limpando as lágrimas que rolavam soltas.
— Eu te amo, garoto-problema. Muito. E acho que isso tá fazendo mal demais pra mim. Pra nós! Eu amo ficar junto com você, mas viver daquela forma inconsequente foi um claro aviso para pararmos e respirarmos fundo, ver o que tá dando errado — ela mordeu a boca e acabou deitando a cabeça em sua mão, beijando levemente a palma dele. — É melhor seguirmos nossos caminhos e nossas carreiras separados agora.
sentiu o peito apertar, soltando todo o ar que estava preso, e ele nem sentiu. Era como sempre diziam: a vida estava boa demais para que nada de ruim acontecesse. Primeiro o acidente dela, que poderia ter sido fatal e a arrancado completamente de seus braços, e, agora, ela mesma estava se desfazendo dele. Prometer uma mudança era algo complicado. ainda estava machucada demais, principalmente internamente. Ele também nunca foi o melhor exemplo de comportamento, e ver abusar tanto de si mesma com as drogas sempre doía fundo nele, pois sabia que parte da influência vinha dele também. Realmente, eles não tinham outra saída além de estarem fadados ao fracasso.
a puxou carinhosamente pela nuca, colou os lábios na testa dela e assentiu devagar. Ele começou a se levantar da cama, mas ela o impediu, fazendo com que ele se sentasse de novo. O homem a encarou, confuso.
— Não quer dizer que você não possa ficar aqui comigo, otário! — riu e deu um leve tapa em seu braço. — Não me faça jogar alguns fatos na sua cara, meu bem — ela cerrou os olhos, e ele fingiu uma indignação.
— Podemos te dar alta, você já voltou à sua ousadia normal — tirou os tênis e se aconchegou um pouco mais ao lado dela, sentindo falta daqueles momentos simples com a garota.
— Você já comeu?
— Já... Mas se você tiver algum doce aí, eu também aceito — sorriu, quase travessa, e assentiu, puxando a mochila para tirar um saquinho e M&M’s de lá.
Ela comemorou e deu um beijo rápido em sua bochecha, dividindo o pacote com ele e aproveitando para passar a manhã da forma bastante preguiçosa como eles gostavam. Os dois ainda tinham o dia inteiro e a noite juntos, com ambos ignorando o fato de que não estariam mais juntos na manhã seguinte.
O que e precisavam naquele momento era apenas da companhia um do outro.
Fim
Nota da autora: ¹ - esses trechos foram tirados da música 'Habits', do próprio Machine Gun Kelly, do álbum bloom (pessoalmente meu favorito rs). A história dos dois foi baseada nessa música e espero trazer mais deles em breve para vocês! Ainda tem mais, rs. Quero agradecer as meninas que organizaram esse tape e foram infinitamente MARAVILHOSAS e mega compreensivas, vocês são tudo, de verdade HAHAH obrigada por tudo meninas, dedico essa fic pra voces, espero que gostem! <3
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