Capítulo único
“But I don't want anything but more time, no matter what we do…
there's never gonna be an ordinary thing, no ordinary things with you.”
Aos 35 anos, null era uma mulher realizada. Seu café era um sucesso, sua vida estava em equilíbrio, e null não passava de uma lembrança distante. Ela havia tido namoros aqui e ali, mas nunca quis levar adiante com nenhum deles.
Mas, como o destino adorava pregar peças, lá estava ele novamente, parado na porta do seu café, olhando-a como se o tempo nunca tivesse passado para os dois. null sentiu o coração afundar no peito, mas logo se acalmou. Fez um gesto com a cabeça, indicando para ele entrar, e ele assim o fez.
— null — ele disse, a voz hesitante. — Eu...a gente pode conversar? É importante.
Ela o encarou, o rosto duro, mas o olhar carregado de curiosidade. Algo no seu rosto estava o perturbando e a fez sentir que ele não estava ali apenas para uma conversa trivial. null hesitou por um momento, mas então se aproximou. O silêncio entre os dois era quase palpável.
— Eu sei que você não quer me ouvir, mas preciso desabafar com alguém…— ele começou, desviando os olhos dos dela por um instante.
null o observou atentamente, mantendo-se firme, esperando que ele dissesse o que precisava.
— Meu filho não é meu filho — ele continuou, a voz levemente trêmula. — Ela mentiu para mim. Disse que era meu, mas...o Jacob é filho de outro homem. Passei cinco anos criando o filho de outra pessoa.
Ele respirou fundo antes de prosseguir:
— Foi como se o chão sumisse. Passei anos achando que estava fazendo o certo, tentando ser um pai para aquela criança. E então, de repente, tudo o que eu conhecia virou uma mentira. Mas eu não podia simplesmente ir embora, não depois de tanto tempo. Então, entrei com um pedido de guarda afetiva. No dia da conciliação, ela disse ao juiz que engravidou do pai biológico dele para me prender a ela e contou para ele que estava grávida de um filho meu apenas para provocá-lo. No fim, consegui a guarda total, porque nenhum dos dois realmente queria ficar com ele. Ela só queria nos usar e viu em Jacob uma forma de manipular ambos.
As palavras dele a atingiram como um soco no estômago. Aquilo não era o que ela esperava ouvir. A mulher com quem ele a traiu, a mesma que destruiu o que restava do relacionamento deles...havia mentido para ele?
— Fui um idiota, null — null continuou, agora olhando em seus olhos. — Eu te deixei por alguém que, no fim, só me enganou. Nunca deveria ter te perdido. Sei que não posso apagar o que fiz, mas espero que você me dê uma chance. Que possamos, sei lá, tentar de novo. Eu sei que não mereço nada de você, mas eu arriscar.
Ela não soube o que responder. Parte dela sentia uma espécie de karma no que havia acontecido —ele a traiu, fez escolhas ruins e agora pagava um preço alto. Mas outra parte enxergava o homem à sua frente de forma diferente.
— Por que está me contando isso? — perguntou, finalmente.
null sustentou seu olhar.
— Porque você foi a única coisa real que eu já tive.
Ela sentiu um frio na espinha.
— Passei anos tentando lidar com algo que nunca foi verdadeiro, mas com você...nunca precisei consertar nada. E agora, depois de tudo, percebi que a única coisa que eu queria era ter um pouco do que a gente tinha de volta.
null não respondeu de imediato. Pegou sua xícara e bebeu um gole já frio. Ela o observou, a mente girando, cheia de pensamentos conflitantes. Não sabia se podia confiar nele novamente. O que ele pedia parecia impossível, mas ela também sabia que, com o tempo, algo dentro de si havia se suavizado. Não o amava mais como antes, mas não podia negar que ainda havia algo ali.
— Eu... não sei, null — disse, após um longo silêncio. — Você me deixou por outra pessoa, me traiu, e o pior é que, enquanto estava com ela, sequer percebeu tudo o que estava destruindo ao nosso redor. Eu não sei se consigo te dar outra chance. Foram dez anos... Nós nos divorciamos aos vinte e cinco, e agora, com trinta e cinco, você quer voltar? Se realmente tivesse sentido minha falta, não teria ido embora pra começo de conversa.
— Eu sei que te machuquei, e não há desculpa para isso. Mas...a verdade é que minha vida sem você foi um vazio. Tentei seguir em frente, mas sempre faltava algo, algo que nunca encontrei com Sofia. E quando descobri as mentiras dela, tudo desmoronou. Eu só quero uma chance de tentar de novo. Sei que não posso apagar o passado, mas não quero passar o resto da minha vida imaginando como poderia ter sido se eu não tivesse te perdido.
Ela fechou os olhos por um momento, deixando o silêncio pairar entre eles. Pensou no que ele disse, no que ela realmente sentia. Sabia que, apesar do arrependimento em suas palavras, isso não poderia apagar o passado. Mas talvez, apenas talvez, fosse possível recomeçar. Não como antes, mas de um jeito novo.
E então, depois de um longo silêncio, ela disse:
— Me encontre aqui amanhã. Traga o Jacob. Vou adorar conhecê-lo.
Foi a única coisa que disse.
E, pela primeira vez em anos, null sentiu que talvez houvesse um caminho de volta. Ele concordou com um gesto de cabeça, e os dois se olharam por um momento, sem palavras, apenas sentindo que talvez, apenas talvez, o que havia sido destruído pudesse ser reconstruído.