Capítulo Único
Feeling like I'm breathing my last breath
Feeling like I'm walking my last steps
Não há uma pessoa na face da Terra que não possua um problema sequer. Pode ser do mais fútil ao mais difícil de ser resolvido.
Eu participava do grande grupo em que os problemas praticamente te engoliam. Aqueles que parecem o bicho papão e se atracam no seu pé, tentando a todo o custo te levar para o fundo do poço e acabar com a sua esperança de onde ninguém vai conseguir te salvar do sentimento de impotência que te sufoca até você morrer.
Eu acreditava que era uma pessoa fodida demais para conseguir me reerguer de todos os tombos que havia tomado.
Participava; acreditava.
Tudo passado.
Eu havia encontrado uma pessoa que me ajudou; um propósito.
Um ano antes
Andava cambaleante pelos becos escuros de alguma rua de Manhattan que não conseguia lembrar o nome tamanha era a quantidade de álcool em meu sangue. Levei a garrafa de vodka a boca, quase não sentindo o ardor da bebida do tanto que já havia ingerido. Foda-se um coma alcoólico, seria a melhor coisa que teria acontecido nessa minha vida fodida do caralho. E sim, eu falo muito palavrão. Acostume-se.
Me encostei na parede e fui me abaixando, sentindo o concreto arranhar minhas costas já que o fino tecido da camisa não protegia quase nada.
Look at all of these tears I've wept
Look at all the promises that I've kept
Mais um gole e mais uma lágrima. Estava tão porre que havia sequer percebido as gotas salgadas escorrendo por meu rosto. Passei as mãos entre os fios de meu cabelo e bati repetidamente a cabeça na parede, sentindo-a começar a doer. Eu já teria uma ressaca no outro dia mesmo.
Enxuguei as lágrimas com o dorso do braço, vendo alguns roxos e machucados proveniente daquele que se dizia meu pai, mas não passava de covarde que batia na própria mulher. Eu havia prometido que iria protege-la desde o dia em que ele deu o primeiro tapa nela, quando eu tinha treze anos. Seis anos depois ele continuava sendo o babaca que espancava a mulher e praticamente a trancava em casa. A essa hora minha mãe provavelmente estava no quarto chorando depois de ver o filho apanhar e o marido sair de casa para fazer qualquer merda que ele faça.
Resolvi que o melhor seria voltar para casa em vez de deixá-la sozinha com o fato de que a qualquer hora Carl poderia voltar e se aproveitar que eu não estou lá. Levantei, trôpego, e joguei a garrafa vazia no chão, escutando o vidro se estilhaçar. Bati na calça para tirar o pouco de sujeira que ficou e saí andando em direção ao meu não tão doce lar.
Quase meia hora depois eu abria o portão enferrujado e passava pelo pequeno jardim que precisava de cuidados urgentemente. Peguei a chave no bolso da frente e abri a porta, contemplando as evidencias de uma briga. O vaso quebrado perto da cozinha, a mesa de centro virada, a cadeira caída no chão e algumas almofadas espalhadas.
— Mãe? — chamei, não obtendo resposta — Mãe? Onde você está?
Olhei a cozinha e o quintal, resolvi ir para o segundo andar para ver se ela estava no quarto já que não era normal que ela saísse tarde da noite. Abri a porta do cômodo e a encontrei em uma posição estranha com os olhos arregalados, andei até uma poltrona um pouco distante e me sentei, tirando os sapatos.
— Fiquei até um pouco preocupado, achei que a senhora havia saído, mas isso não é costume seu. — falei e não recebi resposta. Ela não se mexia, não falava, pareci sequer respirar. Olhei para o chão e acabei por ver um pote de remédios quase que vazio caído.
Meu coração falhou uma batida e minha respiração acelerou.
Não, não e não. Ela não havia feito isso, ela não havia se matado, ela não havia me deixado sozinho aqui com esse traste.
Me levantei correndo, tropeçando nos próprios pés e me joguei ao seu lado. Segurei seu rosto e o sacudi, rezando para que ela acordasse e aquilo não passasse de uma brincadeira de mau gosto.
— Mãe! Mãe! — continuava sacudindo-a e logo lágrimas já inundavam meu rosto. Seus olhos estavam abertos e não focavam em nada — MÃE, POR FAVOR, NÃO FAZ ISSO COMIGO! — senti seu pulso e ele estava quase inexistente.
Gritei, berrei, completamente desesperado. Peguei o telefone na cabeceira da cama e liguei para o atendimento médico.
— Pelo amor de Deus, eu preciso de uma ambulância urgente.
— Calma, senhor. Qual o seu nome?
— . Agora você pode mandar uma ambulância?!
— O seu endereço, por favor.
Passei o endereço rapidamente e ao olhar para minha mãe, percebi que ela já parecia estar morta, mesmo eu tendo constatado a pouco que não. Sufoquei um grito e voltei a falar:
— Por favor, sejam rápidos, minha mãe está tendo uma overdose.
Joguei-me no chão perto da cama e segurei sua mão gelada que pendia da cama. Eu rezava para que ela ficasse bem.
Mas ela não ficou.
I put my heart into your hands
Here's my soul to keep
I let you in with all that I can
You're not hard to reach
Sentado no banco em frente ao balcão, tomando café e olhando para o nada. Era como eu estava depois de ter sido perseguido pelo dia da morte de Aria, minha mãe, enquanto dormia. Ainda sem me mexer, escutei passos cautelosos que vinham do quarto em minha direção. Levei o café quente a boca, não me importando com o ardor na língua.
— ? — senti mãos delicadas e pequenas me abraçarem por trás, entrelaçando-se em frente ao meu abdômen. Tirei a mão de cima do balcão e alisei o braço de .
Bebi o resto do liquido e me virei, não desfazendo o abraço reconfortante de minha namorada.
— Aconteceu alguma coisa? — o rosto que eu tanto amava ver de manhã exalava preocupação.
— É hoje — sussurrei sabendo que escutaria e abaixei a cabeça.
Suas mãos envolveram meu rosto o levantando. Sua expressão mostrava certa confusão, mas quando seus olhos fitaram os meus, sua face foi preenchida por entendimento.
— Como você está se sentindo em relação a isso? — era estudante de Psicologia e como tal acreditava que uma boa conversa sempre era essencial, foi por causa de seu curso que nós nos conhecemos.
— Triste, abalado, nostálgico, dilacerado e alguns outros sentimentos não muito bons.
— Você vai visita-la hoje, não vai? — concordei enquanto brincava com uma mecha de seu cabelo — Quer que eu vá com você?
— Se eu não for te atrapalhar. — dei de ombros.
— Você sabe que não me atrapalha — beijou-me rapidamente — Estou morrendo de fome, você fez algo?
— Só esse café intragável que eu me obriguei a tomar.
— Já cogitou a ideia de fazer um curso de culinária? — deu-me as costas indo para detrás do balcão. Sua vestimenta era uma blusa grande de banda minha.
— Só se você for a professora — sorri, deixando um pouco de lado a melancolia do dia — Já disse o quanto você usando as minhas blusas é extremamente sexy?
— Praticamente todos os dias nesses sete meses em que estamos juntos.
— Então eu vou falar de novo: você fica extremamente sexy com essa blusa.
riu, mexendo em alguns ovos na frigideira. Me levantei e postei-me atrás de , era consideravelmente mais alto e por conta disso deixei meu queixo apoiado no topo de sua cabeça enquanto dedilhava sua barriga com os dedos.
Nós não nos conhecemos na melhor parte da minha vida, longe disso, já que eu estava quase entrando em uma depressão e apareceu para me salvar. Ela sempre me salvava, não importava como.
Onze meses atrás
And you bless me with the best gift
That I've ever known
Depois que Carl descobriu que minha mãe havia morrido ele meio que enlouqueceu, pegou todas as suas coisas e foi embora, me deixando sozinho naquela casa que de boas lembranças nada possuía. O pouco dinheiro que eu tinha na poupança aquela época não seria o suficiente para continuar bancando a faculdade de Administração – porque sim, eu não era um completo zero à esquerda – e a casa ao mesmo tempo.
Resolvi então que venderia a residência, guardaria o dinheiro e me mudaria para o dormitório do campus. E essa foi a minha vida no último mês que se passou desde a morte de Aria. Continuava indo para as aulas, mas me mantinha sempre sozinho, além disso não conseguia mais comer tanto quanto antes pois não tinha apetite, dormia pouco, tinha insônia, ficava cada vez mais cansado, não conseguia prestar tanta atenção na aula e me irritava muito fácil.
Não era segredo para quase ninguém do campus as desgraças que aconteceram em minha vida, já estava acostumado a passar pelos corredores e escutar alguns sussurros de pena direcionadas a mim. Minha professora de Metodologia Cientifica, senhora Romeno, já havia tentando conversar várias vezes comigo sobre isso e como era um fardo pesado demais para que eu carregasse sozinho, já tinha me aberto em relação a esse assunto com a senhora robusta.
Escutei o sino que indicava que a aula de Skyllar Romeno chegara ao fim e eu só conseguia pensar em me jogar na cama e ficar fazendo absolutamente nada, como em todos esses dias. Me levantei, pondo minha mochila nos ombros quando ouvi uma voz ressoar pela sala quase vazia.
— , poderia esperar um pouquinho? — concordei com a cabeça, mantendo-me encostado ao lado de uma cadeira em sua frente — Sei que não sou a maior especialista nisso, mas notei algumas coisas diferentes em você.
— Hum — resmunguei sem nem lhe dar um pingo de atenção, brincar com meus dedos era mais interessante.
— Pode, por favor, prestar atenção em mim? — seu tom tornou-se repreendedor e eu instintivamente levantei meu olhar.
— Posso — era uma meia verdade.
— Como eu estava dizendo — ajeitou a armação dos óculos — Você está muito estranho, , e isso não é só nas minhas aulas. Venho percebendo um comportamento diferenciado em você e acho que sei como te ajudar.
— Ninguém pode me ajudar — mostrei a fatídica verdade.
— É claro que pode — suspirou — Acho que você pode estar com depressão, . Em nossa última conversa a algum tempo você me falou como estava e eu já consegui perceber coisas erradas desde ali — pegou minhas mãos enquanto olhava diretamente em meus olhos — Sei como deve estar sendo difícil para você, mas é tão jovem, garoto. Tem tanto a viver ainda. Sua vida não acabou, ela não pode parar. Tudo bem que para um rapaz de dezenove, quase vinte anos, você já passou por coisa demais, porém essa é a vida, feita de altos e baixos e não é porque agora você está em um mau momento que tem que jogar a toalha e simplesmente desistir da vida.
— Eu não sei o que fazer, parece que depois que minha mãe morreu eu fui jogado no fundo de um poço e está tão difícil sair.— falei soando meio desesperado — Tão difícil.
—“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. ” — recitou sorrindo de modo reconfortante — Infelizmente eu não sei de quem é essa frase, mas quero que você siga esse conselho à risca.
— O que você acha que eu posso fazer?
— Alguns alunos de Psicologia dão “consultas” de graça em algumas salas aqui do campus, acho que você deveria ir a uma.
Concordei com a cabeça, lançando um baixo “obrigado” em direção a mulher sentada na mesa. Talvez não fosse de todo ruim me consultar com algum aluno de Psicologia.
You give me purpose
Yeah, you've given me purpose
Andei por aqueles corredores tão diferentes para mim, um aluno de Admistração na ala de Psicologia, como já era costume alguns olhares foram lançados, mas eles demonstravam confusão e não pena.
Avistei enquanto andava alguns avisos colados na parede referente ao que senhora Romeno havia me dito. Peguei as coordenadas e acabei parando em frente a uma sala quase no fim do corredor. Dei leves batidas e escutei um “entre” eabri logo em seguida a porta.
Fui recebido por um par de olhos castanhos brilhantes e um acalorado sorriso. A garota já não me parecia grande e com certeza ficava ainda menor naquela cadeira um pouco exagerada para o tamanho dela.
— Olá — se levantou e veio em minha direção, oferecendo sua mão que eu prontamente apertei. Depressivo sim, mas educado acima de tudo.
— Oi. — respondi
— Veio para se consultar? — perguntou, com aqueles grandes olhos direcionados a mim, desconcertando-me levemente.
— Er... sim, eu vim me consultar. — passei a mão pelos cabelos tentando parecer menos embaraçado.
— Então pode sentar-se ali — apontou para um divã marrom em frente a cadeira que estava sentada.
A garota que eu ainda não sabia o nome dirigiu-se para uma mesinha, pegando um bloco e uma caneta.
— É você que vai me atender? — perguntei mesmo que isso já estivesse na cara.
— Eu mesma — sorriu, indo sentar-se na cadeira — , aliás. Vai me dizer seu nome ou prefere manter anonimato?
— — respondi ajeitando-me no divã. Era bastante macio até.
concordou e rapidamente anotou algo no bloco que segurava.
— O que o traz até aqui?
— As pernas? — tentei descontrair e recebi um leve riso em resposta.
— Ora essa, temos um engraçadinho aqui. — respondeu cerrando os olhos de modo teatral — Mas então reformulando, que motivos o trazem até aqui?
— Você tem bastante tempo? A história é grande.
— Todo o do mundo.
Respirei fundo e simplesmente despejei tudo em cima de . Desde os meus treze anos quando Carl começou a bater em minha mãe até a forma como eu vinha vivendo esses dois meses que se passaram desde sua morte. escutava tudo, fazendo algumas perguntas de tempo em tempo e anotando.
— Cansei de escrever — deixou o bloco de lado — Nossa, você ficou uns quarenta e cinco minutos falando.
— Eu disse que era muita coisa — falei. Sabia que havia tomado seu tempo com algo desnecessário para ela. Talvez não tenha sido uma ideia tão boa.
— Eu não me importo com o tempo, você não tem ideia do quanto eu gosto de fazer isso — deu uma leve risada — E você? Do que gosta de fazer?
— Hum — estranhei a pergunta — Você não deveria falar algo para fazer eu me sentir melhor?
—“Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente” — falou como se explicasse tudo — Willian Shakespeare.
— O que isso tem a ver?
— Você tem uma dor muito grande aí dentro, , e no momento você precisa senti-la. Acredito que qualquer frase tipo “não se preocupe, com o tempo tudo isso vai passar” soaria muito falso e não é algo que eu goste. Tudo o que você passou vai ser necessário para te fazer crescer como pessoa, mas você não pode deixar que seus demônios te consumam.
— Eu sou meu próprio demônio. — dei um sorriso amargurado.
— Não — balançou a cabeça em negativa, me repreendendo — Você não é seu próprio demônio. Você só acha isso. — suspirou — Eu quero deixar esse tópico para uma próxima consulta. Agora, o que você gosta?
— Como você sabe que eu vou voltar? — desafiei
— Eu simplesmente sei. — respondeu — Será que dá para parar de fugir da pergunta e me responder o que você gosta?
— Beber — respondi, simples.
— O quê?
— Beber, eu gosto de beber, tomar um porre e esses outros sinônimos.
— Por que você gosta tanto de se sabotar? — perguntou, analisando-me
— Me sabotar? Eu não faço isso.
— Faz isso, sim — trouxe a cadeira para mais perto do divã — Você deve ter visto que eu fiz várias anotações e a maioria delas e em como você quer passar a imagem de uma pessoa má. Para que isso?Acha que sendo uma “pessoa má” — fez aspas com os dedos — isso te tornaria uma pessoa merecedora de todo o sofrimento pelo qual você passou?
— Achei que esse tópico ficaria para uma outra consulta.
— Me responda —foi incisiva — Desde que você passou por aquela porta com essa jaqueta de couro e esse cigarro no bolso, e sim, eu sei que você tem um cigarro no bolso — se interrompeu ao ver meu olhar — eu soube que você era aquele tipo de cara atormentado que quer passar a imagem de forte como estereótipo de bad boy. Mas não pense que eu estou te julgando, não tenho moral nenhuma para julgar ninguém.
— Você é bem observadora — falei sentando-me, ficando assim mais perto de .
— E você fuma — afirmou — Ou é só uma metáfora?
— Metáfora? — perguntei confuso e revirou os olhos.
— Ter algo perto de você que pode te matar, mas não dar a ele realmente a chance de fazê-lo.
— Eu tinha Carl perto de mim, mas ele não teve o tempo para me matar — respondi — E eu fumo mesmo, não é uma metáfora.
— Carl era realmente o seu pai ou era um padrasto?
— Pai — respondi — Por quea pergunta?
— Porque você sempre o chama pelo nome então achei que ele pudesse não ser seu pai
— Carl nunca foi um pai de verdade, — olhei em seus olhos — A única coisa que ele fez foi jorrar a porra dele para dentro da minha mãe, que aliás não merecia um marido daquele.
— Você é uma pessoa de palavras fortes, — retribuiu o olhar — Ou eu deveria dizer uma pessoa de palavras de baixo calão?
Dei um riso leve e respondi:
— Acho que a segunda opção combina mais.
— Então nós finalmente entramos em um consenso — respondeu — Foi muito bom conversar com você, , mas eu tenho alguns outros compromissos agora — se levantou e eu fiz o mesmo.
— Então tchau. — estava prestes a abrir a porta quando respondeu:
— Espero você na próxima consulta — respondeu com a certeza de que eu iria voltar.
E eu voltei.
Sending out a farewell to my friends, for inner peace
Saí do banheiro enrolado na toalha e vesti a roupa que tinha deixado na cama após ir para o seu estágio. Essas atitudes de faziam ela parecer mais minha mãe do que minha namorada.
Mãe.
Andei até meu guarda-roupa, abri a porta do compartimento mais alto e retirei uma caixa de sapato de lá. Direcionei-me para a cama e sentei na ponta, peguei todas as fotos de dentro da caixa e fui vendo uma a uma.
Na foto em que eu segurava podia ver uma criança feliz e desdentada em frente à escola com sua mãe para o primeiro dia de aula. Na segunda foto, a criança estava um pouco maior e sorria em frente ao seu bolo de aniversário de dez anos. Em todas elas o pequeno estava feliz e com certeza não imaginava o quão fodida sua vida seria em um espaço de tempo não tão grande.
Peguei uma foto do dia de meu nascimento. Aria sorria e olhava para o pequeno pacote em suas mãos com todo o amor do mundo. Eu tive um péssimo pai, mas com certeza tive a melhor mãe que alguém poderia querer. Sem qualquer permissão, meus olhos começaram a encher com lágrimas, porém, levantei minha cabeça sem deixar que nenhuma delas escapasse.
— Quando você foi embora eu achei que a minha jornada também já tivesse chegado ao fim. Não fazia sentido continuar aqui sem você — acariciei a foto — Eu até já me despedia de algumas pessoas, elas perguntavam se eu iria viajar e minha vontade era de dizer que sim, que eu iria para o mesmo lugar que você, mãe. Que eu iria para a minha paz interior — dei uma risada amarga — Acho que eu também meio que enlouqueci nessa época.
Ask you to forgive me for my sins
Oh would you please?
I'm more than grateful for the time we spent
My spirit's at ease
Lembrei de quando eu tinha entre 15 e16 anos. Foi um dos piores anos tanto para mim quanto para minha mãe. Eu chegava bêbado em casa e às vezes até meio chapado. As bebidas e a maconha, na minha cabeça, eram uma das melhores maneiras de esquecer da minha vida. Porém, o arrependimento era imediato quando eu chegava em casa e via minha mãe chorando por minha situação. Aria não me batia, não brigava comigo e não reclamava, a única coisa que fazia era me abraçar e pedir para que eu não me tornasse alguém como Carl. Eu larguei as drogas, mas não a bebida.
— Eu fui um péssimo filho ao passo que você era uma ótima mãe — peguei outra foto em que estávamos nós dois — Eu cometi muito pecados. Seria você capaz de me perdoar? — deixei um soluço escapar — Você, por favor, seria capaz de me perdoar, mãe?
Caí para traz na cama, jogando meus braços em cima do rosto com as várias fotos espalhadas ao redor.
— Eu sou extremamente grato por ter você como mãe e pelo tempo em que passamos juntos — suspirei — E eu sei que de alguma forma ou de outra foi você que pôs a no meu caminho — abri os olhos e virei-me, ajeitando as fotos — Obrigado.
Nove meses atrás
I put my heart into your hands
Learn the lessons you teach
No matter when, wherever I am
You're not hard to reach
E mais uma vez eu estava parado em frente a última sala do corredor de Psicologia. Eu ia me consultar com praticamente todos os dias nesses quase três meses, mas na minha cabeça não era mais uma consulta, era só uma forma de ficar perto daquela criatura insistente que aos poucos foi ocupando um espaço significativo em meu coração. Coração esse que eu pus em suas mãos.
Abri a porta e encontrei – como ela havia pedido para que eu a chamasse – sentada no chão, suas pernas estavam entrelaçadas em frente ao seu corpo e seu cabelo estava amarrado em um coque. Ela parecia muito menor do que já era. Olhei ao redor e não vi a cadeira nem o divã em que costumávamos ficar.
— Se atrasou um pouco hoje, — pronunciou — Estava começando a achar que você não vinha mais.
— Tive alguns trabalhos para fazer — continuei em pé — Por quê? Sentiu saudades, aposto.
— Então pode me pagar porque você está errado — sorriu enquanto rabiscava em seu costumeiro bloco — Vai continuar parado aí como uma estátua?
— Estou tentando entender o que você fez com os móveis.
— Não fiz nada, só resolvi que a consulta de hoje seria diferente.
— Diferente como? — tirei a jaqueta e joguei no chão, sentando em frente a
— Você não acha que somos pragmáticos demais? — perguntou fechando o bloco.
— Na verdade, não — fui sincero — Eu já nem considero mais consultas.
— E o que você considera que seja?
— Não sei, mas não vejo mais como consultas — olhei em seus olhos — Eu gosto de estar aqui, com você.
— Eu também gosto, — chegou mais perto — Eu tenho uma coisa muito... — mais perto — ... importante para te falar.
— O quê? — quem se aproximou fui eu, instintivamente, deixei meu olhar cair em seus lábios.
— Você está aprendendo as lições que eu te ensinei, ? — voltou para seu lugar como se nada tivesse acontecido.
Balancei a cabeça, incrédulo, tentando entender onde quis chegar com isso.
— Sim, eu estou aprendendo as lições que você ensina.
— Então vamos ver — pegou seu bloco novamente e sorriu — Você vem mudando sua maneira de enxergar a vida? — concordei com um aceno — E o que você fez para isso?
— Eu voltei a tocar piano como a tempos eu não fazia e percebi que tenho potencial para isso. Então eu meio que parei de me ver como um zero à esquerda.
— Você anda exercitando a sua mente? — voltou a rabiscar
— Eu estou escrevendo uma música. Creio que isso é exercitar a mente — levantou a cabeça subitamente interessada.
— Eu vou querer escutar. — dei de ombros — Você está fazendo exercícios físicos?
— Ah, então você percebeu que eu estou mais forte? — tencionei os braços.
— Essa era uma das lições, idiota — deu uma risada.
— Eu estou fazendo musculação, doutora. — deu um rápido sorriso malicioso, mas parou quando viu que eu a olhava.
— Está se alimentando corretamente? — por que ela não parava de rabiscar e olhava para mim?
— Sim, o meu apetite já voltou e eu estou comendo como antes.
Aproveitei que estava distraída com a próxima pergunta que iria fazer e peguei o bloco de suas mãos.
— Ei! — protestou — Me devolva isso agora, !
— E se eu não quiser, ? — seu rosto foi assumindo uma tonalidade vermelha.
— Você vai se ver comigo! — bufou.
— Eu não acredito na ameaça de uma pessoa menor do que eu.
Comecei a folhear o bloco com uma mão enquanto afastava com a outra. Pelo visto o bloco não tinha nada comprometedor. Algumas anotações com o meu nome em cima, outras não. Algumas perguntas que não me dignei a ler.
— Não sei porque você está tão raivosa, não tem nada de mais aqui — falei chegando nas folhas finais do bloco.
— Eu acho bom você parar por aí, — avisou .
Mas eu não parei. E me surpreendi com o que havia no final do bloco.
— Então é por isso que você não queria que eu pegasse o seu bloco? — falei mostrando um desenho meu que aparentemente havia feito.
— Não era para você ter visto. — reclamou, frustrada.
— E por que não? — perguntei — Eu estou mais lindo que o normal.
— Você não achou estranho eu ficar te desenhando? — perguntou franzindo o cenho
— Não, aliás, você desenha muito bem — me aproximei e devolvi seu bloco — Se eu soubesse desenhar como você, com certeza também teria alguns desenhos seus pelo meu caderno.
Sorri sugestivo
abriu e fechou a boca, sem saber o que dizer, mas a forma como me olhava já dizia muita coisa.
— Qual era última lição mesmo, doutora? — perguntei, já sabendo o que iria fazer.
— Você está expondo os seus sentimentos para as pessoas?
— Acho que essa era a única lição que eu não estava cumprindo tão bem assim. — me aproximei de que segurava seu bloco como se a sua vida dependesse disso.
— Não? — parecia levemente – ou diria muito? – atordoada, o que me fez soltar uma leve risada.
— Tem uma pessoa para quem eu não expus os meus sentimentos. — segurei uma mecha de seu cabelo.
— Quem? — perguntou olhando para seu cabelo em minha mão.
— Para você — conectei nossos olhares — Eu não expus que eu gosto de você.
Então eu a beijei.
And you bless me with the best gift
That I've ever known
You give me purpose
Yeah, you've given me purpose
Oito meses atrás
— Eu espero que você vá assim. Se eu for esperar você se arrumar nós não saímos hoje. — disse, encostado na parede
— Para de ser chato, . — falou enquanto arrumava a bolsa em frente à sua sala — E para a sua sorte eu já vim arrumada o suficiente para sairmos.
— Eu reparei que você veio arrumada demais mesmo para a aula — abri um sorriso enquanto olhava de cima abaixo — Aliás, acho que não foi só eu. — pronunciei, indicando com a cabeça um rapaz perto de nós que quase babava em .
— Hum, esse é o Carter — disse, desconcertada — Digamos que ele seja apaixonado por mim desde que a gente namorou há um tempo.
— Sua sorte é que eu não sou uma pessoa ciumenta. — pisquei um dos olhos, cruzando os braços.
— Não é? — neguei — Bom, mas eu sou um pouco então vamos sair daqui antes que essas garotas te comam com os olhos. — pegou minha mão, puxando-me para perto de si.
— O que eu posso fazer que tenho esse corpo e rosto desejável?
— Ficar calado é uma boa opção, não acha? — segurei mais forte a mão de para não perdê-la no aglomerado de alunos.
Quando finalmente saímos da faculdade eu me pronunciei:
— Em minha opinião um beijo tem melhor eficácia para esta situação. — falei formalmente
concordou silenciosamente e puxou-me pela barra da jaqueta de couro, colando nossos corpos e subindo suas mãos por todo o meu tórax até chegar ao pescoço, que ela enlaçou com seus braços e fez um leve carinho com suas unhas grandes pela minha nuca, arrepiando-me. Passei meus braços por sua cintura e a levantei um pouco, juntado nossas bocas no beijo que eu havia ansiado desde que cheguei a faculdade.
Finalizei o beijo após um tempo dando uma leve mordida no lábio de , mas não parei por aí. Direcionei minha boca para seu pescoço, sentindo seu doce cheiro e vendo os pelos de se arrepiarem. Sorri com o que conseguia provocar e comecei a distribuir beijos seguidos de chupões pela pele alva. Soprei delicadamente a saliva que ficou no pescoço de e senti ela se contrair em meus braços.
— . — repreendeu-me — Aqui não.
— Ora essa, mão fiz nada — sorri cínico, me afastando — Agora vamos logo.
— Você não me disse ainda para onde vamos, não sei se estou muito ou pouco arrumada.
— Você está perfeita — elogiei, dando um capacete para a garota.
revirou os olhos.
— Eu te elogiando e você aí com essa cara de nada — coloquei o acessório na cabeça e subi na moto — Nós vamos no parque que chegou a cidade e suba logo antes que eu desista.
Vi sorri abertamente e colocar o capacete. Seus dedos dedilharam meu abdômen assim que subiu na moto.
— Parece que alguém aqui ficou animada.
— Você não sabe a quanto tempo que eu não vou a um parque de diversões. Tem anos já.
Liguei a moto e manobrei, saindo do campus. Eu conhecia a uns quatro meses e já ia fazer quase dois em que nós estávamos juntos. Era inegável que entre as duas partes já havia um mínimo sentimento quando nos beijamos pela primeira vez. A um certo tempo eu não negava o que sentia por e por mais que as pessoas dissessem que era cedo demais para pedi-la em namoro eu não ligava pois estava pouco me fodendo para a opinião dos outros, principalmente se for sobre a minha vida.
Mais ou menos uns dez minutos depois nós chegávamos ao parque. estava quase pulando de tanta alegria quando desceu da minha moto recém comprada.
— Você tem quantos anos? Dez? — debochei.
— Você sabe muito bem que não. — olhou-me maliciosa.
— Não me olhe assim. — rebati.
— Por que não? — fingiu inocência, piscando rapidamente os olhos.
— Porque você sabe muito bem o que acontece depois.
— Okay. — suspirou fechando os olhos, provavelmente se lembrando de certas coisas — Vamos parar de sermos safados e vamos permitir que o espirito infantil desse parque nos penetre.
— Nada vai me penetrar, não. Mas talvez outra coisa sem ser o espirito infantil te penetre mais tarde. — sorri malicioso.
— ! — repreendeu rindo. Segurou uma de minhas mãos e continuou: — Temos muito o que fazer aqui, vamos!
Oh, you are my everything
Oh, you are my everything
— Ah, , não foi para tanto assim. — resmungou enquanto eu continuava com a cabeça encostada na parede.
— Eu te falo que tenho medo de altura e você me leva justo para uma montanha-russa. — falei e dei um gole na garrafa d’agua que comprei.
— Eu achei que fosse brincadeira! — defendeu-se — Você disse que por último nós tínhamos que ir na roda gigante então eu achei que fosse graça sua.
— Mas na roda gigante era necessário nos irmos, na montanha russa, não.
— E porque é necessário?
— Você vai saber agora. — peguei sua mão, já recuperado e nos dirigi para a fila do brinquedo.
— , talvez seja melhor nós não irmos.
— Ah, vamos sim — retruquei, pondo-a em minha frente e a abraçando por atrás — Tenho uma coisa importante para te falar lá e quem melhor do que você para me ajudar a superar mais esse medo?
não disse nada, somente levantou seu rosto e beijou meu queixo já que era consideravelmente menor do que eu.
Entreguei os ingressos para o senhor e ajudei a subir na cabine, entrando logo em seguida. Senti a roda se mexer e em consequência meu coração acelerou e a palma das minhas mãos parecia suada, não sabia se era por ou pelo medo de altura.
— Agora você já pode falar porque era necessário vir aqui. — falou parecendo ansiosa.
— Negativo. Só quando for a nossa vez de chegar no topo.
— Se você não tiver um ataque até lá... — resmungou.
— O que você disse?
— Que vai ser ótimos chegarmos lá. — sorriu tentando segurar o riso.
— Ah, sim. — concordei, entrando na brincadeira.
levantou meus braços e se pôs entre eles, ficamos assim enquanto observávamos a beleza do lugar e a roda gigante subia periodicamente.
— Só tem medo de altura quem não tem força para chegar lá em cima. — falou , do nada — E caso pergunte de quem é a frase, eu vi um dia desses em um Tumblr de fotos. — riu — E eu só disse isso porque não há motivos para ter medo de altura, você é forte.
E cada vez mais eu tinha a certeza de que estava apaixonado.
Quando a roda parou no topo eu soube que o momento havia chegado. Levantei-me e deixei sentada sem entender nada. Assim que me abaixei vi seu rosto ser tomado por surpresa.
— Isso pode parecer um tanto quanto clichê, mas eu nunca fui um cara de ideias muito boas. — ri levemente — Acho que uma das minhas melhores ideias foi ter aceitado o conselho da minha professora e ir atrás de um aluno de Psicologia, e olha só, esse aluno era você, .
I don't know if this is wrong
Because someone else is telling me that it's wrong
But I feel this so let me just like
— . — falou , com a voz falha.
— Me deixa terminar, okay? — pronunciei-me — Aí você fala o que quiser. — respirei fundo — Eu não admitia, mas acho que me senti atraído por você desde a primeira vez, sabe? Esse seu sorriso capaz de iluminar a mais profunda escuridão em que eu me encontrava, teu corpo todo pequeno desse jeito, eu juro que algumas vezes eu achei que ia quebrar ele na hora daquilo que você sabe bem.
“ Eu poderia até ter investido em nós dois antes, mas eu não sabia se era errado, porque algo na minha cabeça teimava em dizer que eu não podia te envolver na merda que era a minha vida. Só que eu ainda sinto isso, então deixe-me tentar o meu melhor porque eu não quero ser um erro na sua vida, muito diferente disso, eu quero ser o seu melhor acerto. ”
We weren't necessarily put in the best position
To make the best decisions
— Eu nunca precisei me pôr na posição de bom moço porque você sempre viu algo bom em mim, , em todos os sentimentos ruins que possuíam meu corpo, você viu uma salvação. Você foi a minha salvação. — respirei fundo, pronto para a cartada final. Peguei a mochila de minha costa e a abri, tirando uma caixa felpuda de lá — , você aceita namorar comigo? Mesmo eu sendo assim, todo errado, cheio de problemas, você aceita ser o propósito da minha vida?
olhou para mim, seus olhos estavam cheios de lágrimas e uma de suas mãos estava sobre a boca, tapando alguns soluços. Aquilo era um bom sinal?
— Mas olha... — engoli em seco — você não é obrigada a aceitar então — fui interrompido pelos lábios de selando rapidamente os meus enquanto se jogava em cima de mim, fazendo com que nós dois caíssemos um pouco para trás na cabine.
— Eu seria muito louca de não aceitar. — acariciou meu rosto e sorriu e eu prontamente retribui.
— Já que é assim — ajeitei-me e peguei a caixa que havia deixado cair. Levantei e a pus sentada vendo em seguida a roda voltar a se movimentar. Abri o fecho e levantei a tampa, deixando a mostra dois cordões de Yin Yang que se completavam.
— Que lindo, — exclamou .
— Bom, logicamente você vai ficar com a parte branca, o Yang, por mais que na filosofia chinesa represente a masculinidade e blá-blá-blá — peguei um dos cordões e fiquei atrás de , puxei seu cabelo para o lado e dei um singelo beijo antes de colocar o cordão nela — Aqui, para nós, significa que você sendo tão boa aceitou esse pedacinho de maldade que sou eu— expliquei e me virei para colocar o outro cordão em mim — O cordão preto vai ficar comigo, que tive a sorte de ter você na minha vida não para colorir meu mundo preto e branco, mas sim para me ajudar a construir um novo muito melhor. Eu sei que muitas das coisas que tenho, não mereço nem um terço, mas por favor , se o que nós temos não durar, se um dia você acordar e perceber que eu não valho a pena, só peço que me diga pelo menos que tentou, que diga que não fomos em vão, que eu não fui um erro seu, que eu te fiz feliz, porque eu vou me empenhar por todo o tempo que nós durarmos para ser a melhor pessoa da sua vida.
You can't be hard on yourself
For these were the cards that you were given
So you have to understand that these, like
That's not who you are
You know you’re trying to be the best you can be
— Se você quiser mesmo que nosso relacionamento dure, vai ter de parar de ser tão duro assim consigo mesmo. Você só acha que é uma pessoa ruim, mas eu posso dizer com convicção de palavras que não, eu te conheço a pouco tempo e já sei muito de você, não só da sua vida, mas da sua personalidade. — segurou meu rosto entre suas mãos e aproximou-se, seu nariz roçava no meu e era impossível não ficar inebriado.
— Essas são as cartas que lhe foram dadas, meu amor. Resta saber como jogar com elas.
— É bem clichê o que eu vou dizer agora, mas o que eu fiz para te merecer?
— Me mostrou quem você era com o passar do tempo. Aquele que apareceu no meu pseudo consultório não era quem você é agora, e você entende isso. Entende que melhorou e se esforça para melhorar ainda mais. Além de todo o amor que eu sinto por você, meu ser se enche de orgulho por saber que te ajudei a se reencontrar.
—Você me ajudou a tornar-me uma pessoa boa.
—Você sempre foi uma.
But that's all you can do
If you don't give it all you got, you're only cheating yourself
Give it all you got, but if it ends up happening
It ends up happening
— Não engane, apenas me ame. — sussurrou.
— É a única coisa que sou capaz de fazer. E você sabe o porquê?
Balançou a cabeça em negativa. Me levantei e fiz com que se levantasse junto, virei nossos corpos para a paisagem que tínhamos na roda abraçando-a por trás, pus meu rosto em seu ombro e afastei seu cabelo para o lado, deixando a vista seu pescoço e seu ouvido. Plantei um beijo na pele alva a minha frente e sussurrei:
— Porque você me deu um propósito.
That's what it's
That's what's happening with me
It's like God I'm giving it all I got
Sometimes I'm weak and I'm gonna do it
And it's like I'm not giving myself grace
I'm just like understanding, that's just how it is
FIM
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