Capítulo Único
As luzes brilham, vindas do globo preso ao teto, ofuscando o relógio de parede que já marcava quase meia-noite. Entretanto, as pessoas que dançavam como se o mundo fosse acabar não se importavam com isso. Pelo contrário, elas sequer sabiam as horas, pois conversavam e bebiam, rindo com seus colegas de classe. Ainda que estivessem espremidas naquela sala minúscula, não davam a mínima para o calor humano que tornava o ambiente insuportavelmente quente, continuando sua algazarra conduzida pelo som no último volume.
Apesar de estar bem no meio de toda aquela farra, podia sentir a temperatura aumentado em meus ombros. Era como se ela viesse de cima, me imprensando na direção do piso amarronzado, o que começava a me deixar sufocado. Eu nunca fui muito chegado a festas, mas aquele dia era uma exceção, afinal estávamos perto do fim do semestre e todos estavam comentando como aquela noite seria incrível. Por insistência de alguns colegas, resolvi comparecer e tentar aproveitar.
O que não havia dado muito certo.
Segurando um copo plástico vermelho cheio até a metade com uma cerveja que já estava quente, resolvi que deveria sair um pouco e tomar um ar. Talvez isso resolvesse aquela sensação de sufocamento e eu pudesse voltar para minha diversão. Me espremi entre as pessoas, tentando alcançar a saída que me conduziria ao jardim da casa, mas tropecei num tapete enorme que havia sido colocado no meio do cômodo para demarcar a pista de dança improvisada.
- Mas que... – murmurei irritado. - Merda!
Naquele instante, a única coisa que fiz foi xingar mentalmente o dono daquele casa por ter uma ideia tão estúpida. Ninguém colocava tapetes no meio de um lugar onde só iriam estar pessoas que se esqueceriam como se andava por conta do teor de álcool em seus corpos. Tentando ignorar meu surto interno, apenas revirei os olhos e voltei ao meu trajeto rumo ao exterior da casa.
Bem, pelo menos eu tinha planos para isso, mas o que aconteceu foi algo bem diferente. Uma garota também tropeçou na borda do tapete, soltando um gritinho assustado. Para se equilibrar, ela se agarrou à primeira coisa que via em sua frente. No caso, eu. Para terminar de completar a cena, sua mão direita esbarrou no copo que eu ainda segurava, derramando todo o líquido em minha camiseta branca.
Fiquei vários instantes tentando entender o que se passava, fitando a mancha no tecido que continuava a crescer, até que percebi que a menina ainda se segurava em meus braços.
- Ah meu Deus! – apesar do som altíssimo, pude ouvi-la berrar. – Me desculpa!
Ainda mais irritado do que antes e agora levemente enjoado por conta do cheiro forte da bebida, ergui os olhos na direção dela, pronto para usar as palavras mais baixas que conhecia. Eu não era acostumado a fazer isso, mas eu gostava bastante daquela camisa, além do mais, eu continuava sufocado. Então desabafar seria uma boa.
- Escuta aqui, bonitinha... – comecei a dizer, mas parei quando vi o seu rosto.
Tentei continuar a dizer o que queria, entretanto, nada saia. Talvez por eu estar de frente para uma das garotas mais bonitas que já vi. Ou quem sabe por seus olhos imensamente familiares. Sim, com toda certeza esse era o motivo. Apesar do campus ser enorme, eu já havia me esbarrado com aquele olhar antes e quando ela ergueu as sobrancelhas, confirmei isso.
Flashback On
Após mais uma aula entediante, eu seguia pelos corredores do campus com minha mochila nos ombros, segurando vários livros que tinha pegado na biblioteca para uma pesquisa.
Enquanto caminhava, senti meu celular vibrar no bolso da calça e suspirei, levando a mão até lá, o pegando. Revirei os olhos assim que vi mais uma mensagem sobre a festa que aconteceria daqui a uma semana na casa de David Smith. Ele era um dos mais populares e, com toda certeza, a ocasião seria memorável. Todavia, eu não era muito chegado a lugares cheios, especialmente por jovens adultos bêbados.
Suspirei, clicando no visor, já me preparando para responder a mensagem que havia recebido de uma das garotas da minha classe. Foi quando senti um impacto contra meu ombro, me fazendo derrubar todos os livros que segurava. Tive tempo apenas para segurar meu celular com firmeza, pois a força da batida me fez virar na direção da pessoa que tinha se esbarrado em mim.
- Ah meu Deus! – a garota arregalou os olhos , levando uma das mãos até a boca. – Me desculpa!
- Tudo bem. – dei de ombros. – Eu estava distraído.
Sem esperar uma resposta, suspirei e me abaixei para pegar meu material espalhado pelo chão. Para minha surpresa, a menina fez o mesmo e começou a me ajudar a ajuntar tudo. Parei por um segundo e a encarei, tentando me recordar de seu rosto, mas não obtive muito sucesso. Apesar de estar quase no fim do meu curso, não me lembrava de tê-la visto pelo campus da universidade antes, o que era bem estranho.
Quando a garota ergueu os olhos em minha direção, soltei um leve pigarro e voltei minha atenção para os livros. Ainda assim, pude ver como suas bochechas tomaram uma coloração rosada, me deixando tão constrangido quanto ela. Após mais alguns instantes, nos levantamos e ajeitei a mochila em meus ombros, voltando a encará-la.
- Aqui está. – ela disse, me estendendo os livros.
- Obrigado. – balancei a cabeça uma vez.
- Me desculpa, de verdade... – enquanto falava, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Eu não te vi e...
- Está tudo bem. – sorri de forma mínima. – É sério.
- Tá. – a menina também sorriu.
Continuamos nos encarando por alguns segundos e eu, definitivamente, não sabia o que dizer. Nunca fui bom com garotas e agora não seria diferente. Para minha sorte - ou não – o celular dela tocou e ela o retirou do bolso da calça com rapidez, fitando o visor. Após revirar os olhos, se voltou para mim.
- Preciso atender. – balançou o aparelho. – Até mais!
- Até! – respondi enquanto a via se distanciar.
A garota que eu não fazia ideia de quem seria, seguiu seu caminho enquanto falava ao celular, fazendo gestos e mais gestos que mostravam sua animação exagerada. Quanto a mim, apenas balancei a cabeça negativamente e ajeitei os livros em meus braços. Eu não tinha ideia de quem ela seria, mas isso não fazia muita diferença. Não quando havia uma pesquisa enorme para concluir antes do fim do dia.
Flashback Off
- Bonitinha, é? – de repente a menina disse, erguendo as sobrancelhas. – É bom saber.
- Quê? – franzi o cenho, sem entender.
- Bem, você que disse. – um riso abafado escapou por seus lábios vermelhos. – Mas pelo seu tom de voz, tenho certeza de que não foi um elogio.
- Eu... – completamente desorientado, tentei formular algo coerente, mas só conseguia olhar para o meio sorriso que aquela garota sustentava sem deixar de me encarar.
- Não precisa dizer nada. – ela finalmente se soltou de mim, ajeitando os cabelos. – A culpa foi minha.
- Eu estava... – tentei dizer, mas fui interrompido.
- Distraído? – seu sorriso aumentou. – Você já usou essa desculpa uma vez, caso não se lembre.
- É, eu usei sim. – dessa vez, eu ri abafado.
Sustentando nossos sorrisos, passamos a nos encarar sob o globo de luzes, que deixava a imagem de esferas coloridas em nossos rostos conforme girava. Soltei um pigarro, tentando dizer algo, mas ela foi mais rápida.
- Sabe, acho que a culpa não é minha nem sua. – ela apoiou as mãos no quadril. – E sim desse tapete idiota que fizeram questão de colocar bem no meio da sala.
- Justo. – balancei a cabeça positivamente.
- Ainda assim, eu sujei a sua roupa, foi mal mesmo. – a garota mordeu os lábios.
- Quanto a isso, não se preocupe. – dei de ombros. – Eu já estava mesmo indo pra casa.
Apesar de aquilo não ser a completa verdade, eu já estava exausto de ficar no meio de tantas pessoas, enquanto meus tímpanos perdiam sua utilidade por conta do som excessivamente alto. Antes, pensei apenas em sair e tomar um ar, mas agora queria voltar para casa e dormir o quanto pudesse.
Sem que eu tivesse percebido, tínhamos começado a caminhar e só então notei que íamos em direção à saída da casa.
- Ah, você já está indo? – ainda que a luz fosse pouca, vi quando seu sorriso murchou, mas ela logo tentou disfarçar, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- Bem... – levei os dedos até minha camisa, a puxando um pouco para a frente. - Não posso ficar aqui assim.
- Então é isso? – um riso divertido saiu de sua boca.
Dando dois passos em minha direção, ela parou em minha frente, me obrigando a parar. Então passou os dedos pelo tecido, os deslizando com delicadeza. Um pouco desconcertado, mantive os olhos em seus movimentos e apenas ergui meu rosto quando a garota disse algo mais.
- Já está secando. – sorriu e voltou a andar – E com essa luz ninguém vai perceber.
- É... – mordi os lábios e a segui, sem ter certeza do que diria. – Mas eu preciso mesmo ir.
- Não pode ficar nem por um tempinho? – ela parecia tímida em seu pedido. – Minhas amigas ainda não chegaram e não tem mais ninguém que eu conheça por aqui.
- Mas nós não nos conhecemos. – fiz uma careta.
- É, mas você é legal. – um novo sorriso surgiu.
Ficamos parados por um tempo sobre o gramado esverdeado, sentindo o vento açoitar nossos rostos suados. Enquanto o som continuava a tocar lá dentro, eu pensava se deveria ficar ou não. Me surpreendendo, a vontade de permanecer ali com aquela garota era incrivelmente maior do que a de partir.
Eu não saberia explicar o motivo, mas só de fitar os seus olhos , sentia algo estranho se remexer dentro de mim. Definitivamente, ela era divertida e já me havia feito esquecer do meu mal-estar apenas por sorrir para mim e esse era um ponto para ela.
- Bem... – fingi desinteresse. - Eu posso ficar por um tempinho.
- Ah, obrigada! – ela deu vários pulinhos animados e me segurou pelo braço direito, me puxando para baixo.
Ao entender o que ela queria, a acompanhei e nos sentamos na grama fria. Estávamos bem próximos e a garota continuava a segurar seu braço como se eu pudesse sair correndo dali a qualquer segundo. Decidi não dizer nada a respeito e olhei para cima, passando a fitar o firmamento. Naquela noite não havia muitas estrelas nem a lua, pois várias nuvens as escondiam.
- Parece que vai chover. – eu observei.
- Espero que sim, pois esse calor está insuportável. – ela completou.
Sem mais palavras, a garota se desvencilhou de mim e se deitou na grama, me arrancando um leve riso abafado. Quando a encarei, ela me lançou uma piscadela e apontou o espaço ao lado com um balanço de cabeça. Suspirando, hesitei por um momento, mas então resolvi imitá-la e me estirei ao seu lado.
Conforme me deitava, tentava me recordar da última vez que me senti tão relaxado. Com tantos trabalhos, seminários e provas e com a pressão de estar chegando ao último semestre, minha cabeça latejava pela preocupação. Talvez ficar ali um pouco me deixasse menos preocupado.
- Que alívio! – ela soltou o ar pela boca de uma só vez. - Não estava mais aguentando ficar lá dentro no meio de tanta gente suada.
- Acho que pessoas suadas estão incluídas no pacote caso você queira passar a noite numa festa. – falei de forma irônica, virando o rosto em sua direção.
- Isso é verdade. – ela riu de minha observação. – Se bem que, nos humanos, o suor é uma forma de eliminar dejetos de nitrogênio e é fundamental para regular a temperatura corporal, então é aceitável que as pessoas transpirem tanto.
- Tá... – a encarei de forma estranha. – E de onde tirou tudo isso? Do google?
- Digamos que cursar educação física não se resume só a aprender a jogar volêi. – ela debochou.
- Esse é seu curso? – falei visivelmente surpreso.
- Bem, eu tentei direito, mas percebi que não fui feita para lidar com protocolos e leis. – a garota me fitou com um sorriso de canto. – Eu preciso de liberdade, preciso de algo onde possa me divertir ao mesmo tempo em que trabalho.
- Se você gosta de exercícios, então faz sentido. – ergui as sobrancelhas.
- Quem sabe um dia eu não te chame pra que possamos correr juntos. – ela falou num tom diverto, enquanto batia seu joelho erguido no meu que estava na mesma posição. – E quanto a você, senhor estranho, mas legal? Qual a sua área?
- Nada de mais. – me remexi, voltando a fitar o céu. – Apenas passo as longas horas do meu dia tentando entender como o ser humano interage com o meio ambiente e quais são os resultados dessa relação tão conturbada.
- Geografia. – ela deduziu. – Nada mal.
Soltei um riso leve e a encarei mais uma vez. Não demorou para que a garota também fisesse o mesmo. Daquela vez, pude ver seus olhos bem de perto. Agora, sem a intervenção das luzes coloridas internas, apenas sob o luz daquela noite quente, pude notar como eles brilhavam. Eram como duas grandes estrelas em meio ao céu nublado.
- Sabe, você ainda não me disse seu nome. – ela falou num mais baixo do que o de antes sem deixar de me encarar.
- . – me apressei em dizer.
- . – ela sorriu. – É um prazer!
- Igualmente. – sorri de volta.
Continuei sorrindo e já me preparava para também perguntar qual era o seu nome. Todavia, ouvimos alguns gritios animados atrás de nós e nos distraímos. Nos sentamos no gramado no momento que três garotas bonitas se aproximaram de nós dois abanando os braços.
- Sabe quem elas são? – perguntei um pouco confuso.
- São minhas amigas. – ela respondeu, acenando de volta para as moças.
- Ah claro! - me lembrei do que ela disse mais cedo.
- , eu preciso ir. – de repente, se virou para mim.
- Tudo bem. – dei de ombros, mesmo que sua fala tivesse me desanimado.
- Obrigada por ter ficado comigo, de verdade. – a garota me lançou uma piscadela.
Em seguida, nos levantamos, limpando a sujeira de nosssas roupas. Olhei mais adiante e vi que as garotas ainda a esperavam, então decidi não segurá-la por mais tempo.
- Nos vemos por aí, então. – disse como quem não quer nada.
- Claro. – ela balançou a cabeça positivamente.
Me lançando mais um sorriso, ela me deu as costas e começou a ir na direção de suas amigas. Entretanto, parou no meio do caminho e se virou para mim de novo.
- Podemos nos encontrar quando quiser. – ela disse de forma sugestiva. – Inclusive, estarei lá dentro até umas duas da manhã.
Após aquele aviso entrelinhas, ela finalmente se foi, juntando-se as outras meninas. De braços dados e conversando bastante, adentraram a casa, sendo engolidas pela escuridão do local. Quanto a mim, continuei paralisado no mesmo lugar, fitando a porta de entrada. Internamente, havia um grande dilema: entrar ou não entrar.
Aquela era uma das garotas mais legais que já havia conhecido e eu sequer sabia seu nome. E, provavelmente, eu não teria uma chance como aquela depois. Eu não tinha nada sobre ela, não sabia nada sobre suas amigas, apenas que ela cursava educação física, mas não fazia ideia de qual seria seu semestre.
Fechei os olhos e soltei um resmungo inaudível, imaginando que teria que enfrentar aquela multidão de pessoas descontroladas novamente. Cerrei os punhos e abri as pálpebras, ponderando uma última vez.
- Que se dane... – eu disse entredentes.
Sem esperer mais, caminhei para dentro da casa, ouvindo o som aumentar à medida que me aproximava. Me desviei de algumas pessoas ali na frente e, no mento que adentrei o local, a música chegou a meus ouvidos, abafando qualquer outro ruído. Semicerrando os olhos por conta do globo colorido que me irritava profundamente, olhei em volta, prcurando por aquela garota misteriosa.
Dei alguns passos, vasculhando todos os cantos com os olhos e não demorei a encontrá-la no meio da pista de dança improvisada. Ela e as amigas dançavam sobre o tapete colocado ali e não davam a mínima para os outros em volta. Observei por mais um tempo e percebi que suas amigas pareciam boas, mas ela parecia ser melhor. Era um sentimento que não conseguia explicar, mas não havia nada nelas que me chamasse a atenção como o que eu via nela, ainda que não soubesse o que seria.
Lentamente, dei passos em sua direção, me desviando dos outros jovens que dançavam, até estar próximo o suficiente. A poucos metros, suas amigas me notaram, arregalando os olhos e dizendo algo para ela, que se virou para mim antes que a alcançasse. Parei no segundo que nossos olhares se cruzaram, analisando a surpresa em sua expressão.
Eu não saberia dizer o que ela estaria pensando naquele momento, mas permaneci onde estava, estático e me amaldiçoanndo internamente por ser tão covarde. Era só uma garota, não deveria ser tão difícil assim.
Respirando fundo, engoli seco e criei a coragem necessária para me mover. Enquanto minhas pernas me levavam em sua direção, vi um belo sorriso iluminar o seu rosto. Depois de dizer algo a suas amigas, ela me imitou, caminhando a passos seguros em minha direção. Quando ficamos cara a cara, tentei formular uma frase para explicar o motivo de ter voltado, mas eu simplesmente não conseguia.
- Eu... – soltei um leve pigarro.
- ! – ela continuava a sustentar o sorriso. - Você voltou!
- É, voltei. – balancei os ombros uma vez.
- Achei que sua roupa estava molhada. – a garota disse num tom sugestivo.
- Mas, felizmente, ela já está seca. – entrei em sua brincadeira.
- Isso quer dizer que agora podemos nos divertir. – enquanto falava, se aproximou mais de mim. – Se puder me acompanhar, é claro.
- Você manda. – sorri ao fitar seus olhos iluminados.
Alargando o seu sorriso, ela me segurou pelo pulso e me levou até suas amigas. Após me apresentar para elas, percebi que apesar de serem simpáticas, tentavam prender o riso a todo custo. Após alguns minutos, nos distanciamos delas e fomos até a cozinha da casa onde ficavam as bebidas.
Pegamos dois copos e enchemos com vodca e refrigerante de limão, mas não nos contetamos apenas com aquela quantidade e pegamos as garrafas, voltando para a festa. Enquanto bebíamos, tentávamos conversar, mas o som não ajudava. Deixando o copo vazio de lado, a garota se aproximou e começamos a converar perto do ouvido um do outro.
- Até que essa festa está legal! – eu comecei a falar.
- Com certeza está. – ela respondeu.
- Eu iria embora, mas voltei graças a você. – continuei, me aproveitando de um a repetina coragem que me envolveu. – E valeu muito a pena, pode apostar.
- Você é tão fofo! – seu sorriso aumentou.
Deixei que um riso anasalado escapasse quando senti sua mão em minha nuca, trazendo meu rosto para perto do seu. Até o último instante mantive o contato entre nossos olhos, admirando como os seus eram profundamente . Debaixo das luzes daquela noite, enquanto meu coração se descompassava por conta de nossas respirações quentes que se misturavam, finalmente cerrei as pálpebras no momento que nossos lábios se tocaram.
Assim que senti o gosto de álcool em sua boca, segurei sua cintura com firmeza, a trazendo para perto de mim. A música continuava a tocar, mas ali com ela, era como se não houvesse nada. Eu me concentrava apenas no seu sabor e em como ele me fazia viajar.
Quando nos afastamos por conta da falta de ar, ela soltou um risinho divertido e me segurou pela mão, me arrastando por entre as pessoas. Gargalhei devido a sua atitude, deixando que ela me conduzisse pela casa, até chegarmos até a área dos fundos, onde ficava a piscina. Ali havia poucas pessoas, então fomos até um canto mais reservado e assim que paramos, a garota enroscou os braços envolta do meu pescoço, me beijando com intensidade.
Apoiei uma mão em sua cintura e a outra deslizei até seus cabelos soltos, emaranhando meus dedos nos fios suados, o que a fez arfar em aprovação. Permanecemos ali por um longo tempo, até que senti uma de suas mãos em meu bolso traseiro e ri entre o beijo.
- O que foi? – ela também riu.
- Nada. – balancei a cabeça.
- Suas bochechas estão vermelhas! – seu dedo indicador tocou meu rosto.
- Ainda está calor. – me justifiquei.
- Pode apostar. – sua voz saiu num tom malicioso, me fazendo rir ainda mais.
Com a mão apoiada em seu rosto, me aproximei para unir nossos lábios novamante. Quando eles se tocaram, dei um passo em sua direção, mas então algo chamou nossa atenção e nos separamos. Um pouco desnorteada, ela tateou os bolsos de sua calça e pegou o celular, que tocava de forma insistente.
- Que droga. – resmungou assim que olhou para o visor.
- Tudo bem? – perguntei um pouco preocupado.
- Sim, eu só... – após um suspiro, ela guardou o aparelho que havia parado de tocar. - Só preciso ir.
- Já? – disse antes que pudesse pensar e soltei um pigarro. – Quer dizer... por quê?
- Digamos que eu não deveria estar aqui. – explicou, revirando os olhos.
- Não deveria? – ergui as sobrancelhas.
- Eu deveria estar na casa de uma amiga, terminado um seminário. – ela soltou um riso abafado.
- Mas você não está. – cruzeio os braços.
- É, não estou. – mordeu os lábios – E realmente preciso terminar esse seminário pra amanhã.
- Uou. – soltei um assobio.
- Pois é... – ela suspirou. – Eu preciso mesmo ir.
- Sem problemas. – sorri. – Eu só preciso...
Antes que completasse minha fala, alguém se aproximou de nós. Uma garota morena com os cabelos presos num rabo de cavalo alto, usando um vestido rodado. Era uma de suas amigas e parecia apressada.
- Oi, gente! – ela cenou um pouco sem graça. – Sei que estou atrapalhando aqui, mas nós precisamos ir.
- Tá. – a outra respondeu. – Só um minuto, ok?
- Não demora, as meninas já estão nos esperando no carro. – a morena salientou.
- Eu sei. – ela disse e quando sua amiga se afastou um pouco, se voltou para mim.
Me pegando de surpresa, a garota misterisosa segurou meu rosto e me deu um último beijo. Um beijo que me deixou desorientado. Enquanto estávamos ali, eu me perguntava como em tão pouco tepo ela havia conseguido roubar o meu coração. Até o momento, Eu não fazia ideia, mas talvez estivesse esperando por uma garota como ela.
- Eu preciso ir. – ela disse assim que separamos e pegou o celular que tocava de novo.
Sem esperar uma resposta, me deu as costas e correu na direção da porta dos fundos. Permaneci parado por um segundo. Foi quando a fixa caiu e minhas pernas se moveram para dentro, indo atrás dela.
- Ei! – a chamei, mas ela não se virou. – Eu ainda não sei o seu nome!
- Até mais, ! – ela berrou antes de adentrar a casa.
A segui, mas a perdi no meio da multidão que dançava ao som de uma música agitada. Quando consegui passar por todos e sair pela porta da frente, ela já entrava no carro com as amigas. Tentei correr até ele, mas a garota no volante deu partida, me deixando para trás.
Sem acreditar em como aquela noite havia terminado, fechei os olhos, suspirando pesado graças a correria para chegar a aquele ponto. Não havia mais o que ser feito. Quem sabe nos encontrássemos pelos corredores da universidade, algum dia, por acaso.
Soltando um palavrão, levei a mão até o bolso traseiro, pegando meu celular de lá para que pudesse olhar as horas. Ao fazê-lo, franzi o cenho ao ver um pequeno papelzinho cair na grama. Curioso, me abaixei, o pegando. Estava dobrado em duas partes e o abri sem hesitar ao mesmo tempo em que me levantava.
Assim que vi os números, balancei a cabeça negativamente, soltando uma risada abafada. Junto com ele estava escrito o que eu tanto queria saber.
“Me liga!
Ass.:
XoXo”
Olhei para os dois lados da rua escura, iluminada apenas pelas luzes de alguns postes. Quando voltei a fitar aquele pequeno papel, uma gota caiu sobre ele. Então mais e uma e mais uma. Fitei o céu, sabendo que a predita chuva estava finalmente chegando para aliviar aquele dia de calor.
- ... – murmurei o nome daquela garota misteirosa e divertida.
Sem desmanchar o sorriso, guardei o papelzinho em meu bolso, junto ao celular e caminhei apressado até minha moto parada do outro lado da rua. Enquanto seguia, pensava que aquela noite havia sido só o começo. O começo de algo que poderia se tornar muito mais.
Apesar de estar bem no meio de toda aquela farra, podia sentir a temperatura aumentado em meus ombros. Era como se ela viesse de cima, me imprensando na direção do piso amarronzado, o que começava a me deixar sufocado. Eu nunca fui muito chegado a festas, mas aquele dia era uma exceção, afinal estávamos perto do fim do semestre e todos estavam comentando como aquela noite seria incrível. Por insistência de alguns colegas, resolvi comparecer e tentar aproveitar.
O que não havia dado muito certo.
Segurando um copo plástico vermelho cheio até a metade com uma cerveja que já estava quente, resolvi que deveria sair um pouco e tomar um ar. Talvez isso resolvesse aquela sensação de sufocamento e eu pudesse voltar para minha diversão. Me espremi entre as pessoas, tentando alcançar a saída que me conduziria ao jardim da casa, mas tropecei num tapete enorme que havia sido colocado no meio do cômodo para demarcar a pista de dança improvisada.
- Mas que... – murmurei irritado. - Merda!
Naquele instante, a única coisa que fiz foi xingar mentalmente o dono daquele casa por ter uma ideia tão estúpida. Ninguém colocava tapetes no meio de um lugar onde só iriam estar pessoas que se esqueceriam como se andava por conta do teor de álcool em seus corpos. Tentando ignorar meu surto interno, apenas revirei os olhos e voltei ao meu trajeto rumo ao exterior da casa.
Bem, pelo menos eu tinha planos para isso, mas o que aconteceu foi algo bem diferente. Uma garota também tropeçou na borda do tapete, soltando um gritinho assustado. Para se equilibrar, ela se agarrou à primeira coisa que via em sua frente. No caso, eu. Para terminar de completar a cena, sua mão direita esbarrou no copo que eu ainda segurava, derramando todo o líquido em minha camiseta branca.
Fiquei vários instantes tentando entender o que se passava, fitando a mancha no tecido que continuava a crescer, até que percebi que a menina ainda se segurava em meus braços.
- Ah meu Deus! – apesar do som altíssimo, pude ouvi-la berrar. – Me desculpa!
Ainda mais irritado do que antes e agora levemente enjoado por conta do cheiro forte da bebida, ergui os olhos na direção dela, pronto para usar as palavras mais baixas que conhecia. Eu não era acostumado a fazer isso, mas eu gostava bastante daquela camisa, além do mais, eu continuava sufocado. Então desabafar seria uma boa.
- Escuta aqui, bonitinha... – comecei a dizer, mas parei quando vi o seu rosto.
Tentei continuar a dizer o que queria, entretanto, nada saia. Talvez por eu estar de frente para uma das garotas mais bonitas que já vi. Ou quem sabe por seus olhos imensamente familiares. Sim, com toda certeza esse era o motivo. Apesar do campus ser enorme, eu já havia me esbarrado com aquele olhar antes e quando ela ergueu as sobrancelhas, confirmei isso.
Flashback On
Após mais uma aula entediante, eu seguia pelos corredores do campus com minha mochila nos ombros, segurando vários livros que tinha pegado na biblioteca para uma pesquisa.
Enquanto caminhava, senti meu celular vibrar no bolso da calça e suspirei, levando a mão até lá, o pegando. Revirei os olhos assim que vi mais uma mensagem sobre a festa que aconteceria daqui a uma semana na casa de David Smith. Ele era um dos mais populares e, com toda certeza, a ocasião seria memorável. Todavia, eu não era muito chegado a lugares cheios, especialmente por jovens adultos bêbados.
Suspirei, clicando no visor, já me preparando para responder a mensagem que havia recebido de uma das garotas da minha classe. Foi quando senti um impacto contra meu ombro, me fazendo derrubar todos os livros que segurava. Tive tempo apenas para segurar meu celular com firmeza, pois a força da batida me fez virar na direção da pessoa que tinha se esbarrado em mim.
- Ah meu Deus! – a garota arregalou os olhos , levando uma das mãos até a boca. – Me desculpa!
- Tudo bem. – dei de ombros. – Eu estava distraído.
Sem esperar uma resposta, suspirei e me abaixei para pegar meu material espalhado pelo chão. Para minha surpresa, a menina fez o mesmo e começou a me ajudar a ajuntar tudo. Parei por um segundo e a encarei, tentando me recordar de seu rosto, mas não obtive muito sucesso. Apesar de estar quase no fim do meu curso, não me lembrava de tê-la visto pelo campus da universidade antes, o que era bem estranho.
Quando a garota ergueu os olhos em minha direção, soltei um leve pigarro e voltei minha atenção para os livros. Ainda assim, pude ver como suas bochechas tomaram uma coloração rosada, me deixando tão constrangido quanto ela. Após mais alguns instantes, nos levantamos e ajeitei a mochila em meus ombros, voltando a encará-la.
- Aqui está. – ela disse, me estendendo os livros.
- Obrigado. – balancei a cabeça uma vez.
- Me desculpa, de verdade... – enquanto falava, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Eu não te vi e...
- Está tudo bem. – sorri de forma mínima. – É sério.
- Tá. – a menina também sorriu.
Continuamos nos encarando por alguns segundos e eu, definitivamente, não sabia o que dizer. Nunca fui bom com garotas e agora não seria diferente. Para minha sorte - ou não – o celular dela tocou e ela o retirou do bolso da calça com rapidez, fitando o visor. Após revirar os olhos, se voltou para mim.
- Preciso atender. – balançou o aparelho. – Até mais!
- Até! – respondi enquanto a via se distanciar.
A garota que eu não fazia ideia de quem seria, seguiu seu caminho enquanto falava ao celular, fazendo gestos e mais gestos que mostravam sua animação exagerada. Quanto a mim, apenas balancei a cabeça negativamente e ajeitei os livros em meus braços. Eu não tinha ideia de quem ela seria, mas isso não fazia muita diferença. Não quando havia uma pesquisa enorme para concluir antes do fim do dia.
Flashback Off
- Bonitinha, é? – de repente a menina disse, erguendo as sobrancelhas. – É bom saber.
- Quê? – franzi o cenho, sem entender.
- Bem, você que disse. – um riso abafado escapou por seus lábios vermelhos. – Mas pelo seu tom de voz, tenho certeza de que não foi um elogio.
- Eu... – completamente desorientado, tentei formular algo coerente, mas só conseguia olhar para o meio sorriso que aquela garota sustentava sem deixar de me encarar.
- Não precisa dizer nada. – ela finalmente se soltou de mim, ajeitando os cabelos. – A culpa foi minha.
- Eu estava... – tentei dizer, mas fui interrompido.
- Distraído? – seu sorriso aumentou. – Você já usou essa desculpa uma vez, caso não se lembre.
- É, eu usei sim. – dessa vez, eu ri abafado.
Sustentando nossos sorrisos, passamos a nos encarar sob o globo de luzes, que deixava a imagem de esferas coloridas em nossos rostos conforme girava. Soltei um pigarro, tentando dizer algo, mas ela foi mais rápida.
- Sabe, acho que a culpa não é minha nem sua. – ela apoiou as mãos no quadril. – E sim desse tapete idiota que fizeram questão de colocar bem no meio da sala.
- Justo. – balancei a cabeça positivamente.
- Ainda assim, eu sujei a sua roupa, foi mal mesmo. – a garota mordeu os lábios.
- Quanto a isso, não se preocupe. – dei de ombros. – Eu já estava mesmo indo pra casa.
Apesar de aquilo não ser a completa verdade, eu já estava exausto de ficar no meio de tantas pessoas, enquanto meus tímpanos perdiam sua utilidade por conta do som excessivamente alto. Antes, pensei apenas em sair e tomar um ar, mas agora queria voltar para casa e dormir o quanto pudesse.
Sem que eu tivesse percebido, tínhamos começado a caminhar e só então notei que íamos em direção à saída da casa.
- Ah, você já está indo? – ainda que a luz fosse pouca, vi quando seu sorriso murchou, mas ela logo tentou disfarçar, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- Bem... – levei os dedos até minha camisa, a puxando um pouco para a frente. - Não posso ficar aqui assim.
- Então é isso? – um riso divertido saiu de sua boca.
Dando dois passos em minha direção, ela parou em minha frente, me obrigando a parar. Então passou os dedos pelo tecido, os deslizando com delicadeza. Um pouco desconcertado, mantive os olhos em seus movimentos e apenas ergui meu rosto quando a garota disse algo mais.
- Já está secando. – sorriu e voltou a andar – E com essa luz ninguém vai perceber.
- É... – mordi os lábios e a segui, sem ter certeza do que diria. – Mas eu preciso mesmo ir.
- Não pode ficar nem por um tempinho? – ela parecia tímida em seu pedido. – Minhas amigas ainda não chegaram e não tem mais ninguém que eu conheça por aqui.
- Mas nós não nos conhecemos. – fiz uma careta.
- É, mas você é legal. – um novo sorriso surgiu.
Ficamos parados por um tempo sobre o gramado esverdeado, sentindo o vento açoitar nossos rostos suados. Enquanto o som continuava a tocar lá dentro, eu pensava se deveria ficar ou não. Me surpreendendo, a vontade de permanecer ali com aquela garota era incrivelmente maior do que a de partir.
Eu não saberia explicar o motivo, mas só de fitar os seus olhos , sentia algo estranho se remexer dentro de mim. Definitivamente, ela era divertida e já me havia feito esquecer do meu mal-estar apenas por sorrir para mim e esse era um ponto para ela.
- Bem... – fingi desinteresse. - Eu posso ficar por um tempinho.
- Ah, obrigada! – ela deu vários pulinhos animados e me segurou pelo braço direito, me puxando para baixo.
Ao entender o que ela queria, a acompanhei e nos sentamos na grama fria. Estávamos bem próximos e a garota continuava a segurar seu braço como se eu pudesse sair correndo dali a qualquer segundo. Decidi não dizer nada a respeito e olhei para cima, passando a fitar o firmamento. Naquela noite não havia muitas estrelas nem a lua, pois várias nuvens as escondiam.
- Parece que vai chover. – eu observei.
- Espero que sim, pois esse calor está insuportável. – ela completou.
Sem mais palavras, a garota se desvencilhou de mim e se deitou na grama, me arrancando um leve riso abafado. Quando a encarei, ela me lançou uma piscadela e apontou o espaço ao lado com um balanço de cabeça. Suspirando, hesitei por um momento, mas então resolvi imitá-la e me estirei ao seu lado.
Conforme me deitava, tentava me recordar da última vez que me senti tão relaxado. Com tantos trabalhos, seminários e provas e com a pressão de estar chegando ao último semestre, minha cabeça latejava pela preocupação. Talvez ficar ali um pouco me deixasse menos preocupado.
- Que alívio! – ela soltou o ar pela boca de uma só vez. - Não estava mais aguentando ficar lá dentro no meio de tanta gente suada.
- Acho que pessoas suadas estão incluídas no pacote caso você queira passar a noite numa festa. – falei de forma irônica, virando o rosto em sua direção.
- Isso é verdade. – ela riu de minha observação. – Se bem que, nos humanos, o suor é uma forma de eliminar dejetos de nitrogênio e é fundamental para regular a temperatura corporal, então é aceitável que as pessoas transpirem tanto.
- Tá... – a encarei de forma estranha. – E de onde tirou tudo isso? Do google?
- Digamos que cursar educação física não se resume só a aprender a jogar volêi. – ela debochou.
- Esse é seu curso? – falei visivelmente surpreso.
- Bem, eu tentei direito, mas percebi que não fui feita para lidar com protocolos e leis. – a garota me fitou com um sorriso de canto. – Eu preciso de liberdade, preciso de algo onde possa me divertir ao mesmo tempo em que trabalho.
- Se você gosta de exercícios, então faz sentido. – ergui as sobrancelhas.
- Quem sabe um dia eu não te chame pra que possamos correr juntos. – ela falou num tom diverto, enquanto batia seu joelho erguido no meu que estava na mesma posição. – E quanto a você, senhor estranho, mas legal? Qual a sua área?
- Nada de mais. – me remexi, voltando a fitar o céu. – Apenas passo as longas horas do meu dia tentando entender como o ser humano interage com o meio ambiente e quais são os resultados dessa relação tão conturbada.
- Geografia. – ela deduziu. – Nada mal.
Soltei um riso leve e a encarei mais uma vez. Não demorou para que a garota também fisesse o mesmo. Daquela vez, pude ver seus olhos bem de perto. Agora, sem a intervenção das luzes coloridas internas, apenas sob o luz daquela noite quente, pude notar como eles brilhavam. Eram como duas grandes estrelas em meio ao céu nublado.
- Sabe, você ainda não me disse seu nome. – ela falou num mais baixo do que o de antes sem deixar de me encarar.
- . – me apressei em dizer.
- . – ela sorriu. – É um prazer!
- Igualmente. – sorri de volta.
Continuei sorrindo e já me preparava para também perguntar qual era o seu nome. Todavia, ouvimos alguns gritios animados atrás de nós e nos distraímos. Nos sentamos no gramado no momento que três garotas bonitas se aproximaram de nós dois abanando os braços.
- Sabe quem elas são? – perguntei um pouco confuso.
- São minhas amigas. – ela respondeu, acenando de volta para as moças.
- Ah claro! - me lembrei do que ela disse mais cedo.
- , eu preciso ir. – de repente, se virou para mim.
- Tudo bem. – dei de ombros, mesmo que sua fala tivesse me desanimado.
- Obrigada por ter ficado comigo, de verdade. – a garota me lançou uma piscadela.
Em seguida, nos levantamos, limpando a sujeira de nosssas roupas. Olhei mais adiante e vi que as garotas ainda a esperavam, então decidi não segurá-la por mais tempo.
- Nos vemos por aí, então. – disse como quem não quer nada.
- Claro. – ela balançou a cabeça positivamente.
Me lançando mais um sorriso, ela me deu as costas e começou a ir na direção de suas amigas. Entretanto, parou no meio do caminho e se virou para mim de novo.
- Podemos nos encontrar quando quiser. – ela disse de forma sugestiva. – Inclusive, estarei lá dentro até umas duas da manhã.
Após aquele aviso entrelinhas, ela finalmente se foi, juntando-se as outras meninas. De braços dados e conversando bastante, adentraram a casa, sendo engolidas pela escuridão do local. Quanto a mim, continuei paralisado no mesmo lugar, fitando a porta de entrada. Internamente, havia um grande dilema: entrar ou não entrar.
Aquela era uma das garotas mais legais que já havia conhecido e eu sequer sabia seu nome. E, provavelmente, eu não teria uma chance como aquela depois. Eu não tinha nada sobre ela, não sabia nada sobre suas amigas, apenas que ela cursava educação física, mas não fazia ideia de qual seria seu semestre.
Fechei os olhos e soltei um resmungo inaudível, imaginando que teria que enfrentar aquela multidão de pessoas descontroladas novamente. Cerrei os punhos e abri as pálpebras, ponderando uma última vez.
- Que se dane... – eu disse entredentes.
Sem esperer mais, caminhei para dentro da casa, ouvindo o som aumentar à medida que me aproximava. Me desviei de algumas pessoas ali na frente e, no mento que adentrei o local, a música chegou a meus ouvidos, abafando qualquer outro ruído. Semicerrando os olhos por conta do globo colorido que me irritava profundamente, olhei em volta, prcurando por aquela garota misteriosa.
Dei alguns passos, vasculhando todos os cantos com os olhos e não demorei a encontrá-la no meio da pista de dança improvisada. Ela e as amigas dançavam sobre o tapete colocado ali e não davam a mínima para os outros em volta. Observei por mais um tempo e percebi que suas amigas pareciam boas, mas ela parecia ser melhor. Era um sentimento que não conseguia explicar, mas não havia nada nelas que me chamasse a atenção como o que eu via nela, ainda que não soubesse o que seria.
Lentamente, dei passos em sua direção, me desviando dos outros jovens que dançavam, até estar próximo o suficiente. A poucos metros, suas amigas me notaram, arregalando os olhos e dizendo algo para ela, que se virou para mim antes que a alcançasse. Parei no segundo que nossos olhares se cruzaram, analisando a surpresa em sua expressão.
Eu não saberia dizer o que ela estaria pensando naquele momento, mas permaneci onde estava, estático e me amaldiçoanndo internamente por ser tão covarde. Era só uma garota, não deveria ser tão difícil assim.
Respirando fundo, engoli seco e criei a coragem necessária para me mover. Enquanto minhas pernas me levavam em sua direção, vi um belo sorriso iluminar o seu rosto. Depois de dizer algo a suas amigas, ela me imitou, caminhando a passos seguros em minha direção. Quando ficamos cara a cara, tentei formular uma frase para explicar o motivo de ter voltado, mas eu simplesmente não conseguia.
- Eu... – soltei um leve pigarro.
- ! – ela continuava a sustentar o sorriso. - Você voltou!
- É, voltei. – balancei os ombros uma vez.
- Achei que sua roupa estava molhada. – a garota disse num tom sugestivo.
- Mas, felizmente, ela já está seca. – entrei em sua brincadeira.
- Isso quer dizer que agora podemos nos divertir. – enquanto falava, se aproximou mais de mim. – Se puder me acompanhar, é claro.
- Você manda. – sorri ao fitar seus olhos iluminados.
Alargando o seu sorriso, ela me segurou pelo pulso e me levou até suas amigas. Após me apresentar para elas, percebi que apesar de serem simpáticas, tentavam prender o riso a todo custo. Após alguns minutos, nos distanciamos delas e fomos até a cozinha da casa onde ficavam as bebidas.
Pegamos dois copos e enchemos com vodca e refrigerante de limão, mas não nos contetamos apenas com aquela quantidade e pegamos as garrafas, voltando para a festa. Enquanto bebíamos, tentávamos conversar, mas o som não ajudava. Deixando o copo vazio de lado, a garota se aproximou e começamos a converar perto do ouvido um do outro.
- Até que essa festa está legal! – eu comecei a falar.
- Com certeza está. – ela respondeu.
- Eu iria embora, mas voltei graças a você. – continuei, me aproveitando de um a repetina coragem que me envolveu. – E valeu muito a pena, pode apostar.
- Você é tão fofo! – seu sorriso aumentou.
Deixei que um riso anasalado escapasse quando senti sua mão em minha nuca, trazendo meu rosto para perto do seu. Até o último instante mantive o contato entre nossos olhos, admirando como os seus eram profundamente . Debaixo das luzes daquela noite, enquanto meu coração se descompassava por conta de nossas respirações quentes que se misturavam, finalmente cerrei as pálpebras no momento que nossos lábios se tocaram.
Assim que senti o gosto de álcool em sua boca, segurei sua cintura com firmeza, a trazendo para perto de mim. A música continuava a tocar, mas ali com ela, era como se não houvesse nada. Eu me concentrava apenas no seu sabor e em como ele me fazia viajar.
Quando nos afastamos por conta da falta de ar, ela soltou um risinho divertido e me segurou pela mão, me arrastando por entre as pessoas. Gargalhei devido a sua atitude, deixando que ela me conduzisse pela casa, até chegarmos até a área dos fundos, onde ficava a piscina. Ali havia poucas pessoas, então fomos até um canto mais reservado e assim que paramos, a garota enroscou os braços envolta do meu pescoço, me beijando com intensidade.
Apoiei uma mão em sua cintura e a outra deslizei até seus cabelos soltos, emaranhando meus dedos nos fios suados, o que a fez arfar em aprovação. Permanecemos ali por um longo tempo, até que senti uma de suas mãos em meu bolso traseiro e ri entre o beijo.
- O que foi? – ela também riu.
- Nada. – balancei a cabeça.
- Suas bochechas estão vermelhas! – seu dedo indicador tocou meu rosto.
- Ainda está calor. – me justifiquei.
- Pode apostar. – sua voz saiu num tom malicioso, me fazendo rir ainda mais.
Com a mão apoiada em seu rosto, me aproximei para unir nossos lábios novamante. Quando eles se tocaram, dei um passo em sua direção, mas então algo chamou nossa atenção e nos separamos. Um pouco desnorteada, ela tateou os bolsos de sua calça e pegou o celular, que tocava de forma insistente.
- Que droga. – resmungou assim que olhou para o visor.
- Tudo bem? – perguntei um pouco preocupado.
- Sim, eu só... – após um suspiro, ela guardou o aparelho que havia parado de tocar. - Só preciso ir.
- Já? – disse antes que pudesse pensar e soltei um pigarro. – Quer dizer... por quê?
- Digamos que eu não deveria estar aqui. – explicou, revirando os olhos.
- Não deveria? – ergui as sobrancelhas.
- Eu deveria estar na casa de uma amiga, terminado um seminário. – ela soltou um riso abafado.
- Mas você não está. – cruzeio os braços.
- É, não estou. – mordeu os lábios – E realmente preciso terminar esse seminário pra amanhã.
- Uou. – soltei um assobio.
- Pois é... – ela suspirou. – Eu preciso mesmo ir.
- Sem problemas. – sorri. – Eu só preciso...
Antes que completasse minha fala, alguém se aproximou de nós. Uma garota morena com os cabelos presos num rabo de cavalo alto, usando um vestido rodado. Era uma de suas amigas e parecia apressada.
- Oi, gente! – ela cenou um pouco sem graça. – Sei que estou atrapalhando aqui, mas nós precisamos ir.
- Tá. – a outra respondeu. – Só um minuto, ok?
- Não demora, as meninas já estão nos esperando no carro. – a morena salientou.
- Eu sei. – ela disse e quando sua amiga se afastou um pouco, se voltou para mim.
Me pegando de surpresa, a garota misterisosa segurou meu rosto e me deu um último beijo. Um beijo que me deixou desorientado. Enquanto estávamos ali, eu me perguntava como em tão pouco tepo ela havia conseguido roubar o meu coração. Até o momento, Eu não fazia ideia, mas talvez estivesse esperando por uma garota como ela.
- Eu preciso ir. – ela disse assim que separamos e pegou o celular que tocava de novo.
Sem esperar uma resposta, me deu as costas e correu na direção da porta dos fundos. Permaneci parado por um segundo. Foi quando a fixa caiu e minhas pernas se moveram para dentro, indo atrás dela.
- Ei! – a chamei, mas ela não se virou. – Eu ainda não sei o seu nome!
- Até mais, ! – ela berrou antes de adentrar a casa.
A segui, mas a perdi no meio da multidão que dançava ao som de uma música agitada. Quando consegui passar por todos e sair pela porta da frente, ela já entrava no carro com as amigas. Tentei correr até ele, mas a garota no volante deu partida, me deixando para trás.
Sem acreditar em como aquela noite havia terminado, fechei os olhos, suspirando pesado graças a correria para chegar a aquele ponto. Não havia mais o que ser feito. Quem sabe nos encontrássemos pelos corredores da universidade, algum dia, por acaso.
Soltando um palavrão, levei a mão até o bolso traseiro, pegando meu celular de lá para que pudesse olhar as horas. Ao fazê-lo, franzi o cenho ao ver um pequeno papelzinho cair na grama. Curioso, me abaixei, o pegando. Estava dobrado em duas partes e o abri sem hesitar ao mesmo tempo em que me levantava.
Assim que vi os números, balancei a cabeça negativamente, soltando uma risada abafada. Junto com ele estava escrito o que eu tanto queria saber.
Ass.:
XoXo”
Olhei para os dois lados da rua escura, iluminada apenas pelas luzes de alguns postes. Quando voltei a fitar aquele pequeno papel, uma gota caiu sobre ele. Então mais e uma e mais uma. Fitei o céu, sabendo que a predita chuva estava finalmente chegando para aliviar aquele dia de calor.
- ... – murmurei o nome daquela garota misteirosa e divertida.
Sem desmanchar o sorriso, guardei o papelzinho em meu bolso, junto ao celular e caminhei apressado até minha moto parada do outro lado da rua. Enquanto seguia, pensava que aquela noite havia sido só o começo. O começo de algo que poderia se tornar muito mais.
Fim!
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