Capítulo Único
"Nosso amor é feito pólvora, é só acender uma faísca perto de nós que a gente pega fogo."
Foi isso que ele me disse na época que ainda estávamos juntos e é isso que ele me diria quando nos reencontrássemos. Quando eu achava que não existia mais nenhum resquício de amor entre nós, ele voltou pra me mostrar que era o único capaz de me fazer feliz.
O sol brilhava forte anunciando a chegada do verão em Nova York, o que parecia deixar as pessoas felizes. Eu nasci e cresci na ensolarada Flórida, na cidade de Tampa, mas depois de tanto tempo morando em Nova York já havia me apaixonado pelo frio e pela neve. Eu morava em Nova York há quatro anos, desde que terminei a faculdade. Eu me formei em jornalismo na Universidade da Flórida em Gainesville, que ficava a duas horas de carro de Tampa e quando estava no último mês de aula recebi uma proposta de emprego para trabalhar em uma grande revista de moda em Nova York. Achei uma oportunidade incrível e resolvi aceitar, às vezes eu penso se foi isso que me separou dele, mas daí eu lembro que não, que muita coisa aconteceu em nossas vidas.
Eu ainda trabalhava na mesma revista e havia sido recém-promovida a editora chefe, tinha um namorado gato chamado , nós nos conhecemos em um trabalho que fiz pra revista, ele era modelo e aspirante a ator. Eu morava num apartamento legal com vista pra Times Square e tinha uma melhor amiga pra todas as horas, a , que trabalhava comigo na revista. Minha vida parecia perfeita, mas a verdade é que eu estava perdida, às vezes eu simplesmente não encontrava sentido pra minha vida. E tudo ficou pior quando decidiu que queria dar um tempo.
- Como assim você quer dar um tempo?
- É isso que você ouviu , dar um tempo no nosso relacionamento.
- Você sabe muito bem o que penso sobre dar um tempo, tempo pra mim é fim de namoro.
- Você é muito radical.
- Radical? Eu sou realista! Além disso, você que é o errado desta história!
- , você tá fazendo uma tempestade no copo d'água. Começou essa briga só porque eu estava conversando com uma modelo no desfile de ontem.
- Eu conheço muito bem esse mundinho de vocês! Você estava falando com ela ao pé do ouvido, tá achando que sou idiota?
- Você exagera demais e é por isso que acho que devemos dar um tempo.
- Quer saber, fica com o seu tempo. - eu disse pegando minha bolsa e me dirigindo até a porta do apartamento dele. - Você vai ter todo tempo do mundo, só não venha me dizer depois que esta arrependido!
- Você tem que parar de ser tão estressada, gata!
- NÃO ME CHAMA DE GATA! - eu disse e taquei um vaso que ficava perto da porta nele, do qual ele desviou.
Depois saí batendo a porta, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Corri pra casa da e quando cheguei lá desabei de chorar em cima dela.
- Chora, , chora que faz bem. - ela disse mexendo no meu cabelo enquanto eu chorava deitada no colo dela.
- A minha vida amorosa é um desastre, nada dá certo!
- Também não é assim vai, você e o estão a quase três anos juntos, pareciam felizes.
- Eu pareço feliz, minha vida parece linda, mas não está tudo bem. Eu tenho uma carreira ótima, mas a vida pessoal não funciona.
- , você é jovem, não é como se você tivesse ao quarenta anos desesperada porque ainda não casou.
- Quarenta não, mas daqui a pouco tô com 30 e gostaria muito de ter filhos antes disso.
- Faltam quatro anos pros 30, dá tempo de arrumar sua vida amorosa até lá.
- Já não tenho tanta certeza.
- Odeio quando você fica pessimista.
- Desculpa. Quer saber já sei o que eu vou fazer. - eu disse sentando no sofá e enxugando minhas lágrimas. - Vou visitar meus pais em Tampa.
- Olha, taí uma boa ideia.
- Eu não tiro férias a séculos, vou tirar pelo menos umas duas semanas pra mim e vou lá visitá-los.
- Faça isso, eu seguro as pontas na revista. Você tá mesmo precisando respirar outros ares.
- Ótimo, amanhã mesmo começo a providenciar isso.
Resolvi tudo na revista em uma semana, eu queria ir o mais rápido possível pra Tampa e não queria ver o tão cedo. Avisei meus pais e eles ficaram muito animados de saber que eu finalmente ia tirar um tempo fora da época de Natal e Ano Novo pra ir pra casa. No final de semana arrumei minhas malas e parti pra Tampa esperando que o sol da Flórida derretesse o gelo que havia dentro de mim.
- Filha! - minha mãe disse abrindo os braços quando bati na porta de casa. - Que saudades meu amor.
- Saudades também mãe.
- Vem, entra, vamos tomar um café da tarde, fiz tudo que você ama pra comer.
- Cadê o papai?
- Já tá na mesa te esperando.
Sorri para minha mãe, a sensação boa de estar protegida.
- Minha garotinha! - meu pai disse quando entrei na sala de jantar.
- Pai, que saudades! - o abracei e tive que me segurar para não chorar.
Eu não queria que meus pais soubessem que aquelas pequenas férias eram uma válvula de escape para os meus problemas. Nós comemos juntos e conversamos, colocando o papo em dia, minha mãe me atualizando de todas as fofocas do bairro. Quando terminamos, meu pai foi ver TV e eu fui ajudar minha mãe com a louça.
- Eu lavo, você enxuga. - minha mãe disse me entregando um pano de prato. Sorri e peguei o pano lembrando que sempre fazíamos isso quando eu morava em casa, era a hora da conversa só entre mulheres.
- Então, o que mais de interessante tem acontecido por aqui que você não quer contar na frente do meu pai?
- Nada demais, só que a vida é feita de coincidências.
- Como assim?
- Sabe quem está na cidade esse final de semana também?
- Quem?
- O .
- Que ?
- O único que você conhece , o .
Fiquei olhando pra minha mãe por alguns segundos, segurando um prato na mão e tentando processar a informação.
- Pensei que a família dele não morasse mais aqui e ele nem se dá bem com os pais dele.
- Eles não moram, mas o gosta da cidade e vem aqui de vez em quando.
O foi um caso sério na minha vida, minha paixão por ele começou muito antes de eu entender o que era o amor. Eu era só uma menininha de oito anos quando ele se mudou pra nossa rua, ele já era um adolescente com 17 anos na época. Fiquei encantada com ele garoto de cabelos e de olhos extremamente , mas é claro que ele nem me enxergava, já que nove anos de diferença nos separavam. Só que eu cresci e um dia finalmente ele olhou pra mim, eu tinha dezesseis anos quando fui a um show num barzinho próximo de casa onde o ia se apresentar com a banda dele. Aliais, esse é um fato importante sobre o , ele fazia parte de uma banda vocal, eles se apresentavam aqui e ali, primeiro só na Flórida, depois em alguns cantos do país. Eles não eram mundialmente famosos, mas hoje em dia já conseguiam viver da música cantando na noite. E foi em um show assim há anos atrás que ele me beijou pela primeira vez, eu estava sentada numa mesa logo na frente do palco, ele me olhou a noite toda. Quando o show acabou, ele veio conversar comigo e a gente acabou ficando. Nem sei expressar o quanto eu fiquei feliz, eu era totalmente apaixonada por ele. Depois disso nós começamos a namorar, no começo meio escondido, afinal, meus pais ainda me achavam muito nova pra ele, mas depois acabaram aceitando. Nós namoramos por dois anos antes de eu ir para faculdade e quando eu tive que ir, continuamos tentando fazer dar certo, afinal a universidade que eu estudava não era longe de Tampa. Deu certo por muito tempo, até que eu decidi aceitar a proposta para trabalhar e morar em Nova York, mas não foi isso que nos separou. Talvez eu tivesse recusado a proposta, se nosso namoro não tivesse terminado antes. Acontece que ele conheceu outra garota, ou melhor, uma mulher. Um ano mais nova que ele e, no fim, a minha ausência acabou fazendo a diferença. Eu estava há apenas duas horas dele em uma cidade muito próxima, mas foi o suficiente para ele conhecê-la. Ele nunca me traiu, ele só foi sincero me dizendo que havia conhecido outra pessoa e que estava confuso, só que eu sou muito impulsiva e nem tentei brigar por ele. Eu simplesmente aceitei a proposta de trabalho em Nova York, me formei, fiz minhas malas e fui embora sem nem me despedir dele. Eu dei nossa história por encerrada e fui viver uma nova vida em Nova York. Algum tempo depois conheci o e acabei deixando o passado pra trás. Mas naquele momento eu me lembrei de toda nossa história e foi estranho pensar nele depois de tanto tempo.
- Mãe, por que você está me falando isso?
- Por nada oras, apenas pra você não se surpreender se cruzar com ele por aí.
- Sei. - eu disse secando o prato mais do que o necessário. - Ouvi dizer que ele casou, é verdade?
- Sim, casou, com aquela mesma moça de quatro anos atrás.
Saber que ele casou com a mulher pela qual ele ficou confuso quando ainda namorava comigo, me causou uma sensação desconfortável.
- Mas ele só casou com ela por falta de opção.
- Como assim? - perguntei arqueando uma sobrancelha.
- Porque você foi embora, claro.
- Ah mãe, por favor, não fala besteira.
- Não é besteira e você sabe disso. Não é a toa que sua vida amorosa não tem dado certo.
- Saiba que minha vida amorosa vai muito bem obrigada, eu tenho um namorado muito gato.
- Aham, vou fingir que acredito.
- Pois acredite e vamos terminar logo essa louça.
Minha mãe não tocou mais no assunto do comigo o restante do dia e nem da minha vida amorosa, o que foi um alívio. Quando a noite chegou logo depois do jantar, resolvi sair pra dar um volta.
- Onde você vai, filha? - minha mãe perguntou quando passei pela sala aonde ela e meu pai assistiam TV.
- Só dar um volta por aí.
- Tudo bem, mas vê se não volta tarde. E leva um casaco que tá ventando.
- Mãe, pelo amor de Deus, eu não sou mais criança. - eu disse revirando os olhos.
Saí pelas ruas do meu bairro sem rumo certo, só pensando na vida, na minha vida atual e na vida que vive em Tampa. Eram realidades tão diferentes que nem pareciam pertencer a mesma pessoa. Entrei em uma rua comercial do bairro aonde haviam alguns restaurantes e lanchonetes. Decidi parar em uma lanchonete que vendia um sorvete de massa que eu amava, pedi um e fui sentar em uma mesinha perto da janela. Eu estava lá remexendo meu sorvete quando alguém parou em frente à mesa.
- ?
Olhei pra cima e fiquei mais congelada que o sorvete que eu estava tomando. Aquele par de olhos me encarava fixamente, não havia outros olhos como aqueles e nem uma voz como aquela, que eu teria reconhecido mesmo que não tivesse olhado pra cima. estava do mesmo jeito que eu me lembrava, apenas com menos cara de bebê e muito mais cara de homem, o que no caso o corte de cabelo contribuía para isso, estava , nada dos fios jogados que eu me acostumara a ver. Ele era muito alto e já não era mais aquele adolescente magrinho da minha infância, os braços tinham músculos e embora estivesse com uma gordurinha sobrando na cintura, ele ainda estava gostoso o suficiente pra chamar atenção das mulheres por onde passava. Aliais, qualquer cara que estivesse usando a roupa que ele tava, bermuda camuflada e regata preta, pareceria largado, já ele parecia incrível.
- ? Você por aqui?
- Eu é que digo isso, você por aqui? Porque até que eu venho às vezes pra Tampa, mas você quase não aparece desde que se mudou.
- Pois é, coisas da vida.
- Será que posso me sentar com você?
- Pode, claro.
puxou a cadeira e se sentou de frente pra mim.
- É muito bom te ver de novo. - ele disse com aquele sorriso encantador.
- Bom te ver também.
- E como anda a vida em Nova York?
- Tudo ótimo, fui recém-promovida a editora chefe na revista que trabalho.
- Que incrível, ! Eu sempre soube que você seria uma jornalista extremamente competente.
- Igual você é um ótimo cantor. Como anda a banda, os caras?
- Todos bem e agora a gente consegui pagar nossas contas vivendo da música. - ele disse rindo.
- É eu sei, minha mãe sempre comentava sobre sua banda.
- E você continua sozinha lá em Nova York?
- Não, eu tenho amigos, uma grande amiga pra ser mais específica que trabalha comigo, ela se tornou minha família por lá.
- Eu sei que você tem amigos, quero dizer se você não se casou ou algo assim.
- Não, eu não me casei, mas tenho um namorado, tinha pelo menos.
- Como assim?
- Nada que venha ao caso. Mas eu sou muito nova pra casar ainda sabe, o velho aqui é você. - eu disse rindo.
- Nossa obrigado pela parte que me toca, agora me sinto um ancião.
- Desculpa.
- Não tem nada, mas eu tô ficando velho mesmo.
- Você tá ótimo.
- A gente faz o que pode né.
- Com certeza. Mas então, você em compensação se casou, né?
- Casei sim. - disse parecendo meio desconfortável com o assunto.
- E onde está sua esposa?
- Em casa, lá em Los Angeles. Eu moro lá agora, a gente mora lá.
- Sim, eu já sabia que você não morava mais aqui. Mas o que eu quis dizer foi por que ela não está aqui com você.
- Porque eu gosto de viajar sozinho quando venho pra Tampa.
- Entendi.
Ficamos alguns segundos num silêncio constrangedor.
- Seu sorvete está derretendo, . - disse apontando para minha mão. Olhei para minha mão, eu segurava o copinho de sorvete com muita força e vi que o sorvete estava mesmo derretendo e escorrendo pela minha mão.
- Acho que eu não quero mais. - eu disse pegando um guardanapo na mesa e secando minha mão. - Na verdade, é melhor eu voltar pra casa.
Eu levantei rapidamente da mesa e fez o mesmo.
- Posso te acompanhar até sua casa?
- Por quê?
- Sei lá, só pra gente conversar com pouco mais.
- Não precisa, .
- Por favor, eu faço questão.
Dei um longo suspiro antes de responder.
- Tudo bem.
Caminhei para a saída da lanchonete com logo atrás de mim. Nós caminhamos lado a lado enquanto conversávamos.
- Mas me diz o que tanto você faz em Tampa. Você não mora mais aqui, nem sua família.
- Mesmo que minha família ainda morasse aqui, eles não seriam o motivo de eu vir pra cá, você sabe que não me dou bem com meus pais.
- Eu sei e por isso mesmo me surpreende você vir tanto aqui. Pensei que Tampa tivesse um passado que você queria esquecer.
- Não é bem assim, a minha vida familiar foi ruim, conturbada e eu vive tudo isso aqui. Mas também teve coisas boas, os amigos que deixei aqui, as lembranças, gosto de vir aqui pra lembrar só da parte boa.
- Eu espero que eu faça parte das boas lembranças, não das ruins. - eu disse rindo.
- Você faz parte das melhores lembranças, aquelas que eu nunca quero esquecer.
Eu tenho certeza que corei nessa hora e fiquei feliz de avistar minha casa, então eu não precisaria prolongar aquela conversa por muito mais tempo.
- Olha só sua casa, quanto tempo eu não vinha aqui. - disse quando paramos em frente minha porta.
- Pois é, e nem minha casa é mais, é a casa dos meus pais. Embora eles ainda mantenham o meu quarto sempre a minha espera.
- Tanta coisa mudou, não?
- Tudo mudou.
me observou por alguns segundos atentamente.
- , você não tá bem, né?
- Como assim? Tem alguma coisa errada com a minha aparência? - eu disse mexendo no cabelo por reflexo.
- Não, eu não tô falando fisicamente, de aparência você continua linda como sempre. Tô falando de estado de espírito.
- Acho que ainda não entendi.
- Você sempre foi uma garota tão cheia de vida, eu costumava olhar pra você e é como se houvesse um sol brilhando dentro de você. E agora você parece tão fechada, tão perdida e até um pouco triste, sei lá.
- Talvez seja impressão sua.
- Talvez, mas eu era uma das pessoas que mais te conhecia no mundo.
- É você era, mas a gente não tem mais essa intimidade , então você não pode esperar que eu te conte meus segredos.
- Você tem razão, me desculpe. Acho que eu perdi esse direito há muito tempo. Ele tinha mesmo perdido aquele direto, nós havíamos perdido muito coisa em relação um ao outro.
- Bom, é melhor eu entrar, né, já tá tarde. Boa noite, .
- Boa noite, .
Entrei em casa, fechei a porta e olhei pela janela da sala, se afastava devagar. Legal destino, valeu mesmo, minha vida já ta muito fácil pra você colocar meu ex namorado de adolescência no meu caminho também. Eu poderia fazer as malas e voltar pra Nova York, mas daí eu teria que explicar pros meus pais os motivos e teria que encarar o . Não, era melhor ficar aonde eu estava. Me arrastei até meu quarto, a casa estava silenciosa e com luzes apagadas, meus pais já deviam estar dormindo. Pus meu pijama e me enfiei debaixo do edredom, fiquei vendo um pouco de TV até pegar no sono. No dia seguinte eu poderia ficar dormindo o dia todo, mas fui despertada pela minha mãe.
- Vamos, , acorda!
- Não, me deixa dormir! - eu disse enfiando a cabeça debaixo do travesseiro.
- Já são onze horas, você não pode ficar dormindo o dia todo!
- Posso sim, ainda é madrugada pra mim.
- Tem um sol lindo brilhando lá fora esperando por você.
- Não quero sol, quero a escuridão do meu quarto, quero ficar desmaiada na minha cama.
- Nem adianta, não vou deixar você ficar mofando aqui. - minha mãe disse me sacudindo.
- Ai que saco, hein! - eu disse me rendendo e levantando.
- Olha os modos, menina!
Fui tomar um banho pra acordar e depois desci pra tomar café.
- Bom dia, pai. - eu disse me sentando à mesa.
- Bom dia, querida.
Minha mãe veio da cozinha trazendo wafles e suco de laranja.
- Se a senhorita pensa que vai dormir o tempo todo enquanto estiver aqui está muito enganada. - minha mãe disse colocando os wafles na minha frente.
- Eu deveria poder dormir sabe, primeiro porque hoje é domingo, é dia de dormir, segundo porque estou de férias.
- Férias são pra aproveitar.
- Mãe, você precisa entender que as pessoas tem concepções diferentes de aproveitar. Eu aproveito a vida dormindo. - eu disse e meu pai riu.
- Nem parece jovem viu.
- Sou jovem, mas tenho espírito de velha.
- Muito engraçado. Vai toma logo esse café que vou fazer você sair de casa de qualquer jeito.
- Como assim?
- Vou preparar um almoço daqueles e preciso que você vá ao mercado comprar essas coisas pra mim. - minha mãe disse me dando uma lista.
- Sério mesmo? Oh não, meu Deus estou sendo escravizada novamente nessa casa! - falei cobrindo o rosto com as mãos e arrancando uma gargalhada do meu pai. – Pai, me salva!
- Ah não, me deixem fora dessa, isso é entre você e sua mãe. - ele disse ainda rindo.
- Quanto drama viu. Vai menina, come logo e vai fazer o que pedi.
Assim que terminei meu café saí pro mercado pra comprar as coisas pra minha mãe. Eu estava segurando uma cestinha de mercado, na sessão de enlatados, tentando ver a data de validade de uma lata de ervilha, quando senti alguém me observando.
- Meus Deus! - eu disse dando um gritinho e derrubando a lata de ervilha.
- Desculpe, te assustei né.
Olhei pra cima e lá estava ele, de novo, o .
- Misericórdia, , não faz mais isso não.
pegou a lata que eu derrubei no chão e me entregou.
- Foi mal. Mas e aí sendo abusada pela sua mãe como nos velhos tempos? - ele disse rindo.
- Pois é, a gente fica tanto tempo longe de casa e algumas coisas nunca mudam.
- Deixa eu te ajudar.
Eu hesitei.
- Adianta eu dizer que não? - eu disse e ele deu um sorriso torto perfeito. - Ah ok, se você insisti.
Entreguei a cesta pra ele e continuei pegando as coisas com ele do meu lado. Conversamos muito e ele novamente me acompanhou até em casa, carregando as sacolas pra mim.
- Obrigada, não precisava ter se incomodado em vir até aqui. - eu disse pegando as sacolas.
- Foi um prazer.
Então a porta de casa se abriu e minha mãe saiu de lá.
- , até que enfim... - ela parou de falar quando viu . - Ah ? Olá.
- Oi, Sra. , como vai?
- Bem obrigada e você?
- Bem também.
- Agora entendi porque você demorou. - minha mãe disse me olhando.
- A gente se esbarrou no mercado e o foi gentil me ajudando com as sacolas.
- É a gente tem se esbarrado muito desde ontem. - disse rindo.
- Ah vocês se viram ontem? - minha mãe me olhou com aquele olhar intimidador.
- Sim mãe, a gente se encontrou numa lanchonete. - falei bufando. - Mas enfim, toma tudo que você pediu mãe, vai entrando e eu vou logo em seguida. - falei entregando para minha mãe as sacolas.
- Prazer em vê-la, Sra. .
- O prazer foi todo meu, . - minha mãe disse e entrou, mas não sem antes me dar mais um olhar significativo.
- É melhor eu entrar também antes que minha mãe volte pra me buscar.
- , espera, queria te perguntar uma coisa.
- Pergunte.
- Eu tô com um par de ingressos pra um jogo de basquete no Amalie Arena amanhã a noite. Será que você não quer ir comigo?
- Não sei se é uma boa ideia, .
- Por que não? Qual problema? Somos amigos ainda, não tem nada demais você ir a um jogo comigo.
- As pessoas podem comentar.
- Eu não ligo pro que as pessoas falam, eu sei muito bem o que faço. Poxa, faz tanto tempo que a gente não se vê e eu sei que você adora basquete, pelo menos costumava gostar.
- Eu ainda gosto, sempre vou aos jogos em Nova York com a minha amiga .
- Então vamos lá, vai ser legal. Vai ser Miami Heat contra Orlando Magic.
- O que? Meu time contra o seu? Ah não acredito que depois de tantos anos você ainda quer ver seu time apanhar do meu e ainda comigo de testemunha.
- Ah nem vem, você sabe que o Orlando é mil vezes melhor que o Miami, sempre foi.
- Nunca foi e nunca será. - falei rindo. - Tudo bem eu vou, só pra ver o Orlando levar uma surra.
- Isso é o que veremos. Te pego as sete então.
- Fechado. Até amanhã.
- Até!
Entrei em casa e minha mãe me esperava na entrada da sala.
- Que foi, mãe?
- Então você vai sair com ele amanhã?
- Mãe, que coisa feia, não acredito que você ficou ouvindo atrás da porta!
- Fiquei pro seu bem. ele é casado agora.
- Mãe, eu sei muito bem disso, mas isso não é um encontro, a gente só vai ver um jogo. E não é porque ele casou que não podemos mais ser amigos.
- Sabe a quase dez anos atrás você me disse a mesma coisa: mãe é só um show, só vou ver a banda dele cantar. E você voltou do show namorando com ele.
- Não foi bem assim, a gente não começou a namorar oficialmente naquele dia. - Não estou brincando, .
- Mãe, não se preocupe, eu já sou uma mulher, sei muito bem o que faço.
- Eu sei que é, mas quando há sentimentos envolvidos a gente pode ter 20,30,40 anos que age como se tivesse 15 anos.
- Isso não vai acontecer. Não tem sentimentos envolvidos, até porque eu tenho um namorado.
Minha mãe segurou minha mão.
- Eu sei que tem coisas que você não quer falar, mas não precisa, eu te conheço desde o dia que você nasceu. Sei que tem muita coisa errada acontecendo com você. Só quero te dizer que às vezes as coisas estão muito erradas mesmo e nós estamos com as pessoas erradas, a gente só não pode passar por cima de ninguém pra concertar as coisas.
- Eu entendi, mãe. Eu vou ficar bem e não farei nada de errado, não se preocupe.
- Espero mesmo.
Passei o resto do dia pensando no que minha mãe me dissera, eu não estava fazendo nada de errado, estava? Era só um jogo, o fato de eu ter amado aquele cara loucamente não significava nada agora, não tinha mais importância porque nossas vidas haviam tomado rumos diferentes. Fiquei pensando o que poderia ter acontecido se eu tivesse ficado e lutado por ele, será que seria eu a esposa dele agora? De qualquer forma eu nunca saberia a resposta, provavelmente eu voltaria pra Nova York ao final dessas duas semana e me entenderia com o , talvez a gente até se casasse. Fui dormir com estes pensamentos naquele dia, mas não consegui ficar na cama até tarde. O dia seguinte pareceu se arrastar, cada minuto durando uma eternidade pra noite finalmente chegar. Eu me arrumei pro jogo, uma roupa bem casual, calça legging preta e minha camiseta branca do Miami Heats, coloquei meu All Star branco de couro e fiz um rabo de cavalo alto. Nem caprichei na maquiagem, afinal era um jogo de basquete, então deixei o mais natural possível. As sete em ponto o chegou pra me buscar.
- Boa noite! - eu disse abrindo a porta da frente.
me olhou de cima abaixo, me deixando complemente corada.
- Você está ótima.
- Tô normal. - eu disse dando de ombros.
- E aí pronta pra ver o Miami perder?
- Só nos seus sonhos.
Partimos para o Amalie Arena, o lugar já estava cheio quando chegamos, mas os ingressos do eram num ótimo lugar na segunda fila.
- Me responde sinceramente, se você veio pra Tampa sozinho, por que estava com dois ingressos pra um jogo e num lugar ótimo por sinal?
segurou o riso.
- Que foi? pode falar agora!
- Eu já queria comprar os ingressos, mas não tinha com quem ir. Quando te encontrei sábado à noite, corri aqui pro Amalie e comprei dois ingressos. Se eu não tivesse te encontrado no mercado no dia seguinte, eu ia até sua casa te chamar pro jogo.
- Mas eu podia não ter aceitado.
- Eu tinha certeza que você ia aceitar.
- Você é um cara de pau sabia?! - eu disse dando um soquinho no braço dele e nós rimos.
Não tive tempo de contestar mais sobre os ingressos porque o jogo começou e nós como fanáticos por basquete, começamos a torcer e vibrar a cada lance. No intervalo do primeiro tempo, foi comprar cachorro-quente e coca-cola para nós.
- Eu amo isso aqui! - eu disse dando uma mordida gigante no meu cachorro-quente.
- Eu também. Não que eu seja que nem você que come o mundo e não engorda.
- Hey eu não como o mundo! - falei fazendo cara de brava.
- Come sim. - ele disse rindo. - Mas pra sua sorte você não engorda, já eu tenho que me cuidar. Só que não dá pra resistir a certas guloseimas.
- Não mesmo. Mas então, eu não disse que meu time ia ganhar.
- , foi só o primeiro tempo tá, ainda tem mais três tempos. Tempo certeza que o Orlando vai virar.
- Desiste, , esse jogo já é do Miami.
- Vai achando que vai ser fácil assim. Olha eu confio tanto que meu time vai virar que se o Orlando perder, eu aparo toda a grama do seu jardim.
- Que? Você vai aparar as grama do jardim dos meus pais? Olha que faz tempo que meu pai não dá um jeito naquele jardim.
- Se eu perder, eu faço isso.
- Há, essa eu quero ver! Já pode ir preparando o cortador de grama Mr. . O jogo seguiu e adivinha? É claro que o Miami ganhou e o ia ter que pagar a aposta no dia seguinte. Ele me deixou em casa e teve que me aguentar enchendo o saco dele durante todo o caminho.
- Foi muito legal essa noite. - eu disse em frente à porta de casa.
- Foi mesmo, fazia tempo que eu não me divertia assim.
- Nem me fale, acho que eu tava precisando.
- Viu só, eu disse que ia ser bom.
- Pois é, e eu ainda vou poder rir de você cortando a grama dos meus pais.
- Há ha. muito engraçado, você tá se divertindo com isso, né?
- Claro, sempre.
ficou me olhando com aquele par de olhos e achei melhor entrar logo em casa.
- Bom, acho melhor eu entrar, a gente se fala amanhã.
- Boa noite, .
- Boa noite, . - me inclinei e dei um beijo na bochecha dele.
Entrei em casa e fui pro me quarto, tirando a roupa de qualquer jeito e colocando o pijama. Fiquei lembrando e rindo de tudo que havia acontecido naquela noite, de como havia sido divertido, até finalmente adormecer.
Levantei no dia seguinte com a luz do sol entrando pela janela do meu quarto. Tomei um banho rápido e desci pra tomar café. Eu ainda estava esfregando os olhos pra afastar o sono quando minha mãe veio da cozinha parecendo confusa.
- O que significa aquilo, ?
- Aquilo o que, mãe?
- Aquilo no meu jardim!
Levei um tempo pra entender do que ela estava falando, então levantei e fui correndo até a janela da sala, afastei a cortina e lá estava o com o cortador de grama ligado aparando a grama do jardim.
- Não acredito que ele ta mesmo fazendo isso. - falei gargalhando.
- Você pode me explicar o que tá acontecendo? - minha mãe falou.
- Nada demais, mãe, só uma aposta que a gente fez ontem.
- Vocês tem cada uma viu! Vou preparar uma limonada pra ele, quando ele terminar vai estar exausto.
então olhou pra janela e me viu, eu comecei a gargalhar mais ainda enquanto dava um tchauzinho pra ele, que me mostrou a língua e depois riu também. Quando ele já estava quase acabando, minha mãe me chamou pra pegar a limonada e levar pra ele. Peguei a bandeja com a jarra cheia de gelo e o copo e sai pela porta da frente. O sol forte ofuscou meus olhos por um momento e depois eu avistei o parado ao lado do cortador de grama sem camisa. O que ele estava fazendo sem camisa? Por que Deus ele estava sem camisa? Cheguei perto dele e fiquei parada observando.
- Hey, achei que você não ia sair aqui fora pra falar comigo.
- Por que você tá sem camisa?
- Porque tá muito calor e eu cortei toda essa grama. - ele disse enxugando o suor da testa com a própria camisa.
- É bem, minha mãe fez limonada pra você.
- Poxa, obrigado, não precisava se incomodar.
pegou a jarra da bandeja que eu segurava e se serviu. Eu não conseguia falar, muito menos agir, fiquei ali vendo ele beber o suco.
- Tá ótima, obrigado mais uma vez.
- Obrigada você pelo jardim. Bom eu vou entrar.
- Não, , espera, eu já acabei aqui. Vamos dar uma volta no bairro, jogar conversa fora.
- É melhor não, eu to muito ocupada hoje. - eu disse já indo em direção a porta de casa.
- Mas , será que a gente não pode sair mais tarde então?
- Hoje não, mas a gente se fala depois, ok?!Obrigada novamente!
Entrei correndo em casa, larguei a bandeja na cozinha e subi pro meu quarto. Me joguei na minha cama e enfiei a cara no travesseiro, tentando esquecer aquela cena do sem camisa. Deus do céu, minha vida já estava um tumulto, eu não precisava de mais essa pra complicar, desse jeito eu ia acabar ficando maluca. Decidi passar o resto do dia em casa fechada no meu mundinho, assim eu não corria o risco de cruzar com o por aí. À noite fiquei vendo filme, comendo sorvete e conversando com a por whatsapp. Foi difícil dormir naquela noite com aquela imagem do na minha cabeça, acabei sonhando com ele e com o , um daqueles sonhos bem confusos. No dia seguinte minha mãe me pediu que eu ajudasse ela a organizar a bagunça do sótão, o que eu achei ótimo, porque era uma desculpa pra eu continuar dentro de casa.
- Filha, eu e seu pai fizemos uma reserva hoje em um restaurante no centro muito legal, tem música ao vivo e tudo. - minha mãe disse enquanto arrastava uma caixa.
- Ai que bom mãe, vocês quase não saem.
- Pois é. Queria saber se você não quer ir com a gente.
- Uh acho que não mãe, não tô muito no clima. Além disso, você e meu pai tem que aproveitar, sair só os dois.
- , a gente passa o ano todo só os dois, é tão raro você vir pra casa fora da época de festas, queremos aproveitar você, a sua companhia.
- Eu sei mãe, eu prometo que ainda vamos sair muito até eu ir embora, mas hoje em específico eu não tô no clima de sair pra jantar.
- Tudo bem né, fazer o que, então vamos só eu e seu pai. Você não liga de ficar sozinha?
- Não, nem um pouco.
Nós passamos o dia todo arrumando aquele sótão e por volta das seis da tarde minha mãe foi se arrumar pro jantar. Ajudei ela a escolher a roupa e fiquei vendo ela se maquiar, como quando eu era criança. As sete meus pais saíram para jantar e eu me joguei no sofá, pretendia passar o resto da noite por lá quando o telefone de casa tocou.
- Alô?
- ?
- ? É você?
- Sim, eu mesmo.
- Como você conseguiu o telefone aqui de casa?
- Acredite ou não, eu ainda tinha o número anotado em uma agenda velha que sempre carrego comigo. Resolvi ligar pra ver se não havia mudado.
- É, isso não mudou.
- E aí, tá fazendo o que?
- Nada, meus pais saíram pra jantar e eu tô largada no sofá da sala.
- Isso é tão deprimente, .
- Eu sei, tão minha cara.
- Você já jantou?
- Não, acho que vou ter que pedir alguma coisa porque não tem nada na cozinha.
- Não se preocupe que eu vou resolver isso. Tô indo pra sua casa.
- O que? Não , não precisa...
- Não discute comigo, vou passar pra comprar alguma coisa pra gente comer e chego ai em meia hora. Beijos! - disse e desligou o telefone.
Fiquei olhando pro aparelho por alguns segundos antes de por no lugar. Levantei do sofá e me olhei no espelho do corredor, eu estava vestindo uma regata branca e um shorts jeans que eu tinha pensado em trocar por um moletom, já que ia ficar sozinha, mas mudei de ideia e fiquei com aquela roupa mesmo. Meia hora depois a campainha de casa tocou.
- Eu trouxe comida chinesa e saquê. - disse erguendo as sacolas quando abri a porta.
- Entra vai. - falei sorrindo.
Arrumei a mesinha de centro da sala e sentamos no chão pra comer. Só quando senti o cheiro da comida, percebi que estava faminta, então começamos a devorar tudo.
- Mas e aí, você vai me contar ou não por que você anda tão pra baixo? E não me diga que não é nada, porque eu sei que tem alguma coisa. - disse comendo um pedaço de frango xadrez.
- Tem mesmo, não vou mentir.
- Então vai, me conta.
- Ok, vou te contar tudo, senta que lá vem história.
Contei a ele toda minha história com o , como no inicio era incrível, mas que de uns meses pra cá as coisas andavam estranhas e que ele queria dar um tempo.
- Não acredito que ele disse isso!
- Disse e você sabe o que eu penso sobre dar um tempo, né?
- Sim, que dar um tempo é fim de namoro.
- E é mesmo, quando você pensa em dar um tempo com alguém é porque o sentimento já não é mais o mesmo.
- Na boa, esse cara é um idiota, correr o risco de perder uma garota como você. Sabe o que eu devia fazer com ele?
- O que?
- Primeiro socar a cara dele, pra ele nunca mais te fazer chorar. Segundo abrir os olhos dele pra burrada que ele ta fazendo pondo em risco o relacionamento de vocês, porque um dia ele pode acordar e perceber que perdeu a mulher da vida dele, deixou ela ir embora e não fez nada. Mas daí já pode ser tarde demais.
As palavras dele me atingiram de uma forma inexplicável e por alguma razão eu tinha quase certeza de que ele não estava falando do , mas sim de si mesmo. Talvez fosse pretensão minha pensar assim, mas ele disse aquilo com tanta intensidade.
- Sabe o que eu fico pensando às vezes, ? - continuou.
- O que você fica pensando?
- Por que a gente não deu certo.
Ok, agora eu tinha certeza que ele estava falando de nós.
- Quem disse que a gente não deu certo, ? A gente deu certo sim, por muito tempo. Nós ficamos juntos por seis anos e fomos muito felizes durante todo esse tempo. Só porque acabou não significa que não deu certo, só quer dizer que as coisas mudaram.
- É, acho que você tá certa, tivemos uma história incrível.
- Exatamente, temos que guardar os bons momentos, são eles que fazem a vida valer a pena.
- Ainda lembro quando me mudei pra rua, você era só uma garotinha.
- E você já era um adolescente.
- Mas admita, você já tinha uma paixão platônica por mim desde aquela época.
- Eu nunca neguei isso, oras, me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi.
- E eu me apaixonei por você naquele show, quando você tinha dezesseis anos.
- Eu sei, eu era linda demais. - falei rindo.
- Ainda é.
Ele tinha que parar de me olhar daquele jeito, eu sabia que ficava corada quando ele fazia aquilo.
- Mais saquê? - perguntou.
- Não, a gente já bebeu demais. E comeu demais também. - falei rindo.
- Ah conta a novidade agora, você sempre come demais.
- Ave, cala a boca! - falei jogando um guardanapo em . - Vai me ajuda a recolher essas coisas e levar pra cozinha.
- Sim senhorita.
Levamos tudo para a cozinha, coloquei os copos na pia e guardei o restinho do saquê na geladeira, enquanto jogava no lixo as embalagens de comida. Eu encostei na pia e veio até mim parando na minha frente.
- Tá vendo, mais uma vez nós tivemos uma noite divertida. - disse .
- É, acho que fiz bem em vir pra cá, tirar essas pequenas férias.
- Você podia ficar mais que duas semanas né.
- Não posso, tenho muito trabalho na revista. E vou ter que enfrentar o mais cedo ou mais tarde.
- Não quero mais ver você chorando por cara nenhum, você é muito melhor que todos eles.
- Obrigada, de verdade, pela força.
se aproximou mais de mim, ele colocou a mão de um dos lados da pia e acabou batendo a mão esquerda em alguns talheres que estavam sobre ela.
- Ai desculpe.
- Imagina, deixa que eu pego isso. - falei começando a me abaixar, mas acabei tropeçando.
foi rápido e me segurou em seus braços enquanto eu ria.
- Acho que bebi demais. - falei ainda rindo.
- Acho que sim e eu também.
Nós paramos de rir e ficamos nos olhando por algum tempo, olho no olho, ele ainda me segurando. Meu coração disparou e eu pude sentir a respiração dele tão acelerada quanto a minha, sua boca tão perto de mim. Então tudo aconteceu, tão rápido que eu mal consigo explicar como. me puxou pela cintura pra junto dele e colou os lábios dele nos meus. Eu sei que eu deveria ter afastado ele, lutado contra, mas eu não podia, eu não queria, eu desejava estar com ele tanto quanto ele queria estar comigo. Sem pensar em nada puxei ele pelo pescoço, o que fez com que ele aprofundasse o beijo. Ele me prensou contra a pia e o resto dos talheres que ainda estavam lá foram pro chão. subiu a mão pela minha coxa e colocou a mão dentro da minha camiseta fazendo cada pêlo do meu corpo se arrepiar. A gente continuou se beijando enquanto eu puxava ele pela regata em direção à escada que levava ao andar de cima. Quando finalmente chegamos ao meu quarto, fechou a porta atrás de si e me puxou pra junto dele outra vez, nossos corpos colados como se fossem um só. Arranquei a regata que usava e ele fez o mesmo com a minha, apertando meus seios em seguida e me fazendo gemer baixinho. Depois ele abriu meu shorts, beijou minha barriga e foi puxando meu shorts pra baixo lentamente, enquanto beijava minhas coxas. Me livrei da bermuda dele também e nós caímos na cama, ele só de boxer e eu só de lingerie. Coloquei a mão dentro da boxer dele na parte de trás e apertei aquele bumbum que eu sempre achei lindo, ele gemeu no meu ouvido. Logo não existia mais nenhuma peça de roupa entre nós e pude sentir sua pele contra a minha, quente, macia, do jeito que eu me lembrava. Quando senti ele dentro de mim foi como se o mundo pegasse fogo, arranhei suas costas e vive aquela sensação maravilhosa que a tantos anos eu não sentia, não havia ninguém no mundo que conhecesse meu corpo tão bem e que sabia tão bem como me dar prazer. Aos poucos nós nos acalmamos de todo aquele frenesi e rolamos na cama exaustos. Eu ainda estava tentando me recuperar quando me puxou e me abraçou forte, escondendo o rosto no meu pescoço. Não dissemos nada, só ficamos ali abraçados como se nada no mundo pudesse nos separar. Não sei quanto tempo ficamos lá juntos, mas eu queria que tivesse sido a noite toda. Só que eu sabia que era impossível, meus pais voltariam em breve e eu não podia correr o risco de que eles nos encontrassem naquela situação.
- Você precisa ir embora. - falei com a voz abafada de tão colados que nós estávamos.
- Eu sei, antes que seus pais cheguem.
me soltou relutante e levantou lentamente da cama, pegando suas roupas no chão em seguida. Fiquei deitada observando ele se vestir, aquele corpo que eu sempre gostei tanto, os braços que quando me envolviam eu me sentia a mulher mais protegida do mundo, tão pequena perto dele. Depois de se vestir, voltou até minha cama e se sentou nela mexendo de leve no meu cabelo.
- Eu vou, mas amanhã a gente se fala. - disse e eu apenas concordei com a cabeça.
Então ele se inclinou e me deu um último beijo, depois saiu pela porta. Fiquei olhando pro nada algum tempo perdida em pensamentos, antes de levantar, tomar um banho e colocar meu pijama. Quando meus pais chegaram, eu estava encolhida na cama feito uma bola, minha mãe abriu minha porta de leve e eu procurei não fazer barulho para que ela pensasse que eu estava dormindo. A verdade é que eu demorei muito a pegar no sono naquela noite, me sentindo extremamente culpada pelo que havia acontecido. No dia seguinte desci pra tomar café com a pior cara do mundo, aquela nuvem negra mais presente do que nunca.
- Bom dia. - falei desanimada.
- Bom dia, querida. - meu pai respondeu sem notar minha cara.
- Bom dia. Aconteceu alguma coisa? - minha mãe perguntou, porque é claro ela sempre sabia quando havia algo errado.
- Não, só tive uma noite agitada.
Eu estava terminando de comer quando a campainha de casa tocou, minha mãe foi atender e voltou em seguida.
- É pra você. - ela falou com aquela cara de questionamento.
- Tá, eu já acabei aqui. Vou escovar os dentes rapidinho e já atendo.
Nem perguntei quem era, porque eu já sabia, então subi correndo pro meu quarto e voltei logo depois. Quando saí pela porta, estava parado esperando por mim.
- Oi, .
- Oi, . Será que nós podemos conversar?
- Claro, pode falar.
- É, tá, mas , sua mãe está espiando a gente pela janela igual quando você tinha dezesseis anos.
Olhei pra trás e lá estava ela, tentando ver pela fresta da cortina. Revirei os olhos pra cena me sentindo uma adolescente novamente.
- Vem, vamos dar uma volta. - eu disse passando por que me seguiu. Havia uma pequena praça no final da minha rua, nós costumávamos ir quando éramos mais novos. Sentei no pequeno banco com ao meu lado.
- Acho que daqui ela não enxerga a gente.
- É, acho que não. - falou sorrindo.
Ele passou o braço ao redor do meu ombro e beijou a minha bochecha, depois distribuiu alguns beijos pela minha orelha, até chegar aos meus lábios. Antes que eu perdesse completamente o controle, quebrei o beijou tentando falar.
- , para, por favor, temos mesmo que conversar.
- Desculpe. - ele disse se afastando de mim.
Dei um longo suspiro antes de começar.
- , o que aconteceu entre a gente ontem, não podia ter acontecido de jeito nenhum.
- Eu sei, mas não me venha dizer que foi culpa do saquê e que você não sabia o que estava fazendo.
- Não, claro que não. A gente bebeu um pouco além da conta, mas eu estava longe de estar bêbada, eu sabia muito bem o que eu estava fazendo e eu fiz porque eu quis.
- Eu também, tinha plena consciência dos meus atos.
- Mas isso não muda o fato de que foi errado, muito errado. Estou me sentindo extremamente culpada.
- Não se sinta, ninguém deve se sentir culpado por se deixar levar pelos sentimentos.
- Eu sei, mas isso não importa. Não importa o que eu sinto ou o que você senti nesse momento.
- Claro que importa, ! Estamos falando das nossas vidas!
- , você é casado agora! Casado entendeu? Não dá pra mudar o fato de que nossas vidas mudaram, há outras pessoas envolvidas, sua esposa, meu namorado.
- Você nem gosta desse !
- É talvez você tenha razão, talvez eu não goste tanto assim do e nós vamos acabar terminando quando eu voltar pra Nova York. Mas o meu caso é bem mais simples, agora e o seu? Você não pode simplesmente voltar pra L.A. e dizer pra sua mulher que o casamento de vocês foi um engano e agora você decidiu que não quer mais ser casado.
abaixou a cabeça pensativo. Depois olhou pra mim novamente, os seus olhos queimando o castanho escuro dos meus.
- Isso não é justo, .
- E quem foi que disse que a vida é justa? Fizemos nossas escolhas anos atrás e agora vamos ter que arcar com as consequências.
- Mesmo que pra isso fiquemos infelizes pro resto de nossas vidas?
- Não vamos ser infelizes. Quando eu voltar pra Nova York tudo isso vai passar e nós vamos voltar a fazer parte do passado um do outro.
- Você está sendo muito dura.
- Não, estou sendo realista apenas.
Fiz menção de levantar do banco, mas segurou meu braço.
- Aonde você vai?
- Embora, voltar pra minha casa. E enquanto eu ainda estiver aqui em Tampa prefiro que a gente não se veja mais, é melhor assim.
Olhei para a mão dele ainda segurando meu braço pedindo em silêncio que me soltasse. Então ele me soltou, eu levantei e fui pra casa, às lágrimas já escorrendo pelo meu rosto. Nos dias que se passaram eu me dediquei inteiramente aos meus pais, saí pra jantar com eles, fui fazer compras com a minha mãe, ajudei a dar um jeito na casa e tudo mais que era possível fazer com eles. Minha mãe sabia que havia algo errado, mas ela respeito meu momento e não fez perguntas. No sábado de manhã quando eu estava tomando café, uma carta passou pela entrada de cartas na porta. Fui até a porta e peguei o pequeno papel, abri e vi que era uma mensagem de . "Eu sei que você não quer me ver, mas eu preciso ver você. Hoje a noite vai ter uma festa no club que costumávamos ir e eu serei o D.J. da noite. Por favor vá, nem que seja para que eu te veja de longe."
Anexado ao bilhete estava um flyer do evento. Fiquei parada olhando pro bilhete, minha mãe se aproximou para ver o que estava acontecendo.
- Tá tudo bem?
- Vai ter uma festa naquele club que eu costumava ir quando era mais nova, hoje à noite.
- Legal filha e você vai?
- Não sei se devo.
- Por que não, vai se divertir um pouco.
- O vai ser o D.J. da noite.
Minha mãe me observou por um tempo, ela sabia exatamente o que eu queria dizer. Então ela chegou ainda mais perto de mim e abaixou o tom de voz, para que apenas nós duas ouvíssemos a conversa.
- Filha, você precisa enfrentar e resolver de uma vez essa questão da sua vida.
- Eu não posso resolver algo que não pode ser mudado mãe.
- E quem disse que não pode? Você tem que saber o que você quer e lutar por isso.
- Mas mãe é errado, é impossível.
- Não é impossível, mas sim, talvez seja errado. Só que certo ou errado depende muito do ponto de vista. Não estou te incentivando a fazer nada que vá contra os nossos valores, mas eu também não quero te ver infeliz. Eu te disse que você não pode pisar em ninguém pra ter o que quer, mas também não é justo você sacrificar a sua felicidade só para não ferir os outros.
- Então você acha que eu devo ir?
- Acho, vai nessa festa e vê o que dá.
Abracei minha mãe apertado enquanto algumas lágrimas escapavam dos meus olhos.
- Obrigada, mãe!
A noite revirei minhas malas em busca de alguma roupa que servisse pra festa. Acabei achando um vestido curto azul escuro de maguinha que era rodado na parte de baixo. Coloquei ele, pus um scarpin também azul e deixei o cabelo solto. Passei uma maquiagem no rosto, peguei minha bolsa e fui pro club. Quando cheguei lá o local já estava lotado de gente, entreguei o flyer na porta e entrei. Fui direto para perto do bar e encostei-me ao balcão.
- A senhorita deseja alguma coisa? - o barman me perguntou.
- Acho que uma coca por favor.
Então eu o vi, no palco atrás das picapes com o fone no ouvido, tocando animado e lindo como sempre.
- Moço esquece a coca, me trás vodka com gelo por favor. - falei pro barman que riu de mim.
Mas a situação não era nada engraçada, na verdade eu estava desesperada. Alguns minutos depois me avistou de onde ele estava e sorriu, um sorriso do tamanho do mundo. Eu não me mexi, fiquei ali colada no bar tomando minha vodka e vendo ele tocar. As pessoas dançavam animadas na pista, mas eu não tinha vontade de sair de onde eu estava. Depois de umas duas horas tocando sem parar, desceu do palco e veio até mim, meu coração quase saltando pela boca.
- Você veio. - disse encostando-se ao balcão do bar ao meu lado.
- Vim, não sei se devia, mas vim.
- Claro que devia. E você tá linda.
- Você não ia ser o D.J. da noite?
- E eu sou, você não me viu tocando?
- Vi, mas você não deveria continuar tocando a noite toda?
- Uma hora eu preciso de descanso né. - falou rindo. - Mas e aí que tal dançarmos um pouco?
- Não, eu tô bem aqui.
- Você quer beber alguma coisa então?
- Eu já bebi.
- , você não precisa ficar tão na defensiva comigo.
Analisei o rosto de um instante antes de responder.
- Acho que eu não devia ter vindo mesmo. É melhor eu ir embora.
Desencostei do balcão e passei rapidamente por , seguindo em direção a porta.
- Não, , espera! Volta aqui! - ouvi falar logo atrás de mim.
Não olhei pra trás e nem parei de andar, continuei indo em direção a saída até estar fora do club.
- , espera! - disse me alcançando e agarrando meu braço já na calçada em frente à entrada do club.
- Me larga, , me deixa ir embora.
- Não, não vou deixar.
Então me puxou pela cintura e me beijou, um beijo feroz e urgente. Eu não conseguia lutar contra ele, rapidamente comecei a me perder naquele beijou e quando me dei conta estávamos no beco que ficava bem ao lado da saída do club, me prensando contra a parede. O beijo foi ficando cada vez mais quente, eu agarrada em seu pescoço como se precisasse daquilo pra viver. Senti a mão de subir pela minha coxa por baixo o meu vestido, eu e ele ficando cada vez mais ofegantes.
- Para, , para, por favor. - eu tentava dizer entre um beijo e outro.
- Não posso, não consigo.
- Temos que parar!
- Não, eu quero você, eu preciso de você agora. Vem comigo pro meu hotel, por favor. - disse distribuindo alguns beijos pelo meu pescoço.
- Eu vou... Eu vou.
me puxou rapidamente pela rua e pegamos o primeiro táxi que passou. Quando chegamos ao hotel e subimos pro quarto nem tive tempo de pensar no que estava fazendo, pois fechou a porta e me agarrou, me beijando daquele jeito voraz novamente. Em pouco tempo havíamos nos livrado de nossas roupas e estávamos na cama nos amando de uma forma louca, intensa, como se aquele momento fosse o único que importasse. Só quando tudo acabou e nós estávamos abraçados de conchinha na cama, a respiração suave de batendo em meu pescoço, foi que eu tomei consciência do que havia feito novamente. Fiquei ali pensando sem conseguir pegar no sono, mas também sem me mexer para que pensasse que eu estava dormindo. Eu não sei se ele pensava que eu estava realmente adormecida, mas ele se inclinou lentamente até ficar com a boca perto da minha orelha.
- Eu ainda amo você, . - sussurrou em meu ouvido.
Tive que me segurar para não esboçar nenhuma reação com o que ele disse, mas meu coração deu um salto dentro do peito, embora eu soubesse que aquilo não mudava nada. Fechei os olhos e tentei aproveitar ao máximo aquele momento, os braços de me envolvendo, seu cheiro, o calor do seu corpo, tudo que eu senti tanta falta. Depois de um tempo acabei pegando no sono e quando acordei os primeiros raios de sol já entravam pela janela. Levantei devagar, tentando me soltar de sem acordá-lo. Peguei minhas roupas no chão, fui ao banheiro me arrumar e quando voltei, sentei ao lado de na cama, ele dormia tranquilamente.
- Eu também ainda amo você, . - sussurrei em seu ouvido. - Mas é impossível. Adeus, .
Dei um último beijo na bochecha dele e saí do quarto. Tentei segurar o choro, mas logo as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto descontroladamente. Peguei um táxi e fui pra casa o mais rápido que eu pude, e assim que cheguei subi pro meu quarto, me joguei na minha cama e abracei meu travesseiro tentando abafar os soluços. Logo minha mãe entrou pela porta do quarto, sentou na minha cama e mexeu nos meus cabelos. Ela me deixou chorar por um tempo até que eu conseguisse me acalmar o suficiente pra falar.
- Então não deu certo?
- Ele disse que ainda me ama. - falei sentindo o gosto salgado das lágrimas.
- E por que você está chorando?
- Você não entende, mãe? É impossível, de nada adianta o que nós sentimos, ele é casado agora, é muito mais complicado do que parece.
- E você não vai nem lutar? De novo?
- Eu deveria ter ficado e lutado há quatro anos atrás, agora é tarde, nosso tempo passou.
- Sinto tanto por você filha. - minha mãe disse com um longo suspiro.
- Vai ficar tudo bem, vai passar. Mas eu preciso ir embora, eu sei que prometi ficar duas semanas, mas não dá. Quero ir embora amanhã bem cedo.
- Tudo bem, se você prefere assim. Vou dizer ao seu pai que surgiu uma emergência na revista.
- Obrigada mãe, obrigada por tudo. - falei e sentei na cama para abraça-la.
Quando minha mãe me deixou sozinha, remarquei minha passagem pro dia seguinte e comecei a arrumar minhas malas. Minha mãe disse que me ligou durante o dia, mas eu pedi para ela dizer que eu não estava e também que não comentasse que eu estava indo embora. No dia seguinte levantei bem cedo e meus pais me levaram até o aeroporto.
- É uma pena que você precise voltar uma semana antes querida. - meu pai disse me abraçando.
- Também sinto muito pai, mas assim que der eu volto.
- Se cuida filha, espero que tudo se acerte dentro dessa cabecinha. - minha mãe disse baixinho no meu ouvido quando me abraçou.
- Também espero, mãe.
Depois de me despedir dos meus pais, embarquei no avião de volta para Nova York, me sentindo ainda mais perdida do que quando vim para Tampa. Quando cheguei em casa, liguei pra e contei que estava de volta e claro, que precisava do colo dela. Em pouco tempo ela estava na minha casa, com um pote de sorvete na mão e os braços abertos pra mim.
- , pelo amor me diz como você consegue? Você vai pra Tampa pra tentar encontrar uma solução pra sua vida e volta de lá metida numa confusão pior do que a que você deixou aqui. - disse enquanto comíamos o sorvete sentadas no sofá.
- Eu sei, eu sou ridícula, eu consigo fazer essas coisas.
- Ainda tô passada sabe, seu ex namorado gato, toda a história de vocês saindo do bueiro assim do nada.
- Não foi do nada, é esse azar que me persegue mesmo. Sempre pode piorar pro meu lado.
- Mas você o ama e ele ainda te ama, vocês deviam ficar juntos!
- E como vamos fazer isso se ele é casado agora?
- Que saco viu, a vida podia ser mais simples.
- Também acho.
- Mas e quanto ao ?
- Ah o já deu tudo que tinha que dar, vou terminar com ele de vez.
- Sinto muito, amiga, queria ver você feliz.
- Eu também queria sabe, mas acho que a felicidade completa não foi feita pra mim.
Eu não gostava de ficar me lamentando pelos cantos, mas estava difícil evitar isso nos últimos tempos. Como eu falei pra , terminei com o realmente, não havia mais por que ficarmos juntos. Uma semana já havia se passado desde que voltei para Nova York, eu já havia voltado a trabalhar e tentava me ocupar com meus compromissos profissionais. Naquele dia eu saí do trabalho e fui dar uma volta no Central Park. Eu estava parada na ponte que fica sobre o lago, olhando a água calma, quando alguém parou do meu lado.
Olhei pro lado assustada, me deparando com ali parado.
- ? O que você está fazendo aqui? E como você sabia que eu estava aqui?
- Eu vim pra Nova York atrás de você. Fui até a revista que você disse que trabalha, mas você já tinha saído.
- E você resolveu vir me procurar aqui?
- Resolvi andar e achei que aqui seria um bom lugar pra te encontrar quem sabe.
- , eu tô confusa. Porque você veio atrás de mim? Pensei que o fato de eu ter ido embora sem me despedir tivesse deixado claro que eu não queria mais te ver.
- Você já foi embora sem se despedir uma vez e eu não fiz nada, não podia deixar isso acontecer novamente.
Deu um longo suspiro antes de responder.
- , será que você não entende? É impossível!
- Nada é impossível, . Além disso, não é justo, eu sei que você ouviu quando eu disse que ainda te amo e eu também ouvi você dizendo que também me ama antes de ir embora.
- Mas essa não é a questão.
- E qual é a questão?
- A questão é que agora você é casado! É tarde demais pra nós dois. - eu disse completamente frustrada. - Eu devia ter ficado e lutado por você há quatro anos, você devia ter vindo atrás de mim há quatro anos, agora o tempo já passou.
- Será que você não percebe que o destino está nos dando uma nova chance? Não podemos fazer tudo errado novamente.
- E me diz como vamos fazer isso sem machucar ninguém?
deixou um sorriso de canto escapar antes de falar.
- Sabe, eu fui pra Tampa por uns dias pra esfriar a cabeça, eu e a minha esposa havíamos brigado, mais uma das nossas tantas discussões.
- Pensei que vocês se dessem bem.
- Nós nos damos bem, mas nos damos melhor como amigos do que como casal, só sei que as coisas não andavam tão bem. E daí eu te encontrei e tudo virou de ponta cabeça, percebi que nunca esqueci você e que havia cometido um grande erro ao deixar nossa história acabar.
- Nós dois erramos muito.
- Vocês vão o que?
- Isso mesmo que você ouviu.
- Você não pode fazer isso! Eu vou me sentir culpa pro resto da vida.
- Não seja boba, , não tô fazendo só por você, mas por mim também, eu quero ser feliz.
então se virou pra mim e fez com que eu virasse de frente pra ele também, os dois se encarando nos olhos.
- Não estou pedindo pra você ficar comigo se não quiser, mas eu tô fazendo minha escolha. Não quero continuar em um casamento fracassado, quero ficar livre pra ter a chance de ser feliz de verdade. E eu adoraria que você ficasse comigo, só assim eu seria completo.
Observei aqueles olhos por um instante.
- Sabe quando a gente se reencontrou você disse que eu parecia perdida.
- E parecia mesmo, perdida no meio da escuridão, tão diferente da garota que eu conheci.
- Acho que eu estava mesmo, minha vida se tornou uma grande confusão desde que eu vim pra Nova York. E a única explicação que eu encontro é você, não havia mais luz em mim porque você era o que me iluminava.
- Então, deixa eu voltar a iluminar a sua vida. Prometo nunca mais deixar você, vou passar o resto dos meus dias tentando compensar esse tempo que ficamos separados, vou te abraçar todas as noites e você nunca mais vai se sentir sozinha.
- Mas o que as pessoas vão dizer?
- O que importa o que as pessoas vão dizer? O que importa é que estaremos juntos.
- Eu pensei que tudo havia acabado pra nós.
se aproximou mais de mim e abriu um sorriso.
- Lembra do que eu costumava te dizer quando a gente namorava?
- O que?
- Que nosso amor é feito pólvora, é só acender uma faísca perto de nós que a gente pega fogo.
Eu ri ao ouvir aquilo.
- Ninguém pode apagar essa chama, , nem o tempo, nem outras pessoas.
- Agora eu sei disso. Sei que você é o único que pode me fazer feliz de verdade.
me envolveu pela cintura e encostou seu nariz no meu.
- Eu te amo garota, com todo meu coração.
- Também te amo, desde sempre e pra sempre.
Então ele me beijou apaixonadamente e eu soube que dessa vez nada mais ia nos separar. Ele foi o único amor da minha vida e ainda era, ele seria meu único amor sempre e eu finalmente estava plenamente feliz outra vez.
Foi isso que ele me disse na época que ainda estávamos juntos e é isso que ele me diria quando nos reencontrássemos. Quando eu achava que não existia mais nenhum resquício de amor entre nós, ele voltou pra me mostrar que era o único capaz de me fazer feliz.
O sol brilhava forte anunciando a chegada do verão em Nova York, o que parecia deixar as pessoas felizes. Eu nasci e cresci na ensolarada Flórida, na cidade de Tampa, mas depois de tanto tempo morando em Nova York já havia me apaixonado pelo frio e pela neve. Eu morava em Nova York há quatro anos, desde que terminei a faculdade. Eu me formei em jornalismo na Universidade da Flórida em Gainesville, que ficava a duas horas de carro de Tampa e quando estava no último mês de aula recebi uma proposta de emprego para trabalhar em uma grande revista de moda em Nova York. Achei uma oportunidade incrível e resolvi aceitar, às vezes eu penso se foi isso que me separou dele, mas daí eu lembro que não, que muita coisa aconteceu em nossas vidas.
Eu ainda trabalhava na mesma revista e havia sido recém-promovida a editora chefe, tinha um namorado gato chamado , nós nos conhecemos em um trabalho que fiz pra revista, ele era modelo e aspirante a ator. Eu morava num apartamento legal com vista pra Times Square e tinha uma melhor amiga pra todas as horas, a , que trabalhava comigo na revista. Minha vida parecia perfeita, mas a verdade é que eu estava perdida, às vezes eu simplesmente não encontrava sentido pra minha vida. E tudo ficou pior quando decidiu que queria dar um tempo.
- Como assim você quer dar um tempo?
- É isso que você ouviu , dar um tempo no nosso relacionamento.
- Você sabe muito bem o que penso sobre dar um tempo, tempo pra mim é fim de namoro.
- Você é muito radical.
- Radical? Eu sou realista! Além disso, você que é o errado desta história!
- , você tá fazendo uma tempestade no copo d'água. Começou essa briga só porque eu estava conversando com uma modelo no desfile de ontem.
- Eu conheço muito bem esse mundinho de vocês! Você estava falando com ela ao pé do ouvido, tá achando que sou idiota?
- Você exagera demais e é por isso que acho que devemos dar um tempo.
- Quer saber, fica com o seu tempo. - eu disse pegando minha bolsa e me dirigindo até a porta do apartamento dele. - Você vai ter todo tempo do mundo, só não venha me dizer depois que esta arrependido!
- Você tem que parar de ser tão estressada, gata!
- NÃO ME CHAMA DE GATA! - eu disse e taquei um vaso que ficava perto da porta nele, do qual ele desviou.
Depois saí batendo a porta, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Corri pra casa da e quando cheguei lá desabei de chorar em cima dela.
- Chora, , chora que faz bem. - ela disse mexendo no meu cabelo enquanto eu chorava deitada no colo dela.
- A minha vida amorosa é um desastre, nada dá certo!
- Também não é assim vai, você e o estão a quase três anos juntos, pareciam felizes.
- Eu pareço feliz, minha vida parece linda, mas não está tudo bem. Eu tenho uma carreira ótima, mas a vida pessoal não funciona.
- , você é jovem, não é como se você tivesse ao quarenta anos desesperada porque ainda não casou.
- Quarenta não, mas daqui a pouco tô com 30 e gostaria muito de ter filhos antes disso.
- Faltam quatro anos pros 30, dá tempo de arrumar sua vida amorosa até lá.
- Já não tenho tanta certeza.
- Odeio quando você fica pessimista.
- Desculpa. Quer saber já sei o que eu vou fazer. - eu disse sentando no sofá e enxugando minhas lágrimas. - Vou visitar meus pais em Tampa.
- Olha, taí uma boa ideia.
- Eu não tiro férias a séculos, vou tirar pelo menos umas duas semanas pra mim e vou lá visitá-los.
- Faça isso, eu seguro as pontas na revista. Você tá mesmo precisando respirar outros ares.
- Ótimo, amanhã mesmo começo a providenciar isso.
Resolvi tudo na revista em uma semana, eu queria ir o mais rápido possível pra Tampa e não queria ver o tão cedo. Avisei meus pais e eles ficaram muito animados de saber que eu finalmente ia tirar um tempo fora da época de Natal e Ano Novo pra ir pra casa. No final de semana arrumei minhas malas e parti pra Tampa esperando que o sol da Flórida derretesse o gelo que havia dentro de mim.
- Filha! - minha mãe disse abrindo os braços quando bati na porta de casa. - Que saudades meu amor.
- Saudades também mãe.
- Vem, entra, vamos tomar um café da tarde, fiz tudo que você ama pra comer.
- Cadê o papai?
- Já tá na mesa te esperando.
Sorri para minha mãe, a sensação boa de estar protegida.
- Minha garotinha! - meu pai disse quando entrei na sala de jantar.
- Pai, que saudades! - o abracei e tive que me segurar para não chorar.
Eu não queria que meus pais soubessem que aquelas pequenas férias eram uma válvula de escape para os meus problemas. Nós comemos juntos e conversamos, colocando o papo em dia, minha mãe me atualizando de todas as fofocas do bairro. Quando terminamos, meu pai foi ver TV e eu fui ajudar minha mãe com a louça.
- Eu lavo, você enxuga. - minha mãe disse me entregando um pano de prato. Sorri e peguei o pano lembrando que sempre fazíamos isso quando eu morava em casa, era a hora da conversa só entre mulheres.
- Então, o que mais de interessante tem acontecido por aqui que você não quer contar na frente do meu pai?
- Nada demais, só que a vida é feita de coincidências.
- Como assim?
- Sabe quem está na cidade esse final de semana também?
- Quem?
- O .
- Que ?
- O único que você conhece , o .
Fiquei olhando pra minha mãe por alguns segundos, segurando um prato na mão e tentando processar a informação.
- Pensei que a família dele não morasse mais aqui e ele nem se dá bem com os pais dele.
- Eles não moram, mas o gosta da cidade e vem aqui de vez em quando.
O foi um caso sério na minha vida, minha paixão por ele começou muito antes de eu entender o que era o amor. Eu era só uma menininha de oito anos quando ele se mudou pra nossa rua, ele já era um adolescente com 17 anos na época. Fiquei encantada com ele garoto de cabelos e de olhos extremamente , mas é claro que ele nem me enxergava, já que nove anos de diferença nos separavam. Só que eu cresci e um dia finalmente ele olhou pra mim, eu tinha dezesseis anos quando fui a um show num barzinho próximo de casa onde o ia se apresentar com a banda dele. Aliais, esse é um fato importante sobre o , ele fazia parte de uma banda vocal, eles se apresentavam aqui e ali, primeiro só na Flórida, depois em alguns cantos do país. Eles não eram mundialmente famosos, mas hoje em dia já conseguiam viver da música cantando na noite. E foi em um show assim há anos atrás que ele me beijou pela primeira vez, eu estava sentada numa mesa logo na frente do palco, ele me olhou a noite toda. Quando o show acabou, ele veio conversar comigo e a gente acabou ficando. Nem sei expressar o quanto eu fiquei feliz, eu era totalmente apaixonada por ele. Depois disso nós começamos a namorar, no começo meio escondido, afinal, meus pais ainda me achavam muito nova pra ele, mas depois acabaram aceitando. Nós namoramos por dois anos antes de eu ir para faculdade e quando eu tive que ir, continuamos tentando fazer dar certo, afinal a universidade que eu estudava não era longe de Tampa. Deu certo por muito tempo, até que eu decidi aceitar a proposta para trabalhar e morar em Nova York, mas não foi isso que nos separou. Talvez eu tivesse recusado a proposta, se nosso namoro não tivesse terminado antes. Acontece que ele conheceu outra garota, ou melhor, uma mulher. Um ano mais nova que ele e, no fim, a minha ausência acabou fazendo a diferença. Eu estava há apenas duas horas dele em uma cidade muito próxima, mas foi o suficiente para ele conhecê-la. Ele nunca me traiu, ele só foi sincero me dizendo que havia conhecido outra pessoa e que estava confuso, só que eu sou muito impulsiva e nem tentei brigar por ele. Eu simplesmente aceitei a proposta de trabalho em Nova York, me formei, fiz minhas malas e fui embora sem nem me despedir dele. Eu dei nossa história por encerrada e fui viver uma nova vida em Nova York. Algum tempo depois conheci o e acabei deixando o passado pra trás. Mas naquele momento eu me lembrei de toda nossa história e foi estranho pensar nele depois de tanto tempo.
- Mãe, por que você está me falando isso?
- Por nada oras, apenas pra você não se surpreender se cruzar com ele por aí.
- Sei. - eu disse secando o prato mais do que o necessário. - Ouvi dizer que ele casou, é verdade?
- Sim, casou, com aquela mesma moça de quatro anos atrás.
Saber que ele casou com a mulher pela qual ele ficou confuso quando ainda namorava comigo, me causou uma sensação desconfortável.
- Mas ele só casou com ela por falta de opção.
- Como assim? - perguntei arqueando uma sobrancelha.
- Porque você foi embora, claro.
- Ah mãe, por favor, não fala besteira.
- Não é besteira e você sabe disso. Não é a toa que sua vida amorosa não tem dado certo.
- Saiba que minha vida amorosa vai muito bem obrigada, eu tenho um namorado muito gato.
- Aham, vou fingir que acredito.
- Pois acredite e vamos terminar logo essa louça.
Minha mãe não tocou mais no assunto do comigo o restante do dia e nem da minha vida amorosa, o que foi um alívio. Quando a noite chegou logo depois do jantar, resolvi sair pra dar um volta.
- Onde você vai, filha? - minha mãe perguntou quando passei pela sala aonde ela e meu pai assistiam TV.
- Só dar um volta por aí.
- Tudo bem, mas vê se não volta tarde. E leva um casaco que tá ventando.
- Mãe, pelo amor de Deus, eu não sou mais criança. - eu disse revirando os olhos.
Saí pelas ruas do meu bairro sem rumo certo, só pensando na vida, na minha vida atual e na vida que vive em Tampa. Eram realidades tão diferentes que nem pareciam pertencer a mesma pessoa. Entrei em uma rua comercial do bairro aonde haviam alguns restaurantes e lanchonetes. Decidi parar em uma lanchonete que vendia um sorvete de massa que eu amava, pedi um e fui sentar em uma mesinha perto da janela. Eu estava lá remexendo meu sorvete quando alguém parou em frente à mesa.
- ?
Olhei pra cima e fiquei mais congelada que o sorvete que eu estava tomando. Aquele par de olhos me encarava fixamente, não havia outros olhos como aqueles e nem uma voz como aquela, que eu teria reconhecido mesmo que não tivesse olhado pra cima. estava do mesmo jeito que eu me lembrava, apenas com menos cara de bebê e muito mais cara de homem, o que no caso o corte de cabelo contribuía para isso, estava , nada dos fios jogados que eu me acostumara a ver. Ele era muito alto e já não era mais aquele adolescente magrinho da minha infância, os braços tinham músculos e embora estivesse com uma gordurinha sobrando na cintura, ele ainda estava gostoso o suficiente pra chamar atenção das mulheres por onde passava. Aliais, qualquer cara que estivesse usando a roupa que ele tava, bermuda camuflada e regata preta, pareceria largado, já ele parecia incrível.
- ? Você por aqui?
- Eu é que digo isso, você por aqui? Porque até que eu venho às vezes pra Tampa, mas você quase não aparece desde que se mudou.
- Pois é, coisas da vida.
- Será que posso me sentar com você?
- Pode, claro.
puxou a cadeira e se sentou de frente pra mim.
- É muito bom te ver de novo. - ele disse com aquele sorriso encantador.
- Bom te ver também.
- E como anda a vida em Nova York?
- Tudo ótimo, fui recém-promovida a editora chefe na revista que trabalho.
- Que incrível, ! Eu sempre soube que você seria uma jornalista extremamente competente.
- Igual você é um ótimo cantor. Como anda a banda, os caras?
- Todos bem e agora a gente consegui pagar nossas contas vivendo da música. - ele disse rindo.
- É eu sei, minha mãe sempre comentava sobre sua banda.
- E você continua sozinha lá em Nova York?
- Não, eu tenho amigos, uma grande amiga pra ser mais específica que trabalha comigo, ela se tornou minha família por lá.
- Eu sei que você tem amigos, quero dizer se você não se casou ou algo assim.
- Não, eu não me casei, mas tenho um namorado, tinha pelo menos.
- Como assim?
- Nada que venha ao caso. Mas eu sou muito nova pra casar ainda sabe, o velho aqui é você. - eu disse rindo.
- Nossa obrigado pela parte que me toca, agora me sinto um ancião.
- Desculpa.
- Não tem nada, mas eu tô ficando velho mesmo.
- Você tá ótimo.
- A gente faz o que pode né.
- Com certeza. Mas então, você em compensação se casou, né?
- Casei sim. - disse parecendo meio desconfortável com o assunto.
- E onde está sua esposa?
- Em casa, lá em Los Angeles. Eu moro lá agora, a gente mora lá.
- Sim, eu já sabia que você não morava mais aqui. Mas o que eu quis dizer foi por que ela não está aqui com você.
- Porque eu gosto de viajar sozinho quando venho pra Tampa.
- Entendi.
Ficamos alguns segundos num silêncio constrangedor.
- Seu sorvete está derretendo, . - disse apontando para minha mão. Olhei para minha mão, eu segurava o copinho de sorvete com muita força e vi que o sorvete estava mesmo derretendo e escorrendo pela minha mão.
- Acho que eu não quero mais. - eu disse pegando um guardanapo na mesa e secando minha mão. - Na verdade, é melhor eu voltar pra casa.
Eu levantei rapidamente da mesa e fez o mesmo.
- Posso te acompanhar até sua casa?
- Por quê?
- Sei lá, só pra gente conversar com pouco mais.
- Não precisa, .
- Por favor, eu faço questão.
Dei um longo suspiro antes de responder.
- Tudo bem.
Caminhei para a saída da lanchonete com logo atrás de mim. Nós caminhamos lado a lado enquanto conversávamos.
- Mas me diz o que tanto você faz em Tampa. Você não mora mais aqui, nem sua família.
- Mesmo que minha família ainda morasse aqui, eles não seriam o motivo de eu vir pra cá, você sabe que não me dou bem com meus pais.
- Eu sei e por isso mesmo me surpreende você vir tanto aqui. Pensei que Tampa tivesse um passado que você queria esquecer.
- Não é bem assim, a minha vida familiar foi ruim, conturbada e eu vive tudo isso aqui. Mas também teve coisas boas, os amigos que deixei aqui, as lembranças, gosto de vir aqui pra lembrar só da parte boa.
- Eu espero que eu faça parte das boas lembranças, não das ruins. - eu disse rindo.
- Você faz parte das melhores lembranças, aquelas que eu nunca quero esquecer.
Eu tenho certeza que corei nessa hora e fiquei feliz de avistar minha casa, então eu não precisaria prolongar aquela conversa por muito mais tempo.
- Olha só sua casa, quanto tempo eu não vinha aqui. - disse quando paramos em frente minha porta.
- Pois é, e nem minha casa é mais, é a casa dos meus pais. Embora eles ainda mantenham o meu quarto sempre a minha espera.
- Tanta coisa mudou, não?
- Tudo mudou.
me observou por alguns segundos atentamente.
- , você não tá bem, né?
- Como assim? Tem alguma coisa errada com a minha aparência? - eu disse mexendo no cabelo por reflexo.
- Não, eu não tô falando fisicamente, de aparência você continua linda como sempre. Tô falando de estado de espírito.
- Acho que ainda não entendi.
- Você sempre foi uma garota tão cheia de vida, eu costumava olhar pra você e é como se houvesse um sol brilhando dentro de você. E agora você parece tão fechada, tão perdida e até um pouco triste, sei lá.
- Talvez seja impressão sua.
- Talvez, mas eu era uma das pessoas que mais te conhecia no mundo.
- É você era, mas a gente não tem mais essa intimidade , então você não pode esperar que eu te conte meus segredos.
- Você tem razão, me desculpe. Acho que eu perdi esse direito há muito tempo. Ele tinha mesmo perdido aquele direto, nós havíamos perdido muito coisa em relação um ao outro.
- Bom, é melhor eu entrar, né, já tá tarde. Boa noite, .
- Boa noite, .
Entrei em casa, fechei a porta e olhei pela janela da sala, se afastava devagar. Legal destino, valeu mesmo, minha vida já ta muito fácil pra você colocar meu ex namorado de adolescência no meu caminho também. Eu poderia fazer as malas e voltar pra Nova York, mas daí eu teria que explicar pros meus pais os motivos e teria que encarar o . Não, era melhor ficar aonde eu estava. Me arrastei até meu quarto, a casa estava silenciosa e com luzes apagadas, meus pais já deviam estar dormindo. Pus meu pijama e me enfiei debaixo do edredom, fiquei vendo um pouco de TV até pegar no sono. No dia seguinte eu poderia ficar dormindo o dia todo, mas fui despertada pela minha mãe.
- Vamos, , acorda!
- Não, me deixa dormir! - eu disse enfiando a cabeça debaixo do travesseiro.
- Já são onze horas, você não pode ficar dormindo o dia todo!
- Posso sim, ainda é madrugada pra mim.
- Tem um sol lindo brilhando lá fora esperando por você.
- Não quero sol, quero a escuridão do meu quarto, quero ficar desmaiada na minha cama.
- Nem adianta, não vou deixar você ficar mofando aqui. - minha mãe disse me sacudindo.
- Ai que saco, hein! - eu disse me rendendo e levantando.
- Olha os modos, menina!
Fui tomar um banho pra acordar e depois desci pra tomar café.
- Bom dia, pai. - eu disse me sentando à mesa.
- Bom dia, querida.
Minha mãe veio da cozinha trazendo wafles e suco de laranja.
- Se a senhorita pensa que vai dormir o tempo todo enquanto estiver aqui está muito enganada. - minha mãe disse colocando os wafles na minha frente.
- Eu deveria poder dormir sabe, primeiro porque hoje é domingo, é dia de dormir, segundo porque estou de férias.
- Férias são pra aproveitar.
- Mãe, você precisa entender que as pessoas tem concepções diferentes de aproveitar. Eu aproveito a vida dormindo. - eu disse e meu pai riu.
- Nem parece jovem viu.
- Sou jovem, mas tenho espírito de velha.
- Muito engraçado. Vai toma logo esse café que vou fazer você sair de casa de qualquer jeito.
- Como assim?
- Vou preparar um almoço daqueles e preciso que você vá ao mercado comprar essas coisas pra mim. - minha mãe disse me dando uma lista.
- Sério mesmo? Oh não, meu Deus estou sendo escravizada novamente nessa casa! - falei cobrindo o rosto com as mãos e arrancando uma gargalhada do meu pai. – Pai, me salva!
- Ah não, me deixem fora dessa, isso é entre você e sua mãe. - ele disse ainda rindo.
- Quanto drama viu. Vai menina, come logo e vai fazer o que pedi.
Assim que terminei meu café saí pro mercado pra comprar as coisas pra minha mãe. Eu estava segurando uma cestinha de mercado, na sessão de enlatados, tentando ver a data de validade de uma lata de ervilha, quando senti alguém me observando.
- Meus Deus! - eu disse dando um gritinho e derrubando a lata de ervilha.
- Desculpe, te assustei né.
Olhei pra cima e lá estava ele, de novo, o .
- Misericórdia, , não faz mais isso não.
pegou a lata que eu derrubei no chão e me entregou.
- Foi mal. Mas e aí sendo abusada pela sua mãe como nos velhos tempos? - ele disse rindo.
- Pois é, a gente fica tanto tempo longe de casa e algumas coisas nunca mudam.
- Deixa eu te ajudar.
Eu hesitei.
- Adianta eu dizer que não? - eu disse e ele deu um sorriso torto perfeito. - Ah ok, se você insisti.
Entreguei a cesta pra ele e continuei pegando as coisas com ele do meu lado. Conversamos muito e ele novamente me acompanhou até em casa, carregando as sacolas pra mim.
- Obrigada, não precisava ter se incomodado em vir até aqui. - eu disse pegando as sacolas.
- Foi um prazer.
Então a porta de casa se abriu e minha mãe saiu de lá.
- , até que enfim... - ela parou de falar quando viu . - Ah ? Olá.
- Oi, Sra. , como vai?
- Bem obrigada e você?
- Bem também.
- Agora entendi porque você demorou. - minha mãe disse me olhando.
- A gente se esbarrou no mercado e o foi gentil me ajudando com as sacolas.
- É a gente tem se esbarrado muito desde ontem. - disse rindo.
- Ah vocês se viram ontem? - minha mãe me olhou com aquele olhar intimidador.
- Sim mãe, a gente se encontrou numa lanchonete. - falei bufando. - Mas enfim, toma tudo que você pediu mãe, vai entrando e eu vou logo em seguida. - falei entregando para minha mãe as sacolas.
- Prazer em vê-la, Sra. .
- O prazer foi todo meu, . - minha mãe disse e entrou, mas não sem antes me dar mais um olhar significativo.
- É melhor eu entrar também antes que minha mãe volte pra me buscar.
- , espera, queria te perguntar uma coisa.
- Pergunte.
- Eu tô com um par de ingressos pra um jogo de basquete no Amalie Arena amanhã a noite. Será que você não quer ir comigo?
- Não sei se é uma boa ideia, .
- Por que não? Qual problema? Somos amigos ainda, não tem nada demais você ir a um jogo comigo.
- As pessoas podem comentar.
- Eu não ligo pro que as pessoas falam, eu sei muito bem o que faço. Poxa, faz tanto tempo que a gente não se vê e eu sei que você adora basquete, pelo menos costumava gostar.
- Eu ainda gosto, sempre vou aos jogos em Nova York com a minha amiga .
- Então vamos lá, vai ser legal. Vai ser Miami Heat contra Orlando Magic.
- O que? Meu time contra o seu? Ah não acredito que depois de tantos anos você ainda quer ver seu time apanhar do meu e ainda comigo de testemunha.
- Ah nem vem, você sabe que o Orlando é mil vezes melhor que o Miami, sempre foi.
- Nunca foi e nunca será. - falei rindo. - Tudo bem eu vou, só pra ver o Orlando levar uma surra.
- Isso é o que veremos. Te pego as sete então.
- Fechado. Até amanhã.
- Até!
Entrei em casa e minha mãe me esperava na entrada da sala.
- Que foi, mãe?
- Então você vai sair com ele amanhã?
- Mãe, que coisa feia, não acredito que você ficou ouvindo atrás da porta!
- Fiquei pro seu bem. ele é casado agora.
- Mãe, eu sei muito bem disso, mas isso não é um encontro, a gente só vai ver um jogo. E não é porque ele casou que não podemos mais ser amigos.
- Sabe a quase dez anos atrás você me disse a mesma coisa: mãe é só um show, só vou ver a banda dele cantar. E você voltou do show namorando com ele.
- Não foi bem assim, a gente não começou a namorar oficialmente naquele dia. - Não estou brincando, .
- Mãe, não se preocupe, eu já sou uma mulher, sei muito bem o que faço.
- Eu sei que é, mas quando há sentimentos envolvidos a gente pode ter 20,30,40 anos que age como se tivesse 15 anos.
- Isso não vai acontecer. Não tem sentimentos envolvidos, até porque eu tenho um namorado.
Minha mãe segurou minha mão.
- Eu sei que tem coisas que você não quer falar, mas não precisa, eu te conheço desde o dia que você nasceu. Sei que tem muita coisa errada acontecendo com você. Só quero te dizer que às vezes as coisas estão muito erradas mesmo e nós estamos com as pessoas erradas, a gente só não pode passar por cima de ninguém pra concertar as coisas.
- Eu entendi, mãe. Eu vou ficar bem e não farei nada de errado, não se preocupe.
- Espero mesmo.
Passei o resto do dia pensando no que minha mãe me dissera, eu não estava fazendo nada de errado, estava? Era só um jogo, o fato de eu ter amado aquele cara loucamente não significava nada agora, não tinha mais importância porque nossas vidas haviam tomado rumos diferentes. Fiquei pensando o que poderia ter acontecido se eu tivesse ficado e lutado por ele, será que seria eu a esposa dele agora? De qualquer forma eu nunca saberia a resposta, provavelmente eu voltaria pra Nova York ao final dessas duas semana e me entenderia com o , talvez a gente até se casasse. Fui dormir com estes pensamentos naquele dia, mas não consegui ficar na cama até tarde. O dia seguinte pareceu se arrastar, cada minuto durando uma eternidade pra noite finalmente chegar. Eu me arrumei pro jogo, uma roupa bem casual, calça legging preta e minha camiseta branca do Miami Heats, coloquei meu All Star branco de couro e fiz um rabo de cavalo alto. Nem caprichei na maquiagem, afinal era um jogo de basquete, então deixei o mais natural possível. As sete em ponto o chegou pra me buscar.
- Boa noite! - eu disse abrindo a porta da frente.
me olhou de cima abaixo, me deixando complemente corada.
- Você está ótima.
- Tô normal. - eu disse dando de ombros.
- E aí pronta pra ver o Miami perder?
- Só nos seus sonhos.
Partimos para o Amalie Arena, o lugar já estava cheio quando chegamos, mas os ingressos do eram num ótimo lugar na segunda fila.
- Me responde sinceramente, se você veio pra Tampa sozinho, por que estava com dois ingressos pra um jogo e num lugar ótimo por sinal?
segurou o riso.
- Que foi? pode falar agora!
- Eu já queria comprar os ingressos, mas não tinha com quem ir. Quando te encontrei sábado à noite, corri aqui pro Amalie e comprei dois ingressos. Se eu não tivesse te encontrado no mercado no dia seguinte, eu ia até sua casa te chamar pro jogo.
- Mas eu podia não ter aceitado.
- Eu tinha certeza que você ia aceitar.
- Você é um cara de pau sabia?! - eu disse dando um soquinho no braço dele e nós rimos.
Não tive tempo de contestar mais sobre os ingressos porque o jogo começou e nós como fanáticos por basquete, começamos a torcer e vibrar a cada lance. No intervalo do primeiro tempo, foi comprar cachorro-quente e coca-cola para nós.
- Eu amo isso aqui! - eu disse dando uma mordida gigante no meu cachorro-quente.
- Eu também. Não que eu seja que nem você que come o mundo e não engorda.
- Hey eu não como o mundo! - falei fazendo cara de brava.
- Come sim. - ele disse rindo. - Mas pra sua sorte você não engorda, já eu tenho que me cuidar. Só que não dá pra resistir a certas guloseimas.
- Não mesmo. Mas então, eu não disse que meu time ia ganhar.
- , foi só o primeiro tempo tá, ainda tem mais três tempos. Tempo certeza que o Orlando vai virar.
- Desiste, , esse jogo já é do Miami.
- Vai achando que vai ser fácil assim. Olha eu confio tanto que meu time vai virar que se o Orlando perder, eu aparo toda a grama do seu jardim.
- Que? Você vai aparar as grama do jardim dos meus pais? Olha que faz tempo que meu pai não dá um jeito naquele jardim.
- Se eu perder, eu faço isso.
- Há, essa eu quero ver! Já pode ir preparando o cortador de grama Mr. . O jogo seguiu e adivinha? É claro que o Miami ganhou e o ia ter que pagar a aposta no dia seguinte. Ele me deixou em casa e teve que me aguentar enchendo o saco dele durante todo o caminho.
- Foi muito legal essa noite. - eu disse em frente à porta de casa.
- Foi mesmo, fazia tempo que eu não me divertia assim.
- Nem me fale, acho que eu tava precisando.
- Viu só, eu disse que ia ser bom.
- Pois é, e eu ainda vou poder rir de você cortando a grama dos meus pais.
- Há ha. muito engraçado, você tá se divertindo com isso, né?
- Claro, sempre.
ficou me olhando com aquele par de olhos e achei melhor entrar logo em casa.
- Bom, acho melhor eu entrar, a gente se fala amanhã.
- Boa noite, .
- Boa noite, . - me inclinei e dei um beijo na bochecha dele.
Entrei em casa e fui pro me quarto, tirando a roupa de qualquer jeito e colocando o pijama. Fiquei lembrando e rindo de tudo que havia acontecido naquela noite, de como havia sido divertido, até finalmente adormecer.
Levantei no dia seguinte com a luz do sol entrando pela janela do meu quarto. Tomei um banho rápido e desci pra tomar café. Eu ainda estava esfregando os olhos pra afastar o sono quando minha mãe veio da cozinha parecendo confusa.
- O que significa aquilo, ?
- Aquilo o que, mãe?
- Aquilo no meu jardim!
Levei um tempo pra entender do que ela estava falando, então levantei e fui correndo até a janela da sala, afastei a cortina e lá estava o com o cortador de grama ligado aparando a grama do jardim.
- Não acredito que ele ta mesmo fazendo isso. - falei gargalhando.
- Você pode me explicar o que tá acontecendo? - minha mãe falou.
- Nada demais, mãe, só uma aposta que a gente fez ontem.
- Vocês tem cada uma viu! Vou preparar uma limonada pra ele, quando ele terminar vai estar exausto.
então olhou pra janela e me viu, eu comecei a gargalhar mais ainda enquanto dava um tchauzinho pra ele, que me mostrou a língua e depois riu também. Quando ele já estava quase acabando, minha mãe me chamou pra pegar a limonada e levar pra ele. Peguei a bandeja com a jarra cheia de gelo e o copo e sai pela porta da frente. O sol forte ofuscou meus olhos por um momento e depois eu avistei o parado ao lado do cortador de grama sem camisa. O que ele estava fazendo sem camisa? Por que Deus ele estava sem camisa? Cheguei perto dele e fiquei parada observando.
- Hey, achei que você não ia sair aqui fora pra falar comigo.
- Por que você tá sem camisa?
- Porque tá muito calor e eu cortei toda essa grama. - ele disse enxugando o suor da testa com a própria camisa.
- É bem, minha mãe fez limonada pra você.
- Poxa, obrigado, não precisava se incomodar.
pegou a jarra da bandeja que eu segurava e se serviu. Eu não conseguia falar, muito menos agir, fiquei ali vendo ele beber o suco.
- Tá ótima, obrigado mais uma vez.
- Obrigada você pelo jardim. Bom eu vou entrar.
- Não, , espera, eu já acabei aqui. Vamos dar uma volta no bairro, jogar conversa fora.
- É melhor não, eu to muito ocupada hoje. - eu disse já indo em direção a porta de casa.
- Mas , será que a gente não pode sair mais tarde então?
- Hoje não, mas a gente se fala depois, ok?!Obrigada novamente!
Entrei correndo em casa, larguei a bandeja na cozinha e subi pro meu quarto. Me joguei na minha cama e enfiei a cara no travesseiro, tentando esquecer aquela cena do sem camisa. Deus do céu, minha vida já estava um tumulto, eu não precisava de mais essa pra complicar, desse jeito eu ia acabar ficando maluca. Decidi passar o resto do dia em casa fechada no meu mundinho, assim eu não corria o risco de cruzar com o por aí. À noite fiquei vendo filme, comendo sorvete e conversando com a por whatsapp. Foi difícil dormir naquela noite com aquela imagem do na minha cabeça, acabei sonhando com ele e com o , um daqueles sonhos bem confusos. No dia seguinte minha mãe me pediu que eu ajudasse ela a organizar a bagunça do sótão, o que eu achei ótimo, porque era uma desculpa pra eu continuar dentro de casa.
- Filha, eu e seu pai fizemos uma reserva hoje em um restaurante no centro muito legal, tem música ao vivo e tudo. - minha mãe disse enquanto arrastava uma caixa.
- Ai que bom mãe, vocês quase não saem.
- Pois é. Queria saber se você não quer ir com a gente.
- Uh acho que não mãe, não tô muito no clima. Além disso, você e meu pai tem que aproveitar, sair só os dois.
- , a gente passa o ano todo só os dois, é tão raro você vir pra casa fora da época de festas, queremos aproveitar você, a sua companhia.
- Eu sei mãe, eu prometo que ainda vamos sair muito até eu ir embora, mas hoje em específico eu não tô no clima de sair pra jantar.
- Tudo bem né, fazer o que, então vamos só eu e seu pai. Você não liga de ficar sozinha?
- Não, nem um pouco.
Nós passamos o dia todo arrumando aquele sótão e por volta das seis da tarde minha mãe foi se arrumar pro jantar. Ajudei ela a escolher a roupa e fiquei vendo ela se maquiar, como quando eu era criança. As sete meus pais saíram para jantar e eu me joguei no sofá, pretendia passar o resto da noite por lá quando o telefone de casa tocou.
- Alô?
- ?
- ? É você?
- Sim, eu mesmo.
- Como você conseguiu o telefone aqui de casa?
- Acredite ou não, eu ainda tinha o número anotado em uma agenda velha que sempre carrego comigo. Resolvi ligar pra ver se não havia mudado.
- É, isso não mudou.
- E aí, tá fazendo o que?
- Nada, meus pais saíram pra jantar e eu tô largada no sofá da sala.
- Isso é tão deprimente, .
- Eu sei, tão minha cara.
- Você já jantou?
- Não, acho que vou ter que pedir alguma coisa porque não tem nada na cozinha.
- Não se preocupe que eu vou resolver isso. Tô indo pra sua casa.
- O que? Não , não precisa...
- Não discute comigo, vou passar pra comprar alguma coisa pra gente comer e chego ai em meia hora. Beijos! - disse e desligou o telefone.
Fiquei olhando pro aparelho por alguns segundos antes de por no lugar. Levantei do sofá e me olhei no espelho do corredor, eu estava vestindo uma regata branca e um shorts jeans que eu tinha pensado em trocar por um moletom, já que ia ficar sozinha, mas mudei de ideia e fiquei com aquela roupa mesmo. Meia hora depois a campainha de casa tocou.
- Eu trouxe comida chinesa e saquê. - disse erguendo as sacolas quando abri a porta.
- Entra vai. - falei sorrindo.
Arrumei a mesinha de centro da sala e sentamos no chão pra comer. Só quando senti o cheiro da comida, percebi que estava faminta, então começamos a devorar tudo.
- Mas e aí, você vai me contar ou não por que você anda tão pra baixo? E não me diga que não é nada, porque eu sei que tem alguma coisa. - disse comendo um pedaço de frango xadrez.
- Tem mesmo, não vou mentir.
- Então vai, me conta.
- Ok, vou te contar tudo, senta que lá vem história.
Contei a ele toda minha história com o , como no inicio era incrível, mas que de uns meses pra cá as coisas andavam estranhas e que ele queria dar um tempo.
- Não acredito que ele disse isso!
- Disse e você sabe o que eu penso sobre dar um tempo, né?
- Sim, que dar um tempo é fim de namoro.
- E é mesmo, quando você pensa em dar um tempo com alguém é porque o sentimento já não é mais o mesmo.
- Na boa, esse cara é um idiota, correr o risco de perder uma garota como você. Sabe o que eu devia fazer com ele?
- O que?
- Primeiro socar a cara dele, pra ele nunca mais te fazer chorar. Segundo abrir os olhos dele pra burrada que ele ta fazendo pondo em risco o relacionamento de vocês, porque um dia ele pode acordar e perceber que perdeu a mulher da vida dele, deixou ela ir embora e não fez nada. Mas daí já pode ser tarde demais.
As palavras dele me atingiram de uma forma inexplicável e por alguma razão eu tinha quase certeza de que ele não estava falando do , mas sim de si mesmo. Talvez fosse pretensão minha pensar assim, mas ele disse aquilo com tanta intensidade.
- Sabe o que eu fico pensando às vezes, ? - continuou.
- O que você fica pensando?
- Por que a gente não deu certo.
Ok, agora eu tinha certeza que ele estava falando de nós.
- Quem disse que a gente não deu certo, ? A gente deu certo sim, por muito tempo. Nós ficamos juntos por seis anos e fomos muito felizes durante todo esse tempo. Só porque acabou não significa que não deu certo, só quer dizer que as coisas mudaram.
- É, acho que você tá certa, tivemos uma história incrível.
- Exatamente, temos que guardar os bons momentos, são eles que fazem a vida valer a pena.
- Ainda lembro quando me mudei pra rua, você era só uma garotinha.
- E você já era um adolescente.
- Mas admita, você já tinha uma paixão platônica por mim desde aquela época.
- Eu nunca neguei isso, oras, me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi.
- E eu me apaixonei por você naquele show, quando você tinha dezesseis anos.
- Eu sei, eu era linda demais. - falei rindo.
- Ainda é.
Ele tinha que parar de me olhar daquele jeito, eu sabia que ficava corada quando ele fazia aquilo.
- Mais saquê? - perguntou.
- Não, a gente já bebeu demais. E comeu demais também. - falei rindo.
- Ah conta a novidade agora, você sempre come demais.
- Ave, cala a boca! - falei jogando um guardanapo em . - Vai me ajuda a recolher essas coisas e levar pra cozinha.
- Sim senhorita.
Levamos tudo para a cozinha, coloquei os copos na pia e guardei o restinho do saquê na geladeira, enquanto jogava no lixo as embalagens de comida. Eu encostei na pia e veio até mim parando na minha frente.
- Tá vendo, mais uma vez nós tivemos uma noite divertida. - disse .
- É, acho que fiz bem em vir pra cá, tirar essas pequenas férias.
- Você podia ficar mais que duas semanas né.
- Não posso, tenho muito trabalho na revista. E vou ter que enfrentar o mais cedo ou mais tarde.
- Não quero mais ver você chorando por cara nenhum, você é muito melhor que todos eles.
- Obrigada, de verdade, pela força.
se aproximou mais de mim, ele colocou a mão de um dos lados da pia e acabou batendo a mão esquerda em alguns talheres que estavam sobre ela.
- Ai desculpe.
- Imagina, deixa que eu pego isso. - falei começando a me abaixar, mas acabei tropeçando.
foi rápido e me segurou em seus braços enquanto eu ria.
- Acho que bebi demais. - falei ainda rindo.
- Acho que sim e eu também.
Nós paramos de rir e ficamos nos olhando por algum tempo, olho no olho, ele ainda me segurando. Meu coração disparou e eu pude sentir a respiração dele tão acelerada quanto a minha, sua boca tão perto de mim. Então tudo aconteceu, tão rápido que eu mal consigo explicar como. me puxou pela cintura pra junto dele e colou os lábios dele nos meus. Eu sei que eu deveria ter afastado ele, lutado contra, mas eu não podia, eu não queria, eu desejava estar com ele tanto quanto ele queria estar comigo. Sem pensar em nada puxei ele pelo pescoço, o que fez com que ele aprofundasse o beijo. Ele me prensou contra a pia e o resto dos talheres que ainda estavam lá foram pro chão. subiu a mão pela minha coxa e colocou a mão dentro da minha camiseta fazendo cada pêlo do meu corpo se arrepiar. A gente continuou se beijando enquanto eu puxava ele pela regata em direção à escada que levava ao andar de cima. Quando finalmente chegamos ao meu quarto, fechou a porta atrás de si e me puxou pra junto dele outra vez, nossos corpos colados como se fossem um só. Arranquei a regata que usava e ele fez o mesmo com a minha, apertando meus seios em seguida e me fazendo gemer baixinho. Depois ele abriu meu shorts, beijou minha barriga e foi puxando meu shorts pra baixo lentamente, enquanto beijava minhas coxas. Me livrei da bermuda dele também e nós caímos na cama, ele só de boxer e eu só de lingerie. Coloquei a mão dentro da boxer dele na parte de trás e apertei aquele bumbum que eu sempre achei lindo, ele gemeu no meu ouvido. Logo não existia mais nenhuma peça de roupa entre nós e pude sentir sua pele contra a minha, quente, macia, do jeito que eu me lembrava. Quando senti ele dentro de mim foi como se o mundo pegasse fogo, arranhei suas costas e vive aquela sensação maravilhosa que a tantos anos eu não sentia, não havia ninguém no mundo que conhecesse meu corpo tão bem e que sabia tão bem como me dar prazer. Aos poucos nós nos acalmamos de todo aquele frenesi e rolamos na cama exaustos. Eu ainda estava tentando me recuperar quando me puxou e me abraçou forte, escondendo o rosto no meu pescoço. Não dissemos nada, só ficamos ali abraçados como se nada no mundo pudesse nos separar. Não sei quanto tempo ficamos lá juntos, mas eu queria que tivesse sido a noite toda. Só que eu sabia que era impossível, meus pais voltariam em breve e eu não podia correr o risco de que eles nos encontrassem naquela situação.
- Você precisa ir embora. - falei com a voz abafada de tão colados que nós estávamos.
- Eu sei, antes que seus pais cheguem.
me soltou relutante e levantou lentamente da cama, pegando suas roupas no chão em seguida. Fiquei deitada observando ele se vestir, aquele corpo que eu sempre gostei tanto, os braços que quando me envolviam eu me sentia a mulher mais protegida do mundo, tão pequena perto dele. Depois de se vestir, voltou até minha cama e se sentou nela mexendo de leve no meu cabelo.
- Eu vou, mas amanhã a gente se fala. - disse e eu apenas concordei com a cabeça.
Então ele se inclinou e me deu um último beijo, depois saiu pela porta. Fiquei olhando pro nada algum tempo perdida em pensamentos, antes de levantar, tomar um banho e colocar meu pijama. Quando meus pais chegaram, eu estava encolhida na cama feito uma bola, minha mãe abriu minha porta de leve e eu procurei não fazer barulho para que ela pensasse que eu estava dormindo. A verdade é que eu demorei muito a pegar no sono naquela noite, me sentindo extremamente culpada pelo que havia acontecido. No dia seguinte desci pra tomar café com a pior cara do mundo, aquela nuvem negra mais presente do que nunca.
- Bom dia. - falei desanimada.
- Bom dia, querida. - meu pai respondeu sem notar minha cara.
- Bom dia. Aconteceu alguma coisa? - minha mãe perguntou, porque é claro ela sempre sabia quando havia algo errado.
- Não, só tive uma noite agitada.
Eu estava terminando de comer quando a campainha de casa tocou, minha mãe foi atender e voltou em seguida.
- É pra você. - ela falou com aquela cara de questionamento.
- Tá, eu já acabei aqui. Vou escovar os dentes rapidinho e já atendo.
Nem perguntei quem era, porque eu já sabia, então subi correndo pro meu quarto e voltei logo depois. Quando saí pela porta, estava parado esperando por mim.
- Oi, .
- Oi, . Será que nós podemos conversar?
- Claro, pode falar.
- É, tá, mas , sua mãe está espiando a gente pela janela igual quando você tinha dezesseis anos.
Olhei pra trás e lá estava ela, tentando ver pela fresta da cortina. Revirei os olhos pra cena me sentindo uma adolescente novamente.
- Vem, vamos dar uma volta. - eu disse passando por que me seguiu. Havia uma pequena praça no final da minha rua, nós costumávamos ir quando éramos mais novos. Sentei no pequeno banco com ao meu lado.
- Acho que daqui ela não enxerga a gente.
- É, acho que não. - falou sorrindo.
Ele passou o braço ao redor do meu ombro e beijou a minha bochecha, depois distribuiu alguns beijos pela minha orelha, até chegar aos meus lábios. Antes que eu perdesse completamente o controle, quebrei o beijou tentando falar.
- , para, por favor, temos mesmo que conversar.
- Desculpe. - ele disse se afastando de mim.
Dei um longo suspiro antes de começar.
- , o que aconteceu entre a gente ontem, não podia ter acontecido de jeito nenhum.
- Eu sei, mas não me venha dizer que foi culpa do saquê e que você não sabia o que estava fazendo.
- Não, claro que não. A gente bebeu um pouco além da conta, mas eu estava longe de estar bêbada, eu sabia muito bem o que eu estava fazendo e eu fiz porque eu quis.
- Eu também, tinha plena consciência dos meus atos.
- Mas isso não muda o fato de que foi errado, muito errado. Estou me sentindo extremamente culpada.
- Não se sinta, ninguém deve se sentir culpado por se deixar levar pelos sentimentos.
- Eu sei, mas isso não importa. Não importa o que eu sinto ou o que você senti nesse momento.
- Claro que importa, ! Estamos falando das nossas vidas!
- , você é casado agora! Casado entendeu? Não dá pra mudar o fato de que nossas vidas mudaram, há outras pessoas envolvidas, sua esposa, meu namorado.
- Você nem gosta desse !
- É talvez você tenha razão, talvez eu não goste tanto assim do e nós vamos acabar terminando quando eu voltar pra Nova York. Mas o meu caso é bem mais simples, agora e o seu? Você não pode simplesmente voltar pra L.A. e dizer pra sua mulher que o casamento de vocês foi um engano e agora você decidiu que não quer mais ser casado.
abaixou a cabeça pensativo. Depois olhou pra mim novamente, os seus olhos queimando o castanho escuro dos meus.
- Isso não é justo, .
- E quem foi que disse que a vida é justa? Fizemos nossas escolhas anos atrás e agora vamos ter que arcar com as consequências.
- Mesmo que pra isso fiquemos infelizes pro resto de nossas vidas?
- Não vamos ser infelizes. Quando eu voltar pra Nova York tudo isso vai passar e nós vamos voltar a fazer parte do passado um do outro.
- Você está sendo muito dura.
- Não, estou sendo realista apenas.
Fiz menção de levantar do banco, mas segurou meu braço.
- Aonde você vai?
- Embora, voltar pra minha casa. E enquanto eu ainda estiver aqui em Tampa prefiro que a gente não se veja mais, é melhor assim.
Olhei para a mão dele ainda segurando meu braço pedindo em silêncio que me soltasse. Então ele me soltou, eu levantei e fui pra casa, às lágrimas já escorrendo pelo meu rosto. Nos dias que se passaram eu me dediquei inteiramente aos meus pais, saí pra jantar com eles, fui fazer compras com a minha mãe, ajudei a dar um jeito na casa e tudo mais que era possível fazer com eles. Minha mãe sabia que havia algo errado, mas ela respeito meu momento e não fez perguntas. No sábado de manhã quando eu estava tomando café, uma carta passou pela entrada de cartas na porta. Fui até a porta e peguei o pequeno papel, abri e vi que era uma mensagem de . "Eu sei que você não quer me ver, mas eu preciso ver você. Hoje a noite vai ter uma festa no club que costumávamos ir e eu serei o D.J. da noite. Por favor vá, nem que seja para que eu te veja de longe."
Anexado ao bilhete estava um flyer do evento. Fiquei parada olhando pro bilhete, minha mãe se aproximou para ver o que estava acontecendo.
- Tá tudo bem?
- Vai ter uma festa naquele club que eu costumava ir quando era mais nova, hoje à noite.
- Legal filha e você vai?
- Não sei se devo.
- Por que não, vai se divertir um pouco.
- O vai ser o D.J. da noite.
Minha mãe me observou por um tempo, ela sabia exatamente o que eu queria dizer. Então ela chegou ainda mais perto de mim e abaixou o tom de voz, para que apenas nós duas ouvíssemos a conversa.
- Filha, você precisa enfrentar e resolver de uma vez essa questão da sua vida.
- Eu não posso resolver algo que não pode ser mudado mãe.
- E quem disse que não pode? Você tem que saber o que você quer e lutar por isso.
- Mas mãe é errado, é impossível.
- Não é impossível, mas sim, talvez seja errado. Só que certo ou errado depende muito do ponto de vista. Não estou te incentivando a fazer nada que vá contra os nossos valores, mas eu também não quero te ver infeliz. Eu te disse que você não pode pisar em ninguém pra ter o que quer, mas também não é justo você sacrificar a sua felicidade só para não ferir os outros.
- Então você acha que eu devo ir?
- Acho, vai nessa festa e vê o que dá.
Abracei minha mãe apertado enquanto algumas lágrimas escapavam dos meus olhos.
- Obrigada, mãe!
A noite revirei minhas malas em busca de alguma roupa que servisse pra festa. Acabei achando um vestido curto azul escuro de maguinha que era rodado na parte de baixo. Coloquei ele, pus um scarpin também azul e deixei o cabelo solto. Passei uma maquiagem no rosto, peguei minha bolsa e fui pro club. Quando cheguei lá o local já estava lotado de gente, entreguei o flyer na porta e entrei. Fui direto para perto do bar e encostei-me ao balcão.
- A senhorita deseja alguma coisa? - o barman me perguntou.
- Acho que uma coca por favor.
Então eu o vi, no palco atrás das picapes com o fone no ouvido, tocando animado e lindo como sempre.
- Moço esquece a coca, me trás vodka com gelo por favor. - falei pro barman que riu de mim.
Mas a situação não era nada engraçada, na verdade eu estava desesperada. Alguns minutos depois me avistou de onde ele estava e sorriu, um sorriso do tamanho do mundo. Eu não me mexi, fiquei ali colada no bar tomando minha vodka e vendo ele tocar. As pessoas dançavam animadas na pista, mas eu não tinha vontade de sair de onde eu estava. Depois de umas duas horas tocando sem parar, desceu do palco e veio até mim, meu coração quase saltando pela boca.
- Você veio. - disse encostando-se ao balcão do bar ao meu lado.
- Vim, não sei se devia, mas vim.
- Claro que devia. E você tá linda.
- Você não ia ser o D.J. da noite?
- E eu sou, você não me viu tocando?
- Vi, mas você não deveria continuar tocando a noite toda?
- Uma hora eu preciso de descanso né. - falou rindo. - Mas e aí que tal dançarmos um pouco?
- Não, eu tô bem aqui.
- Você quer beber alguma coisa então?
- Eu já bebi.
- , você não precisa ficar tão na defensiva comigo.
Analisei o rosto de um instante antes de responder.
- Acho que eu não devia ter vindo mesmo. É melhor eu ir embora.
Desencostei do balcão e passei rapidamente por , seguindo em direção a porta.
- Não, , espera! Volta aqui! - ouvi falar logo atrás de mim.
Não olhei pra trás e nem parei de andar, continuei indo em direção a saída até estar fora do club.
- , espera! - disse me alcançando e agarrando meu braço já na calçada em frente à entrada do club.
- Me larga, , me deixa ir embora.
- Não, não vou deixar.
Então me puxou pela cintura e me beijou, um beijo feroz e urgente. Eu não conseguia lutar contra ele, rapidamente comecei a me perder naquele beijou e quando me dei conta estávamos no beco que ficava bem ao lado da saída do club, me prensando contra a parede. O beijo foi ficando cada vez mais quente, eu agarrada em seu pescoço como se precisasse daquilo pra viver. Senti a mão de subir pela minha coxa por baixo o meu vestido, eu e ele ficando cada vez mais ofegantes.
- Para, , para, por favor. - eu tentava dizer entre um beijo e outro.
- Não posso, não consigo.
- Temos que parar!
- Não, eu quero você, eu preciso de você agora. Vem comigo pro meu hotel, por favor. - disse distribuindo alguns beijos pelo meu pescoço.
- Eu vou... Eu vou.
me puxou rapidamente pela rua e pegamos o primeiro táxi que passou. Quando chegamos ao hotel e subimos pro quarto nem tive tempo de pensar no que estava fazendo, pois fechou a porta e me agarrou, me beijando daquele jeito voraz novamente. Em pouco tempo havíamos nos livrado de nossas roupas e estávamos na cama nos amando de uma forma louca, intensa, como se aquele momento fosse o único que importasse. Só quando tudo acabou e nós estávamos abraçados de conchinha na cama, a respiração suave de batendo em meu pescoço, foi que eu tomei consciência do que havia feito novamente. Fiquei ali pensando sem conseguir pegar no sono, mas também sem me mexer para que pensasse que eu estava dormindo. Eu não sei se ele pensava que eu estava realmente adormecida, mas ele se inclinou lentamente até ficar com a boca perto da minha orelha.
- Eu ainda amo você, . - sussurrou em meu ouvido.
Tive que me segurar para não esboçar nenhuma reação com o que ele disse, mas meu coração deu um salto dentro do peito, embora eu soubesse que aquilo não mudava nada. Fechei os olhos e tentei aproveitar ao máximo aquele momento, os braços de me envolvendo, seu cheiro, o calor do seu corpo, tudo que eu senti tanta falta. Depois de um tempo acabei pegando no sono e quando acordei os primeiros raios de sol já entravam pela janela. Levantei devagar, tentando me soltar de sem acordá-lo. Peguei minhas roupas no chão, fui ao banheiro me arrumar e quando voltei, sentei ao lado de na cama, ele dormia tranquilamente.
- Eu também ainda amo você, . - sussurrei em seu ouvido. - Mas é impossível. Adeus, .
Dei um último beijo na bochecha dele e saí do quarto. Tentei segurar o choro, mas logo as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto descontroladamente. Peguei um táxi e fui pra casa o mais rápido que eu pude, e assim que cheguei subi pro meu quarto, me joguei na minha cama e abracei meu travesseiro tentando abafar os soluços. Logo minha mãe entrou pela porta do quarto, sentou na minha cama e mexeu nos meus cabelos. Ela me deixou chorar por um tempo até que eu conseguisse me acalmar o suficiente pra falar.
- Então não deu certo?
- Ele disse que ainda me ama. - falei sentindo o gosto salgado das lágrimas.
- E por que você está chorando?
- Você não entende, mãe? É impossível, de nada adianta o que nós sentimos, ele é casado agora, é muito mais complicado do que parece.
- E você não vai nem lutar? De novo?
- Eu deveria ter ficado e lutado há quatro anos atrás, agora é tarde, nosso tempo passou.
- Sinto tanto por você filha. - minha mãe disse com um longo suspiro.
- Vai ficar tudo bem, vai passar. Mas eu preciso ir embora, eu sei que prometi ficar duas semanas, mas não dá. Quero ir embora amanhã bem cedo.
- Tudo bem, se você prefere assim. Vou dizer ao seu pai que surgiu uma emergência na revista.
- Obrigada mãe, obrigada por tudo. - falei e sentei na cama para abraça-la.
Quando minha mãe me deixou sozinha, remarquei minha passagem pro dia seguinte e comecei a arrumar minhas malas. Minha mãe disse que me ligou durante o dia, mas eu pedi para ela dizer que eu não estava e também que não comentasse que eu estava indo embora. No dia seguinte levantei bem cedo e meus pais me levaram até o aeroporto.
- É uma pena que você precise voltar uma semana antes querida. - meu pai disse me abraçando.
- Também sinto muito pai, mas assim que der eu volto.
- Se cuida filha, espero que tudo se acerte dentro dessa cabecinha. - minha mãe disse baixinho no meu ouvido quando me abraçou.
- Também espero, mãe.
Depois de me despedir dos meus pais, embarquei no avião de volta para Nova York, me sentindo ainda mais perdida do que quando vim para Tampa. Quando cheguei em casa, liguei pra e contei que estava de volta e claro, que precisava do colo dela. Em pouco tempo ela estava na minha casa, com um pote de sorvete na mão e os braços abertos pra mim.
- , pelo amor me diz como você consegue? Você vai pra Tampa pra tentar encontrar uma solução pra sua vida e volta de lá metida numa confusão pior do que a que você deixou aqui. - disse enquanto comíamos o sorvete sentadas no sofá.
- Eu sei, eu sou ridícula, eu consigo fazer essas coisas.
- Ainda tô passada sabe, seu ex namorado gato, toda a história de vocês saindo do bueiro assim do nada.
- Não foi do nada, é esse azar que me persegue mesmo. Sempre pode piorar pro meu lado.
- Mas você o ama e ele ainda te ama, vocês deviam ficar juntos!
- E como vamos fazer isso se ele é casado agora?
- Que saco viu, a vida podia ser mais simples.
- Também acho.
- Mas e quanto ao ?
- Ah o já deu tudo que tinha que dar, vou terminar com ele de vez.
- Sinto muito, amiga, queria ver você feliz.
- Eu também queria sabe, mas acho que a felicidade completa não foi feita pra mim.
Eu não gostava de ficar me lamentando pelos cantos, mas estava difícil evitar isso nos últimos tempos. Como eu falei pra , terminei com o realmente, não havia mais por que ficarmos juntos. Uma semana já havia se passado desde que voltei para Nova York, eu já havia voltado a trabalhar e tentava me ocupar com meus compromissos profissionais. Naquele dia eu saí do trabalho e fui dar uma volta no Central Park. Eu estava parada na ponte que fica sobre o lago, olhando a água calma, quando alguém parou do meu lado.
- ? O que você está fazendo aqui? E como você sabia que eu estava aqui?
- Eu vim pra Nova York atrás de você. Fui até a revista que você disse que trabalha, mas você já tinha saído.
- E você resolveu vir me procurar aqui?
- Resolvi andar e achei que aqui seria um bom lugar pra te encontrar quem sabe.
- , eu tô confusa. Porque você veio atrás de mim? Pensei que o fato de eu ter ido embora sem me despedir tivesse deixado claro que eu não queria mais te ver.
- Você já foi embora sem se despedir uma vez e eu não fiz nada, não podia deixar isso acontecer novamente.
Deu um longo suspiro antes de responder.
- , será que você não entende? É impossível!
- Nada é impossível, . Além disso, não é justo, eu sei que você ouviu quando eu disse que ainda te amo e eu também ouvi você dizendo que também me ama antes de ir embora.
- Mas essa não é a questão.
- E qual é a questão?
- A questão é que agora você é casado! É tarde demais pra nós dois. - eu disse completamente frustrada. - Eu devia ter ficado e lutado por você há quatro anos, você devia ter vindo atrás de mim há quatro anos, agora o tempo já passou.
- Será que você não percebe que o destino está nos dando uma nova chance? Não podemos fazer tudo errado novamente.
- E me diz como vamos fazer isso sem machucar ninguém?
deixou um sorriso de canto escapar antes de falar.
- Sabe, eu fui pra Tampa por uns dias pra esfriar a cabeça, eu e a minha esposa havíamos brigado, mais uma das nossas tantas discussões.
- Pensei que vocês se dessem bem.
- Nós nos damos bem, mas nos damos melhor como amigos do que como casal, só sei que as coisas não andavam tão bem. E daí eu te encontrei e tudo virou de ponta cabeça, percebi que nunca esqueci você e que havia cometido um grande erro ao deixar nossa história acabar.
- Nós dois erramos muito.
- Vocês vão o que?
- Isso mesmo que você ouviu.
- Você não pode fazer isso! Eu vou me sentir culpa pro resto da vida.
- Não seja boba, , não tô fazendo só por você, mas por mim também, eu quero ser feliz.
então se virou pra mim e fez com que eu virasse de frente pra ele também, os dois se encarando nos olhos.
- Não estou pedindo pra você ficar comigo se não quiser, mas eu tô fazendo minha escolha. Não quero continuar em um casamento fracassado, quero ficar livre pra ter a chance de ser feliz de verdade. E eu adoraria que você ficasse comigo, só assim eu seria completo.
Observei aqueles olhos por um instante.
- Sabe quando a gente se reencontrou você disse que eu parecia perdida.
- E parecia mesmo, perdida no meio da escuridão, tão diferente da garota que eu conheci.
- Acho que eu estava mesmo, minha vida se tornou uma grande confusão desde que eu vim pra Nova York. E a única explicação que eu encontro é você, não havia mais luz em mim porque você era o que me iluminava.
- Então, deixa eu voltar a iluminar a sua vida. Prometo nunca mais deixar você, vou passar o resto dos meus dias tentando compensar esse tempo que ficamos separados, vou te abraçar todas as noites e você nunca mais vai se sentir sozinha.
- Mas o que as pessoas vão dizer?
- O que importa o que as pessoas vão dizer? O que importa é que estaremos juntos.
- Eu pensei que tudo havia acabado pra nós.
se aproximou mais de mim e abriu um sorriso.
- Lembra do que eu costumava te dizer quando a gente namorava?
- O que?
- Que nosso amor é feito pólvora, é só acender uma faísca perto de nós que a gente pega fogo.
Eu ri ao ouvir aquilo.
- Ninguém pode apagar essa chama, , nem o tempo, nem outras pessoas.
- Agora eu sei disso. Sei que você é o único que pode me fazer feliz de verdade.
me envolveu pela cintura e encostou seu nariz no meu.
- Eu te amo garota, com todo meu coração.
- Também te amo, desde sempre e pra sempre.
Então ele me beijou apaixonadamente e eu soube que dessa vez nada mais ia nos separar. Ele foi o único amor da minha vida e ainda era, ele seria meu único amor sempre e eu finalmente estava plenamente feliz outra vez.
Fim!
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