Capítulo Único
Califórnia, L.A., UCLA
7 anos atrás
— Vamos lá, , vai ser divertido. — Ela recebeu um sorriso de Lia, que já estava tentando fazer com que ela saísse de sua casa fazia um tempo. A garota em sua frente olhou para o teto, sem paciência.
— E pra quê? Não há nada na rua do meu interesse. — A amiga arregalou os olhos, assustada com a fala da outra.
— Meu Deus, terapia urgente em você, garota. — Ela engoliu a seco.
— Eu já faço terapia e você sabe. — mostrou a língua para a amiga e fez careta logo em seguida. Se levantou da sua cama, na qual estava sentada, e andou até o espelho.
— Sim, mas parece que não está funcionando, acho que ‘tá na hora daquela tal terapia intensiva — falou, assentindo com a cabeça.
— Lia, eu só estou zoando, você sabe, né? — Riu sem mostrar os dentes para a amiga.
— Às vezes até duvido disso, mas é, sei, sim. — Sorriu de lado.
— Vamos descer? Eu estou morrendo de fome e estou sentindo cheiro de cookies. — Sorriu e mexeu as sobrancelhas enquanto encarava sua amiga pelo espelho, que antes usava para analisar seu corpo.
— Hum, delícia, vamos sim. — se virou e começou a andar em direção à porta. Antes que pudesse falar algo, sua amiga Lia a puxou pelo pulso. — , preciso falar com você. Senta aqui do meu ladinho. — Bateu a mão no colchão ao seu lado e a garota foi, já sabia do que se tratava.
— Por favor, Lia, eu... — Lia a interrompeu antes que pudesse continuar, alegando que já sabia do que a amiga ia falar.
— Não, , você não sabe o que eu vou dizer e eu sinto que você precisa ouvir isso. — A amiga assentiu. Lia continuou então. — Eu sei que dói, eu te entendo e você sabe que que estou aqui pra te apoiar em tudo, mas eu só quero que você distraia sua mente um pouquinho. Quanto mais você fica aqui se corroendo em pensamentos, mais quer ficar e esse ciclo não acaba nunca, ainda mais por esse motivo. Você me diz que está estudando, mas eu não sou boba, sei que não. — Surgiram lágrimas em seus olhos, mas não as deixou descer, e passou as mangas do moletom, as secando. — Toda vez que chego, meu coração se parte em pedacinhos vendo todos os papéis amassados ao lado da sua cama e os potes de sorvete no lixo. — Arregalou os olhos. “Culpada”, ela pensou. — Isso mesmo, sei que quando eu não fico aqui, você se acaba de chorar enquanto toma sorvete e assiste clichê romântico. — deu uma risadinha e a amiga acompanhou. — Eu só estou pedindo pra você vir comigo dessa vez, viremos embora a hora que quiser, se me pedir, eu não te encho mais com isso e ainda assisto dois dos seus clichês favoritos com você sem reclamar. O que acha? — A encarou, mas ela não respondeu.
— Qualquer um mesmo? — perguntou, se referindo aos filmes.
— Sim, qualquer um.
— Posso pensar?
— Claro, no seu tempo. Mas faltam apenas quatro horinhas, então não é tão no seu tempo assim. — Ambas deram risada.
— Vamos lá comer os biscoitos antes que acabem, enquanto isso eu analiso essa oferta. — surpreendeu a amiga ao abraçá-la quando se levantaram, Lia envolveu-a em seus braços e as duas ficaram ali por quase dois minutos, apenas curtindo o aconchego uma da outra. Quando se separaram, Lia pegou na mão na amiga e a puxou, guiando para fora do quarto, trancando a porta em seguida e indo à cafeteria dos cookies que sentiram o cheirinho mais cedo.
tinha acabado de terminar um relacionamento de dois anos. Sempre dizia ter o pé atrás com namoros no ensino médio, comentava com as pessoas como gostava de aproveitar sua adolescência e que não fazia sentido começar a namorar mesmo já tendo data de término — pois, segundo ela, também não entraria na faculdade namorando. Mas não teve como fugir, pagou com a própria língua quando, quase no último ano, se apaixonou e quis levar adiante.
Colin e eram incríveis, o tipo de casal perfeitinho de causar inveja em todos. Nunca brigavam, se amavam demais, não eram grudentos o tempo todo, mas não faltava paixão, na visão de todos. Colin costumava dizer como faria o pedido de casamento para , e ela, que nunca quis se casar, mais uma vez pagava com a própria língua quando se derretia toda ao ouvi-lo descrever a cena. Decidiram, a princípio, levar o relacionamento adiante, e até que deu certo por alguns meses. No começo, faziam ligação de vídeo e mandavam bom dia e boa noite todos os dias. No final, mal se falavam, trocavam poucas mensagens e não tinham mais tempo de se verem pelas ligações. O relacionamento a distância esfriou e ambos perceberam, sabiam o que tinham de fazer, mas ela simplesmente não tinha coragem, pensava que poderia recuperar as chamas de um relacionamento. Até que Colin, após um bom tempo sem ligar para ela, ligou. E ela desejou que não tivesse feito. Ele não estava com sua melhor voz, logo começou a chorar e entendeu do que se tratava.
Ele estava terminando com ela.
Na hora, não teve reação, sua ficha caiu depois de um tempo e nas próximas semanas se encontrou no fundo do poço. Não tinha ânimo para sair, dava desculpas a Lia o tempo inteiro, fingia ter que estudar ou algo do tipo, mas na verdade se enfiava embaixo de um cobertor e assistia algum filme enquanto tomava sorvete e chorava até cair no sono. Na maioria das vezes, Natalia desistia de sair para ficar com a amiga e quando saía, voltava cedo, preocupada com ela. No começo, achou normal, todo término era assim em sua visão, tristeza, desabafos e tentativas de reconciliação ou pensamentos doidos do que faria para consegui-lo de volta. Agora, a situação toda já durava quase dois meses. Estava ficando preocupada, queria levar a amiga para fora da faculdade, fazê-la se divertir um pouco, se distrair, tirar Colin da cabeça por alguns momentos, qualquer coisa. Ela tinha em mente que cada pessoa precisava de um tempo, mas percebeu que havia começado a negar seus convites para sair por medo de se encontrar e conhecer novas pessoas e não porque não queria, como no começo.
Estava determinada, faria ela sair para qualquer lugar que fosse.
— Ok, eu vou! — soltou, animada no meio de uma conversa sobre algo aleatório enquanto comiam. Lia arregalou os olhos e deu um pulinho, o que fez a amiga dar risada.
— Meu Deus, garota. Que susto! — falou, mas saiu quase inaudível devido à boca cheia.
— Desculpa. Eu estava no meio dos meus devaneios, me animei. — Deu seu sorriso mais fofo.
— Eu nunca estive tão feliz. — Lia fingiu limpar uma lágrima. — Eu prometo que você vai se divertir, vou te apresentar a umas pessoas bem legais que conheci lá.
— Meu Deus, gente nova. Estou nervosa e ansiosa — ressaltou o que a amiga já sabia, estava com medo de conhecer pessoas novas.
— Tudo bem se não quiser. Mas se estiver a fim, lembre-se que já fez isso muitas vezes — Lia apenas tratou de lhe acalmar. — E mais, você é uma das pessoas mais extrovertidas que eu conheço. Vai dar tudo certo, confia. — E confiava mesmo. Assentiu e ambas sorriram uma para a outra.
As horas passaram e já estavam quase prontas, mais alguns detalhes em suas maquiagens e voilà. O coração de batia tão forte, nunca esteve tão ansiosa. Embora ainda pensasse muito no ex-namorado, não era como quando haviam recém terminado, ela sabia que estava na hora de voltar a ser uma pessoa, só estava criando coragem desde que Lia tinha começado a insistir mais.
— Uau, você está... TÃO LINDA! — Com os olhos brilhando, a loira estava maravilhada com a aparência de sua amiga. ficou com as bochechas vermelhas na hora.
— É pra combinar com você, boba. — Subiu um dos ombros, envergonhada.
— , eu juro, se ninguém te pegar, eu pego. — Lia tinha as mãos nas cinturas quando disse isso, e a analisava de cima a baixo. não conteve a gargalhada, logo sendo acompanhada.
— Por mim, tudo bem — disse, logo parando de rir.
O celular de Lia começou a tocar no meio da bagunça de seu quarto e saíram procurando que nem doidas. Até que acharam, então ela atendeu.
— Oi! — Muito entusiasmo na voz, a amiga estranhou. — Estou ótima e você? Uau, mas já? — Ela olhou o relógio na parede. — Não, estamos sim. É que você nunca está adiantado. — E dessa vez, soltou uma risadinha. — Tudo bem, estamos indo. Tchau, lindinho. — E então ela desligou.
— Lindinho? Risadinha com cara de boba? Por que não me contou sobre ele? — franziu o cenho, Natalia fez uma careta.
— Ah... É coisa boba, estamos apenas ficando.
— Mas você gosta dele.
— Não gosto.
— Gosta sim, eu vi.
— Ok, talvez um pouquinho.
— Por que não me falou dele? — Ela não conseguia entender. — Há quanto tempo estão ficando?
— Quase um mês. — A boca dela foi ao chão.
— Nossa... — Sua voz estava carregada de tristeza, mas não com a loira e sim consigo mesma, pois entendeu toda a situação.
— Não fica chateada comigo, por favor. — A garota subiu o olhar, assustada. — Eu fui adiando e adiando, acabei esquecendo de te contar porque...
— Jamais ficaria chateada com você, estou puta é comigo — esbravejou logo após falar. — Eu já entendi tudo o que aconteceu e te peço desculpas. — Assimilou uma coisa à outra e tinha chegado a uma conclusão. Natalia havia focado tanto na amiga que não havia tido tempo algum para falar algo de si. também não havia perguntado, não sabia nem se a amiga estava bem. Há um mês e meio não perguntava como estava sua vida e não tinha notado como ela aos poucos foi parando de falar.
— O quê? Cala a boca, ! — Ela foi se aproximando, na intenção de abraçar a melhor amiga. — Está tudo bem, de verdade — falou, encarando seus olhos tristes e vendo uma lágrima surgir. — Ah, não. Se você chorar, eu vou te dar um murro. Vai estragar a maquiagem que fiz em você! — Como num passe de mágica, a lágrima e a feição triste sumiram, dando lugar a rugas embaixo dos olhos por estar gargalhando tanto.
— Me conte tudo sobre ele e vocês, sim? — disse, mas em sua voz ainda era perceptível que tinha acabado de dar risada. Natalia assentiu.
— Com certeza! Agora vamos, ele já está chegando! — Sorriu ao falar, estava ansiosa para vê-lo e para levar a amiga ao seu mais novo bar favorito.
Então foram e ela resumiu tudo enquanto iam de seu quarto até a saída, onde ele estaria esperando por ela, como sempre fazia. Natalia apresentou a amiga ao seu mais novo ficante e os três seguiram a caminho do local. Seu nome era Anthony, mas todos chamavam ele de Tony, era bem-humorado e parecia ser bem legal, estava aprovado — até agora — para a amiga. Ao estacionarem o carro, seu coração começou a bater mais forte, mas não citou esse pequeno detalhe quando Natalia perguntou se estava bem, na porta do bar.
Era bonito, não era malcuidado e parecia ser limpo, coisa que apreciava bastante. As paredes pretas, com lâmpadas em neon, dois andares e uma escada branca bem larga, a decoração de maioria branca, alguns bancos acolchoados e altos no bar, um palco, muitas mesas e luzes roxas e azuis predominantes. Lia e Anthony acenaram assim que os três entraram. Ela olhou na direção e viu um grupo de 5 pessoas em uma mesa, todos em média de 18-23 anos, nada além. Ela apenas sorriu sem mostrar os dentes. Eram todos muito gentis e a receberam muito bem, mas, depois de cinco minutos, já havia esquecido o nome de quase todas as pessoas ali, só se lembrava de uma das garotas e porque era fácil, Mary, que achou extremamente fofa.
Todos conversavam e bebiam, Lia disfarçadamente tentava encaixar ela em todos os papos. Todas as pessoas ali conversavam com ela e puxavam assunto, eram pessoas simpáticas e pensou que talvez tenha sido um pouco de bobagem da sua parte ter medo de conhecer algumas pessoas.
As luzes se apagaram e se assustou, olhando para Natalia, que cochichou em seu ouvido:
— Olha pro palco, você vai amar. — Subiu as sobrancelhas e deu um sorrisinho, a animação em seu rosto era perceptível. assentiu. E a amiga estava certa, ao som do primeiro acorde da guitarra, os olhos dela brilharam e se encontrava encantada.
No palco havia uma banda de quatro caras, tocavam indie e rock, talvez até um pouco de pop, e era seu estilo favorito de música. Natalia tinha acertado em cheio, estava amando o bar e o show.
— Muito obrigado, foi um prazer tocar aqui mais uma vez. Somos a The 1975! — Não durou muito, apenas tocaram por volta de quarenta, quarenta e cinco minutos, e então o vocalista da banda — lindo, diga-se de passagem — encerrou o show e todos aplaudiam ou gritavam. Eles logo desapareceram pela cortina e as músicas começaram a tocar pelo som novamente.
Ela tinha amado, Lia conseguia ver pela sua feição maravilhada.
— Meu Deus, eles são incríveis! — exclamou, perto do ouvido da amiga para que ela pudesse escutar.
— Eles são, tocam aqui já faz um tempo. A maioria das músicas são autorais — contou essa curiosidade e se assustou, tinha achado todas as músicas realmente muito boas, em todos os aspectos.
E assim ambas seguiram trocando algumas palavras sobre a banda e seu show. Natalia contou que os caras da banda eram amigos de Tony e que conversava com eles sempre, falou que todos eram muito simpáticos e engraçados, contou um pouco mais também sobre o bar e as pessoas de lá, e é claro, todas as fofocas que achou que ela iria gostar de ficar sabendo, ou seja, todas.
— Lia, acho que vou pegar uma bebida, você quer? — perguntou.
— Eu quero, me traz outra cerveja, por favor. — Ela assentiu e se levantou, andando em direção ao bar e percebeu que já estava um pouco tonta, mas nada demais. Apoiou os braços no balcão e esperou o barman que estava por ali lhe dar atenção. Pediu a cerveja de Natalia e escolheu um gin e tônica para ela mesma, o garçom assentiu e então ela ficou no aguarde.
— Então você é a ? — Ouviu uma voz masculina, porém desconhecida por ela, e se virou totalmente assustada. Deu de cara com um dos membros da banda que estava cantando no palco minutos atrás, , segundo Lia. Ele se encontrava na mesma posição que ela e tinha uma cerveja em sua mão direita. Ela não sabia explicar, mas ele parecia ter um ar de mistério, assim como os mocinhos com um passado traumático tinham em todas as histórias as quais ela já havia lido, e chegava a ser engraçado, pois nunca tinha conhecido um assim de verdade. Ele vestia roupas pretas da cabeça aos pés e passava uma vibe de desdém para tudo, era assim que ela conseguia explicar.
— Hum, então Lia está falando de mim por aí...— Deu um pequeno sorriso, encantada pela amiga estar sempre lembrando dela. — Me chame de . — Sorriu, mostrando os dentes.
— Você tem um belo sorriso, — ele falou, e dessa vez foi ele quem abriu um sorriso, mas galanteador.
— Obrigada — ela agradeceu, não só por isso. Também agradeceu mentalmente a baixa luz do local não o deixar ver o quanto ela provavelmente estava com as bochechas vermelhas.
— Você já pediu? — ele perguntou.
— Sim, estou esperando — tentou não transparecer seu nervosismo, ele estava flertando com ela ou não? Não importava, o elogio havia a deixado um pouco mexida e nem ela mesma sabia o motivo.
— Ei, Leo! — O barman o olhou, sorriu e veio em sua direção, eles se cumprimentaram. — Essa aqui é a , amiga minha — ele os apresentou.
— É um prazer, . — Leo sorriu.
— Prazer, Leo. — Ela sorriu de volta.
— E aí, qual vai ser? — ele a perguntou, ela ficou confusa e olhou para .
— Leo é meu primo. Sempre que quiser algo, peça a ele, o outro é gente boa, mas meio esquecido — justificou a situação e ela assentiu. Ficou se perguntando como ele sabia que ela não tinha pedido para o tal de Leo e sim para o outro.
— Eu vou querer uma cerveja e um Gin e tônica, por favor.
— É pra já! — Leo saiu dali e já foi pegando os ingredientes para seu drink.
— Foi o seu primo que arranjou pra você tocar aqui? — perguntou, puxando assunto.
— Foi. No mesmo dia que ele entrou, a antiga banda saiu, o dono entrou em desespero por não ter ninguém pra tocar e aí ele me ligou — disse e deu um gole em sua cerveja.
— Ah, sim, eu... — Não conseguiu terminar de falar, Leo apareceu e ela se perguntou para que tanta rapidez.
— Prontinho. Gin e tônica e sua cerveja — falou, abrindo a garrafa.
— Obrigada, Leo — agradeceu, pegando cada bebida com uma mão. Leo apenas deu-lhe uma piscadela e assentiu, indo atender outra pessoa.
— Bom, eu vou indo antes que essa cerveja esquente, é pra Lia — ela disse, virando-se para ele.
— Tchau, , a gente se vê. — “Tomara que sim”, ela pensou. Assentiu e saiu em direção à sua mesa.
— Ah! — chamou sua atenção e ela virou, olhando diretamente em seus olhos, sentindo um arrepio. — Pode me chamar de .
— Foi um prazer, . — Ela deu um de seus melhores sorrisos e seu coração estava acelerado. Se virou novamente e assim foi em direção à sua mesa enquanto bebericava sua bebida. Lia a encarava sorrindo.
— O que foi, doida? — perguntou, enquanto entregava sua cerveja.
— Então você conheceu o , hum.
— Você estava me espionando? — Ela semicerrou os olhos.
— Com certeza sim.
— Meu Deus, que relação mais tóxica. — Ambas deram risada da piadinha. — Sim, eu o conheci e ele me apresentou Leo, que fez minha bebida rapidinho.
— Leo é sensacional. Mas mais sensacional que ele, só o primo mesmo. — Deu um sorrisinho, tentando passar inocência.
— Ele é realmente sensacional, e lindo também... — Parecia que ia deixar a frase morrer, mas ela continuou. — E os olhos, o olhar dele é tão... — Parecia faltar palavras.
— Penetrantes? Lindos como ele? Encantadores? Parece que estão diretamente te chamando pra passar uma noite com ele? — Lia completou e caiu na risada com a última parte.
— Meu Deus! O pior é que sim, é exatamente isso. — Ela balançou a cabeça, bebendo logo em seguida seu Gin e Tônica.
Gin e tônica, essa que foi sua desgraça. Quando havia se levantado e se sentido um pouco tonta, já havia tomado uma cerveja, dois gins e tônica e alguns goles de bebidas aleatórias que haviam oferecido a ela. Não tinha batido ainda, não sabia o que aquele terceiro drink iria causar. ficou extremamente louca após esse drink e aprontou horrores no bar. Começou dando em cima de pessoas aleatórias, depois facilmente fazendo amizade com mulheres no banheiro, logo ela, que nunca havia visto alguém mais introvertida do que ela mesma. Derrubou a caixa de som e deu em cima de Leo, que disse a ela que a achou linda, mas não poderia ficar com ela por algumas razões, essas quais ele não quis dizer. e o resto da banda, em uma certa hora, pararam na mesa que estava e ela estava também, pois Lia havia a buscado em algum lugar.
— ! — exclamou, com sua chegada. Ele a olhou dando risada, enquanto via ela abrindo um enorme sorriso e seus olhos quase fechados.
— Não liga, ela está bem bêbada — Lia se dirigiu a ele.
— Tá de boa, eu estava vendo ela por aí. — Ele se sentou em um lugar vago ao lado de Lia.
— Você estava me observando, ? — Ela enrugou as sobrancelhas, apontando para ele. — Que creepy — finalizou, fazendo algumas pessoas darem risada e ele sem graça. — Mas tudo bem, eu também estava te observando. — Deu-lhe uma piscadela, mas a atenção que lhe deu não durou muito, alguém ao lado dela falou algo e ela dirigiu todo seu interesse a isso.
Natalia não podia mentir, adorava a cara de pau e sinceridade da amiga quando ela ficava bêbada, parecia que outra era ativada com o álcool no sangue. Normalmente, ela não era uma bêbada chata, às vezes passava um pouco dos limites, mas não era nada muito uau, só dava um trabalhinho. Natalia nunca ficava tão bêbada quanto ela, então era sempre ela quem cuidava da amiga, mas não se incomodava com isso, já que não era sempre. Lia já havia notado o interesse de em , só precisava ter certeza se era recíproco. Mal sabia ela que sim.
— ? — Lia o chamou, ele virou em direção a ela, levantando as sobrancelhas e sussurrou um “Hum?”. — Eu vou pegar uma água pra , você pode ficar de olho nela, por favor? — perguntou, como quem não queria nada, mas queria, sim.
— Posso sim, vai lá — ele a respondeu, olhando para em seguida, que tinha a cabeça encostada e olhava para o teto. Lia se levantou e foi em direção ao bar. Ele passou para o lugar de Lia para ficar ao lado dela.
— , você gosta dessa música? — Se virando para ele, ela perguntou. Love me Again, do John Newman, tinha acabado de começar.
Know I've done wrong, left your heart torn
Is that what devils do?
Took you so low, where only fools go
I shook the angel in you
— Eu gosto — respondeu, estranhando.
— Dança comigo, então! — ela disse, estendendo a mão, fazendo carinha de cachorro que havia acabado de cair da mudança. Ele deu risada.
Now I'm rising from the ground
Rising up to you
Filled with all the strength I found
There's nothing I can't do
— Eu? Dançar? Não, muito obrigado — rejeitou o convite, rindo. Ela se levantou, dando uma cambaleada e a segurou pelos braços rapidamente.
— Ops... — falou, rindo de si mesma. — Por favor, só essa. Você nem vai dançar tanto. — E novamente a carinha apareceu, e ele não resistiu.
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
Can you love me again?
— Droga — ele sussurrou. — Tá bom, mas só essa. — “O que eu não faço por uma bela jovem que eu acabei de conhecer, que está bêbada e que eu não tenho o mínimo de intimidade, mas gostaria de ter?” foi o que ele pensou e se levantou, revirando os olhos, enquanto ela sorria e dava pulinhos.
It's unforgivable
I stole and burnt your soul
Is that what demons do?
They rule the worst of me
Destroy everything
They bring down angels like you
Ela o puxou até a pista de dança, onde algumas pessoas dançavam e começou a se mover, um pouco sem coordenação.
Now I'm rising from the ground
Rising up to you
Filled with all the strength I found
There's nothing I can't do
Ela fazia movimentos totalmente desengonçados, pulava, em alguns momentos cantava a música quase gritando e em outros sussurrando, em certos momentos até mesmo tentava sensualizar. Ele estava ali apenas para segurar a mão dela e impedir que ela caísse ou se machucasse, pois quase não se mexia, apenas a admirava e dava risada.
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
Can you love me again?
Em um movimento inesperado, quase no final da música, ela agarrou seu pescoço. Totalmente surpreso, ele ficou sem reação.
Oh, I told you once again
I can't do this again, do this again, oh
I told you once again
I can't do this again, do this again, oh no
Seu olhar ficou sereno do nada. Ele sentiu a maior paz do mundo quando ela o olhou no fundo de seus olhos, segundos antes de o beijar. Nem ela sabia que iria fazer aquilo, mas fez, apenas fez. Ele fechou os olhos e segurou sua cintura, aproveitando o momento, assim como ela. Mas não deu tempo de sentirem muita coisa, pois ela cortou o beijo, tirou os braços do pescoço de e abriu os olhos. Em seguida, colocou as mãos na boca, antes de sair correndo e deixar preocupado e sem entender nada. Natalia, que observava a cena de longe, animada, saiu correndo atrás da amiga.
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again (Oh, oh)
Can you love me again?
Can you love me again?
Can you love me again?
...
A luz do dia incomodou seus olhos ao abri-los e não conseguiu identificar onde estava, o que a deixou desesperada. Levantou um pouco a cabeça e pôde ver em sua frente uma figura masculina mexendo em um guarda-roupas na frente da cama em que estava deitada. Não fazia ideia de quem era. Soltou um grito, fazendo com que ele batesse a cabeça em uma prateleira com o susto.
— Puta que pariu! — Ele se virou com a mão na cabeça, onde tinha batido, e então ela o reconheceu.
— Mas o que... ? — Ela se acalmou, mas nem tanto. — Espera aí, a gente... — Ela ergueu o edredom, vendo que estava com uma camiseta que não era dela e tinha o dobro do seu tamanho.
— Não! Não, não rolou nada — ele disse, um pouco nervoso com a situação.
— Então o que eu tô fazendo aqui? Onde eu tô? É a sua casa? Meu Deus! — disparou a fazer perguntas, confusa.
— Sim, estamos na minha casa. Não se lembra de nada? — Ele se sentou no pé da cama.
— Bom, lembro. Minha última memória sou eu falando com uma garota desconhecida no banheiro. — Ele deu risada.
— Bom, neste caso... — Ele fez uma pausa. — Eu não sei de tudo, mas sei que você não pode beber muito gin. — Ela ficou vermelha.
— Onde está Natalia? O que eu estou fazendo aqui? — Ela estava sem graça, de fato.
— Ah, sim! Essa parte, bom, você passou muito mal e vomitou, chegou a desmaiar. — Ela abriu a boca, chocada. Ele continuou. — Nós trouxemos você pra cá, Natalia está aqui também, dormiu com você. — Ela olhou para o lado e viu o outro travesseiro. Suspirou aliviada.
— Meu Deus, meu Deus, meu Deus... — ela suspirava e sussurrava. — O que mais? — Estava com medo de perguntar.
— Nós dançamos. — Ela arregalou os olhos, não gostava de dançar.
— Eu dancei? — Apontou para si mesma.
— Sim, você dançou. — Ele assentiu com a cabeça. — E me induziu a dançar também. Mesmo eu “não dançando.” — Ela deu risada quando ele fez aspas com as mãos, mesmo estando com vergonha.
— Agora... — ele disse, já rindo. — Eu preciso te perguntar algo. — Ela assentiu. — Foi tão nojento assim me beijar? — Ele caiu na gargalhada quando ela arregalou os olhos.
— O-o que você quer dizer com isso? — Se ela pudesse, enfiaria a cabeça num buraco.
— Ah, é que você me beijou e foi direto pro banheiro vomitar. — Tinha um tom meio debochado.
— Eu não acredito que fiz isso. Que vergonha! — Ela cobriu o rosto com o edredom. Ele apenas sorria enquanto ela ficava cada vez mais vermelha. — Me desculpe, sério. Eu não sei o que houve comigo ontem — ela falou, apenas tirando o edredom dos olhos.
— Ei, relaxa. — Ele foi se arrastando para ficar mais próximo a ela. — Tá tudo bem, de verdade. — Ele fez carinho em uma mecha do seu cabelo enquanto sorria.
— Eu provavelmente nem perguntei se você queria ficar comigo, eu estou tão envergonhada.
— Até aí, tudo bem. — Ele pigarreou, fazendo cara séria. — A única questão é: eu acho que você vai ter que me beijar de novo, já que não se lembra. E, sinceramente, por mim tudo bem. — Ela ficou sem palavras, apenas deu uma risada sem graça. Iria, com certeza iria.
...
5 anos atrás
Era fim de tarde e estavam em uma praia deserta, nenhuma alma viva por ali. Ela inspirou o cheiro da maresia e sentiu uma paz enorme a atingindo, o vento bateu contra seu rosto e tirou novamente as mechas de seu cabelo recém colocadas atrás da orelha.
Não conseguia parar de pensar no quanto o som da risada dele era o mais harmonioso que já havia tido o prazer de ouvir, era música para seus ouvidos. Para ela, tudo que vinha dele era agradável, sereno e ela imaginou como seria satisfatório ficar o dia todo apenas o ouvindo rir. Não precisaria falar e nem fazer mais nada, só dar risada.
O mundo à sua volta parava e estava começando a suspeitar que estar ao seu lado tinha um pézinho no paraíso, não era mais apenas amor de amigo que sentia por ele, com certeza não era. Ela se virou e o admirou, suas covinhas apareciam em suas bochechas e as rugas embaixo de seus olhos quase fechados também, deu um sorriso ao ver. Ele estava parcialmente deitado na areia, com seus cotovelos apoiados e segurava um cigarro ainda apagado no meio de seus dedos, ele apenas a filmava com sua câmera enquanto dançava, cantava e fazia algumas gracinhas. Ela parou tudo o que fazia e apenas o observou bem, se perdendo nas linhas de seu rosto.
— Vem aqui, — o chamou, fazendo um movimento com o dedo indicador. Ele jogou a cabeça para trás, fazendo manha e a garota deu um pequeno sorriso pra ele. — Vai, deixa de ser manhoso. — Andou em direção a ele e estendeu sua mão para que ele pudesse se segurar e levantar, mas ao invés disso, ele a puxou, fazendo-a cair em cima dele. — Você é muito idiota — falou em meio a gargalhadas dos dois.
— Idiota não, engraçadinho. — Ele colocou a câmera de lado, na areia, apontada para eles. Com um rápido movimento, Matt a girou, deixando suas costas na areia, ficando por cima.
Se olharam no fundo dos olhos por segundos e ela colocou suas mãos nas bochechas geladas dele, acariciando com os dedos. A garota observou o olhar de conforme ele foi abaixando para seus lábios, antes de fazer o que estava pensando. Devagar ele foi se aproximando e inclinando sua cabeça para o lado, ela fechou os olhos apenas esperando. Ela sentiu seu coração acelerando como na primeira vez em que o viu naquele palco.
E então seus lábios foram tocados pelos dele finalmente.
Após dois longos anos de apenas amizade, ela estava sentindo isso. Todos os dias ela se lembrava das palavras dele naquele dia após sua ida ao bar onde tocaram, mas nunca tinha acontecido. Em dois anos, eles construíram uma amizade forte e que funcionava muito bem, tão bem que até deixaram de lado essa vontade que ambos tinham de ter o outro. Por várias vezes, antes de dormir, pensava como ela foi parar nessa situação, tê-lo tão perto, mas tão longe, e, sinceramente, ela não tinha uma resposta.
Sensação física: flutuando nas nuvens que nem a Katy Perry em California Gurls.
Foi o que ela pensou.
fez menção de se afastar, mas não deixou, sabia que era o receio dele falando mais alto, então ela pediu para aprofundar o beijo, tentando mostrar que aquilo o que ele tinha feito estava certo, ela queria, sim, e muito. O gosto de nicotina do cigarro que estava fumando minutos atrás agora tinha se misturado com o de menta do chiclete que estava mascando. Ela moveu uma de suas mãos para a nuca dele e a outra foi parar em suas costas. Foi o beijo mais gostoso e tranquilo que já tinha dado, havia muita urgência de ambas as partes para estarem juntos, por isso não se desgrudava nem um segundo sequer para respirar. Quando finalmente se separaram, foi para que pudesse retirar a camiseta dele, mas logo voltaram a se beijar fortemente. Sem pensar muito, em um movimento ágil, ele se levantou e ela foi o acompanhando e, agora sentado, ela, que estava de joelhos, se posicionou em seu colo, deixando suas pernas cada uma de um lado. Eles se separaram novamente e agora foi a blusa de que voou, seguida por seu sutiã...
...
3 anos atrás
andava de um lado para o outro. Estava apreensiva, não sabia mais o que fazer. e ela estavam em um relacionamento sério faziam quase dois anos, ela vinha acompanhando o crescimento de sua banda ao lado dele, estavam tocando em lugares maiores e sua música havia melhorado muito. Tinham acabado de assinar com uma gravadora pequena e estavam prestes a lançar seu primeiro álbum, o qual a maioria das músicas escritas por eram sobre , seu relacionamento com ela ou sobre drogas.
As drogas, esse era o problema, ou pelo menos o maior de todos. Quando se conheceram, ele já usava e ela sabia de todos os seus problemas com drogas, não era algo que a incomodava tanto assim, mas isso no começo. Durante os anos de amizade que tinham, por diversas vezes, ela o viu usando, conversaram sobre isso e sempre dava um jeito de minimizar a situação para que ela ficasse tranquila.
pegou as chaves do carro e seu celular, já havia ligado para ele mil vezes e ele não atendia. Já haviam se passado horas desde a que ele havia mandado uma mensagem avisando que estava em sua casa. Saiu de casa às pressas, estava tão nervosa e sabia que não era bom dirigir daquele jeito, mas não havia outra opção.
Abriu a porta do apartamento de com cautela, não sabia nem se ele realmente estava lá. Tirou os tênis na porta e, sem fazer nenhum barulho, ela andou pela casa, passando por todos os cômodos, e o achou, mas por segundos desejou que não tivesse. Parada no batente da porta do quarto dele, estática, sem conseguir se mexer, os olhos se encheram de lágrimas e ela ouviu pelo seu chamado.
— ? — Seus olhos estavam fechados e sua voz era quase inaudível, a primeira lágrima de muitas escorreu pelo seu rosto. Não tinha como ele saber que ela estava ali, não tinha feito nenhum barulho e seus olhos estavam fechados.
— Como você sabe que sou eu? — ela perguntou e dentro de si havia uma mistura de raiva, angústia, ódio e tristeza. Queria sumir, queria não ter ido lá, aquela cena a destruiu e nunca quis tanto estar tão longe dele quanto naquele momento. Ele deu uma risada, abrindo os olhos devagar e se virando para ela com dificuldade.
— Acho que conheço o som da batida do seu coração. — E então ela desabou a chorar.
— O que você fez, ? — Ela foi se aproximando mais, vendo que era pior do que ela conseguia enxergar de longe. tinha os olhos fundos e roxos, o cabelo estava mais bagunçado do que o normal, parecia que ele não tinha forças nem para se levantar e havia um elástico preso em seu braço. Na mesinha de cabeceira, havia uma seringa, um isqueiro e uma colher.
— E-eu não usei isso, . — Ele estava fraco, muito fraco, mas ela acreditava nele, só não deixava de ser desesperador vê-lo daquele jeito, muito pior do que todas as vezes que ela já tinha o visto após cheirar carreiras e carreiras de cocaína durante toda uma noite de falsa diversão.
Sentada ao lado dele na cama, afastou o seu cabelo de seu rosto todo suado para que pudesse ver por inteiro e o analisou com carinho.
— Eu acredito em você, meu amor. Eu acredito... — Ela levantou a cabeça dele, encostando em seu peito, enquanto chorava. Com dificuldade, ele moveu o braço e conseguiu colocá-lo nas costas dela, a abraçando, e de relance ela viu o elástico ainda apertando seu braço, levou uma de suas mãos até ele e o desamarrou, ainda chorando horrores.
Ela queria muito conseguir ser forte por ele, mas era difícil, muito difícil ver alguém que se ama naquele estado. Ele precisava de ajuda e rápido. Ela iria tentar convencê-lo a ir para uma clínica de reabilitação, seria difícil, ainda mais no meio no qual ele estava acostumado a conviver, mas tentaria de tudo para tirá-lo daquela situação. Quando começaram a namorar, ela já sabia que não iria conseguir caso ele continuasse daquele jeito, eles tiveram essa conversa mais de uma vez e em todas ele dizia a mesma coisa, que iria se segurar, que melhoraria por ela ou que pararia de usar, e ela realmente acreditou. O que aconteceu foi totalmente o contrário, quanto mais ele usava, mais queria e não parava, eram tantas carreiras que ela mal conseguia contar. Ele tentava sempre usar quando estivesse longe dela, principalmente quando estavam sozinhos, ele realmente não gostava do jeito que ela ficava quando o via assim, mas era mais forte que ele.
— , olha pra mim... — Ele abriu os olhos devagarinho, o máximo que pôde, e levantou as sobrancelhas. — Eu vou te levar pro chuveiro, mas preciso muito da sua ajuda, tudo bem? — Ele balançou de leve a cabeça, afirmando. Ela engoliu o máximo que conseguiu suas lágrimas e se levantou, puxando-o para fora da cama e o fazendo ficar em pé, com seu corpo de apoio. Colocou seu braço por trás de seu pescoço e foi cambaleando até o banheiro, onde o colocou sentado no vaso e tirou sua roupa antes de enfiá-lo embaixo de uma água gelada no chuveiro. Doía tanto ver que ele mal reagia ao gelo que era aquela água. O retirou de lá e o levou de volta para seu quarto, o ajeitando para que pudesse deitar e dormir um pouco que fosse.
— ... — Sua voz saiu por um fio, trêmula.
— Sim? — Ela estava deitada ao seu lado, embaixo das cobertas.
— Promete que não vai embora? — O coração dela apertou. Claro que não iria, jamais o abandonaria.
— Eu prometo, meu amor. Eu vou cuidar de você, não se preocupe. — Colocou as mãos em seu cabelo, fazendo carinho.
— Eu te amo, .
— Eu também te amo, . — Foi a última coisa que ele ouviu antes de apagar.
...
— ! — havia acordado gritando de um pesadelo. Estava suando e com a respiração ofegante, olhou para o lado e viu que ela dormia como um anjo, o que talvez ela fosse, pois só assim para ainda estar ao seu lado após tudo o que já tinha feito ela passar. Revirou os olhos, aliviado, e se deitou novamente, pensativo. — O que porra eu to fazendo? — Pensou em voz alta, passando as mãos pelo rosto, nervoso. Era um lixo, sabia disso, fazia a garota que tanto amava chorar às escondidas por ele, não conseguia ser forte por ela, não a merecia. Não sabia por que ela permanecia ali, por que ainda não o deixara sozinho, por que não o abandonou como todas as outras pessoas.
— ? — ela sussurrou, com sua voz de sono que ele tanto adorava. Se virou um pouco e viu que ele estava com os olhos abertos, olhando para o teto. — Você está bem? — Ele se virou para ela.
— O que você ainda faz aqui, ? — Ela ficou preocupada e se levantou, ficando sentada na cama.
— Como assim? — perguntou, assim que ele se levantou também.
— O que caralhos você está fazendo ao meu lado, ? Olha pra mim, sou e estou totalmente fodido! — Ele se levantou da cama, passava as mãos pela cabeça e andou de um lado para o outro. — Sou um viciado de merda e você não vai conseguir mudar isso. — Ela estava sem palavras. O que porras ele estava falando?
— Não, não... Não precisa ser assim, . A gente pode consertar tudo, eu estou com você. — Ela se apressou em ficar perto dele, e quando fez, pegou seu rosto com as mãos, trazendo para perto e dando um selinho.
— Eu... — Fez uma pausa, nem acreditava que estava fazendo aquilo, mas era necessário, certo? Por ela, era sim, pois dentro da sua própria cabeça ele era apenas um drogado que não a merecia.. — Eu nem te amo mais, quero que você vá embora. — Ela arregalou os olhos.
— O-o quê? , você disse que me amava algumas horas atrás. — Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Falei sim, mas cheio de droga na cabeça — ele tentou se explicar, mas não fazia sentido algum para ela. Ele esteve mentindo todo esse tempo? Mas por quê?
— Eu... Você estava mentindo pra mim? Eu não acredito. — Ela se manteve firme, apesar das lágrimas que corriam, e isso cortava o coração dele, mas tinha que fazer aquilo, era necessário.
— Sim, eu estava. Do que te importa, afinal? Qual o problema se fiz isso? É sério, ... Vaza daqui. — A dor em seu peito era enorme, parecia que estava arrancando um pedaço de si ao falar daquele jeito com ela.
— Eu... Você... Eu não... Eu não entendo. — Ela balançou a cabeça, estava confusa de verdade.
— Eu não sei mais de qual outro jeito falar. É isso, . Eu. Não. Te. Amo. Mais. — Sabia que era mentira, mas não entendia o que ele estava fazendo, só estava com muita raiva dele. Secou suas lágrimas com a manga do moletom e respirou fundo, andou em sua direção e ficou cara a cara com ele, o olhando bem no fundo dos olhos carregados de tristeza.
— Eu quero que você se foda, seu babaca de merda! — Ela o empurrou com suas duas mãos o mais forte que conseguiu, o que fez ele cambalear para trás.
Ao se virar bruscamente, pronta para ir embora, sentiu a mão dele em seu pulso e olhou para trás. Ele a puxou e grudou seu corpo o mais próximo que havia conseguido. Em uma tentativa falha, ela tentou se soltar, mesmo não querendo sair dali. Tinha se arrependido amargamente do que havia feito.
— Você não tem a porra do direito... — Sua voz saiu falha. Tentava dar socos em seu peitoral, mas era inútil, não tinha forças e logo suas pernas começaram a falhar também.
— Eu sei, meu amor, me desculpe. — Ele fechou os olhos, a acompanhando enquanto ia descendo, devido ao corpo mole. Ele a manteve em seus braços conforme foi sentando no chão. — Me perdoe, por favor...
...
1 ano atrás
Olhou em seu relógio digital que ficava em cima da mesinha de cabeceira, 02h44m de uma madrugada de sexta para sábado. Seu celular tocou uma, duas, três vezes e ele não atendeu, estava decidido a não fazer mais isso, mas era impossível. Por mais que não quisesse, seu corpo estava pedindo por aquilo.
O namoro dos dois poderia ser resumido em sexo e brigas, nada mais. E para descrever com muita sinceridade, o relacionamento ia uma bela porcaria. Brigavam todos os dias por tudo e pelos mínimos detalhes, não aguentavam ficar perto um do outro, mas era muito pior ficar longe. Sabiam que a relação estava uma merda, tinham noção disso, mas não conseguiam sair dela. Sentiam como se tivesse uma amarra os prendendo e quanto mais tentassem sair, mais presos ficavam.
Drogas, drogas e drogas.
Todos os problemas começaram com ela, as brigas atualmente eram por causa dela e o fim também seria causado por ela, sabiam disso. Quarto toque e ele atendeu, queria mais era que tudo fosse para a puta que pariu.
— ... — Sua voz saiu quase em um sussurro do outro lado da linha. — Achei que não atenderia.
— Mas atendi, baby. — Ele pensou em contar que realmente não tinha intenção de atender, mas deixou para lá. — O que você está fazendo? — Ele não esperou resposta dela, já foi logo começando um dos joguinhos favoritos dela, o motivo para ela ter ligado tão tarde da noite. Se sentia um otário por não poder ir lá e pegar sua garota do jeito que gostaria e sabia que ela também gostaria. Ao mesmo tempo, gostava de saber o poder que tinha sobre ela e como conseguia ajudá-la a chegar ao seu orgasmo apenas pelo telefone.
— Estou deitada na minha cama — respondeu, se ajeitando na cama para ficar mais confortável.
— Certo, quero que feche os olhos e apenas sinta. — Ele foi se levantando da cama até ficar sentado. — Deslize a mão pelo seu corpo, toque ele, sinta ele. — E assim ela fez. As mãos entraram a camiseta larga que usava e deslizaram por toda parte, dando uma atenção extra aos seus seios que já estavam com os mamilos rígidos. Ela suspirou e ele sabia que poderia continuar. — Ok, agora vá descendo com a mão e pare na barra da calcinha. — E assim ela fez, deslizou e pegou a barra, brincando um pouco. — Coloque a mão dentro da calcinha e passe os dedos por toda a parte de fora de sua boceta. — Ela soltou o primeiro gemido quando fez. Ele se levantou e foi em direção à cozinha, andando até a geladeira para pegar uma cerveja. Ela deu um suspiro pesado dessa vez.
— Agora passe o dedo indicador em seu clítoris, brinque com ele como se fosse algo novo pra você, mas com delicadeza. — E ela fez, com a mão na parte exterior de sua vagina, seguiu as instruções e apenas mexeu o dedo indicador, o colocando sobre o clítoris e fazendo movimentos circulares com o dedo. Seus suspiros pesados foram se tornando gemidos baixos. — Coloque o celular no viva-voz e deixe ele perto pra que você possa ouvir. — Sem parar o trabalho que estava fazendo, ela fez o que ele pediu com a outra mão e deixou o celular no travesseiro ao lado dela.
— , você já está bem molhada? — ele perguntou e deu um gole na cerveja que estava em sua mão.
— Sim, ... — respondeu, em meio a gemidos.
— Uh, agora introduza o dedo do meio e o indicador e continue brincando com o clítoris com seu polegar, certo? — Ele se sentou no sofá. Ele até que se divertia com aquilo, gostava do jeito que conseguia instrui-la de longe.
— Uhum — ela conseguiu murmurar.
— Ei, comece com movimentos vai e vem devagar e aumente aos pouquinhos.
— Ok... — Do jeito que ele havia pedido ela fez, começou com os movimentos mais devagar e então seu corpo começou a se contorcer de leve e ela gemia um pouco mais alto. Quando aumentou a velocidade, seu gemido aumentou também e ela já conseguia sentir seu corpo ficando mais quente, numa noite serena de verão.
— Isso, , mais rápido agora. Um pouco mais agressiva. — Ao aumentar e ir o mais rápido que conseguia, seus joelhos se tocaram ao contorcer suas pernas e suas costas arquearam no colchão. Se mexia tanto que o suor finalmente começou a aparecer e seu coque havia se desmanchado aos poucos.
— Gosto do jeito que você geme pra mim, . Me deixa louco. — Ele sorriu e ela deu risada, que saiu abafada em meio aos gemidos. — Agora, insira mais um dedo e se torture um pouco, reduza a velocidade do movimento, amor. — Ela foi diminuindo e aquilo estava a deixando maluca, achou que estava prestes a gozar e ele soltou uma dessas.
— , por favor, eu...
— Eu sei que você está quase gozando, linda, segure um pouco. — Ele buscou pelo saquinho de pó que guardava na sala. Quando o achou, despejou tudo em cima da mesinha de centro. Os gemidos dela aumentaram, estavam altos e ele amava isso. — Sim, desse jeitinho, agora pode aumentar novamente.
— ! — ela gemia seu nome sem parar e aquilo aumentava muito a confiança de , não era para menos.
— , pare meu amor, retire seus dedinhos da sua boceta. — Ele separava em carreiras seu pó. Ela soltou um suspiro pesado quando retirou os dedos molhados de dentro da vagina. Ela voltou à posição normal na cama e tinha a respiração ofegante. — Tire toda a roupa e pegue seu vibrador. — Ela tirou a calcinha e jogou longe, o mesmo com a camiseta larga que estava e em seguida pegou seu pequeno — porém destruidor —, vibrador com movimentos de sucção.
— Pronto.
— Fique de quatro e apoie a cabeça de lado no travesseiro. — Ele cheirou a primeira carreira. Ela, mesmo ouvindo o barulho, fingiu que não. Ficou na posição desejada por ele, empinando a bunda. — Ligue o vibrador na velocidade três e passe por toda a extensão de sua boceta. — Ela ligou e começou a passar, logo seus gemidos baixos estavam presentes novamente e o pau de começava a ficar duro. — Aumente duas velocidades e posicione ele na entrada, mas não enfie. — Ela o fez e, com a mão livre, começou a puxar os lençóis da cama de tanto prazer que estava sentido, precisava se expressar de alguma forma.
— Que tortura! — Do outro lado, ela tentou falar, mas saiu bem baixinho e em meio a grunhidos e gemidos.
— Calma, amor, calma... — Ele botou para dentro outra carreira.
— Por favor, ... — Ele a mandava fazer como quando estava com ele e ela implorava como quando estavam juntos.
— Você não pede, manda. Coloque na velocidade máxima e enfie, meu bem, enfie tudo e não esqueça da sucção. — O modo sucção era pra deixar em seu clítoris, o estimulando. Quando ela finalmente fez, seu gemido saiu alto como nunca antes, chegava a gritar e naquele momento não ligava se algum vizinho estava ouvindo ou não, que se fodessem todos.
— Oh, ! — gemeu seu nome, enquanto com a mão livre pegava em um dos seios, o estimulando também. Cheirou então a última carreira com a adrenalina que estava sentindo. Ele apenas a deixou chamando por seu nome e gemendo alto por um tempo, o que era música para seus ouvidos. O efeito do que havia acabado de usar estava começando a aparecer. — , eu vou... Oh, eu...
— Isso, deixa vir pra mim, . Goza pra mim! — ele falou antes que pudesse ouvir o grito carregado de prazer que ela soltou. Do outro lado da linha, ela toda suada e ofegante, apenas ficou naquela posição até seu corpo parar de tremer todo. Até havia esquecido que estavam em ligação, o deixando escutar sua respiração ofegante por um tempo.
Quando se lembrou, desligou sem falar nada. Era sempre assim, gozava e desligava, ele chegava a sentir usado
— É, pra me instruir não tem ninguém nessa porra! — falou, se levantando, olhando sua ereção dentro da cueca boxer.
...
Atualmente
— E o que você acha que eu deveria fazer? — perguntou apreensiva, enquanto andava de um lado para o outro.
— Terminar — respondeu direta.
— Nossa, Lia. — Parou de andar e encarou a amiga, que fazia cara séria.
— Você sabe bem o que eu penso de tudo isso, não é nada fácil ver tudo isso de fora. — Ela se sentou ao seu lado.
— Eu sei, mas é que...
— Mas nada, . O que mais precisa acontecer pra você deixá-lo? — Levantou-se, abrindo os braços e alterando um pouco a voz.
— Eu só...
— O ama? Eu sei, meu amor. — Sentou-se de novo e envolveu seus braços ao redor dela, fazendo com que ela se deitasse em seu peito.
— Por que não me deixa terminar de falar? — Sua voz saiu chorosa e Lia deu uma risadinha.
— Me desculpe, mas eu já decorei essa conversa, amiga. Tivemos ela um milhão de vezes — ela respondeu.
— Você está certa, eu sei que sim. Eu vou conseguir dessa vez. — Envolveu seus braços ao redor dela também.
— Eu sei que sim, você é forte. E eu estarei aqui quando você voltar. — Ela deu um beijinho no topo de sua cabeça.
Nos últimos três anos, havia ido para a reabilitação duas vezes e nas duas teve uma recaída, mas nunca saiu do seu lado, mesmo tentando. Todas as problemáticas de um relacionamento se intensificaram, brigavam por tudo e de mês em mês terminavam, ficavam cinco dias separados, mas depois voltavam. Parecia que o sexo valia tudo, todas as decepções, todas as brigas, todo o estresse e tudo mais.
tentou terminar pra valer algumas vezes, sem sucesso algum. Ele implorava e ela voltava. O mesmo aconteceu com ele, ela implorava e ele voltava.
Agora estava decidida. Natalia tinha a chamado para uma tour pela Europa, viajariam de trem e conheceriam todos — ou quase todos — os países. Era um sonho que construíram juntas e finalmente colocariam em prática.
A banda de havia se estabilizado em um nível, não estavam mundialmente famosos, mas também não eram desconhecidos. Eles tinham acabado de renovar o contrato e estavam produzindo mais um álbum.
tocou a campainha, tinha jogado fora sua chave do apartamento dele alguns meses atrás. Ele atendeu.
— Oi, amor, entra. — Deu um selinho nela e saiu correndo, parando em frente ao notebook aberto em cima do balcão. Ela deu um passo para frente e fechou a porta atrás de si.
— ... — ela chamou baixinho.
— Você não vai acreditar! Nosso empresário tá negociando uma turnê pela América do Norte todinha, mas agora também em uma parte da Europa. — Ele sorria, estava animado com a notícia e esperançoso. Era a esse tipo de coisa que ela se apegava, a esses momentos bons que tinham, mas não estava mais valendo a pena há muito tempo, as coisas ruins do relacionamento passaram por cima e engoliram as boas. E ambos ainda ficavam à espera de dias melhores, sempre voltavam um para o outro na esperança de que tudo fosse melhorar milagrosamente, mas no fundo sabiam que o relacionamento estava fadado ao término desde o começo, caso não cuidassem um do outro.
Mas, sem injustiças, claro que sim, tiveram ótimos momentos e sem sombra de dúvidas os primeiros dois anos de relacionamento foram incríveis. era o cara ideal, não tinham que enfrentar nenhuma dificuldade, eles apenas eram. Ele fazia de tudo para não usar nenhuma droga na frente dela e ela fazia de tudo para ignorar que ele usava, mas tudo se desmoronou quando ela o viu acabado em cima daquela cama. A partir daquele dia, ele não teve mais escrúpulos, ligou o foda-se e não tinha mais horário e nem lugar para usar, teve um ataque de realidade e de todo jeito queria fazer com que ela o largasse, mas ele acabava por impedir. A amava e ela o amava, mas amor não sustenta relacionamento algum e isso é um fato que todos sabem.
começou um jogo na cabeça dele que faria sentido, iria tratá-la mal para que o odiasse e fosse embora, mas em vez de ir, cedia quando ele se arrependia e ficava com a intenção de arrumar tudo.
o convenceu a se internar e da primeira vez realmente estava esperançosa após sua saída, parecia realmente algo muito promissor, mas não foi. Um mês depois, já estava usando novamente todos os tipos de drogas possíveis, havia caído na tentação. Mas permaneceu ao seu lado, mesmo quando, por conta de drogas e altas noites festejando, ela tenha ficado paranoica. sumia por horas e horas. No começo ela pensou que ele pudesse estar lhe traindo, mas não era isso, se drogava tanto que ficava inconsciente. Se tinha uma coisa certa, era essa, nunca tinha a traído. Quando ia atrás, por preocupação e trauma, medo de ele ter tido uma overdose ou algo do tipo, começou a achar ele em cantos aleatórios e percebeu: a “outra” na vida de não era uma garota, era a cocaína. E lá estava ela mais uma vez para atrapalhar tudo. Na segunda vez que foi para a reabilitação, também foi assim, as esperanças não morriam, mas, alguns dias depois, lá estava ele novamente na mesma merda.
— Hm, , precisamos tirar outra chave pra você — falou, ainda animado e olhou pra ela, percebendo assim sua feição carregada de tristeza. Enrugou as sobrancelhas então. — O que foi? — Achava engraçado como ele fingia que nada acontecia, que viviam um lindo conto de fadas.
— , eu vou pra Europa — falou e engoliu seco.
— Sim, nós vamos! Com certeza você vem comigo pra tour. — Ele foi chegando perto.
— Não é isso, . — Fez uma pausa e respirou fundo. — Eu... Eu não quero mais ficar com você. — Não passava firmeza, sua voz estava trêmula.
— O quê? — Ele comprimiu os olhos, pensando se tinha escutado certo.
— Eu estou terminando com você e dessa vez é pra valer. — Seus olhos se encheram de lágrimas.
— De novo isso, ? Vai dormir que amanhã é um novo dia — ele falou com um tom brincalhão e se virou, na intenção de voltar para a cozinha.
— Eu não to brincando, . Em cinco minutos, eu vou embora daqui e nós nunca mais vamos nos ver. — Apesar de estar tremendo, agora sua voz tinha saído muito mais firme.
— , para com isso.
— Mas que merda, não era isso o que você queria? Todos esses anos tentando me afastar, se arrependendo e me puxando de volta! Tá aí, caralho, eu tô finalmente indo embora, . — Jogou sua bolsa no sofá, limpando as lágrimas em seguida.
— Do que você tá falando? — Parecia realmente confuso.
— Não se faça! Eu sei bem, não sou mais a mesma idiota. Talvez eu não percebesse antes, mas agora entendo. Você nunca se importou comigo de verdade, não foi? Era sempre você, você e você. Nunca parou pra pensar como esse seu joguinho infernal poderia mexer comigo. — O coração de acelerou, finalmente estava conseguindo jogar tudo na cara dele. — Depois ainda tem coragem de me chamar de narcisista, de dizer que sou egocêntrica. O único egocentrismo aqui vem de você! — ela se alterou.
— Mas que porra, eu vivo tentando consertar essa merda que nós vivemos. Eu tento ao máximo, faço de tudo por nós e por esse relacionamento falido. — Se aproximava dela conforme falava.
— Faz o quê? Encher o cu de droga não é exatamente algo que se faça pra levantar uma relação. — Ela foi irônica.
— Você sabe que eu tenho um problema e sempre o tive. Não venha jogar isso na minha cara mais uma vez. — Seu tom era baixo e ele continuava a se aproximar dela devagar.
— E eu sempre tentei te ajudar.
— Mas eu nunca pedi pra você fazer isso. — Ela assentiu, sabia que ele tinha razão.
— É verdade, eu deveria ter percebido isso antes.
— Se mais uma vez você vai tentar me chantagear com término pra me levar pra reabilitação, saiba que isso não vai funcionar. Se quiser ficar comigo, é desse jeito. — Ele parou centímetros à frente dela, a fim de fazê-la estremecer.
— Não vim brigar, . Não vim ceder às suas bajulações novamente, a esse seu papinho de aspirante a socrático drogado e muito menos ao seu papo clichê de que precisa de mim. — Ele estava bravo, nunca havia falado assim com ele, mas decidiu não lutar mais contra.
— Certo, não vou mais te segurar aqui. Se quer ir, então vá, . Só não me ligue quando estiver entediada e se masturbando. — Ela deu uma risada cínica, pensando o quanto ele tinha sido escroto e infeliz, mas não falou mais nada. Apenas o observou acender um cigarro enquanto pegava sua bolsa no sofá. Se dirigiu até a porta e quando tocou a maçaneta, esperou alguns segundos, não sabia o porquê. Ela girou e abriu a porta, mas foi impedida por , que, atrás de si, a fechou. — Espera. — Ela se virou e ele estava uns 5 centímetros de distância dela. Seu coração acelerou e sentiu os calafrios dominarem seu corpo todo.
— O que é, agora? — falou com certo desdém em sua voz.
— Eu... — Não terminou a frase, apenas a beijou. E, para sua surpresa — ou talvez nem tanta —, ela correspondeu, mas sabia bem o que seria aquilo. Seus braços passaram rapidamente pelo pescoço do mais alto e ela jogou sua bolsa no chão. Os braços dele seguravam sua cintura, a trazendo para mais perto. Sua língua quente e macia proporcionava um beijo intenso para ela. Para ela. Já ele, conseguia sentir seu estômago revirando. Há tempos não davam um beijo com tanta paixão, urgência e amor. Dizem que o beijo da despedida é o mais gostoso e também o mais difícil, e era verdade. Ele desceu as mãos que estavam em sua cintura para sua bunda e a puxou para cima, fazendo com que ela subisse e entrelaçasse suas pernas ao redor do corpo dele. Sem cortar o beijo, ele foi em direção ao seu quarto, e, ao adentrar, parou de beijá-la na boca e foi descendo, trilhando o caminho até seu pescoço, deixando alguns carinhos ali, o que a fez gemer baixinho. Ele ajoelhou e a colocou na cama, e deitada ela o observou tirar sua própria camiseta e jogá-la longe antes de comer a beijá-la mais uma vez...
...
Segurando o lençol na altura do peito, ela parou de pensar e decidiu agir. Sentou-se na cama e procurou sua roupa. Quando localizou, se levantou e começou a se vestir, logo chamou atenção de com os movimentos e ele logo se levantou um pouco e encostou na cabeceira, assistindo tudo. Ela pegou as botas que usava e andou até a ponta da cama, se sentando para poder calçá-las.
— , estou indo embora. Se cuide, por favor. — Ela se levantou já com seus calçados e olhou para ele. Não falou nada, parecia estar desacreditado que ela nunca mais fosse ligar para ele. — Ah, não tente me ligar, . — Apenas continuou a assisti-la, se virou e passou pela porta de cabeça baixa. Tinha certeza de que ela estava começando a chorar, e tinha razão, ela chorava por todos os bons momentos e também pelos maus que havia vivido ao seu lado, mas chorava principalmente porque era o fim. Sabia que não tinha mais como voltar atrás e nem queria voltar.
Não soube como conseguiu, mas chegou até a casa de Lia dirigindo. Quando ela abriu a porta, tudo o que conseguiu fazer foi desabar nos braços da amiga, que não falou nada, apenas a consolou a noite toda, como sempre fazia quando necessário.
Seis dias depois, lá estavam elas, malas na mão e rumo ao aeroporto para a Europa e também a uma nova vida.
...
7 anos depois
O celular de tocou enquanto ela preparava o jantar, o nome de Natalia apareceu na tela e ela atendeu.
— Pois não, senhorita? — brincou com a amiga
— Eu sei que eu vou pra aí daqui a pouco, mas você precisa ligar naquele canal que passa Saturday Night Live. É urgente. — Ela parecia preocupada.
— Meu Deus, já vou... — Desligou todas as bocas do fogão para que nada queimasse e foi até a sala, ligando sua televisão. — Estou ligando, mas me fala o que é, estou curiosa.
— Não, acho melhor você mesma ver, pois, se eu te contar, capaz de não acreditar e mais, sente-se.
— Ai ai, to assustada já... — falou e finalmente conseguiu achar o canal. E quando viu do que se tratava, abriu a boca. — Caralho, Natalia...
— Pois é, vida. Vou desligar pra terminar de me arrumar e poder ir pra aí. Beijos!
— Beijos, Lia — falou. Estava paralisada, não foi ela quem desligou.
— Todos seus fãs querem saber, é verdade que teremos uma música de quase quinze anos atrás como cover da próxima turnê? — o entrevistador desse programa que ela nunca tinha visto perguntou.
— Bem, é sim. É uma música muito especial pro . Quando ele nos mostrou, nós amamos. Decidimos tocá-la então — Ross o respondeu.
— E qual o nome dessa música? Podemos saber? — o entrevistador voltou a perguntar. Todos se entreolharam e assentiram.
— Acho que sim. Se chama Love me Again, é uma música pop do John Newman e achamos que seria bom uma coisinha diferente — George disse e, ao ouvir aquilo, o coração de ficou em pedacinhos, não tinha reação. Era a música deles.
— Então, , você tinha dito que esse é um álbum muito emocional, certo? — Ele balançou a cabeça, concordando. — Nos fale mais sobre ele e o novo single, The Sound. — ele deu uma risada nasalada.
— Bom, é um pouco difícil explicar. Tive um relacionamento um pouco complicado uns anos atrás. Foi uma relação bem tóxica, mas ao mesmo tempo hoje vejo como algo muito especial e isso acabou me ensinando muito. Não a vejo e nem falo com ela faz tempo, mas sempre a tive como inspiração. Tanto o álbum, como o single, são sobre isso, sobre nós, sobre mim e sobre ela. Aliás, , se estiver vendo isso, eu gostaria de me desculpar de verdade e espero que você esteja bem. — Ela queria poder dizer que estava chocada em todas as línguas possíveis. — Ah, entre em contato, caso queira conversar.
— Uau, acho que por essa ninguém esperava. Algo mais sobre o álbum? — o entrevistador perguntou.
— Na verdade, sim. — Soltou uma risadinha. — Ele foi produzido durante seis anos e é todo escrito por mim. Nesse meio tempo, lançamos outros dois álbuns, mas eu sempre estive trabalhando nesse. Não era algo que eu pretendia lançar, mas então Adam viu as letras um dia e ele estava tipo “Isso é sensacional, temos que fazer virar um álbum” — ele imitou a reação do amigo. — E foi isso. Adam mostrou para o George, que mostrou para Ross e foi isso.
— Incrível, mal posso esperar! Rapazes, agora eu quero saber um pouquinho da vida pessoal de vocês. — Eles se entreolharam, rindo. — Girem essa roleta e vou fazendo perguntas especialmente feitas pra vocês. — E então eles giraram. Caiu no .
— , se esse for um assunto delicado, me avise. — Ele assentiu, ela já sabia do que se tratava. — Por que tantas vezes na reabilitação? — O apresentador fez cara séria.
— É um pouco delicado, mas nada que eu não possa falar. Eu acho que todos sabemos a razão de alguém ir para a reabilitação, certo? A questão era, eu não tinha uma saúde mental boa, era todo ferrado e nas duas primeiras vezes, quem me convenceu a ir foi , a garota a qual citei. E eu falhei muito, acabei fazendo coisa errada de novo. A terceira tem três anos. Eu fiquei um ano internado e a banda fez uma pausa, meu empresário me colocou contra a parede após a overdose. Era a reabilitação ou eu estava fora, então optei pela minha saúde e por continuar a fazer a coisa que eu nasci pra fazer, que é a música. Hoje em dia é mais fácil falar sobre isso.
— Entendo, e você está sóbrio desde então? — Ela ficou nervosa, com medo da resposta que ele daria. Tinha percebido que ele parecia mais sadio, não tinha mais olheiras e seu corpo também não era como antes.
— Sim, estou. Drogas nunca mais, mas gostaria de relembrar a todos que maconha não é droga! — ele disse e todos deram risada, menos , que estava ainda raciocinando tudo.
— Certo, próximo... George! Você está prestes a se casar, não é mesmo? — George começou a responder, e foi quando apenas parou de prestar atenção sem perceber e começou a se lembrar de tudo.
Tudo mesmo, toda sua trajetória, seu primeiro namoradinho do ensino médio, o dia em que Lia a levou àquele bar, a amizade que construiu com , depois o relacionamento — se ela pudesse chamar assim —, todas as brigas, as reconciliações, o desgaste emocional de ambas as partes, tudo o que viveram, até o término. Término esse que a assombrava até hoje. Nunca mais conversaram. Há sete anos, ela se virou e nunca mais voltou e tinha muito orgulho de si mesma por isso.
— Agora, com vocês, The 1975 com seu mais novo single The Sound! — Ouviu muitos aplausos e gritos, então novamente a sua atenção foi guiada à televisão. A batida começou e ela aumentou, para conseguir prestar atenção na letra.
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
E ela sabia exatamente do que se tratava essa música, seus olhos encheram de lágrimas.
I can't believe I forgot your name
Oh baby, won't you come again?
She said: I've got a problem with your shoes
And your tunes, but I might move in
And I thought you were straight, now I'm wondering
You're so conceited, I said: I love you
What does it matter if I'm lying to you?
I don't regret it but I'm glad that we're through
So don't you tell me that you just don't get it
'Cause I know you do
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
— Escroto do caralho! — murmurou para si mesma, enquanto dava risada.
It's not about reciprocation, it's just all about me
A sycophantic, prophetic, socratic junkie wannabe
There's so much skin to see
A simple epicurean philosophy
Oh, and you say I'm such a cliché
I can't see the difference in it either way
And we left things to protect my mental health
But you'll call me when you're bored and you're playing with yourself
You're so conceited, I said: I love you
What does it matter if I'm lying to you?
I don't regret it but I'm glad that we're through
So don't you tell me that you just don't get it
'Cause I know you
— Mas que desgraçado! — Quanto mais escutava, mais ódio dava, mas ao mesmo tempo ela dava risada de tudo. Realmente, achava genial ele transformar anos como aqueles em arte. Ficou chocada com a perspicácia dele.
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Bis 4x
Quando a música terminou, não esperou mais nada, desligou a televisão e foi à procura de um papel e caneta. Sentou-se na mesa da sala de jantar e começou a escrever.
— Amor? — Ouviu a voz de Emma e virou-se.
— Sim, meu bem? — perguntou.
— Está tudo bem? Por que desligou as panelas? — A mulher se sentou ao lado de sua namorada à mesa.
— Ah sim, está tudo ótimo. Apenas vim ver algo na televisão, já vou voltar pra lá.
— Ok, quer conversar? Você parece tensa. — Ela passou a mão nos cabelos de .
— Mais tarde, amor, por agora, não. Muito obrigada. — Emma sabia de tudo o que havia vivido, contaria para ela sobre o episódio de hoje, mais tarde.
— Tudo bem, vou dar continuidade lá na cozinha pra gente não atrasar o jantar. — Emma se levantou e deu um longo selinho em sua namorada, que sorriu e assentiu para ela.
Alguns longos minutos depois, quando já tinha escrito o que queria e estava devidamente dobrado, voltou para a cozinha e junto de Emma, finalizaram o jantar à espera de Lia e seu noivo. Quando chegaram, Emma ficou com Ed na cozinha conversando e chamou Lia no canto.
— E aí, você viu tudo? — Lia a perguntou.
— Quase, desliguei depois deles cantarem aquela música.
— E o que achou?
— Pra ser sincera, achei legal. É ótimo que ele esteja alcançando tanta coisa, que esteja sóbrio e que tenha uma musa — falou a última parte e as duas deram risada. — Mas é sério, fico feliz.
— Que ser humano evoluído, meu Deus. — Lia balançou a cabeça. — Mas eu entendo, de verdade.
— Lia, eu fiz algo — disse, apreensiva com a opinião da amiga.
— O quê? — ela perguntou, achou estranho o jeito que havia falado, então semicerrou os olhos.
— Isso. — Ela pegou um envelope e entregou para ela, que a olhou e fez um gesto como se tivesse a incentivando a ler, então ela abriu e começou a ler.
“, não precisa me pedir desculpas, sei que fez tudo por querer, já que você era um cuzão de merda, mas está tudo bem agora. Gostaria de dizer que fico imensamente feliz por tudo que você conquistou e espero que continue nesse caminho, mando minhas energias positivas a você.
Você tinha razão, eu havia desenvolvido traços narcisistas e descobri isso me tratando, fiz muita terapia. E, falando em terapia, espero que esteja fazendo também. :)
Quero deixar bem claro que não achei muito certo o jeito que nunca mais nos falamos, você sempre foi uma pessoa muito querida por mim e me doeu muito ter que ir embora daquela forma, mas eu precisava e sei que hoje você entende isso. Foi o melhor para nós dois e se hoje chegamos aonde chegamos, é pela coragem que tivemos de colocar um fim em um ciclo que não agregava mais nada de bom em nossas vidas, para que pudéssemos começar novos muito melhores. E porra, estou tão orgulhosa de nós dois, somos incríveis. Peço desculpas pelo jeito que parti, te bloqueei nas redes sociais e troquei de número, eu estava tentando ter um detox. Não guardo remorso de nada, está tudo no passado e tivemos lá nossos bons momentos, que guardo com muito carinho no meu coração, muita coisa boa aconteceu e eu jamais esquecerei.
Quando vi a notícia da sua overdose, quase morri de tanto chorar, fiquei muito triste e meu coração doeu demais. Uma parte de mim queria poder estar ao seu lado, te dando forças, mas desejei toda a melhora pra ti de longe mesmo. Quando se recuperou e fiquei sabendo que estava indo para a REHAB novamente, meu coração se aquietou e ficou quentinho, estava colocando muita fé em você, sabia que dessa vez daria certo. Estou orgulhosa de você.
Eu estou em um relacionamento já faz três anos agora. Eu a amo muito mesmo, o nome dela é Emma e pretendemos nos casar... E quem sabe mais para o futuro adotar alguns bebês.
Eu acho que é isso, não tenho forças para ter uma amizade com você — pelo menos não agora —, te mando essa carta mais para saber que estou viva, que te vejo às vezes e para você saber que está tudo bem entre nós. Se quiser me responder, tudo bem e se não quiser, tudo bem também.
P.s.: Obrigada pelo álbum todo dedicado a mim, haha”.
— Caralho, o seu senso de humor nunca morre. — Lia deu risada. — E você vai enviar?
— Não sei, o que você acha? — perguntou, estava tão indecisa.
— Acho que se você sente que precisa mandar para esclarecer as coisas, fale com Emma e mande — respondeu com sinceridade. — Eu gostei do que você escreveu, deu bastante suporte a ele, foi legal.
— Sim, vou mostrar pra ela mais tarde, mas pretendo enviar sim. — Respirou fundo.
— Faz bem. Às vezes é algo que você precisa liberar de dentro de si. — Era exatamente o que havia pensado.
— Você leu minha mente, estava pensando exatamente isso — falou, admirada com o pensamento compartilhado.
— Enquanto eu escrevia essa carta, fiquei pensando em nós. O quanto você me ajudou e tentou abrir meus olhos pra o que eu estava vivendo. Sei que você sabe e que eu já falei antes, mas realmente não é nada fácil pra quem tá dentro de um relacionamento abusivo, perceber isso. — Fez uma pausa, mas logo continuou. — E você foi tão paciente comigo, não me abandonou, só me ajudou. — Os olhos de Lia encheram de lágrimas, assim como o de . — Muito obrigada, eu te amo demais! — ambas deixaram as lágrimas rolarem.
— Eu também te amo demais — Lia respondeu e, em meio às lágrimas, as duas se abraçaram.
7 anos atrás
— Vamos lá, , vai ser divertido. — Ela recebeu um sorriso de Lia, que já estava tentando fazer com que ela saísse de sua casa fazia um tempo. A garota em sua frente olhou para o teto, sem paciência.
— E pra quê? Não há nada na rua do meu interesse. — A amiga arregalou os olhos, assustada com a fala da outra.
— Meu Deus, terapia urgente em você, garota. — Ela engoliu a seco.
— Eu já faço terapia e você sabe. — mostrou a língua para a amiga e fez careta logo em seguida. Se levantou da sua cama, na qual estava sentada, e andou até o espelho.
— Sim, mas parece que não está funcionando, acho que ‘tá na hora daquela tal terapia intensiva — falou, assentindo com a cabeça.
— Lia, eu só estou zoando, você sabe, né? — Riu sem mostrar os dentes para a amiga.
— Às vezes até duvido disso, mas é, sei, sim. — Sorriu de lado.
— Vamos descer? Eu estou morrendo de fome e estou sentindo cheiro de cookies. — Sorriu e mexeu as sobrancelhas enquanto encarava sua amiga pelo espelho, que antes usava para analisar seu corpo.
— Hum, delícia, vamos sim. — se virou e começou a andar em direção à porta. Antes que pudesse falar algo, sua amiga Lia a puxou pelo pulso. — , preciso falar com você. Senta aqui do meu ladinho. — Bateu a mão no colchão ao seu lado e a garota foi, já sabia do que se tratava.
— Por favor, Lia, eu... — Lia a interrompeu antes que pudesse continuar, alegando que já sabia do que a amiga ia falar.
— Não, , você não sabe o que eu vou dizer e eu sinto que você precisa ouvir isso. — A amiga assentiu. Lia continuou então. — Eu sei que dói, eu te entendo e você sabe que que estou aqui pra te apoiar em tudo, mas eu só quero que você distraia sua mente um pouquinho. Quanto mais você fica aqui se corroendo em pensamentos, mais quer ficar e esse ciclo não acaba nunca, ainda mais por esse motivo. Você me diz que está estudando, mas eu não sou boba, sei que não. — Surgiram lágrimas em seus olhos, mas não as deixou descer, e passou as mangas do moletom, as secando. — Toda vez que chego, meu coração se parte em pedacinhos vendo todos os papéis amassados ao lado da sua cama e os potes de sorvete no lixo. — Arregalou os olhos. “Culpada”, ela pensou. — Isso mesmo, sei que quando eu não fico aqui, você se acaba de chorar enquanto toma sorvete e assiste clichê romântico. — deu uma risadinha e a amiga acompanhou. — Eu só estou pedindo pra você vir comigo dessa vez, viremos embora a hora que quiser, se me pedir, eu não te encho mais com isso e ainda assisto dois dos seus clichês favoritos com você sem reclamar. O que acha? — A encarou, mas ela não respondeu.
— Qualquer um mesmo? — perguntou, se referindo aos filmes.
— Sim, qualquer um.
— Posso pensar?
— Claro, no seu tempo. Mas faltam apenas quatro horinhas, então não é tão no seu tempo assim. — Ambas deram risada.
— Vamos lá comer os biscoitos antes que acabem, enquanto isso eu analiso essa oferta. — surpreendeu a amiga ao abraçá-la quando se levantaram, Lia envolveu-a em seus braços e as duas ficaram ali por quase dois minutos, apenas curtindo o aconchego uma da outra. Quando se separaram, Lia pegou na mão na amiga e a puxou, guiando para fora do quarto, trancando a porta em seguida e indo à cafeteria dos cookies que sentiram o cheirinho mais cedo.
tinha acabado de terminar um relacionamento de dois anos. Sempre dizia ter o pé atrás com namoros no ensino médio, comentava com as pessoas como gostava de aproveitar sua adolescência e que não fazia sentido começar a namorar mesmo já tendo data de término — pois, segundo ela, também não entraria na faculdade namorando. Mas não teve como fugir, pagou com a própria língua quando, quase no último ano, se apaixonou e quis levar adiante.
Colin e eram incríveis, o tipo de casal perfeitinho de causar inveja em todos. Nunca brigavam, se amavam demais, não eram grudentos o tempo todo, mas não faltava paixão, na visão de todos. Colin costumava dizer como faria o pedido de casamento para , e ela, que nunca quis se casar, mais uma vez pagava com a própria língua quando se derretia toda ao ouvi-lo descrever a cena. Decidiram, a princípio, levar o relacionamento adiante, e até que deu certo por alguns meses. No começo, faziam ligação de vídeo e mandavam bom dia e boa noite todos os dias. No final, mal se falavam, trocavam poucas mensagens e não tinham mais tempo de se verem pelas ligações. O relacionamento a distância esfriou e ambos perceberam, sabiam o que tinham de fazer, mas ela simplesmente não tinha coragem, pensava que poderia recuperar as chamas de um relacionamento. Até que Colin, após um bom tempo sem ligar para ela, ligou. E ela desejou que não tivesse feito. Ele não estava com sua melhor voz, logo começou a chorar e entendeu do que se tratava.
Ele estava terminando com ela.
Na hora, não teve reação, sua ficha caiu depois de um tempo e nas próximas semanas se encontrou no fundo do poço. Não tinha ânimo para sair, dava desculpas a Lia o tempo inteiro, fingia ter que estudar ou algo do tipo, mas na verdade se enfiava embaixo de um cobertor e assistia algum filme enquanto tomava sorvete e chorava até cair no sono. Na maioria das vezes, Natalia desistia de sair para ficar com a amiga e quando saía, voltava cedo, preocupada com ela. No começo, achou normal, todo término era assim em sua visão, tristeza, desabafos e tentativas de reconciliação ou pensamentos doidos do que faria para consegui-lo de volta. Agora, a situação toda já durava quase dois meses. Estava ficando preocupada, queria levar a amiga para fora da faculdade, fazê-la se divertir um pouco, se distrair, tirar Colin da cabeça por alguns momentos, qualquer coisa. Ela tinha em mente que cada pessoa precisava de um tempo, mas percebeu que havia começado a negar seus convites para sair por medo de se encontrar e conhecer novas pessoas e não porque não queria, como no começo.
Estava determinada, faria ela sair para qualquer lugar que fosse.
— Ok, eu vou! — soltou, animada no meio de uma conversa sobre algo aleatório enquanto comiam. Lia arregalou os olhos e deu um pulinho, o que fez a amiga dar risada.
— Meu Deus, garota. Que susto! — falou, mas saiu quase inaudível devido à boca cheia.
— Desculpa. Eu estava no meio dos meus devaneios, me animei. — Deu seu sorriso mais fofo.
— Eu nunca estive tão feliz. — Lia fingiu limpar uma lágrima. — Eu prometo que você vai se divertir, vou te apresentar a umas pessoas bem legais que conheci lá.
— Meu Deus, gente nova. Estou nervosa e ansiosa — ressaltou o que a amiga já sabia, estava com medo de conhecer pessoas novas.
— Tudo bem se não quiser. Mas se estiver a fim, lembre-se que já fez isso muitas vezes — Lia apenas tratou de lhe acalmar. — E mais, você é uma das pessoas mais extrovertidas que eu conheço. Vai dar tudo certo, confia. — E confiava mesmo. Assentiu e ambas sorriram uma para a outra.
As horas passaram e já estavam quase prontas, mais alguns detalhes em suas maquiagens e voilà. O coração de batia tão forte, nunca esteve tão ansiosa. Embora ainda pensasse muito no ex-namorado, não era como quando haviam recém terminado, ela sabia que estava na hora de voltar a ser uma pessoa, só estava criando coragem desde que Lia tinha começado a insistir mais.
— Uau, você está... TÃO LINDA! — Com os olhos brilhando, a loira estava maravilhada com a aparência de sua amiga. ficou com as bochechas vermelhas na hora.
— É pra combinar com você, boba. — Subiu um dos ombros, envergonhada.
— , eu juro, se ninguém te pegar, eu pego. — Lia tinha as mãos nas cinturas quando disse isso, e a analisava de cima a baixo. não conteve a gargalhada, logo sendo acompanhada.
— Por mim, tudo bem — disse, logo parando de rir.
O celular de Lia começou a tocar no meio da bagunça de seu quarto e saíram procurando que nem doidas. Até que acharam, então ela atendeu.
— Oi! — Muito entusiasmo na voz, a amiga estranhou. — Estou ótima e você? Uau, mas já? — Ela olhou o relógio na parede. — Não, estamos sim. É que você nunca está adiantado. — E dessa vez, soltou uma risadinha. — Tudo bem, estamos indo. Tchau, lindinho. — E então ela desligou.
— Lindinho? Risadinha com cara de boba? Por que não me contou sobre ele? — franziu o cenho, Natalia fez uma careta.
— Ah... É coisa boba, estamos apenas ficando.
— Mas você gosta dele.
— Não gosto.
— Gosta sim, eu vi.
— Ok, talvez um pouquinho.
— Por que não me falou dele? — Ela não conseguia entender. — Há quanto tempo estão ficando?
— Quase um mês. — A boca dela foi ao chão.
— Nossa... — Sua voz estava carregada de tristeza, mas não com a loira e sim consigo mesma, pois entendeu toda a situação.
— Não fica chateada comigo, por favor. — A garota subiu o olhar, assustada. — Eu fui adiando e adiando, acabei esquecendo de te contar porque...
— Jamais ficaria chateada com você, estou puta é comigo — esbravejou logo após falar. — Eu já entendi tudo o que aconteceu e te peço desculpas. — Assimilou uma coisa à outra e tinha chegado a uma conclusão. Natalia havia focado tanto na amiga que não havia tido tempo algum para falar algo de si. também não havia perguntado, não sabia nem se a amiga estava bem. Há um mês e meio não perguntava como estava sua vida e não tinha notado como ela aos poucos foi parando de falar.
— O quê? Cala a boca, ! — Ela foi se aproximando, na intenção de abraçar a melhor amiga. — Está tudo bem, de verdade — falou, encarando seus olhos tristes e vendo uma lágrima surgir. — Ah, não. Se você chorar, eu vou te dar um murro. Vai estragar a maquiagem que fiz em você! — Como num passe de mágica, a lágrima e a feição triste sumiram, dando lugar a rugas embaixo dos olhos por estar gargalhando tanto.
— Me conte tudo sobre ele e vocês, sim? — disse, mas em sua voz ainda era perceptível que tinha acabado de dar risada. Natalia assentiu.
— Com certeza! Agora vamos, ele já está chegando! — Sorriu ao falar, estava ansiosa para vê-lo e para levar a amiga ao seu mais novo bar favorito.
Então foram e ela resumiu tudo enquanto iam de seu quarto até a saída, onde ele estaria esperando por ela, como sempre fazia. Natalia apresentou a amiga ao seu mais novo ficante e os três seguiram a caminho do local. Seu nome era Anthony, mas todos chamavam ele de Tony, era bem-humorado e parecia ser bem legal, estava aprovado — até agora — para a amiga. Ao estacionarem o carro, seu coração começou a bater mais forte, mas não citou esse pequeno detalhe quando Natalia perguntou se estava bem, na porta do bar.
Era bonito, não era malcuidado e parecia ser limpo, coisa que apreciava bastante. As paredes pretas, com lâmpadas em neon, dois andares e uma escada branca bem larga, a decoração de maioria branca, alguns bancos acolchoados e altos no bar, um palco, muitas mesas e luzes roxas e azuis predominantes. Lia e Anthony acenaram assim que os três entraram. Ela olhou na direção e viu um grupo de 5 pessoas em uma mesa, todos em média de 18-23 anos, nada além. Ela apenas sorriu sem mostrar os dentes. Eram todos muito gentis e a receberam muito bem, mas, depois de cinco minutos, já havia esquecido o nome de quase todas as pessoas ali, só se lembrava de uma das garotas e porque era fácil, Mary, que achou extremamente fofa.
Todos conversavam e bebiam, Lia disfarçadamente tentava encaixar ela em todos os papos. Todas as pessoas ali conversavam com ela e puxavam assunto, eram pessoas simpáticas e pensou que talvez tenha sido um pouco de bobagem da sua parte ter medo de conhecer algumas pessoas.
As luzes se apagaram e se assustou, olhando para Natalia, que cochichou em seu ouvido:
— Olha pro palco, você vai amar. — Subiu as sobrancelhas e deu um sorrisinho, a animação em seu rosto era perceptível. assentiu. E a amiga estava certa, ao som do primeiro acorde da guitarra, os olhos dela brilharam e se encontrava encantada.
No palco havia uma banda de quatro caras, tocavam indie e rock, talvez até um pouco de pop, e era seu estilo favorito de música. Natalia tinha acertado em cheio, estava amando o bar e o show.
— Muito obrigado, foi um prazer tocar aqui mais uma vez. Somos a The 1975! — Não durou muito, apenas tocaram por volta de quarenta, quarenta e cinco minutos, e então o vocalista da banda — lindo, diga-se de passagem — encerrou o show e todos aplaudiam ou gritavam. Eles logo desapareceram pela cortina e as músicas começaram a tocar pelo som novamente.
Ela tinha amado, Lia conseguia ver pela sua feição maravilhada.
— Meu Deus, eles são incríveis! — exclamou, perto do ouvido da amiga para que ela pudesse escutar.
— Eles são, tocam aqui já faz um tempo. A maioria das músicas são autorais — contou essa curiosidade e se assustou, tinha achado todas as músicas realmente muito boas, em todos os aspectos.
E assim ambas seguiram trocando algumas palavras sobre a banda e seu show. Natalia contou que os caras da banda eram amigos de Tony e que conversava com eles sempre, falou que todos eram muito simpáticos e engraçados, contou um pouco mais também sobre o bar e as pessoas de lá, e é claro, todas as fofocas que achou que ela iria gostar de ficar sabendo, ou seja, todas.
— Lia, acho que vou pegar uma bebida, você quer? — perguntou.
— Eu quero, me traz outra cerveja, por favor. — Ela assentiu e se levantou, andando em direção ao bar e percebeu que já estava um pouco tonta, mas nada demais. Apoiou os braços no balcão e esperou o barman que estava por ali lhe dar atenção. Pediu a cerveja de Natalia e escolheu um gin e tônica para ela mesma, o garçom assentiu e então ela ficou no aguarde.
— Então você é a ? — Ouviu uma voz masculina, porém desconhecida por ela, e se virou totalmente assustada. Deu de cara com um dos membros da banda que estava cantando no palco minutos atrás, , segundo Lia. Ele se encontrava na mesma posição que ela e tinha uma cerveja em sua mão direita. Ela não sabia explicar, mas ele parecia ter um ar de mistério, assim como os mocinhos com um passado traumático tinham em todas as histórias as quais ela já havia lido, e chegava a ser engraçado, pois nunca tinha conhecido um assim de verdade. Ele vestia roupas pretas da cabeça aos pés e passava uma vibe de desdém para tudo, era assim que ela conseguia explicar.
— Hum, então Lia está falando de mim por aí...— Deu um pequeno sorriso, encantada pela amiga estar sempre lembrando dela. — Me chame de . — Sorriu, mostrando os dentes.
— Você tem um belo sorriso, — ele falou, e dessa vez foi ele quem abriu um sorriso, mas galanteador.
— Obrigada — ela agradeceu, não só por isso. Também agradeceu mentalmente a baixa luz do local não o deixar ver o quanto ela provavelmente estava com as bochechas vermelhas.
— Você já pediu? — ele perguntou.
— Sim, estou esperando — tentou não transparecer seu nervosismo, ele estava flertando com ela ou não? Não importava, o elogio havia a deixado um pouco mexida e nem ela mesma sabia o motivo.
— Ei, Leo! — O barman o olhou, sorriu e veio em sua direção, eles se cumprimentaram. — Essa aqui é a , amiga minha — ele os apresentou.
— É um prazer, . — Leo sorriu.
— Prazer, Leo. — Ela sorriu de volta.
— E aí, qual vai ser? — ele a perguntou, ela ficou confusa e olhou para .
— Leo é meu primo. Sempre que quiser algo, peça a ele, o outro é gente boa, mas meio esquecido — justificou a situação e ela assentiu. Ficou se perguntando como ele sabia que ela não tinha pedido para o tal de Leo e sim para o outro.
— Eu vou querer uma cerveja e um Gin e tônica, por favor.
— É pra já! — Leo saiu dali e já foi pegando os ingredientes para seu drink.
— Foi o seu primo que arranjou pra você tocar aqui? — perguntou, puxando assunto.
— Foi. No mesmo dia que ele entrou, a antiga banda saiu, o dono entrou em desespero por não ter ninguém pra tocar e aí ele me ligou — disse e deu um gole em sua cerveja.
— Ah, sim, eu... — Não conseguiu terminar de falar, Leo apareceu e ela se perguntou para que tanta rapidez.
— Prontinho. Gin e tônica e sua cerveja — falou, abrindo a garrafa.
— Obrigada, Leo — agradeceu, pegando cada bebida com uma mão. Leo apenas deu-lhe uma piscadela e assentiu, indo atender outra pessoa.
— Bom, eu vou indo antes que essa cerveja esquente, é pra Lia — ela disse, virando-se para ele.
— Tchau, , a gente se vê. — “Tomara que sim”, ela pensou. Assentiu e saiu em direção à sua mesa.
— Ah! — chamou sua atenção e ela virou, olhando diretamente em seus olhos, sentindo um arrepio. — Pode me chamar de .
— Foi um prazer, . — Ela deu um de seus melhores sorrisos e seu coração estava acelerado. Se virou novamente e assim foi em direção à sua mesa enquanto bebericava sua bebida. Lia a encarava sorrindo.
— O que foi, doida? — perguntou, enquanto entregava sua cerveja.
— Então você conheceu o , hum.
— Você estava me espionando? — Ela semicerrou os olhos.
— Com certeza sim.
— Meu Deus, que relação mais tóxica. — Ambas deram risada da piadinha. — Sim, eu o conheci e ele me apresentou Leo, que fez minha bebida rapidinho.
— Leo é sensacional. Mas mais sensacional que ele, só o primo mesmo. — Deu um sorrisinho, tentando passar inocência.
— Ele é realmente sensacional, e lindo também... — Parecia que ia deixar a frase morrer, mas ela continuou. — E os olhos, o olhar dele é tão... — Parecia faltar palavras.
— Penetrantes? Lindos como ele? Encantadores? Parece que estão diretamente te chamando pra passar uma noite com ele? — Lia completou e caiu na risada com a última parte.
— Meu Deus! O pior é que sim, é exatamente isso. — Ela balançou a cabeça, bebendo logo em seguida seu Gin e Tônica.
Gin e tônica, essa que foi sua desgraça. Quando havia se levantado e se sentido um pouco tonta, já havia tomado uma cerveja, dois gins e tônica e alguns goles de bebidas aleatórias que haviam oferecido a ela. Não tinha batido ainda, não sabia o que aquele terceiro drink iria causar. ficou extremamente louca após esse drink e aprontou horrores no bar. Começou dando em cima de pessoas aleatórias, depois facilmente fazendo amizade com mulheres no banheiro, logo ela, que nunca havia visto alguém mais introvertida do que ela mesma. Derrubou a caixa de som e deu em cima de Leo, que disse a ela que a achou linda, mas não poderia ficar com ela por algumas razões, essas quais ele não quis dizer. e o resto da banda, em uma certa hora, pararam na mesa que estava e ela estava também, pois Lia havia a buscado em algum lugar.
— ! — exclamou, com sua chegada. Ele a olhou dando risada, enquanto via ela abrindo um enorme sorriso e seus olhos quase fechados.
— Não liga, ela está bem bêbada — Lia se dirigiu a ele.
— Tá de boa, eu estava vendo ela por aí. — Ele se sentou em um lugar vago ao lado de Lia.
— Você estava me observando, ? — Ela enrugou as sobrancelhas, apontando para ele. — Que creepy — finalizou, fazendo algumas pessoas darem risada e ele sem graça. — Mas tudo bem, eu também estava te observando. — Deu-lhe uma piscadela, mas a atenção que lhe deu não durou muito, alguém ao lado dela falou algo e ela dirigiu todo seu interesse a isso.
Natalia não podia mentir, adorava a cara de pau e sinceridade da amiga quando ela ficava bêbada, parecia que outra era ativada com o álcool no sangue. Normalmente, ela não era uma bêbada chata, às vezes passava um pouco dos limites, mas não era nada muito uau, só dava um trabalhinho. Natalia nunca ficava tão bêbada quanto ela, então era sempre ela quem cuidava da amiga, mas não se incomodava com isso, já que não era sempre. Lia já havia notado o interesse de em , só precisava ter certeza se era recíproco. Mal sabia ela que sim.
— ? — Lia o chamou, ele virou em direção a ela, levantando as sobrancelhas e sussurrou um “Hum?”. — Eu vou pegar uma água pra , você pode ficar de olho nela, por favor? — perguntou, como quem não queria nada, mas queria, sim.
— Posso sim, vai lá — ele a respondeu, olhando para em seguida, que tinha a cabeça encostada e olhava para o teto. Lia se levantou e foi em direção ao bar. Ele passou para o lugar de Lia para ficar ao lado dela.
— , você gosta dessa música? — Se virando para ele, ela perguntou. Love me Again, do John Newman, tinha acabado de começar.
Is that what devils do?
Took you so low, where only fools go
I shook the angel in you
— Eu gosto — respondeu, estranhando.
— Dança comigo, então! — ela disse, estendendo a mão, fazendo carinha de cachorro que havia acabado de cair da mudança. Ele deu risada.
Rising up to you
Filled with all the strength I found
There's nothing I can't do
— Eu? Dançar? Não, muito obrigado — rejeitou o convite, rindo. Ela se levantou, dando uma cambaleada e a segurou pelos braços rapidamente.
— Ops... — falou, rindo de si mesma. — Por favor, só essa. Você nem vai dançar tanto. — E novamente a carinha apareceu, e ele não resistiu.
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
Can you love me again?
— Droga — ele sussurrou. — Tá bom, mas só essa. — “O que eu não faço por uma bela jovem que eu acabei de conhecer, que está bêbada e que eu não tenho o mínimo de intimidade, mas gostaria de ter?” foi o que ele pensou e se levantou, revirando os olhos, enquanto ela sorria e dava pulinhos.
I stole and burnt your soul
Is that what demons do?
They rule the worst of me
Destroy everything
They bring down angels like you
Ela o puxou até a pista de dança, onde algumas pessoas dançavam e começou a se mover, um pouco sem coordenação.
Rising up to you
Filled with all the strength I found
There's nothing I can't do
Ela fazia movimentos totalmente desengonçados, pulava, em alguns momentos cantava a música quase gritando e em outros sussurrando, em certos momentos até mesmo tentava sensualizar. Ele estava ali apenas para segurar a mão dela e impedir que ela caísse ou se machucasse, pois quase não se mexia, apenas a admirava e dava risada.
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
Can you love me again?
Em um movimento inesperado, quase no final da música, ela agarrou seu pescoço. Totalmente surpreso, ele ficou sem reação.
I can't do this again, do this again, oh
I told you once again
I can't do this again, do this again, oh no
Seu olhar ficou sereno do nada. Ele sentiu a maior paz do mundo quando ela o olhou no fundo de seus olhos, segundos antes de o beijar. Nem ela sabia que iria fazer aquilo, mas fez, apenas fez. Ele fechou os olhos e segurou sua cintura, aproveitando o momento, assim como ela. Mas não deu tempo de sentirem muita coisa, pois ela cortou o beijo, tirou os braços do pescoço de e abriu os olhos. Em seguida, colocou as mãos na boca, antes de sair correndo e deixar preocupado e sem entender nada. Natalia, que observava a cena de longe, animada, saiu correndo atrás da amiga.
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again?
I need to know now, know now
Can you love me again (Oh, oh)
Can you love me again?
Can you love me again?
Can you love me again?
...
A luz do dia incomodou seus olhos ao abri-los e não conseguiu identificar onde estava, o que a deixou desesperada. Levantou um pouco a cabeça e pôde ver em sua frente uma figura masculina mexendo em um guarda-roupas na frente da cama em que estava deitada. Não fazia ideia de quem era. Soltou um grito, fazendo com que ele batesse a cabeça em uma prateleira com o susto.
— Puta que pariu! — Ele se virou com a mão na cabeça, onde tinha batido, e então ela o reconheceu.
— Mas o que... ? — Ela se acalmou, mas nem tanto. — Espera aí, a gente... — Ela ergueu o edredom, vendo que estava com uma camiseta que não era dela e tinha o dobro do seu tamanho.
— Não! Não, não rolou nada — ele disse, um pouco nervoso com a situação.
— Então o que eu tô fazendo aqui? Onde eu tô? É a sua casa? Meu Deus! — disparou a fazer perguntas, confusa.
— Sim, estamos na minha casa. Não se lembra de nada? — Ele se sentou no pé da cama.
— Bom, lembro. Minha última memória sou eu falando com uma garota desconhecida no banheiro. — Ele deu risada.
— Bom, neste caso... — Ele fez uma pausa. — Eu não sei de tudo, mas sei que você não pode beber muito gin. — Ela ficou vermelha.
— Onde está Natalia? O que eu estou fazendo aqui? — Ela estava sem graça, de fato.
— Ah, sim! Essa parte, bom, você passou muito mal e vomitou, chegou a desmaiar. — Ela abriu a boca, chocada. Ele continuou. — Nós trouxemos você pra cá, Natalia está aqui também, dormiu com você. — Ela olhou para o lado e viu o outro travesseiro. Suspirou aliviada.
— Meu Deus, meu Deus, meu Deus... — ela suspirava e sussurrava. — O que mais? — Estava com medo de perguntar.
— Nós dançamos. — Ela arregalou os olhos, não gostava de dançar.
— Eu dancei? — Apontou para si mesma.
— Sim, você dançou. — Ele assentiu com a cabeça. — E me induziu a dançar também. Mesmo eu “não dançando.” — Ela deu risada quando ele fez aspas com as mãos, mesmo estando com vergonha.
— Agora... — ele disse, já rindo. — Eu preciso te perguntar algo. — Ela assentiu. — Foi tão nojento assim me beijar? — Ele caiu na gargalhada quando ela arregalou os olhos.
— O-o que você quer dizer com isso? — Se ela pudesse, enfiaria a cabeça num buraco.
— Ah, é que você me beijou e foi direto pro banheiro vomitar. — Tinha um tom meio debochado.
— Eu não acredito que fiz isso. Que vergonha! — Ela cobriu o rosto com o edredom. Ele apenas sorria enquanto ela ficava cada vez mais vermelha. — Me desculpe, sério. Eu não sei o que houve comigo ontem — ela falou, apenas tirando o edredom dos olhos.
— Ei, relaxa. — Ele foi se arrastando para ficar mais próximo a ela. — Tá tudo bem, de verdade. — Ele fez carinho em uma mecha do seu cabelo enquanto sorria.
— Eu provavelmente nem perguntei se você queria ficar comigo, eu estou tão envergonhada.
— Até aí, tudo bem. — Ele pigarreou, fazendo cara séria. — A única questão é: eu acho que você vai ter que me beijar de novo, já que não se lembra. E, sinceramente, por mim tudo bem. — Ela ficou sem palavras, apenas deu uma risada sem graça. Iria, com certeza iria.
5 anos atrás
Era fim de tarde e estavam em uma praia deserta, nenhuma alma viva por ali. Ela inspirou o cheiro da maresia e sentiu uma paz enorme a atingindo, o vento bateu contra seu rosto e tirou novamente as mechas de seu cabelo recém colocadas atrás da orelha.
Não conseguia parar de pensar no quanto o som da risada dele era o mais harmonioso que já havia tido o prazer de ouvir, era música para seus ouvidos. Para ela, tudo que vinha dele era agradável, sereno e ela imaginou como seria satisfatório ficar o dia todo apenas o ouvindo rir. Não precisaria falar e nem fazer mais nada, só dar risada.
O mundo à sua volta parava e estava começando a suspeitar que estar ao seu lado tinha um pézinho no paraíso, não era mais apenas amor de amigo que sentia por ele, com certeza não era. Ela se virou e o admirou, suas covinhas apareciam em suas bochechas e as rugas embaixo de seus olhos quase fechados também, deu um sorriso ao ver. Ele estava parcialmente deitado na areia, com seus cotovelos apoiados e segurava um cigarro ainda apagado no meio de seus dedos, ele apenas a filmava com sua câmera enquanto dançava, cantava e fazia algumas gracinhas. Ela parou tudo o que fazia e apenas o observou bem, se perdendo nas linhas de seu rosto.
— Vem aqui, — o chamou, fazendo um movimento com o dedo indicador. Ele jogou a cabeça para trás, fazendo manha e a garota deu um pequeno sorriso pra ele. — Vai, deixa de ser manhoso. — Andou em direção a ele e estendeu sua mão para que ele pudesse se segurar e levantar, mas ao invés disso, ele a puxou, fazendo-a cair em cima dele. — Você é muito idiota — falou em meio a gargalhadas dos dois.
— Idiota não, engraçadinho. — Ele colocou a câmera de lado, na areia, apontada para eles. Com um rápido movimento, Matt a girou, deixando suas costas na areia, ficando por cima.
Se olharam no fundo dos olhos por segundos e ela colocou suas mãos nas bochechas geladas dele, acariciando com os dedos. A garota observou o olhar de conforme ele foi abaixando para seus lábios, antes de fazer o que estava pensando. Devagar ele foi se aproximando e inclinando sua cabeça para o lado, ela fechou os olhos apenas esperando. Ela sentiu seu coração acelerando como na primeira vez em que o viu naquele palco.
E então seus lábios foram tocados pelos dele finalmente.
Após dois longos anos de apenas amizade, ela estava sentindo isso. Todos os dias ela se lembrava das palavras dele naquele dia após sua ida ao bar onde tocaram, mas nunca tinha acontecido. Em dois anos, eles construíram uma amizade forte e que funcionava muito bem, tão bem que até deixaram de lado essa vontade que ambos tinham de ter o outro. Por várias vezes, antes de dormir, pensava como ela foi parar nessa situação, tê-lo tão perto, mas tão longe, e, sinceramente, ela não tinha uma resposta.
Sensação física: flutuando nas nuvens que nem a Katy Perry em California Gurls.
Foi o que ela pensou.
fez menção de se afastar, mas não deixou, sabia que era o receio dele falando mais alto, então ela pediu para aprofundar o beijo, tentando mostrar que aquilo o que ele tinha feito estava certo, ela queria, sim, e muito. O gosto de nicotina do cigarro que estava fumando minutos atrás agora tinha se misturado com o de menta do chiclete que estava mascando. Ela moveu uma de suas mãos para a nuca dele e a outra foi parar em suas costas. Foi o beijo mais gostoso e tranquilo que já tinha dado, havia muita urgência de ambas as partes para estarem juntos, por isso não se desgrudava nem um segundo sequer para respirar. Quando finalmente se separaram, foi para que pudesse retirar a camiseta dele, mas logo voltaram a se beijar fortemente. Sem pensar muito, em um movimento ágil, ele se levantou e ela foi o acompanhando e, agora sentado, ela, que estava de joelhos, se posicionou em seu colo, deixando suas pernas cada uma de um lado. Eles se separaram novamente e agora foi a blusa de que voou, seguida por seu sutiã...
3 anos atrás
andava de um lado para o outro. Estava apreensiva, não sabia mais o que fazer. e ela estavam em um relacionamento sério faziam quase dois anos, ela vinha acompanhando o crescimento de sua banda ao lado dele, estavam tocando em lugares maiores e sua música havia melhorado muito. Tinham acabado de assinar com uma gravadora pequena e estavam prestes a lançar seu primeiro álbum, o qual a maioria das músicas escritas por eram sobre , seu relacionamento com ela ou sobre drogas.
As drogas, esse era o problema, ou pelo menos o maior de todos. Quando se conheceram, ele já usava e ela sabia de todos os seus problemas com drogas, não era algo que a incomodava tanto assim, mas isso no começo. Durante os anos de amizade que tinham, por diversas vezes, ela o viu usando, conversaram sobre isso e sempre dava um jeito de minimizar a situação para que ela ficasse tranquila.
pegou as chaves do carro e seu celular, já havia ligado para ele mil vezes e ele não atendia. Já haviam se passado horas desde a que ele havia mandado uma mensagem avisando que estava em sua casa. Saiu de casa às pressas, estava tão nervosa e sabia que não era bom dirigir daquele jeito, mas não havia outra opção.
Abriu a porta do apartamento de com cautela, não sabia nem se ele realmente estava lá. Tirou os tênis na porta e, sem fazer nenhum barulho, ela andou pela casa, passando por todos os cômodos, e o achou, mas por segundos desejou que não tivesse. Parada no batente da porta do quarto dele, estática, sem conseguir se mexer, os olhos se encheram de lágrimas e ela ouviu pelo seu chamado.
— ? — Seus olhos estavam fechados e sua voz era quase inaudível, a primeira lágrima de muitas escorreu pelo seu rosto. Não tinha como ele saber que ela estava ali, não tinha feito nenhum barulho e seus olhos estavam fechados.
— Como você sabe que sou eu? — ela perguntou e dentro de si havia uma mistura de raiva, angústia, ódio e tristeza. Queria sumir, queria não ter ido lá, aquela cena a destruiu e nunca quis tanto estar tão longe dele quanto naquele momento. Ele deu uma risada, abrindo os olhos devagar e se virando para ela com dificuldade.
— Acho que conheço o som da batida do seu coração. — E então ela desabou a chorar.
— O que você fez, ? — Ela foi se aproximando mais, vendo que era pior do que ela conseguia enxergar de longe. tinha os olhos fundos e roxos, o cabelo estava mais bagunçado do que o normal, parecia que ele não tinha forças nem para se levantar e havia um elástico preso em seu braço. Na mesinha de cabeceira, havia uma seringa, um isqueiro e uma colher.
— E-eu não usei isso, . — Ele estava fraco, muito fraco, mas ela acreditava nele, só não deixava de ser desesperador vê-lo daquele jeito, muito pior do que todas as vezes que ela já tinha o visto após cheirar carreiras e carreiras de cocaína durante toda uma noite de falsa diversão.
Sentada ao lado dele na cama, afastou o seu cabelo de seu rosto todo suado para que pudesse ver por inteiro e o analisou com carinho.
— Eu acredito em você, meu amor. Eu acredito... — Ela levantou a cabeça dele, encostando em seu peito, enquanto chorava. Com dificuldade, ele moveu o braço e conseguiu colocá-lo nas costas dela, a abraçando, e de relance ela viu o elástico ainda apertando seu braço, levou uma de suas mãos até ele e o desamarrou, ainda chorando horrores.
Ela queria muito conseguir ser forte por ele, mas era difícil, muito difícil ver alguém que se ama naquele estado. Ele precisava de ajuda e rápido. Ela iria tentar convencê-lo a ir para uma clínica de reabilitação, seria difícil, ainda mais no meio no qual ele estava acostumado a conviver, mas tentaria de tudo para tirá-lo daquela situação. Quando começaram a namorar, ela já sabia que não iria conseguir caso ele continuasse daquele jeito, eles tiveram essa conversa mais de uma vez e em todas ele dizia a mesma coisa, que iria se segurar, que melhoraria por ela ou que pararia de usar, e ela realmente acreditou. O que aconteceu foi totalmente o contrário, quanto mais ele usava, mais queria e não parava, eram tantas carreiras que ela mal conseguia contar. Ele tentava sempre usar quando estivesse longe dela, principalmente quando estavam sozinhos, ele realmente não gostava do jeito que ela ficava quando o via assim, mas era mais forte que ele.
— , olha pra mim... — Ele abriu os olhos devagarinho, o máximo que pôde, e levantou as sobrancelhas. — Eu vou te levar pro chuveiro, mas preciso muito da sua ajuda, tudo bem? — Ele balançou de leve a cabeça, afirmando. Ela engoliu o máximo que conseguiu suas lágrimas e se levantou, puxando-o para fora da cama e o fazendo ficar em pé, com seu corpo de apoio. Colocou seu braço por trás de seu pescoço e foi cambaleando até o banheiro, onde o colocou sentado no vaso e tirou sua roupa antes de enfiá-lo embaixo de uma água gelada no chuveiro. Doía tanto ver que ele mal reagia ao gelo que era aquela água. O retirou de lá e o levou de volta para seu quarto, o ajeitando para que pudesse deitar e dormir um pouco que fosse.
— ... — Sua voz saiu por um fio, trêmula.
— Sim? — Ela estava deitada ao seu lado, embaixo das cobertas.
— Promete que não vai embora? — O coração dela apertou. Claro que não iria, jamais o abandonaria.
— Eu prometo, meu amor. Eu vou cuidar de você, não se preocupe. — Colocou as mãos em seu cabelo, fazendo carinho.
— Eu te amo, .
— Eu também te amo, . — Foi a última coisa que ele ouviu antes de apagar.
— ! — havia acordado gritando de um pesadelo. Estava suando e com a respiração ofegante, olhou para o lado e viu que ela dormia como um anjo, o que talvez ela fosse, pois só assim para ainda estar ao seu lado após tudo o que já tinha feito ela passar. Revirou os olhos, aliviado, e se deitou novamente, pensativo. — O que porra eu to fazendo? — Pensou em voz alta, passando as mãos pelo rosto, nervoso. Era um lixo, sabia disso, fazia a garota que tanto amava chorar às escondidas por ele, não conseguia ser forte por ela, não a merecia. Não sabia por que ela permanecia ali, por que ainda não o deixara sozinho, por que não o abandonou como todas as outras pessoas.
— ? — ela sussurrou, com sua voz de sono que ele tanto adorava. Se virou um pouco e viu que ele estava com os olhos abertos, olhando para o teto. — Você está bem? — Ele se virou para ela.
— O que você ainda faz aqui, ? — Ela ficou preocupada e se levantou, ficando sentada na cama.
— Como assim? — perguntou, assim que ele se levantou também.
— O que caralhos você está fazendo ao meu lado, ? Olha pra mim, sou e estou totalmente fodido! — Ele se levantou da cama, passava as mãos pela cabeça e andou de um lado para o outro. — Sou um viciado de merda e você não vai conseguir mudar isso. — Ela estava sem palavras. O que porras ele estava falando?
— Não, não... Não precisa ser assim, . A gente pode consertar tudo, eu estou com você. — Ela se apressou em ficar perto dele, e quando fez, pegou seu rosto com as mãos, trazendo para perto e dando um selinho.
— Eu... — Fez uma pausa, nem acreditava que estava fazendo aquilo, mas era necessário, certo? Por ela, era sim, pois dentro da sua própria cabeça ele era apenas um drogado que não a merecia.. — Eu nem te amo mais, quero que você vá embora. — Ela arregalou os olhos.
— O-o quê? , você disse que me amava algumas horas atrás. — Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Falei sim, mas cheio de droga na cabeça — ele tentou se explicar, mas não fazia sentido algum para ela. Ele esteve mentindo todo esse tempo? Mas por quê?
— Eu... Você estava mentindo pra mim? Eu não acredito. — Ela se manteve firme, apesar das lágrimas que corriam, e isso cortava o coração dele, mas tinha que fazer aquilo, era necessário.
— Sim, eu estava. Do que te importa, afinal? Qual o problema se fiz isso? É sério, ... Vaza daqui. — A dor em seu peito era enorme, parecia que estava arrancando um pedaço de si ao falar daquele jeito com ela.
— Eu... Você... Eu não... Eu não entendo. — Ela balançou a cabeça, estava confusa de verdade.
— Eu não sei mais de qual outro jeito falar. É isso, . Eu. Não. Te. Amo. Mais. — Sabia que era mentira, mas não entendia o que ele estava fazendo, só estava com muita raiva dele. Secou suas lágrimas com a manga do moletom e respirou fundo, andou em sua direção e ficou cara a cara com ele, o olhando bem no fundo dos olhos carregados de tristeza.
— Eu quero que você se foda, seu babaca de merda! — Ela o empurrou com suas duas mãos o mais forte que conseguiu, o que fez ele cambalear para trás.
Ao se virar bruscamente, pronta para ir embora, sentiu a mão dele em seu pulso e olhou para trás. Ele a puxou e grudou seu corpo o mais próximo que havia conseguido. Em uma tentativa falha, ela tentou se soltar, mesmo não querendo sair dali. Tinha se arrependido amargamente do que havia feito.
— Você não tem a porra do direito... — Sua voz saiu falha. Tentava dar socos em seu peitoral, mas era inútil, não tinha forças e logo suas pernas começaram a falhar também.
— Eu sei, meu amor, me desculpe. — Ele fechou os olhos, a acompanhando enquanto ia descendo, devido ao corpo mole. Ele a manteve em seus braços conforme foi sentando no chão. — Me perdoe, por favor...
1 ano atrás
Olhou em seu relógio digital que ficava em cima da mesinha de cabeceira, 02h44m de uma madrugada de sexta para sábado. Seu celular tocou uma, duas, três vezes e ele não atendeu, estava decidido a não fazer mais isso, mas era impossível. Por mais que não quisesse, seu corpo estava pedindo por aquilo.
O namoro dos dois poderia ser resumido em sexo e brigas, nada mais. E para descrever com muita sinceridade, o relacionamento ia uma bela porcaria. Brigavam todos os dias por tudo e pelos mínimos detalhes, não aguentavam ficar perto um do outro, mas era muito pior ficar longe. Sabiam que a relação estava uma merda, tinham noção disso, mas não conseguiam sair dela. Sentiam como se tivesse uma amarra os prendendo e quanto mais tentassem sair, mais presos ficavam.
Drogas, drogas e drogas.
Todos os problemas começaram com ela, as brigas atualmente eram por causa dela e o fim também seria causado por ela, sabiam disso. Quarto toque e ele atendeu, queria mais era que tudo fosse para a puta que pariu.
— ... — Sua voz saiu quase em um sussurro do outro lado da linha. — Achei que não atenderia.
— Mas atendi, baby. — Ele pensou em contar que realmente não tinha intenção de atender, mas deixou para lá. — O que você está fazendo? — Ele não esperou resposta dela, já foi logo começando um dos joguinhos favoritos dela, o motivo para ela ter ligado tão tarde da noite. Se sentia um otário por não poder ir lá e pegar sua garota do jeito que gostaria e sabia que ela também gostaria. Ao mesmo tempo, gostava de saber o poder que tinha sobre ela e como conseguia ajudá-la a chegar ao seu orgasmo apenas pelo telefone.
— Estou deitada na minha cama — respondeu, se ajeitando na cama para ficar mais confortável.
— Certo, quero que feche os olhos e apenas sinta. — Ele foi se levantando da cama até ficar sentado. — Deslize a mão pelo seu corpo, toque ele, sinta ele. — E assim ela fez. As mãos entraram a camiseta larga que usava e deslizaram por toda parte, dando uma atenção extra aos seus seios que já estavam com os mamilos rígidos. Ela suspirou e ele sabia que poderia continuar. — Ok, agora vá descendo com a mão e pare na barra da calcinha. — E assim ela fez, deslizou e pegou a barra, brincando um pouco. — Coloque a mão dentro da calcinha e passe os dedos por toda a parte de fora de sua boceta. — Ela soltou o primeiro gemido quando fez. Ele se levantou e foi em direção à cozinha, andando até a geladeira para pegar uma cerveja. Ela deu um suspiro pesado dessa vez.
— Agora passe o dedo indicador em seu clítoris, brinque com ele como se fosse algo novo pra você, mas com delicadeza. — E ela fez, com a mão na parte exterior de sua vagina, seguiu as instruções e apenas mexeu o dedo indicador, o colocando sobre o clítoris e fazendo movimentos circulares com o dedo. Seus suspiros pesados foram se tornando gemidos baixos. — Coloque o celular no viva-voz e deixe ele perto pra que você possa ouvir. — Sem parar o trabalho que estava fazendo, ela fez o que ele pediu com a outra mão e deixou o celular no travesseiro ao lado dela.
— , você já está bem molhada? — ele perguntou e deu um gole na cerveja que estava em sua mão.
— Sim, ... — respondeu, em meio a gemidos.
— Uh, agora introduza o dedo do meio e o indicador e continue brincando com o clítoris com seu polegar, certo? — Ele se sentou no sofá. Ele até que se divertia com aquilo, gostava do jeito que conseguia instrui-la de longe.
— Uhum — ela conseguiu murmurar.
— Ei, comece com movimentos vai e vem devagar e aumente aos pouquinhos.
— Ok... — Do jeito que ele havia pedido ela fez, começou com os movimentos mais devagar e então seu corpo começou a se contorcer de leve e ela gemia um pouco mais alto. Quando aumentou a velocidade, seu gemido aumentou também e ela já conseguia sentir seu corpo ficando mais quente, numa noite serena de verão.
— Isso, , mais rápido agora. Um pouco mais agressiva. — Ao aumentar e ir o mais rápido que conseguia, seus joelhos se tocaram ao contorcer suas pernas e suas costas arquearam no colchão. Se mexia tanto que o suor finalmente começou a aparecer e seu coque havia se desmanchado aos poucos.
— Gosto do jeito que você geme pra mim, . Me deixa louco. — Ele sorriu e ela deu risada, que saiu abafada em meio aos gemidos. — Agora, insira mais um dedo e se torture um pouco, reduza a velocidade do movimento, amor. — Ela foi diminuindo e aquilo estava a deixando maluca, achou que estava prestes a gozar e ele soltou uma dessas.
— , por favor, eu...
— Eu sei que você está quase gozando, linda, segure um pouco. — Ele buscou pelo saquinho de pó que guardava na sala. Quando o achou, despejou tudo em cima da mesinha de centro. Os gemidos dela aumentaram, estavam altos e ele amava isso. — Sim, desse jeitinho, agora pode aumentar novamente.
— ! — ela gemia seu nome sem parar e aquilo aumentava muito a confiança de , não era para menos.
— , pare meu amor, retire seus dedinhos da sua boceta. — Ele separava em carreiras seu pó. Ela soltou um suspiro pesado quando retirou os dedos molhados de dentro da vagina. Ela voltou à posição normal na cama e tinha a respiração ofegante. — Tire toda a roupa e pegue seu vibrador. — Ela tirou a calcinha e jogou longe, o mesmo com a camiseta larga que estava e em seguida pegou seu pequeno — porém destruidor —, vibrador com movimentos de sucção.
— Pronto.
— Fique de quatro e apoie a cabeça de lado no travesseiro. — Ele cheirou a primeira carreira. Ela, mesmo ouvindo o barulho, fingiu que não. Ficou na posição desejada por ele, empinando a bunda. — Ligue o vibrador na velocidade três e passe por toda a extensão de sua boceta. — Ela ligou e começou a passar, logo seus gemidos baixos estavam presentes novamente e o pau de começava a ficar duro. — Aumente duas velocidades e posicione ele na entrada, mas não enfie. — Ela o fez e, com a mão livre, começou a puxar os lençóis da cama de tanto prazer que estava sentido, precisava se expressar de alguma forma.
— Que tortura! — Do outro lado, ela tentou falar, mas saiu bem baixinho e em meio a grunhidos e gemidos.
— Calma, amor, calma... — Ele botou para dentro outra carreira.
— Por favor, ... — Ele a mandava fazer como quando estava com ele e ela implorava como quando estavam juntos.
— Você não pede, manda. Coloque na velocidade máxima e enfie, meu bem, enfie tudo e não esqueça da sucção. — O modo sucção era pra deixar em seu clítoris, o estimulando. Quando ela finalmente fez, seu gemido saiu alto como nunca antes, chegava a gritar e naquele momento não ligava se algum vizinho estava ouvindo ou não, que se fodessem todos.
— Oh, ! — gemeu seu nome, enquanto com a mão livre pegava em um dos seios, o estimulando também. Cheirou então a última carreira com a adrenalina que estava sentindo. Ele apenas a deixou chamando por seu nome e gemendo alto por um tempo, o que era música para seus ouvidos. O efeito do que havia acabado de usar estava começando a aparecer. — , eu vou... Oh, eu...
— Isso, deixa vir pra mim, . Goza pra mim! — ele falou antes que pudesse ouvir o grito carregado de prazer que ela soltou. Do outro lado da linha, ela toda suada e ofegante, apenas ficou naquela posição até seu corpo parar de tremer todo. Até havia esquecido que estavam em ligação, o deixando escutar sua respiração ofegante por um tempo.
Quando se lembrou, desligou sem falar nada. Era sempre assim, gozava e desligava, ele chegava a sentir usado
— É, pra me instruir não tem ninguém nessa porra! — falou, se levantando, olhando sua ereção dentro da cueca boxer.
Atualmente
— E o que você acha que eu deveria fazer? — perguntou apreensiva, enquanto andava de um lado para o outro.
— Terminar — respondeu direta.
— Nossa, Lia. — Parou de andar e encarou a amiga, que fazia cara séria.
— Você sabe bem o que eu penso de tudo isso, não é nada fácil ver tudo isso de fora. — Ela se sentou ao seu lado.
— Eu sei, mas é que...
— Mas nada, . O que mais precisa acontecer pra você deixá-lo? — Levantou-se, abrindo os braços e alterando um pouco a voz.
— Eu só...
— O ama? Eu sei, meu amor. — Sentou-se de novo e envolveu seus braços ao redor dela, fazendo com que ela se deitasse em seu peito.
— Por que não me deixa terminar de falar? — Sua voz saiu chorosa e Lia deu uma risadinha.
— Me desculpe, mas eu já decorei essa conversa, amiga. Tivemos ela um milhão de vezes — ela respondeu.
— Você está certa, eu sei que sim. Eu vou conseguir dessa vez. — Envolveu seus braços ao redor dela também.
— Eu sei que sim, você é forte. E eu estarei aqui quando você voltar. — Ela deu um beijinho no topo de sua cabeça.
Nos últimos três anos, havia ido para a reabilitação duas vezes e nas duas teve uma recaída, mas nunca saiu do seu lado, mesmo tentando. Todas as problemáticas de um relacionamento se intensificaram, brigavam por tudo e de mês em mês terminavam, ficavam cinco dias separados, mas depois voltavam. Parecia que o sexo valia tudo, todas as decepções, todas as brigas, todo o estresse e tudo mais.
tentou terminar pra valer algumas vezes, sem sucesso algum. Ele implorava e ela voltava. O mesmo aconteceu com ele, ela implorava e ele voltava.
Agora estava decidida. Natalia tinha a chamado para uma tour pela Europa, viajariam de trem e conheceriam todos — ou quase todos — os países. Era um sonho que construíram juntas e finalmente colocariam em prática.
A banda de havia se estabilizado em um nível, não estavam mundialmente famosos, mas também não eram desconhecidos. Eles tinham acabado de renovar o contrato e estavam produzindo mais um álbum.
tocou a campainha, tinha jogado fora sua chave do apartamento dele alguns meses atrás. Ele atendeu.
— Oi, amor, entra. — Deu um selinho nela e saiu correndo, parando em frente ao notebook aberto em cima do balcão. Ela deu um passo para frente e fechou a porta atrás de si.
— ... — ela chamou baixinho.
— Você não vai acreditar! Nosso empresário tá negociando uma turnê pela América do Norte todinha, mas agora também em uma parte da Europa. — Ele sorria, estava animado com a notícia e esperançoso. Era a esse tipo de coisa que ela se apegava, a esses momentos bons que tinham, mas não estava mais valendo a pena há muito tempo, as coisas ruins do relacionamento passaram por cima e engoliram as boas. E ambos ainda ficavam à espera de dias melhores, sempre voltavam um para o outro na esperança de que tudo fosse melhorar milagrosamente, mas no fundo sabiam que o relacionamento estava fadado ao término desde o começo, caso não cuidassem um do outro.
Mas, sem injustiças, claro que sim, tiveram ótimos momentos e sem sombra de dúvidas os primeiros dois anos de relacionamento foram incríveis. era o cara ideal, não tinham que enfrentar nenhuma dificuldade, eles apenas eram. Ele fazia de tudo para não usar nenhuma droga na frente dela e ela fazia de tudo para ignorar que ele usava, mas tudo se desmoronou quando ela o viu acabado em cima daquela cama. A partir daquele dia, ele não teve mais escrúpulos, ligou o foda-se e não tinha mais horário e nem lugar para usar, teve um ataque de realidade e de todo jeito queria fazer com que ela o largasse, mas ele acabava por impedir. A amava e ela o amava, mas amor não sustenta relacionamento algum e isso é um fato que todos sabem.
começou um jogo na cabeça dele que faria sentido, iria tratá-la mal para que o odiasse e fosse embora, mas em vez de ir, cedia quando ele se arrependia e ficava com a intenção de arrumar tudo.
o convenceu a se internar e da primeira vez realmente estava esperançosa após sua saída, parecia realmente algo muito promissor, mas não foi. Um mês depois, já estava usando novamente todos os tipos de drogas possíveis, havia caído na tentação. Mas permaneceu ao seu lado, mesmo quando, por conta de drogas e altas noites festejando, ela tenha ficado paranoica. sumia por horas e horas. No começo ela pensou que ele pudesse estar lhe traindo, mas não era isso, se drogava tanto que ficava inconsciente. Se tinha uma coisa certa, era essa, nunca tinha a traído. Quando ia atrás, por preocupação e trauma, medo de ele ter tido uma overdose ou algo do tipo, começou a achar ele em cantos aleatórios e percebeu: a “outra” na vida de não era uma garota, era a cocaína. E lá estava ela mais uma vez para atrapalhar tudo. Na segunda vez que foi para a reabilitação, também foi assim, as esperanças não morriam, mas, alguns dias depois, lá estava ele novamente na mesma merda.
— Hm, , precisamos tirar outra chave pra você — falou, ainda animado e olhou pra ela, percebendo assim sua feição carregada de tristeza. Enrugou as sobrancelhas então. — O que foi? — Achava engraçado como ele fingia que nada acontecia, que viviam um lindo conto de fadas.
— , eu vou pra Europa — falou e engoliu seco.
— Sim, nós vamos! Com certeza você vem comigo pra tour. — Ele foi chegando perto.
— Não é isso, . — Fez uma pausa e respirou fundo. — Eu... Eu não quero mais ficar com você. — Não passava firmeza, sua voz estava trêmula.
— O quê? — Ele comprimiu os olhos, pensando se tinha escutado certo.
— Eu estou terminando com você e dessa vez é pra valer. — Seus olhos se encheram de lágrimas.
— De novo isso, ? Vai dormir que amanhã é um novo dia — ele falou com um tom brincalhão e se virou, na intenção de voltar para a cozinha.
— Eu não to brincando, . Em cinco minutos, eu vou embora daqui e nós nunca mais vamos nos ver. — Apesar de estar tremendo, agora sua voz tinha saído muito mais firme.
— , para com isso.
— Mas que merda, não era isso o que você queria? Todos esses anos tentando me afastar, se arrependendo e me puxando de volta! Tá aí, caralho, eu tô finalmente indo embora, . — Jogou sua bolsa no sofá, limpando as lágrimas em seguida.
— Do que você tá falando? — Parecia realmente confuso.
— Não se faça! Eu sei bem, não sou mais a mesma idiota. Talvez eu não percebesse antes, mas agora entendo. Você nunca se importou comigo de verdade, não foi? Era sempre você, você e você. Nunca parou pra pensar como esse seu joguinho infernal poderia mexer comigo. — O coração de acelerou, finalmente estava conseguindo jogar tudo na cara dele. — Depois ainda tem coragem de me chamar de narcisista, de dizer que sou egocêntrica. O único egocentrismo aqui vem de você! — ela se alterou.
— Mas que porra, eu vivo tentando consertar essa merda que nós vivemos. Eu tento ao máximo, faço de tudo por nós e por esse relacionamento falido. — Se aproximava dela conforme falava.
— Faz o quê? Encher o cu de droga não é exatamente algo que se faça pra levantar uma relação. — Ela foi irônica.
— Você sabe que eu tenho um problema e sempre o tive. Não venha jogar isso na minha cara mais uma vez. — Seu tom era baixo e ele continuava a se aproximar dela devagar.
— E eu sempre tentei te ajudar.
— Mas eu nunca pedi pra você fazer isso. — Ela assentiu, sabia que ele tinha razão.
— É verdade, eu deveria ter percebido isso antes.
— Se mais uma vez você vai tentar me chantagear com término pra me levar pra reabilitação, saiba que isso não vai funcionar. Se quiser ficar comigo, é desse jeito. — Ele parou centímetros à frente dela, a fim de fazê-la estremecer.
— Não vim brigar, . Não vim ceder às suas bajulações novamente, a esse seu papinho de aspirante a socrático drogado e muito menos ao seu papo clichê de que precisa de mim. — Ele estava bravo, nunca havia falado assim com ele, mas decidiu não lutar mais contra.
— Certo, não vou mais te segurar aqui. Se quer ir, então vá, . Só não me ligue quando estiver entediada e se masturbando. — Ela deu uma risada cínica, pensando o quanto ele tinha sido escroto e infeliz, mas não falou mais nada. Apenas o observou acender um cigarro enquanto pegava sua bolsa no sofá. Se dirigiu até a porta e quando tocou a maçaneta, esperou alguns segundos, não sabia o porquê. Ela girou e abriu a porta, mas foi impedida por , que, atrás de si, a fechou. — Espera. — Ela se virou e ele estava uns 5 centímetros de distância dela. Seu coração acelerou e sentiu os calafrios dominarem seu corpo todo.
— O que é, agora? — falou com certo desdém em sua voz.
— Eu... — Não terminou a frase, apenas a beijou. E, para sua surpresa — ou talvez nem tanta —, ela correspondeu, mas sabia bem o que seria aquilo. Seus braços passaram rapidamente pelo pescoço do mais alto e ela jogou sua bolsa no chão. Os braços dele seguravam sua cintura, a trazendo para mais perto. Sua língua quente e macia proporcionava um beijo intenso para ela. Para ela. Já ele, conseguia sentir seu estômago revirando. Há tempos não davam um beijo com tanta paixão, urgência e amor. Dizem que o beijo da despedida é o mais gostoso e também o mais difícil, e era verdade. Ele desceu as mãos que estavam em sua cintura para sua bunda e a puxou para cima, fazendo com que ela subisse e entrelaçasse suas pernas ao redor do corpo dele. Sem cortar o beijo, ele foi em direção ao seu quarto, e, ao adentrar, parou de beijá-la na boca e foi descendo, trilhando o caminho até seu pescoço, deixando alguns carinhos ali, o que a fez gemer baixinho. Ele ajoelhou e a colocou na cama, e deitada ela o observou tirar sua própria camiseta e jogá-la longe antes de comer a beijá-la mais uma vez...
Segurando o lençol na altura do peito, ela parou de pensar e decidiu agir. Sentou-se na cama e procurou sua roupa. Quando localizou, se levantou e começou a se vestir, logo chamou atenção de com os movimentos e ele logo se levantou um pouco e encostou na cabeceira, assistindo tudo. Ela pegou as botas que usava e andou até a ponta da cama, se sentando para poder calçá-las.
— , estou indo embora. Se cuide, por favor. — Ela se levantou já com seus calçados e olhou para ele. Não falou nada, parecia estar desacreditado que ela nunca mais fosse ligar para ele. — Ah, não tente me ligar, . — Apenas continuou a assisti-la, se virou e passou pela porta de cabeça baixa. Tinha certeza de que ela estava começando a chorar, e tinha razão, ela chorava por todos os bons momentos e também pelos maus que havia vivido ao seu lado, mas chorava principalmente porque era o fim. Sabia que não tinha mais como voltar atrás e nem queria voltar.
Não soube como conseguiu, mas chegou até a casa de Lia dirigindo. Quando ela abriu a porta, tudo o que conseguiu fazer foi desabar nos braços da amiga, que não falou nada, apenas a consolou a noite toda, como sempre fazia quando necessário.
Seis dias depois, lá estavam elas, malas na mão e rumo ao aeroporto para a Europa e também a uma nova vida.
7 anos depois
O celular de tocou enquanto ela preparava o jantar, o nome de Natalia apareceu na tela e ela atendeu.
— Pois não, senhorita? — brincou com a amiga
— Eu sei que eu vou pra aí daqui a pouco, mas você precisa ligar naquele canal que passa Saturday Night Live. É urgente. — Ela parecia preocupada.
— Meu Deus, já vou... — Desligou todas as bocas do fogão para que nada queimasse e foi até a sala, ligando sua televisão. — Estou ligando, mas me fala o que é, estou curiosa.
— Não, acho melhor você mesma ver, pois, se eu te contar, capaz de não acreditar e mais, sente-se.
— Ai ai, to assustada já... — falou e finalmente conseguiu achar o canal. E quando viu do que se tratava, abriu a boca. — Caralho, Natalia...
— Pois é, vida. Vou desligar pra terminar de me arrumar e poder ir pra aí. Beijos!
— Beijos, Lia — falou. Estava paralisada, não foi ela quem desligou.
— Todos seus fãs querem saber, é verdade que teremos uma música de quase quinze anos atrás como cover da próxima turnê? — o entrevistador desse programa que ela nunca tinha visto perguntou.
— Bem, é sim. É uma música muito especial pro . Quando ele nos mostrou, nós amamos. Decidimos tocá-la então — Ross o respondeu.
— E qual o nome dessa música? Podemos saber? — o entrevistador voltou a perguntar. Todos se entreolharam e assentiram.
— Acho que sim. Se chama Love me Again, é uma música pop do John Newman e achamos que seria bom uma coisinha diferente — George disse e, ao ouvir aquilo, o coração de ficou em pedacinhos, não tinha reação. Era a música deles.
— Então, , você tinha dito que esse é um álbum muito emocional, certo? — Ele balançou a cabeça, concordando. — Nos fale mais sobre ele e o novo single, The Sound. — ele deu uma risada nasalada.
— Bom, é um pouco difícil explicar. Tive um relacionamento um pouco complicado uns anos atrás. Foi uma relação bem tóxica, mas ao mesmo tempo hoje vejo como algo muito especial e isso acabou me ensinando muito. Não a vejo e nem falo com ela faz tempo, mas sempre a tive como inspiração. Tanto o álbum, como o single, são sobre isso, sobre nós, sobre mim e sobre ela. Aliás, , se estiver vendo isso, eu gostaria de me desculpar de verdade e espero que você esteja bem. — Ela queria poder dizer que estava chocada em todas as línguas possíveis. — Ah, entre em contato, caso queira conversar.
— Uau, acho que por essa ninguém esperava. Algo mais sobre o álbum? — o entrevistador perguntou.
— Na verdade, sim. — Soltou uma risadinha. — Ele foi produzido durante seis anos e é todo escrito por mim. Nesse meio tempo, lançamos outros dois álbuns, mas eu sempre estive trabalhando nesse. Não era algo que eu pretendia lançar, mas então Adam viu as letras um dia e ele estava tipo “Isso é sensacional, temos que fazer virar um álbum” — ele imitou a reação do amigo. — E foi isso. Adam mostrou para o George, que mostrou para Ross e foi isso.
— Incrível, mal posso esperar! Rapazes, agora eu quero saber um pouquinho da vida pessoal de vocês. — Eles se entreolharam, rindo. — Girem essa roleta e vou fazendo perguntas especialmente feitas pra vocês. — E então eles giraram. Caiu no .
— , se esse for um assunto delicado, me avise. — Ele assentiu, ela já sabia do que se tratava. — Por que tantas vezes na reabilitação? — O apresentador fez cara séria.
— É um pouco delicado, mas nada que eu não possa falar. Eu acho que todos sabemos a razão de alguém ir para a reabilitação, certo? A questão era, eu não tinha uma saúde mental boa, era todo ferrado e nas duas primeiras vezes, quem me convenceu a ir foi , a garota a qual citei. E eu falhei muito, acabei fazendo coisa errada de novo. A terceira tem três anos. Eu fiquei um ano internado e a banda fez uma pausa, meu empresário me colocou contra a parede após a overdose. Era a reabilitação ou eu estava fora, então optei pela minha saúde e por continuar a fazer a coisa que eu nasci pra fazer, que é a música. Hoje em dia é mais fácil falar sobre isso.
— Entendo, e você está sóbrio desde então? — Ela ficou nervosa, com medo da resposta que ele daria. Tinha percebido que ele parecia mais sadio, não tinha mais olheiras e seu corpo também não era como antes.
— Sim, estou. Drogas nunca mais, mas gostaria de relembrar a todos que maconha não é droga! — ele disse e todos deram risada, menos , que estava ainda raciocinando tudo.
— Certo, próximo... George! Você está prestes a se casar, não é mesmo? — George começou a responder, e foi quando apenas parou de prestar atenção sem perceber e começou a se lembrar de tudo.
Tudo mesmo, toda sua trajetória, seu primeiro namoradinho do ensino médio, o dia em que Lia a levou àquele bar, a amizade que construiu com , depois o relacionamento — se ela pudesse chamar assim —, todas as brigas, as reconciliações, o desgaste emocional de ambas as partes, tudo o que viveram, até o término. Término esse que a assombrava até hoje. Nunca mais conversaram. Há sete anos, ela se virou e nunca mais voltou e tinha muito orgulho de si mesma por isso.
— Agora, com vocês, The 1975 com seu mais novo single The Sound! — Ouviu muitos aplausos e gritos, então novamente a sua atenção foi guiada à televisão. A batida começou e ela aumentou, para conseguir prestar atenção na letra.
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
E ela sabia exatamente do que se tratava essa música, seus olhos encheram de lágrimas.
Oh baby, won't you come again?
She said: I've got a problem with your shoes
And your tunes, but I might move in
And I thought you were straight, now I'm wondering
You're so conceited, I said: I love you
What does it matter if I'm lying to you?
I don't regret it but I'm glad that we're through
So don't you tell me that you just don't get it
'Cause I know you do
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
— Escroto do caralho! — murmurou para si mesma, enquanto dava risada.
A sycophantic, prophetic, socratic junkie wannabe
There's so much skin to see
A simple epicurean philosophy
Oh, and you say I'm such a cliché
I can't see the difference in it either way
And we left things to protect my mental health
But you'll call me when you're bored and you're playing with yourself
You're so conceited, I said: I love you
What does it matter if I'm lying to you?
I don't regret it but I'm glad that we're through
So don't you tell me that you just don't get it
'Cause I know you
— Mas que desgraçado! — Quanto mais escutava, mais ódio dava, mas ao mesmo tempo ela dava risada de tudo. Realmente, achava genial ele transformar anos como aqueles em arte. Ficou chocada com a perspicácia dele.
I know the sound, of your heart
Well I know when you're around 'cause I know the sound
I know the sound, of your heart
Bis 4x
Quando a música terminou, não esperou mais nada, desligou a televisão e foi à procura de um papel e caneta. Sentou-se na mesa da sala de jantar e começou a escrever.
— Amor? — Ouviu a voz de Emma e virou-se.
— Sim, meu bem? — perguntou.
— Está tudo bem? Por que desligou as panelas? — A mulher se sentou ao lado de sua namorada à mesa.
— Ah sim, está tudo ótimo. Apenas vim ver algo na televisão, já vou voltar pra lá.
— Ok, quer conversar? Você parece tensa. — Ela passou a mão nos cabelos de .
— Mais tarde, amor, por agora, não. Muito obrigada. — Emma sabia de tudo o que havia vivido, contaria para ela sobre o episódio de hoje, mais tarde.
— Tudo bem, vou dar continuidade lá na cozinha pra gente não atrasar o jantar. — Emma se levantou e deu um longo selinho em sua namorada, que sorriu e assentiu para ela.
Alguns longos minutos depois, quando já tinha escrito o que queria e estava devidamente dobrado, voltou para a cozinha e junto de Emma, finalizaram o jantar à espera de Lia e seu noivo. Quando chegaram, Emma ficou com Ed na cozinha conversando e chamou Lia no canto.
— E aí, você viu tudo? — Lia a perguntou.
— Quase, desliguei depois deles cantarem aquela música.
— E o que achou?
— Pra ser sincera, achei legal. É ótimo que ele esteja alcançando tanta coisa, que esteja sóbrio e que tenha uma musa — falou a última parte e as duas deram risada. — Mas é sério, fico feliz.
— Que ser humano evoluído, meu Deus. — Lia balançou a cabeça. — Mas eu entendo, de verdade.
— Lia, eu fiz algo — disse, apreensiva com a opinião da amiga.
— O quê? — ela perguntou, achou estranho o jeito que havia falado, então semicerrou os olhos.
— Isso. — Ela pegou um envelope e entregou para ela, que a olhou e fez um gesto como se tivesse a incentivando a ler, então ela abriu e começou a ler.
“, não precisa me pedir desculpas, sei que fez tudo por querer, já que você era um cuzão de merda, mas está tudo bem agora. Gostaria de dizer que fico imensamente feliz por tudo que você conquistou e espero que continue nesse caminho, mando minhas energias positivas a você.
Você tinha razão, eu havia desenvolvido traços narcisistas e descobri isso me tratando, fiz muita terapia. E, falando em terapia, espero que esteja fazendo também. :)
Quero deixar bem claro que não achei muito certo o jeito que nunca mais nos falamos, você sempre foi uma pessoa muito querida por mim e me doeu muito ter que ir embora daquela forma, mas eu precisava e sei que hoje você entende isso. Foi o melhor para nós dois e se hoje chegamos aonde chegamos, é pela coragem que tivemos de colocar um fim em um ciclo que não agregava mais nada de bom em nossas vidas, para que pudéssemos começar novos muito melhores. E porra, estou tão orgulhosa de nós dois, somos incríveis. Peço desculpas pelo jeito que parti, te bloqueei nas redes sociais e troquei de número, eu estava tentando ter um detox. Não guardo remorso de nada, está tudo no passado e tivemos lá nossos bons momentos, que guardo com muito carinho no meu coração, muita coisa boa aconteceu e eu jamais esquecerei.
Quando vi a notícia da sua overdose, quase morri de tanto chorar, fiquei muito triste e meu coração doeu demais. Uma parte de mim queria poder estar ao seu lado, te dando forças, mas desejei toda a melhora pra ti de longe mesmo. Quando se recuperou e fiquei sabendo que estava indo para a REHAB novamente, meu coração se aquietou e ficou quentinho, estava colocando muita fé em você, sabia que dessa vez daria certo. Estou orgulhosa de você.
Eu estou em um relacionamento já faz três anos agora. Eu a amo muito mesmo, o nome dela é Emma e pretendemos nos casar... E quem sabe mais para o futuro adotar alguns bebês.
Eu acho que é isso, não tenho forças para ter uma amizade com você — pelo menos não agora —, te mando essa carta mais para saber que estou viva, que te vejo às vezes e para você saber que está tudo bem entre nós. Se quiser me responder, tudo bem e se não quiser, tudo bem também.
P.s.: Obrigada pelo álbum todo dedicado a mim, haha”.
— Caralho, o seu senso de humor nunca morre. — Lia deu risada. — E você vai enviar?
— Não sei, o que você acha? — perguntou, estava tão indecisa.
— Acho que se você sente que precisa mandar para esclarecer as coisas, fale com Emma e mande — respondeu com sinceridade. — Eu gostei do que você escreveu, deu bastante suporte a ele, foi legal.
— Sim, vou mostrar pra ela mais tarde, mas pretendo enviar sim. — Respirou fundo.
— Faz bem. Às vezes é algo que você precisa liberar de dentro de si. — Era exatamente o que havia pensado.
— Você leu minha mente, estava pensando exatamente isso — falou, admirada com o pensamento compartilhado.
— Enquanto eu escrevia essa carta, fiquei pensando em nós. O quanto você me ajudou e tentou abrir meus olhos pra o que eu estava vivendo. Sei que você sabe e que eu já falei antes, mas realmente não é nada fácil pra quem tá dentro de um relacionamento abusivo, perceber isso. — Fez uma pausa, mas logo continuou. — E você foi tão paciente comigo, não me abandonou, só me ajudou. — Os olhos de Lia encheram de lágrimas, assim como o de . — Muito obrigada, eu te amo demais! — ambas deixaram as lágrimas rolarem.
— Eu também te amo demais — Lia respondeu e, em meio às lágrimas, as duas se abraçaram.
FIM
Nota da autora: Sem nota.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber quando essa fanfic vai atualizar, acompanhe aqui.
Para saber quando essa fanfic vai atualizar, acompanhe aqui.
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.