Capítulo único
Voltar para o Canadá nunca mais esteve em meus planos. Passei longos meses gravando Parabellum, e a única coisa que eu precisava era da minha casa que minha esposa Stacy tanto desejou comprar em Havana, e claro que eu aceitei a escolha dela.
Stacy era uma das mulheres mais fortes que havia conhecido, gostava de desenhar seus croquis em frente a janela, usava roupas criadas por ela mesma e não se incomodava se saia um pouco além das medidas de seu corpo. E a nova coleção dela para uma das grifes de roupa para a qual ela trabalhava seria inspirada em Havana, desde então, passamos a morar lá por longos três anos, até o momento que fui gravar o terceiro filme da franquia John Wick.
×
me recebeu no aeroporto de Canadá. Nós conhecemos quando ela tinha dezenove anos e eu vinte nove, quando trabalhávamos em uma das peças teatrais locais de Toronto. Foi umas das figurinistas mais incríveis com quem eu já tinha trabalhado, e ela só estava começando sua carreira, desde então nunca perdi o contato com ela e sempre a ajudei indicando o excelente trabalho dela.
— Oi. – Ela me abraçou.
— Oi, .
— Eu tomei todas as providências para que ninguém percebesse que você estava vindo para Toronto.
— Agradeço, e desculpe avisar você em cima da hora, eu não sabia a quem recorrer.
— Não tem problema. – Ajudava com minha mala de rodas. – Meu carro está no estacionamento mais próximo, logo chegamos até ele. – Andávamos entre os carros com cuidado.
— Tem certeza que não será muito incômodo ficar em sua casa?
— Claro que não. – Ela sorriu. – Você é meu amigo, está sempre bem vindo em minha casa, só peço que não repare na bagunça. – Abriu o porta-malas. – Pode colocar aqui. – Deu permissão.
— Obrigado, você vai trabalhar ainda hoje? – Entramos no carro, e logo ela deu partida.
— Preciso, mas é meio período, você se incomoda de ficar com as meninas? Juro que elas são bem comportadas, só gostam de brincar bastante.
tinha filhas? Eu não me lembrava dela ter me contado enquanto trocamos mensagens e no período que foi e-mail quando ela foi roubada, ou ela não contou por algum motivo ou eu realmente não recordava, já andava com a cabeça muito ocupada com os novos projetos.
Chegamos na casa dela, simples, elegante e recuada, diferente das outras casas da rua. Como ela morava em uma rua sem saída, ela tinha colocado uma fachada mais fechada, deixando mais seguro e como já conhecia ela, mais reservado. Descarregamos o carro e entramos naquele lar aconchegante e fresquinho, Toronto estava muito mais quente do que antigamente, ou eu também não recordava como lá era tão quente, os móveis de nuance agradáveis, um sofá grande e espaçoso de frente para a lareira, o pé direito alto, o hall bem organizado para o inverno; parecia que estava entrando na casa dela a anos atrás só que com mais espaço.
— Keanu, vou te levar até seu quarto, e logo as meninas chegam.
— Elas chegam que horas? – A questionei sem parecer muito surpreso que ela tinha filhas.
— Normalmente as onze horas, logo estarão aqui. – Parou enfrente a porta. – Esse é seu quarto, espero que não ache estranho pelas cores, tentei deixar o mais neutro possível para as visitas.
— Está perfeito , eu agradeço pela hospedagem.
— Não precisa agradecer. – Acariciou meu braço. – Sinta-se à vontade, o quarto é suíte viu? Estou esperando você lá embaixo com a comida.
— Ok.
Mesmo me sentindo em casa, eu me sentia estranho, como se faltasse uma pequena parte de mim. Entrei no banho e deixei a água fria cair sobre meu corpo, fiquei pensando em tantas coisas, em tantos momentos que os únicos que vieram em meus pensamentos foi com , eu tinha a melhor amiga que alguém poderia ter e não dei tanto valor assim depois que me casei com Stacy.
Saí com a toalha enrolada na cintura e já pude sentir o cheiro delicioso do almoço que ela preparava. Coloquei a blusa mais fina que eu havia levado, já que não queria que as filhas delas chegarem e eu as recebesse apenas de shorts.
— O cheiro está muito agradável. – Apareci na cozinha.
— Obrigada Keanu, é só uma coisinha rápida, nada de mais. – Mexia a panela.
— Precisa de ajuda?
— Poderia colocar a mesa? – Ela questionou e eu concordei com a cabeça. – Os pratos estão ali, naquele armário. – Apontou.
— Quais? – Perguntei, já que havia mais de dois jogos no armário e logo pude ouvir ela rir. Fazia tempo que não ouvia ela rir daquele jeito e ao mesmo tempo senti meu coração bater sutilmente.
— Os verdes com florezinhas brancas na borda e os garfos estão na mesma direção só que nas gavetas.
A mesa já tinha uma toalha branca, com porta-panelas centralizados. Logo ela trouxe o refratário que tirou do forno e colocou um outro na geladeira, ao lado de nossos pratos serviu um suco de laranja bem gelado para poder aguentar aquele calor.
— Não preciso dizer que meu pai é brasileiro e um ótimo chefe de cozinha né? Então eu fiz uma das receitas dele, pode parecer meio estranho, mas como sou vegetariana, eu fiz a uma lasanha com berinjela e queijo, acredite é muito boa, e aqui temos a salada. – Disse voltando para perto da mesa. – E depois de tudo, tem sobremesa. – Sorriu para mim.
— Temos um bom banquete então.
— É só uma comida “normal”. – Ela fez aspas com os dedos. – Nada de mais, pena que as meninas não podem comer.
E me fiz mais uma pergunta mentalmente, será que elas tinham intolerância à lactose? Até porque hoje em dia, tem remédio que ajuda as pessoas com intolerância a lactose.
— Mas para mim, depois de comer comida pré-pronta ou pedida em aplicativo por quase quatro anos, isso está maravilhoso.
— Vejo que Stacy não cuidou bem da refeição.
— Você a conhece. – Disse em defesa da minha esposa.
— Keanu, você quer que eu seja falsa e fale que ela está certa, ou quer que eu de a verdadeira opinião?
— Podemos só comer a lasanha? – Eu ri.
— Podemos.
Conversamos, sem ser sobre a Stacy, ela falou que estava trabalhando em uma peça teatral, com os figurinos reluzentes e bem diferentes do que ela já havia trabalhado. Onde o fada se apaixonava pela mulher, e precisa passar por todos os trópicos para poder ficar com ela, mas no fim quem desiste por uma mera promessa é a mulher, o deixando sozinho. Durante o tempo que comemos a sobremesa estranhei as filhas dela não terem chegado ainda, e já tinha passado das onze horas – da manhã, é claro.
— Tenho que ir, as meninas chegam daqui a pouco eu deixei avisado que você está aqui, assim elas deixam as meninas entrarem, é uma política de entrega em casa da escolinha.
“Então elas eram novas, seis anos provavelmente.” – Pensei.
— Sem problemas, vou cuidar bem delas.
— Obrigada. – Deu um beijo em minha bochecha. – Pode usar a piscina e as boias, realmente sinta-se em casa.
— Você já está fazendo eu me sentir em casa. – Sorri para ela. – Bom trabalho.
— Obrigada!
Zapeei os canais na televisão e não achei um conteúdo que me atraísse, principalmente os programas que tinha um bloco exclusivo para falar das pessoas famosas. Quando eu desliguei a televisão e pensei em ir passar um tempo sentado na beira da piscina, eu escutei a campainha tocar. Caminhei até o hall, peguei a chave que ficava dentro do vaso, destranquei e andei tranquilamente até o portão, logo vi ali parada conversando com uma mulher.
— Mas você não foi trabalhar? – A vi olhar para dentro enquanto a outra mulher se afastou.
— Sim, mas vi o carro chegando ai dei meia volta. – Riu. – As meninas chegaram.
— Aqui está, senhorita , Lucy e Chanel. — Ouvi a mulher falando o nome das filhas. Estranhei o nome Chanel, não imaginei que ela daria esse nome para a uma de suas filhas.
— Muito obrigada. Vamos meninas. – Entrou ao fechar o portão com duas labradoras. Eu não pude esconder que estava boquiaberto. – Está tudo bem?
— Sim eu só achei que eram duas crianças.
— Não. – Ela gargalhou muito. – São só duas labradoras, Lucy tem dois anos e a Chanel tem quatro, elas estão sendo adestradas, por isso vão à escola. – ainda ria. – Só você Keanu.
— Eu estranhei você não ter contado que tinha filhas. – Também estava rindo.
— Pode deixar elas soltas, são bem educadas.
— E a parte superior da casa?
— Lucy e Chanel não sobem lá, se você vê que elas estão pulando do nada sob a mangueira pode ligar o regador, é de água reutilizável da chuva.
— Você realmente fez isso. – Apoiei minha mão na cintura.
— Claro, e por que eu não faria? Foi mais fácil do que eu achava, e também minha conta de água fica baixa, agora preciso ir, até mais tarde.
— Até. – Segurei as labradoras pela guia. – Já que vocês são as filhas da , não preciso tomar tanto cuidado com vocês subindo em lugares altos. – Ri sozinho.
Tirei a guia delas e coloquei pendurada na cadeira de sol. Fiquei sentado na beira da piscina enquanto escrevia algumas palavras. sempre falou que eu era um bom escritor, mas nunca levei tanta credibilidade nisso, o que me fez deixar muitos textos e poemas guardados em gavetas dentro de pastas. Porém até nisso estava muito chato, não estava muito bem. Passei tanto tempo sozinho e depois, com tudo que fomos construindo, ela simplesmente conseguiu finalizar em uma forma tão desnatural.
Escutei meu celular tocar lá na sala, levantei da beira da piscina indo em direção do local acompanhado de Lucy, era pedido para conferir se ainda havia queijo na geladeira e se gostaria de algum tipo de frio. Mesmo sendo vegetariana ela ainda gostava de agradar suas visitas, e eu sabia que comigo não seria diferente, entretanto não me incomodava em comer a mesma refeição que ela, mas para não a deixar triste:
— Pode trazer apresuntado.
— Ok, irei levar um pouco depois compro mais, e você continua gostando de bolo de baunilha?
— , não precisa se preocupar com isso.
— Precisa sim, continua?
— Continuo. – Ri sutil.
— Vou levar também, logo estou em casa.
— Estamos te esperando, até e cuidado ao dirigir.
— Até e terei cuidado.
×
Minutos se passaram e as duas cachorrinhas que estavam deitadas comigo se levantaram correndo em direção da porta ao escutarem a chave na mesma.
— Oi meus amores, como vocês estão? Devem estar morrendo de calor né, mas eu trouxe sorvete canino para vocês. – Ela falava com a voz fina, toda alegre. A vi se aproximando da sala. – Oi Keanu.
— Oi, como foi o teatro?
— Muito bom, está sendo um sucesso, nunca imaginei que seria um sucesso do jeito que está sendo. – Ela colocava os potes de sorvete em cima do tapetinho para a Chanel e Lucy.
— O roteiro foi escrito por quem?
— Por. – desviou o olhar, e eu sabia o que aquilo queria dizer. – Pela Mary, ela que escreveu, é a primeira peça dela sem outro escritor e diretor.
— Hm, ela tem uma boa criatividade.
— Ah sim, ela é incrível. Bom eu vou deixar na cozinha e vou tomar um banho, se quiser fazer seu jantar ou só um lanche pode fazer, o bolo também está na sacola.
— Você realmente não aderiu a janta como uma refeição importante. – Ri.
— Não, eu só tomo meu café e como um lanche, mais nada.
Preparei alguns lanches para a gente e a esperei na sala como o bolo no prato, depois de ter colocando em Ocean’s Eleven. Desceu e se sentou ao meu lado, pegou o suco que havia feito – com muita água gelada, e se serviu. amava George Clooney e aquele era o filme favorito dela, principalmente com a Julia Roberts, tanto que sua atenção ao filme era única, não desviava o olhar nem um segundo e até evitava de comer seu lanche de queijo e alface.
Os dias foram se passando, minha estadia de uma semana se prolongou, eu a ajudei com as despesas de casa e passei a pagar algumas contas, mas no fundo eu não conseguia melhorar. Estava sentado na cama, olhando aquela chuva de verão cair contra a janela, a luz já tinha dado o índice de que iria cair, então não tínhamos muito o que fazer.
— Keanu. – Escutei bater à porta. – Posso entrar?
— Pode.
— Eu trouxe uma lanterna, falaram que vai demorar para a tempestade passar.
— Obrigado.
Um pequeno silêncio ficou entre nós, onde podia se ouvir os trovões, o vento e a chuva.
— Eu sei que não está nada bem entre você e sua esposa, mas te ver assim tão distante é tão... – Ela buscou a palavra. – Me deixa aflita.
— .
— Olha, se você quiser falar qualquer coisa, escutar meus conselhos ou apenas só queria que eu escute tudo e depois eu mudo de assunto como se nada tivesse acontecido, eu faço isso. Eu só não quero ver você assim.
Olhar para ela enquanto seus olhos suplicavam para eu me desabafar só me fez ficar admirado, admirando aqueles olhos claros, sua pele negra sendo banhada pela luz da tempestade e pela lanterna que tivemos que ligar quando a luz acabou, a deixava mais sedutora.
— O que tem para servir depois que eu contar?
— Sorvete, pois o resto é tudo movido a energia. – riu e eu a acompanhei.
— Poder ser.
x
Três semanas atrás.
Tudo havia acabado para o filme Parabellum. Tinha terminado de conversar com o diretor e repassado tudo, não queria ter que voltar para o Estados Unidos caso algo desse errado para voltar a regravar. Com tudo certo e ao passar uma semana para a confirmação de Chad, voltei para minha casa.
Um voo cansativo de Marrocos com ponte para o Estados Unidos, e de lá para Havana. Queria apenas um banho relaxante e ficar deitado na cama com minha esposa. Eu passei o voo todo pensando e imaginando tudo isso, como se o amanhã nunca viesse.
Fiz o check-in no aeroporto e peguei um táxi para ir até minha casa. Mas se eu soubesse, teria esperado dentro do carro e só saído de lá depois de duas horas.
No momento em que eu entrei em minha casa, escutei sons duvidosos; caminhei até meu quarto, nosso quarto e, ao abrir a porta, senti meu coração se despedaçar em milhões de pedaços.
— Stacy. – Minha voz saiu falhando.
— Keanu, amor. – Ela se enrolou no lençol salmão saindo de cima do seu amante. – Eu posso explicar.
— Explica como você está me traindo ou desde quando isso está acontecendo?
— Não escuta, eu te amo, isso foi só um momento.
— Achei que você falou que não era mais um momento. – Ouvi o amante dela dizer.
— Stacy. – Respirei fundo. Mesmo naquela circunstância eu queria só manter a calma e não falar palavras de baixo calão. – Só me responde uma única coisa, desde quando isso está acontecendo?
— Um ano, mais ou menos.
Passei minhas mãos em meu cabelo negro e longo e respirei mais fundo ainda. Peguei outra mala e coloquei todas as roupas de calor que couberam, junto de um único tênis. Não quis levar nenhum relógio, o que estava comigo estava bom, tudo que já estava comigo estava bom, eu só precisava achar um lugar para ficar.
— Aonde você vai?
— Para bem longe, talvez acima do trópico de câncer.
— Não, precisamos conversar.
— Não temos o que conversar Stacy, você fez a sua escolha, ele mesmo falou. Depois eu entro contato, para ver as papeladas do divórcio.
— Divórcio?!
Sai sem respondê-la, mas sei muito bem que ela entendeu, não ia continuar assim, embora só descobrindo isso tudo depois de um ano. Liguei para uma agência de viagem e comprei a primeira passagem para o Canadá e, enquanto esperava um outro táxi, procurava um hotel para ficar, mas pelo calor que fazia e por tempo de férias, todos que entrei em contato não tinha um quarto disponível. Minha última alternativa foi para .
×
— É... Sorvete?
— Pode falar. – Sorri para ela. não sabia o bem que me fez ela e escutar. Ela me fazia um bem só de estar comigo.
— Você precisa sair Keanu, igual fazíamos quando éramos jovens. – Se aproximou de mim. – Vamos? Quando essa tempestade passar a gente sai, andamos por aí.
— Você me convenceu. Vamos pegar o sorvete.
Vi um sorriso branco e maravilhoso nascer nos lábios pintados dela. Descemos com as lanternas ligadas e ela pegou o pote e duas colheres. Sentamos em volta da ilha e comemos o doce com as duas labradoras deitadas aos nossos pés.
No dia seguinte, sai cedo junto de e as filhas dela. Deixamos elas na escola de adestramento e ela avisou que só buscaria as duas no dia seguinte – dando pagamento inicial para o hotel que a escola oferecia. De lá fomos para o teatro, algumas ruas estavam bloqueadas, o serviço da prefeitura retirava as árvores caídas e a de eletricidade cuidando dos fios que caíram com a força do vento.
— Vamos fazer o ensaio, quer assistir da plateia ou quer ver do backstage?
— Da plateia, todos vieram? – Perguntei por conta da chuva.
— Sim, o que me deixa mais orgulhosa ainda, pode descer, esse é o panfleto que todos recebem e você vai ter o seu para acompanhar.
A peça. Atores, cenário, figurino. Tudo estava mágico, leve como o enredo e com o nome da peça: ”Tomorrow Never Come.” O enredo era bem familiar e aquela pausa quando a questionei só entregou tudo. Não era apenas um fada e uma mulher que se apaixonaram, era...
— Keanu. O que achou? – apareceu ao meu lado.
— É bem mágico como você mesmo descreveu, mas eles não teriam como se reencontrarem?
— Não. – Disse olhando para as cortinas fechadas. – Não tem como, ela seguiu outro rumo, conheceu o amor da sua vida e foi viver com ele.
— Mesmo amando Itilus?
— Ela não o ama mais, ama o outro, mesmo a peça não mostrando. – A vi esfregando suas mãos na saia que usava, sinal que estava nervosa. Eu apenas sorri de lado para ela. – Vamos? Estava pensando em ir em um restaurante, um dos que íamos.
Concordei com a cabeça e ela levantou, segurando a pequena bolsa em sua mão. Nos despedimos de todo o elenco e dessa vez eu dirigi até o restaurante. Aos poucos vi como me sentia feliz ao lado dela, como tudo com ela parecia ser mais airoso. Todo esse tempo e eu não vi o quão bem ela me faz.
×
— Certo, a música aqui é calma, vim mais pelo meu estilo, espero que não ache muito estranho.
— Não, é até melhor. Eu vou buscar suco para a gente. – Estávamos agora em um bar, o mesmo onde fiz a minha despedida de Toronto.
Enquanto esperava o barman preparar o suco de , a via dançar sozinha, tão leve e solta, tão independente e cheia de si. era, como uma tela pintada de verde e amarelo, sempre mostrou seu tamanho orgulho por ser brasileira e por ser negra, e isso foi o que fez eu me aproximar dela. Era a segunda vez que eu me distraía pensando nela, tanto que o barman teve que me chamar mais alto para poder me entregar as bebidas.
— Aqui está. – Entreguei o suco para ela, com um canudinho reutilizável.
— Obrigada, eu estranhei você dizer que ia pegar suco para você. – Ela disse olhando para minha Corona.
— Não ia dispensar ela.
— Então, enquanto bebemos nós dançamos, hoje é literalmente o dia para você se animar e principalmente ser você.
nem deixou eu concordar e já segurou minhas mãos, me puxando para mais adentro da pista. Era como voltar no passado e passar todas as noites juntos, aqui neste mesmo lugar. O passar da noite trouxe mais pessoas e subimos para o terraço do local, onde a música chegava bem pouco, durante o caminho, pegou duas taças de vinho para nós e a percebi distante, olhando para o horizonte com as nuvens cinzas de chuva.
— Está tudo bem?
— Sim, eu só estava lembrando de algumas coisas. – Ela colocou uma música calma na jukebox que agora as luzes acompanhava as batidas da música de Lennon.
— Lembra quando ficamos tocando violão aleatoriamente na fazenda do meu tio? – Ela recordava.
— Pareciam longos domingos, e ainda cuidamos do seu jardim de rosas. – A fiz rir. – Ele ainda tem a fazenda?
— Sim, e com meu jardim de rosas. Eu fui lá antes de você chegar aqui, as rosas daquele vaso eram de lá.
— Permanecem lindas.
“Como você, sempre permaneceu linda!” – Pensei.
— Concordo, quem sabe não vamos lá ainda essa semana. – sugeriu.
— Não é isso que você se recordava, eu conheço você.
— Era isso sim, não se preocupe.
E deixou aquele silêncio entre nós e, ao fundo, a música de Lennon e os fracos trovões dava uma melodia diferente para qualquer um que escutasse. Me sentei em um banco de madeira e fiquei observando tudo, processando pela última vez como tudo aconteceu até aquele momento.
— Por que ? – Olhou para mim. – Ela sabia tudo que aconteceu comigo, ela simplesmente pega e joga tudo no lixo e dorme com outro na nossa cama, na mesma cama onde. – Não completei a frase.
— Porque ela é uma idiota. – Sentou-se ao meu lado. – Quando você foi se casar, eu sabia que ela não sentia muito amor por você, não sei o nível, mas era perceptível, não digo por ela ter trinta e cinco anos, e ser apenas vinte anos mais nova que você. Sabe. – Segurou minha mão. – Mesmo você a amando e ela no começo parecer que nunca faria isso, você realmente precisa parar de pensar no que aconteceu.
— Você sempre está certa, como consegue deixar tudo certo?
— Eu não consigo. – A vi olhar para o chão. – Teve um dia, onde pela primeira vez me senti insegura e tudo que eu planejei deu errado.
— Aquele seu ex namorado?
— Não. – Riu tristonha. – Quando foi sua despedida do Canadá, não se lembra? Todos viemos para cá, todos beberam dançaram, cantaram. Você disse para eu te esperar aqui, eu fiquei aqui sentada nesse mesmo banco, com a Jukebox tocando, mas você nunca veio, apenas a única coisa que veio me encontrar foi a chuva e para mim o amanhã nunca chegou.
Recordei-me daquele dia como se fosse ontem. Eu havia bebido tanto que não tinha lembrado que ia me despedir de uma forma decente dela, mais privada e sem ninguém para atrapalhar nós dois. Não era só me despedir, eu ia dizer o quanto eu a amava e mesmo se não fosse recíproco eu pelo menos iria morar no Estados Unidos mais aliviado, por ter deixado tudo certo no Canadá.
— me desculpa, eu bebi tanto que me esqueci. – Ajeitei-me no banco. – Eu realmente não tinha essa intenção, acabei me esquecendo.
— Tudo bem, já passou.
— Não, . – Estava de frente para ela, olhando naqueles olhos que sempre me trouxeram a calmaria e agitação, os mesmos que roubaram meu coração junto de seu sorriso. – Aquele dia eu precisava falar com você e você sabe que sempre fui muito tímido, pelo menos ao seu lado. – Ela concordou com a cabeça. – E eu precisava dizer o quanto eu te amava, não esperava que fosse comigo, pois seus pais ainda moravam aqui em Toronto, mas quando você disse que estava com um outro alguém, eu senti como se o mundo tivesse desabado.
— Mas nunca deu certo, com nenhum outro homem, porque eu sempre te amei, Keanu, e eu me xinguei por longos dias por nunca dizer isso.
— Eu devia ter tido coragem, até mesmo no dia que fomos ao aeroporto, o que eu senti pela Stacy nunca chegou perto do que eu sinto por você até hoje. – Acariciava o rosto dela. – Será que ainda temos tempo para viver todo esse amor?
— Sim, até porque eu nunca mais perderia um minuto ao seu lado.
Eu não acredito muito em coincidência, ou nesses filmes e estórias que quando o casal se beija começa a chover, mas naquela noite, enquanto a tinha em meus braços a beijando tranquilamente com toda intensidade do nosso amor, a chuva caiu suavemente sobre nós dois.
Aquela noite, mais uma vez a luz caiu, mas nem o refrescar daquela chuva poderia deixar aquele quarto menos quente do que estava e o que poderia dizer era que passava até a temperatura do verão.
Acordei mais cedo que , coloquei água fresca para as cachorrinhas e ração a para elas. Peguei a cópia da chave e fui até a padaria mais perto, comprei mais queijo para ela e, no caminho de volta para casa, passei no supermercado, comprei mais algumas coisas e coloquei tudo na sacola reciclável; atendi educadamente alguns fãs e logo voltei para minha casa, ou melhor, para a casa de .
Com a mesa posta e as duas – Chanel e Lucy – lá fora brincando fui até o quarto ver se ela estava dormindo. Sentei na beirada do colchão e acariciei a braço dela, que estava coberto com minha blusa.
— Bom dia, . – Beijei-a no rosto.
— Bom dia, que horas são?
— Oito horas, não é tão tarde.
— É sim, preciso por trocar a água e a ração das meninas.
— Não se preocupe, eu já fiz isso. – Sorri para ela. – Fiz o café da manhã, espero por você lá em baixo.
— Ok, eu já desço.
A esperei sentado na cadeira enquanto Lucy ficava com a cabeça deitada na minha perna de olhos fechados por conta do carinho que recebia entre as orelhas. Logo vi aparecer na cozinha amarrando o cabelo e a pedindo para não reparar nele, já que a chuva o fez ficar todo rebelde, mas teria como não reparar quão linda ela ficou com minha blusa azul clara que realmente combinou com sua pele chocolate.
— Está muito bom. – Disse sobre o café que eu preparei. – Vou lembrar de pedir para você fazer isso mais vezes. – Ela riu educadamente.
— Obrigado, se você permitir, faço todos os dias.
— Eu vou aceitar. – Sorriu. – Estava pensando e fazer uma massa hoje, com dois tipos de molhos. – Ela disse ao se ajeitar na cadeira. Meu Deus como eu pude passar tanto tempo longe dessa mulher? – Keanu?
A escutei meu chamar, me tirando daquele leve Hipnotização que aquele sorriso me prendeu.
— Aceito, se precisar de ajuda.
— Até onde eu lembro, você não era um bom cozinheiro.
— . – Fingi esta magoado. – Eu aprendi a cozinhar, tive que morar sozinho, fiz um pequeno curso.
— Ufa, ainda bem. – Gargalhou. – Vou subir tirar sua blusa. – Se levantou já se encaminhado para a escada. – Logo eu volto para ficarmos no sofá.
— Não. – Levantei rápido da cadeira e a puxei pela mão delicadamente. – Você está tão linda com ela, não precisa tirar. – Envolvi em meus braços sem deixar nenhum espaço entre nós.
A beijei, entrelaçando meus dedos nos cachos que ficaram soltos em sua nuca, e dessa vez sem nenhuma chuva para atrapalhar o gosto dos lábios dela, mesmo com sabor de café. Andei com ela até o sofá e deitamos juntos, com ela sobre mim, poderíamos ter continuado se Chanel não tivesse pulado em cima de nós.
— Ah, Chanel. – reclamou entre risadas. – Por favor, agora não é hora de brincar de bola, vamos sai de cima de mim.
Escutei Chanel reclamar. sentou no sofá e eu também, ela se encostou em mim e assistimos um filme aleatório. Em meio ao intervalo, desencostou de mim e me olhou, eu sabia o que estava por vir.
— Keanu, você já recebeu retorno do seu advogado?
— Sim, o divórcio já está indo para o tribunal.
— Se quiser ficar aqui, até conseguir uma casa em Toronto. – Ela mordiscou o lábio. – Ou até mesmo, morar aqui.
— , eu não quero atrapalhar você.
— Mas não vai. – Sentou-se no meu colo. – Você nunca vai me atrapalhar, disso eu tenho certeza.
— Eu não consigo dizer não para você.
No mesmo dia ela arrumou uma parte do closet dela e deu um espaço para colocar minhas roupas, avisei meu assessor sobre o novo endereço e que iria acompanhado para a conferência de games – no qual iria apresentar um novo jogo que estaria presente.
×
Se eu soubesse que poderia ter voltado atrás antes de me casar, eu seria um homem mais feliz. No dia que teria que ficar até mais tarde no trabalho, preparei um jantar vegetariano, coloquei na mesa, acendi algumas velas e coloquei o vinho nas taças. Até mesmo Chanel e Lucy estavam arrumadas com lacinhos na cabeça. E eu estava de roupa social, menos o terno e a grava, o calor estava intenso.
— Oi. Nossa! – disse surpresa. Ela já tinha deixado a salto no hall e tirado o casaco deixando seu vestido laranja a mostra. – O que vamos comemorar hoje?
— Tudo depende de você.
— Como assim? – Se aproximou de mim.
— Eu andei pensando, lembrando de tudo que passamos juntos, você sempre foi minha paz, calmaria, euforia e até mesmo todo o amor que eu aprendi a ter, não existe palavra que define tudo que eu sinto ao seu lado e eu confesso que quero ter toda essa sensação pelo o resto da minha vida, Mag, você aceita namorar comigo?
Os olhos dela brilhavam mais, seus lábios trêmulos por segurar o choro acompanhado em um largo sorriso.
— Sim! Mil vezes sim!
passou seus braços em meu pescoço e me beijou; Duas horas depois tivemos que esquentar nosso jantar e acabamos comendo sentados no chão, entre vinho e beijos.
Ah sim, meu divórcio foi um pouco conturbado, mas no fim deu tudo certo. Pude viajar ao Brasil junto de e suas filhas, visitamos seus pais e ela me mostrou a Bahia toda, sem deixar um pedaço faltando daquele paraíso.
Stacy era uma das mulheres mais fortes que havia conhecido, gostava de desenhar seus croquis em frente a janela, usava roupas criadas por ela mesma e não se incomodava se saia um pouco além das medidas de seu corpo. E a nova coleção dela para uma das grifes de roupa para a qual ela trabalhava seria inspirada em Havana, desde então, passamos a morar lá por longos três anos, até o momento que fui gravar o terceiro filme da franquia John Wick.
me recebeu no aeroporto de Canadá. Nós conhecemos quando ela tinha dezenove anos e eu vinte nove, quando trabalhávamos em uma das peças teatrais locais de Toronto. Foi umas das figurinistas mais incríveis com quem eu já tinha trabalhado, e ela só estava começando sua carreira, desde então nunca perdi o contato com ela e sempre a ajudei indicando o excelente trabalho dela.
— Oi. – Ela me abraçou.
— Oi, .
— Eu tomei todas as providências para que ninguém percebesse que você estava vindo para Toronto.
— Agradeço, e desculpe avisar você em cima da hora, eu não sabia a quem recorrer.
— Não tem problema. – Ajudava com minha mala de rodas. – Meu carro está no estacionamento mais próximo, logo chegamos até ele. – Andávamos entre os carros com cuidado.
— Tem certeza que não será muito incômodo ficar em sua casa?
— Claro que não. – Ela sorriu. – Você é meu amigo, está sempre bem vindo em minha casa, só peço que não repare na bagunça. – Abriu o porta-malas. – Pode colocar aqui. – Deu permissão.
— Obrigado, você vai trabalhar ainda hoje? – Entramos no carro, e logo ela deu partida.
— Preciso, mas é meio período, você se incomoda de ficar com as meninas? Juro que elas são bem comportadas, só gostam de brincar bastante.
tinha filhas? Eu não me lembrava dela ter me contado enquanto trocamos mensagens e no período que foi e-mail quando ela foi roubada, ou ela não contou por algum motivo ou eu realmente não recordava, já andava com a cabeça muito ocupada com os novos projetos.
Chegamos na casa dela, simples, elegante e recuada, diferente das outras casas da rua. Como ela morava em uma rua sem saída, ela tinha colocado uma fachada mais fechada, deixando mais seguro e como já conhecia ela, mais reservado. Descarregamos o carro e entramos naquele lar aconchegante e fresquinho, Toronto estava muito mais quente do que antigamente, ou eu também não recordava como lá era tão quente, os móveis de nuance agradáveis, um sofá grande e espaçoso de frente para a lareira, o pé direito alto, o hall bem organizado para o inverno; parecia que estava entrando na casa dela a anos atrás só que com mais espaço.
— Keanu, vou te levar até seu quarto, e logo as meninas chegam.
— Elas chegam que horas? – A questionei sem parecer muito surpreso que ela tinha filhas.
— Normalmente as onze horas, logo estarão aqui. – Parou enfrente a porta. – Esse é seu quarto, espero que não ache estranho pelas cores, tentei deixar o mais neutro possível para as visitas.
— Está perfeito , eu agradeço pela hospedagem.
— Não precisa agradecer. – Acariciou meu braço. – Sinta-se à vontade, o quarto é suíte viu? Estou esperando você lá embaixo com a comida.
— Ok.
Mesmo me sentindo em casa, eu me sentia estranho, como se faltasse uma pequena parte de mim. Entrei no banho e deixei a água fria cair sobre meu corpo, fiquei pensando em tantas coisas, em tantos momentos que os únicos que vieram em meus pensamentos foi com , eu tinha a melhor amiga que alguém poderia ter e não dei tanto valor assim depois que me casei com Stacy.
Saí com a toalha enrolada na cintura e já pude sentir o cheiro delicioso do almoço que ela preparava. Coloquei a blusa mais fina que eu havia levado, já que não queria que as filhas delas chegarem e eu as recebesse apenas de shorts.
— O cheiro está muito agradável. – Apareci na cozinha.
— Obrigada Keanu, é só uma coisinha rápida, nada de mais. – Mexia a panela.
— Precisa de ajuda?
— Poderia colocar a mesa? – Ela questionou e eu concordei com a cabeça. – Os pratos estão ali, naquele armário. – Apontou.
— Quais? – Perguntei, já que havia mais de dois jogos no armário e logo pude ouvir ela rir. Fazia tempo que não ouvia ela rir daquele jeito e ao mesmo tempo senti meu coração bater sutilmente.
— Os verdes com florezinhas brancas na borda e os garfos estão na mesma direção só que nas gavetas.
A mesa já tinha uma toalha branca, com porta-panelas centralizados. Logo ela trouxe o refratário que tirou do forno e colocou um outro na geladeira, ao lado de nossos pratos serviu um suco de laranja bem gelado para poder aguentar aquele calor.
— Não preciso dizer que meu pai é brasileiro e um ótimo chefe de cozinha né? Então eu fiz uma das receitas dele, pode parecer meio estranho, mas como sou vegetariana, eu fiz a uma lasanha com berinjela e queijo, acredite é muito boa, e aqui temos a salada. – Disse voltando para perto da mesa. – E depois de tudo, tem sobremesa. – Sorriu para mim.
— Temos um bom banquete então.
— É só uma comida “normal”. – Ela fez aspas com os dedos. – Nada de mais, pena que as meninas não podem comer.
E me fiz mais uma pergunta mentalmente, será que elas tinham intolerância à lactose? Até porque hoje em dia, tem remédio que ajuda as pessoas com intolerância a lactose.
— Mas para mim, depois de comer comida pré-pronta ou pedida em aplicativo por quase quatro anos, isso está maravilhoso.
— Vejo que Stacy não cuidou bem da refeição.
— Você a conhece. – Disse em defesa da minha esposa.
— Keanu, você quer que eu seja falsa e fale que ela está certa, ou quer que eu de a verdadeira opinião?
— Podemos só comer a lasanha? – Eu ri.
— Podemos.
Conversamos, sem ser sobre a Stacy, ela falou que estava trabalhando em uma peça teatral, com os figurinos reluzentes e bem diferentes do que ela já havia trabalhado. Onde o fada se apaixonava pela mulher, e precisa passar por todos os trópicos para poder ficar com ela, mas no fim quem desiste por uma mera promessa é a mulher, o deixando sozinho. Durante o tempo que comemos a sobremesa estranhei as filhas dela não terem chegado ainda, e já tinha passado das onze horas – da manhã, é claro.
— Tenho que ir, as meninas chegam daqui a pouco eu deixei avisado que você está aqui, assim elas deixam as meninas entrarem, é uma política de entrega em casa da escolinha.
“Então elas eram novas, seis anos provavelmente.” – Pensei.
— Sem problemas, vou cuidar bem delas.
— Obrigada. – Deu um beijo em minha bochecha. – Pode usar a piscina e as boias, realmente sinta-se em casa.
— Você já está fazendo eu me sentir em casa. – Sorri para ela. – Bom trabalho.
— Obrigada!
Zapeei os canais na televisão e não achei um conteúdo que me atraísse, principalmente os programas que tinha um bloco exclusivo para falar das pessoas famosas. Quando eu desliguei a televisão e pensei em ir passar um tempo sentado na beira da piscina, eu escutei a campainha tocar. Caminhei até o hall, peguei a chave que ficava dentro do vaso, destranquei e andei tranquilamente até o portão, logo vi ali parada conversando com uma mulher.
— Mas você não foi trabalhar? – A vi olhar para dentro enquanto a outra mulher se afastou.
— Sim, mas vi o carro chegando ai dei meia volta. – Riu. – As meninas chegaram.
— Aqui está, senhorita , Lucy e Chanel. — Ouvi a mulher falando o nome das filhas. Estranhei o nome Chanel, não imaginei que ela daria esse nome para a uma de suas filhas.
— Muito obrigada. Vamos meninas. – Entrou ao fechar o portão com duas labradoras. Eu não pude esconder que estava boquiaberto. – Está tudo bem?
— Sim eu só achei que eram duas crianças.
— Não. – Ela gargalhou muito. – São só duas labradoras, Lucy tem dois anos e a Chanel tem quatro, elas estão sendo adestradas, por isso vão à escola. – ainda ria. – Só você Keanu.
— Eu estranhei você não ter contado que tinha filhas. – Também estava rindo.
— Pode deixar elas soltas, são bem educadas.
— E a parte superior da casa?
— Lucy e Chanel não sobem lá, se você vê que elas estão pulando do nada sob a mangueira pode ligar o regador, é de água reutilizável da chuva.
— Você realmente fez isso. – Apoiei minha mão na cintura.
— Claro, e por que eu não faria? Foi mais fácil do que eu achava, e também minha conta de água fica baixa, agora preciso ir, até mais tarde.
— Até. – Segurei as labradoras pela guia. – Já que vocês são as filhas da , não preciso tomar tanto cuidado com vocês subindo em lugares altos. – Ri sozinho.
Tirei a guia delas e coloquei pendurada na cadeira de sol. Fiquei sentado na beira da piscina enquanto escrevia algumas palavras. sempre falou que eu era um bom escritor, mas nunca levei tanta credibilidade nisso, o que me fez deixar muitos textos e poemas guardados em gavetas dentro de pastas. Porém até nisso estava muito chato, não estava muito bem. Passei tanto tempo sozinho e depois, com tudo que fomos construindo, ela simplesmente conseguiu finalizar em uma forma tão desnatural.
Escutei meu celular tocar lá na sala, levantei da beira da piscina indo em direção do local acompanhado de Lucy, era pedido para conferir se ainda havia queijo na geladeira e se gostaria de algum tipo de frio. Mesmo sendo vegetariana ela ainda gostava de agradar suas visitas, e eu sabia que comigo não seria diferente, entretanto não me incomodava em comer a mesma refeição que ela, mas para não a deixar triste:
— Pode trazer apresuntado.
— Ok, irei levar um pouco depois compro mais, e você continua gostando de bolo de baunilha?
— , não precisa se preocupar com isso.
— Precisa sim, continua?
— Continuo. – Ri sutil.
— Vou levar também, logo estou em casa.
— Estamos te esperando, até e cuidado ao dirigir.
— Até e terei cuidado.
Minutos se passaram e as duas cachorrinhas que estavam deitadas comigo se levantaram correndo em direção da porta ao escutarem a chave na mesma.
— Oi meus amores, como vocês estão? Devem estar morrendo de calor né, mas eu trouxe sorvete canino para vocês. – Ela falava com a voz fina, toda alegre. A vi se aproximando da sala. – Oi Keanu.
— Oi, como foi o teatro?
— Muito bom, está sendo um sucesso, nunca imaginei que seria um sucesso do jeito que está sendo. – Ela colocava os potes de sorvete em cima do tapetinho para a Chanel e Lucy.
— O roteiro foi escrito por quem?
— Por. – desviou o olhar, e eu sabia o que aquilo queria dizer. – Pela Mary, ela que escreveu, é a primeira peça dela sem outro escritor e diretor.
— Hm, ela tem uma boa criatividade.
— Ah sim, ela é incrível. Bom eu vou deixar na cozinha e vou tomar um banho, se quiser fazer seu jantar ou só um lanche pode fazer, o bolo também está na sacola.
— Você realmente não aderiu a janta como uma refeição importante. – Ri.
— Não, eu só tomo meu café e como um lanche, mais nada.
Preparei alguns lanches para a gente e a esperei na sala como o bolo no prato, depois de ter colocando em Ocean’s Eleven. Desceu e se sentou ao meu lado, pegou o suco que havia feito – com muita água gelada, e se serviu. amava George Clooney e aquele era o filme favorito dela, principalmente com a Julia Roberts, tanto que sua atenção ao filme era única, não desviava o olhar nem um segundo e até evitava de comer seu lanche de queijo e alface.
Os dias foram se passando, minha estadia de uma semana se prolongou, eu a ajudei com as despesas de casa e passei a pagar algumas contas, mas no fundo eu não conseguia melhorar. Estava sentado na cama, olhando aquela chuva de verão cair contra a janela, a luz já tinha dado o índice de que iria cair, então não tínhamos muito o que fazer.
— Keanu. – Escutei bater à porta. – Posso entrar?
— Pode.
— Eu trouxe uma lanterna, falaram que vai demorar para a tempestade passar.
— Obrigado.
Um pequeno silêncio ficou entre nós, onde podia se ouvir os trovões, o vento e a chuva.
— Eu sei que não está nada bem entre você e sua esposa, mas te ver assim tão distante é tão... – Ela buscou a palavra. – Me deixa aflita.
— .
— Olha, se você quiser falar qualquer coisa, escutar meus conselhos ou apenas só queria que eu escute tudo e depois eu mudo de assunto como se nada tivesse acontecido, eu faço isso. Eu só não quero ver você assim.
Olhar para ela enquanto seus olhos suplicavam para eu me desabafar só me fez ficar admirado, admirando aqueles olhos claros, sua pele negra sendo banhada pela luz da tempestade e pela lanterna que tivemos que ligar quando a luz acabou, a deixava mais sedutora.
— O que tem para servir depois que eu contar?
— Sorvete, pois o resto é tudo movido a energia. – riu e eu a acompanhei.
— Poder ser.
Três semanas atrás.
Tudo havia acabado para o filme Parabellum. Tinha terminado de conversar com o diretor e repassado tudo, não queria ter que voltar para o Estados Unidos caso algo desse errado para voltar a regravar. Com tudo certo e ao passar uma semana para a confirmação de Chad, voltei para minha casa.
Um voo cansativo de Marrocos com ponte para o Estados Unidos, e de lá para Havana. Queria apenas um banho relaxante e ficar deitado na cama com minha esposa. Eu passei o voo todo pensando e imaginando tudo isso, como se o amanhã nunca viesse.
Fiz o check-in no aeroporto e peguei um táxi para ir até minha casa. Mas se eu soubesse, teria esperado dentro do carro e só saído de lá depois de duas horas.
No momento em que eu entrei em minha casa, escutei sons duvidosos; caminhei até meu quarto, nosso quarto e, ao abrir a porta, senti meu coração se despedaçar em milhões de pedaços.
— Stacy. – Minha voz saiu falhando.
— Keanu, amor. – Ela se enrolou no lençol salmão saindo de cima do seu amante. – Eu posso explicar.
— Explica como você está me traindo ou desde quando isso está acontecendo?
— Não escuta, eu te amo, isso foi só um momento.
— Achei que você falou que não era mais um momento. – Ouvi o amante dela dizer.
— Stacy. – Respirei fundo. Mesmo naquela circunstância eu queria só manter a calma e não falar palavras de baixo calão. – Só me responde uma única coisa, desde quando isso está acontecendo?
— Um ano, mais ou menos.
Passei minhas mãos em meu cabelo negro e longo e respirei mais fundo ainda. Peguei outra mala e coloquei todas as roupas de calor que couberam, junto de um único tênis. Não quis levar nenhum relógio, o que estava comigo estava bom, tudo que já estava comigo estava bom, eu só precisava achar um lugar para ficar.
— Aonde você vai?
— Para bem longe, talvez acima do trópico de câncer.
— Não, precisamos conversar.
— Não temos o que conversar Stacy, você fez a sua escolha, ele mesmo falou. Depois eu entro contato, para ver as papeladas do divórcio.
— Divórcio?!
Sai sem respondê-la, mas sei muito bem que ela entendeu, não ia continuar assim, embora só descobrindo isso tudo depois de um ano. Liguei para uma agência de viagem e comprei a primeira passagem para o Canadá e, enquanto esperava um outro táxi, procurava um hotel para ficar, mas pelo calor que fazia e por tempo de férias, todos que entrei em contato não tinha um quarto disponível. Minha última alternativa foi para .
— É... Sorvete?
— Pode falar. – Sorri para ela. não sabia o bem que me fez ela e escutar. Ela me fazia um bem só de estar comigo.
— Você precisa sair Keanu, igual fazíamos quando éramos jovens. – Se aproximou de mim. – Vamos? Quando essa tempestade passar a gente sai, andamos por aí.
— Você me convenceu. Vamos pegar o sorvete.
Vi um sorriso branco e maravilhoso nascer nos lábios pintados dela. Descemos com as lanternas ligadas e ela pegou o pote e duas colheres. Sentamos em volta da ilha e comemos o doce com as duas labradoras deitadas aos nossos pés.
No dia seguinte, sai cedo junto de e as filhas dela. Deixamos elas na escola de adestramento e ela avisou que só buscaria as duas no dia seguinte – dando pagamento inicial para o hotel que a escola oferecia. De lá fomos para o teatro, algumas ruas estavam bloqueadas, o serviço da prefeitura retirava as árvores caídas e a de eletricidade cuidando dos fios que caíram com a força do vento.
— Vamos fazer o ensaio, quer assistir da plateia ou quer ver do backstage?
— Da plateia, todos vieram? – Perguntei por conta da chuva.
— Sim, o que me deixa mais orgulhosa ainda, pode descer, esse é o panfleto que todos recebem e você vai ter o seu para acompanhar.
A peça. Atores, cenário, figurino. Tudo estava mágico, leve como o enredo e com o nome da peça: ”Tomorrow Never Come.” O enredo era bem familiar e aquela pausa quando a questionei só entregou tudo. Não era apenas um fada e uma mulher que se apaixonaram, era...
— Keanu. O que achou? – apareceu ao meu lado.
— É bem mágico como você mesmo descreveu, mas eles não teriam como se reencontrarem?
— Não. – Disse olhando para as cortinas fechadas. – Não tem como, ela seguiu outro rumo, conheceu o amor da sua vida e foi viver com ele.
— Mesmo amando Itilus?
— Ela não o ama mais, ama o outro, mesmo a peça não mostrando. – A vi esfregando suas mãos na saia que usava, sinal que estava nervosa. Eu apenas sorri de lado para ela. – Vamos? Estava pensando em ir em um restaurante, um dos que íamos.
Concordei com a cabeça e ela levantou, segurando a pequena bolsa em sua mão. Nos despedimos de todo o elenco e dessa vez eu dirigi até o restaurante. Aos poucos vi como me sentia feliz ao lado dela, como tudo com ela parecia ser mais airoso. Todo esse tempo e eu não vi o quão bem ela me faz.
— Certo, a música aqui é calma, vim mais pelo meu estilo, espero que não ache muito estranho.
— Não, é até melhor. Eu vou buscar suco para a gente. – Estávamos agora em um bar, o mesmo onde fiz a minha despedida de Toronto.
Enquanto esperava o barman preparar o suco de , a via dançar sozinha, tão leve e solta, tão independente e cheia de si. era, como uma tela pintada de verde e amarelo, sempre mostrou seu tamanho orgulho por ser brasileira e por ser negra, e isso foi o que fez eu me aproximar dela. Era a segunda vez que eu me distraía pensando nela, tanto que o barman teve que me chamar mais alto para poder me entregar as bebidas.
— Aqui está. – Entreguei o suco para ela, com um canudinho reutilizável.
— Obrigada, eu estranhei você dizer que ia pegar suco para você. – Ela disse olhando para minha Corona.
— Não ia dispensar ela.
— Então, enquanto bebemos nós dançamos, hoje é literalmente o dia para você se animar e principalmente ser você.
nem deixou eu concordar e já segurou minhas mãos, me puxando para mais adentro da pista. Era como voltar no passado e passar todas as noites juntos, aqui neste mesmo lugar. O passar da noite trouxe mais pessoas e subimos para o terraço do local, onde a música chegava bem pouco, durante o caminho, pegou duas taças de vinho para nós e a percebi distante, olhando para o horizonte com as nuvens cinzas de chuva.
— Está tudo bem?
— Sim, eu só estava lembrando de algumas coisas. – Ela colocou uma música calma na jukebox que agora as luzes acompanhava as batidas da música de Lennon.
— Lembra quando ficamos tocando violão aleatoriamente na fazenda do meu tio? – Ela recordava.
— Pareciam longos domingos, e ainda cuidamos do seu jardim de rosas. – A fiz rir. – Ele ainda tem a fazenda?
— Sim, e com meu jardim de rosas. Eu fui lá antes de você chegar aqui, as rosas daquele vaso eram de lá.
— Permanecem lindas.
“Como você, sempre permaneceu linda!” – Pensei.
— Concordo, quem sabe não vamos lá ainda essa semana. – sugeriu.
— Não é isso que você se recordava, eu conheço você.
— Era isso sim, não se preocupe.
E deixou aquele silêncio entre nós e, ao fundo, a música de Lennon e os fracos trovões dava uma melodia diferente para qualquer um que escutasse. Me sentei em um banco de madeira e fiquei observando tudo, processando pela última vez como tudo aconteceu até aquele momento.
— Por que ? – Olhou para mim. – Ela sabia tudo que aconteceu comigo, ela simplesmente pega e joga tudo no lixo e dorme com outro na nossa cama, na mesma cama onde. – Não completei a frase.
— Porque ela é uma idiota. – Sentou-se ao meu lado. – Quando você foi se casar, eu sabia que ela não sentia muito amor por você, não sei o nível, mas era perceptível, não digo por ela ter trinta e cinco anos, e ser apenas vinte anos mais nova que você. Sabe. – Segurou minha mão. – Mesmo você a amando e ela no começo parecer que nunca faria isso, você realmente precisa parar de pensar no que aconteceu.
— Você sempre está certa, como consegue deixar tudo certo?
— Eu não consigo. – A vi olhar para o chão. – Teve um dia, onde pela primeira vez me senti insegura e tudo que eu planejei deu errado.
— Aquele seu ex namorado?
— Não. – Riu tristonha. – Quando foi sua despedida do Canadá, não se lembra? Todos viemos para cá, todos beberam dançaram, cantaram. Você disse para eu te esperar aqui, eu fiquei aqui sentada nesse mesmo banco, com a Jukebox tocando, mas você nunca veio, apenas a única coisa que veio me encontrar foi a chuva e para mim o amanhã nunca chegou.
Recordei-me daquele dia como se fosse ontem. Eu havia bebido tanto que não tinha lembrado que ia me despedir de uma forma decente dela, mais privada e sem ninguém para atrapalhar nós dois. Não era só me despedir, eu ia dizer o quanto eu a amava e mesmo se não fosse recíproco eu pelo menos iria morar no Estados Unidos mais aliviado, por ter deixado tudo certo no Canadá.
— me desculpa, eu bebi tanto que me esqueci. – Ajeitei-me no banco. – Eu realmente não tinha essa intenção, acabei me esquecendo.
— Tudo bem, já passou.
— Não, . – Estava de frente para ela, olhando naqueles olhos que sempre me trouxeram a calmaria e agitação, os mesmos que roubaram meu coração junto de seu sorriso. – Aquele dia eu precisava falar com você e você sabe que sempre fui muito tímido, pelo menos ao seu lado. – Ela concordou com a cabeça. – E eu precisava dizer o quanto eu te amava, não esperava que fosse comigo, pois seus pais ainda moravam aqui em Toronto, mas quando você disse que estava com um outro alguém, eu senti como se o mundo tivesse desabado.
— Mas nunca deu certo, com nenhum outro homem, porque eu sempre te amei, Keanu, e eu me xinguei por longos dias por nunca dizer isso.
— Eu devia ter tido coragem, até mesmo no dia que fomos ao aeroporto, o que eu senti pela Stacy nunca chegou perto do que eu sinto por você até hoje. – Acariciava o rosto dela. – Será que ainda temos tempo para viver todo esse amor?
— Sim, até porque eu nunca mais perderia um minuto ao seu lado.
Eu não acredito muito em coincidência, ou nesses filmes e estórias que quando o casal se beija começa a chover, mas naquela noite, enquanto a tinha em meus braços a beijando tranquilamente com toda intensidade do nosso amor, a chuva caiu suavemente sobre nós dois.
Aquela noite, mais uma vez a luz caiu, mas nem o refrescar daquela chuva poderia deixar aquele quarto menos quente do que estava e o que poderia dizer era que passava até a temperatura do verão.
Acordei mais cedo que , coloquei água fresca para as cachorrinhas e ração a para elas. Peguei a cópia da chave e fui até a padaria mais perto, comprei mais queijo para ela e, no caminho de volta para casa, passei no supermercado, comprei mais algumas coisas e coloquei tudo na sacola reciclável; atendi educadamente alguns fãs e logo voltei para minha casa, ou melhor, para a casa de .
Com a mesa posta e as duas – Chanel e Lucy – lá fora brincando fui até o quarto ver se ela estava dormindo. Sentei na beirada do colchão e acariciei a braço dela, que estava coberto com minha blusa.
— Bom dia, . – Beijei-a no rosto.
— Bom dia, que horas são?
— Oito horas, não é tão tarde.
— É sim, preciso por trocar a água e a ração das meninas.
— Não se preocupe, eu já fiz isso. – Sorri para ela. – Fiz o café da manhã, espero por você lá em baixo.
— Ok, eu já desço.
A esperei sentado na cadeira enquanto Lucy ficava com a cabeça deitada na minha perna de olhos fechados por conta do carinho que recebia entre as orelhas. Logo vi aparecer na cozinha amarrando o cabelo e a pedindo para não reparar nele, já que a chuva o fez ficar todo rebelde, mas teria como não reparar quão linda ela ficou com minha blusa azul clara que realmente combinou com sua pele chocolate.
— Está muito bom. – Disse sobre o café que eu preparei. – Vou lembrar de pedir para você fazer isso mais vezes. – Ela riu educadamente.
— Obrigado, se você permitir, faço todos os dias.
— Eu vou aceitar. – Sorriu. – Estava pensando e fazer uma massa hoje, com dois tipos de molhos. – Ela disse ao se ajeitar na cadeira. Meu Deus como eu pude passar tanto tempo longe dessa mulher? – Keanu?
A escutei meu chamar, me tirando daquele leve Hipnotização que aquele sorriso me prendeu.
— Aceito, se precisar de ajuda.
— Até onde eu lembro, você não era um bom cozinheiro.
— . – Fingi esta magoado. – Eu aprendi a cozinhar, tive que morar sozinho, fiz um pequeno curso.
— Ufa, ainda bem. – Gargalhou. – Vou subir tirar sua blusa. – Se levantou já se encaminhado para a escada. – Logo eu volto para ficarmos no sofá.
— Não. – Levantei rápido da cadeira e a puxei pela mão delicadamente. – Você está tão linda com ela, não precisa tirar. – Envolvi em meus braços sem deixar nenhum espaço entre nós.
A beijei, entrelaçando meus dedos nos cachos que ficaram soltos em sua nuca, e dessa vez sem nenhuma chuva para atrapalhar o gosto dos lábios dela, mesmo com sabor de café. Andei com ela até o sofá e deitamos juntos, com ela sobre mim, poderíamos ter continuado se Chanel não tivesse pulado em cima de nós.
— Ah, Chanel. – reclamou entre risadas. – Por favor, agora não é hora de brincar de bola, vamos sai de cima de mim.
Escutei Chanel reclamar. sentou no sofá e eu também, ela se encostou em mim e assistimos um filme aleatório. Em meio ao intervalo, desencostou de mim e me olhou, eu sabia o que estava por vir.
— Keanu, você já recebeu retorno do seu advogado?
— Sim, o divórcio já está indo para o tribunal.
— Se quiser ficar aqui, até conseguir uma casa em Toronto. – Ela mordiscou o lábio. – Ou até mesmo, morar aqui.
— , eu não quero atrapalhar você.
— Mas não vai. – Sentou-se no meu colo. – Você nunca vai me atrapalhar, disso eu tenho certeza.
— Eu não consigo dizer não para você.
No mesmo dia ela arrumou uma parte do closet dela e deu um espaço para colocar minhas roupas, avisei meu assessor sobre o novo endereço e que iria acompanhado para a conferência de games – no qual iria apresentar um novo jogo que estaria presente.
Se eu soubesse que poderia ter voltado atrás antes de me casar, eu seria um homem mais feliz. No dia que teria que ficar até mais tarde no trabalho, preparei um jantar vegetariano, coloquei na mesa, acendi algumas velas e coloquei o vinho nas taças. Até mesmo Chanel e Lucy estavam arrumadas com lacinhos na cabeça. E eu estava de roupa social, menos o terno e a grava, o calor estava intenso.
— Oi. Nossa! – disse surpresa. Ela já tinha deixado a salto no hall e tirado o casaco deixando seu vestido laranja a mostra. – O que vamos comemorar hoje?
— Tudo depende de você.
— Como assim? – Se aproximou de mim.
— Eu andei pensando, lembrando de tudo que passamos juntos, você sempre foi minha paz, calmaria, euforia e até mesmo todo o amor que eu aprendi a ter, não existe palavra que define tudo que eu sinto ao seu lado e eu confesso que quero ter toda essa sensação pelo o resto da minha vida, Mag, você aceita namorar comigo?
Os olhos dela brilhavam mais, seus lábios trêmulos por segurar o choro acompanhado em um largo sorriso.
— Sim! Mil vezes sim!
passou seus braços em meu pescoço e me beijou; Duas horas depois tivemos que esquentar nosso jantar e acabamos comendo sentados no chão, entre vinho e beijos.
Ah sim, meu divórcio foi um pouco conturbado, mas no fim deu tudo certo. Pude viajar ao Brasil junto de e suas filhas, visitamos seus pais e ela me mostrou a Bahia toda, sem deixar um pedaço faltando daquele paraíso.
Fim.
Nota da autora: Eu fiquei pensando por longos meses como conciliar, Tomorrow Never Come + Keanu Reeves em uma única fanfic. Ele é único, não tem como não gostar dele, entretanto não é fácil trabalhá-lo como um personagem, pois ele tem aquele jeito dele todo Reeves. Então faltando um mês para o meu prazo de entrega eu consegui conciliar, e saiu muito bom, melhor do que eu imaginava.
Agora, me responde, você achou que você nunca ficaria com ele já que trabalhei como a amiga né? kkkk. Perdão por fazer uma fic bem curtinha, e espero muito que tenha gostado dela.
“Comentem o que acharam, obrigada pelo seu gostei, e nos vemos no próximo capítulo” – Alanzoka.
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Agora, me responde, você achou que você nunca ficaria com ele já que trabalhei como a amiga né? kkkk. Perdão por fazer uma fic bem curtinha, e espero muito que tenha gostado dela.
“Comentem o que acharam, obrigada pelo seu gostei, e nos vemos no próximo capítulo” – Alanzoka.