Capítulo Único
Our minds have new eyes and visions of you
Girl, I think I need a minute
To figure out what is, what isn't
These choices and voices, they're all in my head
Sometimes you make me feel crazy
Sometimes, I swear I think you hate me like uh
I need a walk, I need a walk, I need to get out of here
'Cause I need to know
Who are you?
'Cause you're not the girl I fell in love with.
O entra e sai de pessoas naquela espécie de camarim fazia com que ficasse zonza, mesmo que aquela não fosse sua primeira vez no ambiente — ela sequer conseguia precisar a quantidade de vezes que já estivera em uma situação como aquela. Centenas de pessoas corriam de um lado para o outro visando fazer com que aquele desfile fosse a experiência mais incrível de quem quer que estivesse assistindo. Ainda assim, não conseguia se acostumar. Eram gritos, saltos batendo contra o chão, araras sendo arrastadas a cada segundo; tudo fazia parte de sua rotina e, àquela altura, a irritava um pouco.
Ser uma top model não era uma coisa simples e tampouco fácil, havia muitos sacrifícios envolvidos — principalmente quando se era uma Angel. Fazer parte da equipe de modelos da Victoria's Secret era o sonho de muitas modelos, notava, porém, nunca havia sido o seu. Caíra naquele universo da moda de paraquedas, depois de uma brincadeira na universidade.
Era uma tarde de quinta-feira e os alunos de alguns cursos organizaram um desfile beneficente no campus principal da universidade, algo totalmente aleatório e com a intenção de chamar a atenção para o local, principalmente para os bairros mais pobres das cidades que ficavam ao redor. sempre tivera uma boa postura, além de um corpo esguio e magro naturalmente, sendo assim, foi a mais votada entre os amigos para abrir o desfile, até então, inocente. Sem nenhuma experiência, a garota subiu em um par de saltos de 15 centímetros e desfilou pela passarela improvisada no fundo do campus da universidade. Assim que as luzes organizadas de maneira amadora atingiram seu corpo, o campus caiu em um silêncio estupefato. Determinada, ergueu o queixo e, com um olhar matador, andou em frente. A roupa que vestia era simples, porém, sofisticada e carregada de uma transparência provocante — um vestido preto e vermelho, com detalhes rendados e que deixava parte de seu colo e barriga expostos. Quando passou entre todos e parou na ponta da passarela, a salva de palmas lhe pegou desprevenida, mas a fez sentir-se bem. Com um sorriso bonito na boca de lábios grossos, fez o caminho de retorno sentindo-se ainda mais poderosa, bonita e aclamada. No fim daquela noite, enquanto ajudava os outros veteranos a arrumar e recolher as doações, fora abordada por Natalie Rogers, uma mulher renomada no ramo da moda e que havia descoberto inúmeras modelos mundo afora. Bastou uma conversa e um jantar marcado para dali a dois dias para que fosse convencida de que seu lugar era nas passarelas, e não dentro dos tribunais.
Agora, diante de uma multidão fervorosa e especialista no assunto, vestindo um conjunto de lingerie que valorizava todas as suas curvas, via que não tinha outro lugar melhor para estar. Não se arrependia de ter cometido a loucura de fugir da universidade sem sequer avisar aos pais para embarcar num mundo tão incerto e cheios de armadilhas e maldades. Estava no palco da Victoria’s Secret Fashion Show, em Paris, outra vez, dez anos depois de ter sido descoberta por Natalie, prestes a fazer uma abertura de tirar o fôlego.
Tirando-a de seus devaneios, um dos responsáveis pelo figurino aproximou-se e vestiu-a com longas asas, cujas penas mesclavam-se em tons de vermelho e preto, dando-as um ar macabro de sensualidade. Naquela noite, especialmente, estava deslumbrante. Mais do que em todas as outras vezes, superando qualquer outro figurino que ela já havia provado. O conjunto de lingerie, igualmente vermelho e preto, desenhava suas curvas e acentuava seus seios fartos; os saltos 22 cm nos pés deixavam-na com a postura mais firme, rígida e bonita; seus cabelos, sempre repletos de cachos, estavam soltos e balançavam de forma hipnótica a cada brisa que passava por entre eles; e, para completar, a maquiagem chamativa e caprichada no batom vermelho fazia com que qualquer pessoa se perdesse ao olhá-la — seus olhos escuros como jabuticabas brilhavam e a sombra esfumada ao redor das pálpebras realçava tal brilho intenso, como se houvessem estrelas em seu interior.
respirou fundo e ergueu o queixo como sempre fazia antes de pisar na passarela. Ao redor, podia ouvir o burburinho ansioso da plateia, assim como suas companheiras de equipe gritavam seu nome com alegria e carinho, fazendo-a sorrir minimamente. Quando o instrumental de um estilo próximo do rock alternativo e R&B começou a tocar, pôs-se a andar e, então, finalmente, transformou-se na super model — a Angel mais famosa e bem paga da atualidade.
O telão se dividiu em duas partes e, como uma explosão, surgiu entre ambas. Os cabelos cacheados esvoaçantes e o corpo bonito à mostra, com as asas adornando-a por inteira, foram o combo perfeito para a plateia prender o ar imediatamente, admirando-a entre sussurros encantados e olhares embasbacados com tamanha beleza.
Com uma segurança e sensualidade desiguais, caminhou pela passarela em um ritmo tranquilo. Ela encarava o público, sempre sorrindo de canto e fazendo expressões bonitas e bem treinadas, sabendo que sairia perfeita em todas as fotos que estavam sendo tiradas de si naquele momento. Ao chegar no meio da passarela, sabia que teria de começar a interagir com o artista convidado naquela noite — que ela sequer chegara a ver quem seria. Sendo assim, seguiu seu caminho e pôde ver um homem alto de costas, com parte dos cabelos presos no topo de sua cabeça e com o restante solto, indo até a sua nuca, com uma colocação perfeita de dreads.
Quando a voz do homem ecoou por todo o local, sentiu-se travar — reconheceria aquele tom de qualquer lugar do mundo. Ainda assim, não parou de caminhar em toda sua glória, mantendo-se o mais firme possível. Parecia impassível, tão perfeita quanto das outras vezes, no entanto, dentro do peito, seu coração palpitava com força, acelerado — sentia-o bater contra os ouvidos.
Como se sentisse que era observado, o cantor virou-se para trás e finalmente a olhou. Ela pôde notar quando ele tivera um pequeno solavanco na voz, quase um desafinar que conseguira disfarçar muito bem de última hora. Os olhares estavam firmes um no outro e, ao redor, as pessoas achavam que fazia parte da interação comum entre Angel e artista; mas, ambos sabiam que não era apenas isso; ia muito, muito além de simples interação — era um reencontro; um reencontro de almas.
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Após o desfile, todos estavam felizes e satisfeitos com o resultado. , porém, estava aérea, tentando lidar com o fato de que uma avalanche de lembranças a invadiu por completo. Ainda estava presa aos momentos do evento em que tivera que interagir com , seu melhor amigo e paixão da infância. Ou melhor: o , aquele não era e tampouco poderia ser o antigo .
Não era novidade para ela que o “ex-amor” havia se transformado em um cantor mundialmente conhecido, o havia visto inúmeras vezes na televisão e em eventos que fazia questão de se camuflar para não precisar encontrá-lo cara a cara — ainda era doloroso. No entanto, sentia-se feliz e orgulhosa por ele, embora a mágoa ainda se fizesse presente. Lembrava-se claramente de que aquele era o maior sonho de : viver de música e ser reconhecido por isso. Ainda era vívido em sua mente os momentos em que ficavam juntos até tarde da noite no terraço de sua de casa conversando sobre seus sonhos e medos. sempre dizia o quanto queria ir embora por sentir-se negligenciado pela família, como tinha vontade de partir para o Canadá e tentar crescer por lá, onde havia nascido. A vida em Scarborough, no norte da Inglaterra, não era para ele e tampouco o fazia feliz, mesmo que ele fosse apenas um garoto de menos de 17 anos.
e se conheceram ainda pequenos, quando a garotinha rebelde se mudara para o mesmo bairro que ele com cerca de dez anos. Tinham a mesma idade e faziam aniversário em dias próximos, e isso foi o que os atraiu inicialmente. Desde então, não se afastaram mais e viveram assim, grudados, até o fim do ensino médio. Quando formaram-se no colegial, finalmente teve coragem para se declarar para . Nos momentos finais da festa de formatura, após a apresentação clichê dos alunos e entrega dos diplomas, a garota aproximou-se de enquanto dançavam e, ao pé de seu ouvido, declarou tudo o que carregara em seu coração durante todos aqueles anos. Ela não teve coragem de olhá-lo imediatamente, mas sentiu-se ser afastada e, logo, notou que queria encará-la nos olhos. Ele sorria de maneira triste e alegre ao mesmo tempo, não entendeu o porquê da tristeza dentro daqueles olhos que tanto admirava, mas, não se incomodou ou perguntou. Apenas permitiu-se derreter ao ouvir de que era tão amada quanto ele. Logo depois, as bocas se grudaram e tiveram um beijo mágico e intenso, que quase a fez se desmanchar de tanta felicidade.
Mas, como nada na vida era um conto de fadas, aquela foi a última vez em que vira . Na manhã seguinte, o garoto havia desaparecido. Seus avós, desesperados, tentaram ligar, buscar por ajuda, perguntar a outros amigos e havia simplesmente evaporado. sentiu-se mal, porque não sabia o que havia acontecido, não sabia para onde ele tinha ido, não havia recebido sequer uma mensagem de texto ou um dos bilhetes engraçadinhos que adorava deixar para ela.
Ele havia partido sem avisar a ninguém.
suspirou e secou as lágrimas que deixou rolar, perguntando-se por que diabos aquilo ainda a abalava tanto. Ela era , a Angel mais famosa da atualidade, já havia se acertado com os pais e não precisava sofrer por um desamor da adolescência — sua vida já estava nos eixos, não precisava remoer tamanha decepção. Até porque o que ela conhecia não existia mais, ele havia sido engolido pela ambição antes mesmo de tornar-se famoso. Contudo, no fundo, sabia que o entendia; mas era melhor não aceitar isso e lidar com as mágoas que o “abandono” lhe deixara; isso a confortava e explicava suas fugas acerca do homem.
Um barulho na porta do camarim despertou novamente, tirando-a de seu passado conturbado. Olhou para trás, curiosa, querendo saber quem ousava atrapalhar seu momento de paz — mesmo que paz fosse a última coisa que sentia naquele momento. Ao fitar a pessoa parada na porta, não acreditou. Riu em puro escárnio e voltou sua atenção para o grande espelho à sua frente, checando se suas roupas estavam boas o suficiente para a festa de encerramento do desfile, que provavelmente já estava acontecendo no salão principal. Ignorando a pessoa atrás de si, retocou a maquiagem e reforçou mais o batom vinho que usava agora. Ainda sem pressa e fingindo estar sozinha, prendeu os cabelos em um coque no topo da cabeça, deixando um par de cachos caindo ao redor do rosto anguloso.
— Desculpe — a voz aveludada de reverberou pelo camarim, fazendo-a fitá-lo através do espelho. Ele já estava dentro do camarim e a porta jazia fechada atrás de seu corpo alto. — Não quero atrapalhar, mas, será que podemos conversar? Prometo ser rápido.
— Nós não temos nada para conversar — respondeu em um tom baixo e calmo, o que não condizia com sua expressão atravessada. — Tenho que ir para a festa, sou a modelo principal da noite e não posso me atrasar.
— Sei disso e não quero te atrapalhar em sua noite de glória, mas gostaria que me escutasse — insistiu, engolindo a seco. — Você foge de mim há tanto tempo que eu já tinha perdido as esperanças de conseguir uma conversa, por mais rápida que fosse.
guardou o batom na pequena bolsa que carregava sempre consigo e finalmente virou-se de frente para o homem. Mediu-o dos pés à cabeça e suspirou, cruzando os braços longos sobre o peito.
— Vá em frente — disse, por fim.
— Antes de tudo, quero dizer que estou feliz por você e tudo o que conquistou — começou. — Eu te acompanhei de longe por um tempo, mas não consegui ficar em dia com tudo porque minha agenda apertou e…
— Direto ao assunto, , por favor — pediu, sentindo-se afetada por ouvi-lo falar daquele jeito, como se estivesse enrolando para passar mais tempo ali. — Eu realmente não tenho muito tempo.
— Desculpe — pediu novamente. — Eu só queria falar com você em respeito aos velhos tempos. Talvez ter a chance de explicar tudo o que aconteceu, sei que te magoei muito. Mas… Não foi minha intenção, .
— Já se passaram dez anos — descruzou os braços e deu alguns passos em frente, encarando-o de perto e de cima, já que estava um pouco mais alta devido aos saltos. — Você não precisa me explicar nada, talvez ainda deva alguma justificativa à sua família. Para mim, seu tempo já passou, , não temos mais o que conversar.
— …
— Não, para! — a modelo explodiu. — Eu não quero saber o que aconteceu ou os seus motivos, para mim não passarão de desculpas fajutas. Hoje não faz mais diferença, somos adultos e estamos felizes nas nossas profissões, conseguimos sucesso e acredito que tenhamos realizado todos os nossos sonhos. Não precisamos conversar, eu não preciso saber o que te aconteceu porque não me interessa. A vida seguiu, , e eu estou feliz sem você.
Após dizer isso, passou por com pressa e sem se importar se havia esbarrado fortemente em seu ombro. Ele, porém, permaneceu parado no meio do camarim, chocado demais para reagir ou tentar dizer qualquer coisa.
Havia perdido o amor de sua por pura covardia — outra vez.
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A música estava em um volume relativamente alto e as pessoas ao redor dançavam e bebiam tranquilamente. Apoiado no balcão de um dos bares espalhados pelo salão, estava — vestindo sua persona de . O copo de gin tônica em uma das mãos jazia intocado, como se ele sequer estivesse ali. As luzes coloridas ao redor entretiam-no por alguns segundos, até que ele a encontrasse dentre as pessoas.
Um suspiro lhe escapou novamente, fazendo-o lembrar-se de tudo o que mais gostaria de esquecer ou simplesmente falar, contar com detalhes tudo o que o atormentou durante tanto tempo, a ponto de fazê-lo simplesmente fugir. Sua vida não fora um mar de rosas como as pessoas costumavam pensar; fora negligenciado pela própria família, tivera um quadro forte de transtornos psicológicos e havia tido parte da adolescência tão agressiva que se envergonhava de lembrar.
Quando estava na rua ou na escola, ao lado de ou não, era uma pessoa. Quando chegava em casa, precisava se transformar em outra. Não sabia lidar com nenhuma das personas que havia criado para si, nenhuma delas era capaz de resolver seus maiores problemas — a dificuldade financeira, o medo do pai rígido, os problemas de saúde dos avós (que nem ligavam tanto assim para ele). Sua vida naquela cidade começou a desmoronar logo que completou 15 anos, mas, ainda assim, manteve-se quieto e nunca contou para a melhor amiga, , o que o atormentava, suas ideias de ir embora após acabar a escola era tudo o que passava em sua cabeça. Embora sempre fosse sincero com a garota, ele não conseguia se abrir tanto, porque sabia que era tão fodida quanto ele, e ela não precisava de mais problemas em sua própria vida — e ele tinha certeza de que a amiga faria de tudo para ajudá-lo, inclusive negligenciar a si mesma para colocá-lo em primeiro lugar; e isso era algo que nunca desejou.
Sendo assim, após beijar a melhor amiga e guardar no fundo do peito a melhor sensação que havia tido em sua vida, desapareceu. Precisava seguir seus sonhos e sua vida, precisava crescer, melhorar e sair do buraco em que havia se metido. sequer imaginava (e provavelmente nunca havia lido suas entrevistas) que ele havia precisado traficar drogas para conseguir se sustentar e, de certa forma, ajudar a família. Tudo o que havia feito na adolescência na ausência da amiga ficara escondido nos confins de sua própria mente. Não queria que parasse de vê-lo como o melhor amigo por quem era apaixonada, não queria que ela, jamais, em hipótese alguma, se sentisse envergonhada de andar com alguém como ele. Então simplesmente escondeu-se dentro de si mesmo e, na primeira oportunidade, foi embora. Fugir sempre lhe pareceu a melhor opção para tudo. Quando conseguiu finalmente voltar para o Canadá, jogou-se de cabeça no universo musical e permitiu-se fazer o que mais amava. Precisava superar seus medos e enterrar seu passado, e o fez logo que lançou sua primeira mixtape sob o codinome . Desde então, não parou mais de cantar, escrever e produzir. Quando se deu conta, já estava dentro de um estúdio gravando um álbum inteiro e incrível. Depois, explodiu pelo continente americano e, por fim, atingiu o sucesso mundial. Em paralelo, conseguiu acompanhar de longe o nome de explodir no universo da moda, a viu crescer, subir na vida e tomar todas as passarelas e revistas para si. Era o nome da última década, e parecia imbatível.
— E aí, vai rolar um bis para nós na festa? — uma voz suave invadiu os ouvidos de , fazendo-o finalmente tirar os olhos de do outro lado do salão.
— Bom, se for da vontade dos organizadores, não vejo problemas… — respondeu de forma educada, sorrindo e finalmente fitando com atenção a mulher ao seu lado. Era uma das modelos, ele reconheceu, porém, não lembrava seu nome.
— Seria incrível, você fez um ótimo show hoje — a mulher sorriu de volta e fez um sinal para o barman. — Mas o que faz aqui sozinho? Não está gostando da festa?
— Estou adorando, está tudo incrível como sempre — respondeu, enquanto a assistia pedir uma dose simples de Martini. — É só o cansaço da turnê batendo, preciso descansar urgentemente.
— Sei bem como é — a modelo o encarou novamente, notando-o distraído outra vez. Automaticamente, o olhar de seguiu para e a garota notou, rindo baixinho. — A realmente chama atenção de todos, não é?
— Desculpe?
— A . Você não para de olhar para ela.
— Ah. Ela é bem bonita.
— Ela é, sim. A mais bonita entre nós. E mais talentosa também.
— Todas vocês são lindas e talentosas.
— Sim, mas a é mais e todas nós sabemos e aceitamos isso. Por que não vai falar com ela? Quer que eu os apresente? — a modelo tagarelou e riu sem jeito, dando de ombros.
— Acho melhor não…
— Por quê?
— Você faz muitas perguntas.
— Desculpe — a garota riu novamente e bebericou seu drinque. — É que eu estava entediada e te vi aqui, então…
— Tudo bem. De qualquer forma — fez uma pausa para virar todo o conteúdo de seu copo, sem se incomodar com o gosto amargo do gin com tônica —, eu e já nos conhecemos. E ela não gosta de mim.
Dito isso, deixou o copo sobre a bancada do bar e se retirou, deixando a outra modelo sozinha. Não se incomodou com sua falta de educação, tampouco olhou para trás. Sentia muito pela garota, ela seria uma boa companhia se não ficasse o tempo todo lhe fazendo perguntas das quais queria fugir. O que ele não percebeu, ao cruzar todo o salão com uma carranca contrariada no rosto, foi o olhar pesaroso e curioso de — que, no fundo, queria tê-lo por perto, embora não tivesse coragem o suficiente para dizer.
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Ao chegar no hotel de luxo em que estava hospedado graças à organização do Victoria's Secret Fashion Show, seguiu diretamente para o último andar do prédio. Havia descoberto uma passagem rápida e tranquila para o terraço do hotel e, com uns euros extras para um dos funcionários, conseguiu passe livre para ficar no local.
caminhou em direção ao parapeito, de onde podia ver grande parte da cidade. Paris vista de cima era uma visão incrível, sempre tão bonita e iluminada, e tinha certeza de que jamais se cansaria de olhá-la enquanto bolava um baseado com uma calma que não existia.
Suspirou enquanto lacrava o cigarro pequeno, fitou o céu de relance e, automaticamente, sentiu a maré de lembranças subir-lhe por todo o corpo. Olhar as estrelas de algum lugar alto era seu passatempo favorito quando estava com . Passavam horas conversando e contando estrelas, até que pegassem no sono ou o assunto acabasse. O silêncio sempre fora muito reconfortante ao lado da garota; o fazia sentir-se especial, mesmo que soubesse que não era — como um adolescente negligenciado e metido a traficante poderia ser especial?
acendeu o cigarro entre os dedos e tragou com vontade, prendendo a fumaça em seu interior e fechando os olhos em puro deleite.
— De todos os lugares que imaginei te encontrar novamente, este terraço foi o último que pensei — a voz que ele tão bem conhecia ecoou por seus ouvidos, fazendo-o abrir os olhos de supetão e soltar a fumaça de forma atrapalhada, o que resultou em uma crise de tosse. — Eu não quis te assustar.
— Tudo bem — respondeu baixo, com a garganta queimando e coçando, o que o deixava quase voz. — O que faz aqui, ? Não deveria estar na festa?
— Bom, todas as vezes que fico hospedada neste hotel, gosto de vir aqui em cima porque me acalma. A festa estava entediante e inventei um mal-estar, acho que estou ficando velha para essas coisas. Posso? — apontou para o cigarro entre os dedos de , que arqueou uma das sobrancelhas.
— Desde quando você fuma maconha? — perguntou, curioso, e passou o baseado para a mulher.
— Desde que descobri que me acalma e faz a dor de cabeça sumir — explicou, tragando o conteúdo com destreza e calmaria.
apenas a observou, notando a mudança de aura e comportamento. parecia mais tranquila, e ele deduziu que ela havia bebido porque ela sempre ficava mais tranquila após alguns drinques. Caso contrário, ela teria fugido dali ou estaria o xingando de todos os nomes ruins que conhecia.
— Eu não estou bêbada, . — explicou após soltar a fumaça lentamente, devolvendo o cigarro para ele. — Decidi subir para pensar sobre a vida e tomar algumas decisões complicadas. Mas, bem, você já estava aqui e não vou deixar um lugar que tanto gosto por sua causa. Além do mais, Behati disse que você a contou que eu não gosto de você.
— Behati?
— A modelo que foi conversar com você no bar.
— E não é a verdade?
— Que eu não gosto de você? Sim, e não — o fitou nos olhos, finalmente. — Eu não gostei de você por muitos anos, , assim como o amei por muitos outros. Hoje, devo ser sincera: o sentimento é confuso e um tanto quanto irrelevante. Não faz diferença para nenhum de nós o que eu sinto atualmente.
— Eu nunca te esqueci, — disse, finalmente, e devolveu o cigarro para a modelo. — Eu só…
— Precisou ir?
— É — suspirou, encarando-a com pesar. — Eu não aguentava mais aquela cidade e os problemas que me cercavam. Nunca tive coragem de te contar o que realmente acontecia comigo e toda a minha família. Também não queria te contar que eu era uma perda de tempo e aspirante a traficante, mesmo sendo tão novo. Não queria que você sentisse vergonha de ter se apaixonado por mim.
— E achou que a melhor opção para tudo isso era simplesmente fugir? — perguntou, retoricamente, sentindo-se magoada. — Eu jamais teria vergonha de ter me envolvido com você, pelo contrário: ia fazer o impossível para te ajudar a sair de qualquer situação que fosse, nem que para isso eu tivesse de levá-lo comigo para um alojamento minúsculo da universidade.
— Eu sei, e por isso mesmo me afastei. Você não tinha que me colocar acima das suas próprias vontades, eu não queria atrapalhar sua vida, seu futuro. Você sempre mereceu mais do que pensava merecer, . Eu não quis estragar o que você ainda tinha a conquistar. Olhe o que se tornou, olhe onde está hoje. Se eu não tivesse ido embora, ou se tivesse te contado a verdade, isso não teria acontecido.
— Não tem como saber o que aconteceria — jogou a ponta do cigarro de maconha no chão. — Você sequer me deu a chance de te ouvir e pensar numa solução. Não me importaria se, ainda assim, decidisse ir embora, . Eu nunca teria coragem de passar por cima de uma decisão sua, mesmo que fôssemos tão jovens. Só que você preferiu ser covarde e simplesmente sumir, sem dar uma explicação sequer. Sei que sua família, no fundo, mereceu esse choque de realidade. Mas, eu? Sei que é besteira pensar desse jeito, mas eu sempre pensei que seríamos parceiros e melhores amigos acima de qualquer coisa.
— Desculpa, — disse, sinceramente, olhando-a nos olhos. — Eu não tive a intenção de te magoar e fico feliz em ver como você passou por cima de tudo isso. Eu gostei de te encontrar hoje e ver que você não é mais a mesma daquela época, apesar de estar surpreso com suas mudanças.
— E teria como eu ser? Minha vida também estava fora dos eixos, , mas você não se importou.
— Eu já pedi desculpas.
— Isso não muda nada.
— Eu sei, mas é o que posso te oferecer hoje.
não respondeu, e também não insistiu; estava ocupado demais pensando sobre as mudanças de , a forma que ela o tratava, o seu modo de falar, de agir, de andar; as diferenças gritantes, deixando claro para ele que aquela adolescente por quem se apaixonou não existia mais. Agora, quem existia, era a versão adulta e completamente nova de , e, ao contrário do que ele imaginava e esperava, sentia-se apaixonado por ela também. Era como se a cada nova que surgia, ele morresse de amores e tesão; ela simplesmente o cegava, lhe trazendo sentimentos conflituosos e fortes demais para ele saber lidar.
— Quem é você? — sussurrou num fio de voz, olhando-a com uma mistura de curiosidade, admiração e uma ponta de mágoa, mesmo que não tivesse o direito de sentir-se magoado. — Você não é a mesma por quem eu me apaixonei anos atrás, mas, de algum jeito, faz com que eu me apaixone de novo, de novo e de novo, mesmo que eu não te conheça mais.
o encarou de forma enigmática, tentando fingir que não estava abalada com aquela declaração repentina. Em sua mente anuviada devido a tantas informações em um curto período, tudo o que conseguia ver e idealizar naquele momento era seu corpo contra o de , matando as saudades de seu toque, seu cheiro, seu sabor durante o beijo; tudo o que remetia ao de dez anos atrás, porque, ali, diante de seus olhos, era como se ainda estivesse seu melhor amigo adolescente. Ao contrário do que ele pensava dela; ela não o via com muitas mudanças, ainda parecia o mesmo — sempre intenso, sentimental e, sobretudo, medroso; sentia medo dela e de tudo o que aqueles dez anos haviam feito.
— Eu quis te odiar, — confessou. — Durante todos esses anos, eu tentei te odiar. Mas, sempre que te via na televisão ou de longe em algum evento, eu percebia que nunca conseguiria, mesmo que estivesse magoada. No fundo, sei que entendo tudo o que aconteceu entre nós, os seus problemas e o que o levou a fazer o que fez. Só que… — ela riu e balançou a cabeça negativamente. — Olhando para você agora… Sei que nunca o odiei de verdade, nunca o esqueci, nunca o desejei menos. Queria poder encontrá-lo e pôr tudo em pratos limpos, para finalmente entender o que se passou na sua cabeça na época, mas, veja só: não entendi porra alguma. A única coisa que posso te dizer é: eu quis odiá-lo e quanto mais eu alimentava essa vontade, mais eu me apaixonava. Para mim, você continua o mesmo e eu ainda te amo. Isso não resolve nossos problemas e nossas diferenças, mas eu ainda te amo.
Ali, sob as estrelas e as luzes intensas de Paris, sentiu o coração acelerar e as lágrimas de emoção tomarem seus olhos — ainda sentia tanto por aquela mulher que jamais conseguiria pôr em palavras. Antes que ele pudesse tomar qualquer atitude ou ao menos responder à altura, aproximou-se com uma segurança e vontade que ele nunca havia visto. As mãos finas e firmes enroscaram em seu pescoço e, quando menos esperou, a boca carnuda grudou-se a sua. No mesmo instante, uma chuva fina e inesperada começou a cair, como se o céu chorasse junto com eles, celebrando aquele reencontro de almas.
Girl, I think I need a minute
To figure out what is, what isn't
These choices and voices, they're all in my head
Sometimes you make me feel crazy
Sometimes, I swear I think you hate me like uh
I need a walk, I need a walk, I need to get out of here
'Cause I need to know
Who are you?
'Cause you're not the girl I fell in love with.
O entra e sai de pessoas naquela espécie de camarim fazia com que ficasse zonza, mesmo que aquela não fosse sua primeira vez no ambiente — ela sequer conseguia precisar a quantidade de vezes que já estivera em uma situação como aquela. Centenas de pessoas corriam de um lado para o outro visando fazer com que aquele desfile fosse a experiência mais incrível de quem quer que estivesse assistindo. Ainda assim, não conseguia se acostumar. Eram gritos, saltos batendo contra o chão, araras sendo arrastadas a cada segundo; tudo fazia parte de sua rotina e, àquela altura, a irritava um pouco.
Ser uma top model não era uma coisa simples e tampouco fácil, havia muitos sacrifícios envolvidos — principalmente quando se era uma Angel. Fazer parte da equipe de modelos da Victoria's Secret era o sonho de muitas modelos, notava, porém, nunca havia sido o seu. Caíra naquele universo da moda de paraquedas, depois de uma brincadeira na universidade.
Era uma tarde de quinta-feira e os alunos de alguns cursos organizaram um desfile beneficente no campus principal da universidade, algo totalmente aleatório e com a intenção de chamar a atenção para o local, principalmente para os bairros mais pobres das cidades que ficavam ao redor. sempre tivera uma boa postura, além de um corpo esguio e magro naturalmente, sendo assim, foi a mais votada entre os amigos para abrir o desfile, até então, inocente. Sem nenhuma experiência, a garota subiu em um par de saltos de 15 centímetros e desfilou pela passarela improvisada no fundo do campus da universidade. Assim que as luzes organizadas de maneira amadora atingiram seu corpo, o campus caiu em um silêncio estupefato. Determinada, ergueu o queixo e, com um olhar matador, andou em frente. A roupa que vestia era simples, porém, sofisticada e carregada de uma transparência provocante — um vestido preto e vermelho, com detalhes rendados e que deixava parte de seu colo e barriga expostos. Quando passou entre todos e parou na ponta da passarela, a salva de palmas lhe pegou desprevenida, mas a fez sentir-se bem. Com um sorriso bonito na boca de lábios grossos, fez o caminho de retorno sentindo-se ainda mais poderosa, bonita e aclamada. No fim daquela noite, enquanto ajudava os outros veteranos a arrumar e recolher as doações, fora abordada por Natalie Rogers, uma mulher renomada no ramo da moda e que havia descoberto inúmeras modelos mundo afora. Bastou uma conversa e um jantar marcado para dali a dois dias para que fosse convencida de que seu lugar era nas passarelas, e não dentro dos tribunais.
Agora, diante de uma multidão fervorosa e especialista no assunto, vestindo um conjunto de lingerie que valorizava todas as suas curvas, via que não tinha outro lugar melhor para estar. Não se arrependia de ter cometido a loucura de fugir da universidade sem sequer avisar aos pais para embarcar num mundo tão incerto e cheios de armadilhas e maldades. Estava no palco da Victoria’s Secret Fashion Show, em Paris, outra vez, dez anos depois de ter sido descoberta por Natalie, prestes a fazer uma abertura de tirar o fôlego.
Tirando-a de seus devaneios, um dos responsáveis pelo figurino aproximou-se e vestiu-a com longas asas, cujas penas mesclavam-se em tons de vermelho e preto, dando-as um ar macabro de sensualidade. Naquela noite, especialmente, estava deslumbrante. Mais do que em todas as outras vezes, superando qualquer outro figurino que ela já havia provado. O conjunto de lingerie, igualmente vermelho e preto, desenhava suas curvas e acentuava seus seios fartos; os saltos 22 cm nos pés deixavam-na com a postura mais firme, rígida e bonita; seus cabelos, sempre repletos de cachos, estavam soltos e balançavam de forma hipnótica a cada brisa que passava por entre eles; e, para completar, a maquiagem chamativa e caprichada no batom vermelho fazia com que qualquer pessoa se perdesse ao olhá-la — seus olhos escuros como jabuticabas brilhavam e a sombra esfumada ao redor das pálpebras realçava tal brilho intenso, como se houvessem estrelas em seu interior.
respirou fundo e ergueu o queixo como sempre fazia antes de pisar na passarela. Ao redor, podia ouvir o burburinho ansioso da plateia, assim como suas companheiras de equipe gritavam seu nome com alegria e carinho, fazendo-a sorrir minimamente. Quando o instrumental de um estilo próximo do rock alternativo e R&B começou a tocar, pôs-se a andar e, então, finalmente, transformou-se na super model — a Angel mais famosa e bem paga da atualidade.
O telão se dividiu em duas partes e, como uma explosão, surgiu entre ambas. Os cabelos cacheados esvoaçantes e o corpo bonito à mostra, com as asas adornando-a por inteira, foram o combo perfeito para a plateia prender o ar imediatamente, admirando-a entre sussurros encantados e olhares embasbacados com tamanha beleza.
Com uma segurança e sensualidade desiguais, caminhou pela passarela em um ritmo tranquilo. Ela encarava o público, sempre sorrindo de canto e fazendo expressões bonitas e bem treinadas, sabendo que sairia perfeita em todas as fotos que estavam sendo tiradas de si naquele momento. Ao chegar no meio da passarela, sabia que teria de começar a interagir com o artista convidado naquela noite — que ela sequer chegara a ver quem seria. Sendo assim, seguiu seu caminho e pôde ver um homem alto de costas, com parte dos cabelos presos no topo de sua cabeça e com o restante solto, indo até a sua nuca, com uma colocação perfeita de dreads.
Quando a voz do homem ecoou por todo o local, sentiu-se travar — reconheceria aquele tom de qualquer lugar do mundo. Ainda assim, não parou de caminhar em toda sua glória, mantendo-se o mais firme possível. Parecia impassível, tão perfeita quanto das outras vezes, no entanto, dentro do peito, seu coração palpitava com força, acelerado — sentia-o bater contra os ouvidos.
Como se sentisse que era observado, o cantor virou-se para trás e finalmente a olhou. Ela pôde notar quando ele tivera um pequeno solavanco na voz, quase um desafinar que conseguira disfarçar muito bem de última hora. Os olhares estavam firmes um no outro e, ao redor, as pessoas achavam que fazia parte da interação comum entre Angel e artista; mas, ambos sabiam que não era apenas isso; ia muito, muito além de simples interação — era um reencontro; um reencontro de almas.
Após o desfile, todos estavam felizes e satisfeitos com o resultado. , porém, estava aérea, tentando lidar com o fato de que uma avalanche de lembranças a invadiu por completo. Ainda estava presa aos momentos do evento em que tivera que interagir com , seu melhor amigo e paixão da infância. Ou melhor: o , aquele não era e tampouco poderia ser o antigo .
Não era novidade para ela que o “ex-amor” havia se transformado em um cantor mundialmente conhecido, o havia visto inúmeras vezes na televisão e em eventos que fazia questão de se camuflar para não precisar encontrá-lo cara a cara — ainda era doloroso. No entanto, sentia-se feliz e orgulhosa por ele, embora a mágoa ainda se fizesse presente. Lembrava-se claramente de que aquele era o maior sonho de : viver de música e ser reconhecido por isso. Ainda era vívido em sua mente os momentos em que ficavam juntos até tarde da noite no terraço de sua de casa conversando sobre seus sonhos e medos. sempre dizia o quanto queria ir embora por sentir-se negligenciado pela família, como tinha vontade de partir para o Canadá e tentar crescer por lá, onde havia nascido. A vida em Scarborough, no norte da Inglaterra, não era para ele e tampouco o fazia feliz, mesmo que ele fosse apenas um garoto de menos de 17 anos.
e se conheceram ainda pequenos, quando a garotinha rebelde se mudara para o mesmo bairro que ele com cerca de dez anos. Tinham a mesma idade e faziam aniversário em dias próximos, e isso foi o que os atraiu inicialmente. Desde então, não se afastaram mais e viveram assim, grudados, até o fim do ensino médio. Quando formaram-se no colegial, finalmente teve coragem para se declarar para . Nos momentos finais da festa de formatura, após a apresentação clichê dos alunos e entrega dos diplomas, a garota aproximou-se de enquanto dançavam e, ao pé de seu ouvido, declarou tudo o que carregara em seu coração durante todos aqueles anos. Ela não teve coragem de olhá-lo imediatamente, mas sentiu-se ser afastada e, logo, notou que queria encará-la nos olhos. Ele sorria de maneira triste e alegre ao mesmo tempo, não entendeu o porquê da tristeza dentro daqueles olhos que tanto admirava, mas, não se incomodou ou perguntou. Apenas permitiu-se derreter ao ouvir de que era tão amada quanto ele. Logo depois, as bocas se grudaram e tiveram um beijo mágico e intenso, que quase a fez se desmanchar de tanta felicidade.
Mas, como nada na vida era um conto de fadas, aquela foi a última vez em que vira . Na manhã seguinte, o garoto havia desaparecido. Seus avós, desesperados, tentaram ligar, buscar por ajuda, perguntar a outros amigos e havia simplesmente evaporado. sentiu-se mal, porque não sabia o que havia acontecido, não sabia para onde ele tinha ido, não havia recebido sequer uma mensagem de texto ou um dos bilhetes engraçadinhos que adorava deixar para ela.
Ele havia partido sem avisar a ninguém.
suspirou e secou as lágrimas que deixou rolar, perguntando-se por que diabos aquilo ainda a abalava tanto. Ela era , a Angel mais famosa da atualidade, já havia se acertado com os pais e não precisava sofrer por um desamor da adolescência — sua vida já estava nos eixos, não precisava remoer tamanha decepção. Até porque o que ela conhecia não existia mais, ele havia sido engolido pela ambição antes mesmo de tornar-se famoso. Contudo, no fundo, sabia que o entendia; mas era melhor não aceitar isso e lidar com as mágoas que o “abandono” lhe deixara; isso a confortava e explicava suas fugas acerca do homem.
Um barulho na porta do camarim despertou novamente, tirando-a de seu passado conturbado. Olhou para trás, curiosa, querendo saber quem ousava atrapalhar seu momento de paz — mesmo que paz fosse a última coisa que sentia naquele momento. Ao fitar a pessoa parada na porta, não acreditou. Riu em puro escárnio e voltou sua atenção para o grande espelho à sua frente, checando se suas roupas estavam boas o suficiente para a festa de encerramento do desfile, que provavelmente já estava acontecendo no salão principal. Ignorando a pessoa atrás de si, retocou a maquiagem e reforçou mais o batom vinho que usava agora. Ainda sem pressa e fingindo estar sozinha, prendeu os cabelos em um coque no topo da cabeça, deixando um par de cachos caindo ao redor do rosto anguloso.
— Desculpe — a voz aveludada de reverberou pelo camarim, fazendo-a fitá-lo através do espelho. Ele já estava dentro do camarim e a porta jazia fechada atrás de seu corpo alto. — Não quero atrapalhar, mas, será que podemos conversar? Prometo ser rápido.
— Nós não temos nada para conversar — respondeu em um tom baixo e calmo, o que não condizia com sua expressão atravessada. — Tenho que ir para a festa, sou a modelo principal da noite e não posso me atrasar.
— Sei disso e não quero te atrapalhar em sua noite de glória, mas gostaria que me escutasse — insistiu, engolindo a seco. — Você foge de mim há tanto tempo que eu já tinha perdido as esperanças de conseguir uma conversa, por mais rápida que fosse.
guardou o batom na pequena bolsa que carregava sempre consigo e finalmente virou-se de frente para o homem. Mediu-o dos pés à cabeça e suspirou, cruzando os braços longos sobre o peito.
— Vá em frente — disse, por fim.
— Antes de tudo, quero dizer que estou feliz por você e tudo o que conquistou — começou. — Eu te acompanhei de longe por um tempo, mas não consegui ficar em dia com tudo porque minha agenda apertou e…
— Direto ao assunto, , por favor — pediu, sentindo-se afetada por ouvi-lo falar daquele jeito, como se estivesse enrolando para passar mais tempo ali. — Eu realmente não tenho muito tempo.
— Desculpe — pediu novamente. — Eu só queria falar com você em respeito aos velhos tempos. Talvez ter a chance de explicar tudo o que aconteceu, sei que te magoei muito. Mas… Não foi minha intenção, .
— Já se passaram dez anos — descruzou os braços e deu alguns passos em frente, encarando-o de perto e de cima, já que estava um pouco mais alta devido aos saltos. — Você não precisa me explicar nada, talvez ainda deva alguma justificativa à sua família. Para mim, seu tempo já passou, , não temos mais o que conversar.
— …
— Não, para! — a modelo explodiu. — Eu não quero saber o que aconteceu ou os seus motivos, para mim não passarão de desculpas fajutas. Hoje não faz mais diferença, somos adultos e estamos felizes nas nossas profissões, conseguimos sucesso e acredito que tenhamos realizado todos os nossos sonhos. Não precisamos conversar, eu não preciso saber o que te aconteceu porque não me interessa. A vida seguiu, , e eu estou feliz sem você.
Após dizer isso, passou por com pressa e sem se importar se havia esbarrado fortemente em seu ombro. Ele, porém, permaneceu parado no meio do camarim, chocado demais para reagir ou tentar dizer qualquer coisa.
Havia perdido o amor de sua por pura covardia — outra vez.
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A música estava em um volume relativamente alto e as pessoas ao redor dançavam e bebiam tranquilamente. Apoiado no balcão de um dos bares espalhados pelo salão, estava — vestindo sua persona de . O copo de gin tônica em uma das mãos jazia intocado, como se ele sequer estivesse ali. As luzes coloridas ao redor entretiam-no por alguns segundos, até que ele a encontrasse dentre as pessoas.
Um suspiro lhe escapou novamente, fazendo-o lembrar-se de tudo o que mais gostaria de esquecer ou simplesmente falar, contar com detalhes tudo o que o atormentou durante tanto tempo, a ponto de fazê-lo simplesmente fugir. Sua vida não fora um mar de rosas como as pessoas costumavam pensar; fora negligenciado pela própria família, tivera um quadro forte de transtornos psicológicos e havia tido parte da adolescência tão agressiva que se envergonhava de lembrar.
Quando estava na rua ou na escola, ao lado de ou não, era uma pessoa. Quando chegava em casa, precisava se transformar em outra. Não sabia lidar com nenhuma das personas que havia criado para si, nenhuma delas era capaz de resolver seus maiores problemas — a dificuldade financeira, o medo do pai rígido, os problemas de saúde dos avós (que nem ligavam tanto assim para ele). Sua vida naquela cidade começou a desmoronar logo que completou 15 anos, mas, ainda assim, manteve-se quieto e nunca contou para a melhor amiga, , o que o atormentava, suas ideias de ir embora após acabar a escola era tudo o que passava em sua cabeça. Embora sempre fosse sincero com a garota, ele não conseguia se abrir tanto, porque sabia que era tão fodida quanto ele, e ela não precisava de mais problemas em sua própria vida — e ele tinha certeza de que a amiga faria de tudo para ajudá-lo, inclusive negligenciar a si mesma para colocá-lo em primeiro lugar; e isso era algo que nunca desejou.
Sendo assim, após beijar a melhor amiga e guardar no fundo do peito a melhor sensação que havia tido em sua vida, desapareceu. Precisava seguir seus sonhos e sua vida, precisava crescer, melhorar e sair do buraco em que havia se metido. sequer imaginava (e provavelmente nunca havia lido suas entrevistas) que ele havia precisado traficar drogas para conseguir se sustentar e, de certa forma, ajudar a família. Tudo o que havia feito na adolescência na ausência da amiga ficara escondido nos confins de sua própria mente. Não queria que parasse de vê-lo como o melhor amigo por quem era apaixonada, não queria que ela, jamais, em hipótese alguma, se sentisse envergonhada de andar com alguém como ele. Então simplesmente escondeu-se dentro de si mesmo e, na primeira oportunidade, foi embora. Fugir sempre lhe pareceu a melhor opção para tudo. Quando conseguiu finalmente voltar para o Canadá, jogou-se de cabeça no universo musical e permitiu-se fazer o que mais amava. Precisava superar seus medos e enterrar seu passado, e o fez logo que lançou sua primeira mixtape sob o codinome . Desde então, não parou mais de cantar, escrever e produzir. Quando se deu conta, já estava dentro de um estúdio gravando um álbum inteiro e incrível. Depois, explodiu pelo continente americano e, por fim, atingiu o sucesso mundial. Em paralelo, conseguiu acompanhar de longe o nome de explodir no universo da moda, a viu crescer, subir na vida e tomar todas as passarelas e revistas para si. Era o nome da última década, e parecia imbatível.
— E aí, vai rolar um bis para nós na festa? — uma voz suave invadiu os ouvidos de , fazendo-o finalmente tirar os olhos de do outro lado do salão.
— Bom, se for da vontade dos organizadores, não vejo problemas… — respondeu de forma educada, sorrindo e finalmente fitando com atenção a mulher ao seu lado. Era uma das modelos, ele reconheceu, porém, não lembrava seu nome.
— Seria incrível, você fez um ótimo show hoje — a mulher sorriu de volta e fez um sinal para o barman. — Mas o que faz aqui sozinho? Não está gostando da festa?
— Estou adorando, está tudo incrível como sempre — respondeu, enquanto a assistia pedir uma dose simples de Martini. — É só o cansaço da turnê batendo, preciso descansar urgentemente.
— Sei bem como é — a modelo o encarou novamente, notando-o distraído outra vez. Automaticamente, o olhar de seguiu para e a garota notou, rindo baixinho. — A realmente chama atenção de todos, não é?
— Desculpe?
— A . Você não para de olhar para ela.
— Ah. Ela é bem bonita.
— Ela é, sim. A mais bonita entre nós. E mais talentosa também.
— Todas vocês são lindas e talentosas.
— Sim, mas a é mais e todas nós sabemos e aceitamos isso. Por que não vai falar com ela? Quer que eu os apresente? — a modelo tagarelou e riu sem jeito, dando de ombros.
— Acho melhor não…
— Por quê?
— Você faz muitas perguntas.
— Desculpe — a garota riu novamente e bebericou seu drinque. — É que eu estava entediada e te vi aqui, então…
— Tudo bem. De qualquer forma — fez uma pausa para virar todo o conteúdo de seu copo, sem se incomodar com o gosto amargo do gin com tônica —, eu e já nos conhecemos. E ela não gosta de mim.
Dito isso, deixou o copo sobre a bancada do bar e se retirou, deixando a outra modelo sozinha. Não se incomodou com sua falta de educação, tampouco olhou para trás. Sentia muito pela garota, ela seria uma boa companhia se não ficasse o tempo todo lhe fazendo perguntas das quais queria fugir. O que ele não percebeu, ao cruzar todo o salão com uma carranca contrariada no rosto, foi o olhar pesaroso e curioso de — que, no fundo, queria tê-lo por perto, embora não tivesse coragem o suficiente para dizer.
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Ao chegar no hotel de luxo em que estava hospedado graças à organização do Victoria's Secret Fashion Show, seguiu diretamente para o último andar do prédio. Havia descoberto uma passagem rápida e tranquila para o terraço do hotel e, com uns euros extras para um dos funcionários, conseguiu passe livre para ficar no local.
caminhou em direção ao parapeito, de onde podia ver grande parte da cidade. Paris vista de cima era uma visão incrível, sempre tão bonita e iluminada, e tinha certeza de que jamais se cansaria de olhá-la enquanto bolava um baseado com uma calma que não existia.
Suspirou enquanto lacrava o cigarro pequeno, fitou o céu de relance e, automaticamente, sentiu a maré de lembranças subir-lhe por todo o corpo. Olhar as estrelas de algum lugar alto era seu passatempo favorito quando estava com . Passavam horas conversando e contando estrelas, até que pegassem no sono ou o assunto acabasse. O silêncio sempre fora muito reconfortante ao lado da garota; o fazia sentir-se especial, mesmo que soubesse que não era — como um adolescente negligenciado e metido a traficante poderia ser especial?
acendeu o cigarro entre os dedos e tragou com vontade, prendendo a fumaça em seu interior e fechando os olhos em puro deleite.
— De todos os lugares que imaginei te encontrar novamente, este terraço foi o último que pensei — a voz que ele tão bem conhecia ecoou por seus ouvidos, fazendo-o abrir os olhos de supetão e soltar a fumaça de forma atrapalhada, o que resultou em uma crise de tosse. — Eu não quis te assustar.
— Tudo bem — respondeu baixo, com a garganta queimando e coçando, o que o deixava quase voz. — O que faz aqui, ? Não deveria estar na festa?
— Bom, todas as vezes que fico hospedada neste hotel, gosto de vir aqui em cima porque me acalma. A festa estava entediante e inventei um mal-estar, acho que estou ficando velha para essas coisas. Posso? — apontou para o cigarro entre os dedos de , que arqueou uma das sobrancelhas.
— Desde quando você fuma maconha? — perguntou, curioso, e passou o baseado para a mulher.
— Desde que descobri que me acalma e faz a dor de cabeça sumir — explicou, tragando o conteúdo com destreza e calmaria.
apenas a observou, notando a mudança de aura e comportamento. parecia mais tranquila, e ele deduziu que ela havia bebido porque ela sempre ficava mais tranquila após alguns drinques. Caso contrário, ela teria fugido dali ou estaria o xingando de todos os nomes ruins que conhecia.
— Eu não estou bêbada, . — explicou após soltar a fumaça lentamente, devolvendo o cigarro para ele. — Decidi subir para pensar sobre a vida e tomar algumas decisões complicadas. Mas, bem, você já estava aqui e não vou deixar um lugar que tanto gosto por sua causa. Além do mais, Behati disse que você a contou que eu não gosto de você.
— Behati?
— A modelo que foi conversar com você no bar.
— E não é a verdade?
— Que eu não gosto de você? Sim, e não — o fitou nos olhos, finalmente. — Eu não gostei de você por muitos anos, , assim como o amei por muitos outros. Hoje, devo ser sincera: o sentimento é confuso e um tanto quanto irrelevante. Não faz diferença para nenhum de nós o que eu sinto atualmente.
— Eu nunca te esqueci, — disse, finalmente, e devolveu o cigarro para a modelo. — Eu só…
— Precisou ir?
— É — suspirou, encarando-a com pesar. — Eu não aguentava mais aquela cidade e os problemas que me cercavam. Nunca tive coragem de te contar o que realmente acontecia comigo e toda a minha família. Também não queria te contar que eu era uma perda de tempo e aspirante a traficante, mesmo sendo tão novo. Não queria que você sentisse vergonha de ter se apaixonado por mim.
— E achou que a melhor opção para tudo isso era simplesmente fugir? — perguntou, retoricamente, sentindo-se magoada. — Eu jamais teria vergonha de ter me envolvido com você, pelo contrário: ia fazer o impossível para te ajudar a sair de qualquer situação que fosse, nem que para isso eu tivesse de levá-lo comigo para um alojamento minúsculo da universidade.
— Eu sei, e por isso mesmo me afastei. Você não tinha que me colocar acima das suas próprias vontades, eu não queria atrapalhar sua vida, seu futuro. Você sempre mereceu mais do que pensava merecer, . Eu não quis estragar o que você ainda tinha a conquistar. Olhe o que se tornou, olhe onde está hoje. Se eu não tivesse ido embora, ou se tivesse te contado a verdade, isso não teria acontecido.
— Não tem como saber o que aconteceria — jogou a ponta do cigarro de maconha no chão. — Você sequer me deu a chance de te ouvir e pensar numa solução. Não me importaria se, ainda assim, decidisse ir embora, . Eu nunca teria coragem de passar por cima de uma decisão sua, mesmo que fôssemos tão jovens. Só que você preferiu ser covarde e simplesmente sumir, sem dar uma explicação sequer. Sei que sua família, no fundo, mereceu esse choque de realidade. Mas, eu? Sei que é besteira pensar desse jeito, mas eu sempre pensei que seríamos parceiros e melhores amigos acima de qualquer coisa.
— Desculpa, — disse, sinceramente, olhando-a nos olhos. — Eu não tive a intenção de te magoar e fico feliz em ver como você passou por cima de tudo isso. Eu gostei de te encontrar hoje e ver que você não é mais a mesma daquela época, apesar de estar surpreso com suas mudanças.
— E teria como eu ser? Minha vida também estava fora dos eixos, , mas você não se importou.
— Eu já pedi desculpas.
— Isso não muda nada.
— Eu sei, mas é o que posso te oferecer hoje.
não respondeu, e também não insistiu; estava ocupado demais pensando sobre as mudanças de , a forma que ela o tratava, o seu modo de falar, de agir, de andar; as diferenças gritantes, deixando claro para ele que aquela adolescente por quem se apaixonou não existia mais. Agora, quem existia, era a versão adulta e completamente nova de , e, ao contrário do que ele imaginava e esperava, sentia-se apaixonado por ela também. Era como se a cada nova que surgia, ele morresse de amores e tesão; ela simplesmente o cegava, lhe trazendo sentimentos conflituosos e fortes demais para ele saber lidar.
— Quem é você? — sussurrou num fio de voz, olhando-a com uma mistura de curiosidade, admiração e uma ponta de mágoa, mesmo que não tivesse o direito de sentir-se magoado. — Você não é a mesma por quem eu me apaixonei anos atrás, mas, de algum jeito, faz com que eu me apaixone de novo, de novo e de novo, mesmo que eu não te conheça mais.
o encarou de forma enigmática, tentando fingir que não estava abalada com aquela declaração repentina. Em sua mente anuviada devido a tantas informações em um curto período, tudo o que conseguia ver e idealizar naquele momento era seu corpo contra o de , matando as saudades de seu toque, seu cheiro, seu sabor durante o beijo; tudo o que remetia ao de dez anos atrás, porque, ali, diante de seus olhos, era como se ainda estivesse seu melhor amigo adolescente. Ao contrário do que ele pensava dela; ela não o via com muitas mudanças, ainda parecia o mesmo — sempre intenso, sentimental e, sobretudo, medroso; sentia medo dela e de tudo o que aqueles dez anos haviam feito.
— Eu quis te odiar, — confessou. — Durante todos esses anos, eu tentei te odiar. Mas, sempre que te via na televisão ou de longe em algum evento, eu percebia que nunca conseguiria, mesmo que estivesse magoada. No fundo, sei que entendo tudo o que aconteceu entre nós, os seus problemas e o que o levou a fazer o que fez. Só que… — ela riu e balançou a cabeça negativamente. — Olhando para você agora… Sei que nunca o odiei de verdade, nunca o esqueci, nunca o desejei menos. Queria poder encontrá-lo e pôr tudo em pratos limpos, para finalmente entender o que se passou na sua cabeça na época, mas, veja só: não entendi porra alguma. A única coisa que posso te dizer é: eu quis odiá-lo e quanto mais eu alimentava essa vontade, mais eu me apaixonava. Para mim, você continua o mesmo e eu ainda te amo. Isso não resolve nossos problemas e nossas diferenças, mas eu ainda te amo.
Ali, sob as estrelas e as luzes intensas de Paris, sentiu o coração acelerar e as lágrimas de emoção tomarem seus olhos — ainda sentia tanto por aquela mulher que jamais conseguiria pôr em palavras. Antes que ele pudesse tomar qualquer atitude ou ao menos responder à altura, aproximou-se com uma segurança e vontade que ele nunca havia visto. As mãos finas e firmes enroscaram em seu pescoço e, quando menos esperou, a boca carnuda grudou-se a sua. No mesmo instante, uma chuva fina e inesperada começou a cair, como se o céu chorasse junto com eles, celebrando aquele reencontro de almas.
Fim!
Nota da autora: Sem nota.
Caixinha de comentários: A caixinha de comentários pode não estar aparecendo para vocês, pois o Disqus está instável ultimamente. Caso queira deixar um comentário, é só clicar AQUI
Nota da beta: Eu tô toda arrepiada, meu Deus! Que história incrível! Eu amei esses personagens, eu amei a tensão do reencontro, eu senti 100% todos os sentimentos bagunçados deles e, de verdade, que história de vida dos dois! Eu amei demais mesmo, sério! Bom, sou sua fã, não é novidade hahahaha maravilhosa demais, amei! 💙
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