Capítulo Único
08/11/2005
Por
- Poderíamos dar uma festa em casa mesmo, o que acha? - Ela me perguntava enquanto colocava seus óculos escuros.
- Algo simples? - Questionei. - Não estou te reconhecendo. - Franzi o cenho.
- Será boda de trigo, vamos deixar algo grandioso para prata não? - Perguntei.
- Você que sabe querida. - Desviei o olhar da estrada a olhando. - Você é tão linda, sabia? - Perguntei passando meus dedos por sua face, vendo-a corar. - Eu te amo .
- Eu também te amo . - Sorriu. - Posso ligar o rádio? - Apenas assenti. - Ai meu Deus! Amo essa música. - Disse animada batendo palmas. - Sugar, yes please... canta . - Fez um microfone com as mãos.
- (...) and put it down on me. - Sua risada era contagiante.
- Yeah you show me good loving. - Apontou para mim.
- Make it alright. - Tentei cantar em tom sedutor, arrancando mais risadas dela.
- Need a little sweetness in my life. - Tirou o sinto de segurança e começou a dançar. - (...) My broken piece, you pick'em up. - Ela parecia tão feliz, a leveza em seu olhar, transparecia liberdade, ela estava sendo ela mesma, fui tirado do meu transe pelos seus gritos. - , O CAMINHÃO. - Tentei desviar não obtendo sucesso, logo vendo só vultos e em meio os gritos, a voz da canção. " Você é mais quente que a baía do sul da Califórnia "
Acordei suado aquele pesadelo me perseguia todos os dias após um ano e a sensação de culpa me matava a cada segundo que eu ficava acordado.
- Bom dia filho. - Minha mãe disse entrando pelo quarto abrindo as cortinas.
- Mais um dia. - resmunguei.
- você não pode ficar preso dentro desse quarto. - E o assunto rotina se instalava no ar. - Confinado nesse quadrado com várias fotografias, dormindo abraçado a esse vestido de noiva.
- Eu só quero ficar assim, por favor. - Cobri minha cabeça.
- Sua psicóloga chegará em meia hora, se arrume. - Puxou a coberta.
- Eu já disse que não preciso de tratamento nenhum. - Gritei, fazendo com que minha mãe levasse um susto e saísse do quarto. Eu não estava preparado para seguir em frente, eu nem sabia se queria seguir em frente, só de me imaginar sem ela, que tudo podia ser diferente se eu tivesse prestado atenção na estrada, ela estava tão alegre não foi justo o que acontecera.
09/11/2005
- Que barulho todo é esse mãe? - Perguntei vendo a entrar em meu quarto com mais uma refeição.
- São os novos vizinhos se mudando para a casa ao lado. - A casa que era dela, desde a infância morou ali com sua família.
- Eles foram mesmo embora. - conclui. - Me culpam pela morte dela e eles tem toda razão. - fechei os olhos.
- nós sabemos que você não teve culpa em nada. - abriu as cortinas. - Eles não te culpam, só é doloroso todas essas lembranças. - Tentou explicar.
- EU FUI O CULPADO DE TUDO, EU A MATEI. - gritei desesperado.
- Pare com isso. - Disse em tom autoritário. - De uma vez por todas a culpa não foi sua, você tem que seguir em frente. - me olhou.
- A senhora acha que para mim está sendo fácil tudo isso. - levantei em direção a janela. - Acordar todo dia e ver a janela fechada, saber que ela nunca mais irá abri-la, que aquela casa amarela em frente ao parque será apenas uma lembrança de nossos momentos, que ela nunca mais ia voltar.
- Não, eu nunca disse que isso era fácil. - começou a arrumar a cama. - Mais ficar batendo sempre nessa tecla não irá resolver nada. - finalizou.
- Talvez eu queira ficar nessa tecla. - falei fechando a janela. - Eu não quero continuar, me deixe sozinho. - e assim como em todas as vezes, minha mãe saiu abatida, me deixando ali encarando a casa ao lado.
- Ei , acorde. - A voz de invadiu meus sonhos.
- Só mais cinco minutos, por favor. - enterrei minha cabeça entre o travesseiro.
- Nenhum minuto a mais, ande logo. - reclamou.
- Sabia que você fica tão linda assim, mandona. - a olhei.
- Esse hábito de conversarmos pela janela, se tornou tão frequente. - Debruçou no batente.
- Você lembra o que aconteceu na última vez que eu fui pular até aí? - Uma lembrança rápida passou pela minha cabeça.
- Um braço quebrado e um joelho deslocado. - fingiu esforço para se lembrar. - É foi isso mesmo, sua mãe ficou te falando umas mil vezes que morávamos em um sobrado e não em uma casa. - começou a rir.
- Nem me lembre. - ficamos nos encarando e sorrindo feito dois retardados até seu pai a gritar para o café da manhã.
- Te vejo mais tarde? - perguntou.
- Sim, até mais. - acenei.
Senti uma lágrima escapar pelo meu rosto, abri os olhos e tinha uma garota me fitando um tanto quanto confusa. Puxei a cortina rapidamente e me deitei.
12/11/2005
Por
- Mãe você não acha os vizinhos do lado estranhos? - perguntei.
- Nunca nem os vi, , como posso achar estranhos? - Respondeu com a sobrancelha arqueada.
- Ontem quando fui abrir a janela do meu quarto para entrar um ar, tinha um homem na janela da frente. - revirei os olhos. - Ele estava encarando a minha e parecia viajar, começou a chorar e então pareceu acordar do transe.
- É, realmente isso é estranho. - balançou a cabeça.
- Logo após ele me encarou com uma cara fechada e puxou a cortina. - contei tentando imaginar o que de fato tinha acontecido.
- Só espero que ele não nos traga nenhum problema. - disse terminando de arrumar a mesa da sala de jantar.
- É. - suspirei ligando a televisão. - Temos que achar alguém que arrume a antena para a gente. - comentei.
- Podemos ver isso depois, o que acha? - perguntou indo para cozinha, logo em seguida a campainha toca. - Atende para mim. - Gritou.
- Boa tarde. - disse assim que abri a porta, olhando uma senhora baixinha com um grande sorriso me olhando.
- Boa tarde. - respondeu. - Eu sou Marta, a vizinha ao lado.
- Oi Marta, eu sou . - sim eu era um desastre para apresentações.
- Eu trouxe um lanchinho de boas-vindas. - me entregou a vasilha.
- Ah sim! Entre. - peguei o recipiente esperando que a mesma entrasse. - Mãe temos visita. - gritei.
- Quem é? - Perguntou dando de cara com a vizinha. - Ah! Oi. - respondeu sem graça. - Como vai? Eu sou Loren. - Estendeu a mão para cumprimentar.
- Eu sou Marta, a vizinha do lado. - respondeu minha mãe. - vim trazer um agrado para nossa nova vizinha.
- Obrigada. - minha mãe sorriu. - Não quer tomar um café? Podemos conversar. - ofereceu.
- Se não for incomodar. - seguiu minha mãe até a cozinha. Ela parecia ser simpática, embora aquele rapaz fosse totalmente ao contrário.
20/11/2005
Por
Saí de casa para ir ao supermercado, minha psicóloga tinha dito que seria muito bom respirar ar puro e entrar em contato com as pessoas. Mal ela e minha mãe sabiam que o que eu mais queria era me isolar dentro daquele quarto para vida toda.
- Ei , quanto tempo? - Marcos me gritou do outro lado da rua.
- Pois é. - acenei seguindo em frente evitando que uma conversa começasse. Todo o caminho que passei foi extremamente desagradável, no supermercado parecia que todos os atendentes me olhavam me julgando pelo ocorrido, andando pela rua, todas as pessoas que cruzavam meu caminho me olhavam com pena e tentavam de certo modo me confortar. Abri a porta de casa encontrando minha mãe conversando com Laura.
- Olá. - Me cumprimentou. - Tive que vir mais cedo para a sessão. - justificou sua presença.
- Tudo bem. - respondi entregando as sacolas para minha mãe. - Vamos. - fui ao rumo a escada.
- Vejo que está melhorando, já até foi ao supermercado. - sentou-se na poltrona de meu quarto. - Temos um avanço.
- Me arrependi completamente. - Coloquei o suéter no guarda-roupas. - Todas aquelas pessoas me olhando com dó, aqueles olhares. - Balancei a cabeça tentando espantar as memórias.
- , já conversamos sobre isso outras vezes. - Parou de anotar no seu bloco. - Teremos que trabalhar mais essa parte, as pessoas vão te olhar, é claro, elas só lamentam o que aconteceu com vocês.
- Eu não quero que eles tenham pena. - disse. - Como se me julgassem por ela ter ido embora. - Segurei minha própria mão.
- Foi uma fatalidade. - disse mais uma vez. - Nenhum dos dois saberiam o que iria acontecer, você não teve culpa alguma, os dois se distraíram. - anotou algo em seu bloco.
- Eu não deveria ter me distraído. - me olhou. - Eu estava na estrada, tinha que ter mantido o foco. - Arrumou os óculos. - Ela estava tão feliz pela nossa comemoração. - Lamentei. - Tínhamos tantos planos. - Soltei o ar preso.
- Tudo que eu disser pode parecer pouco. - falou como se fosse óbvio. - Mas você tem que seguir em frente, ser forte. - me encarou. - Parece difícil e um tanto quanto impossível, você passou por um grande trauma, porém você está aqui tem sua mãe que te ama e que torce pela sua recuperação. - voltou a anotar. - Vocês fizeram planos como disse, ficaria orgulhosa se você os realizasse.
- Eu me sinto tão perdido. - retruquei - Não sei o que fazer, como me sentir eu ... - Meu olhar vagava pelo cômodo. - Não sei mais nada.
- Até o final de nossas sessões, você irá saber como e o que fazer. - fechou seu bloco. - Obrigada por hoje, por se abrir. - levantou e sorriu.
- Eu que agradeço pela paciência. - Gesticulei.
- Vamos vencer esse monstro que lhe assombra, eu te prometo. - Saiu fechando a porta do quarto e me deixando um pouco aliviado.
- Alguns alunos da minha sala me estressam. - ela dizia enquanto comia.
- Por que? - falei levando o garfo a boca.
- Simplesmente não prestam atenção em nada, só conversam. - parecia estar com raiva. - Estamos em semana de palestras, com temas tão importantes. - bufou.
- Ei. - segurei sua mão. - Vamos mudar de assunto? - perguntei.
- Me desculpa. - pediu. - Desde quando chegamos aqui, te bombardeie com esse assunto, tirando o foco do que você queria dizer. - Ficou envergonhada.
- Tudo bem. - beijei sua mão. - Podemos aproveitar esse tempo que temos para ver sobre o nosso casamento, o que acha? - Perguntei pegando o tablet na minha mochila.
- Claro. - Respondeu.
Parecia que aquilo era tão recente, todas aquelas memórias estavam frescas em minha cabeça, me atormentando a todo momento. ficaria marcada em minha vida.
27/11/2005
- , já está pronto querido? - minha mãe gritou.
- Já estou descendo. - gritei de volta. – Mãe, a senhora não acha melhor irmos outro dia? - perguntei descendo os degraus.
- Não está se sentindo bem? - perguntou preocupada.
- Não, apenas não quero que as pessoas me olhem daquele jeito. - tentei convencê-la.
- Meu filho. - colocou a mão em meu rosto. - Esses olhares não importam, não dizem nada sobre quem você é. - beijou minha bochecha. - Vamos logo, chamei a filha da nossa vizinha para ir. - pegou as chaves.
- Como assim? - perguntei confuso.
- Chamei para ir também. - disse como se fosse algo simples. - A mãe está no trabalho e ela sozinha em casa, não achei que teria algum problema. - Arqueou a sobrancelha.
- Não tem. - disse por fim.
O caminho até a sorveteria foi todo silencioso de minha parte, minha mãe não parava de tagarelar com nossa vizinha sobre coisas aleatórias, eu estava concentrado olhando para meus próprios pés pelo caminho, evitando contato visual com quem quer que seja.
- Chegamos. - Minha mãe disse eufórica. – Olá, Joe. - Falou entrando.
- Olá Marta, . - Olhou para com um ponto de interrogação. - Quem é essa bela dama? - Estendeu a mão.
- . - Respondeu sem graça.
- Prazer em conhecê-la. - Sorriu para a mesma.
- O que vão querer? - Perguntei mudando de assunto.
- Um sundae de caramelo. - Minha mãe pediu.
- Milk shake oreo, por favor. - pediu
- E para mim um açaí. - finalizei os pedidos.
- Já trago para vocês. - disse terminando de anotar e saindo em seguida.
- Filho, sabia que a mãe da trabalha comigo? - me perguntou animada. – Bom, no mesmo local já que temos especialidades diferentes.
- Isso parece ser legal. - Respondi.
- Loren é geriatra. – disse.
- É uma ótima profissão. - e mais uma vez estava presente no assunto, aquela era a área que sonhava se especializar.
- Que área você planeja seguir? - perguntou enquanto olhava as fotos do seu álbum de formatura.
- Talvez estradas ou estruturas. - disse em tom de dúvida. - E você?
- Geriatria. - seus olhos brilharam. - Quero cuidar de todo idosos que eu puder.
- Isso é muito bom sabia. - me olhou. - Esse amor que você sente pelo próximo e essa vontade de cuidar deles, te fazem ser a mulher que eu sempre sonhei para viver do meu lado. - acariciei sua bochecha.
- Obrigada. - sorriu envergonhada. - Você sabe o quanto isso é importante para mim e ter você do meu lado só torna essa conquista mais especial. - distribuiu beijos em todo meu rosto beijando meus lábios após, seus lábios eram macios e seu beijo era doce como morangos.
- ... Ei . - uma voz interrompia nosso momento.
- , filho. - acenou com a mãe na frente de meus olhos. - Está tudo bem? - seus olhos estavam arregalados.
- Está sim. - balancei a cabeça. - Apenas memórias. - dei um meio sorriso, observando me olhar curiosa.
- Seu açaí chegou. - ela apontou pela tigela, tomando seu milk shake em seguida.
- Ah sim! Obrigado. - corei levemente, sem saber o motivo.
- Bom eu vou ter que ir até o hospital. - olhou para o celular. - Me mandaram uma mensagem para conversarmos sobre minha volta. - mexeu em sua bolsa, procurando algo.
- Mãe eu te levo. - fiz menção de levantar.
- Não precisa, terminem vocês de tomar seus sorvetes. - disse levantando. - Depois leve-a para casa. - piscou para mim, deixando uma nota na mesa.
- E... então. - tentou quebrar o silêncio. - O que você faz da vida? - pareceu se arrepender do que tinha dito.
- Eu estou afastado do trabalho por um tempo, então fico em casa. – me concentrei no açaí a minha frente. - E você?
- Eu fico o dia inteiro mofando em casa. - Disse como se fosse óbvio. - Às vezes saio com algumas colegas da faculdade.
- Você faz qual curso? - fiquei curioso.
- Arquitetura. - limpou a boca. - E você? - sorriu.
- Eu? - devolvi a pergunta.
- Você não estuda? - me fitou.
- Eu já me formei. – disse, terminado de comer. - Fiz engenharia civil.
- Um grande curso. - pude notar um brilho em seu olhar. - Acho fascinante como vocês dão vida a uma ponte, como fazem estradas.
- Realmente é algo encantador. - sorri. - Já fez muitas amizades por aqui?
- Apenas umas três pessoas da faculdade. - pareceu contar mentalmente. - e sua mãe. - disse por fim.
- Você ainda é nova por aqui, irá fazer mais alguns. - Respondi.
- Talvez. - Deu de ombros. - Você tem muitos? - Perguntou curiosa.
- Alguns. - disse me lembrando deles. - Um dia te apresento a eles. - Me assustei de como aquelas palavras saíram de minha boca.
- Pode ser. - Respondeu animada. - Podemos ir embora agora? - Perguntou.
- Sim, só vou pagar. - levantei indo para o caixa. Ficamos em uma pequena discussão sobre o pagamento da conta, na qual pareci convencê-la que ela era convidada e não pagaria. O caminho de volta para casa foi regado de conversas sobre diversos assuntos, falamos sobre nossos gostos musicais entre outros.
- Obrigada pela companhia de hoje. - Falou colocando o cabelo atrás da orelha.
- Eu que agradeço. - Parei enfrente sua casa.
- Na próxima será meu convidado. - Me fitou. - Quer dizer, você e sua mãe. - Corou levemente.
- Combinado. - sorri caminhando para minha casa.
04/12/2005
Estava acordado fazia tempo, já tinha levantado me arrumado e descido para tomar café com minha mãe na cozinha. Antes de descer vi pela janela que dormia ternamente agarrada em seu travesseiro, parecia tão serena e tranquila. Assim que voltei ela já não se encontrava mais ali. Desci novamente as escadas encontrando com minha mãe na metade.
- Onde vai meu filho? - perguntou.
- Dar uma volta. - respondi.
- Boa ideia. - sorriu. - Quando voltar eu já terei ido para o serviço. - subiu os degraus. Sai em caminhando rumo a praça, algumas crianças com seus pais ou babás se encontravam brincando ali, assim como as mesmas pessoas de sempre passeando com os cachorros, tudo continuava no mesmo lugar.
- Olá vizinho. - levei um susto com sua aproximação.
- Oi. - notei que ela tinha um cachorro. - Você tem um cachorro? - que pergunta mais idiota.
- Na verdade não. - pegou ele no colo. - Sabe a vizinha do quatrocentos e oito? - perguntou, apenas assenti. - Então, ela me pediu para dar uma voltinha com essa gracinha. – disse, fazendo carinho no animal.
- Ela me pedia sempre antes de me mudar. – falei, começando a andar.
- Você se mudou para onde? - perguntou confusa me acompanhando.
- Morava perto do central parque. - tentei reformular. - Por causa do serviço. - tentei consertar. - Era mais perto sabe.
- Entendi. - Mexeu as feições do rosto. Ficamos um bom tempo passeando até refazermos o caminho para casa. - , quer ir em uma festa comigo? – perguntou.
- Festa? - perguntei a mim mesmo. - Eu não sei, não vou uma festa há tempos. - Respondi.
- Tem uma hoje do pessoal da faculdade. - Falou. - Pensei que poderia ir.
- Pode ser. - falei.
- Passa aqui as nove então. – se despediu com um beijo em minha bochecha.
- Certo. - me deixou ali sem palavras a vendo caminhar com o cachorro.
06/12/2005
Fiquei um bom tempo encarando aquela janela a espera de algum movimento naquele quarto, o que não demorou muito.
- Que susto. - Colocou a mão no peito. - O que faz aí? - Perguntou.
- Nada, só olhando mesmo. - Falei sem graça.
- Tá. - Revirou os olhos.
- Na verdade queria falar com você. - A olhei. - Queria saber se você queria ir ao cinema? - Perguntei.
- Hoje? - Perguntou surpresa.
- Sim, se você quiser é claro. - Desconversei. - Nossas mães então trabalhando e hoje é sábado, você não tem aula, pensei nisso. - Justifiquei.
- Claro, aceito. – Respondeu.
- As oito e meia então?
- Combinado.
12/12/2005
Por
Minha mãe tinha ido resolver sobre a venda da nossa antiga casa em Corunha, a festa para o pessoal do meu curso estava liberada, tinha convidado quando estávamos vindo embora do cinema, embora ele tivesse dito que não viria eu ainda estava com esperança que ele apareceria.
A festa estava animada, as pessoas pareciam se divertir e alguns casais perdidos pelos cômodos se pegando.
- E aí . - Brian me gritou. - Festa maneira. - Ergueu sua cerveja.
- Legal. - Respondi pegando uma. Vitória, uma colega de turma, me puxou para onde um aglomerado de gente estava a dançar.
I'm hurting baby, I'm broken down
I don't wanna be needing your love
Brian chegou logo em seguida me abraçando por trás e se balançando no ritmo da música.
Sugar
Yes please
Won't you come and put it down on me
Mais gente foram chegando cantando e pulando, até que chegava no refrão e ele me beijou quando o beija ganhava forma pude escutar uma gritaria, uma discussão.
- DESLIGA ESSA PORCARIA. – como furacão entrou em minha casa e se dirigiu ao DJ. – NÃO ESTÁ ME OUVINDO MULEQUE? – Começou a puxar todos aqueles fios derrubando tudo no chão.
- Quem você pensa que é, seu maluco? – Brian ia em sua direção.
- Gente não briguem por favor. – Tentei separá-los. – , pare com isso. – Eu gritava. - Alguém separa eles por favor? – Pedi desesperada.
Assim que foram separados, Brian foi levado embora com um olho roxo e um corte no supercilio, tentei me aproximar de , porém ele se esquivou e saiu rumo a sua casa com a boca sangrando.
Depois que todos foram embora, fiquei ali arrumando aquela bagunça e as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Ele parecia ser uma pessoa tão legal, que com o tempo se tornou especial para mim, embora estranho e distante, às vezes ele me fazia bem. O relógio da sala marcava seis horas da manhã, levantei do chão subindo as escadas para meu quarto, parei em frente nossas janelas e pude vê-lo dormir tranquilamente, sereno como se nada tivesse acontecido.
Abra-se e deixe-me entrar
Mostrar os hematomas em sua pele
Deixe os fogos queimarem tudo
Eu queria entender o que se passava com ele, os seus motivos de surtos, todos os seus medos, do que ele se escondia.
Eu posso ouvir o grito silencioso em você
Deixá-lo ir não ser tão assustado
13/12/2005
Fiquei encarando aquela janela por algum tempo, eu ainda estava confusa com tudo aquilo que estava acontecendo, parecia um louco ao entrar em minha casa na noite anterior, com um ataque de fúria expulsando todas aquelas pessoas e quebrando o som. E então a sua silhueta apareceu atrás daquela cortina.
- Ei ? - O chamei. - Abra a janela. - Pedi, demorou alguns minutos para que ele fizesse
- Oi. - disse rapidamente.
- Como vai? - perguntei.
- Indo. - Ficamos em um silêncio constrangedor. - Olha eu queria me desculpas pelo episódio de ontem. - fez uma pausa. - Eu agi feito um louco, é só que... - parecia que tudo aquilo o machucava. - ...eu não gosto daquela música.
- Por qual motivo? - Questionei não obtendo resposta. - Tem que ter uma explicação para isso, você não pode odiar algo que não tenha deixado alguma marca. - expliquei.
- Eu não quero falar sobre isso. - Respondeu grosso.
- Você nunca fala. - Comecei a desabafar. - Sempre se recua, grita, chora e vai embora depois. - Tentava segurar uma lágrima. - Depois volta como se nada tivesse acontecido e me chama para sair.
- Esse é o meu jeito, eu não posso mudar. - Sua voz saio em um fio.
- Olha eu sei que não é fácil e nem posso imaginar sua dor. - Me aproximei da janela. - Porém você não pode parar no tempo como se tudo estivesse perdido, você tem que seguir em frente. - ele me olhava como se não estivesse entendo. - Não vale a pena viver sonhando, e se esquecer de viver.
- Do que está falando? - questionou.
- Você não tem culpa do que aconteceu, foi um acidente. - Ele arregalou os olhos. - Pare de se culpar e vá viver sua vida.
- O que você sabe sobre isso? - Começou a interrogar.
- Você pode encontrar o amor que você perdeu novamente, deixe o caos desaparecer. - Então ele começou a chorar.
- Que direito você acha que tem para falar isso, você não sabe de nada que aconteceu. - Mais uma vez ele estava alterado. - Quem te falou isso garota? Pare de xeretar minha vida. – Disparou.
- Sua mãe me contou, quando veio pedir desculpas pelo ocorrido. – Falei atropelando as palavras.
- Ela não tinha esse direito, não tinha esse direito. - Falava repetidamente enquanto puxava os cabelos.
- Se acalme por favor. - falei tentando acalmá-lo de longe.
- Eu não quero me acalmar. - Ele continuou a gritar até sua mãe entrar no quarto assustada, tentando contê-lo.
16/12/2005
- Filha? - minha mãe perguntou ao entrar em casa. - Está em casa?
- Estou. - Gritei. - Já desço. - disse colocando as botas.
- Não desça a escada desse jeito, pode se machucar. - me repreendeu ao me ver descendo pelo corrimão. - Você está linda.
- Obrigada. - a abracei.
- Marta me disse que você e o filho dela brigaram. - Falava enquanto conferia se todas as janelas estavam fechadas. - Qual motivo? – me olhou.
- Eu nem sei. - Soltei o ar. - Podemos ir? - Desviei o assunto. No caminho até o local da quermesse, toda aquela cena rodava pela minha cabeça e aquela música, não me ajudava em nada.
- É tão bonita toda essa decoração. - Minha mãe falou após estacionar. - Alegre.
- Sim.
- Vamos nos sentar com Marta e , venha. - Me puxou antes de eu dizer que não. - Olá, podemos nos sentar? - Perguntou.
- Claro, sentem. - Marta respondeu. Em um determinado momento minha mãe e a de foram para o bingo nos deixando sozinhos.
- Não vejo graça em bingo. - Começou. - Nunca ganhei nem aqueles da escola. - Dei de ombros. - Sobre aquilo...
- Não quero falar sobre isso. - O cortei.
- Você gosta de algodão doce? - Perguntou. - Podemos ir até a barraca. – Levantei e saí caminhando.
- Não vai dormir? - Minha mãe apareceu de roupa de dormir em minha frente.
- Vou assistir filme. - Respondi.
- Não durma muito tarde. - Me alertou.
- Você dirigiu muito mal. - Falei
- A claro, aquilo é um carrinho de bate-bate. - Disse como se fosse óbvio.
- Podemos ir no pula-pula, o que acha?
- Está me zoando? - Perguntei.
- Não, é sério. - Falou.
- Isso é de criança.
- Aquele não. - Apontou. - Vem. - Me puxou pela mão. Como desastrada que sou, eu apenas caia enquanto aquelas outras pessoas pulavam me impedindo de levantar, ele apenas ria e pulava. Até que sobrou só nos dois ali consegui levantar porem fui atacada por com um ataque de cocegas.
Sorri balançando a cabeça apagando aquela memória, desliguei a televisão e subi para meu quarto o sono já estava me deixando tonta.
18/12/2005
Por
Faziam exatamente trinta e seis minutos e catorze segundos que eu estava naquele ambiente a contragosto, me sentia velho para ir em baladas cheia de adolescentes.
- Ei . - Ethan que ainda era o barman dali me gritou. - Quanto tempo. - Falou. - Não te vejo desde a época que você e sua namorada frequentavam aqui. - Sorri amarelo.
- Se divirta cara. - Marcos já estava bêbado, sumindo entre as pessoas. Olhei para a pista de dança e estava lá dançando com um rapaz que conversava algo em seu ouvido. Minhas pernas criaram vidas próprias e foram de encontro a ela, fiquei ali paralisado na sua frente esperando que ela me notasse.
- . - Disse confusa. - O que faz aqui? - Se livrou do rapaz.
- Procurando o banheiro. - Arrumei uma desculpa.
- Me refiro a festa. - Disse.
- Ah sim! - Me xinguei mentalmente. - Um conhecido meu me convidou.
- Quer dançar? - Perguntou.
- Eu não sei dançar. - Respondi sendo puxado por ela.
- Vem, deixa seu corpo seguir o ritmo da canção. - Falou.
Abra-se e deixe-me entrar
Mostre os hematomas em sua pele
Nossos corpos estavam colocados um ao outro, aquela música lenta fez com que ela deitasse sua cabeça em meu ombro, eu podia ver ela de olhos fechados cantando ficamos ali por um tempo. Até que o final se aproximara e ela levantou sua cabeça me fitando, ficamos dividindo olhares entre nossas bocas e olhos, então ela se aproximou e me beijou. Seu beijo era doce como chocolate, um choque percorreu todo meu corpo me deixando todo arrepiado, a sensação era incrível, como seu fôssemos peças de quebra-cabeça que se encaixavam. Eu não sabia como iria olhar para ela depois, parti o beijo e fui em direção a saída do local, deixando-a confusa, me gritando. Seu cheiro ficou em minha camisa fazendo com que o caminho de volta para casa se tornasse mais difícil, eu não a merecia.
20/12/2005
- Laura me disse que você não está aparecendo nas suas sessões. - minha mãe sentou ao meu lado. - O que se passa filho?
- Eu estraguei tudo novamente. - Suspirei. - Fui com Ethan na balada, ela estava lá com umas amigas e um rapaz, minhas pernas criaram vida próprias e me levaram até ela. - Fechei os olhos me lembrando. - E então a música começou a tocar eu nem tinha percebido que estava no meio da pista, dançando com ela. - Sorri involuntariamente. - Aquela música parecia paralisar tudo em nossa volta, apenas ela e eu ali. - Minha mãe me lançou um olhar terno. - Parecia perfeito até que a distância entre nossos rostos foram diminuindo. - O rosto dela, cada detalhe estava gravado em meus olhos. - E nossos lábios se colaram, como se fosse automático.
- Não foi bom? - questionou.
- Teria sido, se um turbilhão de sentimentos não tivesse aparecido. - Expliquei. - Não existia ninguém no mundo, só ela. - Olhei para ela. - Sua pele macia, o sabor de seus lábios. - meu tom era desesperador. - Como se tudo que eu buscasse esse tempo todo tivesse ali na minha frente.
- Você tem que se permitir amar novamente, ser feliz. - Olhou em meus olhos. - Não se prenda a memórias, se você acha que não está pronto, que quer ficar preso em um quarto, deitado em uma cama se lamentando algo que aconteceu a mais de um ano atrás. - Parecia ter medo em falar. - Siga em frente, mais não dê esperanças a ela de algo entre vocês. - Finalizou suspirando.
- Eu a quero, estou pronto. - Conclui. - Só me assustei. - Justifiquei.
- Vá atrás dela, converse com ela. - Pediu. - Tente , ficar olhando ela pela janela não irá funcionar, não outra vez. - Alertou.
- Eu tentei ontem. - Argumentei. - Ela me olhou furiosa e fechou a janela.
- Atitude , atitude. - foi em direção a cozinha. Eu precisava dela, estava completamente apaixonado por ela e sem coragem para dizer tudo que estava preso.
X
- Sua filha está? - Perguntei assim que a porta foi aberta.
- Está no quarto. - Deu espaço para que eu entrasse. - Só não a machuque mais. - Falou.
- Posso entrar? - Perguntei ao bater na porta. Não obtive resposta, olhei pela fresta e a vi com a cabeça enterrada em seu travesseiro. Entrei mesmo assim e me sentei ao lado de seu corpo. - Podemos conversar? - Tentei.
- Vai embora. - Sua voz saiu abafada.
- Só me escute por favor. - Pedi.
- Vai ser como sempre. - Levantou a cabeça. - Você vem se desculpa e faz de novo. - Seus olhos estavam perdidos.
- Eu só preciso te dizer tudo que está preso. - A olhei. - E depois irei embora. - Soltei o ar.
- Tudo bem. - Sentou na cama.
- morava nesta casa desde a infância, onde nos conhecemos. - Um turbilhão de memórias se misturava. - Crescemos juntos, ela era um ano mais velha que eu, íamos para escola juntos e nos encontrávamos no intervalo. - Comecei a resumir. - Começamos a namorar no ensino médio, eu pensei que quando ela fosse para faculdade iria me deixar. - Ri com as lembranças. - Mas não, então aquele ano se passou rapidamente e eu consegui entrar na mesma Universidade que ela, mesmo turno. - Ela olhava atenta. - Passou-se dois anos e quando estávamos comemorando sua metade de curso, eu a pedi em casamento. Éramos tão felizes. - Lembranças. - Nos casamos logo após nossa formatura, do jeito que ela sempre sonhou. Estava dando início a sua pós, me incentivou a fazer também. - Lágrimas teimosas começavam a cair. - Fazíamos planos para ter filhos assim que estivéssemos estabilizados. Um dia ela acordou toda alegre e disse que estava pronta para ser mãe, que agora poderíamos ter. - Como se a cena daquele dia passasse diante de meus olhos. - Eu fiquei muito feliz, viemos almoçar com nossos pais.
Deixe os fogos queimarem tudo
Eu posso ouvir o grito silencioso em você
- , se você não quiser terminar, não precisa. - Me interrompeu.
- Eu preciso falar. - Era preciso. - Então os homens foram para o quintal enquanto as mulheres ficaram na sala. Elas conversavam sobre a comemoração de três anos de nosso casamento, essas coisas de festa. - Exemplifiquei. - Nos despedimos e segui o caminho naquela pista depois da cidade, para uma surpresa para ela. - Desisti de controlar as lágrimas. - Tudo aconteceu tão rápido, em um momento ela estava feliz cantando aquela música. - O som dos pneus derrapando zuniam em meu ouvido. - Então me descuidei olhando para ela, sua voz desesperada me tirou daquele transe. - Solucei. - Tinha um caminhão em nossa frente. - Ela arregalou os olhos. - Não deu tempo de fazer nada, tentei desviar, mas o carro capotou eu só ouvia seus gritos e um pedaço daquela canção. Você é mais quente que a baía do sul da Califórnia. - Citei. - Ela morreu na hora, estava sem cinto e foi arremessada para fora do carro sendo prensada por ele depois.
Deixá-lo ir não ser tão assustado
Encontrar o amor que você perdeu novamente
Deixe o caos desaparecer
Você não sabe que eu estou sempre aqui para você?
(...)
- Ai meu Deus! - Falou incrédula.
- Ei tive apenas escoriações leves, um braço quebrado e um corte na testa. - Apontei minha cicatriz. - Me culpei por todos os dias que se passaram, não era justo ela ter ido embora. - Minha voz começava a falhar. - Tão nova, com tantos sonhos e planos, eu estraguei tudo. - Bufei. - Todos aqueles pesadelos me assombrando, o acidente de todos os ângulos. Comecei a fazer tratamento psicológico, mas a barreira não quebrava, eu entendia tudo naquele momento que Laura conversava comigo mais quando ela ia embora, aquilo voltava. - Expliquei. - Eu não quero que sinta pena de mim e nem muito menos que me perdoe por isso, nada justifica descontar em você.
- Eu não sabia de tudo isso. – Disse. - Sabia o que sua mãe me contou depois daquela festa.
- Eu sou completamente um babaca. - Finalizei.
- Naquela festa. - Começou. - Você se lembrou dela ao me beijar?
- Não.
- Então porque saiu correndo daquele jeito? - Perguntou.
- Eu não sabia como agir, o que iria fazer quando o beijo acabasse. - Seu gosto ainda estava em mim. - Parecia que estávamos em um universo paralelo, que você era a peça que me faltava como um encaixe.
- Você tem medo de amar novamente. - Concluiu.
- Eu senti medo das sensações que você me causou, parecia que nos buscávamos a vários tempos diferentes, mas que só agora nos encontramos. - Conclui. - Foi assustador.
- Eu gosto de você, . - Sorriu. - Mas isso é demais para mim. - A olhei confuso. - Estava pronta para te ajudar, mas você se fecha, eu não consigo encontrar o seu verdadeiro eu.
- Eu estou pronto agora. - Segurei sua mão. - Eu preciso de sua ajuda, que você me tire desse escuro que eu entrei. - Pedi.
- Eu sempre vou estar aqui para você, preciso que você tente. - Apertou minha mão. - Tente se livrar desse fantasma, mesmo que for só amizade eu vou estar aqui. - Sorriu. - Sempre vou estar aqui para você. - Me abraçou. - Porque isso é devoção. Sempre que você quebrar, eu vou consertá-lo para você. - Sussurrou.
Eu acho que nossos pequenos corações ficarão bem
Porque isso é devoção
- Estou perdido e você é a única que eu vejo. - Desabafei.
- Eu estou aqui. - Me fitou. Olhei seus lábios e parecia tão certo, a beijei e todas aquelas sensações voltaram. Eram boas ao mesmo tempo que passava um frio em minha barriga meu coração estava quente, assim como seus lábios.
Nossos corpos em movimento, estou preso
flutuante em sua gravidade
Sempre que você quebrar, eu vou consertá-lo para você
Eu sou a pessoa que dirige a você à noite
Por
- Poderíamos dar uma festa em casa mesmo, o que acha? - Ela me perguntava enquanto colocava seus óculos escuros.
- Algo simples? - Questionei. - Não estou te reconhecendo. - Franzi o cenho.
- Será boda de trigo, vamos deixar algo grandioso para prata não? - Perguntei.
- Você que sabe querida. - Desviei o olhar da estrada a olhando. - Você é tão linda, sabia? - Perguntei passando meus dedos por sua face, vendo-a corar. - Eu te amo .
- Eu também te amo . - Sorriu. - Posso ligar o rádio? - Apenas assenti. - Ai meu Deus! Amo essa música. - Disse animada batendo palmas. - Sugar, yes please... canta . - Fez um microfone com as mãos.
- (...) and put it down on me. - Sua risada era contagiante.
- Yeah you show me good loving. - Apontou para mim.
- Make it alright. - Tentei cantar em tom sedutor, arrancando mais risadas dela.
- Need a little sweetness in my life. - Tirou o sinto de segurança e começou a dançar. - (...) My broken piece, you pick'em up. - Ela parecia tão feliz, a leveza em seu olhar, transparecia liberdade, ela estava sendo ela mesma, fui tirado do meu transe pelos seus gritos. - , O CAMINHÃO. - Tentei desviar não obtendo sucesso, logo vendo só vultos e em meio os gritos, a voz da canção. " Você é mais quente que a baía do sul da Califórnia "
Acordei suado aquele pesadelo me perseguia todos os dias após um ano e a sensação de culpa me matava a cada segundo que eu ficava acordado.
- Bom dia filho. - Minha mãe disse entrando pelo quarto abrindo as cortinas.
- Mais um dia. - resmunguei.
- você não pode ficar preso dentro desse quarto. - E o assunto rotina se instalava no ar. - Confinado nesse quadrado com várias fotografias, dormindo abraçado a esse vestido de noiva.
- Eu só quero ficar assim, por favor. - Cobri minha cabeça.
- Sua psicóloga chegará em meia hora, se arrume. - Puxou a coberta.
- Eu já disse que não preciso de tratamento nenhum. - Gritei, fazendo com que minha mãe levasse um susto e saísse do quarto. Eu não estava preparado para seguir em frente, eu nem sabia se queria seguir em frente, só de me imaginar sem ela, que tudo podia ser diferente se eu tivesse prestado atenção na estrada, ela estava tão alegre não foi justo o que acontecera.
09/11/2005
- Que barulho todo é esse mãe? - Perguntei vendo a entrar em meu quarto com mais uma refeição.
- São os novos vizinhos se mudando para a casa ao lado. - A casa que era dela, desde a infância morou ali com sua família.
- Eles foram mesmo embora. - conclui. - Me culpam pela morte dela e eles tem toda razão. - fechei os olhos.
- nós sabemos que você não teve culpa em nada. - abriu as cortinas. - Eles não te culpam, só é doloroso todas essas lembranças. - Tentou explicar.
- EU FUI O CULPADO DE TUDO, EU A MATEI. - gritei desesperado.
- Pare com isso. - Disse em tom autoritário. - De uma vez por todas a culpa não foi sua, você tem que seguir em frente. - me olhou.
- A senhora acha que para mim está sendo fácil tudo isso. - levantei em direção a janela. - Acordar todo dia e ver a janela fechada, saber que ela nunca mais irá abri-la, que aquela casa amarela em frente ao parque será apenas uma lembrança de nossos momentos, que ela nunca mais ia voltar.
- Não, eu nunca disse que isso era fácil. - começou a arrumar a cama. - Mais ficar batendo sempre nessa tecla não irá resolver nada. - finalizou.
- Talvez eu queira ficar nessa tecla. - falei fechando a janela. - Eu não quero continuar, me deixe sozinho. - e assim como em todas as vezes, minha mãe saiu abatida, me deixando ali encarando a casa ao lado.
- Ei , acorde. - A voz de invadiu meus sonhos.
- Só mais cinco minutos, por favor. - enterrei minha cabeça entre o travesseiro.
- Nenhum minuto a mais, ande logo. - reclamou.
- Sabia que você fica tão linda assim, mandona. - a olhei.
- Esse hábito de conversarmos pela janela, se tornou tão frequente. - Debruçou no batente.
- Você lembra o que aconteceu na última vez que eu fui pular até aí? - Uma lembrança rápida passou pela minha cabeça.
- Um braço quebrado e um joelho deslocado. - fingiu esforço para se lembrar. - É foi isso mesmo, sua mãe ficou te falando umas mil vezes que morávamos em um sobrado e não em uma casa. - começou a rir.
- Nem me lembre. - ficamos nos encarando e sorrindo feito dois retardados até seu pai a gritar para o café da manhã.
- Te vejo mais tarde? - perguntou.
- Sim, até mais. - acenei.
Senti uma lágrima escapar pelo meu rosto, abri os olhos e tinha uma garota me fitando um tanto quanto confusa. Puxei a cortina rapidamente e me deitei.
12/11/2005
Por
- Mãe você não acha os vizinhos do lado estranhos? - perguntei.
- Nunca nem os vi, , como posso achar estranhos? - Respondeu com a sobrancelha arqueada.
- Ontem quando fui abrir a janela do meu quarto para entrar um ar, tinha um homem na janela da frente. - revirei os olhos. - Ele estava encarando a minha e parecia viajar, começou a chorar e então pareceu acordar do transe.
- É, realmente isso é estranho. - balançou a cabeça.
- Logo após ele me encarou com uma cara fechada e puxou a cortina. - contei tentando imaginar o que de fato tinha acontecido.
- Só espero que ele não nos traga nenhum problema. - disse terminando de arrumar a mesa da sala de jantar.
- É. - suspirei ligando a televisão. - Temos que achar alguém que arrume a antena para a gente. - comentei.
- Podemos ver isso depois, o que acha? - perguntou indo para cozinha, logo em seguida a campainha toca. - Atende para mim. - Gritou.
- Boa tarde. - disse assim que abri a porta, olhando uma senhora baixinha com um grande sorriso me olhando.
- Boa tarde. - respondeu. - Eu sou Marta, a vizinha ao lado.
- Oi Marta, eu sou . - sim eu era um desastre para apresentações.
- Eu trouxe um lanchinho de boas-vindas. - me entregou a vasilha.
- Ah sim! Entre. - peguei o recipiente esperando que a mesma entrasse. - Mãe temos visita. - gritei.
- Quem é? - Perguntou dando de cara com a vizinha. - Ah! Oi. - respondeu sem graça. - Como vai? Eu sou Loren. - Estendeu a mão para cumprimentar.
- Eu sou Marta, a vizinha do lado. - respondeu minha mãe. - vim trazer um agrado para nossa nova vizinha.
- Obrigada. - minha mãe sorriu. - Não quer tomar um café? Podemos conversar. - ofereceu.
- Se não for incomodar. - seguiu minha mãe até a cozinha. Ela parecia ser simpática, embora aquele rapaz fosse totalmente ao contrário.
20/11/2005
Por
Saí de casa para ir ao supermercado, minha psicóloga tinha dito que seria muito bom respirar ar puro e entrar em contato com as pessoas. Mal ela e minha mãe sabiam que o que eu mais queria era me isolar dentro daquele quarto para vida toda.
- Ei , quanto tempo? - Marcos me gritou do outro lado da rua.
- Pois é. - acenei seguindo em frente evitando que uma conversa começasse. Todo o caminho que passei foi extremamente desagradável, no supermercado parecia que todos os atendentes me olhavam me julgando pelo ocorrido, andando pela rua, todas as pessoas que cruzavam meu caminho me olhavam com pena e tentavam de certo modo me confortar. Abri a porta de casa encontrando minha mãe conversando com Laura.
- Olá. - Me cumprimentou. - Tive que vir mais cedo para a sessão. - justificou sua presença.
- Tudo bem. - respondi entregando as sacolas para minha mãe. - Vamos. - fui ao rumo a escada.
- Vejo que está melhorando, já até foi ao supermercado. - sentou-se na poltrona de meu quarto. - Temos um avanço.
- Me arrependi completamente. - Coloquei o suéter no guarda-roupas. - Todas aquelas pessoas me olhando com dó, aqueles olhares. - Balancei a cabeça tentando espantar as memórias.
- , já conversamos sobre isso outras vezes. - Parou de anotar no seu bloco. - Teremos que trabalhar mais essa parte, as pessoas vão te olhar, é claro, elas só lamentam o que aconteceu com vocês.
- Eu não quero que eles tenham pena. - disse. - Como se me julgassem por ela ter ido embora. - Segurei minha própria mão.
- Foi uma fatalidade. - disse mais uma vez. - Nenhum dos dois saberiam o que iria acontecer, você não teve culpa alguma, os dois se distraíram. - anotou algo em seu bloco.
- Eu não deveria ter me distraído. - me olhou. - Eu estava na estrada, tinha que ter mantido o foco. - Arrumou os óculos. - Ela estava tão feliz pela nossa comemoração. - Lamentei. - Tínhamos tantos planos. - Soltei o ar preso.
- Tudo que eu disser pode parecer pouco. - falou como se fosse óbvio. - Mas você tem que seguir em frente, ser forte. - me encarou. - Parece difícil e um tanto quanto impossível, você passou por um grande trauma, porém você está aqui tem sua mãe que te ama e que torce pela sua recuperação. - voltou a anotar. - Vocês fizeram planos como disse, ficaria orgulhosa se você os realizasse.
- Eu me sinto tão perdido. - retruquei - Não sei o que fazer, como me sentir eu ... - Meu olhar vagava pelo cômodo. - Não sei mais nada.
- Até o final de nossas sessões, você irá saber como e o que fazer. - fechou seu bloco. - Obrigada por hoje, por se abrir. - levantou e sorriu.
- Eu que agradeço pela paciência. - Gesticulei.
- Vamos vencer esse monstro que lhe assombra, eu te prometo. - Saiu fechando a porta do quarto e me deixando um pouco aliviado.
- Alguns alunos da minha sala me estressam. - ela dizia enquanto comia.
- Por que? - falei levando o garfo a boca.
- Simplesmente não prestam atenção em nada, só conversam. - parecia estar com raiva. - Estamos em semana de palestras, com temas tão importantes. - bufou.
- Ei. - segurei sua mão. - Vamos mudar de assunto? - perguntei.
- Me desculpa. - pediu. - Desde quando chegamos aqui, te bombardeie com esse assunto, tirando o foco do que você queria dizer. - Ficou envergonhada.
- Tudo bem. - beijei sua mão. - Podemos aproveitar esse tempo que temos para ver sobre o nosso casamento, o que acha? - Perguntei pegando o tablet na minha mochila.
- Claro. - Respondeu.
Parecia que aquilo era tão recente, todas aquelas memórias estavam frescas em minha cabeça, me atormentando a todo momento. ficaria marcada em minha vida.
27/11/2005
- , já está pronto querido? - minha mãe gritou.
- Já estou descendo. - gritei de volta. – Mãe, a senhora não acha melhor irmos outro dia? - perguntei descendo os degraus.
- Não está se sentindo bem? - perguntou preocupada.
- Não, apenas não quero que as pessoas me olhem daquele jeito. - tentei convencê-la.
- Meu filho. - colocou a mão em meu rosto. - Esses olhares não importam, não dizem nada sobre quem você é. - beijou minha bochecha. - Vamos logo, chamei a filha da nossa vizinha para ir. - pegou as chaves.
- Como assim? - perguntei confuso.
- Chamei para ir também. - disse como se fosse algo simples. - A mãe está no trabalho e ela sozinha em casa, não achei que teria algum problema. - Arqueou a sobrancelha.
- Não tem. - disse por fim.
O caminho até a sorveteria foi todo silencioso de minha parte, minha mãe não parava de tagarelar com nossa vizinha sobre coisas aleatórias, eu estava concentrado olhando para meus próprios pés pelo caminho, evitando contato visual com quem quer que seja.
- Chegamos. - Minha mãe disse eufórica. – Olá, Joe. - Falou entrando.
- Olá Marta, . - Olhou para com um ponto de interrogação. - Quem é essa bela dama? - Estendeu a mão.
- . - Respondeu sem graça.
- Prazer em conhecê-la. - Sorriu para a mesma.
- O que vão querer? - Perguntei mudando de assunto.
- Um sundae de caramelo. - Minha mãe pediu.
- Milk shake oreo, por favor. - pediu
- E para mim um açaí. - finalizei os pedidos.
- Já trago para vocês. - disse terminando de anotar e saindo em seguida.
- Filho, sabia que a mãe da trabalha comigo? - me perguntou animada. – Bom, no mesmo local já que temos especialidades diferentes.
- Isso parece ser legal. - Respondi.
- Loren é geriatra. – disse.
- É uma ótima profissão. - e mais uma vez estava presente no assunto, aquela era a área que sonhava se especializar.
- Que área você planeja seguir? - perguntou enquanto olhava as fotos do seu álbum de formatura.
- Talvez estradas ou estruturas. - disse em tom de dúvida. - E você?
- Geriatria. - seus olhos brilharam. - Quero cuidar de todo idosos que eu puder.
- Isso é muito bom sabia. - me olhou. - Esse amor que você sente pelo próximo e essa vontade de cuidar deles, te fazem ser a mulher que eu sempre sonhei para viver do meu lado. - acariciei sua bochecha.
- Obrigada. - sorriu envergonhada. - Você sabe o quanto isso é importante para mim e ter você do meu lado só torna essa conquista mais especial. - distribuiu beijos em todo meu rosto beijando meus lábios após, seus lábios eram macios e seu beijo era doce como morangos.
- ... Ei . - uma voz interrompia nosso momento.
- , filho. - acenou com a mãe na frente de meus olhos. - Está tudo bem? - seus olhos estavam arregalados.
- Está sim. - balancei a cabeça. - Apenas memórias. - dei um meio sorriso, observando me olhar curiosa.
- Seu açaí chegou. - ela apontou pela tigela, tomando seu milk shake em seguida.
- Ah sim! Obrigado. - corei levemente, sem saber o motivo.
- Bom eu vou ter que ir até o hospital. - olhou para o celular. - Me mandaram uma mensagem para conversarmos sobre minha volta. - mexeu em sua bolsa, procurando algo.
- Mãe eu te levo. - fiz menção de levantar.
- Não precisa, terminem vocês de tomar seus sorvetes. - disse levantando. - Depois leve-a para casa. - piscou para mim, deixando uma nota na mesa.
- E... então. - tentou quebrar o silêncio. - O que você faz da vida? - pareceu se arrepender do que tinha dito.
- Eu estou afastado do trabalho por um tempo, então fico em casa. – me concentrei no açaí a minha frente. - E você?
- Eu fico o dia inteiro mofando em casa. - Disse como se fosse óbvio. - Às vezes saio com algumas colegas da faculdade.
- Você faz qual curso? - fiquei curioso.
- Arquitetura. - limpou a boca. - E você? - sorriu.
- Eu? - devolvi a pergunta.
- Você não estuda? - me fitou.
- Eu já me formei. – disse, terminado de comer. - Fiz engenharia civil.
- Um grande curso. - pude notar um brilho em seu olhar. - Acho fascinante como vocês dão vida a uma ponte, como fazem estradas.
- Realmente é algo encantador. - sorri. - Já fez muitas amizades por aqui?
- Apenas umas três pessoas da faculdade. - pareceu contar mentalmente. - e sua mãe. - disse por fim.
- Você ainda é nova por aqui, irá fazer mais alguns. - Respondi.
- Talvez. - Deu de ombros. - Você tem muitos? - Perguntou curiosa.
- Alguns. - disse me lembrando deles. - Um dia te apresento a eles. - Me assustei de como aquelas palavras saíram de minha boca.
- Pode ser. - Respondeu animada. - Podemos ir embora agora? - Perguntou.
- Sim, só vou pagar. - levantei indo para o caixa. Ficamos em uma pequena discussão sobre o pagamento da conta, na qual pareci convencê-la que ela era convidada e não pagaria. O caminho de volta para casa foi regado de conversas sobre diversos assuntos, falamos sobre nossos gostos musicais entre outros.
- Obrigada pela companhia de hoje. - Falou colocando o cabelo atrás da orelha.
- Eu que agradeço. - Parei enfrente sua casa.
- Na próxima será meu convidado. - Me fitou. - Quer dizer, você e sua mãe. - Corou levemente.
- Combinado. - sorri caminhando para minha casa.
04/12/2005
Estava acordado fazia tempo, já tinha levantado me arrumado e descido para tomar café com minha mãe na cozinha. Antes de descer vi pela janela que dormia ternamente agarrada em seu travesseiro, parecia tão serena e tranquila. Assim que voltei ela já não se encontrava mais ali. Desci novamente as escadas encontrando com minha mãe na metade.
- Onde vai meu filho? - perguntou.
- Dar uma volta. - respondi.
- Boa ideia. - sorriu. - Quando voltar eu já terei ido para o serviço. - subiu os degraus. Sai em caminhando rumo a praça, algumas crianças com seus pais ou babás se encontravam brincando ali, assim como as mesmas pessoas de sempre passeando com os cachorros, tudo continuava no mesmo lugar.
- Olá vizinho. - levei um susto com sua aproximação.
- Oi. - notei que ela tinha um cachorro. - Você tem um cachorro? - que pergunta mais idiota.
- Na verdade não. - pegou ele no colo. - Sabe a vizinha do quatrocentos e oito? - perguntou, apenas assenti. - Então, ela me pediu para dar uma voltinha com essa gracinha. – disse, fazendo carinho no animal.
- Ela me pedia sempre antes de me mudar. – falei, começando a andar.
- Você se mudou para onde? - perguntou confusa me acompanhando.
- Morava perto do central parque. - tentei reformular. - Por causa do serviço. - tentei consertar. - Era mais perto sabe.
- Entendi. - Mexeu as feições do rosto. Ficamos um bom tempo passeando até refazermos o caminho para casa. - , quer ir em uma festa comigo? – perguntou.
- Festa? - perguntei a mim mesmo. - Eu não sei, não vou uma festa há tempos. - Respondi.
- Tem uma hoje do pessoal da faculdade. - Falou. - Pensei que poderia ir.
- Pode ser. - falei.
- Passa aqui as nove então. – se despediu com um beijo em minha bochecha.
- Certo. - me deixou ali sem palavras a vendo caminhar com o cachorro.
06/12/2005
Fiquei um bom tempo encarando aquela janela a espera de algum movimento naquele quarto, o que não demorou muito.
- Que susto. - Colocou a mão no peito. - O que faz aí? - Perguntou.
- Nada, só olhando mesmo. - Falei sem graça.
- Tá. - Revirou os olhos.
- Na verdade queria falar com você. - A olhei. - Queria saber se você queria ir ao cinema? - Perguntei.
- Hoje? - Perguntou surpresa.
- Sim, se você quiser é claro. - Desconversei. - Nossas mães então trabalhando e hoje é sábado, você não tem aula, pensei nisso. - Justifiquei.
- Claro, aceito. – Respondeu.
- As oito e meia então?
- Combinado.
12/12/2005
Por
Minha mãe tinha ido resolver sobre a venda da nossa antiga casa em Corunha, a festa para o pessoal do meu curso estava liberada, tinha convidado quando estávamos vindo embora do cinema, embora ele tivesse dito que não viria eu ainda estava com esperança que ele apareceria.
A festa estava animada, as pessoas pareciam se divertir e alguns casais perdidos pelos cômodos se pegando.
- E aí . - Brian me gritou. - Festa maneira. - Ergueu sua cerveja.
- Legal. - Respondi pegando uma. Vitória, uma colega de turma, me puxou para onde um aglomerado de gente estava a dançar.
I don't wanna be needing your love
Brian chegou logo em seguida me abraçando por trás e se balançando no ritmo da música.
Yes please
Won't you come and put it down on me
Mais gente foram chegando cantando e pulando, até que chegava no refrão e ele me beijou quando o beija ganhava forma pude escutar uma gritaria, uma discussão.
- DESLIGA ESSA PORCARIA. – como furacão entrou em minha casa e se dirigiu ao DJ. – NÃO ESTÁ ME OUVINDO MULEQUE? – Começou a puxar todos aqueles fios derrubando tudo no chão.
- Quem você pensa que é, seu maluco? – Brian ia em sua direção.
- Gente não briguem por favor. – Tentei separá-los. – , pare com isso. – Eu gritava. - Alguém separa eles por favor? – Pedi desesperada.
Assim que foram separados, Brian foi levado embora com um olho roxo e um corte no supercilio, tentei me aproximar de , porém ele se esquivou e saiu rumo a sua casa com a boca sangrando.
Depois que todos foram embora, fiquei ali arrumando aquela bagunça e as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Ele parecia ser uma pessoa tão legal, que com o tempo se tornou especial para mim, embora estranho e distante, às vezes ele me fazia bem. O relógio da sala marcava seis horas da manhã, levantei do chão subindo as escadas para meu quarto, parei em frente nossas janelas e pude vê-lo dormir tranquilamente, sereno como se nada tivesse acontecido.
Mostrar os hematomas em sua pele
Deixe os fogos queimarem tudo
Eu queria entender o que se passava com ele, os seus motivos de surtos, todos os seus medos, do que ele se escondia.
Deixá-lo ir não ser tão assustado
13/12/2005
Fiquei encarando aquela janela por algum tempo, eu ainda estava confusa com tudo aquilo que estava acontecendo, parecia um louco ao entrar em minha casa na noite anterior, com um ataque de fúria expulsando todas aquelas pessoas e quebrando o som. E então a sua silhueta apareceu atrás daquela cortina.
- Ei ? - O chamei. - Abra a janela. - Pedi, demorou alguns minutos para que ele fizesse
- Oi. - disse rapidamente.
- Como vai? - perguntei.
- Indo. - Ficamos em um silêncio constrangedor. - Olha eu queria me desculpas pelo episódio de ontem. - fez uma pausa. - Eu agi feito um louco, é só que... - parecia que tudo aquilo o machucava. - ...eu não gosto daquela música.
- Por qual motivo? - Questionei não obtendo resposta. - Tem que ter uma explicação para isso, você não pode odiar algo que não tenha deixado alguma marca. - expliquei.
- Eu não quero falar sobre isso. - Respondeu grosso.
- Você nunca fala. - Comecei a desabafar. - Sempre se recua, grita, chora e vai embora depois. - Tentava segurar uma lágrima. - Depois volta como se nada tivesse acontecido e me chama para sair.
- Esse é o meu jeito, eu não posso mudar. - Sua voz saio em um fio.
- Olha eu sei que não é fácil e nem posso imaginar sua dor. - Me aproximei da janela. - Porém você não pode parar no tempo como se tudo estivesse perdido, você tem que seguir em frente. - ele me olhava como se não estivesse entendo. - Não vale a pena viver sonhando, e se esquecer de viver.
- Do que está falando? - questionou.
- Você não tem culpa do que aconteceu, foi um acidente. - Ele arregalou os olhos. - Pare de se culpar e vá viver sua vida.
- O que você sabe sobre isso? - Começou a interrogar.
- Você pode encontrar o amor que você perdeu novamente, deixe o caos desaparecer. - Então ele começou a chorar.
- Que direito você acha que tem para falar isso, você não sabe de nada que aconteceu. - Mais uma vez ele estava alterado. - Quem te falou isso garota? Pare de xeretar minha vida. – Disparou.
- Sua mãe me contou, quando veio pedir desculpas pelo ocorrido. – Falei atropelando as palavras.
- Ela não tinha esse direito, não tinha esse direito. - Falava repetidamente enquanto puxava os cabelos.
- Se acalme por favor. - falei tentando acalmá-lo de longe.
- Eu não quero me acalmar. - Ele continuou a gritar até sua mãe entrar no quarto assustada, tentando contê-lo.
16/12/2005
- Filha? - minha mãe perguntou ao entrar em casa. - Está em casa?
- Estou. - Gritei. - Já desço. - disse colocando as botas.
- Não desça a escada desse jeito, pode se machucar. - me repreendeu ao me ver descendo pelo corrimão. - Você está linda.
- Obrigada. - a abracei.
- Marta me disse que você e o filho dela brigaram. - Falava enquanto conferia se todas as janelas estavam fechadas. - Qual motivo? – me olhou.
- Eu nem sei. - Soltei o ar. - Podemos ir? - Desviei o assunto. No caminho até o local da quermesse, toda aquela cena rodava pela minha cabeça e aquela música, não me ajudava em nada.
- É tão bonita toda essa decoração. - Minha mãe falou após estacionar. - Alegre.
- Sim.
- Vamos nos sentar com Marta e , venha. - Me puxou antes de eu dizer que não. - Olá, podemos nos sentar? - Perguntou.
- Claro, sentem. - Marta respondeu. Em um determinado momento minha mãe e a de foram para o bingo nos deixando sozinhos.
- Não vejo graça em bingo. - Começou. - Nunca ganhei nem aqueles da escola. - Dei de ombros. - Sobre aquilo...
- Não quero falar sobre isso. - O cortei.
- Você gosta de algodão doce? - Perguntou. - Podemos ir até a barraca. – Levantei e saí caminhando.
- Não vai dormir? - Minha mãe apareceu de roupa de dormir em minha frente.
- Vou assistir filme. - Respondi.
- Não durma muito tarde. - Me alertou.
- Você dirigiu muito mal. - Falei
- A claro, aquilo é um carrinho de bate-bate. - Disse como se fosse óbvio.
- Podemos ir no pula-pula, o que acha?
- Está me zoando? - Perguntei.
- Não, é sério. - Falou.
- Isso é de criança.
- Aquele não. - Apontou. - Vem. - Me puxou pela mão. Como desastrada que sou, eu apenas caia enquanto aquelas outras pessoas pulavam me impedindo de levantar, ele apenas ria e pulava. Até que sobrou só nos dois ali consegui levantar porem fui atacada por com um ataque de cocegas.
Sorri balançando a cabeça apagando aquela memória, desliguei a televisão e subi para meu quarto o sono já estava me deixando tonta.
18/12/2005
Por
Faziam exatamente trinta e seis minutos e catorze segundos que eu estava naquele ambiente a contragosto, me sentia velho para ir em baladas cheia de adolescentes.
- Ei . - Ethan que ainda era o barman dali me gritou. - Quanto tempo. - Falou. - Não te vejo desde a época que você e sua namorada frequentavam aqui. - Sorri amarelo.
- Se divirta cara. - Marcos já estava bêbado, sumindo entre as pessoas. Olhei para a pista de dança e estava lá dançando com um rapaz que conversava algo em seu ouvido. Minhas pernas criaram vidas próprias e foram de encontro a ela, fiquei ali paralisado na sua frente esperando que ela me notasse.
- . - Disse confusa. - O que faz aqui? - Se livrou do rapaz.
- Procurando o banheiro. - Arrumei uma desculpa.
- Me refiro a festa. - Disse.
- Ah sim! - Me xinguei mentalmente. - Um conhecido meu me convidou.
- Quer dançar? - Perguntou.
- Eu não sei dançar. - Respondi sendo puxado por ela.
- Vem, deixa seu corpo seguir o ritmo da canção. - Falou.
Mostre os hematomas em sua pele
Nossos corpos estavam colocados um ao outro, aquela música lenta fez com que ela deitasse sua cabeça em meu ombro, eu podia ver ela de olhos fechados cantando ficamos ali por um tempo. Até que o final se aproximara e ela levantou sua cabeça me fitando, ficamos dividindo olhares entre nossas bocas e olhos, então ela se aproximou e me beijou. Seu beijo era doce como chocolate, um choque percorreu todo meu corpo me deixando todo arrepiado, a sensação era incrível, como seu fôssemos peças de quebra-cabeça que se encaixavam. Eu não sabia como iria olhar para ela depois, parti o beijo e fui em direção a saída do local, deixando-a confusa, me gritando. Seu cheiro ficou em minha camisa fazendo com que o caminho de volta para casa se tornasse mais difícil, eu não a merecia.
20/12/2005
- Laura me disse que você não está aparecendo nas suas sessões. - minha mãe sentou ao meu lado. - O que se passa filho?
- Eu estraguei tudo novamente. - Suspirei. - Fui com Ethan na balada, ela estava lá com umas amigas e um rapaz, minhas pernas criaram vida próprias e me levaram até ela. - Fechei os olhos me lembrando. - E então a música começou a tocar eu nem tinha percebido que estava no meio da pista, dançando com ela. - Sorri involuntariamente. - Aquela música parecia paralisar tudo em nossa volta, apenas ela e eu ali. - Minha mãe me lançou um olhar terno. - Parecia perfeito até que a distância entre nossos rostos foram diminuindo. - O rosto dela, cada detalhe estava gravado em meus olhos. - E nossos lábios se colaram, como se fosse automático.
- Não foi bom? - questionou.
- Teria sido, se um turbilhão de sentimentos não tivesse aparecido. - Expliquei. - Não existia ninguém no mundo, só ela. - Olhei para ela. - Sua pele macia, o sabor de seus lábios. - meu tom era desesperador. - Como se tudo que eu buscasse esse tempo todo tivesse ali na minha frente.
- Você tem que se permitir amar novamente, ser feliz. - Olhou em meus olhos. - Não se prenda a memórias, se você acha que não está pronto, que quer ficar preso em um quarto, deitado em uma cama se lamentando algo que aconteceu a mais de um ano atrás. - Parecia ter medo em falar. - Siga em frente, mais não dê esperanças a ela de algo entre vocês. - Finalizou suspirando.
- Eu a quero, estou pronto. - Conclui. - Só me assustei. - Justifiquei.
- Vá atrás dela, converse com ela. - Pediu. - Tente , ficar olhando ela pela janela não irá funcionar, não outra vez. - Alertou.
- Eu tentei ontem. - Argumentei. - Ela me olhou furiosa e fechou a janela.
- Atitude , atitude. - foi em direção a cozinha. Eu precisava dela, estava completamente apaixonado por ela e sem coragem para dizer tudo que estava preso.
- Sua filha está? - Perguntei assim que a porta foi aberta.
- Está no quarto. - Deu espaço para que eu entrasse. - Só não a machuque mais. - Falou.
- Posso entrar? - Perguntei ao bater na porta. Não obtive resposta, olhei pela fresta e a vi com a cabeça enterrada em seu travesseiro. Entrei mesmo assim e me sentei ao lado de seu corpo. - Podemos conversar? - Tentei.
- Vai embora. - Sua voz saiu abafada.
- Só me escute por favor. - Pedi.
- Vai ser como sempre. - Levantou a cabeça. - Você vem se desculpa e faz de novo. - Seus olhos estavam perdidos.
- Eu só preciso te dizer tudo que está preso. - A olhei. - E depois irei embora. - Soltei o ar.
- Tudo bem. - Sentou na cama.
- morava nesta casa desde a infância, onde nos conhecemos. - Um turbilhão de memórias se misturava. - Crescemos juntos, ela era um ano mais velha que eu, íamos para escola juntos e nos encontrávamos no intervalo. - Comecei a resumir. - Começamos a namorar no ensino médio, eu pensei que quando ela fosse para faculdade iria me deixar. - Ri com as lembranças. - Mas não, então aquele ano se passou rapidamente e eu consegui entrar na mesma Universidade que ela, mesmo turno. - Ela olhava atenta. - Passou-se dois anos e quando estávamos comemorando sua metade de curso, eu a pedi em casamento. Éramos tão felizes. - Lembranças. - Nos casamos logo após nossa formatura, do jeito que ela sempre sonhou. Estava dando início a sua pós, me incentivou a fazer também. - Lágrimas teimosas começavam a cair. - Fazíamos planos para ter filhos assim que estivéssemos estabilizados. Um dia ela acordou toda alegre e disse que estava pronta para ser mãe, que agora poderíamos ter. - Como se a cena daquele dia passasse diante de meus olhos. - Eu fiquei muito feliz, viemos almoçar com nossos pais.
Eu posso ouvir o grito silencioso em você
- , se você não quiser terminar, não precisa. - Me interrompeu.
- Eu preciso falar. - Era preciso. - Então os homens foram para o quintal enquanto as mulheres ficaram na sala. Elas conversavam sobre a comemoração de três anos de nosso casamento, essas coisas de festa. - Exemplifiquei. - Nos despedimos e segui o caminho naquela pista depois da cidade, para uma surpresa para ela. - Desisti de controlar as lágrimas. - Tudo aconteceu tão rápido, em um momento ela estava feliz cantando aquela música. - O som dos pneus derrapando zuniam em meu ouvido. - Então me descuidei olhando para ela, sua voz desesperada me tirou daquele transe. - Solucei. - Tinha um caminhão em nossa frente. - Ela arregalou os olhos. - Não deu tempo de fazer nada, tentei desviar, mas o carro capotou eu só ouvia seus gritos e um pedaço daquela canção. Você é mais quente que a baía do sul da Califórnia. - Citei. - Ela morreu na hora, estava sem cinto e foi arremessada para fora do carro sendo prensada por ele depois.
Encontrar o amor que você perdeu novamente
Deixe o caos desaparecer
Você não sabe que eu estou sempre aqui para você?
(...)
- Ai meu Deus! - Falou incrédula.
- Ei tive apenas escoriações leves, um braço quebrado e um corte na testa. - Apontei minha cicatriz. - Me culpei por todos os dias que se passaram, não era justo ela ter ido embora. - Minha voz começava a falhar. - Tão nova, com tantos sonhos e planos, eu estraguei tudo. - Bufei. - Todos aqueles pesadelos me assombrando, o acidente de todos os ângulos. Comecei a fazer tratamento psicológico, mas a barreira não quebrava, eu entendia tudo naquele momento que Laura conversava comigo mais quando ela ia embora, aquilo voltava. - Expliquei. - Eu não quero que sinta pena de mim e nem muito menos que me perdoe por isso, nada justifica descontar em você.
- Eu não sabia de tudo isso. – Disse. - Sabia o que sua mãe me contou depois daquela festa.
- Eu sou completamente um babaca. - Finalizei.
- Naquela festa. - Começou. - Você se lembrou dela ao me beijar?
- Não.
- Então porque saiu correndo daquele jeito? - Perguntou.
- Eu não sabia como agir, o que iria fazer quando o beijo acabasse. - Seu gosto ainda estava em mim. - Parecia que estávamos em um universo paralelo, que você era a peça que me faltava como um encaixe.
- Você tem medo de amar novamente. - Concluiu.
- Eu senti medo das sensações que você me causou, parecia que nos buscávamos a vários tempos diferentes, mas que só agora nos encontramos. - Conclui. - Foi assustador.
- Eu gosto de você, . - Sorriu. - Mas isso é demais para mim. - A olhei confuso. - Estava pronta para te ajudar, mas você se fecha, eu não consigo encontrar o seu verdadeiro eu.
- Eu estou pronto agora. - Segurei sua mão. - Eu preciso de sua ajuda, que você me tire desse escuro que eu entrei. - Pedi.
- Eu sempre vou estar aqui para você, preciso que você tente. - Apertou minha mão. - Tente se livrar desse fantasma, mesmo que for só amizade eu vou estar aqui. - Sorriu. - Sempre vou estar aqui para você. - Me abraçou. - Porque isso é devoção. Sempre que você quebrar, eu vou consertá-lo para você. - Sussurrou.
Porque isso é devoção
- Estou perdido e você é a única que eu vejo. - Desabafei.
- Eu estou aqui. - Me fitou. Olhei seus lábios e parecia tão certo, a beijei e todas aquelas sensações voltaram. Eram boas ao mesmo tempo que passava um frio em minha barriga meu coração estava quente, assim como seus lábios.
flutuante em sua gravidade
Sempre que você quebrar, eu vou consertá-lo para você
Eu sou a pessoa que dirige a você à noite
Fim.
Nota da autora: Essa música se tornou meu xodozinho, me trouxe muita inspiração. Espero que gostem, beijos.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.