Capítulo Único
Depois de algumas horas fazendo uma grande faxina, o pequeno apartamento de estava finalmente arrumado, para a alegria da jovem. Ela suspirou, jogando—se no sofá e suspirando com o cansaço que dominava seu corpo aos poucos por causa do sono acumulado dos últimos dias.
Seu corpo foi relaxando conforme ouvia a música suave que tocava no rádio, que ela sempre ligava quando estava arrumando o seu sagrado cantinho de descanso, tentando não pensar nos seus inúmeros problemas. Ela só queria ter um pouco de paz por mais de dez minutos, mas sabia que isso era quase impossível quando as contas para pagar pareciam se multiplicar diante dos seus olhos.
Ela passou as mãos pelos fios finos de seus cabelos claros enquanto sua dor de cabeça voltava, parecendo que ia explodir seu cérebro de dentro para fora a qualquer momento. queria chorar, fugir ou fazer algo para mudar a situação da sua maldita vida, mas estava fazendo o máximo que conseguia para melhorar as coisas em sua vida e na vida de sua amada mãe.
— ? – ela ouviu a voz abafada da mulher que ela mais amava no mundo lhe chamar e levantou em um grande pulo mesmo estando completamente exausta.
deu passos rápidos largos até o quarto de sua mãe, que sorriu assim que a viu cruzando a porta de entrada.
— Oi, mãe. – ela respondeu, se sentando ao lado da senhora de olhos claros que estava deitada em uma grande e velha cama de casal.
— O que faz acordada? – ela perguntou quase num sussurro. – Você deveria descansar.
— Eu sei, mamãe, mas precisava arrumar a casa. – respondeu , com um sorriso doce que fez com que Robbie também sorrisse.
— Você é uma filha maravilhosa, . – ela disse enquanto seus olhos cansados começavam a se fechar. – Odeio seu pai e grande parte das coisas que ele fez, mas você... Você é a melhor coisa da minha vida e sou grata a ele por me dar isso.
— Por que está falando dele agora? – perguntou , enquanto segurava as mãos de sua mãe entre as suas. Odiava quando sua mãe tocava no assunto, porque via refletido nos olhos dela toda a dor que Michael tinha causado para ambas.
lembrava—se claramente das noites que passou com as costas para a porta, ouvindo as vozes cada vez mais altas por causa de Michael que constantemente chegava bêbado em casa, pronto para começar mais uma guerra fria e sanguenta com Robbie. Ela sentia vontade de chorar toda vez que se lembrava de seu pai erguendo a garrafa de cerveja para tomar mais uma dose mesmo não se aguentando em pé.
— Nada, eu só... – Robbie começou a falar, mas parou para suspirar profundamente e não chorar. – Eu acho que, às vezes, sinto falta dele.
Imediatamente negou com a cabeça enquanto via sua mãe a ponto de desmoronar mais uma vez. Os cacos do seu coração terrivelmente partido estavam cortando seu peito por dentro porque a vida estava deixando tudo mais difícil a cada dia que o sol nascia.
— Por favor, não fale sobre ele. – pediu tentando conter o forte aperto que sentia subir pelo seu peito.
— Tudo bem, me desculpa. – respondeu Robbie, com uma voz meio sonolenta. – Vá dormir, minha pequena . assentiu com a cabeça se inclinando na direção de sua mãe e depositando um beijo na testa da mesma antes de se levantar e sair do quarto.
Ela queria chorar, queria colocar toda a dor que sentia para fora e depois queimá—la para destruí—la de vez. Mas tudo que ela fez foi se arrumar para vivenciar o inferno.
I’enfer Rouge era o verdadeiro inferno vermelho para . Para ela era um grande sacrifício sair todas as noites de sua casa para servir mesas naquele clube onde os homens não a respeitavam porque achavam que ela era mais uma das inúmeras strippers e garotas de programas que trabalhavam lá.
Ela mal chegou à entrada do clube e já sentiu o cheiro de sexo, bebida e cigarros lhe receber na porta enquanto Fynn, um dos seguranças, sorria para ela de forma dócil.
— Boa noite, . – disse ele enquanto abria passagem para que ela entrasse no clube.
Ela sorriu de volta se inclinando para dar um beijo rápido no rosto do grande homem que já a tinha salvado de vários abusos por parte dos clientes do clube.
— Boa noite, Fynn. – respondeu depois que se afastou. – Sabe se a já chegou?
— Já. – respondeu ele, com um sorriso meio sacana. – Está se preparando para a grande noite dela.
apenas ignorou o sorriso safado de Fynn ao falar de sua amiga e entrou no clube. Era normal todo homem babar por , porque não tinha sido a toa que a garota tinha se tornado a melhor e mais desejada stripper do I’enfer Rouge.
O melhor em era o fato de ela ser diferente das outras meninas que trabalhavam no Inferno, porque parecia fazer aquilo por diversão e não apenas por grana. não sabia, mas realmente gostaria de saber o real motivo que levou aquela garota de vinte anos subir em um palco para se esfregar em uma barra de ferro excitado dúzias, centenas de homens.
O fato era que não falava sobre o seu passado e não insistia porque isso acabada irritado sua amiga. Com o tempo aprendeu a controlar a curiosidade e esperar se sentir a vontade para falar sobre seu misterioso passado.
— A santinha chegou. – disse uma das strippers assim que viu atravessar a porta do vestiário. As demais sorriram, exceto , que rolou os olhos enquanto continuava a se maquiar para o seu grande show.
— Não é ela que é santa, são vocês que são putas demais. – disse a morena, quando terminou de passar o batom, sorrindo para que sorriu de volta ouvindo os resmungos das outras garotas enquanto Allysson, a dona do clube, entrava no camarim apressando para ficarem prontas.
se sentia extremamente incomodada com aquela roupa minúscula que era forçada a vestir. O short jeans mais parecia uma calcinha que deixava metade da poupa de sua bunda para fora e o decote da blusa conseguia ser maior que a própria peça de rouba. Não era a toa que os homens que frequentavam o I’enfer a confundiam com uma das stripper.
Ela odiava tudo aquilo, odiava o modo como os caras achavam que tinham liberdade para meter a mão no seu traseiro e lhe dizer obscenidades. Mas ela precisava de dinheiro e no Inferno podia ter uma quantia razoável porque além do salário que Alysson lhe pagava, os caras que metiam a mão em sua bunda, na maioria das vezes, acabavam lhe deixando uma generosa gorjeta.
saiu do camarim junto com as demais meninas, deixando apenas se preparando para seu grande show. Ela andou até o balcão onde Paul, o barman, a esperava com uma bandeja cheia de shots de vodka para ela servir aos clientes enquanto o show não começava.
Tudo estava igual aos outros dias. Ela serviu várias mesas, recebeu cantadas, levou alguns tapas na bunda, ganhou algumas notas de dólares e algumas propostas indecentes até se aproximar de uma mesa onde tinham dois rapazes.
nunca olhava diretamente para o rosto dos clientes porque acabava ficando enojada com a maneira pervertidas que alguns deles a olhava, por isso não viu o rosto dos rapazes quando se inclinou um pouco para oferecer bebida a eles.
— Aceitam vodca? – perguntou e percebeu que um deles estava analisando seu corpo com o olhar.
— De você eu aceito tudo, beleza. – um deles falou enquanto mordia o lábio inferior com a cabeça curvada na direção do traseiro dela. imediatamente fechou a cara e encarou o rapaz que automaticamente ficou estático.
Os olhos se arregalaram incrédulos ao ver aquele rosto diante dos seus olhos depois de tanto tempo, e a mesma confusão era refletida nos olhos de do rapaz de cabelos castanhos e olhos encantadoramente azuis enquanto o outro cara fitava a cena com a confusão tomando conta de sua cabeça.
entrou em pânico vendo diante dos seus olhos depois de tanto tempo e saiu depressa para uma entrada qualquer atrás do palco e só parou quando entrou em um dos banheiros e se encostou na porta, sentindo seu peito quase se abrindo com as batidas fortes do seu coração.
Ela achou que nunca mais o veria, mas lá estava , o grande amor da sua adolescência, o grande amor da sua vida, em carne e osso pronto para assistir um show de stripper e comer alguma puta no final da noite.
A vida tinha mesmo levado ambos para caminhos diferentes.
sabia que tinha que voltar ao trabalho, pois se Alysson percebesse sua ausência faria questão de não lhe pagar a noite. Mesmo com os pensamentos imersos nos acontecimentos do passado, voltou a servir as mesas, evitando se aproximar do local onde tinha visto .
Ela nunca imaginou alguém como ele frequentando um clube de strippers em busca de sexo fácil porque o que ela conhecia conseguia ter quase todas as mulheres que quisesse em sua cama. Sem contar que adorava desafios. Se uma garota lhe rejeitasse ele a faria voltar atrás. Cada menina que ele conquistava era como um troféu muito valioso.
Os pensamentos de simplesmente não paravam de ir cada vez mais fundo na história deles dois. O engraçado era que ela conseguia se lembrar, claramente, do dia em que se conheceram.
Ela era nova, tinha por volta de seus doze anos quando alguns acontecimentos em sua escola a deixaram sem aula por três dias seguidos e sua mãe, por mais que soubesse a filha responsável que tinha, não queria deixa—la só em casa. Foi a primeira vez que entrou na casa dos e logo de cara ficou admirada com todo o luxo e elegância do local, porque parecia uma realidade paralela da dela. O senhor foi muito gentil, disse que poderia brincar pela casa e até entrar na piscina, caso quisesse, mas a senhora fez uma careta que deixou claro para que era melhor ficar quieta e junto com sua mãe.
realmente não ligava para isso, pois já estava acostumada com pessoas lhe olhando daquela forma, com certo desprezo.
Ficou o tempo todo perto de sua mãe e até a ajudou com algumas coisas. O tempo todo, as duas estavam brincando, sorrindo e deixando a casa impecavelmente limpa. Nem mesmo a megera da senhora poderia colocar defeito.
No finalzinho da tarde, ela ouviu a voz de um garoto pela casa, lançou um olhar animado para sua mãe que sorriu.
— É o . – disse ela ao perceber que a filha queria alguém da sua idade para brincar. — Acabou de chegar da escola.
sorriu e se levantou da cadeira que estava sentada para espiar o tal , filhos dos . Ela andou com pressa até a porta da cozinha e, se escondendo quase completamente atrás da parede, espiou o garoto na sala, que conversava com uma das empregadas da casa.
— Eu já disse que não estou com fome. — dizia ele, parecendo irritado. o achou muito bonito, mais bonito do que o garoto da sua escola por quem ela tinha uma paixonite aguda. — Você não pode me obrigar a comer, se eu não quero comer. Eu não sou mais uma criança, Alice.
— Eu sei, , mas sua mãe deixou claro que você deveria comer assim que chegasse da escola. — respondeu Alice, calmamente.
— Diga a ela que eu comi. — respondeu ele, dando de ombros e se jogando no sofá. — Problema resolvido.
Os olhos de percorreram a sala procurando pelo controle para ligar a TV e seus olhos acabaram caindo sobre os de , que se escondeu completamente atrás da parede. Alice abriu a boca para protestar sobre a comida, mas a interrompeu, se levantando no sofá com rapidez.
— Quem é aquela garota? — perguntou enquanto andava na direção onde tinha visto os grandes olhos de o observando.
— Que garota? — perguntou Alice.
— Loirinha de olhos . — respondeu , antes de olhar atrás da parede onde estava.
tentou sorrir, mas o olhar azul dele a deixou nervosa.
— Essa é a filha da Robbie. — respondeu Alice. — O nome dela é .
— ? — perguntou para garota fazendo uma careta de confusão enquanto confirmava com um acenar de cabeça. — Bonito nome.
— Obrigada. — respondeu ela, quase num sussurro e ele sorriu do jeito tímido da garota.
— Eu sou o , mas pode me chamar de . — disse ele, estendendo a mão para cumprimenta—la, mas ela apenas olhou da mão para os olhos dele. — Eu não mordo.
estendeu a mão para o garoto a sua frente e a apertou rapidamente.
— Qual seu apelido? — perguntou ele, recolhendo a mão.
— , — respondeu ela sorrindo junto com ele.
tinha gostado de no primeiro momento, mas, conforme foram crescendo, o jeito mimado e exibido dele passou a irritava—la profundamente. Os dois não eram amigos, eram apenas conhecidos que se trombavam e toda vez que isso acontecia, fazia questão de mostrar para a vida perfeita que ele tinha e ela não.
vivia em uma grande maré de sorte e ela em uma de grande azar. Até mesmo quando ela tinha um pouco de sorte o mundo fazia questão de lhe lembrar de que não podia comemorar por muito tempo.
Quando conseguiu uma bolsa no melhor colégio particular da cidade, graças ao senhor , ficou toda feliz pensando que as coisas podiam finalmente mudar, mas logo percebeu que estava completamente enganada. O colégio em si era ótimo, grande, bonito, organizado e tinha ótimos professores.
O grande problema eram os alunos. tinha pensado que faria grandes amizades, mas as coisas foram o contrário do que imaginou. Todos os alunos vinham de famílias ricas como a de , e isso fazia com que tivessem a mesma personalidade fútil e mesquinha de , que infelizmente também estudava lá.
Os primeiros dias foram como um pesadelo. Os olhares de desprezo a deixavam com vontade de chorar, ninguém queria conversar com ela e até mesmo só lhe dirigia a palavra pra dizer um: "oi " e logo em seguida se explicava para o grupinho de amigos com um: "ela é filha da uma das nossas empregadas".
no começo se sentia péssima, mas no fundo sabia que não podia esperar nada melhor de , porque sabia o quanto ele era ridículo como os demais alunos daquele maldito colégio.
Mesmo excluída, não desistiu, se dedicou profundamente aos estudos e se tornou uma das melhores alunas de todo o colégio. Os alunos a odiavam, já os professores a amavam e, aos olhos de , estava tudo indo bem porque a aprovação dos seus colegas não era realmente importante, mas como as coisas costumavam sempre dar errado na vida dela, uma garota rica chamada Megan decidiu implicar com ela. Megan era o tipo clichê de garota popular do colégio. Era muito bonita, rica, má, líder de torcida, namorada do cara mais popular e o objeto de desejo de quase todos os homens do colégio, pois até mesmo alguns professores laçavam olhares maliciosos na direção de Megan Uberti. não sabia ao certo o porque Megan a perseguia tanto e tentava deixar sua miserável vida ainda pior. Ela só sabia que Megan a odiava e por isso fugia dela como vampiros fogem do sol.
Só teve um pouco de descanso no último ano do colegial quando Megan terminou seu namoro com e passou a choramingar pelos corredores por causa do término. agradeceu mentalmente por conseguir que a atenção de Megan saísse de cima dela para cair em cima dele próprio e da garota caloura por quem ele tinha trocado a líder de torcida do demônio.
Uma pena foi a paz não durar por muito tempo.
No fim de uma das aulas de álgebra, o professor Hank Parker pediu para que e permanecessem depois que os outros alunos saíssem e fez um pedido para , um que ela queria com todas as forças negar, mas acabou aceitando apenas por Parker, que era seu professor preferido.
Ela se arrependeu de sua escolha assim que Hank deixou a sala. O olhar incrivelmente azul de caiu sobre , que começou a se preparar para fugir.
— Vai mesmo me ajudar ? — ele perguntou, conforme se levantava de sua cadeira e andava até a dela.
Instintivamente, encolheu os ombros e apertou um de seus livros contra o corpo, como se aquele simples conjunto de papéis pudesse protegê—la de .
— Pelo Hank. — respondeu ela, tentando se concentrar em pegar os livros e sair o mais rápido possível de perto dele que ficava cada vez mais perto dela.
— Parece com pressa. — disse ele, colocando a mão sobre o último livro de que estava sobre a mesa. — Tem algo para fazer depois daqui?
soltou um suspiro profundo para não bater em , pegar seu livro e correr daquela sala que parecia com um clima estranho.
— Eu preciso ir para casa. — respondeu ela, tentando puxar o livro que mantinha sobre a mesa e embaixo de sua mão. — Pode, por favor, soltar meu livro.
— Por que não gosta de mim, ? — ele perguntou de repente, fazendo com que ela erguesse seus olhos para os dele que pareciam um mar de perdição.
— Não sei. — respondeu ela com sinceridade enquanto dava de ombros. — Talvez seja seu jeito mesquinho e mimado, ou a sua mania terrível de jogar na minha cara todas as coisas que você tem e eu não. Também pode ser o fato de você me reduzir a filha da sua empregada para os seus amigos, ou até mesmo o nojo que sinto dessa sua cara de urubu sarnento morrendo de fome.
— Urubu sarnento? — perguntou aprontando para seu próprio rosto completamente indignado.
— Sim. — respondeu , com um grande sorriso no rosto enquanto pegava seu livro que agora estava livre das garras do pequeno . — Ninguém nunca te contou sobre a grande semelhança? — perguntou com um sorriso enquanto ia em direção a porta de saída da sala. — Que tipo de amigo cruel você tem? Nem servem para te avisar que é preciso você fazer uma plástica urgente.
— Plástica? — perguntou realmente frustrado com as palavras da garota. — Tá de sacanagem comigo, ?
fechou os olhos e girou o calcanhar na direção dele com uma fúria descontrolada se espalhando pelo seu corpo, pois se tinha algo que a tirava do sério era ser chamada pelo sobrenome de seu pai.
— Do que me chamou?
— De . — respondeu com um sorriso ao ver que ela não tinha gostado daquilo.
— Quer saber? Eu não vou te ajudar com porra nenhuma, ok? — disse ela, sobressaltando um pouco a voz enquanto dava passos pesados na direção dele. — Quero muito que você se foda.
— Obrigada, , mas eu prefiro foder alguém. Se você estiver disponível... — respondeu ele dando de ombros enquanto ela apontava o dedo indicador na direção de seu rosto. estava achando graça naquilo porque era encantador o jeito como o rosto dela ficava vermelho e os olhos pareciam ainda mais claros com a raiva.
— Estúpido asqueroso! — gritou ela, antes de se virar e se retirar da sala, deixando um sorridente e encantado para trás.
fez um esforço enorme para espantar os pensamentos do seu passado com de sua mente enquanto recolhia os últimos copos das mesas do I’enfer Rouge que estava quase vazio. Eram nove horas da manhã e todos os funcionários do I'enfer estavam cansados, inclusive as strippers. Tudo que precisava era encontrar para desabafar e beber algo para relaxar antes de voltar para casa e enlouquecer com seus problemas. Assim que avistou , interditou sua saída. Arrastou a amiga até a extremidade pesada do bar e pediu uma shot de tequila, alegando precisar urgentemente beber alguma coisa. não entendia o porquê daquela afobação, mas assim que lhe soltou tudo o que a atormentava, a moça entendeu como o problema da amiga era realmente difícil. Mesmo com o sono e o cansaço quase a dominando, ela fazia um esforço para ouvir a amiga contar sobre ter encontrado uma pessoa pra lá de especial na noite anterior.
— Está me dizendo que esteve aqui ontem? — perguntou enquanto colocava um dedo de sal na língua e virava a tequila garganta abaixo.
assentiu.
— Eu... Eu não sei como ele veio parar aqui. Eu não sabia que ele frequentava o I’enfer.
— Muitos importantes como ele frequentam o Inferno, . — ela chupou o limão enquanto falava. — Não me surpreende que ele estivesse aqui ontem.
— Ele não estava sozinho. Estava acompanhado por um amigo, certamente. Não me lembro dele, mas era um homem bem bonito, alto e de olhos claros.
A tequila descia com força pela garganta enquanto tinha um breve relance de quem era esse homem bem bonito, alto e de olhos claros. Um certo cara com essas mesmas características havia lhe procurado para uma noite de programa. Sorriu sarcástica.
— Sei bem quem é esse amigo dele. — falou indiferente e lhe encarou.
— O quê? Sabe?
— Ele me procurou para pedir um programa. — a outra arregalou os olhos e virou outra dose da tequila. — Acho que eles pensam que somos iguais a todas essas putas daqui. Acham que podem simplesmente querer comer alguém na hora que eles bem querem. — deu de ombros. — Vai fazer o que em relação ao ?
— Não sei. — respondeu pensativa. — Não sei bem o que pensar sobre isso.
— Tome a tequila de uma vez e veja se esquece isso por hoje. Ainda temos que voltar hoje à noite para trabalhar.
Depois de mais alguns shots de tequila consumidos e o sono acabar dando as caras com força, ambas se levantaram para ir embora, mas não antes de verem a figura descabelada de Allysson Sbell caminhar na direção delas. Allysson estava exalando cheiro de sexo e tinha uma vaga noção de onde ela esteve a madrugada inteira que o pau estava quebrando dentro do Inferno.
— , meu amor. — a mulher falou enquanto abraçava os ombros da mais nova. revirou os olhos e também. — Mas que show excelente, menina. Fazia muito tempo que o Inferno não via um show tão bem apresentado.
— Posso imaginar que sim. Agora, se me der licença, preciso ir embora.
— Não ainda, minha querida. Precisamos conversar. Tenho trabalho para você hoje à noite.
— Depende do que for. Não faço programa, já lhe disse. — respondeu um pouco impaciente.
— Não é programa. É apenas uma dança. Tem um rapaz disposto a pagar o quanto você quiser cobrar por uma noite inteira.
— Uma noite inteira de dança, Sbell? Uma noite inteira? Tem certeza? — perguntou desconfiada.
— Tenho, minha florzinha. E não ouse recusar. Ele já pagou a casa e, se eu fosse você, pedia uns cinco mil só para isso.
encarou que mordia o lábio inferior apreensiva com a reação da amiga. sabia que odiava dançar em particular para clientes porque eles sempre tentavam algo a mais com ela e, no final das contas, nem os dólares que ela cobrava pela dança pareciam adiantar.
— Posso até imaginar quem está disposto a isso. — disse encarando Sbell com raiva. — Mas pode avisando para esse cara que nada passará de uma dança... A não ser que ele me mostre ser bom o suficiente.
— tem lábia, . É homem com letra maiúscula, não precisa se preocupar. Sua bocetinha vai agradecer mais tarde quando ele se despejar inteiro nela.
— Acho bom.
E virando—se para a saída do Inferno Vermelho, sorriu maliciosamente tendo uma vaga noção do quanto faria aquele advogadozinho penar em sua mão.
nem queria imaginar o plano maligno que ela estava tramando em sua mente enquanto o sorriso perverso crescia em seu rosto, ela só queria tomar um banho, cair em sua cama e esquecer .
acordou por volta das três horas da tarde com sua cabeça latejando, pois tinha demorado para pegar no sono devido a sua mente que teimou em lembrar de . Fazia uma semana que o tinha visto no I'enfer Rouge e desde então, a única pessoa que viu passeando pelo clube foi o amigo bonitão que ficou interessado em sua amiga . Enquanto escovava os dentes, veio em sua mente o momento em que saiu bufando da sala de aula, traçando seu caminho em direção a saída do colégio depois de dizer que não ajudaria . Assim que terminou de descer a escada que dava acesso ao estacionamento ouviu passos apressados vindo em sua direção.
— , espera! — ouviu a voz de um pouco ofegante. Ela decidiu ignorar enquanto caminhava tranquilamente recebendo olhares curiosos dos outros alunos que não entendiam o porquê estava correndo atrás de uma perdedora como ela. — Porra, ! — disse entrando na frente da garota, impedindo que ela continuasse seu trajeto.
— Sai da minha frente, .
— Me desculpa, está bem? Eu sei que sou um babaca, mas eu preciso de você. — disse ele com um olhar de suplica que convenceria qualquer um, menos .
— Mas eu não preciso de você. — respondeu ela com um sorriso convencido no rosto.
suspirou pesadamente enquanto levava as mãos aos ombro da bela garota a sua frente.
— Se me ajudar, eu faço o que você quiser.
— E quem disse que você pode fazer algo por mim? — perguntou erguendo a sobrancelha com desconfiança.
— Não seja tão cruel. — respondeu um pouco irritado. — Eu estou tentando pedir a sua ajuda.
— Ok, eu te ajudo, mas depois você faz qualquer coisa que eu pedir.
— Se você quiser, viro até um escravo sexual. — respondeu com um sorriso sacana nos lábios que deixava claro que ela ficaria extremamente feliz em atender um pedido daquele de .
rolou os olhos, mas concordou com a cabeça.
— Agora pode sair da minha frente? — perguntou erguendo a cabeça para mostrar superioridade. soltou uma risada nasalada e abriu passagem apara a loirinha atrevida pudesse passar.
— Só uma pergunta, . — disse , fazendo a garota se virar para ele novamente. — Na sua casa ou na minha? — perguntou com um sorriso de canto que devia vir com um aviso de perigo.
— Na sua. – respondeu depois que conseguiu se concentrar na resposta que daria e não no sorriso divino que dançava nos lábios dele. — Eu sei onde é e você não ia gostar da minha mesmo.
apenas sorriu concordando com a cabeça enquanto voltava a andar na direção do seu velho carro.
devia ter previsto o que aconteceria entre eles dali para frente.
Mas não previu e, no fim da história, se deu mal ganhando um coração partido porque eles não tinham sido feitos para ficarem juntos.
Megan se intrometeu de todas as maneiras possíveis e se tornou o motivo de briga mais comum entre os dois.
Senhora não aceitou de nenhuma maneira o fato do seu filho se apaixonar pela filha da empregada e começou a descontar sua frustração em Robbie.
E se afastou, desistiu da pessoa que poderia ser a sua felicidade, ela martelou e despedaçou o próprio coração.
Enquanto saia do banheiro, sacudiu a cabeça tentando espantar os pensamentos que insistiam em voltar ao seu maldito passado. Sentia—se com raiva de si mesma por se preocupar com aquelas idiotices. Trabalhar e cuidar de sua mãe eram as coisas que deveria estar ocupando a sua mente, não um cara por quem tinha se apaixonado na adolescência.
alimentou e banhou sua mãe antes de leva—la para o apartamento de Rose, uma vizinha que estava se saindo como um anjo em sua vida, ajudando—a a cuidar de sua mãe.
Quando estava saindo de seu prédio, se lembrou do celular que deixou sobre a mesa da cozinha e, mesmo relutante, voltou em direção ao seu apartamento. A parte mais triste do seu dia era quando saia de sua casa para voltar ao I'enfer Rouge. odiava aquele lugar com toda as suas forças, pois já tinha passado coisas desagradáveis com alguns clientes, como a vez em que um deles a atacou por achar que ela era obrigada a transar com ele. O pior era saber que ela não conseguiria algo melhor para trabalhar, já que tinha largado a escola para fugir de seus problemas e cuidar de sua mãe.
entrou em seu apartamento, pegou o celular sobre a mesa e o colocou dentro da bolsa, aproveitou e usou o banheiro antes de sair para não perder o ônibus e chegar atrasada em seu trabalho. Allysson sempre falava muita merda quando alguém chegava nem que fosse alguns minutinhos depois do horário.
Pegou a bolsa, andou em direção a porta e a abriu levando o maior susto de toda a sua vida. começou a se tremer quando viu o rosto de sorrindo para ela, com o corpo ereto e as mãos no bolso da calça.
— . — deixou o sussurro com o nome dele escapar dos seus lábios fazendo com que o sorriso dele se alargasse em seu rosto.
— Ainda fico em êxtase quando ouço meu nome saindo dessa forma de seus lábios. — disse ele, com o olhar direcionado para a boca macia que tinha tanta saudade. se segurou para não suspirar ao ouvir a voz dele em um tom tão sereno.
— O que faz aqui? — perguntou, cruzando os braços em frente ao corpo tentando se proteger.
— Vim fazer uma visita. — respondeu ele dando de ombros ainda com um sorriso no rosto que não durou muito. O sorriso foi substituído por um olhar sofrido. — Faz tanto tempo, . — ele soltou um sorriso nasalado e deu um passo na direção da moça, tirando as mãos do bolso com grande rapidez e levando ao rosto delicado dela, que fechou os olhos instintivamente enquanto sentia seu corpo se aquecer depois de muitos anos.
Talvez aquilo pudesse ser um recomeço.
Seu corpo foi relaxando conforme ouvia a música suave que tocava no rádio, que ela sempre ligava quando estava arrumando o seu sagrado cantinho de descanso, tentando não pensar nos seus inúmeros problemas. Ela só queria ter um pouco de paz por mais de dez minutos, mas sabia que isso era quase impossível quando as contas para pagar pareciam se multiplicar diante dos seus olhos.
Ela passou as mãos pelos fios finos de seus cabelos claros enquanto sua dor de cabeça voltava, parecendo que ia explodir seu cérebro de dentro para fora a qualquer momento. queria chorar, fugir ou fazer algo para mudar a situação da sua maldita vida, mas estava fazendo o máximo que conseguia para melhorar as coisas em sua vida e na vida de sua amada mãe.
— ? – ela ouviu a voz abafada da mulher que ela mais amava no mundo lhe chamar e levantou em um grande pulo mesmo estando completamente exausta.
deu passos rápidos largos até o quarto de sua mãe, que sorriu assim que a viu cruzando a porta de entrada.
— Oi, mãe. – ela respondeu, se sentando ao lado da senhora de olhos claros que estava deitada em uma grande e velha cama de casal.
— O que faz acordada? – ela perguntou quase num sussurro. – Você deveria descansar.
— Eu sei, mamãe, mas precisava arrumar a casa. – respondeu , com um sorriso doce que fez com que Robbie também sorrisse.
— Você é uma filha maravilhosa, . – ela disse enquanto seus olhos cansados começavam a se fechar. – Odeio seu pai e grande parte das coisas que ele fez, mas você... Você é a melhor coisa da minha vida e sou grata a ele por me dar isso.
— Por que está falando dele agora? – perguntou , enquanto segurava as mãos de sua mãe entre as suas. Odiava quando sua mãe tocava no assunto, porque via refletido nos olhos dela toda a dor que Michael tinha causado para ambas.
lembrava—se claramente das noites que passou com as costas para a porta, ouvindo as vozes cada vez mais altas por causa de Michael que constantemente chegava bêbado em casa, pronto para começar mais uma guerra fria e sanguenta com Robbie. Ela sentia vontade de chorar toda vez que se lembrava de seu pai erguendo a garrafa de cerveja para tomar mais uma dose mesmo não se aguentando em pé.
— Nada, eu só... – Robbie começou a falar, mas parou para suspirar profundamente e não chorar. – Eu acho que, às vezes, sinto falta dele.
Imediatamente negou com a cabeça enquanto via sua mãe a ponto de desmoronar mais uma vez. Os cacos do seu coração terrivelmente partido estavam cortando seu peito por dentro porque a vida estava deixando tudo mais difícil a cada dia que o sol nascia.
— Por favor, não fale sobre ele. – pediu tentando conter o forte aperto que sentia subir pelo seu peito.
— Tudo bem, me desculpa. – respondeu Robbie, com uma voz meio sonolenta. – Vá dormir, minha pequena . assentiu com a cabeça se inclinando na direção de sua mãe e depositando um beijo na testa da mesma antes de se levantar e sair do quarto.
Ela queria chorar, queria colocar toda a dor que sentia para fora e depois queimá—la para destruí—la de vez. Mas tudo que ela fez foi se arrumar para vivenciar o inferno.
I’enfer Rouge era o verdadeiro inferno vermelho para . Para ela era um grande sacrifício sair todas as noites de sua casa para servir mesas naquele clube onde os homens não a respeitavam porque achavam que ela era mais uma das inúmeras strippers e garotas de programas que trabalhavam lá.
Ela mal chegou à entrada do clube e já sentiu o cheiro de sexo, bebida e cigarros lhe receber na porta enquanto Fynn, um dos seguranças, sorria para ela de forma dócil.
— Boa noite, . – disse ele enquanto abria passagem para que ela entrasse no clube.
Ela sorriu de volta se inclinando para dar um beijo rápido no rosto do grande homem que já a tinha salvado de vários abusos por parte dos clientes do clube.
— Boa noite, Fynn. – respondeu depois que se afastou. – Sabe se a já chegou?
— Já. – respondeu ele, com um sorriso meio sacana. – Está se preparando para a grande noite dela.
apenas ignorou o sorriso safado de Fynn ao falar de sua amiga e entrou no clube. Era normal todo homem babar por , porque não tinha sido a toa que a garota tinha se tornado a melhor e mais desejada stripper do I’enfer Rouge.
O melhor em era o fato de ela ser diferente das outras meninas que trabalhavam no Inferno, porque parecia fazer aquilo por diversão e não apenas por grana. não sabia, mas realmente gostaria de saber o real motivo que levou aquela garota de vinte anos subir em um palco para se esfregar em uma barra de ferro excitado dúzias, centenas de homens.
O fato era que não falava sobre o seu passado e não insistia porque isso acabada irritado sua amiga. Com o tempo aprendeu a controlar a curiosidade e esperar se sentir a vontade para falar sobre seu misterioso passado.
— A santinha chegou. – disse uma das strippers assim que viu atravessar a porta do vestiário. As demais sorriram, exceto , que rolou os olhos enquanto continuava a se maquiar para o seu grande show.
— Não é ela que é santa, são vocês que são putas demais. – disse a morena, quando terminou de passar o batom, sorrindo para que sorriu de volta ouvindo os resmungos das outras garotas enquanto Allysson, a dona do clube, entrava no camarim apressando para ficarem prontas.
se sentia extremamente incomodada com aquela roupa minúscula que era forçada a vestir. O short jeans mais parecia uma calcinha que deixava metade da poupa de sua bunda para fora e o decote da blusa conseguia ser maior que a própria peça de rouba. Não era a toa que os homens que frequentavam o I’enfer a confundiam com uma das stripper.
Ela odiava tudo aquilo, odiava o modo como os caras achavam que tinham liberdade para meter a mão no seu traseiro e lhe dizer obscenidades. Mas ela precisava de dinheiro e no Inferno podia ter uma quantia razoável porque além do salário que Alysson lhe pagava, os caras que metiam a mão em sua bunda, na maioria das vezes, acabavam lhe deixando uma generosa gorjeta.
saiu do camarim junto com as demais meninas, deixando apenas se preparando para seu grande show. Ela andou até o balcão onde Paul, o barman, a esperava com uma bandeja cheia de shots de vodka para ela servir aos clientes enquanto o show não começava.
Tudo estava igual aos outros dias. Ela serviu várias mesas, recebeu cantadas, levou alguns tapas na bunda, ganhou algumas notas de dólares e algumas propostas indecentes até se aproximar de uma mesa onde tinham dois rapazes.
nunca olhava diretamente para o rosto dos clientes porque acabava ficando enojada com a maneira pervertidas que alguns deles a olhava, por isso não viu o rosto dos rapazes quando se inclinou um pouco para oferecer bebida a eles.
— Aceitam vodca? – perguntou e percebeu que um deles estava analisando seu corpo com o olhar.
— De você eu aceito tudo, beleza. – um deles falou enquanto mordia o lábio inferior com a cabeça curvada na direção do traseiro dela. imediatamente fechou a cara e encarou o rapaz que automaticamente ficou estático.
Os olhos se arregalaram incrédulos ao ver aquele rosto diante dos seus olhos depois de tanto tempo, e a mesma confusão era refletida nos olhos de do rapaz de cabelos castanhos e olhos encantadoramente azuis enquanto o outro cara fitava a cena com a confusão tomando conta de sua cabeça.
entrou em pânico vendo diante dos seus olhos depois de tanto tempo e saiu depressa para uma entrada qualquer atrás do palco e só parou quando entrou em um dos banheiros e se encostou na porta, sentindo seu peito quase se abrindo com as batidas fortes do seu coração.
Ela achou que nunca mais o veria, mas lá estava , o grande amor da sua adolescência, o grande amor da sua vida, em carne e osso pronto para assistir um show de stripper e comer alguma puta no final da noite.
A vida tinha mesmo levado ambos para caminhos diferentes.
sabia que tinha que voltar ao trabalho, pois se Alysson percebesse sua ausência faria questão de não lhe pagar a noite. Mesmo com os pensamentos imersos nos acontecimentos do passado, voltou a servir as mesas, evitando se aproximar do local onde tinha visto .
Ela nunca imaginou alguém como ele frequentando um clube de strippers em busca de sexo fácil porque o que ela conhecia conseguia ter quase todas as mulheres que quisesse em sua cama. Sem contar que adorava desafios. Se uma garota lhe rejeitasse ele a faria voltar atrás. Cada menina que ele conquistava era como um troféu muito valioso.
Os pensamentos de simplesmente não paravam de ir cada vez mais fundo na história deles dois. O engraçado era que ela conseguia se lembrar, claramente, do dia em que se conheceram.
Ela era nova, tinha por volta de seus doze anos quando alguns acontecimentos em sua escola a deixaram sem aula por três dias seguidos e sua mãe, por mais que soubesse a filha responsável que tinha, não queria deixa—la só em casa. Foi a primeira vez que entrou na casa dos e logo de cara ficou admirada com todo o luxo e elegância do local, porque parecia uma realidade paralela da dela. O senhor foi muito gentil, disse que poderia brincar pela casa e até entrar na piscina, caso quisesse, mas a senhora fez uma careta que deixou claro para que era melhor ficar quieta e junto com sua mãe.
realmente não ligava para isso, pois já estava acostumada com pessoas lhe olhando daquela forma, com certo desprezo.
Ficou o tempo todo perto de sua mãe e até a ajudou com algumas coisas. O tempo todo, as duas estavam brincando, sorrindo e deixando a casa impecavelmente limpa. Nem mesmo a megera da senhora poderia colocar defeito.
No finalzinho da tarde, ela ouviu a voz de um garoto pela casa, lançou um olhar animado para sua mãe que sorriu.
— É o . – disse ela ao perceber que a filha queria alguém da sua idade para brincar. — Acabou de chegar da escola.
sorriu e se levantou da cadeira que estava sentada para espiar o tal , filhos dos . Ela andou com pressa até a porta da cozinha e, se escondendo quase completamente atrás da parede, espiou o garoto na sala, que conversava com uma das empregadas da casa.
— Eu já disse que não estou com fome. — dizia ele, parecendo irritado. o achou muito bonito, mais bonito do que o garoto da sua escola por quem ela tinha uma paixonite aguda. — Você não pode me obrigar a comer, se eu não quero comer. Eu não sou mais uma criança, Alice.
— Eu sei, , mas sua mãe deixou claro que você deveria comer assim que chegasse da escola. — respondeu Alice, calmamente.
— Diga a ela que eu comi. — respondeu ele, dando de ombros e se jogando no sofá. — Problema resolvido.
Os olhos de percorreram a sala procurando pelo controle para ligar a TV e seus olhos acabaram caindo sobre os de , que se escondeu completamente atrás da parede. Alice abriu a boca para protestar sobre a comida, mas a interrompeu, se levantando no sofá com rapidez.
— Quem é aquela garota? — perguntou enquanto andava na direção onde tinha visto os grandes olhos de o observando.
— Que garota? — perguntou Alice.
— Loirinha de olhos . — respondeu , antes de olhar atrás da parede onde estava.
tentou sorrir, mas o olhar azul dele a deixou nervosa.
— Essa é a filha da Robbie. — respondeu Alice. — O nome dela é .
— ? — perguntou para garota fazendo uma careta de confusão enquanto confirmava com um acenar de cabeça. — Bonito nome.
— Obrigada. — respondeu ela, quase num sussurro e ele sorriu do jeito tímido da garota.
— Eu sou o , mas pode me chamar de . — disse ele, estendendo a mão para cumprimenta—la, mas ela apenas olhou da mão para os olhos dele. — Eu não mordo.
estendeu a mão para o garoto a sua frente e a apertou rapidamente.
— Qual seu apelido? — perguntou ele, recolhendo a mão.
— , — respondeu ela sorrindo junto com ele.
tinha gostado de no primeiro momento, mas, conforme foram crescendo, o jeito mimado e exibido dele passou a irritava—la profundamente. Os dois não eram amigos, eram apenas conhecidos que se trombavam e toda vez que isso acontecia, fazia questão de mostrar para a vida perfeita que ele tinha e ela não.
vivia em uma grande maré de sorte e ela em uma de grande azar. Até mesmo quando ela tinha um pouco de sorte o mundo fazia questão de lhe lembrar de que não podia comemorar por muito tempo.
Quando conseguiu uma bolsa no melhor colégio particular da cidade, graças ao senhor , ficou toda feliz pensando que as coisas podiam finalmente mudar, mas logo percebeu que estava completamente enganada. O colégio em si era ótimo, grande, bonito, organizado e tinha ótimos professores.
O grande problema eram os alunos. tinha pensado que faria grandes amizades, mas as coisas foram o contrário do que imaginou. Todos os alunos vinham de famílias ricas como a de , e isso fazia com que tivessem a mesma personalidade fútil e mesquinha de , que infelizmente também estudava lá.
Os primeiros dias foram como um pesadelo. Os olhares de desprezo a deixavam com vontade de chorar, ninguém queria conversar com ela e até mesmo só lhe dirigia a palavra pra dizer um: "oi " e logo em seguida se explicava para o grupinho de amigos com um: "ela é filha da uma das nossas empregadas".
no começo se sentia péssima, mas no fundo sabia que não podia esperar nada melhor de , porque sabia o quanto ele era ridículo como os demais alunos daquele maldito colégio.
Mesmo excluída, não desistiu, se dedicou profundamente aos estudos e se tornou uma das melhores alunas de todo o colégio. Os alunos a odiavam, já os professores a amavam e, aos olhos de , estava tudo indo bem porque a aprovação dos seus colegas não era realmente importante, mas como as coisas costumavam sempre dar errado na vida dela, uma garota rica chamada Megan decidiu implicar com ela. Megan era o tipo clichê de garota popular do colégio. Era muito bonita, rica, má, líder de torcida, namorada do cara mais popular e o objeto de desejo de quase todos os homens do colégio, pois até mesmo alguns professores laçavam olhares maliciosos na direção de Megan Uberti. não sabia ao certo o porque Megan a perseguia tanto e tentava deixar sua miserável vida ainda pior. Ela só sabia que Megan a odiava e por isso fugia dela como vampiros fogem do sol.
Só teve um pouco de descanso no último ano do colegial quando Megan terminou seu namoro com e passou a choramingar pelos corredores por causa do término. agradeceu mentalmente por conseguir que a atenção de Megan saísse de cima dela para cair em cima dele próprio e da garota caloura por quem ele tinha trocado a líder de torcida do demônio.
Uma pena foi a paz não durar por muito tempo.
No fim de uma das aulas de álgebra, o professor Hank Parker pediu para que e permanecessem depois que os outros alunos saíssem e fez um pedido para , um que ela queria com todas as forças negar, mas acabou aceitando apenas por Parker, que era seu professor preferido.
Ela se arrependeu de sua escolha assim que Hank deixou a sala. O olhar incrivelmente azul de caiu sobre , que começou a se preparar para fugir.
— Vai mesmo me ajudar ? — ele perguntou, conforme se levantava de sua cadeira e andava até a dela.
Instintivamente, encolheu os ombros e apertou um de seus livros contra o corpo, como se aquele simples conjunto de papéis pudesse protegê—la de .
— Pelo Hank. — respondeu ela, tentando se concentrar em pegar os livros e sair o mais rápido possível de perto dele que ficava cada vez mais perto dela.
— Parece com pressa. — disse ele, colocando a mão sobre o último livro de que estava sobre a mesa. — Tem algo para fazer depois daqui?
soltou um suspiro profundo para não bater em , pegar seu livro e correr daquela sala que parecia com um clima estranho.
— Eu preciso ir para casa. — respondeu ela, tentando puxar o livro que mantinha sobre a mesa e embaixo de sua mão. — Pode, por favor, soltar meu livro.
— Por que não gosta de mim, ? — ele perguntou de repente, fazendo com que ela erguesse seus olhos para os dele que pareciam um mar de perdição.
— Não sei. — respondeu ela com sinceridade enquanto dava de ombros. — Talvez seja seu jeito mesquinho e mimado, ou a sua mania terrível de jogar na minha cara todas as coisas que você tem e eu não. Também pode ser o fato de você me reduzir a filha da sua empregada para os seus amigos, ou até mesmo o nojo que sinto dessa sua cara de urubu sarnento morrendo de fome.
— Urubu sarnento? — perguntou aprontando para seu próprio rosto completamente indignado.
— Sim. — respondeu , com um grande sorriso no rosto enquanto pegava seu livro que agora estava livre das garras do pequeno . — Ninguém nunca te contou sobre a grande semelhança? — perguntou com um sorriso enquanto ia em direção a porta de saída da sala. — Que tipo de amigo cruel você tem? Nem servem para te avisar que é preciso você fazer uma plástica urgente.
— Plástica? — perguntou realmente frustrado com as palavras da garota. — Tá de sacanagem comigo, ?
fechou os olhos e girou o calcanhar na direção dele com uma fúria descontrolada se espalhando pelo seu corpo, pois se tinha algo que a tirava do sério era ser chamada pelo sobrenome de seu pai.
— Do que me chamou?
— De . — respondeu com um sorriso ao ver que ela não tinha gostado daquilo.
— Quer saber? Eu não vou te ajudar com porra nenhuma, ok? — disse ela, sobressaltando um pouco a voz enquanto dava passos pesados na direção dele. — Quero muito que você se foda.
— Obrigada, , mas eu prefiro foder alguém. Se você estiver disponível... — respondeu ele dando de ombros enquanto ela apontava o dedo indicador na direção de seu rosto. estava achando graça naquilo porque era encantador o jeito como o rosto dela ficava vermelho e os olhos pareciam ainda mais claros com a raiva.
— Estúpido asqueroso! — gritou ela, antes de se virar e se retirar da sala, deixando um sorridente e encantado para trás.
fez um esforço enorme para espantar os pensamentos do seu passado com de sua mente enquanto recolhia os últimos copos das mesas do I’enfer Rouge que estava quase vazio. Eram nove horas da manhã e todos os funcionários do I'enfer estavam cansados, inclusive as strippers. Tudo que precisava era encontrar para desabafar e beber algo para relaxar antes de voltar para casa e enlouquecer com seus problemas. Assim que avistou , interditou sua saída. Arrastou a amiga até a extremidade pesada do bar e pediu uma shot de tequila, alegando precisar urgentemente beber alguma coisa. não entendia o porquê daquela afobação, mas assim que lhe soltou tudo o que a atormentava, a moça entendeu como o problema da amiga era realmente difícil. Mesmo com o sono e o cansaço quase a dominando, ela fazia um esforço para ouvir a amiga contar sobre ter encontrado uma pessoa pra lá de especial na noite anterior.
— Está me dizendo que esteve aqui ontem? — perguntou enquanto colocava um dedo de sal na língua e virava a tequila garganta abaixo.
assentiu.
— Eu... Eu não sei como ele veio parar aqui. Eu não sabia que ele frequentava o I’enfer.
— Muitos importantes como ele frequentam o Inferno, . — ela chupou o limão enquanto falava. — Não me surpreende que ele estivesse aqui ontem.
— Ele não estava sozinho. Estava acompanhado por um amigo, certamente. Não me lembro dele, mas era um homem bem bonito, alto e de olhos claros.
A tequila descia com força pela garganta enquanto tinha um breve relance de quem era esse homem bem bonito, alto e de olhos claros. Um certo cara com essas mesmas características havia lhe procurado para uma noite de programa. Sorriu sarcástica.
— Sei bem quem é esse amigo dele. — falou indiferente e lhe encarou.
— O quê? Sabe?
— Ele me procurou para pedir um programa. — a outra arregalou os olhos e virou outra dose da tequila. — Acho que eles pensam que somos iguais a todas essas putas daqui. Acham que podem simplesmente querer comer alguém na hora que eles bem querem. — deu de ombros. — Vai fazer o que em relação ao ?
— Não sei. — respondeu pensativa. — Não sei bem o que pensar sobre isso.
— Tome a tequila de uma vez e veja se esquece isso por hoje. Ainda temos que voltar hoje à noite para trabalhar.
Depois de mais alguns shots de tequila consumidos e o sono acabar dando as caras com força, ambas se levantaram para ir embora, mas não antes de verem a figura descabelada de Allysson Sbell caminhar na direção delas. Allysson estava exalando cheiro de sexo e tinha uma vaga noção de onde ela esteve a madrugada inteira que o pau estava quebrando dentro do Inferno.
— , meu amor. — a mulher falou enquanto abraçava os ombros da mais nova. revirou os olhos e também. — Mas que show excelente, menina. Fazia muito tempo que o Inferno não via um show tão bem apresentado.
— Posso imaginar que sim. Agora, se me der licença, preciso ir embora.
— Não ainda, minha querida. Precisamos conversar. Tenho trabalho para você hoje à noite.
— Depende do que for. Não faço programa, já lhe disse. — respondeu um pouco impaciente.
— Não é programa. É apenas uma dança. Tem um rapaz disposto a pagar o quanto você quiser cobrar por uma noite inteira.
— Uma noite inteira de dança, Sbell? Uma noite inteira? Tem certeza? — perguntou desconfiada.
— Tenho, minha florzinha. E não ouse recusar. Ele já pagou a casa e, se eu fosse você, pedia uns cinco mil só para isso.
encarou que mordia o lábio inferior apreensiva com a reação da amiga. sabia que odiava dançar em particular para clientes porque eles sempre tentavam algo a mais com ela e, no final das contas, nem os dólares que ela cobrava pela dança pareciam adiantar.
— Posso até imaginar quem está disposto a isso. — disse encarando Sbell com raiva. — Mas pode avisando para esse cara que nada passará de uma dança... A não ser que ele me mostre ser bom o suficiente.
— tem lábia, . É homem com letra maiúscula, não precisa se preocupar. Sua bocetinha vai agradecer mais tarde quando ele se despejar inteiro nela.
— Acho bom.
E virando—se para a saída do Inferno Vermelho, sorriu maliciosamente tendo uma vaga noção do quanto faria aquele advogadozinho penar em sua mão.
nem queria imaginar o plano maligno que ela estava tramando em sua mente enquanto o sorriso perverso crescia em seu rosto, ela só queria tomar um banho, cair em sua cama e esquecer .
acordou por volta das três horas da tarde com sua cabeça latejando, pois tinha demorado para pegar no sono devido a sua mente que teimou em lembrar de . Fazia uma semana que o tinha visto no I'enfer Rouge e desde então, a única pessoa que viu passeando pelo clube foi o amigo bonitão que ficou interessado em sua amiga . Enquanto escovava os dentes, veio em sua mente o momento em que saiu bufando da sala de aula, traçando seu caminho em direção a saída do colégio depois de dizer que não ajudaria . Assim que terminou de descer a escada que dava acesso ao estacionamento ouviu passos apressados vindo em sua direção.
— , espera! — ouviu a voz de um pouco ofegante. Ela decidiu ignorar enquanto caminhava tranquilamente recebendo olhares curiosos dos outros alunos que não entendiam o porquê estava correndo atrás de uma perdedora como ela. — Porra, ! — disse entrando na frente da garota, impedindo que ela continuasse seu trajeto.
— Sai da minha frente, .
— Me desculpa, está bem? Eu sei que sou um babaca, mas eu preciso de você. — disse ele com um olhar de suplica que convenceria qualquer um, menos .
— Mas eu não preciso de você. — respondeu ela com um sorriso convencido no rosto.
suspirou pesadamente enquanto levava as mãos aos ombro da bela garota a sua frente.
— Se me ajudar, eu faço o que você quiser.
— E quem disse que você pode fazer algo por mim? — perguntou erguendo a sobrancelha com desconfiança.
— Não seja tão cruel. — respondeu um pouco irritado. — Eu estou tentando pedir a sua ajuda.
— Ok, eu te ajudo, mas depois você faz qualquer coisa que eu pedir.
— Se você quiser, viro até um escravo sexual. — respondeu com um sorriso sacana nos lábios que deixava claro que ela ficaria extremamente feliz em atender um pedido daquele de .
rolou os olhos, mas concordou com a cabeça.
— Agora pode sair da minha frente? — perguntou erguendo a cabeça para mostrar superioridade. soltou uma risada nasalada e abriu passagem apara a loirinha atrevida pudesse passar.
— Só uma pergunta, . — disse , fazendo a garota se virar para ele novamente. — Na sua casa ou na minha? — perguntou com um sorriso de canto que devia vir com um aviso de perigo.
— Na sua. – respondeu depois que conseguiu se concentrar na resposta que daria e não no sorriso divino que dançava nos lábios dele. — Eu sei onde é e você não ia gostar da minha mesmo.
apenas sorriu concordando com a cabeça enquanto voltava a andar na direção do seu velho carro.
devia ter previsto o que aconteceria entre eles dali para frente.
Mas não previu e, no fim da história, se deu mal ganhando um coração partido porque eles não tinham sido feitos para ficarem juntos.
Megan se intrometeu de todas as maneiras possíveis e se tornou o motivo de briga mais comum entre os dois.
Senhora não aceitou de nenhuma maneira o fato do seu filho se apaixonar pela filha da empregada e começou a descontar sua frustração em Robbie.
E se afastou, desistiu da pessoa que poderia ser a sua felicidade, ela martelou e despedaçou o próprio coração.
Enquanto saia do banheiro, sacudiu a cabeça tentando espantar os pensamentos que insistiam em voltar ao seu maldito passado. Sentia—se com raiva de si mesma por se preocupar com aquelas idiotices. Trabalhar e cuidar de sua mãe eram as coisas que deveria estar ocupando a sua mente, não um cara por quem tinha se apaixonado na adolescência.
alimentou e banhou sua mãe antes de leva—la para o apartamento de Rose, uma vizinha que estava se saindo como um anjo em sua vida, ajudando—a a cuidar de sua mãe.
Quando estava saindo de seu prédio, se lembrou do celular que deixou sobre a mesa da cozinha e, mesmo relutante, voltou em direção ao seu apartamento. A parte mais triste do seu dia era quando saia de sua casa para voltar ao I'enfer Rouge. odiava aquele lugar com toda as suas forças, pois já tinha passado coisas desagradáveis com alguns clientes, como a vez em que um deles a atacou por achar que ela era obrigada a transar com ele. O pior era saber que ela não conseguiria algo melhor para trabalhar, já que tinha largado a escola para fugir de seus problemas e cuidar de sua mãe.
entrou em seu apartamento, pegou o celular sobre a mesa e o colocou dentro da bolsa, aproveitou e usou o banheiro antes de sair para não perder o ônibus e chegar atrasada em seu trabalho. Allysson sempre falava muita merda quando alguém chegava nem que fosse alguns minutinhos depois do horário.
Pegou a bolsa, andou em direção a porta e a abriu levando o maior susto de toda a sua vida. começou a se tremer quando viu o rosto de sorrindo para ela, com o corpo ereto e as mãos no bolso da calça.
— . — deixou o sussurro com o nome dele escapar dos seus lábios fazendo com que o sorriso dele se alargasse em seu rosto.
— Ainda fico em êxtase quando ouço meu nome saindo dessa forma de seus lábios. — disse ele, com o olhar direcionado para a boca macia que tinha tanta saudade. se segurou para não suspirar ao ouvir a voz dele em um tom tão sereno.
— O que faz aqui? — perguntou, cruzando os braços em frente ao corpo tentando se proteger.
— Vim fazer uma visita. — respondeu ele dando de ombros ainda com um sorriso no rosto que não durou muito. O sorriso foi substituído por um olhar sofrido. — Faz tanto tempo, . — ele soltou um sorriso nasalado e deu um passo na direção da moça, tirando as mãos do bolso com grande rapidez e levando ao rosto delicado dela, que fechou os olhos instintivamente enquanto sentia seu corpo se aquecer depois de muitos anos.
Talvez aquilo pudesse ser um recomeço.
FIM
Nota da autora: UHUUL, MAIS UM FICSTAPE!!! Quero apenas agradecer à Jullya Silva por essa parceria maravilhosa. Sabe que te amo, né nega? HSUAHSUHAUSHU
Beijos e até o próximo ficstape!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijos e até o próximo ficstape!
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