Última atualização: 29/06/2017

Capítulo Único

Aeroporto de New York, 22 de Dezembro de 2015

null já estava na fila do embarque há uns 30 minutos, ele odiava espera. O aeroporto estava lotado por causa das festas de final de ano, todas as pessoas totalmente agitadas para rever os amigos e familiares, mas ele não; Estava ali para algo mais triste, até irônico para aquela data. Ele não aguentava mais esperar pela liberação, os dois fiscais que estavam responsáveis pela checagem de passaporte não estavam dando conta da quantidade de passageiros, sendo chamados atenção a todo momento, chegava a dar pena, os rapazes tentavam atender quase cinco pessoas de vez. Por um momento null se concentrou no celular, o tempo se arrastava e ele não via a hora de tudo acabar logo, e quanto mais tempo esperava, ele lembrava que só estava no começo. null estava tão perdido em pensamentos que quase não escutou algumas pessoas falando.
- Aquela mulher não está furando a fila?- null olhou na direção do falatório para tentar ver quem era a intrusa, mas tinha muitas cabeças na frente dificultando sua visão, até que por obra do destino as pessoas que estavam na frente se afastaram dando uma visão melhor para ele. A intrusa, por incrível que pareça, já estava com o seu passaporte sendo conferido enquanto algumas pessoas reclamavam, ela parecia querer fugir de alguma coisa ou alguém e, por um momento, null sorriu com a ideia de ser dele, mas esse pensamento foi embora da mesma forma que surgiu, bem rápido, e então ele pensou “talvez ela esteja fugindo do assédio dos fãs, mas que diabos essa mulher está fazendo no embarque normal?”. Os cabelos tingidos e as roupas de grife eram somente um complemento a sua beleza, porque ela estava mais bonita que antes, o rosto meigo e as bochechas meio arredondadas davam a ela um ar saudável e jovial, não transparecendo seus quase vinte e sete anos. null não havia mudado quase nada e null poderia reconhecê- la a quilômetros de distância. Pensando nisso, o motivo da viagem reapareceu na sua cabeça junto com inúmeras histórias que vivenciaram juntos e com seus tão inseparáveis amigos no colegial.

Flashback on

A semana de provas para a maioria dos estudantes é uma das melhores oportunidades para revisar os assuntos atrasados e entregar vários trabalhos deixados para última hora, mas existe aquela minoria como null, null, null, null, null e null que aproveitavam o período livre que as provas disponibilizavam para beber até cair, beber e papear ou só para papear mesmo. O grupo era tão unido que até contavam em ir para as recuperações juntos. Hoje, apesar das avaliações do semestre, era um dia especial, null comemoraria seus dezessete anos. Os seus amigos, mais especificamente null, queriam fazer uma festa surpresa para a menina, já que aquele seria o último ano no colegial e ela iria para a universidade mais distante.
Já passava do horário combinado por null e a mesma não parava um minuto. Ela ficaria encarregada da arrumação e decoração juntamente com null, que estava jogado no chão sem nem mexer um dedo.
- Zaaaach, vem me ajudar! - null gritou do outro lado.
- null, não enche gata, eu tô cansado. - disse null. Virando pro lado oposto ao que namorada chamava sua atenção.
- Você nem foi pro colégio hoje.
- Eu tô doente.
- Você está aqui.
- É o aniversário da null.
- Você perdeu a prova de geografia. - null já perdia a paciência com a então mesa que ela estava tentando montar.
- Minha mãe ligou pro colégio.
- Não acredito que ela caiu na sua lábia.
- Claro que não, ela é minha mãe.
- Então sabe que você não presta. Pode vir me ajudar.
- Já disse gata, tô cansado.
- Levanta essa bunda gorda daí.
- Eu sou bem sarado, para sua informação.
- É mesmo? Daqui a pouco os meninos chegam e eu vou colocar a comida em cima dessa sua musculatura toda.
- Você já tá montando ela todinha, não preciso ir até aí. - null continuava deitado.
- Eu só consegui montar uma perna, uma mísera perna. Então vem logo, antes que eu bata com ela nessa sua carinha fofa.
- Você tá muito violenta hoje. Está naqueles dias?- pergunta um null agora sentado.
- null, é sério.
- Quer um chocolate? Massagem nos pés?
- Quero que você me ajude, pode ser?
- Não. - disse null, levantando e indo na direção de null enquanto segurava o riso.
- É só que... argh. - null já estava vermelha assim como em todas as vezes que alguma coisa saia do seu controle.
- Amor, respira.
- Não dá, não quero mais essa mesa. - disse terminando a frase com um bico de irritação.
- Deixa aí que eu monto. - null se aproximou e pegou as peças que null estava nas mãos e começou a montagem.
- Não poderia ter feito isso antes?
- Gosto de te ver irritadinha.
- Gosta de cascudo também?
- Só quando é você quem dá. - null disse enquanto mandava um beijo estalado.
- Você não presta. Já disse isso hoje?
- Eu presto sim, toma aqui sua mesa. - null disse enquanto virava a mesa na posição certa e dava uns tapinhas para terminar de encaixar.
- Oi casal. - null foi o primeiro a cumprimentar.
- Oi casal. - disse null logo depois. - O que tá rolando aqui? Por que só a mesa está montada?
- Porque eu não queria tudo em cima da minha musculatura. - disse null se referindo ao que null tinha dito enquanto ia em direção a null e pegando o bolo enorme e cor de rosa.
- Engraçadinho você, a gente poderia estar com quase tudo pronto uma hora dessas, se eu não tivesse que te pedir ajuda umas cem vezes.
- Qual o problema da null?- perguntou null enquanto abria uma cerveja.
- Ela tá naqueles dias!- gritou null de dentro do carro onde colocava o bolo no ar condicionado para que não derretesse.
- A null já ligou?- perguntou null meio ansioso.
- Ainda não, mas temos que aproveitar. - null se juntou a eles novamente.
- Não temos mais tempo, estamos atrasados. - null falava enquanto andava de um lado pro outro.
- Não estamos, ela nem ligou ainda. - null disse depois de tomar mais um gole da bebida que tinha trago consigo.
- null não deve estar mais aguentando. - Assim que null terminou de falar o celular de null tocou.
- Se for a null você é um filho da mãe sortudo que encontrou a garota pra casar. - null fala e se aproxima de null, colocando o braço em volta do pescoço do amigo.
- Ele vai casar com ela, cara, é a null, eu tenho certeza, o null sente os chiliques da null. - null disse entrando na brincadeira de null.
- Ou a null sente os chiliques do null?- null fala bagunçando o cabelo de null logo em seguida.
- É a null, façam silêncio!- null atende e começa a andar de um lado para o outro, gesticulando freneticamente. Começou a falar várias coisas de uma vez, fazendo várias pausas logo em seguida. - Você tem que inventar mais uma desculpa, os meninos chegaram com a comida agora e… - ela foi interrompida mais uma vez e então continuou. - Isso, inventa isso. - ela esperou uma resposta. - Tem que funcionar null, vai lá, você consegue. - elas se despedem e null volta seu olhar para os rapazes.
- Temos uma festa para terminar, vamos lá cambada!
- E um casamento pra ir depois da formatura, yeaaah!!!!- null e null falam juntos, fazendo null revirar os olhos.

~

null estava mais radiante que tudo, parecia que tinha ganhado na loteria, seus olhos estavam mais brilhosos, as bochechas rosadas e os cabelos soltos, usava um vestido verde musgo e uma gladiadora preta. Estar completando mais um ano de vida a deixava alegre e cheia de esperança, ela acreditava que um novo ciclo estava sendo iniciado. Tinha sido acordada de maneira bem diferente naquela manhã, sua mãe havia preparado um café da manhã completo, com todas as guloseimas que ela sabia que null adorava e deixado um bilhete carinhoso se desculpando por ter que sair tão cedo para trabalhar naquele dia, mas null não ligou para esse detalhe, ela estava se sentindo amada. Algumas horas mais tarde, depois da prova de geografia, o clube de teatro fez uma festa surpresa para ela, com direito a confetes e dezessete velinhas. O seu dia estava sendo maravilhoso, mas ela estava sentindo falta de null e de todos os outros que sumiram logo depois que chegaram ao início do turno. A única que conseguiu achar foi null, que tinha dito que todo o pessoal estaria esperando no shopping para almoçarem juntos, menos null porque estava doente. Depois que o sinal tocou, null e null foram para o shopping, elas tinham que esperar pelos outros. A espera durou mais de uma hora, o que fez null cansar de jogar conversa fora e pedir um milk shake, sendo seguida para várias lojas depois.
- Cansei de esperar!- disse null logo depois de se sentar num banco perto da loja que elas tinham acabado de sair.
- Calma null, deve ter acontecido alguma coisa, vai que a null não ta achando o celular, você viu da última vez, ela ficou louca. - null tentou argumentar. Já estava cansada de dar desculpas à amiga, null não parava de perguntar e ela só queria que null desse um sinal positivo para elas finalmente irem pro lugar certo. - Vou ao banheiro, quer ir?- a mesma pergunta.
- Não, não. Vou ficar por aqui mesmo.
- Tem certeza?
- Sim null, pode ir, vou dar uma olhada no facebook. - respondeu null, tirando o celular da bolsa.
null sai apressada para o banheiro fazendo null rir ao pensar que a amiga estava muito apertada. null era irmã gêmea de null, mas ao contrário da irmã era bem mais calma, namorava com null há pouco mais de um mês e tinha, assim como sua irmã, null como melhor amiga. null entrou no banheiro e logo em seguida pegou o celular, digitou o número de null e esperou chamar, sendo atendida no último toque.
- Ela quer ir embora, e está ficando super chata por vocês teoricamente deixarem ela esperando por mais de uma hora. - diz null assim que null atende. - Eu tive que inventar algumas coisas, não podia dizer que você estava indo para algum outro lugar depois de sumir a manhã toda… - null interrompeu null no meio da frase. - Eu sei, mas já olhamos todas as vitrines, ela até comprou um negócio aqui, mas não me deixou ver. - null fez uma pausa. - Eu vou dizer a ela que temos que ir para a cachoeira e no meio do caminho finjo uma pane, ela não entende essas coisas mesmo. - null sugere com um ar risonho. - Espera, será que ela vai acreditar?Ai meu Deus do céu, eu vou pirar. - null fala meio apressada colocando a mão na cabeça. - Vocês têm duas horas. Estamos saindo daqui.

~

- null, voltei. - null disse se aproximando do banco onde a amiga estava. - Você tá comendo de novo? Não vai aguentar os doces da noite das meninas mais tarde. - Disse null mordendo o lábio por causa de mais uma desculpa e pegando uns ursinhos do saquinho que null segurava.
- Eiii, não pega meus ursinhos doçurinhas não. - null bateu na mão da amiga. - Hoje é meu aniversário, vocês deveriam estar me mimando.
- Então, eu acabei de falar com a null e ela disse que vamos ter que encontrar com ela lá na cachoeira, ela teve que ir buscar o null. - null disse apreensiva enquanto procurava a chave do carro na bolsa.
- O que o null foi fazer lá? Ele não tava doente?- null perguntou desconfiada.
- Acho que ele foi pegar alguma coisa com o null. - null começou a andar e puxou null.
- Mas você disse que o null iria estudar com o null hoje. - null para de andar e olha pra null. - Tem alguma coisa ruim acontecendo e você não quer me preocupar por causa do meu aniversário? null, pode me contar.
- Não é nada, null.
- Sério, pode me contar, eu não vou ficar triste.
- Só relaxa e entra no carro. - null diz enquanto abre a porta. - Hoje é seu dia, vai dar tudo certo. - null diz a última frase mais para si mesma do que para a outra e liga o carro.
Uma hora depois, null para o carro na entrada da estrada para a cachoeira. Alguns carros parados ali indicava que algumas pessoas estavam aproveitando a tarde de sol também. null olha confusa para a entrada e depois para null que desce do carro e abre o capô, a confusão estava estampada no rosto de null e ela sugere ligar para um dos amigos. Quase quarenta minutos depois null abaixa o capô.
- Acabei senhorita “é meu aniversário e não pode dar nada errado.”- null afina a voz, fazendo null rir.
- Eu não disse isso.
- Só não pediu pra ir empurrando o carro pra não quebrar as unhas.
- Certo. Você já arrumou isso aí?
- Sim. Porque euzinha aqui... - null entra no carro. - Sou uma ótima mecânica. - null completa ligando o carro e elas seguem estrada adentro.
A cachoeira era um lugar tranquilo, ficava um pouco afastada do centro e nessa época do ano costumava receber várias pessoas. Elas percorrem mais alguns quilômetros e então param depois de alguns minutos embaixo de uma árvore grande. Quando o carro parou, null saiu de seus devaneios e começou a observar como tudo estava iluminado, decorado e que isso tudo era para ela. Seus amigos tinham colocado uma faixa enorme entre as duas árvores que eles costumavam fazer piquenique por causa da sombra escrito “HAPPY BIRTHDAY !” e logo embaixo uma mesa pequena quadrada com uma toalha branca e um bolo enorme rosa, logo ao lado tinha mais uma mesa igual a do bolo, sendo essa com muitos docinhos em cores variadas. null deu um gritinho animado e saiu do carro correndo na direção de null que estava segurando uma caixa rosa choque quase da cor do bolo e sustentava um sorriso enorme. null abraçava a amiga com força, deixando a primeira lágrima cair, sentiu null se juntar ao abraço e mais uma lágrima cair, logo depois abraçou null e null que seguravam vários balões verde musgo com lacinhos brancos, assim como o seu vestido e faziam cara de “te enganamos”. Depois de toda a cerimônia, null foi ao encontro de null, enxugou algumas lágrimas que já caiam descontroladamente e sorriu para o rapaz que segurava um buquê de tulipas azuis e estava todo corado, ele estava com o cabelo bem bagunçado, sinal de toda correria para conseguir arrumar tudo a tempo.
- Foi difícil te segurar. - null disse, sendo pego de surpresa por uma null emocionada que o beijou sem nenhuma demora.
- Foi ideia sua?- Perguntou null depois de recuperar o fôlego.
- A princípio da null, mas todos queriam ver essa sua carinha emocionada. - null beija o queixo de null, que também ficou vermelha.
- Como sabia que poderia me dar tulipas ao invés de qualquer outra flor?
- Fiquei sabendo que as suas preferidas eram essas e então comprei.
- Nossa, que prático.
- Casamento, casamento!- null e null gritavam e batiam palmas juntamente com as meninas.
- Calma, pessoal, nem estamos namorando ainda, não é?- null pergunta a null, que em seguida se ajoelha.
- Estaremos agora se você disser sim. - null pega a mão de null e beija logo em seguida.
- Vocês sabiam disso?- null vira para os amigos quase surtando.
- Aceita logo. - null grita fazendo null voltar sua atenção para um null envergonhado novamente.
- Ai meu Deus! Sim, eu aceito, sim!- null disse em empolgação, finalmente pegando as tulipas. - Eu amo muito todos vocês!
- Nós também te amamos!!- null pega a então namorada no colo, sendo seguidos por uma onda de abraços e, por fim, um caloroso abraço em grupo.
- Esse é com certeza o melhor dia da minha vida e nem nos meus sonhos poderia ser mais perfeito. - null falava, agora meio sufocada por estar entre muitos abraços.

Flashback off

null sentou na poltrona vazia ao lado da então mulher que estava furando fila e segurou o riso ao ver a expressão alarmada da mesma o encarando com a sobrancelha arqueada. Ela deixou seus fones de ouvido de lado e cruzou as pernas, ficando inclinada na direção do rapaz de maneira até que receptiva. null não queria demonstrar o quão nervoso estava, mas não deixou de observar que ela havia ficado mais linda, e ainda mantinha o mesmo brilho nos olhos.
- null, e-eu… - null começou a falar e então foi interrompido.
- Oi, tudo bem? Eu poderia tirar uma foto com você?- pergunta um garoto que aparentava ter uns quatorze anos, mas bem alto e magro. - Sou um grande fã do seu trabalho. - acrescenta o rapazinho.
Ok, null era extremamente talentosa, e aperfeiçoou mais ainda suas habilidades depois do colegial, null não acompanhava muito os seus trabalhos por motivos idiotas de nostalgia, mas um garoto de quatorze anos pedir uma foto simplesmente por ''admirar o trabalho''? Ela estava maravilhosa, mesmo sem maquiagem. null pediria um autógrafo até sem conhecê-la.
- Claro que pode! - ela diz com empolgação, se levantando e tirando uma selfie um pouco desajeitada logo em seguida. - Quer que eu assine alguma coisa?
- Não, não quero incomodar mais, muito obrigada. - diz o garoto meio envergonhado.
- Nem um vídeo para os amigos? Aproveita que eu to legal- ela cutucou a barriga dele meio brincalhona, fazendo o garoto ficar mais vermelho e rir também.
- Não, obrigado mesmo, você é muito gentil, só tenho uma coisa a dizer, eu amo todos os seus filmes. - o garoto foi dizendo ainda tímido.
- Quem está sendo super gentil agora é você, muito obrigada, bom saber que você realmente admira meu trabalho e, claro, ama meus filmes. - o sorriso dela cresceu ainda mais.
- Pensando bem, eu aceitaria um beijo no lugar do vídeo. - diz o garoto agora mais descontraído. - Na boca.
- Opa, opa, eu tô legal, mas não bobona. - null faz cara de indignada e logo depois riu. - Quando você estiver mais velho eu penso em te dar uma chance. - Vem cá me dar um abraço. - ela chama o garoto com a mão e o abraça se despedindo.
- Então quer dizer que a senhorita acaba com a ilusão dos pobrezinhos de beijar uma mulher mais velha? É muita crueldade. - null diz finalmente, a encarando pela primeira vez, vencendo o nervosismo.
null usava seus cabelos presos em um rabo de cavalo e um casaco preto simples, acompanhado de uma blusa branca por dentro, uma calça jeans e uma sandália baixa. Estava mordendo o lábio, mania típica de quando se sentia nervosa, e isso era ótimo porque null não era o único ali.
- Oh me desculpe, você quer um abraço como consolo também? - null diz de maneira implicante.
Olhando null ao seu lado, mesmo depois da frase implicante, deixou que um sorriso brincalhão surgisse nos seus lábios, ele estava ali e estava sendo implicante também. Colocando o cinto de segurança finalizou. - Essas abordagens de fãs são na maioria das vezes bem engraçadas e me deixam animada. Quer dizer, menos quando eles me cercam em um grupo com mais de 10 pessoas.
- Entendo e, não se preocupe, não vou te incomodar senhorita “admirável”. Sentar ao seu lado já está valendo a pena. Só me pergunto como não está no seu jatinho super luxuoso barra estou ostentando? Eu aceitaria uma carona... - ele sussurra a última parte de forma debochada e vira para frente.
- Como é? - ela abre a boca meio surpresa por estar sendo provocada na maior cara dura. - Infelizmente meu jatinho está em manutenção, e como fui avisada de ultima hora optei por um voo convencional, fazer o quê? Te daria uma carona, mas estou começando a me perguntar também quando você vai comprar o seu. - ela dá risada do próprio comentário, olhando para ele, que agora estava inclinado na sua direção se fingindo de ofendido.
- Hum, eu iria perguntar sobre a sua vida, null, mas pela a capa da revista que as moças estão lendo ali na frente, parece que não vai muito bem- finalizou com um pesar na voz e uma expressão brincalhona.
A capa dizia ''null é flagrada sem o anel de noivado embarcando para Nova York, será que o noivado dos sonhos chegou ao fim?''
- Filho da mãe! - Indagou um pouco alto, fazendo null soltar uma gargalhada e atrair olhares na direção dos dois. - Você continua babaca não é mesmo?
- Ah, null, me desculpe. - diz bebendo um pouco de água para cessar os risos depois de notar a tonalidade no rosto da menina, ela já estava ficando vermelha. - Olha, eu nem sei se aquela notícia é verdadeira, essas revistas inventam tanta coisa. - ela fechou a cara. - Ei, eu não disse para te ofender, juro. A propósito, aquela sua foto está maravilhosa, como eles conseguiram focar na sua mão esquerda? Porra! - ele tenta remediar.
null não conseguiu se conter e começou a rir junto com o rapaz.
- Ai que ódio, você ainda me faz rir das coisas negativas, eu senti tanta falta disso. - Um silêncio se instala entre ambos, mas não era nada constrangedor, ao contrário, eles apenas se lembravam de uma situação bem parecida com aquela e que por coincidência foi um dos melhores momentos da vida dos dois.

Flashback on

LONDRES, BAILE DE 2005

Sunday money do Maroon 5 já tocava pela quarta vez no salão do baile para indicar o fim da festa, mas ainda restavam três casais na pista de dança. null e null, null e null, null e null. A despedida do grupo era algo difícil, mas depois do baile ela teria que acontecer. Passaram o ensino médio todo juntos e agora estavam a um passo da faculdade, onde cada um iria seguir o seu sonho. O amadurecimento assusta, mas é algo inevitável.
- null. - null sussurrava no ouvido do namorado enquanto acompanhava a batida da música. - Vamos dar uma volta? - disse olhando esperançosa e louca para sair daquele salão.
- Claro meu amor, vamos. - null disse puxando sua mão e sinalizando aos amigos.
null e null saem do salão de mãos dadas e andam em direção ao estacionamento, que está vazio porque a maioria já estava curtindo alguma outra festa dos caras do time, ou foram para casa aproveitar mais um pouco seus quartos e banheiros individuais.
- O que você tem, null? Preocupada outra vez?- Perguntou null, parando perto de um dos únicos carros ali, o de null.
- Não é nada, só estou um pouco enjoada.
- Está mesmo, enjoada, calada e bem chata. - null disse se aproximando.
- Eu estou com muito medo. - null falava enquanto se afastava com uma expressão triste.
- Vem cá, me conta. - null puxou a namorada para perto novamente.
- A gente quis tanto isso, sabe? Eu vou para NYU, você para Oxford University, não era pra gente estar pulando, rindo e gritando? Por que estou com tanta vontade de chorar? Isso tudo é egoísmo meu? - null tentou não rir, mas não obteve sucesso e começou a gargalhar na frente da menina.
- QUAL É O SEU PROBLEMA? - ela perguntou bem irritada - POR QUE ESSA MANIA DE TÁ SEMPRE RINDO DE TUDO? Sério, null, pelo menos hoje me responde com seriedade. - null percebeu que a garota ficou realmente brava e começou a explicar.
- Hey, amor, calma! - disse tentando se aproximar da menina, mas com certo receio de levar um tapa no braço. - Você não disse nada anormal, null, estou rindo pelo fato de você se perguntar se isso é egoísmo. Ei, olha para mim - null parou na frente da menina e levantou seu queixo. - Eu te amo e essa insegurança é normal. Acha que eu não estou nervoso?- ele acariciou o queixo de null de leve e continuou. - Claro que eu estou! Mas eu sei que tudo vai dar certo, o que é novo assusta, mas não vamos recuar, são nossos sonhos, nós vamos conseguir. - null finalizou e a abraçou, sentindo as lágrimas da menina molharem sua camisa social.
- Como você consegue?- ela indagou ao rapaz, que a olhou com dúvida.
- Consigo o quê?
- Como você consegue, null? Eu vou cruzar o oceano, você não está com nem um pouco de medo? Nem um pouquinho? - perguntou com um sorriso murcho nos lábios.
- Agora chega desse assunto e só me abraça, pode ser? Eu sei que você tá suada, mas eu sou tão louco por você que posso até superar meu nojinho - null disse rindo.
- Engraçado, você não reclama do meu suor em certas ocasiões, não é mesmo? - null começou a gargalhar da expressão vermelha do rapaz sem reparar a súbita mudança de assunto. - Não precisa ficar sem graça, tá? Eu te amo. - Ela disse abraçando o namorado e ficando na mesma posição de alguns minutos, só transmitindo naquele abraço todo o amor, apoio e carinho. Estavam tão entretidos no momento que não perceberam a movimentação dos amigos.
- OWNNNNN! Que cena mais linda, eu quero um abraço também - null disse fazendo as palavras saírem engraçadas por causa da bebida.
- Sai fora, null - null disse puxando o namorado.
- Gente, nós vamos para faculdade! - null disse empolgada.
- Nossa, quês caras são essas?- null perguntou percebendo o clima anterior.
- null!! Acorda mulher, você vai fazer artes cênicas!- null disse mudando de assunto e tentando acompanhar a empolgação da irmã.
- Vai ser atriz como sempre quis! O null vai se especializar para ser capacho do pai dele e o null vai junto porque ele ama ser capacho junto com o null. - null contorceu o rosto numa falsa careta, arrancando um protesto dos meninos e uma risada de todos. - Eu e a null vamos ficar por aqui mesmo e o null vai...
- Pelo amor de Deus, null, ainda não se decidiu? - null perguntou, fingindo uma cara de descrença.
- null! Sem pressão, por favor, null tem muitos dons- null, a namorada defensora, atacou novamente.
- Certo, me desculpe. - null levantou as mãos em rendimento. - Vocês vão me visitar né?
- Claro, você é minha melhor amiga, eu ainda vou te ajudar a decidir o vestido do MET GALA, do Oscar e posso até ser sua assessora, que tal? - null disse empolgada de verdade dessa vez.
- Ainda bem que você se convidou, estava sem graça de pedir. - null disse debochada.
- Sabe de uma coisa?- null começa a dizer. - Nós vamos ser os melhores amigos da vida, até quando eu não estiver mais aqui ainda vamos ser amigos. - finalizou puxando um grande abraço em grupo, como sempre faziam.

Flashback off

Depois da confissão de null, ambos ficaram calados. Ter um ao outro ali era como num sonho, e null tinha realmente sonhado em poder conversar com null outra vez, mas sem brigas, algo que começou a ser bem frequente depois que eles terminaram.
- null, fala sobre você. - null tenta disfarçar a expressão envergonhada pelo assunto anterior - Conseguiu sua sonhada cobertura perto do London Eye?
- Então você se lembra do meu sonho. - ele diz com uma expressão divertida. - Sim e não, eu consegui minha sonhada cobertura, mas não é perto do London Eye. Se você quiser posso te levar lá um dia, não é nada como sua casa em Malibu, ou algo bem luxuoso como o tal jatinho, mas dá pro gasto. - null deixa escapar outra vez, e pela cara da atriz a sua frente com certeza ela não vai levar essa tão na esportiva.
- Sabe, mesmo com esses anos afastados, eu sempre achei que você ia me tratar do mesmo jeito e eu conseguiria ser a mesma, sem precisar medir o que falar. Mas você é como as outras pessoas, acha que pode me julgar pelo que vê. Estou decepcionada. - diz ríspida, pegando novamente os fones de ouvido. O britânico perdeu a fala e pensou em como se desculpar novamente, a viagem ainda duraria 5 horas, tinha que pensar em algo, já que a atriz colocou os fones e fechou os olhos não querendo ser incomodada.
- Ó null. null? Eu sei que você está acordada- null diz a cutucando depois de ficarem alguns minutos em silêncio. - Você dorme de boca aberta, a não ser que durante esses anos fez um curso sobre como dormir mais bonitinha. - a atriz ainda se mostrava irredutível. - Acho que vou divulgar uma foto antiga sua dormindo, vai render ótimos memes.
- Então você ainda tem fotos minhas?! - a atriz diz, o pegando de surpresa e fazendo as bochechas de null tomarem uma tonalidade rosada.
- Tenho algumas, eu não iria jogar as nossas fotos fora, principalmente as em grupo. São recordações. - finalizou de maneira apressada e explicativa.
- Entendi. - null responde e um silêncio se instala entre os dois.
- Eu não acredito que estamos indo para o memorial da null - null diz quebrando o silêncio e encarando o chão. - É a primeira vez que eu consigo dizer em voz alta, é tão surreal.
- Eu também não acredito, estava lá no natal passado e agora estamos aqui. - null concorda com a mulher.
- Ela insistiu tanto para que eu fosse e eu só mandei algumas mensagens. A null me mandou um cartão apelativo por email, mas eu pensei que elas deveriam entender que eu tinha compromissos e que eu não poderia faltar, se eu soubesse… - null vira o rosto para a janela, já com os olhos marejados.
- null, não diz mais nada. A gente não pode mudar o passado, eu também me arrependo, poderia ter visitado mais e feito inúmeras coisas, mas o passado não pode voltar. - null de forma carinhosa pega a mão de null, fazendo com que ela olhe para ele.
- Mas você tem uma parcela de visitas maiores que as minhas. - null tenta argumentar, ainda com a mão de null na sua.
- Essas coisas não importam quando se tem amor envolvido. Você só estava lotada de coisas e eu bom... Tinha o null enchendo meu saco.
- Eu deixei de ir por causa de um compromisso.
- Do seu trabalho.
- Eu poderia ter ido visitá-las. - disse uma null chorosa.
- Você poderia e ainda estaríamos aqui.
- Mas se eu soubesse, eu…
- Você não pode prever o futuro. Nenhum de nós pode. - null acaricia a mão de null de forma carinhosa à medida que ia falando.
- Obrigada. De verdade, null.
- Ei, você foi uma amiga incrível, não precisa me agradecer. - null o encarou e encostou a sua testa na dele.
- null? - ela sussurrou ainda com a testa colada na do rapaz. - Posso te perguntar uma coisa?- null não deu tempo de resposta da parte dele e continuou. – Por que a gente terminou? Quer dizer, eu sei o motivo, mas como a gente deixou chegar naquele ponto? Eu me perdi totalmente.

Flashback on

2009

null caminhava rapidamente pelo aeroporto com medo de perder o voo, e quanto mais atrasada você está, mais pessoas aparecem para atrapalhar. Primeiro foi a demora do taxista e o péssimo trânsito, depois se deu conta que tinha esquecido seu passaporte em cima da mesinha da sala e, para finalizar, a moça do check in estava com uma preguiça absurda e o seu cartão estava dando erro. Depois desses problemas, null finalmente conseguiu embarcar com destino ao Reino Unido. Desde o começo se sentia muito orgulhosa do namorado, o seu sonho sempre fora morar e estudar em Oxford e ele tinha conseguido. Mas diferente das outras viagens, null tinha a sensação que de certa forma essa não seria uma visita alegre, as coisas entre ela e null já não estavam tão boas assim, somado a falta de tempo, as novas responsabilidades, e tudo de novo na vida do casal como amigos, cidade e estudos, contribuiu para brigas e o esfriamento no namoro. null não se sentia a mesma e nem ele era o mesmo, as ligações no skype que duraram 3 horas um tempo atrás, agora duravam 20 minutos, com longos espaços de silêncio, e com perguntas ridículas ''Está fazendo frio aí?'' e gestos de afirmações em vez de palavras. Ela se perguntava a todo momento como tinha deixado as coisas irem por esse caminho, onde ambos se perderam, já que no começo tudo era tão simples, eles se amavam e isso ganhava do cansaço e de qualquer outro problema. As visitas aconteciam uma vez por mês, eles revezavam, era tudo tão intenso, contavam os dias para se verem, chorar de saudades quando tinham que voltar e faziam mil planos para depois da faculdade. Agora era a primeira vez em dois meses que iam se ver, sendo que essa era a vez de null, mas null decidiu ir porque não aguentava mais essa sensação de estar se limitando, precisava lidar com isso pessoalmente. O voo durou 7 horas e, diferente das outras vezes, não avisou null que estaria chegando, preferiu assim, já que ele tinha a mania de ir adiando as coisas, tinha o endereço do apartamento e sabia onde ficava a chave reserva, provavelmente ele estaria em aula agora. Chegando no apartamento encontrou tudo em seu devido lugar, null era extremamente organizado, a desordem do relacionamento infelizmente era ela. Fez um café e tomou um banho pensando em como iniciar a conversa e na reação do rapaz em encontrá-la. Ligou a TV, pegou o notebook e começou adiantar um trabalho quando ouviu o barulho da chave na porta
- null? O que você está fazendo aqui?- disse apressado e surpreso.
- Surpresa! Desculpe por não ter avisado, eu decidi de última hora, estou atrapalhando algo? Você tem algum trabalho ou compromisso hoje?
- Não, nadinha, eu só estou realmente surpreso por te ver, geralmente eu que faço as surpresas por aqui. - finalizou com um tímido sorriso no rosto como se não soubesse o que fazer.
- Você não vai me dar um abraço? Já está com a mão na porta um bom tempo. A casa é sua, eu que invadi null, pode entrar. - pela primeira vez em muito tempo null sentiu que o namorado estava sem graça; Aquilo era muito estranho, não parecia certo. Quando ele a abraçou, percebeu como sentiu falta do cheiro dele, do seu toque e dos beijos na bochecha. Aquela conversa ia ser mais difícil do que imaginara. O abraço só foi o começo, logo se olharam e saudade bateu em cheio, dando início ao um beijo voraz, o que foi interrompido pela falta de ar da moça um tempinho depois
- Como eu senti falta desse beijo, do seu cheiro, por que a gente ficou tanto tempo sem se ver?- null perguntou, voltando a distribuir beijos no pescoço de null.
- Eu também não sei como eu fiquei tanto tempo sem ver você. - disse passando a mão pelo rosto do rapaz de forma carinhosa.
- A gente pode matar a saudade agora, você está aqui e eu também... - disse puxando null para mais perto e sussurrando em seu ouvido.
- Sussurrando assim? Golpe baixo, mas acho que podemos sim. - null entrelaçou suas pernas na cintura do rapaz e foram em direção ao quarto, não desgrudando seus lábios um só segundo. null colocou a garota na cama com delicadeza, percorrendo seu pescoço e busto com beijos demorados. null estava tão dominada pela saudade que acabou esquecendo o verdadeiro motivo de estar ali, mas null estava sendo tão intenso que os seus toques a deixava cada vez mais perdida naquele momento e ansiando cada vez mais pelo enlace dos seus corpos.

~

null acordou com o toque do seu celular e se apressou em desligá-lo para não acordar null. Eram 8 horas da manhã e pela primeira vez em dois meses acordava disposto, e ele sabia que isso era culpa do famoso ''efeito null''. null a olhou dormindo tão tranquilamente com a respiração suave, e de boca aberta, e ele a achava linda mesmo assim, e não pensando duas vezes antes de tirar uma foto. Ele adorava o jeito que ela dormia e tinha várias fotos a contragosto da moça. Levantou cuidadosamente da cama e foi ao banheiro, fez a sua higiene matinal e colocou uma roupa qualquer. Foi para a cozinha do mesmo jeito, não queria acordar sua namorada, ela odiava que interrompessem seu sono, recolheu as roupas deixadas ontem no corredor e quando abriu a dispensa percebeu que precisava ir ao supermercado com urgência, não tinha nem ingredientes para um café da manhã digno. No caminho para o mercado pensou no seu namoro com null e em como as coisas não iam bem, ele tinha esperanças de que as coisas pudessem voltar ao normal após a noite de ontem, e já fazia bastante tempo que não se sentia assim.
- Olha quem já acordou, comprei seus pães favoritos. - ele disse dando um beijo em null, que estava em frente a TV. - Acordou faz tempo? Eu demorei um pouquinho, desculpa.
- Só tem 10 minutos, mas eu fiz o café, mesmo sendo uma das únicas coisas no armário. - null disse se levantando e indo para o balcão da cozinha.
- Sabe, eu estava pensando... - null começou. - A gente podia fazer um passeio, o que você acha? Está um pouco frio lá fora, mas sem previsão de chuva, nós poderíamos ir ao parque e tem uma exposição de artes plásticas bem bizar... null? O que foi?
- null. - ela começou com um grande suspiro. - A gente precisa conversar, não podemos continuar fugindo. Não dá pra passar por cima como sempre e fingir que nada está acontecendo, quando se tem mil coisas ao nosso redor.
null a olhou.
- Não estou fugindo de nada, null, nós estamos aqui não é?
- Não seja egoísta, você sabe, é sempre assim, a gente transa e finge que tudo está resolvido. Eu preciso de respostas, null! Quero saber o que se passa na sua cabeça, não é possível que só eu esteja vendo o problema entre nós dois. - Um silêncio se instalou entre ambos, e null encarou null esperando alguma resposta. - Seu silêncio me dói.
- Você quer que eu diga o quê? Eu sei que estamos com problemas, é a distância, o cansaço, mas em nenhum momento eu fico te cobrando. Você acha que é fácil para mim? - ele indagou indo em direção ao corredor.
- Cobrança? Se estar se importando é sinônimo de cobrança, acho que eu sou a única por aqui. Eu pergunto como foi seu dia, se tem algo de novo do curso e você ''Não tem nada de novo". Isso parec...
- Desculpe se não tem nada de novo acontecendo na minha vida null, você tem mil coisas, amigos, peças, visitas em estúdios, fotos com artistas. Eu sinto muito se vivo um dia "normal". - finalizou com aspas no dedo, sabendo que ela odiava isso.
- Juro, eu não sei por que tento conversar com você, será que tem como abandonar sua implicância por um minuto para que possamos conversar como dois adultos? Eu já estou cansada disso, parece que estamos em um círculo, é o mesmo julgamento, com meus amigos, visitas, eventos, parece que você não me conhece mais e acho que a gente está se limitando. - null finalizou enxugando as lágrimas, agora sentada no sofá.
null mantém a expressão incrédula, null nunca chorava em uma discussão, ou seja, as coisas estavam piores do que ele imaginava.
- Eu recebi uma proposta. - null disse olhando o namorado. - É um filme, eu fiz um teste mês passado e fui selecionada, é de uma grande produtora, e tem atores renomados, um ótimo roteiro e...
- Como foi o teste? Por que você não me disse? Agora sou eu que escondo as coisas? - o rapaz finalizou
- Não joga a culpa em mim não, eu quis te falar. No dia você não atendeu as minhas ligações, e você sabe que eu odeio mensagens. Quando finalmente atendeu, disse que estava cansado e que no outro dia me ligava; Coisa que não aconteceu. Como quer que eu sinta prazer em te contar as coisas?- null disse com os olhos cheios d'água novamente.
- Você aceitou a proposta?
- null, escuta, eu pensei..
- Aceitou ou não, null? - ele perguntou próximo a ela.
- Aceitei, a viagem vai durar 4 meses, vão ser em três países diferentes, Canadá...
- Acho que não tem nada para falar, já está com as malas prontas? Já avisou a sua mãe? Eu devo ter sido o último a saber...
- null, não precisa ser assim. - disse indo em direção ao rapaz. - Eu precisava aceitar, é uma proposta única, um ótimo começo para mim, você sabe como isso é importante.
- Tudo bem, eu entendo. Você já abriu mão de mim, não tem mais nada que eu possa fazer, viva o seu sonho. Agarre a fama e o dinheiro, não vou ficar ofendido. - null disse indo para o quarto, vendo null parada no corredor com uma blusa nas mãos.
- Se for pra ter apenas um pedaço do seu coração, null, eu prefiro não ter. Você era meu porto seguro, não pode ser meu motivo para brigas, estresses e choros. Nossa promessa não era assim. Você tem noção do quanto isso é difícil pra mim? Eu tive que chegar nessa conclusão sozinha, a gente iria empurrar esse relacionamento até quando? - null parou para enxugar as lágrimas novamente. - Eu não sei como vou ficar sem você, parece errado, mas é o correto a se fazer. Eu não quero mais me machucar.
- Eu também não sei como vai ser daqui pra frente, queria ter a certeza de algo, mas não quero que te amar se torne algo doloroso. - null disse vestindo um jeans e um casaco. - Fique bem, e aproveite muito. - disse dando um beijo na testa de null.
- Então é só isso, nenhuma pergunta a mais? A gente terminou? - ela disse alto, buscando uma explicação.
- Você já se decidiu, null, eu estou quebrado. - null disse abrindo a porta e logo saindo do apartamento, deixando para trás uma null em mil pedacinhos.
null ouviu o barulho da porta se fechando e começou a chorar, tentando entender o que acabara de acontecer, null havia lhe deixado, e ela começava a duvidar de sua escolha. Pensando nisso, se levantou, tomou um banho rápido, arrumou sua mala e escreveu um bilhete e o deixou em cima da mesa do centro "se cuide, sonhar com você vai ser bem doloroso agora". Fechou a porta, deixou a chave reserva no lugar de sempre e decidiu seguir seu caminho.

Flashback off

null olhava para o chão, como se algo fosse acontecer e consertar tudo. Tinham muita coisa para falar, mas da parte dele faltava um pouco de coragem. Ambos se perguntavam o que aconteceu com todas as promessas e planos que não saíram do papel, e em como com o tempo seguiram em frente, ou quase isso.
- A culpa foi toda minha, null - null tomou coragem e começou. - Eu falei muita coisa errada, e uma delas foi te culpar quando eu era o culpado. Eu simplesmente joguei toda a culpa em você como se eu estivesse certo. Eu deveria ter te apoiado, colocado para fora todo o meu medo e insegurança. Eu não estava querendo enxergar o rumo das coisas, e quando você falou em término logo achei que estava abrindo mão de mim. Ainda penso na minha postura infantil e você não sabe como eu tenho vontade de voltar lá atrás e consertar isso. - null finaliza não conseguindo encarar a atriz novamente.
- A gente tinha tantos planos, mas a culpa não foi só sua, não se castigue tanto. - a atriz disse de forma nostálgica. - Você seria meu acompanhante na minha primeira premiação e...
- E eu fui substituído pelo Dave Franco, isso foi ridículo - null diz se referindo ao colega de elenco que null teve um caso. - Eu sou muito melhor que esse cara, vocês nem combinam, sabia? - logo ele e null começaram a rir do drama do rapaz.
- Para quem não acompanha meus trabalhos por motivos ''nostálgicos''- disse fazendo aspas com os dedos. - Você está sabendo demais hein?- null riu, mas parou a observando.
- Só um minuto, por motivos nostálgicos? Quem te disse isso?- ele não admitia isso para ninguém.
- null me disse, eu ri muito quando soube. - a atriz disse abrindo um saquinho de ursinhos doces.
- Espera, null te disse isso? Por acaso ele é seu informante, null?- ele indagou com o tom de voz um pouco alto e expressão quase que incrédula.
Parabéns null, agora você estragou tudo. Puta que pariu, o que você tem de atriz não tem de língua presa, pensava enquanto encarava null sem saber o que dizer.
- Eu não. E calma lá, null, eu que sou a famosa aqui. - disse tentando descontrair.
- null e eu sempre conversamos e, às vezes, eu ficava sabendo alguma coisa sobre você, não era como se eu pedisse informação o tempo todo. - Porra null, o que deu em você? Agora você se entregou perfeitamente.
null não conseguia parar de rir da cara de vergonha da atriz.
- null. - disse entre o riso. - Se você quisesse informações minhas, poderia ter pedido meu número ao null.
- Não poderia ligar assim simplesmente. - disse null.
- Não tenho paparazzis me perseguindo, mas descobri que tenho uma psicopata pegando informações através do meu sócio e melhor amigo. Preciso rever minhas amizades urgentemente. - disse a encarando e rindo.
- Menos tá? Bem menos - a atriz disse fazendo sinal com as mãos. - Só foram duas vezes, mas não muda o foco não, se você sabe do Dave Franco então sabe de muita coisa, não é?
- Eu não sei de nada, você que está falando por mim. - ele diz fingindo uma cara de inocente.
- Aposto que você sonha em ser um dos atores que eu beijo nos filmes. - null disse com um sorriso enorme nos lábios.
- HA- HA- HA! Muito engraçado. - o rapaz disse rolando os olhos- Seu beijo não é tão bom assim, sabia? Não sei se alguém já te disse...
- Bom, acho que eu melhorei bastante, quer provar? - a atriz aproximou seu rosto ao de null, percebendo seu pescoço arrepiar. Então null teve a comprovação que algumas coisas não mudaram. Uma voz atrapalhou o momento, os fazendo dar quase um pulo da poltrona.
- Boa tarde, os senhores aceitam alguma coisa? Temos água, suco, café - a aeromoça disse percebendo que tinha atrapalhado alguma coisa importante.
- Eu... Eu aceito água, por favor. - null riu da voz falha de null - Aceita null?
- Não, obrigada.
- null, aquela notícia do seu noivado é verdadeira? - o rapaz perguntou com certo medo da resposta.
- Então! É uma longa história.
- Nós temos a viagem toda. - null diz brincalhão.
- Jura que não vai rir?
- Juro!
- Jura juradinho?- null arqueia as sobrancelhas numa proposta.
- Juradinho. - null levanta o dedo mindinho.
- Eu estava ajudando um amigo. Ele estava com alguns probleminhas… - null começa a gesticular como um complemento da frase.
- Quais probleminhas?- null a incentiva.
- A família dele é muito rígida e o pai dele teve um ataque cardíaco um tempo atrás e não pode se estressar e…
- Para de enrolar, null. Já disse que não vou rir.
- Bem, ele é gay.
- O pai dele?- null pergunta confuso.
- Não, o meu amigo. E eu estava ajudando ele a fugir um pouco da pressão da família, como eu disse eles são bem rígidos e meio que não aceitam muito bem meu amigo não ter namorada.
- Então vocês namoraram e noivaram? Nossa! Bem sortudo esse cara.
- Para, null. Ele é meu amigo e eu só precisava dar um tempo para ele conseguir algum trabalho que pagasse melhor, para assim comprar um loft ou pagar aluguel.
- Mas vocês noivaram! Sua família sabe?
- Só a minha mãe.
- Então vocês terminaram porque ele conseguiu um lugar pra ficar?
- Sim.
- Agora o Dave Franco pode investir. - null diz num tom risonho.
- E você também. - null pisca o olho para o rapaz e olha para frente sabendo que o deixou corado como sempre. Depois de um tempo e mais algumas conversas jogadas fora, o piloto anuncia o pouso.
- ATENÇÃO SENHORES PASSAGEIROS, IREMOS POUSAR EM POUCOS MINUTOS. LONDRES ATUALMENTE ESTÁ COM A TEMPERATURA AMENA, SE PREFERIREM PODEM GUARDAR OS CASACOS. APROVEITEM A ESTADIA, UM FELIZ NATAL E OBRIGADO PELO PREFERENCIA.

~

null estava esperando um táxi na frente do desembarque. Ela poderia muito bem mexer os pauzinhos e ter preferência em meio a tantas pessoas, mas ela tinha esperanças de encontrar null uma última vez naquele dia, para assim poder ir para o hotel onde ficaria hospedada e sonhar com um recomeço. null ainda amava null e desde o dia que terminaram ela não conseguiu encontrar ninguém que a fizesse sentir como ele fazia. null, por outro lado, nem conseguia procurar, as garotas eram apresentadas a ele numa tentativa dos amigos de animá-lo, mas null só pensava na burrada que o fez perder o grande amor de sua vida. Ambos queriam uma segunda chance, e mal sabiam que estavam prestes a recebê-la.
- Está esperando alguém?- null pergunta de supetão.
- Aaaah! Nossa, que susto!!!- null se vira num sobressalto, colocando as mãos sobre o peito.
- Desculpe, não queria te assustar.
- Tudo bem. O que você estava dizendo?
- Está esperando alguém?
- Um táxi.
- Tem um vago bem ali. Você pode pegá-lo. - O rapaz aponta para um carro parado a alguns metros de distância.
- Oh sim, então eu já vou. Onde você vai ficar?- null morde os lábios de nervoso por não conseguir se segurar.
- Na casa da null e do null, o null está lá também. - null diz, não conseguindo esconder a expressão triste que se formou no seu rosto.
- Manda um abraço para todos, nos encontramos amanhã de manhã. - null vai se afastando e indo em direção ao carro.
- Até logo!- null acena quando ela entra e baixa o vidro, acenando também.

~

Quando null chegou ao funeral todos os amigos que ela tinha em comum com null já estavam lá, a família também, até os tios que as meninas tinham na Austrália. null estava segurando uma garotinha fofinha e a cópia de null, e pelos olhinhos tristes da pequena já tinham explicado que a sua mamãe tinha virado uma estrelinha. A alguns metros estavam os rapazes, null sentado ao lado de null, que segurava um copo de água. Seus amigos estavam horríveis e null poderia entender a dor de cada um ali, porque ela estava do mesmo jeito.
- Querida! Você está aqui. Por que não atendeu ao telefone?
- Mamãe!- null se vira e abraça a mãe com rapidez, queria um refúgio depois de tanto tempo fora.
- Está tudo bem, meu amor, ela te amava também. - A mãe de null sussurra em seu ouvido ao perceber que a filha está fungando.
- Eu não atendi porque quase esqueci minha bolsa em cima da cama e já estava atrasada quando voltei para buscar. - null se separa do abraço da mãe e então percebe que null estava ali aquele tempo todo. – Oi, null. - Ela o cumprimenta meio sem jeito, por ter chorado na frente dele também.
- Oi, null. - O rapaz a cumprimenta meio tímido.
- Querida, irão começar a prestar as homenagens. - A mãe de null termina a fala e acena para null, indo com a filha sentar-se nas cadeiras que estão dispostas ao ar livre. Elas sentam em uma das últimas fileiras, a pedido de null.
- Meu bem, sei que é difícil, mas aguente firme. - Assim que a mãe de null termina de falar, um assessor, possivelmente contratado por null já que nem mesmo null estava com cabeça para ajudar a resolver alguma coisa do funeral, chama a atenção de todos para assim começarem as homenagens. null temia que seu nome fosse chamado e isso a deixava apreensiva. null olhava o ambiente quando percebeu que seu olhar estava parado em null, ele estava sentado ao lado de null já na primeira fileira e tinha null do seu outro lado com a filha do casal no colo. null estava perto do assessor, agora com um microfone em mãos, ela iria homenagear a irmã.
- A null era a minha irmã, a melhor que eu poderia ter. Ela me apoiava em absolutamente tudo e nunca me deixou triste, pelo contrário, ela colocava os sorrisos mais sinceros no meu rosto. Ela era amada, por onde ela passava conquistava as pessoas, ela gostava de vencer desafios e testar a sua própria capacidade de se superar. A null era muito intensa, ela acreditava que laços durariam até depois das nossas vidas e ela sempre esteve certa. A saudade que me domina, assim como eu sei que domina a todos aqui, não vai desaparecer, mas seremos fortes e iremos aguentar firme porque a null iria querer assim. - null entrega o microfone para null, que até aquele momento null não havia reparado que tinha levantado e se postava no lugar que antes era null que ocupava.
- Eu venho chorado sem parar por dois dias. A null era o meu amor, o seu sorriso colocava o meu sorriso e eu ficava louco com as palavras sussurradas. Ela sempre apoiou todos que amava e não acreditava em tempo ruim, e se ela achasse que precisava falar, iríamos escutar. Ela era a mulher mais bonita de todo o mundo, ficava vermelha quando nervosa e eu a achava mais bonita ainda. Eu a amo tanto, que o meu peito dói a cada vez que eu respiro. Que ela descanse em paz, pois todo o amor que sentimos por ela nunca vai desaparecer. - null não aguentava mais se segurar e se derramava em lágrimas, sendo amparado por null e null novamente. Depois de null e null, mais algumas pessoas da família prestaram homenagem a null. Então null se levanta com a desculpa de que iria ao banheiro e, antes de seguir cemitério adentro, passou pelos seus então inseparáveis amigos e os abraçou, do nada, sem nem dizer uma palavra, ela precisava que eles soubessem que também a machucava. Ela andou alguns minutos até parar embaixo de uma árvore, que parecia ser a maior daquele lugar. null se sentou perto do tronco e apoiou a cabeça em cima dos joelhos, ela queria que a dor sumisse, a dor que a lembrava que null não estava mais ali. E então null começou a chorar descontroladamente, sua dor parecia física. null estava tão focada em colocar tudo para fora que se assustou quando foi envolvida por braços masculinos e familiares, eram acolhedores e ela sabia quem estava por trás do seu consolo naquele momento. Depois do que pareceu uma eternidade, null foi parando de chorar, se afastou do rapaz e enxugou as lágrimas.
- Obrigada, null.
- Não precisa agradecer, eu estou aqui para fazer o que for preciso para te ver bem.
- Como sabia que eu estava aqui?
- Eu te segui. Sabia que você estava segurando as lágrimas e que iria procurar um lugar isolado para poder se culpar e chorar em paz.
- Se sabia que eu queria ficar sozinha, por que veio?- null perguntou ao rapaz e encarando o chão logo em seguida, se dando conta de que foi meio rude, mas null nem ligou para aquele deslize.
- Porque quando queremos ficar sozinhos, é quando mais precisamos de alguém por perto.
- É a segunda vez que você me consola em menos de vinte e quatro horas. Obrigada.
- Já disse, não precisa agradecer. Você me disse uma vez que eu era seu porto seguro, mas que não estava cumprindo meu papel. Eu errei com você, mas quando eu a vi, sentada naquele avião, eu senti que iria ter uma chance de realizar meus sonhos mais uma vez. Eu fiquei super nervoso e, quando você me olhou, eu pude ver que você não tinha mudado nada; Ali sentada estava a mulher que eu amava e sonhava todas as noites. - null ainda meio abraçado com null deixa um pequeno beijo no ombro da mulher, que começou a encarar o céu. - Desde o dia que eu te conheci não paro de sonhar com você, pode ser à noite ou ao dia, a única certeza que eu consigo ter é de não querer acordar.
- Você nunca deixou de ser meu porto seguro. - null olha para o rapaz, ficando corada por ele já estar a olhando. - E eu nunca deixei de te amar. Ligava para o null todo mês perguntando por você depois do término e isso durou até semana passada. Eu não me desfiz de nada que tivemos juntos e olhava as nossas fotos todo aniversário de namoro. - null riu da própria fala, sendo acompanhada por null, que também deixa escapar algumas risadas. - Eu também acredito que podemos ter uma chance e quero aproveitá-la mais do que tudo. Sem fama, dinheiro, jatinho, roupas caras, estúdios, peças ou foto com artistas. - null diz fazendo referência ao que null disse alguns anos atrás.
- Você não precisa tirar nada da sua vida, eu te conheço de verdade e sei que isso tudo isso é só um bônus para você.
- Você tem razão, eu só preciso de uma coisa na minha vida: - null cola a testa na do rapaz e encosta seus lábios de leve nos dele. - Você.
Aquele beijo que eles deram, pode se dizer que foi o mais verdadeiro de toda a vida de ambos, eles encontraram o recomeço e se sentiam felizes em finalmente conseguir abrigar o amor mais uma vez, no lugar o qual nunca deveria ter saído: do meio dos dois.





FIm.



Nota da autora: Primeiramente eu queria agradecer a Larissa Carrião por ter sido tão paciente em relação às minhas dúvidas e atrasos, queria agradecer a Fá por me ajudar mesmo quando estava em um dos seus piores momentos. Eu espero que tenham gostado e aceito sugestões , porque essa foi a minha primeira fanfic e eu estou super nervosa. Beijão!



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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