Capítulo Único
- Não acredito que tu continua aí parado, . Se joga, cara, olha o tanto de mina sozinha e a pista liberada pra tu mostrar teus dotes dançarinos! - gritava no ouvido de , mais uma vez.
já havia perdido as contas de quantas vezes tinha perdido o amigo de vista e ele reaparecera do nada, às vezes gritando algo em seu ouvido, às vezes apenas dançando vergonhosamente em sua frente. Para a ideia de o baile ser mascarado tinha sido incrível, afinal, o rapaz nunca tinha curtido tanto o high school como estava curtindo naquela noite. Já não conseguia ser muito diferente do que era sem algo cobrindo seu rosto. "Você pode ser qualquer outra pessoa", dissera, mas sentia mais dificuldade ainda em se enturmar com todos aqueles adolescentes bêbados, suados e mascarados. A ideia de não saber quem estava por trás do adereço não o agradava, na verdade o angustiava. Juntando a música extremamente alta, o alto número de pessoas por metro quadrado e o calor infernal que ele estava passando debaixo daquele terno no ginásio fechado, a noite de só tendia a piorar. Mais uma vez desaparecera de vista, deixando o amigo frustrado estacado no mesmo lugar. Entretanto estar ali há tanto tempo pareceu não ser o suficiente para alguém em particular vê-lo, visto que levara um tremendo empurrão de quem passava quase correndo pelo local.
- Ouch! - Exclamou, passando a mão em seu ombro atingido. A culpada nem tentara olhar para trás e pedir desculpas, o que fez bufar irritado, observando apenas a cauda de seu vestido se perder no meio da multidão em que ela entrava. Descontente, resolveu que de nada adiantava ficar na festa parado feito estátua; não conseguia se divertir no ambiente e nem se daria o trabalho de tentar. Reabasteceu então seu copo de refrigerante e decidiu caminhar fora do ginásio, a fim de tomar um ar e conhecer um pouco do espaço da Hathaway OWG High School.
Carter era um idiota, e mais uma vez estava irritada com o rapaz. Sempre pensando em favorecer a si mesmo, nunca pensando minimamente na namorada. Seu modo de agir só piorava quando estava com seus amigos: um bando de moleques sem maturidade, que se acham a última coca-cola do deserto apenas por serem titulares no time de rúgbi do Colégio. Eram também titulares no time dos filhinhos de papai arrogantes e mimados; pelo menos na concepção de . Então, quando Carter desviou a rota e a informou de que se atrasaria para chegar ao baile por que ia passar em um esquenta na casa de um dos rapazes do time, bufou frustrada e sentiu que sua irritação só estava começando. Claro, se contasse as várias mancadas que Carter havia dado no último mês, sua irritação já estaria passando dos limites aceitáveis, mas essa noite seria de festa e, tentaria curtir ao máximo. Quando foi anunciado um baile de máscaras no início das aulas em virtude da fusão de três grandes escolas da cidade, sentiu sua empolgação ir a mil. Ela adorava festas e finalmente teria a oportunidade de participar de um baile de gala e ainda por cima onde todos usariam máscaras, assim como um baile próprio da corte nos tempos mais antigos. Carter sabia da sua empolgação com esse dia, e ele não seria louco de tentar estragá-lo. Porém, já começou a se decepcionar antes mesmo de chegar ao ginásio da HOWG High School. Seu namorado continuava a agir como um babaca e a presença de seus comparsas só pioravam as coisas. O baile em si ela não conseguia aproveitar desde que havia chegado, visto que tudo o que Carter fazia era beber com os amigos e fazer piadas de mau gosto com tudo e todos. Bufou irritada mais uma vez, cruzando os braços enquanto observava a pista de dança repleta de adolescentes se divertindo.
- Tá com cara de bunda por quê? – Questionou Carter, subitamente dando atenção à namorada.
- Eu não vim aqui pra fazer cosplay de estátua do seu lado, Carter. Só que você não sai de perto desses idiotas nem pra falar comigo direito.
- Eu não tô te prendendo aqui, . Para de ser chata. – O bafo de álcool que saía da boca do rapaz estava suficiente para embebedar a própria namorada.
- Eu não vou sair sozinha, Carter. Poxa eu te falei que estava animada pra essa festa, e você disse que nós íamos aproveitar juntos. – declarou, olhando-o com raiva. Se olhar pudesse matar, Carter já estaria só o pó aos seus pés.
- Vá curtir a festa como as garotinhas fazem, Rogers. – um dos abutres ao redor de Carter gritou, fazendo-o fechar a cara.
- Não enche o meu saco, . Vá fazer algo que mude essa sua cara de bunda. Menina chata da porra. – Resmungou, saindo para pegar mais bebida enquanto ficava para trás com o queixo caído. Não a entenda mal por não revidar. Ela havia ficado sem reação, pois Carter nunca havia a desrespeitado tanto enquanto eles namoravam. Ele estava diferente ultimamente, mas em nenhum dia tinha sido tão grosso, e ela tinha certeza que não tinha feito nada que pudesse justificar seu comportamento. Engoliu em seco e saiu batendo os pés, a fim de fazer exatamente o que o namorado tinha falado. Era uma festa, afinal de contas. Mas nem uma de suas músicas preferidas que estava saindo dos auto falantes foi o suficiente para animá-la, o que só aumentou sua frustração. saiu apressada da pista, sem prestar atenção em nada em seu caminho; só queria sair daquele local abafado a procura de ar fresco. Não parou nem para pedir desculpas a alguém plantado no meio do caminho, em quem deu um baita tropeção. Apenas seguiu entre as pessoas, procurando a saída. Caminhou em direção a um dos quiosques longe do ginásio, que na teoria serviam para os alunos estudarem, porém geralmente quem frequentava aquela parte da escola eram adolescentes que matavam aula para beber ou fumar escondidos ali. Sentada em um canto sem qualquer iluminação, tentava a todo custo pensar no que poderia causar uma mudança tão súbita de humor no namorado, sem sucesso. Há dias estava se sentindo insegura quando ficava perto de Carter, e não poder conversar com ninguém sobre seu comportamento estava esgotando-a. geralmente não levava uma resposta atravessada e se calava, pelo contrário. Não levava desaforo para casa e não pensava duas vezes antes de retrucar alguém, mas o modo como Carter havia sido agressivo a deixara tão atônita que ela não sabia o que fazer, ou pensar. Era certo que não morria de amores por Rogers, mas estar com ele até o momento era bom. No começo ele a respeitava, e era uma boa companhia ter ao lado. Com o passar do tempo ele foi revelando o seu verdadeiro eu, que até o começo da noite pensara poder suportar. Suspirou, sentindo a garganta apertar. Carter havia arruinado completamente uma noite pela qual ela esperara há meses, e não fazia a menor questão de perceber ou suavizar a situação. Apoiou os cotovelos nos joelhos e cobriu o rosto com as mãos, respirando fundo para não chorar ou para não voltar à festa e armar uma cena no meio de todos aqueles adolescentes. Ser mal falada por toda a sua escola e outras duas que nem conhecia não era o que ela precisava no momento; tinha uma reputação a manter. Portanto apenas tentou acalmar seu coração acelerado e clarear a mente, a fim de descobrir o que fazer com Carter. Aguçou os ouvidos quando começou a escutar alguns passos em sua direção, sem levantar a cabeça. Os passos cessaram de repente; começaram a se aproximar e pararam novamente. Quem quer que fosse talvez estivesse na dúvida se se aproximava ou não dela. Ouviu um suspiro pesado e os passos mais perto.
- Pelo tanto de gente lá dentro, achei que eu fosse o único sem aproveitar o baile. – Falou uma voz masculina. levantou a cabeça lentamente, enxergando uma silhueta a sua frente. Não conseguia distinguir traços específicos, mas o garoto segurava um copo na mão esquerda e o paletó com a mão direita, jogado por cima do ombro. Achou sua voz bonita, mas sabia que não era de nenhum aluno que conhecia. Deu de ombros, encostando as costas na parede.
- A noite meio que não saiu como o planejado. – sorriu de canto. O rapaz curvou um pouco a cabeça para o lado, parecendo ponderar algo.
- Menina: confere. Bonita: confere. Solteira: confere. Aluna: confere. Não consigo imaginar um plano de festa dando errado com você. – Deu de ombros, fazendo rir.
- Como você sabe que eu sou bonita nesse breu? Eu só consigo ver a sua silhueta.
- Sua voz é bonita. Então eu imagino que você também seja. – Deu de ombros novamente.
- Essa é uma técnica bem duvidosa. E eu não sou solteira. – confessou, recebendo um breve silêncio como resposta.
- Seu namorado não ter vindo ao baile faz parte do seu plano ter dado errado?
- Quase. – suspirou. Dois segundos foram o máximo de tempo que conseguira tirar Carter da mente. – Na verdade ele veio. Está lá dentro com os amigos. – concluiu, recebendo silêncio como resposta novamente, porém maior dessa vez. O garoto olhou para os lados e voltou o olhar para ela de novo. Ficou observando-a, pensando em algo. Balançou a cabeça como se negasse seu próprio pensamento e finalmente sentou ao seu lado, ainda em silêncio. Ótimo. Tudo que precisava agora era de alguém com pena da sua situação ridícula. Pensou em levantar e sair daquele silêncio incômodo, quando o rapaz estendeu o copo em sua direção.
- Com sede? – olhou para o copo, sem conseguir identificar o conteúdo. O garoto parecia amigável, mas não sabia seu motivo para estar perambulando por aqueles lados da escola. Decidiu não arriscar, apesar de que alguma bebida cairia bem.
- Não, obrigada. – voltou o olhar para frente, em direção aos quiosques.
- Sabe, nunca tinha ido a uma festa antes. Acho que é por isso que não consegui ficar muito tempo lá dentro. O som é muito alto. E tipo, é muita gente junta num espaço. Muita gente. – não conseguia ver, mas podia apostar que ele fazia uma careta. Deu risada do seu tom de voz, achando engraçado que um rapaz de 17 anos não gostasse de festas. Ela achava que essa era a idade dele, pelo menos.
- Eu gosto de festas. Sempre sou convidada e sempre vou. É bom para desestressar, sabe? Estar no meio da pista e não pensar em mais nada, apenas em mexer o corpo no ritmo da música que estiver tocando. – Apoiou a cabeça na parede, erguendo o queixo.
- Se você está aqui fora sozinha no escuro então seu namorado deve ter te estressado pakas, né? – disparou o desconhecido, fazendo endireitar o corpo subitamente. – Merda, me desculpa! Eu não queria dizer isso, sério. Escapou sem querer. – Seu tom de voz era de arrependimento, mas não bastou para que a mágoa de diminuísse. Suspirou pesadamente, ponderando se contava o que havia acontecido ou não. Se omitisse nomes, o rapaz nunca descobriria quem era ela, ou Carter; provavelmente ele era de uma das outras duas escolas convidadas para o baile, pois ela tinha certeza de que ele era desconhecido. E bem, conhecia praticamente todo mundo de sua escola. Ser a capitã das líderes de torcida lhe dava essa oportunidade.
- Não, tudo bem. Você está certo, na verdade. – revirou os olhos, mesmo sabendo que ele não poderia ver.
- Você não precisa explicar se não quiser. – o rapaz replicou, vendo-a dar de ombros. fez menção de falar algo, mas logo se calou, o que o fez perceber que ela estaria em um conflito interno, talvez. Precisava pensar em algo que desviasse sua atenção e a animasse um pouco, afinal, ela parecia ter uma noite bem desagradável, enquanto ele apenas não curtia o clima de festa. – Sabe, continuo não gostando de festas, principalmente as de escola. É só mais uma oportunidade para os populares vestirem as melhores roupas, chegarem com os melhores carros. E a parcela mais excluída de adolescentes toma um baile escolar como uma oportunidade de se igualarem àqueles que os ignoram, como se usar roupas de marca uma vez os fizesse crescer na hierarquia escolar, ou algo do tipo. Chega a ser ridículo, na verdade. – Ele não podia ver, mas fazia cara de descrença, achando graça do discurso do rapaz.
- Nossa, que amargura nesse coração. Deixe-me adivinhar, você faz parte de algum grupo que consideram excluído e é daqueles que odeiam os “populares” – fez aspas com os dedos para que ele visse – da sua escola?
- Odiar é uma palavra muito forte. – deu de ombros. – Só os acho... desnecessários. Exagerados.
- E quem você tem por “populares”? – questionou a garota.
- Normalmente o pessoal do time da escola. As líderes de torcida, claro. Sempre a galera rica. Alguns nerds que, por serem mais bonitos que a maioria dos outros nerds conseguem alguns cargos importantes, tipo ser membro do Conselho Estudantil. Esse tipo de gente.
- E por que você fala como se fazer parte de algum desses grupos torne alguém ruim?
- Ah, não se faça de inocente. Você sabe que essa gente ignora o resto da sociedade, e fazem parte de um grupo seleto em que não é qualquer um que pode entrar. Aliás, os jogadores e as cheerleaders sempre são filhinhos de papai, então isso diminui ainda mais o círculo.
- Ah, pera aí. – levantou a mão, quase zombando do rapaz. – Se você está aqui nesse baile quer dizer que você é aluno de alguma das três escolas do Grupo Fortune de Educação. E se você é aluno de uma dessas escolas você também é rico, afinal, as três são particulares e a mensalidade não é nada barata.
- Você esqueceu que eu posso ser bolsista. – ponderou ele.
- Você não é bolsista. – afirmou .
- O que te faz ter tanta certeza?
- Você está vestindo um terno Armani, cabeção. – apontou para a etiqueta do paletó do rapaz, que agora estava jogado em seu colo. – Você não é bolsista. – concluiu, com um sorriso no rosto.
- Como você sabe que é um Armani? Não dá pra ver nada nessa escuridão.
- Isso não é verdade. Eu consigo ver um pouco da sua máscara. Ou ela é prata ou dourada, por que às vezes dá pra ver um pequeno reflexo. Dá pra ver também que a sua gravata é clara, só não consigo distinguir a cor. – deu de ombros, sorrindo. também podia dizer exatamente a direção em que o rapaz olhava a qualquer momento e podia afirmar que ele tinha olhos claros e que eram destacados pela máscara, apesar de esse detalhe parecer íntimo demais para ser compartilhado em voz alta, portanto segurou esse pensamento para si, ao contrário do garoto.
- Você tem razão. Eu consigo ver alguns brilhos do seu vestido, mas nenhum se compara ao seu sorriso. Apesar de escuro, consigo ver quando você sorri mostrando os dentes. Ele é lindo, aliás. Seu sorriso, não seu dente. – completou, fazendo-a rir ainda mais. agora torcia para estar escuro o suficiente para que ele não visse suas bochechas corarem de vergonha. Voltou o olhar para frente, tentando se lembrar do assunto anterior.
- Afinal, você está vestindo um Armani. Isso prova que você é um hipócrita preconceituoso, que tira conclusões das pessoas apenas por uma posição no High School.
- Ouch – o rapaz colocou a mão no peito. – Essa doeu. – sorriu e deu de ombros, vencendo a pequena discussão. Os dois voltaram o olhar para frente, ambos perdidos em pensamentos aleatórios, mas não tão diferentes. – Percy Jackson. – ele falou de repente, cortando o silêncio e recebendo um olhar confuso em resposta. – É um dos meus livros favoritos. É uma saga, na verdade: Percy Jackson e os Olimpianos.
- Sim, eu sei que é uma saga. – riu, ainda sem entender.
- Eu só quis compartilhar isso. Não me pergunte o porquê. – Deu de ombros. Estava cansado do silêncio e não sabia como que puxar assunto, e livros foi à primeira coisa não tão embaraçosa que passou por sua cabeça.
- Eu gosto de sagas também... Uma em particular, na verdade. Mas você não pode rir. – propôs, deixando-o confuso. Que saga o faria rir? – Eu simplesmente adoro Crepúsculo.
- Ah, não! – ele tapou o rosto com as mãos, fazendo a própria gargalhar. – Eu aqui falando de livros e você vem com Crepúsculo?
- Ué, e não são livros?
- São, mas bem dos ruins. – socou seu braço esquerdo. – Ei! Qual é, eu aqui falando de mitologia grega e você de vampiros-fadas que brilham. Tem uma diferença.
- Não seja idiota. Por acaso você já leu algum?
- Não, mas fui forçado pela minha avó a assistir os filmes.
- Os filmes são bem diferentes dos livros, tá? O Ladrão de Raios mesmo, foi uma bosta.
- Ok, nisso eu concordo. Mas você já leu os livros? Cara, Rick Riordan é simplesmente genial.
- Não, ainda não li. Mas eu já gostei da sua avó, para deixar registrado. Meus pais não assistem quase nada comigo. Isso é uma coisa de família? Seus pais também assistem coisas com você e fazem outras coisas de pai-mãe-filho?
- Eu gosto de imaginar que eles fariam, sim. – o garoto respondeu, após um curto silêncio, deixando-a sem entender. – Eles morreram quando eu tinha três anos, portanto nunca os conheci. O helicóptero caiu. Fui criado pela minha avó. – ele agora olhava diretamente para , e ela podia ver seus olhos claros fixados em seu rosto. Pediu desculpas por ter tocado no assunto e sentiu um clima começar a ficar tenso, mas o rapaz rapidamente o desfez. Ele parecia não estar incomodado com a intromissão da garota e facilmente deu alguns detalhes de como era sua vida, encorajando a fazer o mesmo. A partir daquele momento era como se um laço tivesse sido criado entre eles e um passou a confiar no outro. Conversaram por vários minutos, entre momentos de risada e silêncio, que já não era tão incômodo mais. Em instantes passaram a ter uma cumplicidade difícil de explicar, uma vez que ainda eram desconhecidos, mas já sabiam tanto um do outro. A conversa fluía facilmente e nenhum dos dois precisava pensar em um assunto especifico para falar; falaram até ambas as gargantas ficarem secas e um silêncio confortável se instalar. Ao longe, as músicas soavam do ginásio e chegavam em um baixo volume onde estavam. De eletrônicas o DJ passou para algumas mais lentas e podia imaginar vários casais na pista de dança. Tentou não pensar com pesar, mas ficou um pouco mais difícil quando Thinking Out Loud, do Ed Sheeran, começou a tocar. Suspirou pesadamente, atraindo o olhar do rapaz ao seu lado.
- Não é nada. Eu só... Eu adoro essa música. – deu de ombros, observando o rapaz imediatamente erguer a cabeça a fim de identificar a música. Ele sorriu, balançando a cabeça.
- Esse ruivo faz músicas muito boas.
- Faz sim. – concordou, abraçando os joelhos. Subitamente o rapaz ficou de pé a sua frente, recebendo um olhar duvidoso.
- Vamos. Dance comigo. – Ele pediu, com uma mão estendida em sua direção e outra no bolso da calça. – Eu já aviso que sou um péssimo dançarino e não vou ceder à vergonha de pedir de novo. Dois segundos e eu volto a sentar. – sorriu largamente e segurou a mão estendida, recebendo um sorriso do rapaz. Os cinco quiosques faziam um círculo e os dois se dirigiam ao meio daquele círculo, quando tropeçou em uma pedra. O rapaz a segurou impedindo-a de cair, mas não a impedindo de gargalhar.
- Acho melhor acendermos as luzes dos quiosques.
- Seria bom. – ele concordou. – Não estou muito a fim de tropeçar e quebrar um braço. – riu e se distanciou, passando de casinha em casinha ascendendo as luzes. Sentia o olhar do rapaz em suas costas a todo o momento, e ele se admirava com o que via: seu cabelo liso e comprido cobria a parte nua de suas costas que o decote do vestido descobria, vestido esse que parecia ter sido costurado em seu corpo, de tão bem que ficava na garota. Quando chegou ao último quiosque, virou-se para voltar ao encontro do rapaz, também surpresa pelo que via. A camisa azul escuro fazia um belo contraste com sua pele clara, e conforme ele dobrava as mangas na altura do cotovelo, seus bíceps tornavam-se aparentes. Ele não era de todo “malhado”, mas tinha certa definição dos músculos, que certamente chamaria a atenção de diversas garotas. Seu cabelo castanho era liso e não muito comprido, porém a franja cobria sua testa e um pequeno pedaço de sua máscara dourada. sorriu por ter adivinhado a cor do adereço, e o rapaz sorriu de lado, fazendo-a sentir um frio desconhecido na boca do estômago. Aproximou-se em silêncio, repousando sua mão esquerda no ombro dele, enquanto entrelaçava a direta na mão do rapaz. Ambos começaram a se mover lentamente, escutando a música ao fundo. Em determinado momento o garoto a girou em seus braços, deixando-a de costas para si. Desceu os braços em torno de sua cintura, abraçando-a, e sentiu uma segurança e conforto inexplicável. Fechou os olhos e encostou a cabeça no peito do rapaz, sentindo que poderia ficar ali por um bom tempo; naquele momento, achava que nada a poderia atordoar.
- Você só pode estar zoando com a minha cara. – Ouviu a voz grave de Carter preencher toda a sua mente. Abriu os olhos, sentindo o garoto atrás de si retesar-se, para ver o namorado acompanhado de quatro amigos à sua frente, com uma expressão nada boa. Seus punhos estavam cerrados, e seus ombros subiam e desciam rapidamente, mostrando a respiração acelerada de Carter. Oops.
estava nas nuvens. De uma hora pra outra sua noite tinha mudado completamente, ficando tão melhor que ele mal podia acreditar ser verdade. Tinha encontrado aquela garota tão aleatoriamente que se parasse para pensar acharia graça do encontro, mas tudo o que conseguia pensar era em como era sortudo. Era certo que ele estava extasiado, pois nunca algo tão legal acontecia em sua vida e de repente chega essa menina, tão linda, tão inteligente, sem ser superficial como todas as outras que conhecia da sua antiga escola... Se não tivesse se beliscado umas duas vezes, iria dizer que estava em um sonho e a qualquer momento acordaria, com certeza. Porém aquilo era a realidade, e lá estava ele com uma garota incrível nos braços. Sorriu, inalando o doce perfume que seu cabelo exalava. Era uma fragrância única, como tudo parecia ser nela. apertou-a levemente, fechando os olhos, sentindo seu corpo formigar, uma sensação de estar tudo certo. Sentiu que poderia ficar assim a noite inteira, mas não foi bem assim.
- Você só pode estar zoando com a minha cara. – Um rapaz mais ou menos do seu tamanho, mas muito mais forte, estava parado na frente dos dois, com mais três outros em seu encalço. sentiu seu corpo tencionar involuntariamente, ao lembrar de que a menina o tinha dito que namorava. Engoliu em seco, ao vê-lo aproximar-se do casal. – Você tá louca, garota? Que porra é essa aqui? Era pra isso que tu querias vir pra essa porra de festa? – Ela desvencilhou-se de seus braços, seguindo ao encontro do rapaz.
- Rogers, calma. Não é o que você tá pensando. – Falou firme, surpreendendo pela forma como se impôs.
- Não é o cassete! Eu não tô pensando nada, eu tô é vendo! – Carter argumentou, pegando com força no braço de . a ouviu arfar de dor, ainda que baixinho, e isso foi o suficiente para empurrar o engraçadinho e afastá-lo de sua recém-conhecida.
- Vamos com calma, cara. Podemos conversar tranquilamente, não precisa se exaltar. – Tentou argumentar, mas Carter não o deixou dar mais nenhum passo. Agarrou-o pelo colarinho e, apesar de serem do mesmo tamanho, levantou-o alguns centímetros, deixando encostar apenas as pontas dos pés no chão.
- Calma o cassete! Tá me tirando, moleque? Fica passando a mão na mina dos outros e quer pedir tranquilidade?
- Rogers, para! – gritou, batendo nos braços do namorado. Carter soltou com brutalidade, fazendo-o cair de joelhos. – Pra começar, eu não sou a “mina” de ninguém. E já deu dessa palhaçada, você tá tão bêbado que chega a feder. Vem, eu te levo pra casa.
- Não te mete com a mulher alheia, moleque. Na próxima eu acabo com a tua raça. – Apontou o indicador para , que arrumava o colarinho da camisa já em pé. tentou pedir desculpas ao rapaz, mas Carter passara o braço ao redor de seus ombros, forçando-a a andar sem olhar para trás. E assim, subitamente, uma das melhores noites da vida de havia acabado do nada. Observou sua garota sair com o namorado e os outros rapazes rindo atrás deles. Suspirou pesadamente. Estava mesmo tudo muito bom para ser verdade. Abaixou-se para pegar seu paletó onde antes estava sentado e viu algo brilhar ali perto: um broche com as inicias GFE. Só então se deu conta de que, perdido na conversa tão incrível que tivera, nem se lembrara de perguntar o nome da garota ou lhe dizer o seu. Pensou então que aquele broche deveria ser uma pista: o que seriam três letras além de as iniciais de um nome? Apertou o enfeite na mão, determinado a descobrir quem era a garota que o fizera se sentir tão incrivelmente bem em apenas uma hora. E saiu sonhador, pensando que, talvez, a menina também o procurasse nos próximos dias. Afinal, não era possível que ela fosse continuar namorando um babaca como aquele tal de... como era mesmo o nome? Lobster? Não importava. Para o bem ou para o mal, iria encontrá-la.
xXx
Segunda-feira, 7h15 da manhã, primeiro dia de aula. esperava impaciente pela chegada de enquanto tomava um copo grande de café, em uma tentativa frustrada de despertar. Não tinha dormido bem à noite, em nenhuma noite do fim de semana, aliás, e agora estava sentindo na pele as consequências. Mas que culpa teria? Aquele rosto não saía de sua mente. Os olhos cobertos pela máscara, o sorriso brilhante, o cabelo liso e perfumado. A tal garota vinha sendo o motivo da insônia de há três dias. A missão do fim de semana seria procurá-la, achar pelo menos um nome, algo que pudesse relacionar a ela, mas tudo o que conseguiu foi frustração. Não achava que seria fácil encontrar uma garota específica entre quase cinco mil alunos que compunham as três escolas do grupo, mas também achava que conseguiria um resultado melhor com suas poucas habilidades de stalker. Agora esperava , ponderando se contava ou não ao melhor amigo a razão de ter sumido nos últimos dias. Com a mente em outro lugar, não ouviu seu nome ser chamado, muito menos o amigo se aproximar. Só notou a presença do rapaz quando este se jogou em suas costas, fazendo-o perder o equilíbrio.
- Pensando na morte da bezerra, mané? – ironizou, bagunçando o cabelo que caía nos olhos de , que rolou os olhos. – Bom dia, flor do dia. Animado pra HOWG High School? Por que nós vamos botar essa escola abaixo. - agarrou o pescoço de , abaixando-o. Alguns alunos que passavam olhavam estranho para os dois, outros nem percebiam sua presença.
- Sai fora, . – Desvencilhou-se . Começaram a caminhar em direção à escola, misturando-se aos adolescentes que chegavam. – Não acredito que fiz mesmo a burrada de me transferir para o mesmo colégio que você. – balançou a cabeça, ouvindo a risada do amigo.
- Burrada nada, você estava louco para se juntar ao papai aqui. Vem, vou te apresentar a galera. – empurrou para dentro do ginásio do colégio, onde havia ocorrido o baile do GFE na sexta. Inúmeros alunos falavam ao mesmo tempo, cumprimentando uns aos outros e colocando os assuntos das férias em dia. Nenhum fez nem menção de olhar em direção aos dois.
- Ninguém fala com você, . – revirou os olhos.
- É. Mas isso não quer dizer que eu não os conheça. Abigail Stewart – apontou para uma menina baixa que usava uns óculos de lentes grossas. – Líder dos Matletas. Brady OJ – um menino magrelo e loiro que batia duas baquetas no degrau onde deveria sentar – filho do maestro da banda, acha que é maestro também. – E assim foram subindo ao último degrau da arquibancada, com apontando vários alunos e citando algumas características de cada um. Fora inevitável não sentir pena do garoto, que conhecia todos os alunos, porém não tinha amizades. deixou-o falar até o diretor da escola aparecer, seguido de alguns professores e o time de rúgbi da escola, conhecido como o melhor da cidade. Um rapaz em especial o chamou atenção.
- Aquele é Carter Rogers, o capitão do time. É um babaca, mas muito bom no esporte. – Não fora o fato de que ele estava à frente de todo o time e todos o aplaudiam mais do que a qualquer outro jogador, mas algo em seu olhar parecia familiar, assim como seu nome. deu de ombros, sem conseguir decifrar o que era e passou a observar as líderes de torcida que agora entravam entoando o hino do time. Na liderança, uma garota magra, de cabelos lisos, chamava mais atenção que as outras. Novamente, sentiu uma sensação estranha de familiaridade sem conseguir decifrar o que era. Cutucou e apontou com a cabeça em direção da garota.
- Sem chances – o rapaz balançou a cabeça. – Aquela é . Simplesmente a rainha da porra toda. Ela é a líder de torcida mais bonita, mais rica e, consequentemente, a garota mais conhecida e popular do colégio. Se bem que ela é meio... paradoxal. – Viu franzir as sobrancelhas, claramente confuso. – Ah, tipo... Ela meio que quebra o estereótipo, sabe? Tudo bem, ela é a maior gata milionária, mas não é “patricinha” entendeu? Ela não fica só falando de unhas, roupas e rapazes. Pelo contrário, ela tira notas boas porque realmente estuda, participa do Conselho Estudantil por que tem interesse mesmo em atender as necessidades dos alunos e melhorar o ambiente escolar. E ela não ignora os outros, nem faz piadinha com ninguém. Aliás, já a vi corrigir alguns rapazes do time que zoavam um magrelo da banda. Ela não é fútil, sabe. Ela é foda. Mas... Namora o Carter Rogers. O que é meio contraditório. Mas novamente, ela é contraditória, então não faz diferença. – prestava atenção em tudo o que o amigo dizia, enquanto seu olhar passava de à Carter, e voltava a .
- Eles não parecem namorados. – Constatou, visto que enquanto as outras líderes de torcida cercavam o time, todas se assanhando aos rapazes, conversava com alguns professores e alunos separadamente. passou a olhá-la também, a tempo de ver Carter se aproximar dela falando algo e revirar os olhos, saindo de perto dele.
- Boatos de que eles terminaram no fim de semana. Ela pegou Carter com outra, podre de bêbado... Algo assim. De qualquer forma, não acreditei muito. Temos que observar como os dois vão agir agora que as aulas voltaram, para tirarmos nossas conclusões. – deu de ombros, passando a prestar atenção no que o diretor da escola começara a anunciar. também ouvia as palavras, mas não conseguia tirar os olhos de .
Após ouvir o discurso de boas vindas ao ano letivo do diretor, e se dirigiam à sala de aula, quando lembrou que o amigo sumira no fim de semana.
- Seu bocó, onde foi que tu se meteu na sexta-feira? Tive que voltar a pé pra minha casa por que você sumiu e esqueceu-se da minha carona. E tu sabes que minha casa não fica nem um pouco perto. E outra, eu tentei te ligar o fim de semana inteiro e tu não atendeu a porra do celular, nem viu minhas mensagens no whatsapp, nem no facebook. Que merda...?
- Ah, é. Esqueci-me da carona. – deu de ombros, lembrando do fim de semana louco que tivera. Começara tedioso, para passar a ser o melhor fim de semana de sua vida, para ser destruído e voltar ao tédio usual de sempre, com uma dose de frustração maior. Resolveu contar a o que havia acontecido, já havia perdido as esperanças mesmo. – Eu conheci uma garota.
- Ih, qual foi? Verdade mesmo? Finalmente Deus ouviu minhas preces e te desvirginou! – erguera as mãos ao alto, se acabando de rir.
- Para de ser idiota, . Não foi nada disso.
- Como assim? Não vai me dizer que vocês ficaram, sei lá, assistindo filmes o fim de semana inteiro?
- Eu não passei o fim de semana com ela, seu babaca. Posso contar o que aconteceu? – indagou, impedindo de falar besteira novamente. contou resumidamente o que acontecera na sexta e que passara o fim de semana procurando a garota, sem sucesso. revirava os olhos a todo momento, inconformado.
- Velho, você é muito burro! Finalmente uma mina te dá moral e tu nem pra perguntar o nome dela, seu animal!
- Não chama ela de “mina” – rolou os olhos, lembrando de como ela se prostrava forte em frente ao namorado ridículo. – Ela não gosta de ser chamada assim.
- Mano, tu é muito burro, na moral. – balançava a cabeça, incrédulo. – Tu não se lembras de nada dela? A fisionomia, o corpo, algum detalhe, sei lá.
- Ela tava de máscara, não tem como eu saber como é o rosto dela exatamente. Só o que eu lembro é do cabelo. Era tinha o cabelo escuro, acho que um castanho escuro, quase preto. Era liso, longo e... perfumado. Tinha um perfume muito bom. E ele cobria as costas dela... Chegava a ser sensual. – suspirou, lembrando de como fora bom tê-la em seus braços.
- Tá bom, Sr. Perfume Sensual. Se tu quer encontrar essa mina... Quer dizer, essa garota, tu vai ter que fazer melhor que isso. Só nessa escola tem tipo umas trezentas e cinquenta e sete mil garotas de cabelo escuro e liso, sem contar que no baile tinham alunas de três escolas. Então melhora aí. Ela não deixou nada pra trás que a gente possa relacionar a ela?
- O broche! – fitou curioso, enquanto ele remexia sua mochila. – Depois que ela saiu com o cara lá, eu fui pegar meu paletó onde a gente sentou e encontrei um broche com três letras. Só pode ser a inicial do nome dela, certo? Foi a partir disso que eu tentei procurá-la, mas não achei em nenhuma rede social existente nesse mundo. – terminou, pegando o broche para mostrar ao rapaz que se mostrava animado, mas murchou os ombros no momento em que colocou os olhos no tal adereço.
- Cara, mas você é muito do burro mesmo. – pegou o objeto prata das mãos de , para olhar melhor. – GFE. Tu não tens a mínima ideia do que significa? É “Grupo Fortune de Educação”, mané. Eles entregaram isso a cada aluno que entrava no baile de sexta. – revirou os olhos. - É óbvio que tu não ia encontrá-la nunca a partir dessa sigla, a não ser que ela se chame Gertrudes Ferreira Etevalda, ou algo do tipo. – deu de ombros, jogando o broche de qualquer jeito ao amigo. o olhava inexpressivo, sem saber o que dizer.
- É sério isso? Eu passei o fim de semana inteiro procurando por um nome inexistente?
- Sim, mané. – riu, recomeçando a caminhada.
- E agora? Digo, o que eu faço? Essa era a minha única pista, como eu faço pra encontrar aquela garota?
- Olha, a não ser que haja alguma intervenção divina e você trombe com ela em algum corredor e a faça se apaixonar à primeira vista pelo idiota que você é, eu não sei te dizer. Na verdade, até sei: tu podes subornar alguma velha da secretaria pra te deixar entrar no sistema da escola e puxar as fichas de todas as meninas matriculadas em alguma das três escolas do GFE. Aí tu vais tentando encontrar uma por uma pessoalmente pra ver se acha. Daqui uns 50 anos, mais ou menos, acho que tu termina a busca. Aí me diz se deu resultado ou não. Beleza? – se encostou no batente de uma porta, rindo da cara fechada de . Era inacreditável a estupidez do rapaz. – Aqui é a tua sala, mané. Biologia, né? Boa sorte. Vou nessa. – Saiu, deixando atordoado. Passara horas tentando procurar um nome que não existia, e agora mais do que nunca perdera a esperança de encontrar a tal garota. Bufou irritado, abrindo a porta da sala. Pra melhorar o seu primeiro dia de aula ali, estava atrasado e tanto o professor como todos os alunos voltaram seu olhar a ele. Lançou um sorriso amarelo ao homem na frente da classe enquanto se dirigia a uma carteira vaga no fundo da sala. Assim que sentou e colocou os cadernos na mesa, percebeu o olhar curioso da tal líder de torcida em sua direção. Ela devia estar o analisando por ele ser aluno novo e ela membro do Conselho Estudantil, algo assim. Desviou o olhar e tentou prestar atenção à explicação que o professor retomara, ainda incrédulo por não ter perguntado o nome da garota de sexta. tinha razão, ele era muito idiota.
acordara atordoada. Não tinha entendido muito bem o que havia acontecido no fim de semana: em dois dias tinha discutido pra valer com Carter e terminado o namoro, enquanto ainda tentava compreender os acontecimentos de sexta. Quem era aquele rapaz? Como conseguiram criar um elo tão inexplicável naquele tempo em que ficaram conversando? contara coisas de sua vida que nunca havia contado a ninguém, por que ele a passava confiança e segurança. Algo naqueles olhos claros a faziam esquecer-se de qualquer coisa que a pudesse incomodar; a cumplicidade fora tão instantânea que nem mesmo precisaram saber o nome um do outro, detalhe que agora se arrependia profundamente de não ter prestado atenção. Tentou até pesquisar no facebook se achava um perfil que poderia se adequar a ele, mas não obteve sucesso. Chegou à conclusão de que ele era de uma das outras duas escolas que participaram do baile e se conformou com a ideia de que talvez nunca o encontrasse. Saiu do banho cansada, querendo apenas voltar a dormir. Enquanto vestia o uniforme de líder de torcida, ouviu o celular tocar, com Carter a ligando pela enésima vez. Ela o dera um fora no sábado e ele passara todo o domingo a ligando e tentando entrar em sua casa, mas não o queria ver nem que estivesse pintado de ouro. Ignorou a ligação e aproveitou para excluir o número, colocando-o na lista de chamadas a serem rejeitadas automaticamente. A partir de hoje, diminuiria o contato o máximo possível, interagindo com o rapaz apenas na escola, caso fosse necessário. E assim o fez, durante toda a manhã. Na única vez em que Carter tentou cercá-la, no começo da cerimônia de boas-vindas aos alunos, pedira licença aos professores com quem conversava e se desvencilhou de Carter, afastando-se, sem não antes o pedir para que a deixasse em paz. Agora sentada em sua carteira esperando a aula de biologia começar, sentia os olhares sobre si e tinha certeza que os burburinhos giravam em torno dela. Teria mesmo e Carter Rogers terminado o namoro? Mas eles não eram o casal ícone da escola? O capitão do time de rúgbi e a capitã das líderes de torcida? Por incrível que parecesse, não se sentia mal em quebrar o clichê. Pelo contrário, sentia-se leve, sentia-se livre. Desligou o celular após a trigésima mensagem de uma de suas companheiras cheerleaders procurando saber se o boato era verdadeiro. suspirou pesadamente, sabendo que nenhuma delas procurava saber se ela estava bem, ou como estava passando. sabia que agora ela era apenas um empecilho a menos para elas chegarem até Carter Rogers, sonho de consumo de todas elas. “Vão com Deus”, pensou. Jogou o celular na bolsa enquanto o Sr Leminski dava as boas vindas e começava a introduzir a citologia, matéria que seria estudada no mês seguinte. Quase dez minutos de muita fala nasalada do professor, alguém abrira porta subitamente, captando a atenção de todos dentro da sala. Logo entrara um rapaz desconhecido, provavelmente um aluno transferido, que dirigiu um sorriso envergonhado ao Sr Leminski. passou a prestar atenção nele, fazendo uma anotação mental de que deveria repassar a informação ao Conselho, para que ele fosse bem recebido HOWG. Entretanto, quando o rapaz sentou-se e retribuiu o olhar, sentiu o corpo formigar, sem motivo aparente. O rapaz desviou o olhar, mas aquela sensação continuou. De alguma maneira, ela parecia conhecer aquele par de olhos claros.
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Duas semanas na nova escola foram o suficiente para se adaptar. Agora já sabia chegar aos lugares sem se perder ou se atrasar, e também já se acostumara a andar como um fantasma, visto que não havia feito novas amizades e ninguém dava bola a , que sempre estava com ele. Consequentemente, ninguém dava bola a ele; o que era bom, de certa forma. Como não fazia parte de nenhum grupinho, não era rotulado de nada e passava fora dos radares dos valentões. Duas semanas também foram o suficiente para que desistisse de tentar encontrar a garota do baile. Não a havia esquecido por completo, afinal por várias noites sonhava com ela, mas parou de tentar quando soube que haviam 2.957 garotas matriculadas em toda a rede escolar da GFE. Apesar da ajuda de , seria impossível encontrá-la, portanto contentou-se em vê-la apenas em seus sonhos, sempre com o perfume bom de seu cabelo liso e, em todas as noites, o fim era bem diferente do que havia realmente acontecido naquela fatídica sexta. Entrou na aula de biologia, com o livro em mãos e, mais uma vez, fora acompanhado pelo olhar de . Era sempre assim: quando se encontravam na sala ou pelos corredores, sempre o estava olhando como se tentasse o reconhecer. achava que era coisa da sua cabeça, pois ela também lhe era familiar, portanto tentava ignorar sempre. A garota nunca tinha lhe dito um “oi”, nem mesmo quando alguns dos alunos do Conselho o deram boas-vindas e ela estava junto. também não tentara se aproximar, visto que a menina nunca estava sozinha, quando não estava acompanhada das amigas cheerleaders, eram professores, membros do Conselho Estudantil ou quaisquer outros alunos, mas nunca estava sozinha.
Enquanto isso, estava quase queimando alguns neurônios, tinha certeza, de tanto que se esforçava para tentar reconhecer aquele olhar e saber de onde o conhecia. Os olhos claros de eram familiares, mas seu rosto não, o que dificultava as coisas e a confundia. Toda aula de Biologia – a única que os dois tinham juntos – era a mesma coisa: ele chegava depois dela e ela passava a encará-lo. Já havia perdido a vergonha há dias, e tinha certeza que ele a achava maluca. Nunca lhe disse nada, mas sempre o encarava, sem adiantar de nada. Balançou a cabeça tentando ouvir as palavras do Sr Leminski, mas sua mente não queria colaborar. Não percebeu os minutos passarem e levou um susto quando o sinal bateu, dando-se conta de que não tinha anotado nem uma vírgula da matéria. Saiu da sala em direção ao gramado que cobria uma parte de um dos pátios menos movimentados da escola, a fim de terminar a leitura de um livro que emprestara da biblioteca. Ia aproveitar o horário vago entre as duas aulas sentada debaixo de uma árvore, quando escutou uma risada bem conhecida, que tentava esquecer. Carter e mais dois rapazes do time passavam por ali, cada um com uma garrafa de cerveja na mão. Rezou para que nenhum deles a visse, pois estava a todo custo tentando evitar entrar em contato com Carter, mas algum ser divino quis zoar com a cara dela. Carter virou o rosto para cuspir na grama quando a enxergou, apoiada na árvore. Ficou sério na mesma hora e se dirigiu em sua direção. nem fez questão de levantar o olhar, ignorando-o, mas Carter arrancou o livro de sua mão.
- Ei! Ficou louco? – gritou, visivelmente irritada.
- , chega dessa porra de joguinho. Agora tu vai parar de me ignorar e vai falar comigo.
- Eu não estou fazendo nenhum joguinho, Carter. – revirou os olhos. – Não tenho nada pra falar com você. Nós terminamos, já deu o que tinha que dar.
- Eu não terminei com você! – Carter gritou, fazendo-a encolher-se involuntariamente. Os outros dois garotos ficaram uns dois metros afastados. – Levanta essa bunda daí, eu não terminei nada com você e você vai me ouvir! – Pegou-a pelo braço levantando-a a força. começara a se preocupar, não havia ninguém no pátio além dos quatro. Não acreditava que Carter a machucaria de verdade, mas temia uma resposta contrária. Desvencilhou-se da mão dele, tentando manter a voz firme.
- Que porra, Carter! O que você quer dizer? Vai, desembucha! Seja o que for, eu não vou ligar, por que eu não quero saber e eu não dou a mínima.
- Você se acha muito superior, . – ele debochou. – Você acha que pode simplesmente me chutar pra fora da sua vida como se eu fosse à porra de um vira-lata? Lembre-se que sem mim você não é ninguém nessa escola! Por minha causa você é líder de torcida, por minha causa você faz parte do Conselho Estudantil, por minha causa todo mundo lambe o chão que você pisa. Você não é nada além de namorada do capitão do time, . Eu ainda estou te dando à chance de deixar de ser idiota e voltar pra mim, por que assim como eu elevo a tua moral eu posso abaixar ela em dois toques.
- Você me subestima demais, Rogers. E o único idiota aqui é você. Eu sou capitã das líderes por que eu sou a melhor na ginástica, e tenho as melhores ideias de coreografias. Eu faço parte do Conselho por que eu me esforço pra manter minhas notas acima da média, ao contrário de você que sempre tá capengando em prova final e só não reprova por que se esconde na barra da saia do treinador, que não deixa ninguém te reprovar pro time não te perder. E se todo mundo da escola me adora, é por que eu tento ser legal com as pessoas, sem rebaixá-los por qualquer coisa ou ser imbecil como você e seus amiguinhos são.
- Você perdeu a noção do perigo, sua vagabunda? – Carter empurrou contra a árvore, cercando-a com seus braços e impedindo sua saída. não queria, mas começou a tremer. – Você não tem noção do que tá fazendo, . Você não passa de uma guriazinha qualquer que as gurias querem derrubar por inveja, e que os homens só querem te comer por uma noite. Você não é isso tudo não que você tá pensando que é, baixa a tua bola. Eu fiz você chegar aonde chegou e seja o que for que pôs essas ideias na tua cabeça, tá errado. Você não é merda nenhuma sem mim, merda nenhuma! – Carter gritou no rosto de , fazendo-a engolir em seco. Tentava pensar em algo que pudesse fazer para sair correndo dali, mas o olhar possessivo de Carter parecia prendê-la no tronco da árvore. Quando pensara em baixar a guarda e tentar se render ao pensamento de Carter, alguém chegou ao seu lado, com a voz séria.
- Cara, que viagem é essa? Solta a menina. – Carter virou o rosto em direção à voz desconhecida, sem mexer um músculo. aproveitou para olhar a pessoa de canto, sem acreditar no que via.
- Vaza daqui, moleque, não vem meter o nariz onde não é chamado.
- Eu tô vendo a cena faz tempo. Você tá machucando a menina, cara. Solta ela. Eu não vou falar de novo – retrucou, fazendo Carter rir de deboche. Balançou a cabeça e soltou os braços, tirando-se de cima de .
- Você tá achando que tá falando com quem, imbecil?
- O único imbecil aqui é você. Deixa a menina ir embora, pega alguém do seu tamanho pra tentar machucar. – soltou a mochila no chão, e arregalou os olhos. Apesar de não terem muita diferença na altura, Carter era muito mais forte que , devido ao rúgbi. tentou impedi-lo de fazer besteira, mas não conseguia falar nada. Carter fez menção de fazer meia volta, mas partiu com tudo para cima de .
- Você pediu por essa, mané. – Lançou um soco que alcançaria o olho direito de , se ele não tivesse levantado o braço em defesa. se moveu para a esquerda e atingiu um soco no estômago de Carter, fazendo-o curvar-se. já havia visto o ex namorado brigar algumas vezes, mas nunca com o ódio que estava no momento. Carter atacou novamente e os dois caíram no chão, engalfinhando-se. O instinto de era sair gritar, correr por ajuda, mas nada conseguia fazer. Tremia no lugar em que estava e começou a ver gotas de sangue manchar a grama, sem saber de quem era ou quem batia em quem. Num esforço muito grande, gritou aos dois amigos de Carter.
- Vocês não vão fazer nada? Façam-nos pararem! – Os dois grandalhões se olharam, e um revirou os olhos. Foram então apartar a briga, segurando Carter.
- Vamos, cara. Tu já deste uma lição nele, deixa ele pra lá. Se tu aparecer machucado no treino o treinador te arrebenta. Vamos. – um deles falou, enquanto levantavam Rogers. se levantou no mesmo instante, cuspindo sangue, mas por um motivo que não entendia, Carter parecia muito pior que ele.
- Eu ainda te pego, filho da puta. Isso não termina aqui. – resmungou, empurrando um dos rapazes que o segurava pelo ombro. Cuspiu na grama e saiu cambaleando, porém antes de se afastar chutou a bolsa de , espalhando todo seu material pelo gramado.
- Eu não acredito nisso. – correu ao encontro de , que cobria a boca. – Você está bem? Você ficou maluco? Quem mandou você se meter? Eu tinha tudo sob controle! Você se machucou muito? Deixa eu ver sua boca! – tremia, procurando machucados no rosto de . Ele riu baixo com o desespero da menina e levou um tapa leve no braço. – Você tá rindo de mim? Não dê risada de mim! Você tem noção de como eu estou nervosa? Eu não acredito que você fez isso!
- , calma! Tá tudo bem. Não estou tão machucado assim. E é melhor eu estar sangrando do que você. – ele deu de ombros, segurando as mãos de .
- Carter não me machucaria... – respondeu, mas nem a si mesma conseguiu convencer. a olhou duvidoso, e ela corou, envergonhada. Suas mãos ainda tremiam quando as soltou.
- Tá tudo bem, foi só um corte no lábio. Relaxa. – Olhou para a menina que o observava atônita. Dessa vez, não disse nada. Agora que sua ficha havia caído, só agora ela percebia que talvez quem apanhasse teria sido ela. Nunca se sentiu com tanto medo, tão vulnerável. sempre parecia forte perante os outros, mesmo que estivesse morrendo por dentro. Naquele momento, entretanto, não conseguiu segurar. Seu olhar estava vago e algumas lágrimas começaram a rolar por suas bochechas sem que percebesse. porém percebera, e, num gesto sem pensar, a puxou contra si. – Shhh, tá tudo bem. Já passou. – agora soluçava, encharcando a camiseta de . Ele passava levemente a mão nas costas da menina, que nunca vira tão frágil antes. Ficaram um bom tempo naquela posição, até se acalmar e conseguir respirar melhor. sorriu com ternura, secando o rosto dela. – Já passou, viu? Tá melhor agora? – concordou com a cabeça, sorrindo de volta.
- Obrigada. Por... tudo. Por aparecer na hora certa, por intervir mesmo sem me conhecer. Se fosse outra pessoa, duvido que me ajudasse. – abraçou a própria cintura, sentindo-se melhor. deu de ombros, ainda sorrindo.
- Estou ao seu dispor, madame. – Riu, abaixando-se para recolher os pertences dela que foram espalhados por Carter. começou a recolhê-los também, em silêncio. Quando todos os cadernos e papeis estavam em sua mochila, viu um livro jogado mais ao longe e fora buscar. Sorriu ao ver a capa. – O Mar de Monstros. Percy Jackson. Adoro essa saga.
- Pois é. Alguém me indicou um tempo atrás, e estou gostando também. Devorei O Ladrão de Raios em três dias. Nenhuma me prendeu tanto quanto a Saga Crepúsculo. – riu, dando de ombros.
- Crepúsculo? Puts. Que bom que você está lendo PJO então. A mitologia grega é mil vezes mais interessante que um vampiro-fada. – deu risada da expressão afetada de .
- Ei, não fale do meu Cullen! Gosto é gosto, oras. – deu de ombros, rindo também.
- Eu sei, só estava brincando. – tentou intervir. – Na verdade eu vi os filmes com a minha avó... não é tão ruim assim. – Abaixou-se para pegar sua mochila enquanto uma luz pareceu estalar na mente de . Olhou-o atônita, sem saber como reagir. Se fosse verdade, seria, muita, muita coincidência. – Que foi? – percebeu o olhar engraçado da menina. abrira a boca para falar duas vezes, sem sucesso. Na terceira, perguntou:
- Posso te fazer uma pergunta? Não me leve a mal se for muito pessoal, mas...
- Eu acabei de levar alguns socos por você. – revirou os olhos. – Claro que pode.
- Por acaso... Você tem pais? – franziu as sobrancelhas, achando estranho a pergunta.
- Não, não tenho. Eles morreram quando eu era criança, o helicóptero em que eles estavam...
- Caiu. – Completou , rindo desacreditada. – E você mora com a sua avó desde então.
- Como você... – Agora quem tinha o olhar engraçado era . Como a garota sabia disso?
- Eu não acredito nisso. ! – riu, ainda sem acreditar. – Você não se lembra? Do baile. O baile de máscaras que fizeram em comemoração a fusão das três escolas do GFE, aqui na Hathaway High School. Carter tinha me incomodado a noite inteira e eu estava sentada no escuro perto dos quiosques, lá do outro lado da escola. E do nada você chegou... Era você, não era? – tinha uma expressão indecifrável no rosto. Um misto de incredulidade, alegria, espanto. ainda a olhava estranho, mas seu olhar subiu ao seu cabelo e logo desceu ao seu corpo, deixando-a levemente envergonhada. Quando olhou-a nos olhos novamente, tinha a mesma mistura de emoções no rosto.
- Eu não acredito nisso! Era você! Foi você que me chamou de hipócrita preconceituoso, foi com você que eu dancei Thinking Out Loud, foi... foi o Carter que apareceu do nada e te tirou de mim! Foi você... Era você o tempo todo, essas duas semanas sentando perto de mim nas aulas de biologia...
- Eu te encarava por que conhecia os seus olhos. Só não sabia de onde... – respondeu sem jeito.
- Eu também te achava familiar! Desde o primeiro dia de aula, eu achava você e o Carter familiares, mas não conseguia de jeito nenhum saber porquê. Você tem noção do quanto eu te procurei em tudo quanto é rede social naquele fim de semana?
- Eu também procurei você! – riu. Na empolgação os dois agora praticamente gritavam, enquanto lembravam-se do tal fim de semana. – Mas eu não fazia ideia de como seria o seu nome, nem por onde começar... Aí eu desisti.
- Eu cheguei... Eu sonhei com você – baixou a voz, levemente envergonhado. – Eu sonhei com um fim de noite totalmente diferente do que aconteceu. Eu cheguei a pegar a lista de alunas matriculadas no GFE, mas desisti de verdade quando vi que eram quase três mil pessoas diferentes... – balançava a cabeça, com uma expressão engraçada. – Inacreditável. Era você o tempo todo, do meu lado. – sorriu mostrando os dentes, o mesmo sorriso que acompanhava todos os dias mas que ele não prestara atenção.
- Você... você sonhou comigo? O quê? – Perguntou ela, curiosa.
- Quem sabe um dia eu te conto. – deu de ombros. Riu mais uma vez, sem acreditar. Passou dias pensando na garota do baile para descobrir que ela sempre esteve ali, ao seu alcance. Toda essa dificuldade por que não sabia o nome dela... – Prazer, garota do baile. .
- O prazer é todo meu, hipócrita que veste Armani. . – revirou os olhos, mas seu sorriso bobo não deixava dúvidas que ele não estava bravo. Muito, muito pelo contrário. Estava extasiado. Olhou as pequenas folhas manchadas de vermelho no chão onde pisava e sorriu.
- Agora você não me escapa mais, . Nunca mais. – sorriu em resposta. Começaram a seguir o caminho de volta à sala de aula, mas não assistiram mais nenhuma. Foram parar em um restaurante para almoçar, depois às quatro da tarde em uma sorveteria, logo mais a noite estavam sentados no banco de um parque, um de frente ao outro. Toda aquela cumplicidade de sexta-feira voltara com força total. Eles se sentiam seguros, confortáveis, absortos de qualquer detalhe ao seu redor. Conversavam sobre tudo e todas as coisas e mesmo assim ainda tinham assunto para meses de conversa. No fim do dia, ao deixar na frente de sua casa, sentia que a conhecia há uma vida inteira, ao invés de dois dias apenas. Ele estava decidido a nunca deixá-la sumir de vista outra vez, e a recíproca era verdadeira. Sorrindo, desejou boa noite a garota que, aproximando-se do rapaz, tirou a franja de seus olhos claros e selou seus lábios com um beijo doce, regado a sorrisos. segurou alguns fios do cabelo liso, perfumado e sensual, que voltara às suas mãos. Finalmente, uma peça do quebra-cabeça de sua vida encontrara seu lugar certo.
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já havia perdido as contas de quantas vezes tinha perdido o amigo de vista e ele reaparecera do nada, às vezes gritando algo em seu ouvido, às vezes apenas dançando vergonhosamente em sua frente. Para a ideia de o baile ser mascarado tinha sido incrível, afinal, o rapaz nunca tinha curtido tanto o high school como estava curtindo naquela noite. Já não conseguia ser muito diferente do que era sem algo cobrindo seu rosto. "Você pode ser qualquer outra pessoa", dissera, mas sentia mais dificuldade ainda em se enturmar com todos aqueles adolescentes bêbados, suados e mascarados. A ideia de não saber quem estava por trás do adereço não o agradava, na verdade o angustiava. Juntando a música extremamente alta, o alto número de pessoas por metro quadrado e o calor infernal que ele estava passando debaixo daquele terno no ginásio fechado, a noite de só tendia a piorar. Mais uma vez desaparecera de vista, deixando o amigo frustrado estacado no mesmo lugar. Entretanto estar ali há tanto tempo pareceu não ser o suficiente para alguém em particular vê-lo, visto que levara um tremendo empurrão de quem passava quase correndo pelo local.
- Ouch! - Exclamou, passando a mão em seu ombro atingido. A culpada nem tentara olhar para trás e pedir desculpas, o que fez bufar irritado, observando apenas a cauda de seu vestido se perder no meio da multidão em que ela entrava. Descontente, resolveu que de nada adiantava ficar na festa parado feito estátua; não conseguia se divertir no ambiente e nem se daria o trabalho de tentar. Reabasteceu então seu copo de refrigerante e decidiu caminhar fora do ginásio, a fim de tomar um ar e conhecer um pouco do espaço da Hathaway OWG High School.
Carter era um idiota, e mais uma vez estava irritada com o rapaz. Sempre pensando em favorecer a si mesmo, nunca pensando minimamente na namorada. Seu modo de agir só piorava quando estava com seus amigos: um bando de moleques sem maturidade, que se acham a última coca-cola do deserto apenas por serem titulares no time de rúgbi do Colégio. Eram também titulares no time dos filhinhos de papai arrogantes e mimados; pelo menos na concepção de . Então, quando Carter desviou a rota e a informou de que se atrasaria para chegar ao baile por que ia passar em um esquenta na casa de um dos rapazes do time, bufou frustrada e sentiu que sua irritação só estava começando. Claro, se contasse as várias mancadas que Carter havia dado no último mês, sua irritação já estaria passando dos limites aceitáveis, mas essa noite seria de festa e, tentaria curtir ao máximo. Quando foi anunciado um baile de máscaras no início das aulas em virtude da fusão de três grandes escolas da cidade, sentiu sua empolgação ir a mil. Ela adorava festas e finalmente teria a oportunidade de participar de um baile de gala e ainda por cima onde todos usariam máscaras, assim como um baile próprio da corte nos tempos mais antigos. Carter sabia da sua empolgação com esse dia, e ele não seria louco de tentar estragá-lo. Porém, já começou a se decepcionar antes mesmo de chegar ao ginásio da HOWG High School. Seu namorado continuava a agir como um babaca e a presença de seus comparsas só pioravam as coisas. O baile em si ela não conseguia aproveitar desde que havia chegado, visto que tudo o que Carter fazia era beber com os amigos e fazer piadas de mau gosto com tudo e todos. Bufou irritada mais uma vez, cruzando os braços enquanto observava a pista de dança repleta de adolescentes se divertindo.
- Tá com cara de bunda por quê? – Questionou Carter, subitamente dando atenção à namorada.
- Eu não vim aqui pra fazer cosplay de estátua do seu lado, Carter. Só que você não sai de perto desses idiotas nem pra falar comigo direito.
- Eu não tô te prendendo aqui, . Para de ser chata. – O bafo de álcool que saía da boca do rapaz estava suficiente para embebedar a própria namorada.
- Eu não vou sair sozinha, Carter. Poxa eu te falei que estava animada pra essa festa, e você disse que nós íamos aproveitar juntos. – declarou, olhando-o com raiva. Se olhar pudesse matar, Carter já estaria só o pó aos seus pés.
- Vá curtir a festa como as garotinhas fazem, Rogers. – um dos abutres ao redor de Carter gritou, fazendo-o fechar a cara.
- Não enche o meu saco, . Vá fazer algo que mude essa sua cara de bunda. Menina chata da porra. – Resmungou, saindo para pegar mais bebida enquanto ficava para trás com o queixo caído. Não a entenda mal por não revidar. Ela havia ficado sem reação, pois Carter nunca havia a desrespeitado tanto enquanto eles namoravam. Ele estava diferente ultimamente, mas em nenhum dia tinha sido tão grosso, e ela tinha certeza que não tinha feito nada que pudesse justificar seu comportamento. Engoliu em seco e saiu batendo os pés, a fim de fazer exatamente o que o namorado tinha falado. Era uma festa, afinal de contas. Mas nem uma de suas músicas preferidas que estava saindo dos auto falantes foi o suficiente para animá-la, o que só aumentou sua frustração. saiu apressada da pista, sem prestar atenção em nada em seu caminho; só queria sair daquele local abafado a procura de ar fresco. Não parou nem para pedir desculpas a alguém plantado no meio do caminho, em quem deu um baita tropeção. Apenas seguiu entre as pessoas, procurando a saída. Caminhou em direção a um dos quiosques longe do ginásio, que na teoria serviam para os alunos estudarem, porém geralmente quem frequentava aquela parte da escola eram adolescentes que matavam aula para beber ou fumar escondidos ali. Sentada em um canto sem qualquer iluminação, tentava a todo custo pensar no que poderia causar uma mudança tão súbita de humor no namorado, sem sucesso. Há dias estava se sentindo insegura quando ficava perto de Carter, e não poder conversar com ninguém sobre seu comportamento estava esgotando-a. geralmente não levava uma resposta atravessada e se calava, pelo contrário. Não levava desaforo para casa e não pensava duas vezes antes de retrucar alguém, mas o modo como Carter havia sido agressivo a deixara tão atônita que ela não sabia o que fazer, ou pensar. Era certo que não morria de amores por Rogers, mas estar com ele até o momento era bom. No começo ele a respeitava, e era uma boa companhia ter ao lado. Com o passar do tempo ele foi revelando o seu verdadeiro eu, que até o começo da noite pensara poder suportar. Suspirou, sentindo a garganta apertar. Carter havia arruinado completamente uma noite pela qual ela esperara há meses, e não fazia a menor questão de perceber ou suavizar a situação. Apoiou os cotovelos nos joelhos e cobriu o rosto com as mãos, respirando fundo para não chorar ou para não voltar à festa e armar uma cena no meio de todos aqueles adolescentes. Ser mal falada por toda a sua escola e outras duas que nem conhecia não era o que ela precisava no momento; tinha uma reputação a manter. Portanto apenas tentou acalmar seu coração acelerado e clarear a mente, a fim de descobrir o que fazer com Carter. Aguçou os ouvidos quando começou a escutar alguns passos em sua direção, sem levantar a cabeça. Os passos cessaram de repente; começaram a se aproximar e pararam novamente. Quem quer que fosse talvez estivesse na dúvida se se aproximava ou não dela. Ouviu um suspiro pesado e os passos mais perto.
- Pelo tanto de gente lá dentro, achei que eu fosse o único sem aproveitar o baile. – Falou uma voz masculina. levantou a cabeça lentamente, enxergando uma silhueta a sua frente. Não conseguia distinguir traços específicos, mas o garoto segurava um copo na mão esquerda e o paletó com a mão direita, jogado por cima do ombro. Achou sua voz bonita, mas sabia que não era de nenhum aluno que conhecia. Deu de ombros, encostando as costas na parede.
- A noite meio que não saiu como o planejado. – sorriu de canto. O rapaz curvou um pouco a cabeça para o lado, parecendo ponderar algo.
- Menina: confere. Bonita: confere. Solteira: confere. Aluna: confere. Não consigo imaginar um plano de festa dando errado com você. – Deu de ombros, fazendo rir.
- Como você sabe que eu sou bonita nesse breu? Eu só consigo ver a sua silhueta.
- Sua voz é bonita. Então eu imagino que você também seja. – Deu de ombros novamente.
- Essa é uma técnica bem duvidosa. E eu não sou solteira. – confessou, recebendo um breve silêncio como resposta.
- Seu namorado não ter vindo ao baile faz parte do seu plano ter dado errado?
- Quase. – suspirou. Dois segundos foram o máximo de tempo que conseguira tirar Carter da mente. – Na verdade ele veio. Está lá dentro com os amigos. – concluiu, recebendo silêncio como resposta novamente, porém maior dessa vez. O garoto olhou para os lados e voltou o olhar para ela de novo. Ficou observando-a, pensando em algo. Balançou a cabeça como se negasse seu próprio pensamento e finalmente sentou ao seu lado, ainda em silêncio. Ótimo. Tudo que precisava agora era de alguém com pena da sua situação ridícula. Pensou em levantar e sair daquele silêncio incômodo, quando o rapaz estendeu o copo em sua direção.
- Com sede? – olhou para o copo, sem conseguir identificar o conteúdo. O garoto parecia amigável, mas não sabia seu motivo para estar perambulando por aqueles lados da escola. Decidiu não arriscar, apesar de que alguma bebida cairia bem.
- Não, obrigada. – voltou o olhar para frente, em direção aos quiosques.
- Sabe, nunca tinha ido a uma festa antes. Acho que é por isso que não consegui ficar muito tempo lá dentro. O som é muito alto. E tipo, é muita gente junta num espaço. Muita gente. – não conseguia ver, mas podia apostar que ele fazia uma careta. Deu risada do seu tom de voz, achando engraçado que um rapaz de 17 anos não gostasse de festas. Ela achava que essa era a idade dele, pelo menos.
- Eu gosto de festas. Sempre sou convidada e sempre vou. É bom para desestressar, sabe? Estar no meio da pista e não pensar em mais nada, apenas em mexer o corpo no ritmo da música que estiver tocando. – Apoiou a cabeça na parede, erguendo o queixo.
- Se você está aqui fora sozinha no escuro então seu namorado deve ter te estressado pakas, né? – disparou o desconhecido, fazendo endireitar o corpo subitamente. – Merda, me desculpa! Eu não queria dizer isso, sério. Escapou sem querer. – Seu tom de voz era de arrependimento, mas não bastou para que a mágoa de diminuísse. Suspirou pesadamente, ponderando se contava o que havia acontecido ou não. Se omitisse nomes, o rapaz nunca descobriria quem era ela, ou Carter; provavelmente ele era de uma das outras duas escolas convidadas para o baile, pois ela tinha certeza de que ele era desconhecido. E bem, conhecia praticamente todo mundo de sua escola. Ser a capitã das líderes de torcida lhe dava essa oportunidade.
- Não, tudo bem. Você está certo, na verdade. – revirou os olhos, mesmo sabendo que ele não poderia ver.
- Você não precisa explicar se não quiser. – o rapaz replicou, vendo-a dar de ombros. fez menção de falar algo, mas logo se calou, o que o fez perceber que ela estaria em um conflito interno, talvez. Precisava pensar em algo que desviasse sua atenção e a animasse um pouco, afinal, ela parecia ter uma noite bem desagradável, enquanto ele apenas não curtia o clima de festa. – Sabe, continuo não gostando de festas, principalmente as de escola. É só mais uma oportunidade para os populares vestirem as melhores roupas, chegarem com os melhores carros. E a parcela mais excluída de adolescentes toma um baile escolar como uma oportunidade de se igualarem àqueles que os ignoram, como se usar roupas de marca uma vez os fizesse crescer na hierarquia escolar, ou algo do tipo. Chega a ser ridículo, na verdade. – Ele não podia ver, mas fazia cara de descrença, achando graça do discurso do rapaz.
- Nossa, que amargura nesse coração. Deixe-me adivinhar, você faz parte de algum grupo que consideram excluído e é daqueles que odeiam os “populares” – fez aspas com os dedos para que ele visse – da sua escola?
- Odiar é uma palavra muito forte. – deu de ombros. – Só os acho... desnecessários. Exagerados.
- E quem você tem por “populares”? – questionou a garota.
- Normalmente o pessoal do time da escola. As líderes de torcida, claro. Sempre a galera rica. Alguns nerds que, por serem mais bonitos que a maioria dos outros nerds conseguem alguns cargos importantes, tipo ser membro do Conselho Estudantil. Esse tipo de gente.
- E por que você fala como se fazer parte de algum desses grupos torne alguém ruim?
- Ah, não se faça de inocente. Você sabe que essa gente ignora o resto da sociedade, e fazem parte de um grupo seleto em que não é qualquer um que pode entrar. Aliás, os jogadores e as cheerleaders sempre são filhinhos de papai, então isso diminui ainda mais o círculo.
- Ah, pera aí. – levantou a mão, quase zombando do rapaz. – Se você está aqui nesse baile quer dizer que você é aluno de alguma das três escolas do Grupo Fortune de Educação. E se você é aluno de uma dessas escolas você também é rico, afinal, as três são particulares e a mensalidade não é nada barata.
- Você esqueceu que eu posso ser bolsista. – ponderou ele.
- Você não é bolsista. – afirmou .
- O que te faz ter tanta certeza?
- Você está vestindo um terno Armani, cabeção. – apontou para a etiqueta do paletó do rapaz, que agora estava jogado em seu colo. – Você não é bolsista. – concluiu, com um sorriso no rosto.
- Como você sabe que é um Armani? Não dá pra ver nada nessa escuridão.
- Isso não é verdade. Eu consigo ver um pouco da sua máscara. Ou ela é prata ou dourada, por que às vezes dá pra ver um pequeno reflexo. Dá pra ver também que a sua gravata é clara, só não consigo distinguir a cor. – deu de ombros, sorrindo. também podia dizer exatamente a direção em que o rapaz olhava a qualquer momento e podia afirmar que ele tinha olhos claros e que eram destacados pela máscara, apesar de esse detalhe parecer íntimo demais para ser compartilhado em voz alta, portanto segurou esse pensamento para si, ao contrário do garoto.
- Você tem razão. Eu consigo ver alguns brilhos do seu vestido, mas nenhum se compara ao seu sorriso. Apesar de escuro, consigo ver quando você sorri mostrando os dentes. Ele é lindo, aliás. Seu sorriso, não seu dente. – completou, fazendo-a rir ainda mais. agora torcia para estar escuro o suficiente para que ele não visse suas bochechas corarem de vergonha. Voltou o olhar para frente, tentando se lembrar do assunto anterior.
- Afinal, você está vestindo um Armani. Isso prova que você é um hipócrita preconceituoso, que tira conclusões das pessoas apenas por uma posição no High School.
- Ouch – o rapaz colocou a mão no peito. – Essa doeu. – sorriu e deu de ombros, vencendo a pequena discussão. Os dois voltaram o olhar para frente, ambos perdidos em pensamentos aleatórios, mas não tão diferentes. – Percy Jackson. – ele falou de repente, cortando o silêncio e recebendo um olhar confuso em resposta. – É um dos meus livros favoritos. É uma saga, na verdade: Percy Jackson e os Olimpianos.
- Sim, eu sei que é uma saga. – riu, ainda sem entender.
- Eu só quis compartilhar isso. Não me pergunte o porquê. – Deu de ombros. Estava cansado do silêncio e não sabia como que puxar assunto, e livros foi à primeira coisa não tão embaraçosa que passou por sua cabeça.
- Eu gosto de sagas também... Uma em particular, na verdade. Mas você não pode rir. – propôs, deixando-o confuso. Que saga o faria rir? – Eu simplesmente adoro Crepúsculo.
- Ah, não! – ele tapou o rosto com as mãos, fazendo a própria gargalhar. – Eu aqui falando de livros e você vem com Crepúsculo?
- Ué, e não são livros?
- São, mas bem dos ruins. – socou seu braço esquerdo. – Ei! Qual é, eu aqui falando de mitologia grega e você de vampiros-fadas que brilham. Tem uma diferença.
- Não seja idiota. Por acaso você já leu algum?
- Não, mas fui forçado pela minha avó a assistir os filmes.
- Os filmes são bem diferentes dos livros, tá? O Ladrão de Raios mesmo, foi uma bosta.
- Ok, nisso eu concordo. Mas você já leu os livros? Cara, Rick Riordan é simplesmente genial.
- Não, ainda não li. Mas eu já gostei da sua avó, para deixar registrado. Meus pais não assistem quase nada comigo. Isso é uma coisa de família? Seus pais também assistem coisas com você e fazem outras coisas de pai-mãe-filho?
- Eu gosto de imaginar que eles fariam, sim. – o garoto respondeu, após um curto silêncio, deixando-a sem entender. – Eles morreram quando eu tinha três anos, portanto nunca os conheci. O helicóptero caiu. Fui criado pela minha avó. – ele agora olhava diretamente para , e ela podia ver seus olhos claros fixados em seu rosto. Pediu desculpas por ter tocado no assunto e sentiu um clima começar a ficar tenso, mas o rapaz rapidamente o desfez. Ele parecia não estar incomodado com a intromissão da garota e facilmente deu alguns detalhes de como era sua vida, encorajando a fazer o mesmo. A partir daquele momento era como se um laço tivesse sido criado entre eles e um passou a confiar no outro. Conversaram por vários minutos, entre momentos de risada e silêncio, que já não era tão incômodo mais. Em instantes passaram a ter uma cumplicidade difícil de explicar, uma vez que ainda eram desconhecidos, mas já sabiam tanto um do outro. A conversa fluía facilmente e nenhum dos dois precisava pensar em um assunto especifico para falar; falaram até ambas as gargantas ficarem secas e um silêncio confortável se instalar. Ao longe, as músicas soavam do ginásio e chegavam em um baixo volume onde estavam. De eletrônicas o DJ passou para algumas mais lentas e podia imaginar vários casais na pista de dança. Tentou não pensar com pesar, mas ficou um pouco mais difícil quando Thinking Out Loud, do Ed Sheeran, começou a tocar. Suspirou pesadamente, atraindo o olhar do rapaz ao seu lado.
- Não é nada. Eu só... Eu adoro essa música. – deu de ombros, observando o rapaz imediatamente erguer a cabeça a fim de identificar a música. Ele sorriu, balançando a cabeça.
- Esse ruivo faz músicas muito boas.
- Faz sim. – concordou, abraçando os joelhos. Subitamente o rapaz ficou de pé a sua frente, recebendo um olhar duvidoso.
- Vamos. Dance comigo. – Ele pediu, com uma mão estendida em sua direção e outra no bolso da calça. – Eu já aviso que sou um péssimo dançarino e não vou ceder à vergonha de pedir de novo. Dois segundos e eu volto a sentar. – sorriu largamente e segurou a mão estendida, recebendo um sorriso do rapaz. Os cinco quiosques faziam um círculo e os dois se dirigiam ao meio daquele círculo, quando tropeçou em uma pedra. O rapaz a segurou impedindo-a de cair, mas não a impedindo de gargalhar.
- Acho melhor acendermos as luzes dos quiosques.
- Seria bom. – ele concordou. – Não estou muito a fim de tropeçar e quebrar um braço. – riu e se distanciou, passando de casinha em casinha ascendendo as luzes. Sentia o olhar do rapaz em suas costas a todo o momento, e ele se admirava com o que via: seu cabelo liso e comprido cobria a parte nua de suas costas que o decote do vestido descobria, vestido esse que parecia ter sido costurado em seu corpo, de tão bem que ficava na garota. Quando chegou ao último quiosque, virou-se para voltar ao encontro do rapaz, também surpresa pelo que via. A camisa azul escuro fazia um belo contraste com sua pele clara, e conforme ele dobrava as mangas na altura do cotovelo, seus bíceps tornavam-se aparentes. Ele não era de todo “malhado”, mas tinha certa definição dos músculos, que certamente chamaria a atenção de diversas garotas. Seu cabelo castanho era liso e não muito comprido, porém a franja cobria sua testa e um pequeno pedaço de sua máscara dourada. sorriu por ter adivinhado a cor do adereço, e o rapaz sorriu de lado, fazendo-a sentir um frio desconhecido na boca do estômago. Aproximou-se em silêncio, repousando sua mão esquerda no ombro dele, enquanto entrelaçava a direta na mão do rapaz. Ambos começaram a se mover lentamente, escutando a música ao fundo. Em determinado momento o garoto a girou em seus braços, deixando-a de costas para si. Desceu os braços em torno de sua cintura, abraçando-a, e sentiu uma segurança e conforto inexplicável. Fechou os olhos e encostou a cabeça no peito do rapaz, sentindo que poderia ficar ali por um bom tempo; naquele momento, achava que nada a poderia atordoar.
- Você só pode estar zoando com a minha cara. – Ouviu a voz grave de Carter preencher toda a sua mente. Abriu os olhos, sentindo o garoto atrás de si retesar-se, para ver o namorado acompanhado de quatro amigos à sua frente, com uma expressão nada boa. Seus punhos estavam cerrados, e seus ombros subiam e desciam rapidamente, mostrando a respiração acelerada de Carter. Oops.
estava nas nuvens. De uma hora pra outra sua noite tinha mudado completamente, ficando tão melhor que ele mal podia acreditar ser verdade. Tinha encontrado aquela garota tão aleatoriamente que se parasse para pensar acharia graça do encontro, mas tudo o que conseguia pensar era em como era sortudo. Era certo que ele estava extasiado, pois nunca algo tão legal acontecia em sua vida e de repente chega essa menina, tão linda, tão inteligente, sem ser superficial como todas as outras que conhecia da sua antiga escola... Se não tivesse se beliscado umas duas vezes, iria dizer que estava em um sonho e a qualquer momento acordaria, com certeza. Porém aquilo era a realidade, e lá estava ele com uma garota incrível nos braços. Sorriu, inalando o doce perfume que seu cabelo exalava. Era uma fragrância única, como tudo parecia ser nela. apertou-a levemente, fechando os olhos, sentindo seu corpo formigar, uma sensação de estar tudo certo. Sentiu que poderia ficar assim a noite inteira, mas não foi bem assim.
- Você só pode estar zoando com a minha cara. – Um rapaz mais ou menos do seu tamanho, mas muito mais forte, estava parado na frente dos dois, com mais três outros em seu encalço. sentiu seu corpo tencionar involuntariamente, ao lembrar de que a menina o tinha dito que namorava. Engoliu em seco, ao vê-lo aproximar-se do casal. – Você tá louca, garota? Que porra é essa aqui? Era pra isso que tu querias vir pra essa porra de festa? – Ela desvencilhou-se de seus braços, seguindo ao encontro do rapaz.
- Rogers, calma. Não é o que você tá pensando. – Falou firme, surpreendendo pela forma como se impôs.
- Não é o cassete! Eu não tô pensando nada, eu tô é vendo! – Carter argumentou, pegando com força no braço de . a ouviu arfar de dor, ainda que baixinho, e isso foi o suficiente para empurrar o engraçadinho e afastá-lo de sua recém-conhecida.
- Vamos com calma, cara. Podemos conversar tranquilamente, não precisa se exaltar. – Tentou argumentar, mas Carter não o deixou dar mais nenhum passo. Agarrou-o pelo colarinho e, apesar de serem do mesmo tamanho, levantou-o alguns centímetros, deixando encostar apenas as pontas dos pés no chão.
- Calma o cassete! Tá me tirando, moleque? Fica passando a mão na mina dos outros e quer pedir tranquilidade?
- Rogers, para! – gritou, batendo nos braços do namorado. Carter soltou com brutalidade, fazendo-o cair de joelhos. – Pra começar, eu não sou a “mina” de ninguém. E já deu dessa palhaçada, você tá tão bêbado que chega a feder. Vem, eu te levo pra casa.
- Não te mete com a mulher alheia, moleque. Na próxima eu acabo com a tua raça. – Apontou o indicador para , que arrumava o colarinho da camisa já em pé. tentou pedir desculpas ao rapaz, mas Carter passara o braço ao redor de seus ombros, forçando-a a andar sem olhar para trás. E assim, subitamente, uma das melhores noites da vida de havia acabado do nada. Observou sua garota sair com o namorado e os outros rapazes rindo atrás deles. Suspirou pesadamente. Estava mesmo tudo muito bom para ser verdade. Abaixou-se para pegar seu paletó onde antes estava sentado e viu algo brilhar ali perto: um broche com as inicias GFE. Só então se deu conta de que, perdido na conversa tão incrível que tivera, nem se lembrara de perguntar o nome da garota ou lhe dizer o seu. Pensou então que aquele broche deveria ser uma pista: o que seriam três letras além de as iniciais de um nome? Apertou o enfeite na mão, determinado a descobrir quem era a garota que o fizera se sentir tão incrivelmente bem em apenas uma hora. E saiu sonhador, pensando que, talvez, a menina também o procurasse nos próximos dias. Afinal, não era possível que ela fosse continuar namorando um babaca como aquele tal de... como era mesmo o nome? Lobster? Não importava. Para o bem ou para o mal, iria encontrá-la.
Segunda-feira, 7h15 da manhã, primeiro dia de aula. esperava impaciente pela chegada de enquanto tomava um copo grande de café, em uma tentativa frustrada de despertar. Não tinha dormido bem à noite, em nenhuma noite do fim de semana, aliás, e agora estava sentindo na pele as consequências. Mas que culpa teria? Aquele rosto não saía de sua mente. Os olhos cobertos pela máscara, o sorriso brilhante, o cabelo liso e perfumado. A tal garota vinha sendo o motivo da insônia de há três dias. A missão do fim de semana seria procurá-la, achar pelo menos um nome, algo que pudesse relacionar a ela, mas tudo o que conseguiu foi frustração. Não achava que seria fácil encontrar uma garota específica entre quase cinco mil alunos que compunham as três escolas do grupo, mas também achava que conseguiria um resultado melhor com suas poucas habilidades de stalker. Agora esperava , ponderando se contava ou não ao melhor amigo a razão de ter sumido nos últimos dias. Com a mente em outro lugar, não ouviu seu nome ser chamado, muito menos o amigo se aproximar. Só notou a presença do rapaz quando este se jogou em suas costas, fazendo-o perder o equilíbrio.
- Pensando na morte da bezerra, mané? – ironizou, bagunçando o cabelo que caía nos olhos de , que rolou os olhos. – Bom dia, flor do dia. Animado pra HOWG High School? Por que nós vamos botar essa escola abaixo. - agarrou o pescoço de , abaixando-o. Alguns alunos que passavam olhavam estranho para os dois, outros nem percebiam sua presença.
- Sai fora, . – Desvencilhou-se . Começaram a caminhar em direção à escola, misturando-se aos adolescentes que chegavam. – Não acredito que fiz mesmo a burrada de me transferir para o mesmo colégio que você. – balançou a cabeça, ouvindo a risada do amigo.
- Burrada nada, você estava louco para se juntar ao papai aqui. Vem, vou te apresentar a galera. – empurrou para dentro do ginásio do colégio, onde havia ocorrido o baile do GFE na sexta. Inúmeros alunos falavam ao mesmo tempo, cumprimentando uns aos outros e colocando os assuntos das férias em dia. Nenhum fez nem menção de olhar em direção aos dois.
- Ninguém fala com você, . – revirou os olhos.
- É. Mas isso não quer dizer que eu não os conheça. Abigail Stewart – apontou para uma menina baixa que usava uns óculos de lentes grossas. – Líder dos Matletas. Brady OJ – um menino magrelo e loiro que batia duas baquetas no degrau onde deveria sentar – filho do maestro da banda, acha que é maestro também. – E assim foram subindo ao último degrau da arquibancada, com apontando vários alunos e citando algumas características de cada um. Fora inevitável não sentir pena do garoto, que conhecia todos os alunos, porém não tinha amizades. deixou-o falar até o diretor da escola aparecer, seguido de alguns professores e o time de rúgbi da escola, conhecido como o melhor da cidade. Um rapaz em especial o chamou atenção.
- Aquele é Carter Rogers, o capitão do time. É um babaca, mas muito bom no esporte. – Não fora o fato de que ele estava à frente de todo o time e todos o aplaudiam mais do que a qualquer outro jogador, mas algo em seu olhar parecia familiar, assim como seu nome. deu de ombros, sem conseguir decifrar o que era e passou a observar as líderes de torcida que agora entravam entoando o hino do time. Na liderança, uma garota magra, de cabelos lisos, chamava mais atenção que as outras. Novamente, sentiu uma sensação estranha de familiaridade sem conseguir decifrar o que era. Cutucou e apontou com a cabeça em direção da garota.
- Sem chances – o rapaz balançou a cabeça. – Aquela é . Simplesmente a rainha da porra toda. Ela é a líder de torcida mais bonita, mais rica e, consequentemente, a garota mais conhecida e popular do colégio. Se bem que ela é meio... paradoxal. – Viu franzir as sobrancelhas, claramente confuso. – Ah, tipo... Ela meio que quebra o estereótipo, sabe? Tudo bem, ela é a maior gata milionária, mas não é “patricinha” entendeu? Ela não fica só falando de unhas, roupas e rapazes. Pelo contrário, ela tira notas boas porque realmente estuda, participa do Conselho Estudantil por que tem interesse mesmo em atender as necessidades dos alunos e melhorar o ambiente escolar. E ela não ignora os outros, nem faz piadinha com ninguém. Aliás, já a vi corrigir alguns rapazes do time que zoavam um magrelo da banda. Ela não é fútil, sabe. Ela é foda. Mas... Namora o Carter Rogers. O que é meio contraditório. Mas novamente, ela é contraditória, então não faz diferença. – prestava atenção em tudo o que o amigo dizia, enquanto seu olhar passava de à Carter, e voltava a .
- Eles não parecem namorados. – Constatou, visto que enquanto as outras líderes de torcida cercavam o time, todas se assanhando aos rapazes, conversava com alguns professores e alunos separadamente. passou a olhá-la também, a tempo de ver Carter se aproximar dela falando algo e revirar os olhos, saindo de perto dele.
- Boatos de que eles terminaram no fim de semana. Ela pegou Carter com outra, podre de bêbado... Algo assim. De qualquer forma, não acreditei muito. Temos que observar como os dois vão agir agora que as aulas voltaram, para tirarmos nossas conclusões. – deu de ombros, passando a prestar atenção no que o diretor da escola começara a anunciar. também ouvia as palavras, mas não conseguia tirar os olhos de .
Após ouvir o discurso de boas vindas ao ano letivo do diretor, e se dirigiam à sala de aula, quando lembrou que o amigo sumira no fim de semana.
- Seu bocó, onde foi que tu se meteu na sexta-feira? Tive que voltar a pé pra minha casa por que você sumiu e esqueceu-se da minha carona. E tu sabes que minha casa não fica nem um pouco perto. E outra, eu tentei te ligar o fim de semana inteiro e tu não atendeu a porra do celular, nem viu minhas mensagens no whatsapp, nem no facebook. Que merda...?
- Ah, é. Esqueci-me da carona. – deu de ombros, lembrando do fim de semana louco que tivera. Começara tedioso, para passar a ser o melhor fim de semana de sua vida, para ser destruído e voltar ao tédio usual de sempre, com uma dose de frustração maior. Resolveu contar a o que havia acontecido, já havia perdido as esperanças mesmo. – Eu conheci uma garota.
- Ih, qual foi? Verdade mesmo? Finalmente Deus ouviu minhas preces e te desvirginou! – erguera as mãos ao alto, se acabando de rir.
- Para de ser idiota, . Não foi nada disso.
- Como assim? Não vai me dizer que vocês ficaram, sei lá, assistindo filmes o fim de semana inteiro?
- Eu não passei o fim de semana com ela, seu babaca. Posso contar o que aconteceu? – indagou, impedindo de falar besteira novamente. contou resumidamente o que acontecera na sexta e que passara o fim de semana procurando a garota, sem sucesso. revirava os olhos a todo momento, inconformado.
- Velho, você é muito burro! Finalmente uma mina te dá moral e tu nem pra perguntar o nome dela, seu animal!
- Não chama ela de “mina” – rolou os olhos, lembrando de como ela se prostrava forte em frente ao namorado ridículo. – Ela não gosta de ser chamada assim.
- Mano, tu é muito burro, na moral. – balançava a cabeça, incrédulo. – Tu não se lembras de nada dela? A fisionomia, o corpo, algum detalhe, sei lá.
- Ela tava de máscara, não tem como eu saber como é o rosto dela exatamente. Só o que eu lembro é do cabelo. Era tinha o cabelo escuro, acho que um castanho escuro, quase preto. Era liso, longo e... perfumado. Tinha um perfume muito bom. E ele cobria as costas dela... Chegava a ser sensual. – suspirou, lembrando de como fora bom tê-la em seus braços.
- Tá bom, Sr. Perfume Sensual. Se tu quer encontrar essa mina... Quer dizer, essa garota, tu vai ter que fazer melhor que isso. Só nessa escola tem tipo umas trezentas e cinquenta e sete mil garotas de cabelo escuro e liso, sem contar que no baile tinham alunas de três escolas. Então melhora aí. Ela não deixou nada pra trás que a gente possa relacionar a ela?
- O broche! – fitou curioso, enquanto ele remexia sua mochila. – Depois que ela saiu com o cara lá, eu fui pegar meu paletó onde a gente sentou e encontrei um broche com três letras. Só pode ser a inicial do nome dela, certo? Foi a partir disso que eu tentei procurá-la, mas não achei em nenhuma rede social existente nesse mundo. – terminou, pegando o broche para mostrar ao rapaz que se mostrava animado, mas murchou os ombros no momento em que colocou os olhos no tal adereço.
- Cara, mas você é muito do burro mesmo. – pegou o objeto prata das mãos de , para olhar melhor. – GFE. Tu não tens a mínima ideia do que significa? É “Grupo Fortune de Educação”, mané. Eles entregaram isso a cada aluno que entrava no baile de sexta. – revirou os olhos. - É óbvio que tu não ia encontrá-la nunca a partir dessa sigla, a não ser que ela se chame Gertrudes Ferreira Etevalda, ou algo do tipo. – deu de ombros, jogando o broche de qualquer jeito ao amigo. o olhava inexpressivo, sem saber o que dizer.
- É sério isso? Eu passei o fim de semana inteiro procurando por um nome inexistente?
- Sim, mané. – riu, recomeçando a caminhada.
- E agora? Digo, o que eu faço? Essa era a minha única pista, como eu faço pra encontrar aquela garota?
- Olha, a não ser que haja alguma intervenção divina e você trombe com ela em algum corredor e a faça se apaixonar à primeira vista pelo idiota que você é, eu não sei te dizer. Na verdade, até sei: tu podes subornar alguma velha da secretaria pra te deixar entrar no sistema da escola e puxar as fichas de todas as meninas matriculadas em alguma das três escolas do GFE. Aí tu vais tentando encontrar uma por uma pessoalmente pra ver se acha. Daqui uns 50 anos, mais ou menos, acho que tu termina a busca. Aí me diz se deu resultado ou não. Beleza? – se encostou no batente de uma porta, rindo da cara fechada de . Era inacreditável a estupidez do rapaz. – Aqui é a tua sala, mané. Biologia, né? Boa sorte. Vou nessa. – Saiu, deixando atordoado. Passara horas tentando procurar um nome que não existia, e agora mais do que nunca perdera a esperança de encontrar a tal garota. Bufou irritado, abrindo a porta da sala. Pra melhorar o seu primeiro dia de aula ali, estava atrasado e tanto o professor como todos os alunos voltaram seu olhar a ele. Lançou um sorriso amarelo ao homem na frente da classe enquanto se dirigia a uma carteira vaga no fundo da sala. Assim que sentou e colocou os cadernos na mesa, percebeu o olhar curioso da tal líder de torcida em sua direção. Ela devia estar o analisando por ele ser aluno novo e ela membro do Conselho Estudantil, algo assim. Desviou o olhar e tentou prestar atenção à explicação que o professor retomara, ainda incrédulo por não ter perguntado o nome da garota de sexta. tinha razão, ele era muito idiota.
acordara atordoada. Não tinha entendido muito bem o que havia acontecido no fim de semana: em dois dias tinha discutido pra valer com Carter e terminado o namoro, enquanto ainda tentava compreender os acontecimentos de sexta. Quem era aquele rapaz? Como conseguiram criar um elo tão inexplicável naquele tempo em que ficaram conversando? contara coisas de sua vida que nunca havia contado a ninguém, por que ele a passava confiança e segurança. Algo naqueles olhos claros a faziam esquecer-se de qualquer coisa que a pudesse incomodar; a cumplicidade fora tão instantânea que nem mesmo precisaram saber o nome um do outro, detalhe que agora se arrependia profundamente de não ter prestado atenção. Tentou até pesquisar no facebook se achava um perfil que poderia se adequar a ele, mas não obteve sucesso. Chegou à conclusão de que ele era de uma das outras duas escolas que participaram do baile e se conformou com a ideia de que talvez nunca o encontrasse. Saiu do banho cansada, querendo apenas voltar a dormir. Enquanto vestia o uniforme de líder de torcida, ouviu o celular tocar, com Carter a ligando pela enésima vez. Ela o dera um fora no sábado e ele passara todo o domingo a ligando e tentando entrar em sua casa, mas não o queria ver nem que estivesse pintado de ouro. Ignorou a ligação e aproveitou para excluir o número, colocando-o na lista de chamadas a serem rejeitadas automaticamente. A partir de hoje, diminuiria o contato o máximo possível, interagindo com o rapaz apenas na escola, caso fosse necessário. E assim o fez, durante toda a manhã. Na única vez em que Carter tentou cercá-la, no começo da cerimônia de boas-vindas aos alunos, pedira licença aos professores com quem conversava e se desvencilhou de Carter, afastando-se, sem não antes o pedir para que a deixasse em paz. Agora sentada em sua carteira esperando a aula de biologia começar, sentia os olhares sobre si e tinha certeza que os burburinhos giravam em torno dela. Teria mesmo e Carter Rogers terminado o namoro? Mas eles não eram o casal ícone da escola? O capitão do time de rúgbi e a capitã das líderes de torcida? Por incrível que parecesse, não se sentia mal em quebrar o clichê. Pelo contrário, sentia-se leve, sentia-se livre. Desligou o celular após a trigésima mensagem de uma de suas companheiras cheerleaders procurando saber se o boato era verdadeiro. suspirou pesadamente, sabendo que nenhuma delas procurava saber se ela estava bem, ou como estava passando. sabia que agora ela era apenas um empecilho a menos para elas chegarem até Carter Rogers, sonho de consumo de todas elas. “Vão com Deus”, pensou. Jogou o celular na bolsa enquanto o Sr Leminski dava as boas vindas e começava a introduzir a citologia, matéria que seria estudada no mês seguinte. Quase dez minutos de muita fala nasalada do professor, alguém abrira porta subitamente, captando a atenção de todos dentro da sala. Logo entrara um rapaz desconhecido, provavelmente um aluno transferido, que dirigiu um sorriso envergonhado ao Sr Leminski. passou a prestar atenção nele, fazendo uma anotação mental de que deveria repassar a informação ao Conselho, para que ele fosse bem recebido HOWG. Entretanto, quando o rapaz sentou-se e retribuiu o olhar, sentiu o corpo formigar, sem motivo aparente. O rapaz desviou o olhar, mas aquela sensação continuou. De alguma maneira, ela parecia conhecer aquele par de olhos claros.
Duas semanas na nova escola foram o suficiente para se adaptar. Agora já sabia chegar aos lugares sem se perder ou se atrasar, e também já se acostumara a andar como um fantasma, visto que não havia feito novas amizades e ninguém dava bola a , que sempre estava com ele. Consequentemente, ninguém dava bola a ele; o que era bom, de certa forma. Como não fazia parte de nenhum grupinho, não era rotulado de nada e passava fora dos radares dos valentões. Duas semanas também foram o suficiente para que desistisse de tentar encontrar a garota do baile. Não a havia esquecido por completo, afinal por várias noites sonhava com ela, mas parou de tentar quando soube que haviam 2.957 garotas matriculadas em toda a rede escolar da GFE. Apesar da ajuda de , seria impossível encontrá-la, portanto contentou-se em vê-la apenas em seus sonhos, sempre com o perfume bom de seu cabelo liso e, em todas as noites, o fim era bem diferente do que havia realmente acontecido naquela fatídica sexta. Entrou na aula de biologia, com o livro em mãos e, mais uma vez, fora acompanhado pelo olhar de . Era sempre assim: quando se encontravam na sala ou pelos corredores, sempre o estava olhando como se tentasse o reconhecer. achava que era coisa da sua cabeça, pois ela também lhe era familiar, portanto tentava ignorar sempre. A garota nunca tinha lhe dito um “oi”, nem mesmo quando alguns dos alunos do Conselho o deram boas-vindas e ela estava junto. também não tentara se aproximar, visto que a menina nunca estava sozinha, quando não estava acompanhada das amigas cheerleaders, eram professores, membros do Conselho Estudantil ou quaisquer outros alunos, mas nunca estava sozinha.
Enquanto isso, estava quase queimando alguns neurônios, tinha certeza, de tanto que se esforçava para tentar reconhecer aquele olhar e saber de onde o conhecia. Os olhos claros de eram familiares, mas seu rosto não, o que dificultava as coisas e a confundia. Toda aula de Biologia – a única que os dois tinham juntos – era a mesma coisa: ele chegava depois dela e ela passava a encará-lo. Já havia perdido a vergonha há dias, e tinha certeza que ele a achava maluca. Nunca lhe disse nada, mas sempre o encarava, sem adiantar de nada. Balançou a cabeça tentando ouvir as palavras do Sr Leminski, mas sua mente não queria colaborar. Não percebeu os minutos passarem e levou um susto quando o sinal bateu, dando-se conta de que não tinha anotado nem uma vírgula da matéria. Saiu da sala em direção ao gramado que cobria uma parte de um dos pátios menos movimentados da escola, a fim de terminar a leitura de um livro que emprestara da biblioteca. Ia aproveitar o horário vago entre as duas aulas sentada debaixo de uma árvore, quando escutou uma risada bem conhecida, que tentava esquecer. Carter e mais dois rapazes do time passavam por ali, cada um com uma garrafa de cerveja na mão. Rezou para que nenhum deles a visse, pois estava a todo custo tentando evitar entrar em contato com Carter, mas algum ser divino quis zoar com a cara dela. Carter virou o rosto para cuspir na grama quando a enxergou, apoiada na árvore. Ficou sério na mesma hora e se dirigiu em sua direção. nem fez questão de levantar o olhar, ignorando-o, mas Carter arrancou o livro de sua mão.
- Ei! Ficou louco? – gritou, visivelmente irritada.
- , chega dessa porra de joguinho. Agora tu vai parar de me ignorar e vai falar comigo.
- Eu não estou fazendo nenhum joguinho, Carter. – revirou os olhos. – Não tenho nada pra falar com você. Nós terminamos, já deu o que tinha que dar.
- Eu não terminei com você! – Carter gritou, fazendo-a encolher-se involuntariamente. Os outros dois garotos ficaram uns dois metros afastados. – Levanta essa bunda daí, eu não terminei nada com você e você vai me ouvir! – Pegou-a pelo braço levantando-a a força. começara a se preocupar, não havia ninguém no pátio além dos quatro. Não acreditava que Carter a machucaria de verdade, mas temia uma resposta contrária. Desvencilhou-se da mão dele, tentando manter a voz firme.
- Que porra, Carter! O que você quer dizer? Vai, desembucha! Seja o que for, eu não vou ligar, por que eu não quero saber e eu não dou a mínima.
- Você se acha muito superior, . – ele debochou. – Você acha que pode simplesmente me chutar pra fora da sua vida como se eu fosse à porra de um vira-lata? Lembre-se que sem mim você não é ninguém nessa escola! Por minha causa você é líder de torcida, por minha causa você faz parte do Conselho Estudantil, por minha causa todo mundo lambe o chão que você pisa. Você não é nada além de namorada do capitão do time, . Eu ainda estou te dando à chance de deixar de ser idiota e voltar pra mim, por que assim como eu elevo a tua moral eu posso abaixar ela em dois toques.
- Você me subestima demais, Rogers. E o único idiota aqui é você. Eu sou capitã das líderes por que eu sou a melhor na ginástica, e tenho as melhores ideias de coreografias. Eu faço parte do Conselho por que eu me esforço pra manter minhas notas acima da média, ao contrário de você que sempre tá capengando em prova final e só não reprova por que se esconde na barra da saia do treinador, que não deixa ninguém te reprovar pro time não te perder. E se todo mundo da escola me adora, é por que eu tento ser legal com as pessoas, sem rebaixá-los por qualquer coisa ou ser imbecil como você e seus amiguinhos são.
- Você perdeu a noção do perigo, sua vagabunda? – Carter empurrou contra a árvore, cercando-a com seus braços e impedindo sua saída. não queria, mas começou a tremer. – Você não tem noção do que tá fazendo, . Você não passa de uma guriazinha qualquer que as gurias querem derrubar por inveja, e que os homens só querem te comer por uma noite. Você não é isso tudo não que você tá pensando que é, baixa a tua bola. Eu fiz você chegar aonde chegou e seja o que for que pôs essas ideias na tua cabeça, tá errado. Você não é merda nenhuma sem mim, merda nenhuma! – Carter gritou no rosto de , fazendo-a engolir em seco. Tentava pensar em algo que pudesse fazer para sair correndo dali, mas o olhar possessivo de Carter parecia prendê-la no tronco da árvore. Quando pensara em baixar a guarda e tentar se render ao pensamento de Carter, alguém chegou ao seu lado, com a voz séria.
- Cara, que viagem é essa? Solta a menina. – Carter virou o rosto em direção à voz desconhecida, sem mexer um músculo. aproveitou para olhar a pessoa de canto, sem acreditar no que via.
- Vaza daqui, moleque, não vem meter o nariz onde não é chamado.
- Eu tô vendo a cena faz tempo. Você tá machucando a menina, cara. Solta ela. Eu não vou falar de novo – retrucou, fazendo Carter rir de deboche. Balançou a cabeça e soltou os braços, tirando-se de cima de .
- Você tá achando que tá falando com quem, imbecil?
- O único imbecil aqui é você. Deixa a menina ir embora, pega alguém do seu tamanho pra tentar machucar. – soltou a mochila no chão, e arregalou os olhos. Apesar de não terem muita diferença na altura, Carter era muito mais forte que , devido ao rúgbi. tentou impedi-lo de fazer besteira, mas não conseguia falar nada. Carter fez menção de fazer meia volta, mas partiu com tudo para cima de .
- Você pediu por essa, mané. – Lançou um soco que alcançaria o olho direito de , se ele não tivesse levantado o braço em defesa. se moveu para a esquerda e atingiu um soco no estômago de Carter, fazendo-o curvar-se. já havia visto o ex namorado brigar algumas vezes, mas nunca com o ódio que estava no momento. Carter atacou novamente e os dois caíram no chão, engalfinhando-se. O instinto de era sair gritar, correr por ajuda, mas nada conseguia fazer. Tremia no lugar em que estava e começou a ver gotas de sangue manchar a grama, sem saber de quem era ou quem batia em quem. Num esforço muito grande, gritou aos dois amigos de Carter.
- Vocês não vão fazer nada? Façam-nos pararem! – Os dois grandalhões se olharam, e um revirou os olhos. Foram então apartar a briga, segurando Carter.
- Vamos, cara. Tu já deste uma lição nele, deixa ele pra lá. Se tu aparecer machucado no treino o treinador te arrebenta. Vamos. – um deles falou, enquanto levantavam Rogers. se levantou no mesmo instante, cuspindo sangue, mas por um motivo que não entendia, Carter parecia muito pior que ele.
- Eu ainda te pego, filho da puta. Isso não termina aqui. – resmungou, empurrando um dos rapazes que o segurava pelo ombro. Cuspiu na grama e saiu cambaleando, porém antes de se afastar chutou a bolsa de , espalhando todo seu material pelo gramado.
- Eu não acredito nisso. – correu ao encontro de , que cobria a boca. – Você está bem? Você ficou maluco? Quem mandou você se meter? Eu tinha tudo sob controle! Você se machucou muito? Deixa eu ver sua boca! – tremia, procurando machucados no rosto de . Ele riu baixo com o desespero da menina e levou um tapa leve no braço. – Você tá rindo de mim? Não dê risada de mim! Você tem noção de como eu estou nervosa? Eu não acredito que você fez isso!
- , calma! Tá tudo bem. Não estou tão machucado assim. E é melhor eu estar sangrando do que você. – ele deu de ombros, segurando as mãos de .
- Carter não me machucaria... – respondeu, mas nem a si mesma conseguiu convencer. a olhou duvidoso, e ela corou, envergonhada. Suas mãos ainda tremiam quando as soltou.
- Tá tudo bem, foi só um corte no lábio. Relaxa. – Olhou para a menina que o observava atônita. Dessa vez, não disse nada. Agora que sua ficha havia caído, só agora ela percebia que talvez quem apanhasse teria sido ela. Nunca se sentiu com tanto medo, tão vulnerável. sempre parecia forte perante os outros, mesmo que estivesse morrendo por dentro. Naquele momento, entretanto, não conseguiu segurar. Seu olhar estava vago e algumas lágrimas começaram a rolar por suas bochechas sem que percebesse. porém percebera, e, num gesto sem pensar, a puxou contra si. – Shhh, tá tudo bem. Já passou. – agora soluçava, encharcando a camiseta de . Ele passava levemente a mão nas costas da menina, que nunca vira tão frágil antes. Ficaram um bom tempo naquela posição, até se acalmar e conseguir respirar melhor. sorriu com ternura, secando o rosto dela. – Já passou, viu? Tá melhor agora? – concordou com a cabeça, sorrindo de volta.
- Obrigada. Por... tudo. Por aparecer na hora certa, por intervir mesmo sem me conhecer. Se fosse outra pessoa, duvido que me ajudasse. – abraçou a própria cintura, sentindo-se melhor. deu de ombros, ainda sorrindo.
- Estou ao seu dispor, madame. – Riu, abaixando-se para recolher os pertences dela que foram espalhados por Carter. começou a recolhê-los também, em silêncio. Quando todos os cadernos e papeis estavam em sua mochila, viu um livro jogado mais ao longe e fora buscar. Sorriu ao ver a capa. – O Mar de Monstros. Percy Jackson. Adoro essa saga.
- Pois é. Alguém me indicou um tempo atrás, e estou gostando também. Devorei O Ladrão de Raios em três dias. Nenhuma me prendeu tanto quanto a Saga Crepúsculo. – riu, dando de ombros.
- Crepúsculo? Puts. Que bom que você está lendo PJO então. A mitologia grega é mil vezes mais interessante que um vampiro-fada. – deu risada da expressão afetada de .
- Ei, não fale do meu Cullen! Gosto é gosto, oras. – deu de ombros, rindo também.
- Eu sei, só estava brincando. – tentou intervir. – Na verdade eu vi os filmes com a minha avó... não é tão ruim assim. – Abaixou-se para pegar sua mochila enquanto uma luz pareceu estalar na mente de . Olhou-o atônita, sem saber como reagir. Se fosse verdade, seria, muita, muita coincidência. – Que foi? – percebeu o olhar engraçado da menina. abrira a boca para falar duas vezes, sem sucesso. Na terceira, perguntou:
- Posso te fazer uma pergunta? Não me leve a mal se for muito pessoal, mas...
- Eu acabei de levar alguns socos por você. – revirou os olhos. – Claro que pode.
- Por acaso... Você tem pais? – franziu as sobrancelhas, achando estranho a pergunta.
- Não, não tenho. Eles morreram quando eu era criança, o helicóptero em que eles estavam...
- Caiu. – Completou , rindo desacreditada. – E você mora com a sua avó desde então.
- Como você... – Agora quem tinha o olhar engraçado era . Como a garota sabia disso?
- Eu não acredito nisso. ! – riu, ainda sem acreditar. – Você não se lembra? Do baile. O baile de máscaras que fizeram em comemoração a fusão das três escolas do GFE, aqui na Hathaway High School. Carter tinha me incomodado a noite inteira e eu estava sentada no escuro perto dos quiosques, lá do outro lado da escola. E do nada você chegou... Era você, não era? – tinha uma expressão indecifrável no rosto. Um misto de incredulidade, alegria, espanto. ainda a olhava estranho, mas seu olhar subiu ao seu cabelo e logo desceu ao seu corpo, deixando-a levemente envergonhada. Quando olhou-a nos olhos novamente, tinha a mesma mistura de emoções no rosto.
- Eu não acredito nisso! Era você! Foi você que me chamou de hipócrita preconceituoso, foi com você que eu dancei Thinking Out Loud, foi... foi o Carter que apareceu do nada e te tirou de mim! Foi você... Era você o tempo todo, essas duas semanas sentando perto de mim nas aulas de biologia...
- Eu te encarava por que conhecia os seus olhos. Só não sabia de onde... – respondeu sem jeito.
- Eu também te achava familiar! Desde o primeiro dia de aula, eu achava você e o Carter familiares, mas não conseguia de jeito nenhum saber porquê. Você tem noção do quanto eu te procurei em tudo quanto é rede social naquele fim de semana?
- Eu também procurei você! – riu. Na empolgação os dois agora praticamente gritavam, enquanto lembravam-se do tal fim de semana. – Mas eu não fazia ideia de como seria o seu nome, nem por onde começar... Aí eu desisti.
- Eu cheguei... Eu sonhei com você – baixou a voz, levemente envergonhado. – Eu sonhei com um fim de noite totalmente diferente do que aconteceu. Eu cheguei a pegar a lista de alunas matriculadas no GFE, mas desisti de verdade quando vi que eram quase três mil pessoas diferentes... – balançava a cabeça, com uma expressão engraçada. – Inacreditável. Era você o tempo todo, do meu lado. – sorriu mostrando os dentes, o mesmo sorriso que acompanhava todos os dias mas que ele não prestara atenção.
- Você... você sonhou comigo? O quê? – Perguntou ela, curiosa.
- Quem sabe um dia eu te conto. – deu de ombros. Riu mais uma vez, sem acreditar. Passou dias pensando na garota do baile para descobrir que ela sempre esteve ali, ao seu alcance. Toda essa dificuldade por que não sabia o nome dela... – Prazer, garota do baile. .
- O prazer é todo meu, hipócrita que veste Armani. . – revirou os olhos, mas seu sorriso bobo não deixava dúvidas que ele não estava bravo. Muito, muito pelo contrário. Estava extasiado. Olhou as pequenas folhas manchadas de vermelho no chão onde pisava e sorriu.
- Agora você não me escapa mais, . Nunca mais. – sorriu em resposta. Começaram a seguir o caminho de volta à sala de aula, mas não assistiram mais nenhuma. Foram parar em um restaurante para almoçar, depois às quatro da tarde em uma sorveteria, logo mais a noite estavam sentados no banco de um parque, um de frente ao outro. Toda aquela cumplicidade de sexta-feira voltara com força total. Eles se sentiam seguros, confortáveis, absortos de qualquer detalhe ao seu redor. Conversavam sobre tudo e todas as coisas e mesmo assim ainda tinham assunto para meses de conversa. No fim do dia, ao deixar na frente de sua casa, sentia que a conhecia há uma vida inteira, ao invés de dois dias apenas. Ele estava decidido a nunca deixá-la sumir de vista outra vez, e a recíproca era verdadeira. Sorrindo, desejou boa noite a garota que, aproximando-se do rapaz, tirou a franja de seus olhos claros e selou seus lábios com um beijo doce, regado a sorrisos. segurou alguns fios do cabelo liso, perfumado e sensual, que voltara às suas mãos. Finalmente, uma peça do quebra-cabeça de sua vida encontrara seu lugar certo.
FIM
Nota da autora: (15.04.2016) Oi, você! Muito, muito obrigada por ter chegado até aqui <3 E aí, o que achou? Eu passei um tempo sem escrever, porém quando vi uma oportunidade de escrever inspirada nesse CD incrível que eu tanto amo (sdds RBD!!!), não quis deixar passar. Diz pra mim o que achou, por favor? Vou responder qualquer comentário. Espero de coração que tenha gostado! Qualquer coisa é só dar um grito no twitter: vpthayna. Beijxs,menine!
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